DOMINGO DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 10,34a.37-43; Sl 117; Cl 3,1-4; Jo 20,1-9

“Discípulo Amado e São Pedro no sepulcro vazio”, J. Tissot


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⇒ HOMILIA ⇐

A nossa Alegria é a Ressurreição do Senhor

Jo 20,1-9

 

Maravilhados das alegrias, vindas da vigília pascal e despertados na manhã do sepulcro vazio, celebremos a vitória do primeiro a ressuscitar, Jesus Cristo, o mais belo entre todos os homens, glorioso, Deus da vida, o vencedor sobre a morte.

“A ressurreição de Jesus é o mistério central da nossa fé cristã e o fundamento da nossa esperança de libertação total”[1]. Somente no Senhor somos totalmente livres e alegres, apesar dos sofrimentos e desilusões da vida terrena.

Iniciamos um novo tempo da Igreja, o período Pascal, onde tudo está voltado para os acontecimentos da ressurreição de Jesus, quando aprendemos e nos firmamos na fé, através de tantos testemunhos dos que seguiram e amaram profundamente o Senhor.

O Evangelista João (cf. 20,1-9) nos fala da sua experiência com o ressuscitado, de uma forma simples e ao mesmo tempo profunda. Simples por que descreve detalhes, tais como: faixas de linho no chão, pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte” (Jo 20, 5-7).

Voltemos o nosso olhar também para quem foi primeiro ao túmulo de Jesus, quando ainda estava escuro, Maria Madalena, que percebeu a pedra retirada do túmulo. Ela anuncia primeiro, aos discípulos Pedro e João, os quais vão confirmar a ressurreição. Eles que também ainda estavam marcados profundamente pela dor da morte de Jesus. “Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou.” (Jo 20,8).

Meditemos alguns pontos importantes da liturgia deste domingo da Ressureição do Senhor: “Maria Madalena viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo” (Jo 20,1) e por isso volta correndo para anunciar que algo estranho tinha acontecido.

Muitas vezes, nós também precisamos retirar a pedra que nos impede de perceber algo extraordinário em nossa vida, sobretudo referente à ação de Deus na nossa caminhada de discípulos que querem seguir o Senhor ressuscitado.

Esta pedra muitas vezes é o nosso rito vazio, a nossa indiferença, a mesmice e a sensação de que mais um ano passou e nas festas pascais não conseguimos viver uma experiência nova, ou seja, vida que se faz ressurreição no Senhor.

O primeiro domingo da Páscoa é o dia do Senhor por excelência, de onde nasceu a nossa fé no ressuscitado. Daquela manhã do túmulo vazio em diante, os discípulos passarão por uma nova ótica na experiência com Jesus.

Cabe a nós cristãos fazermos como os discípulos, os quais viveram a experiência do ressuscitado, muitas vezes ainda sem muita clareza, mas crescendo aos poucos dando motivo da sua fé, como Pedro professou: “Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia” (At 10, 40).

Pedro viveu com Jesus as duas realidades: primeiro, caminhando com ele na sua missão terrena, depois fazendo a sua experiência da ressurreição. Desta forma, o apóstolo nos ensina o sentido profundo da vida renovada em seu discipulado.

São Paulo, que fez uma outra experiência de conversão, proclama com convicção: Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus…” (Cl 3,1-2).

Portanto, cada um de nós, após dois mil anos, devemos viver a realidade a qual Paulo viveu, encontrando com o ressuscitado e vivendo a missão de Evangelizar com convicção, sem medo e com firmeza na fé.

Peçamos ao Espírito Santo a graça da fé no ressuscitado, para vivermos cada momento de nossa vida, alimentados pela Palavra e pela Eucaristia, dando razões de nossa fé e sempre cantando como o Salmo 117: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!”

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[1] CABALLERO, Basílio. A Palavra de cada domingo: Ano C. Apelação [Portugal]: Paulus, 2000. Pág. 92.

 

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⇒ POESIA ⇐

A manhã nova do Senhor

Ainda é escuro, é madrugada,
É o dia novo, da nova vida,
Pelos discípulos e por nós acolhida,
Arranquemos a pedra,
Pedra que impede um novo olhar,
Que às vezes nos faz tropeçar,
Olhemos para o alto, a nos alegrar!

A Luz vem chegando,
Percebamos os sinais da vitória,
Da luz, da nova vida em Glória,
Por que o Senhor não está entre os mortos,
Ele é o homem vivo para sempre,
Quer caminhar conosco eternamente
O Santo dos Santos, o homem vivente!

Sua vida nos traz esperança,
Certeza de que seremos eternos,
Na nova comunidade, fraternos,
Estaremos para sempre com ele,
Sem barreiras a nos atrapalhar,
Ele é pão vivo a nos alimentar,
Para além daqui quer nos elevar!

A sua glória é de todos,
O seu corpo é totalmente novo,
Sua vida nova é para o seu povo,
Pois nele está a esperança,
Que os discípulos sempre alcançam,
Caminhando no amor e na bonança!

Sigamos firmes,
Sigamos louvando,
Sigamos felizes e festejando,
Sigamos na fé, no ressuscitado,
Sua vida nova é plena alegria,
Já não é mais noite, é novo dia,
Vamos ao banquete que nos sacia!

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

DOMINGO DE RAMOS – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11; Lc 19, 28-40; Lc 23,1-49

“Entrada de Jesus em Jerusalém” (1842), por H. Flandrin (1809-1864)


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⇒ HOMILIA ⇐

Entre aclamações e a Cruz

Lc 19, 28-40; Lc 23,1-49

 

A liturgia deste Domingo de Ramos nos apresenta dois textos do evangelho de Lucas. O primeiro narra a entrada festiva de Jesus em Jerusalém aclamado como Rei, ele vem de forma simples e sem exércitos de força, para nos mostrar que o seu Reino tem como base principal o amor e a paz. O segundo texto narra a Paixão nos mostrando as consequências da missão de Jesus neste mundo.

Jesus rompeu com um culto antigo, que com tantas leis, oprimiam e rejeitavam os pobres, deixando-os sem voz, sem vez e às margens da sociedade. As leituras e o salmo responsorial nos colocam na meditação deste início da Semana Santa.

O profeta Isaías nos apresenta o servo sofredor, paciente diante da humilhação: “Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Is 50,7). São Paulo nos confirma que este servo sofredor que se esvazia na humilhação é de condição divina: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens” (Fl 2,6). No salmo responsorial temos o lamento no sofrimento e no abandono máximo o qual passa a natureza humana de Deus e que se solidariza com todos aqueles que carregam a cruz na caminhada da vida.

A liturgia deste início de Semana Santa, portanto, nos leva a meditar sobre estes dois acontecimentos no final da vida de Jesus. Primeiro, a aclamação do povo e dos discípulos na entrada de Jerusalém com ramos tapetes: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!” (Lc 19,38), nos lembrando dos pastores em Belém, na noite do nascimento.

Alguns querem silenciar as aclamações e manifestação dos discípulos, Jesus, porém, repreende, pois são os discípulos que aclamam e caminham com Ele. Ser discípulo é anunciar a presença de Cristo no meio do povo, não é possível calar a voz dos missionários, dos pregadores e dos profetas.

O caminho de Jesus não tem volta, ele segue em direção à Cruz e à sua Paixão. Por isso é importante que juntemos os dois textos de Lucas nesta liturgia. Precisamos caminhar com o Senhor aclamando como Rei de amor, porém ao mesmo tempo somos chamados a contemplarmos a sua Paixão, a sua cruz, que também aparece em nossa vida, nas mais diversas realidades. É a cruz que nos leva à vitória e a redenção.

Qual seria a nossa reposta se começássemos a refletir sobre nosso caminhar com Jesus na nossa história? Seríamos um Cireneu que ajudou a carregar a Cruz? Seríamos como Maria que ficou ao Pé da Cruz? Ou Estaríamos de longe, com medo, fugindo e negando que éramos discípulo dele?

Considera-se importante esta reflexão por que, ainda hoje, Cristo é crucificado, nas crianças abortadas, nos jovens assassinados, nos pais de família que enfrentam a violência, nos desempregados, nos refugiados e nas tantas mulheres vítima da exploração sexual, moral e social.

E para proclamá-lo ressuscitado no meio do mundo, precisamos também viver a experiência da ressurreição, quando somos vencedores com o Senhor mesmo diante de tantos desafios e barreiras que se põem à nossa frente.

Precisamos nos envolver na pregação do Evangelho em nossa vida e na proclamação de seus valores para que a existência humana seja libertada das tantas cruzes, dos tantos sofrimentos a fim de vida nova ressurja em cada pessoa.

Que a Semana Santa nos leve a vivermos cada passo do Senhor a caminho da Ressurreição e que sejamos marcados pela convicção e alegria da nossa fé no Deus que é vida para todos.

 

⇒ POESIA ⇐

Com Jesus na Cruz e na nossa vida

Vamos caminhar com Jesus
Com cantos de alegria,
Com ramos nas mãos sem hipocrisia,
Caminhemos com ele até a Cruz,
Sejamos discípulos do amor e da luz,
Façamos por inteiro nosso peregrinar,
Expusemos o medo de com ele caminhar.

Façamo-lo Rei,
Não da força e da prepotência,
Mas do amor, da Paz e da paciência,
Num caminhar sereno e de prontidão,
Seguindo a estrada na partilha e na união,
No culto novo e cheio de amor,
Além do que se pede a lei e seu rigor.

Entre a fama e a cruz,
Há um caminhar ainda a se fazer,
Há violentos e assassinos a se atrever,
Há também os traidores,
Há os medrosos, os fujões e desertores,
Mas há os que são solidários,
Que caminham até o fim, mesmo solitários.

Triste é saber, e ver,
Que no mundo, neste caminhar,
Ainda há muitos crucificados a gritar,
Marcados pelo flagelo e a humilhação,
Que gemem com o peso da opressão,
Que esperam os “cirineus” para os ajudar,
Para os seus sofrimentos aliviar.

Olhemos para Jesus,
Que caminha com a gente e sem desistir,
Fazendo sua aliança conosco cumprir,
Caminhando sem medo e com humildade,
Totalmente entregue e na liberdade,
Para nos dá o prêmio da vida por ele anunciado,
Para nos conduzir ao Reino, pelo Pai preparado.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

V DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 43,16-21; Sl 125(126); Fl 3,8-14; Jo 8,1-11

 

“A mulher adúltera – Jesus escrevendo no chão”, 1886–1894, J. Tissot (1836–1902)


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⇒ HOMILIA ⇐

As pedras, dos nossos julgamentos

Jo 8,1-11

 

A liturgia deste domingo retomará o tema do perdão e da misericórdia de Deus, porém, com um cenário e uma situação muito diferente da realidade da parábola do Filho Pródigo, objeto de reflexão no domingo passado. Vejamos: enquanto no texto do 4º domingo da quaresma, o filho volta arrependido, por sua própria iniciativa, neste 5º domingo, o texto do evangelista, narra que uma mulher (sem nome) é empurrada pelos mestres da Lei e fariseus até Jesus para ser condenada, por adultério (cf. Jo 8,3).

Ninguém falou ou não se sabia do cúmplice, todos estavam com pedras nas mãos para assassinar a mulher. Estavam armados para cumprir a lei, de acordo com os preceitos machistas, preconceituosos e discriminatórios daquela época. Neste caso, não havia se quer uma atitude de misericórdia e nem defesa do acusado, por que segundo o Levítico (cf. 20,10), a punição sobre o adultério era igual para os dois culpados (homem e mulher): “Se um homem cometer um adultério com a mulher do próximo, o adúltero e a adúltera serão punidos com a morte.” Também no Deuteronômio (cf. 22,22) teremos a mesma orientação para os que cometem adultério.

Aqueles senhores doutores também tinham outra intensão: montar uma armadilha para pegar Jesus em contradição, na interpretação da lei Judaica e no julgamento daquela situação. E Jesus começa a escrever no chão. E como queríamos saber o que ele escreveu!

Alguns estudiosos supõem que Jesus escrevia a frase que logo em seguida diria para os fariseus: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). E outros especulam que Jesus escreveu os tantos pecados cometidos pelos doutores da lei e fariseus.

As palavras e a postura de Jesus fez com que todos jogassem suas pedras no chão. Saíram calados e desarmados, a começar pelo mais velho (cf. Jo 8,9), que, obviamente, era o mais experiente, tinha conhecimento maior da lei, porém faltava-lhe no coração o perdão e a misericórdia.

Todos foram embora e o tempo agora é somente para Jesus e a Mulher. Ela não pede perdão, não fala nada, até que Jesus pergunta onde estão os acusadores (cf. Jo 8,10). E as palavras de Jesus definem o caminhar daquela pecadora: “Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11).

De agora em diante aquela mulher viverá uma caminhada de conversão e de reconhecimento concreto do amor de Deus, voltará justificada com certeza, por que atenderá o pedido de Jesus: não peques mais.

Quantos ensinamentos podemos retirar deste texto de João para o nosso caminhar cristão, como discípulos que querem testemunhar o Senhor? Olhando para os fariseus podemos nos perguntar: quando é que agimos como eles, julgando e condenando os irmãos, como se não tivéssemos nossas fragilidades e erros absurdos?

Tantas vezes enchemos nossas mãos das pedras da intolerância, da arrogância e da dureza de nosso coração, e por isso nos consideramos mestres dos outros. Em outros momentos, somos superficiais pregando uma moral e uma lei que está em contraste com o Evangelho.

No final deste tempo quaresmal, somos convidados a contemplar a ação de Deus na história e no nosso caminhar. Precisamos reconhecer a graça libertadora e santificadora do Senhor, como fala o salmo 125(126): “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!” Pois o nosso Deus é maior do que as leis humanas, ele vai além dos nossos caprichos e interesses pessoais, por que ama a todos dentro das limitações, porém nos pede para seguirmos em frente e não ficarmos parados e também nos ordena que nos convertamos a cada dia, que desocupemos nossas mãos das “pedras” que nos impedem de vivermos a fraternidade e a paz entre os irmãos e irmãs.

Quando entendermos isso e deixarmos enraizar no nosso íntimo essa espiritualidade, poderemos dizer como o apóstolo Paulo: “Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo.” (Fl 3,8). Conhecer a Cristo consiste, portanto, testemunhar esse amor que acolhe, que escuta, que perdoa e que ajuda a prosseguir o nosso caminhar na santidade.

Peçamos ao Senhor misericordioso, que nos ajude a purificar nossas mãos para podermos receber a Palavra e a Eucaristia… que estejamos de mãos limpas para saudar os irmãos e de coração livre para construir a paz e a fraternidade, como sinais do Reino, no mundo. Amém.

 

⇒ POESIA ⇐

TIRA-NOS SENHOR, AS PEDRAS DE NOSSAS MÃOS

Pecadores que somos
Pedimos ao Senhor,
Que nas nossas arrogâncias,
E também nas ganâncias,
Possamos ser vencidos pelo amor,
Querendo a conversão abraçar,
E o caminho da Paz continuar.
Jogando fora o rancor.

Quantas pedras em nossas mãos,
Para nos outros atirar,
Que impedem a caridade,
Que não se juntam para a fraternidade,
E muitas vezes querem dominar,
Numa atitude de opressão,
Impedindo a libertação,
Que Jesus veio pregar.

Olha para nós, ó Senhor,
Ajuda-nos nesta nossa caminhada,
Tira das nossas mãos a violência,
Capacita-nos com a benevolência,
Por onde segue a nossa estrada,
Ensina-nos com a prática do perdão,
Rega com o amor nosso coração.
Que nossa vida seja restaurada.

Seja o nosso encontro contigo Senhor,
Como o da mulher pecadora,
Que em nada se justificou,
Somente em Deus esperou,
A sentença libertadora,
Que Jesus veio a lhe dar,
De seguir em frente e não mais pecar,
E depois ser sua seguidora.

Ilumina Senhor com a tua palavra,
Nossa vida de discípulos ainda pecadores,
Mas que querem seguir em frente,
Querendo ser no mundo semente,
Como humanos anunciadores,
Com mãos livres para edificar,
E os irmãos podermos abraçar,
Caminheiros, discípulos, sonhadores.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

IV DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Js 5-9a.10-12; Sl 33; 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32

 

“O Retorno do Filho Pródigo” (1661–1669), por Rembrandt (1606-1669)

 

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⇒ POESIA ⇐

O ABRAÇO ALEGRE DO PAI

Nas minhas idas e voltas,
Peço-te agora, ó Senhor,
Que me acolha no teu amor,
No meu arrependimento,
Também no sofrimento,
Aliviando-me a dor.

E no abraço da alegria,
Com o anel da dignidade,
E as sandálias da fraternidade,
Faz-me, Senhor, restaurado,
Como teu filho amado,
Na tua simplicidade.

Faz-me grande banquete,
No retorno à minha vida,
Na divina acolhida,
Sem cobrar a herança,
Retoma a esperança,
Vida renascida.

Preciso, então, aprender,
Ser filho, contigo,
Sendo teu amigo,
Sem autossuficiência,
Sem prepotência,
E mais agradecido.

Sem olhar para o mal que fiz,
Bendigo o retorno e celebro,
A uma vida nova me entrego,
Renasce em mim amor e paz,
Reforçando a vida que me traz,
Abraço de amor que me alegra.

 

⇒ HOMILIA ⇐

Os braços da Misericórdia

Lc 15,1-3.11-32

 

O retiro quaresmal de todos os cristãos continua. Prosseguimos em busca de uma vivência espiritual marcada pelos exercícios de penitência e de escuta da Palavra, agradecidos com a dádiva de um Pai misericordioso que nos acolhe no abraço, na alegria e faz festa quando a ele retornamos.

A liturgia deste 4º domingo da quaresma, que a Igreja também chama de Domingo da Alegria (Laetere), pois estamos mais próximo do grande dia da celebração da vida nova, nos dada pela ressurreição do Senhor. O texto é de Lucas (cf. 15,1-3.11-32), o qual apresenta a parábola do Filho Pródigo. O cenário e o conteúdo descrito por Lucas para apresentar este belíssimo texto, traz os fariseus criticando Jesus por acolher pecadores (cf. 15,2) e em seguida a parábola que nos mostra a face misericordiosa de Deus (cf. 15,3s).

A parábola é resposta de Jesus para com os fariseus, os primeiros destinatários da mensagem, os quais não conheciam o amor e a misericórdia de Deus e por isso eram hipócritas por se considerarem corretos e autossuficientes para julgar as pessoas.

Reflitamos sobre cada uma das figuras da parábola: O filho mais novo quer a herança que lhe cabe (cf. 15,12). Este filho parte para ficar distante, para esbanjar a herança nos prazeres desenfreados do mundo e se esvazia até a última moeda e última a gota de vinho. Vem a miséria, a fome e a perda da dignidade humana, a ponto de desejar matar a forme com a comida dos porcos (cf. 15,16). A sua angústia chega ao limite máximo e o seu orgulho cai por terra. Ele cai em si.

O filho arrependido ensaia algumas das palavras para dizer ao Pai quando retornar: “Pai, pequei contra Deus e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados.” (Lc 15,18-19). Depois de pensar nisso, decide por uma escolha: tomar o caminho de volta e fazer o que planejou.

Ainda estava longe quando lhe vem a surpresa do abraço do Pai, que com certeza tantas vezes olhava o caminho para ver se o filho voltava. As palavras formais ensaiadas pelo jovem não interessaram ao Pai, pois a atitude da volta para os seus braços já era o suficiente para ser acolhido na alegria, no abraço e na festa e não somente isso: um anel no dedo, sandálias nos pés, um banquete e, com certeza, roupas novas (cf. Lc 15,22), atitudes que expressaram o perdão e o acolhimento misericordioso do Pai.

O filho mais velho, que também estava fora, tinha saído para trabalhar, ao retornar, não acolheu o seu irmão no seu retorno e também não quis entrar na casa. Este filho mais velho, estava sempre com o Pai, era correto, devia ter mais experiência, era trabalhador, mas também não conhecia o Pai na sua misericórdia e acolhimento. Ele também precisava se converter, porque não aprendeu do seu Pai sobre o seu amor.

Este filho mais velho é a figura dos fariseus, que não aprenderam a amar e serem misericordiosos como Deus ensina. Também é a figura dos cristãos quando se acham autossuficientes e incapazes de acreditar naqueles que se convertem radicalmente e querem tomar o caminho de volta para os braços de Deus.

A figura do Pai é a concretização de tudo aquilo que Jesus pregou e viveu: a misericórdia e a alegria de Deus ao acolher os pecadores, que não erram apenas uma vez, tantas vezes vão e outras tantas podem voltar. Nós cristãos somos assim, estamos sempre buscando o perdão de Deus para a nossa santificação.

Cada encontro que fazemos com o Senhor através da sua Palavra e do seu Corpo partilhado é um grande banquete, ação de graças, uma festa, pela nossa restauração na volta aos braços do amor misericordioso de Deus. Deus sempre faz festa quando retornamos a ele.

Quantas vezes julgamos os outros como sendo alguém mais pecador do que nós ou até incapaz de conversão. A nossa santidade não consiste apenas em sermos corretos, à nossa maneira, e pertencermos a um grupo de privilegiados da Igreja, mas sim, consiste em reconhecermos que precisamos nos converter e aprender todos os dias. Também vivemos a santidade e a misericórdia de Deus quando acolhemos o irmão e o ajudamos a restaurar a sua dignidade com o abraço amoroso e caridoso.

Para vivermos as virtudes da santidade de forma concreta devemos atender ao que São Paulo nos aconselha: “deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus.” (2Cor 5,20-21).

Peçamos ao Senhor que converta o nosso coração para atitudes de perdão, de acolhida e de misericórdia, para amar os irmãos e irmãs como Deus nos ama. Que possamos viver um testemunho de alegria pelos que retornam à casa de Deus com súplicas de perdão e dispostos a viverem a conversão. Seja para nós, a quaresma, este período de uma oração mais profunda e de uma penitencia coerente neste caminhar de discípulos missionários que sobem à Jerusalém para com Jesus viver a sua Paixão, morte e Ressurreição.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

III DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

Leituras: Ex 3-1-8a.13-15; Sl 102; 1Cor 10,1-6.10.12; Lc 13,1-9

 

⇒ POESIA ⇐

A PACIÊNCIA DE DEUS

 

Peço-te Senhor
A tua paciência,
Na minha deficiência,
Nas minhas murmurações,
E também nas decepções,
Que me fazem desviar,
Este meu caminhar,
Para as ilusões.

Peço-te Senhor,
A tua sabedoria,
Que me alumia,
Sem nada cobrar,
Mas quer me encaminhar,
Para a estrada correta,
Que também me alerta,
Aonde devo chegar.

Obrigado Senhor,
Em ti minha esperança,
Que espera e não se cansa,
Cuidando com carinho,
Indicando-me o caminho,
Para a santificação,
Sem que esqueça o meu chão,
E sem que eu fique sozinho.

Sigo em frente Senhor,
Neste meu caminhar,
Sei que vais me ajudar,
Nesta vida peregrina,
Tua Palavra me ensina,
Quero então prosseguir,
Firme e sem desistir,
Pois teu amor me anima.

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Palavra de Deus nos faz fecundos

Lc 13,1-9

 

Seguimos em frente com o Senhor neste tempo quaresmal em busca da santidade, que é construída através da nossa conversão constante. O Evangelho deste 3º domingo da quaresma está em Lucas (13,1-9) e é constituído de duas partes.

Na primeira, a narração de algumas pessoas que chegam a Jesus para falar sobre o massacre de Pilatos contra alguns galileus. Jesus por sua vez, também lembra o desastre da torre de Siloé (cf. Lc 13,1-4). A intenção das pessoas que foram interrogar Jesus era saber sobre a posição dele a respeito destes acontecimentos. Jesus esclarece que estes fatos não são castigos de Deus, por causa dos pecados das pessoas, embora Deus queira que todos reconheçam seus pecados e tomem consciência da necessidade de conversão e, porém, os desastres e massacres não são uma vingança divina por causa dos pecados pessoais, mas muitas vezes, estas realidades são consequência dos atos humanos, do descuido, da violência, da opressão, da desumanidade e da tirania.

A segunda parte do evangelho trata da parábola da figueira estéril. A vinha é imagem do povo de Israel, sendo que o dono dela é o próprio Deus, que cuida com calma, carinho e misericórdia.

Diante de texto, podemos tirar vários ensinamentos para o processo de nossa conversão. O dono da vinha fala: “E Jesus contou esta parábola: ‘Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou. Então disse ao vinhateiro: ‘Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?’. Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás’”. (Lc 13,6-9).

Podemos refletir que os três anos de Jesus na sua caminhada pública com os seus discípulos, junto ao povo e nos conflitos com os fariseus e outras lideranças, foi este período de cuidado e espera na busca dos frutos de conversão. Inicialmente ele pouco encontrou nos seus ouvintes e seguidores esta realidade.

Mas aqui entra a paciência e a espera de Deus para que a figueira seja renovada, adubada para dar frutos. No início desta vinha na caminhada do povo, na Bíblia, está Moisés que é chamado a cuidá-la, cultivá-la e livrá-la de toda a opressão imposta pelo faraó do Egito. Moisés foi o cuidador da vinha divina e durante muito tempo enfrentou o desafio dos murmúrios do povo, da sua idolatria e incredulidade para com o Deus da aliança. No chamado de Moisés está a memória de todos os percursos da história do seu povo desde os primeiros pais: “Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó” (Ex 3,6).

Paulo também faz memória da caminhada do povo da primeira aliança: “todos foram batizados em Moisés, sob a nuvem e pelo mar; e todos comeram do mesmo alimento espiritual, e todos beberam da mesma bebida espiritual” (1Cor 10,3-4).

Precisamos refletir sobre nossas raízes espirituais e bíblicas, lembrando-nos do povo de Deus na sua caminhada pelo deserto e contemplarmos o percurso até nós, o povo da nova aliança. Nisto percebemos que Deus sempre caminhou conosco, o seu povo, mesmo em meio aos erros e durezas de nosso coração. Neste olhar e neste refletir, reconhecemos que ele sempre foi paciente, misericordioso e cuidadoso conosco, inclusive nos dando inúmeras chances de nos revermos e mudarmos de vida.

Os cristãos são chamados a buscarem nesta quaresma o cuidado, o preparo (adubo) com suas raízes espirituais, para poderem produzir a unidade, a fraternidade, o amor e a justiça, como sementes que fazem crescer a messe do Senhor.

Às vezes em alguns momentos de nossa vida, o nosso comodismo e a nossa indiferença com o Evangelho, passa a ser a expressão da figueira estéril, a qual será descartada, pois não fará sentido a sua existência se não produzir frutos.

Faz-se necessário que a nossa vida seja regada pela Palavra de Deus, alimentada pela Eucaristia, fortificada pela vida de oração, revisada pela penitência, vivida na caridade e ao mesmo tempo motivada para a missão evangelizadora, produzindo assim os frutos que se expressam no autêntico testemunho de cristãos, sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-14).

Peçamos ao Senhor a sua graça para que nos conceda a perseverança na nossa busca de conversão e nos fortaleça com a sua Palavra para tornar o nosso caminhar fecundo e cheio de sentido.

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

II DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Gn 15,5-12.17-18; Sl 26; Fl 3,17-41; Lc 9,28b-36

 

⇒ POESIA ⇐

VAMOS SUBIR O MONTE DE DEUS

 

Subamos ao monte,
Para o encontro com o Senhor;
Para ouvi-lo e contemplá-lo na sua glória,
Para descobrirmos a vida em vitória,
Sem medo ou comodismo,
Sem o mal do individualismo,
Porque Ele é Senhor da nossa história.

Desçamos do monte
Em caminhada firme, e fortes,
Para seguirmos em frente, a missão,
Para caminharmos mesmo na perseguição,
Com a coragem que vem do Senhor,
Que mesmo abraçando a dor,
Continua firme a sua oração.

Continuemos a nossa estrada
Com o Senhor transfigurado,
Sendo fiéis seguidores do seu amor,
Com um coração cheio de vigor,
Na alegria de sempre crer,
Sem nunca, nunca esmorecer,
Com coragem que se faz no ardor.

Despertemos do sono da indiferença,
Ou mesmo do nosso comodismo,
Para do monte seguirmos em frente,
Sendo discípulos firmes e conscientes,
Cheios de vida, e transfigurados,
Em vida nova, e motivados,
Comunhão refeita e coração ardente!

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Transfiguração do Senhor e a nossa transfiguração

Lc 9,28b-36

 

Continuamos nossa caminhada com Jesus rumo a Jerusalém neste período quaresmal, alimentados pela certeza na Ressurreição. Neste segundo domingo da Quaresma, contemplemos Jesus e os três discípulos que vão ao monte para orar. Lá acontecerá a Transfiguração, sinal da glória infinita de Deus que é prefiguração da Ressurreição do Senhor.

Podemos refletir várias realidades nesta narração de Lucas: Jesus escolhe Pedro, Tiago e João para estarem com ele na oração do monte; aparecem dois representantes da primeira aliança: Moisés e Elias, os quais conversam sobre o tipo de morte de Jesus em Jerusalém (cf. 9,31).

Na oração, os discípulos adormecem e quando despertam veem Jesus transfigurado: seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante e junto a ele estão dois homens, Moisés e Elias, os três aparecem revestidos de Glória (cf. 9,31).

Há uma sugestão de Pedro para armar as tendas para continuarem por ali. O Evangelista fala que Pedro não estava entendendo (cf. 9,31-33). Isto significa que ele queria apenas a segurança do monte sem a passagem pela Cruz. E uma nuvem envolve a todos e desta saiu a voz de Deus que diz: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35).

Toda esta realidade apresentada pelo evangelista Lucas nos ensina que se faz necessário a oração para o maior entendimento do projeto do Reino. Que é preciso o seguimento consciente nos caminhos do Senhor.

A presença dos profetas confirma tudo o que foi anunciado no primeiro Testamento sobre o novo êxodo, a libertação de todo homem na nova Aliança. Precisamos subir também ao monte em vista do encontro com o Senhor, para vivermos a oração pessoal ou comunitária, não para entrarmos na nossa posição de comodismo, mas, para que a nossa missão de cristãos fique mais clara e comprometida, a fim de que estejamos mais conscientes de que a Cruz estará também na nossa estrada, se temos como meta a ressurreição em Cristo.

O interessante é que os três discípulos que Jesus chamou, coincidentemente, tinham dificuldades de entender a proposta do Reino, vejamos: Pedro, quando Jesus anuncia que irá sofrer e morrer não aceita naquele momento de maneira alguma esta realidade (cf. Mt 16,21-23); Tiago e João já haviam pedindo sobre um lugar de honra discutido sobre quem seria o maior (cf. Mc 10,35-38.43-45). Vemos que Jesus na sua pedagogia de Mestre os chama para viverem uma experiência de oração, para que se possa ficar clara para eles as consequências da Missão junto ao seu Mestre.

O despertar dos discípulos poderá significar a nova visão sobre o sentido da missão com o Senhor. A tendas também fazem referência à tenda do encontro, onde Moisés encontrava Deus, como cita o livro do Êxodo: “Logo que Moisés entrava na Tenda, a coluna de nuvem baixava e ficava parada na entrada, enquanto o Senhor falava com Moisés.” (Ex 33,9).

Na primeira leitura, Abraão, o nosso Pai na fé, é convidado a observar as estrelas, vê e pensar na promessa que Deus lhe confiou (cf. Gn 15,5). Ele nos ensina a confiar nas promessas de Deus e não duvidar. Quantas vezes somos fracos na nossa vida de cristãos e até duvidamos dos que acreditam e colocam sua vida totalmente nas mãos de Deus, mesmo diante das dificuldades e derrotas humanas.

São Paulo nos conforta: “Ele transformará o nosso corpo humilhado e o tornará semelhante ao seu corpo glorioso, com o poder que tem de sujeitar a si todas as coisas” (Fl 3,21). Toda a nossa vida de discípulos de Cristo é em vista da Ressurreição quando seremos também glorificados e viveremos eternamente com Deus.

Portanto, neste tempo em que somos convidados a vivermos uma escuta da palavra mais intensa, uma vida de oração mais profunda e rever a nossa caminhada através de um exame de consciência, faz-se necessário que escutemos o Pai do Céu que nos diz: “Este é o meu Filho, o Eleito” ( Lc 9, 31-35).

Precisamos silenciar para exercitar a escuta, não somente a escuta numa atitude de contemplação da voz de Deus, mas também ser mais ouvinte dos outros e estarmos atentos aos diversos gritos do mundo os quais estão expressos nos angustiados, nos órfãos, no povo da rua, nas penitenciárias e outras situações. Também ouvir os que estão mais próximos de nós.

Peçamos ao Espírito Santo o dom do discernimento para podermos descobrir aquilo que é mais necessário para chegarmos a uma vida transfigurada pelo amor, uma nova convivência juntos aos irmãos e irmãs, em direção à verdadeira felicidade a qual se encontra somente em Deus.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

I DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Dt 26,4-10; Sl 90(91); Rm 10,8-13; Lc 4,1-13

 

⇒ POESIA ⇐

O DESERTO DA VIDA

 

No deserto desta vida,
Muitas coisas enfrentamos,
Tentações de todo tipo,
Que às vezes duvidamos,
Mas Jesus está com agente,
Caminhando firmemente,
É nele que acreditamos.

Muitas vezes ao caminhar,
O deserto fica quente,
Vem a sede e vem a fome,
Que vai castigando a gente,
Então vem a esperança,
O Senhor é a bonança,
Pois na vida está presente.

Temos tantas tentações,
No nosso mundo atual,
Consumir pra mais da conta,
Cultivando o capital,
Somos tentados a comprar,
E ainda adorar,
O ídolo material.

Não podemos esquecer,
Que a vida do cristão,
Deve ser simplicidade,
Vivendo a contemplação,
Com Jesus sem desistir,
O caminho a prosseguir,
Pra viver a conversão.

A caminhada é longa,
No deserto da existência,
Mas nós vamos aprendendo,
A viver com paciência,
Com jejum e oração,
Caridade em ação,
Santa e viva penitência.

Viver o tempo quaresmal,
Para o cristão é importante,
Faz muito a gente crescer,
E seguir perseverante,
A palavra é fundamento,
Oração como alimento,
Testemunho a todo instante.

 

⇒ HOMILIA ⇐

As tentações de Jesus e as tentações do cristão

Lc 4,1-13

 

Iniciamos a nossa caminhada quaresmal, e neste primeiro domingo da quaresma vamos refletir sobre a quaresma de Jesus, apresentada pelo evangelho de Lucas (4,1-13).

No deserto, Jesus vence as três tentações cada uma em um cenário diferente: No deserto quando chega a fome há uma tentação de transformar as pedras em pães (cf. 4,3). Em um segundo momento diante dos reinos do mundo, o diabo promete todas as riquezas para que Jesus as adore (cf. 4,7). Por fim, o tentador coloca Jesus no ponto mais alto e sugere que ele se atire para baixo (cf. 4,8).

Jesus, diante destas tentações contra a sua natureza humana, se faz fiel ao Plano do Pai e por isso tem sempre uma resposta firme perante o tentador, pois é conduzido pelo Espírito.

Na fome ele fala do alimento imperecível que é a sua sintonia com o Pai, ou seja, a oração constante. Pois não é somente o pão material que alimenta o homem. Diante da tentação do poder, Jesus é fiel ao projeto do Reino, pois somente ao Deus verdadeiro se deve adorar e servir (cf. 4,8). Diante da tentação da segurança oferecida pelo demônio, Jesus não se coloca no perigo, pois pela obediência à missão e na observação das Escrituras não se deve tentar a Deus somente para provar que ele é poderoso.

Nós, os cristãos, estamos neste deserto da nossa existência terrena, onde acontecem muitas tentações. Quando nos falta o pão, somos tentados a buscá-lo de forma fácil e nos desesperamos. Não podemos esquecer-nos da tentação do consumismo e do materialismo desnecessário, pois quanto mais leves e despreendidos estivermos das coisas, mais confortamos o nosso coração com as coisas do alto e o Senhor nos dirá: Não só de pão vive o homem, há um alimento que não perece, a sua Palavra, seu corpo e sangue que nos fortalece e nos traz a felicidade e a realização verdadeira.

A segunda tentação apresentada por Lucas: “se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu” (4,7), no faz refletir sobre os nossos ídolos que vamos criando, quando nos falta a fé no Deus verdadeiro. O povo no deserto também passou pela tentação de fabricar um bezerro de ouro para adorá-lo como um novo deus para eles. Podemos nos perguntar: que ídolos costumamos construir nas nossas tentações, quando não entendemos ou não esperamos o projeto de vida que Deus tem para nós? Diante disto Jesus nos dirá: “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás” (Lc 4,8).

A terceira tentação nos leva a refletir sobre nossas ações para manipular Deus a favor de nosso individualismo, quando buscamos os milagres apenas materiais, tais como a prosperidade baseada no acúmulo de bens e no conforto. São posturas interesseiras onde apostamos na ação de um Deus mágico, triunfalista e espetacular, que se mostra poderoso numa visão mais humana do que divina. Jesus nos diz: “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Lc 4,12).

Quantas coisas boas o Senhor nos dá no deserto de nossa existência, quantas lutas, desafios, provações ele nos ajuda a vencer, as quais nos ensinam muito mais do que sucessos mirabolantes baseados apenas em interesses terrenos e exteriores.

A fé cristã é exatamente a consciência de que em cada momento da nossa vida estamos caminhando para a eternidade, pois o Senhor está conosco nos fortalecendo pelos desertos de nossa da vida, nos dando a vitória rumo à libertação e à salvação…

Peçamos ao Espírito Santo a perseverança de caminharmos sempre com Cristo, pois ele venceu as tentações, e nos ensinou a vencê-las, sinalizando a vitória sobre a morte, e nós, com ele também, venceremos as tentações no nosso deserto existencial e com ele ressuscitaremos.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

IV DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 4,8-12; Sl 117; 1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18

POESIA

O PASTOR E A OVELHA

Ó Pastor supremo e bom,
Que a todas as ovelhas,
Trata com tanto carinho,
Que orienta o caminho,
Totalmente por amor,
Ó eterno bom Pastor,
Não nos deixe aqui sozinhos.

Ó Pastor supremo e verdadeiro,
Que doa a vida livremente,
Para a todos vim salvar,
Sem assim descriminar,
Nenhum dos seres humanos,
Com verdade e sem enganos.
Vem nos fortificar.

Ó Pastor supremo e amigo,
Que falas palavra eternas,
Para nos alimentar,
Para nos encorajar,
Pois tua voz queremos ouvir,
Sem medo de te seguir,
Vem sempre nos iluminar.

Somos teu rebanho vivo,
Que quer sempre te encontrar,
Queremos o teu infinito amor,
Acende-nos com tua luz e teu ardor,
Para a nossa forte felicidade,
Para a nossa viva caridade,
Tu és nosso belo e bom Pastor.

Pastor que cuida com tanto zelo,
As ovelhas cansadas e feridas,
O seu rebanho por ti tão querido,
Trata-nos como teus amigos,
E vai também a outros rebanhos,
Não consideram como estranhos,
Acolhe e carrega quem está sofrido.

Prepara-nos a mesa do amor,
Com taças e o vinho da alegria,
Para as ovelhas sempre acolher,
Pois sua vida vem a nos oferecer,
E não deixa de fora ninguém,
Seu rebanho alimenta do sumo bem,
No banquete vem a todos receber.

 

HOMILIA

O Pastor Eterno e Amoroso

A liturgia deste quarto domingo da Páscoa celebra a figura do Bom Pastor, Jesus Cristo, nosso caminho de Salvação. Somos chamados neste dia a refletirmos nossa condição de participantes do rebanho do Senhor numa experiência de escuta da voz do Bom Pastor e na participação da sua mesa, onde há o alimento que mata para sempre a nossa fome e a bebida que sacia eternamente a nossa sede.

No evangelho desta liturgia, no texto de João 10,11-18, podemos refletir três pontos importantes para a nossa vida de Cristãos: primeiro Jesus se apresenta como o Bom Pastor que é diferente dos mercenários, os quais conduzem o rebanho por interesse e por dinheiro, não se importando com as ovelhas que estão aos seus cuidados.

Jesus é o Bom Pastor porque ele dá a vida pelo seu rebanho, por isso foi até as últimas consequências: foi pregado numa cruz. Ele tem a vocação vinda de Deus Pai que o confia como verdadeiro pastor. Braços abertos para acolher o rebanho que nasce da entrega e do seu cuidado que brota da força de seu amor incalculável.

Nós, cristão que nos reunimos como rebanho do Senhor, somos convidados a ouvir a voz do nosso Pastor divino e ao mesmo tempo segui-lo. Somos também convidados a colocar no nosso coração e na nossa vida, as qualidades e as marcas da experiência de Jesus aquele que nos guia por caminhos seguros. Que gestos, atitudes e postura do Bom Pastor temos diante da vida e dos irmãos?

Na vida nossa de cada dia, temos responsabilidades e missões que se parecem com a condução de um rebanho. Portanto, somos também pastores a exemplo de Cristo, como pais e mães de família, como coordenadores de grupos da Igreja, como chefes de repartições, com políticos, no nosso trabalho, nas pastorais sociais, nas organizações, também como ouvintes, conselheiros confidenciais e muitas outras experiências que devem ser realizadas com justiça e sinceridade, sem interesses e sem descaso.

Num segundo momento Jesus nos diz: “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir.” (Jo 10,16). É interessante que a missão de Jesus não está restrita a grupo dos seus (povo judeus), mas também a outros pastoreios que precisam também ouvir a sua voz e aos quais ele os considera. Os cristãos são convidados a acolher cada ser humano, que vem e quer se inserir no rebanho do Senhor.

Portanto, o amor de Cristo se estende a todos, por que é o desejo de Deus que haja um só rebanho e um só Pastor no amor. É vontade do Bom Pastor que todos encontrem nele a vida nova e o sentido da sua existência. Por isso o acolhimento e o cuidado do bom Pastor faz a diferença na semeadura do Evangelho.

Por fim Jesus nos ensina que a sua vida é oferecida para a salvação do mundo: Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo.” (Jo 10,18). Há uma entrega gratuita e totalmente livre de Jesus em favor da humanidade. Não poderá haver total entrega quando há imposições.

Somos então convidados a refletir sobre a nossa vida de cristãos membros do rebanho do Senhor. Até que ponto nossas ações e opções de vida são uma experiência verdadeira de entrega sem interesses fúteis e vazios? Como nos sentimos dentro deste rebanho de Cristo, o Bom Pastor? Como usamos o nosso cajado das responsabilidades diante de nossa missão de servir?

O Cajado do pastor é para a pontar e proteger o caminhar do rebanho e não para bater nas ovelhas. Os maus pastores, fogem quando veem os perigos, e, muitas vezes batem com o cajado na cabeça das suas ovelhas quando estas se perdem ou caem pelo caminho. A estes, Jesus chama de mercenários, porque eles não se importam com a sua tarefa de cuidar. (cf Jo 10,12).

O que dizer dos chefes das nações, dos estados, dos municípios, os quais são responsáveis pela condução de um povo, como representantes. Estes, muitas vezes escolhidos pelo seu próprio rebanho, com frequência causam muitos sofrimentos ao povo quando não se interessa em cuidar com carinho daquilo que lhe foi confiado. Não se interessam em fazer valer a justiça, o bem comum e a vida digna. Jesus nos ensina que o pastor deve ter amor e compromisso na sua missão de fazer valer a dignidade e a igualdade a um povo.

Portanto, busquemos rezar pedindo pelos nossos pastores aqui na terra (Papa, Bispos, padres, diáconos) para que sejam fiéis na sua missão e que o seu trabalho seja vivenciado numa entrega verdadeira e numa atitude de carinho, fé e esperança.

E a nós, ovelhas reunidas em torno das mesas da Palavra e da Eucaristia, que possamos seguir em frente ouvindo a voz do Bom Pastor e se alimentando da sua mesa a caminho da verdadeira vida e sendo responsáveis naquilo que o Bom Pastor nos confiou.

III DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  At 3,13-15.17-19 Sl 4; 1Jo 2,1-5a; Lc 24,35-48

POESIA

TESTEMUNHAS DA ALEGRIA

A alegria do Senhor,
Vem trazer aos caminheiros,
Os discípulos das estradas,
De Emaús são mensageiros,
Ao Deus vivo encontraram,
Juntos também partilharam,
O Pão com o Senhor, primeiro.

O Pão com Jesus primeiro,
Foi uma santa experiência,
Participar da mesa Santa,
Com Jesus em sua essência,
Porque a mesa é o partilhar,
Do pão, Cristo, a alimentar,
E o amor divina ciência.

E o amor divina ciência,
Vem trazer a alegria,
Do Evangelho semeado,
Pela noite e pelo dia,
Vai ao mundo transformando,
E o Reino vai brotando,
Mensagem que não se esvazia.

Mensagem que não se esvazia,
No coração vivo e humano,
Na história dos discípulos,
Que superam seus enganos,
Na caminhada do povo,
Que acolhe o amor e o novo,
Do Reino e dos seus planos.

Do Reino e dos seus planos,
Vem Jesus se apresentar,
No meio da comunidade,
Que vem para celebrar,
No encontro em união,
Na Palavra e comunhão,
Que se faz a partilhar.

Que se faz a partilhar,
O que os discípulos viveram,
Seus encontros mais sagrados,
Quando então se envolveram,
Jesus, paz tranquilidade,
Constrói a fraternidade,
E os discípulos acolheram

E os discípulos acolheram,
O envio do Senhor,
Para serem as testemunhas,
Com força e com ardor,
Entregaram suas vidas,
Existências consumidas,
A serviço do Amor.

 

HOMILIA

A Paz e a alegria da Ressurreição

 

O evangelho de hoje encerra-se dizendo: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,35-48). Eis o desafio dos discípulos: com dificuldades, seguir em frente ainda marcados pela saudade e por esta realidade do Ressuscitado que até então era nova.

É importante lembrar que esta leitura é continuidade de Lc 24,13-35 que narra os dois discípulos de Emaús, quando no mesmo dia da Páscoa caminhavam fugindo de Jerusalém, sem esperança, com um sentimento de que tudo tinha acabado e que não teriam mais motivos para sonharem com o reino de Deus (cf. Lc 24,21). Nisto Jesus aparece caminhando ao lado dos dois e conversa falando das escrituras e de tudo a qual se referia a ele (cf. Lc 24,27).

Quando chegaram ao povoado, Jesus fez que ia seguir em frente e os discípulos o convidam para que ele ficasse com eles. Disseram: “fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” (Lc 24,29). Jesus entrou para ficar, sentou e partilhou dos alimentos. Quando partia o pão e falava, o coração dos discípulos estava ardendo. Quando ele desapareceu, os discípulos voltaram imediatamente Jerusalém anunciando o que tinham experienciado junto ao Ressuscitado (cf. Lc 24,33).

Pois bem, é aqui que inicia o Evangelho desta liturgia: a volta dos discípulos para Jerusalém. A mesma Jerusalém que é lugar de missão, de coragem, de desafios, de proclamar, com ardor, a vida nova do Ressuscitado em suas vidas. E então meditemos, nesta parte: Quando nos falta a fé, há possibilidade de fuga para longe dos problemas, mas não é possível. O problemas nos acompanham aonde nós vamos.

Os Discípulos de Emaús também somos nós, que caminhamos às vezes desiludidos, fugindo da comunidade dos irmãos. Às vezes não meditando sobre as ações de Deus em nossa vida, como nossas vitórias, como nossas alegrias e as curas materiais e espirituais que ao longo do caminhar vão acontecendo.

No evangelho desta liturgia há uma segunda experiência de encontro da comunidade dos discípulos. Jesus vem e se apresenta mais uma vez para traze-lhes a paz e enviá-los em missão. Porque somente com o coração na paz seria possível anunciar a vida nova. Sem paz e na insegurança não é possível anunciar coisas positiva e que ajuda os outros. Era preciso que todos fizessem a experiência do encontro na paz, e que vivessem a alegria da partilha da mesa e do pão.

Os encontros de intimidade entre Jesus e seus discípulos ocorriam com frequência, sempre com o objetivo de amadurecer a partilha. Foram momentos fortes antes da crucificação e ressurreição. Pois é na mesa que se realiza a partilha, o companheirismo, a fraternidade e tantas outras descobertas importantes na vida das pessoas.

A mesa da família também é lugar do amor, que se dá em partilha e alegria. O mundo não pode perder o sentido do encontro da mesa, onde se dá muitas conversas de vida cotidiana, de tantas histórias da nossa existência. Lugar onde o vinho do amor deve ser brindado para fortalecer a amizade e a fé dos que são irmãos e irmãs.

Na missa, as mesas da Palavra e da Eucaristia é para nós, católicos, o lugar sagrado do encontro com o Senhor e com os irmãos. Pois quando alimentados, pela Palavra, pelo Corpo e pelo Sangue do Ressuscitado, somos fortalecidos para voltarmos para a nossa “Jerusalém” onde está nossa família, nossos amigos e nossos companheiros de caminhada profissional, irmãos da comunidade, e outros que iremos encontrando durante à semana.

Precisamos testemunhar e confirmar que Cristo está vivo como fez o apóstolo Pedro, nos Atos dos Apóstolos, o porta voz da comunidade dos seguidores do Senhor: “Vós rejeitastes o Santo e o Justo, e pedistes a libertação para um assassino. Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos e disso nós somos testemunhas” (At 3,15).

Que a cada celebração, possamos seguir firmes no amor a Cristo ressuscitado, através de atitudes concretas na nossa relação conosco e com os irmãos. E possamos cantar como o salmo 4: Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!” Com o esplendor do Ressuscitado voltemos para anunciar a vida nova às nossas “Jerusaléns”. Amém.

II DOMINGO DA PÁSCOA – DOMINGO DA MISERICÓRDIA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  At 2,42-47; Sl 117(118); 1Pd 1,3-9; Jo 20,19-31

POESIA

MEU SENHOR E MEU DEUS

Tomé e seus irmãos somos nós,
Quando nos isolamos
Quando também duvidamos,
E ficando tão distantes,
Numa tristeza constante,
Fechados e não acreditamos.

Tomé, assim somos nós
Quando queremos fazer comprovações,
Nas tantas situações,
E de Deus então duvidamos,
Também o desafiamos,
As feridas e ilusões.

Tomé também somos nós,
Quando ao grupo retornamos,
E aos irmãos nós encontramos,
Para ver e encontrar o Senhor,
Com acolhida e muito amor,
E assim recomeçamos.

E, sendo como Tomé,
Queremos o Senhor tocar,
Nos seu corpo vindo nos dar,
Para seguir agora, em frente,
Num caminhar vivo e crente,
Sem medo e sem duvidar.

Mesmo como Tomé,
Queremos ao Senhor ouvir,
Para podê-lo seguir,
Nossa fé nele professar,
Sempre, sempre a caminhar,
E de amor se consumir.

Como Tomé e os irmãos,
Nossas dúvidas então rompamos,
De portas abertas sigamos,
Pra sair do grupo fechado,
E anunciar o ressuscitado,
E então não desistamos.

Seja a Palavra luz forte,
Em nosso peregrinar,
Sua luz a nos clarear,
Pra vencer a escuridão,
E seguirmos de pé no chão,
Sem medo de tropeçar.

 

HOMILIA

Cristo tem misericórdia dos que duvidam

 

Neste segundo Domingo da Páscoa, ressoa a voz do Ressuscitado: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo, 20,29). O Evangelho de João apresenta-nos dois momentos para nos mostrar as primeiras experiências dos discípulos no encontro com o Ressuscitado.

No encontro da comunidade, Jesus se revela vivo e traz a Paz para os que estão com medo e mergulhados na insegurança. (Jo 20,19). Na vida comunitária também se acolhe os que estão em dúvida como Tomé (cf. Jo 20,25). Foi preciso que a comunidade dos discípulos tivesse calma e esperasse pelo processo deste discípulo, para, no momento, oportuno ele tivesse a experiência do seu encontro com o Senhor.

Então temos dois momentos, os quais se dão sempre no primeiro dia da semana (Dies domini, o dia do Senhor), o domingo, porque foi neste dia que tudo mudou na caminhada de fé dos primeiros seguidores de Jesus. Daí nasce a fé dos primeiros cristãos e que depois se espalhou por todo o mundo até chegar a nós do século XXI.

Na primeira parte (Jo 20,19-25), o evangelista nos fala: estava anoitecendo quando Jesus aparece. A vida estava obscura para aquele grupo de seguidores, havia medo, insegurança, feridas no coração dos discípulos, portas fechadas… E o ressuscitado com a força do amor e da paz, rompe as barreiras físicas se pondo no meio deles e dizendo: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19).

Era preciso que os discípulos ouvissem esta saudação para a confirmação de que o príncipe da Paz estava no meio deles, ressuscitado, vencedor, para trazer vida nova e reanimá-los para continuarem.

Depois, mostrando as marcas da crucificação, repete a saudação, confirmando sua presença de vida plena e ao mesmo tempo anuncia que eles devem continuar a missão redentora da paz, da misericórdia, da justiça e do amor. Agora não devem ir somente para às aldeias, povoados e arredores de Jerusalém, mas para os confins do mundo.

Por isso o sopro do Espírito Santo foi concedido pelo próprio ressuscitado para que anunciem e perdoem os pecados dos homens (cf. Jo 20,23) e os conduzam para uma vida transformada e dedicada também a missão do Redentor.

Na segunda parte deste Evangelho (Jo 20,26-31) fica-nos uma pergunta: Onde estava Tomé naquela primeira aparição? Por que estava distante dos irmãos? Talvez porque o seu desânimo era maior do que a esperança, e, portanto foi inundado por esta realidade, ficando isolado, fechado em si, duvidando de Deus…

Ao encontrar os seus companheiros, Tomé duvida da aparição de Cristo. Ele desafia a Jesus, pois não acredita ainda na sua ressurreição. Tomé foi honesto em suas dúvidas, era preciso viver a experiência pessoal com o Senhor para pode professar: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28).

Este discípulo ausente no primeiro momento, quer uma prova concreta como muitos de nós cristãos quando nos isolamos e ficamos fora da comunidade. Às vezes duvidamos das maravilhas de Deus e de suas obras, e nos tornamos incrédulos quando não participamos da experiência do encontro com o Senhor na comunidade reunida.

Oito dias depois, os discípulos estão reunidos e agora está também Tomé, que dessa vez vê o Senhor. Novamente Jesus deseja a Paz e convoca aquele discípulo que não acreditou antes, e diz a Tomé: “‘Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel’. Jesus disse mais: ‘Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!’” (Jo 20,27-28).

A declaração de Tomé é forte: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). E Cristo acolhe e tem misericórdia de Tomé que duvidou, mas que depois professou a sua fé no Deus da vida. Nós também somos acolhidos na misericórdia de Deus quando, pela nossa fraqueza e dúvida, queremos provas da sua presença no meio de nós.

Nós, os cristãos, reunidos em torno da Palavra e da Eucaristia, somos os discípulos que acreditam sem terem visto e sem ter tocado as feridas e sem contemplarem o lado de Cristo, mas que escutam a voz do Senhor na Palavra e tocam o seu corpo quando na fila de Comunhão o recebem para se nutrirem da fé na vida verdadeira e prosseguirem a caminhada de fé.

Há feridas humanas que precisamos sentirmos e tocarmos! Elas estão presentes nos crucificados deste mundo e aparecem nos que passam fome, nos desempregados, nos presos e nos que injustamente são colocados como culpados, porque denunciam a desumanidade das realidades políticas, econômicas e sociais.

Quem poderá sentir e considerar esta realidade que está além do templo? Quem romperá o grupo fechado no medo e na omissão dos que se dizem seguidores do ressuscitado? Somente os discípulos, os batizados em Cristo que acreditam e vivem a ressurreição, e, por isso lutam por uma sociedade nova e cheia de vida e de paz.

Somente os que deixam as portas se abrirem e saem em missão para anunciar a vida nova em Cristo, e que deixam Jesus inundar de paz e coragem a sua vida. Estes podem mostrar para o mundo o sentido verdadeiro da vida, da justiça e da esperança.

Quando nos fechamos em nosso egoísmo e individualismo e ficamos distantes da vida da Igreja que abre as suas portas e assim nos tornamos discípulos infecundos e incrédulos. A misericórdia do ressuscitado nos abraça e nos acolhe, fazendo-nos forte na fé e nos ajudando a tirar as dúvidas e insegurança sobre a vida nova.

Enquanto alimentarmos uma fé somente devocional e não no dedicarmos a vida de discípulos missionários, a alegria do evangelho ficará como que guardado em nossas normas frias e sem força para evangelizar o mundo. Ficamos como em templos de portas fechadas por medo, comodismo e pessimismo e com a ausência de confiança no ressuscitado.

Portanto, cada domingo também é como aquele oitavo dia, quando também professamos a nossa fé no ressuscitado. Em cada domingo, escutamos os ensinamentos dos apóstolos, louvamos, colocamos em comum a nossa oração, partilhamos o pão, fazemos nossas ofertas materiais e espirituais como as primeiras comunidades dos Atos dos Apóstolos (cf. At 2,46).

Em cada encontro, a partilha da vida, nas suas alegrias e tristezas, porque é aí que se alimenta a fé e se revigora a caminhado do dia a dia de nossa existência. E então, nos perguntamos: como está a nossa partilha em nossas comunidades? Somos capazes de sentir a necessidade verdadeira do irmão carente? Sentimos a presença do Ressuscitado em nosso meio? Com quem nos identificamos: com Tomé ou com os outros discípulos?

Peçamos o sopro do Espírito Santo e a misericórdia de Deus quando também não acreditamos na presença de Cristo em nossas vidas. Que possamos sair do nosso medo, da nossa insegurança e do nosso isolamento para anunciar a certeza da ressurreição através de nossa vida e do nosso testemunho. Atitudes que se expressam na nossa alegria, na nossa paz, na nossa fraternidade, na nossa união e por que não dizer, na nossa caridade, virtude própria dos que amam o Senhor e o seguem. Amém!