1º Domingo do Tempo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas paróquias ⇐
⇒ Fevereiro: Mês dedicado à Sagrada Família ⇐
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)
⇒ Campanha da Fraternidade 2023 
» Tema: “Fraternidade e Fome” «
» Lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16) «
» Coleta Nacional da Solidariedade: 2 de abril «

 

Leituras: Gn 2,7-9;3,1-7; Sl 50(51),3-4.5-6a.12-13.14.17 (R. cf. 3a); Rm 5,12-19 (mais longa); Rm 5,12.17-19 (mais breve); Mt 4,4b; Mt 4,1-11

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Cristo nos ensina como vencer as tentações

Mt 4,1-11

 

Meus irmãos e minhas irmãs, celebramos hoje o 1º Domingo do Tempo da Quaresma do Ano A . Desde a Quarta-feira de Cinzas já estamos no Ciclo da Páscoa e a primeira parte do Ciclo da Páscoa é o Tempo da Quaresma, que terá seis Domingos, incluindo o de Ramos. O Tempo quaresmal, portanto, iniciou-se na última quarta-feira e se encerrará na Quinta-feira Santa antes da Missa do Lava-pés e da Instituição da Eucaristia.

Também na Quarta-Feira de Cinzas, a Igreja fez a abertura da Campanha da Fraternidade, que traz como tema “Fraternidade e Fome” e como lema “ ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mt 14,6)”.

A Liturgia deste Domingo nos motiva a contemplarmos, através do Evangelista Mateus (cf. 4,1-11), Jesus, após o batismo, sendo conduzido pelo Espírito ao deserto, onde também enfrenta as tentações do diabo. Santo Agostinho nos diz: “O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar-se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação”(1).

Meditando na Liturgia da Palavra deste Domingo, percebemos que o Senhor nos ensina sobre as tentações que Ele viveu antes de se entregar ao seu ministério pela Galileia.

A primeira tentação acontece no deserto após os quarenta dias de jejum, quando sente fome. Diz o tentador: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” (Mt 4,3). O Senhor Jesus nos ensina a vencermos a tentação do ter, à qual nos leva a pensarmos que tudo se refere ao dado material e aos nossos próprios desejos e interesses.

Por vezes, somos tentados a resolvermos as situações do mundo a partir de nossa autossuficiência. Esquecemos que não é somente dos bens materiais de consumo, do acúmulo e de nossos interesses individuais que vivemos, mas da Palavra de Deus que nos orienta por um caminho de fraternidade e de partilha, vivida no amor ao nosso Deus e aos nossos irmãos (cf. Mt 4,4).

A segunda tentação ocorre no templo. Diz o tentador: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui para baixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’.” (Mt 4,6). Jesus é tentado a se apresentar glorioso e inclinar-se ao triunfalismo. A nossa vivência religiosa na Igreja não deve ser motivada por prestígio e por fama. Somos, às vezes, tentados a vivenciar uma religião de refúgio, segurança individualista, fama e também de status social. Faz-se necessário vivermos um cristianismo em virtude da justiça e do bem a favor dos outros. O Senhor nos ensina: “Não tentarás o Senhor teu Deus!” (Mt 4,7). Não podemos provocar Deus a fazer a nossa vontade em favor dos nossos interesses pessoais e do nosso prestígio, para sermos vistos pelo mundo em nossa ostentação.

Na terceira tentação, Jesus é levado a uma alta montanha onde visualiza todos os reinos poderosos do mundo. Diz o tentador: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar.” (Mt 4,9). O Senhor respondeu: “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto’.” (Mt 4,10)

A verdade é que o pai da mentira mentiu, pois ele não pode oferecer tudo aquilo que mostrou. O que ele pode oferecer são verdadeiras estruturas que tem como fonte e meta a morte, a opressão, a maldade, a discriminação, a mentira, a falsidade e a corrupção. O verdadeiro poder político não está ao alcance do Malígno. O verdadeiro poder político é denominado por Deus como “vara do Meu poder”, isso segundo uma carta de São João Bosco (1815-1888) ao imperador da Áustria, Francisco José I (1830-1916), no ano de 1873(2). Também o tema da autoridade política pode ser visitado tanto no Catecismo da Igreja Católica (núm. 1897-1904) quanto no Compêndio da Doutrina Social da Igreja (núm. 393-405). Também o Papa Francisco repercute, ainda, a manifestação do Papa Pio XI de que a política é “a mais alta forma de caridade”.

O Senhor Jesus nos ensina que não podemos nos dobrar às motivações diabólicas do poder que mata, que divide as pessoas, que as exclui e que promovem as guerras. A tentação do lucro e do domínio por parte de poucos sobre muitos, crucifica os pobres e vulneráveis com práticas criminosas.

Precisamos entender que o poder do Senhor está no amor, na compaixão, no cuidado com os pobres, na Sua Palavra que chama o ser humano à mudança de vida e o envia a semear o Evangelho. Também na entrega à cruz, para a libertação e salvação do mundo. Porque é o amor, a escuta, a adoração, o culto ao Deus verdadeiro, que dignifica de verdade a vida das pessoas e traz a verdadeira paz que o Senhor saudou os discípulos, logo na tarde da Ressurreição, onde eles se encontravam trancados com medo dos judeus, proporcionando-lhes a Paz interior a todos os que estavam amedrontados (cf. Jo 20,19-23). Essa é a “Paz de Cristo”.

A razão de nossa vida é Cristo, o novo Adão, Aquele que no deserto, lugar onde a nação de Israel foi tentada, venceu o diabo e nos ensinou também a vencê-lo. Deu-nos a vida verdadeira e nos renovou em Seu amor. Quis ser alimento para nós, o Seu povo novo, com Seu Corpo e Sua Palavra, dando-nos força e luz em nosso peregrinar terrestre.

Peçamos perdão pelas vezes que nos deixamos vencer pelas tentações, pelas quais passaram o próprio Filho de Deus e que ainda hoje invadem a nossa vida material e espiritual. Que a luz do Espírito nos ilumine e nos encha de força para vencermos as tantas tentações que encontramos a cada dia. Que com a nossa esmola, a nossa oração e o nosso jejum sejamos cada vez mais parecidos com Cristo, tanto nas palavras quanto nas atitudes. Amém.

*   *   *
(1) cf. Dos comentários sobre os salmos, de Santo Agostinho, bispo. Liturgia das Horas, 1º Domingo da Quaresma.
(2) cf. Profecias de São João Bosco. 2 ed. São Paulo: Artpress, 2011. p. 86-87. Série “Cultura Religiosa”, núm. 15.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Vencer as tentações com Cristo

 

Contigo, Senhor,
Sou vencedor,
Contra o tentador,
Que me faz escravo
De muitas falsidades,
Atrocidades,
Contrárias ao amor.
*
Em Ti, Senhor,
Sou firme e forte,
Venço também a morte,
Que me traz as trevas,
Deixando-me perdido,
Como se fosse vencido,
Longe da Tua sorte.
*
Por Ti, Senhor,
Vou me entregando,
Sempre caminhando,
Rumo à vitória,
Meta dos Teus seguidores,
Dos evangelizadores,
E o Reino anunciando.
*
Para Ti, Senhor,
Toda gratidão,
Não é em vão,
Vamos sempre vencendo,
Vencemos o pecado,
O mal derrotado,
Em ti, novo Adão.
*
Contigo, Senhor,
Na fraternidade,
Seguindo sendo caridade,
Pelo mundo afora,
Vencendo na oração,
Sendo comunhão,
Via de santidade.

 

*   *   *

 

Obras: “Jesus tentado no deserto”, “Jesus levado ao pináculo do Templo” e “Jesus transportado por um espírito para uma alta montanha”, J. Tissot (1836-1902) In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/4453>, <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/4454> e <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/4452>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Novo Adão que nos trouxe o dom gratuito e superabundante da justiça e da misericórdia, ilumine o seu caminho! 

 

 

Quarta-feira de Cinzas (2023)

 

⇒ Dia de jejem e abstinência ⇐
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Leituras: Jl 2,12-18; Sl 50(51),3-4.5-6a.12-13.14 e 17 (R. cf. 3a); 2Cor 5,20-6,2; cf. Sl 94(95),8ab; Mt 6,1-6.16-18

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Cinzas, esmola, oração e jejum

Mt 6,1-6.16-18

 

Meus irmãos e minhas irmãs, celebramos hoje a Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia do Ciclo da Páscoa que tem como primeiro momento, primeira parte o Tempo da Quaresma, que terá seis Domingos, incluindo o de Ramos. O Tempo quaresmal, portanto, inicia-se nesta Quarta-feira de Cinzas e se encerra na Quinta-feira Santa antes da Missa Vespertina do Lava-pés e da Instituição da Eucaristia.

A Quaresma é um retiro universal da Igreja, é um Tempo de preparação para a festa mais importante do tempo litúrgico: a Páscoa do Senhor, o centro da experiência litúrgica. O período quaresmal nos proporciona, ainda, uma espiritualidade de penitência e conversão, com a qual recebemos diversas chaves para o retorno a Deus.

Neste ano, a Quaresma no Brasil é marcada por duas realizações evangelizadoras: a primeira é a própria Campanha da Fraternidade, que tem como tema “Fraternidade e Fome” e o lema “ ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mt 14,6)” e a segunda realização evangelizadora é o 3º Ano Vocacional, cujo tema é “Vocação: graça e missão” e o lema: “Corações ardentes – pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33).

A Liturgia da Quarta-feira de Cinzas, dia de jejum e abstinência, nos mantém ainda no contexto bíblico do Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1-7,29), hoje nos colocando diante dos exercícios de piedade da esmola, da oração e do jejum, numa releitura da Antiga Aliança. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 6,1-6.16-18.

A fé, a esperança e a caridade são virtudes que nos sustentarão neste Tempo de purificação aos pés do Senhor, pois com Ele caminharemos passando pelo calvário, pela cruz e acordaremos na manhã da Ressurreição com um coração renovado para cantar o Aleluia pela vitória do Ressuscitado.

Nesta Liturgia, o Senhor Jesus nos orienta quanto ao comportamento relativo às aparências e também que as práticas da esmola, da oração e do jejum devem ser realizadas com um coração simples e voltados para Deus.

A esmola, realizada em segredo, deve ter como recurso o resultado da nossa abstinência e destinada aos necessitados da Providência de Deus, portanto a vivência da caridade. Já a oração deve produzir uma escuta do Deus que fala em nossa vida e uma vida de mansidão nas relações humanas. Por fim, o jejum deve ser resultado de abstinências que mortifique nossas posses que nos socorrem diante das dificuldades humanas, nosso poder que nos faz ser atendidos pelos outros e também da nossa atitude que muitas vezes querermos que Deus atenda nossas vontades.

O importante é que tais práticas tenham como fruto a nossa permanente conversão, reavaliando nossa vida de batizados que querem seguir o Senhor na vida de caridade (a esmola), na prática da fé (a oração) e de esperança no Reino (jejum). Esta experiência deve nos ajudar a sermos melhores pais de família, filhos, consagrados e ordenados; melhores evangelizadores a serviço do Reino de Deus com sal da terra e luz do mundo.

Lembremos do que diz o profeta Joel, na Primeira Leitura desta Liturgia: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus” (Jl 2,13). Faz-se necessário transformar o nosso coração para mudar de vida. Já São Paulo nos exorta a vivermos a reconciliação com Deus, pois somos embaixadores de Cristo. Somente nesta sintonia com o Senhor é que podemos oferecer um testemunho.

As cinzas, que serão colocadas em nossa cabeça, é um elemento que marca a caminhada quaresmal e a nossa atitude deve ser de simplicidade e de reconhecimento de que o nosso corpo é perecível e que necessita da vida infinita em Cristo Senhor, como nos fala o livro do Gênesis: “porque és pó e ao pó hás de voltar” (3,19).

Finamente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, que enfrentou seus desertos com confiança suportada pela fé e esperança, interceda por nós e que possamos ser guiados pelo o Espírito Santo, unção de todos os santos, por este retiro quaresmal preparado pela Igreja, Corpo Místico de Cristo. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Caminhos que levam a Deus

 

Quero seguir em frente,
Sendo mais crente,
Tendo caridade,
Na simplicidade,
Sem esquecer o mundo,
Nem por um segundo,
Neste ofertar,
Neste escutar,
A quem tem necessidade.
*
Quero seguir orando,
Sempre escutando,
Ao Deus amor,
Ao irmão na dor,
Que me faz pensar,
E que me leva a orar,
E o coração,
Nesta conversão,
Para o Senhor.
*
Quero seguir jejuando,
E me transformando,
Em um humano santo,
Sem medo ou espanto,
Sensível ao irmão,
Sendo compaixão,
Coração rasgado,
Mas purificado,
Em Deus o encanto.
*
Quero prosseguir,
Sem desistir,
Nunca isolado,
Mas sintonizado,
Com todos os irmãos,
Alheios e cristãos,
Aos que não escutaram,
Mas que desejaram,
Santa conversão.
*
Quero, com o Senhor,
Viver Seu amor,
E sempre encontrar,
Para se alimentar,
Na mesa da alegria,
Encontrar a harmonia,
No alimento eterno,
Que nos faz fraternos,
A Eucaristia.

 

*   *   *

 

“O sermão das bem-aventuranças”, de J. Tissot (1836-1902). In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/13418>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, fonte e meta da nossa conversão, ilumine o seu caminho! 

 

 

7º Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas paróquias ⇐
⇒ Fevereiro: Mês dedicado à Sagrada Família ⇐
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)

 

Leituras: Lv 19,1-2.17-18; Sl 102(103),1-2.3-4.8.10.12-13 (R. 1a.8b); 1Cor 3,16-23; 1Jo 2,5; Mt 5,38-48

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A outra face: uma nova atitude

Mt 5,38-48

 

Meus irmãos e minhas irmãs, celebramos o hoje 7º Domingo do Tempo Comum, Ano A, o último Domingo antes de entrarmos no Ciclo da Páscoa através do Tempo da Quaresma. Neste mês as intenções do Santo Padre, o Papa Francisco, estão voltadas às paróquias. Rezemos também, tradicionalmente em fevereiro, pela Sagrada Família. Tenhamos ainda em nossas orações o 3º Ano Vocacional, cujo tema é “Vocação: graça e missão” e o lema: “Corações ardentes – pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33).

A Liturgia deste 7º Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplarmos Cristo como fonte da Lei mais perfeita. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 5,38-48, sequência do Domingo passado e ainda no contexto do Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1-7,29).

Ainda do alto da montanha, o Senhor continua o seu sermão nos ensinando: “Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem…” (Mt 5,39.43). Essa é uma importante lição de casa que o Senhor Jesus nos dá neste 7º Domingo do Tempo Comum.

O Senhor nos ensina que não é pela vingança, ou seja, revidando o mal que iremos construir o Reino de Deus. Pelo o contrário, é oferecendo a outra face que podemos favorecer a paz no mundo; é amando os inimigos e rezando por eles que podemos criar a fraternidade. Neste sentido, amar o inimigo está além das atitudes afetivas e alcança a maneira de olhar para o outro sem o sentimento ou desejo de vingança e de violência.

É oferecendo novas atitudes, ou seja, o outro lado da face, e também oferecendo posturas pacíficas diante das provocações, que iremos expressar os mesmos sentimentos de Jesus. É rezando pelo outro e querendo o seu bem, mesmo que não seja possível abraçá-lo e oferecer um sorriso; mesmo que suas diferenças e opções pessoais impeçam a nossa aproximação.

Podemos até pensar: ser seguidor de Cristo exige muito de nós! É uma experiência muito desafiante para quem vive num mundo de tantas competições e contradições. Lembremos que, em alguns momentos, pessoas que acompanhavam o Mestre também se questionaram e deixaram de segui-Lo porque acharam suas palavras muito duras. E, aos Doze, Ele perguntou: Quereis vós também retirar-vos? (cf. Jo 6,66-67). E na boca de Pedro temos a resposta: “Senhor, a quem iríamos nós? Só Tu tens palavras de vida eterna.” (Jo 6,68).

As atitudes que o Senhor nos pede na nossa convivência com os outros são próprias dos que buscam a santidade. O livro do Levítico nos traz o mandato que Deus encarregou a Moisés de falar ao povo de Israel. Diz o mandato: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2).

A história dos santos nos mostra que não eram vingativos, não guardavam rancor e, por isso, amavam o próximo como a si mesmo. Mesmo sendo cada um santo com seu próprio temperamento e personalidade, eram caridosos, compassivos e fraternos.

Ser santo também é aceitar e compreender que cada um pode ser habitação do Espírito Santo, como nos fala São Paulo na sua Primeira Carta aos Coríntios: “Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?” (1Cor 3,16).

Deixar-se ser habitado por Deus é exatamente viver o que nos pede o Senhor Jesus na Liturgia deste 7º Domingo. Quando deixamo-nos habitar pelo Espírito Santo, reconhecemos que o outro é nosso irmão, filho do mesmo Pai que “faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45).

Com este Evangelho também aprendemos que ser santo não se expressa apenas numa prática religiosa externa, mas em atitudes que vão além do que as pessoas que não são religiosas fazem. Que sentido teria, por exemplo, para um cristão amar somente as pessoas que os amam? Retribuir gratidão somente àqueles que os prestam algum favor? Qualquer pessoa mesmo sem religião faz o mesmo. Eis a nossa missão e desafio neste mundo: deixar que o Espírito do Evangelho possa transformar o nosso agir em atitudes a favor da paz e da fraternidade cristã.

Precisamos aprender com os santos, com os que lidam diretamente com os pobres nas periferias das cidades, no contato com os refugiados (as vítimas das guerras) e nos cortiços diversos de nosso país, com os que visitam os presídios. Devemos também aprender a valorizar tudo aquilo que os nossos irmãos e irmãs fazem nas tantas instâncias além dos nossos templos.

Peçamos ao Espírito Santo, o qual quer habitar em nós, para que nos faça cada vez mais santuários vivos da caridade, da fraternidade e da paz no mundo, um mundo onde atitudes novas de amor sejam sempre praticadas a serviço do Reino. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Sede santos e santuários de Deus

 

O Senhor nos ensina:
Sede santos, como Eu,
No combate à opressão,
Na promoção da paz,
Num coração que se refaz
No amor ao seu irmão.
*
O Senhor nos ensina:
Que nós somos iguais,
Diante do Pai bondoso,
Que este mundo nos deu
Chuva e sol nos ofereceu,
Com todos muito amoroso.
*
O Senhor nos ensina:
Fazei algo a mais,
Além do trivial,
Atitudes de santidade,
Em Cristo, a liberdade,
Numa entrega especial.
*
O Senhor nos ensina:
Somos Seu templo santo,
De culto vivo e verdadeiro,
Habitação que germina,
Fortalece e ensina,
A vida do caminheiro.
*
O Senhor nos oferece,
A alegria do Banquete,
Vem todos alimentar,
Nossa fome alivia,
Dá-nos paz e alegria,
Para a vida germinar.

 

*   *   *

 

“O sermão das bem-aventuranças”, de J. Tissot (1836-1902). In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/13418>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fonte da Lei mais que perfeita, ilumine o seu caminho! 

 

 

6º Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas paróquias ⇐
⇒ Fevereiro: Mês dedicado à Sagrada Família ⇐
⇒ Ciclo das Rosas: Dia da grande riqueza de Santa Teresinha do Menino Jesus – em dia 12 de fevereiro de 1889 ⇐
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)

 

Leituras: Eclo 15,16-21 (gr. 15-20); Sl 118(119),1-2.4-5.17-18.33-34 (R. 1); 1Cor 2,6-10; cf. Mt 11,25; Mt 5,17-37 (mais longo); Mt 5,20-22a.27-28.33-34a.37 (mais breve)

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Lei verdadeira, além da letra

Mt 5,17-37 (mais longo); Mt 5,20-22a.27-28.33-34a.37 (mais breve)

 

Meus irmãos e minhas irmãs, a Liturgia do 6º Domingo do Tempo Comum, Ano A , nos motiva a contemplarmos Cristo como fonte da Lei perfeita. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 5,17-37 (o texto mais longo) ou em Mt 5,20-22a.27-28.33-34a.37 (o texto mais breve), sendo que é uma sequência do Domingo passado e ainda no contexto do Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1-7,29).

Após falar para os discípulos que eles são sal da terra e luz do mundo, o Senhor Jesus apresenta as exigentes orientações sobre o cumprimento da Lei, a qual deve ser vivida além a letra.

Havia uma grande divergência entre os grupos da época no que se refere a relação entre a Lei de Moisés e os profetas. No entanto, o Senhor Jesus ensina a plenitude da Lei segundo a vontade do Pai. E o seguimento a Jesus faz com que as pessoas superem toda a formalidade da Lei, que, em sua interpretação fundamentalista, representava um fardo para os pobres, os quais não tinham condições de observar tantas normas, o que representava um privilégio para os mestres da Lei, guardiões de um código como mais de seiscentas normas.

Os discípulos precisarão aprofundar o novo mandamento de Jesus como meta para vivenciar a exigente experiência de caminhada com o Senhor. A justiça dos discípulos tem que ser maior do que a dos mestres da Lei. Caso contrário, não entrarão no reino dos Céus (cf. Mt 5,20).

A justiça dos fariseus e dos mestres da Lei fundamentava-se, sobretudo, na justiça dos homens e na letra da Lei. Faz-se necessário uma complementação. Por isso, o Senhor Jesus não veio abolir Lei, mas aperfeiçoa-la. O ensinamento do Mestre é sobre a plenitude da Lei, preceito que liberta o ser humano através do amor e da misericórdia divina, porque, como reza o salmista nesta Liturgia, é “feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo” (Sl 118/119).

O Senhor Jesus cita alguns dos mandamentos da Lei de Moisés para explicar e motivar os discípulos e, também o povo, a avançarem na compreensão destes preceitos. A Lei é necessária, mas precisa ser vivida além do formalismo e da obrigatoriedade.

Portanto, não basta “não matar”, é preciso evitar as maldades que levam à morte. Faz-se necessário que as pessoas vivam como irmãos, numa fraternidade solidária, no perdão e na justiça. Não só evitando o ódio e a discórdia entre si, mas buscando a concórdia.

O Senhor Jesus também cita o 9º mandamento, o de não desejar a mulher do próximo (cf. Mt 5,27). O adultério, naquele contexto, era resultado do desejo de posse sobre a mulher, fruto de uma sociedade em que o poder era ocupado apenas pelos homens. Portanto, uma sociedade machista.

Ao cristão de hoje, é necessário entender que o perdão, o respeito, a fidelidade e a igualdade de dignidade entre homem e mulher é uma atitude de amor que se cumpre a Lei do Senhor.

Quanto ao jurar falso (8º mandamento), o Mestre pede que se alargue a vivência deste mandamento, fundamentado na verdade, na integridade, na honestidade e na ética, porque a falsidade não é somente quanto a Lei, mas na ausência da dimensão total da pessoa que vive em sintonia com a Palavra do Senhor.

Portanto, irmãos e irmãs, os que querem viver de acordo com a Lei perfeita, devem abraçar a sabedoria de Deus, devem escolher a vida e o bem como nos fala o livro do Eclesiástico [15,19(18)]: “a sabedoria do Senhor é imensa, ele é forte e poderoso e tudo vê continuamente”. E ainda nos diz São Paulo, na sua Primeira Carta aos Coríntios: “o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu” (1Cor 2,9).

Que o Senhor nos abençoe e o seu Espírito nos ensine a vivermos a Lei que supera todas as regras e os códigos humanos, a Lei mais completa e mais perfeita: a Lei do amor, que tudo supera e que tudo suporta (cf. 1Cor 13,4-10). Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

A Lei perfeita

 

SA Tua Lei, Senhor,
É lei perfeita,
Vem do alto para nos santificar,
É uma luz que não se apaga,
O amor perfeito a nos orientar
Sinal divino a nos iluminar.
*
A Tua Palavra, Senhor,
É verdadeira,
Não há contradição e nem falsidade,
É pura, plena e abrangente,
Conselho perfeito para a santidade,
Ensinamento de lealdade.
*
Tua Palavra, Senhor,
É liberdade,
Não se impõe e nem quer oprimir,
Está além da letra e do moralismo,
Quer nos ensinar e nos redimir,
Orientando o caminho a prosseguir.
*
Tua Palavra, Senhor,
E só bondade,
Orienta a vida com nossos irmãos,
São preceitos santos e preciosos,
Fazendo-nos discípulos em missão,
Pelo “sim” de verdade à salvação.
*
Tua Palavra, Senhor,
É a Lei maior,
Maior que nossas tantas ambições,
Além de nossos desejos e interesses,
Porquê não nos causa decepções,
E ainda habita nossos corações.
*
Tua Palavra, Senhor,
É Encarnação,
Vida concreta em cada dia,
Que nos educa para a irmandade,
É Banquete santo de alegria,
É encontro de paz, é Eucaristia.

 

*   *   *

 

“O sermão das bem-aventuranças”, de J. Tissot (1836-1902). In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/13418>. Imagem da rosa: In <gratispng.com/png-uj22en>

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fonte da Lei perfeita, ilumine o seu caminho! 

 

 

5º Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas paróquias ⇐
⇒ Fevereiro: Mês dedicado à Sagrada Família ⇐
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)

 

Leituras: Is 58,7-10; Sl 111(112),4-5.6-7.8a.9 (R. 4a.3b); 1Cor 2,1-5; Jo 8,12; Mt 5,13-16

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Cristão sem esconder-se

Mt 5,13-16

 

Meus irmãos e minhas irmãs, a Liturgia do 5º Domingo do Tempo Comum, Ano A , nos motiva a contemplarmos Cristo como fonte do sal da terra e da luz do mundo. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 5,13-16, ainda no contexto do Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1-7,29).

Disse o Senhor Jesus “assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16). Eis o que nos pede o Senhor neste 5º Domingo do Tempo Comum. Somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo, não isolados, não em nós ou para nós mesmos.

Como discípulos de Cristo, banhados por Ele para sermos novas criaturas, somos convocados a ser sal da terra e luz do mundo, fortificados pela Eucaristia e iluminados pela Palavra, que nos sustentam e, ao mesmo tempo – a Eucaristia e a Palavra, nos dão um sentido completo e verdadeiro à nossa existência neste mundo.

O sal é símbolo de purificação, de sabor, de conservação e dá gosto aos alimentos. Nos tempos mais antigos, o sal foi visto como símbolo da sabedoria. Está mais para o nosso “ser”. Não o vemos entre a comida, mas sentimos a sua presença ou a sua ausência quando nos alimentamos.

Os cristãos são chamados a darem sentido ao ambiente da comunidade pela sua presença sábia, humilde, desprendida e de encontro. Às vezes uma presença tão simples e discreta de uma pessoa na comunidade, dá um imenso gosto ao ambiente quando estamos em reunião. E assim o cristão, como o sal deve conservar a força do Evangelho, procurando amenizar as podridões das diversas mortes terrenas, estimulando o sentido de ser discípulo, a sabedoria nas palavras e a ação com a força do amor.

A luz como símbolo do nosso Batismo e do próprio Cristo está mais para o nosso testemunho, por isso atinge os nossos olhos. Porém, o importante é que deixemos que ela possa iluminar o nosso caminho, porque a luz vem de Deus e, para iluminarmos mundo, precisamos primeiro deixar que ela nos preencha e nos irradie com sua claridade.

Os discípulos de Cristo no mundo representam esta presença iluminadora pelo testemunho de vida, que seguem o caminho da salvação. Deixam-se iluminar pelo Senhor e, ao mesmo tempo, iluminam o mundo com sua presença em meio a tantas trevas que escurecem as realidades humanas.

O profeta Isaías nos apresenta o que devemos fazer concretamente para deixar resplandecer a luz do Senhor. E diz: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá” (Is 58,7-8).

Ser luz, segundo o profeta Isaías, é viver a caridade onde as carências dos irmãos devem ser vistas, ouvidas e atendidas. Olhando para a vida pública de Jesus, não percebemos outra coisa senão a caridade pura, através do perdão, da cura do corpo e da alma, do alimento, da escuta e da acolhida aos que eram marginalizados e, ao mesmo tempo, a promessa verdadeira da vida eterna.

E agora nos perguntamos: Como está nossa luz de cristãos no mundo? Como vislumbramos, entre nós o sentido, o sabor (o sal) da vida em Cristo? Inicialmente, o Senhor Jesus nos ensina que não podemos ser sal e luz fechados em nós mesmos e para nós mesmos, como lâmpadas escondidas debaixo de nosso individualismo e egoísmo.

Devemos sim ser luz para os outros a partir da presença de Cristo em nós, pela nossa ação de amor e fervor diante das pessoas que nos rodeiam. Deixar que resplandeça o amor, pela nossa fraternidade entre os irmãos e irmãs e pelas nossas ações diante dos que precisam de nós.

Devemos ser sal do mundo deixando que o nosso ser se preencha da alegria do Evangelho, porque os cristãos são chamados a terem presente no rosto sempre a alegria e nas atitudes, mesmo diante das cruzes, a força, o otimismo e os passos firmes e livres do medo de caminhar.

E quando for necessário pregar para as pessoas, que nossas palavras expressem o que somos e o que fazemos para o Senhor. Que o Espírito Santo seja o guia da nossa pregação e da nossa missão, como nos falou São Paulo: “Também a minha palavra e a minha pregação não tinham nada dos discursos persuasivos da sabedoria, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria dos homens.” (1Cor 2,4-5).

Seja a nossa luz que vem de Cristo pelo Batismo o sinal da presença d’Ele. Seja o nosso sal a alegria que vem da Palavra e da Eucaristia para construir a paz de Cristo no mundo a partir de onde estamos e caminhamos. Amém.

 

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⇒ POESIA ⇐

Somo sal e luz do Senhor

 

Se queremos ser sal do mundo,
E a terra temperar,
Deixemos que a alegria,
E o Espírito Santo que nos contagia,
Em nós venha habitar!
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Se queremos ser luz do mundo,
Clareando a escuridão,
Deixemos que o Esplendor,
Da Luz santa do Senhor,
Nos ilumine em imensidão!
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Se queremos em meio às trevas,
Caminhar iluminando,
Acolhamos a força da vida,
Pela Ressurreição acontecida,
E o Evangelho semeando!
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Se queremos dar sabor à vida,
E seu sentido buscar,
Busquemos na Eucaristia,
A força do amor e da alegria,
Em nós a se revelar!
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Sejamos o sal e a luz,
Sentido e iluminação,
Nas obras concretas da caridade,
Pela justiça, paz e verdade,
Caminho de libertação.

 

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“O sermão das bem-aventuranças”, de J. Tissot (1836-1902). In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/13418>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fonte do sal da terra e da luz do mundo, ilumine o seu caminho!