3º Domingo do Tempo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas vítimas de abusos ⇐
⇒ Março: Mês dedicado à São José ⇐
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)
⇒ Campanha da Fraternidade 2023 
» Tema: “Fraternidade e Fome” «
» Lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16) «
» Coleta Nacional da Solidariedade: 2 de abril «

 

Leituras: Ex 17,3-7; Sl 94(95),1-2.6-7.8-9 (R. 8); Rm 5,1-2.5-8; cf. Jo 4,42.15; Jo 4,5-42 (mais longo); Jo 4,5-15.19b-26.39a.40-42 (mais breve)

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Busquemos a fonte viva e eterna

Jo 4,5-42 (mais longo); Jo 4,5-15.19b-26.39a.40-42 (mais breve)

 

Meus irmãos e minhas irmãs, celebramos o 3º Domingo da Quaresma do Ano A e a Igreja nos motiva a contemplarmos o encontro de Jesus com uma samaritana. A Liturgia nos apresenta o texto do Evangelho de João Jo 4,5-42, que narra Jesus junto à fonte de Jacó.

Em plena luz do dia, marcado pelo sol escaldante da Galileia, cansado fisicamente da caminhada de peregrino, Jesus vai ao poço e aí acontece o encontro com a mulher samaritana, sem nome, que, com certeza, sempre ia naquele poço buscar água.

Aquela mulher viverá uma experiência de encontro, nunca esperado, pois aquele “meio- dia” não foi comum como os outros. Algo mudou a sua vida completamente. Ela era de um grupo de pessoas discriminadas pelos judeus e, por isso, nunca esperaria um encontro com um mestre de Israel, um profeta, tão próximo, que lhe ouvisse e até ousasse pedir-lhe água para beber.

Para os discípulos também foi uma surpresa, porque, ao chegarem junto a Jesus, não entendem aquela conversa (cf. Jo 4,27). A aproximação de Jesus e o seu diálogo com aquela mulher nos mostra a ação de um Deus que vem ao encontro do humano para oferecer a sua vida. Ele é a fonte de água viva e infinita, que sacia a sede de todos os que O buscam e O encontram.

E a presença de Jesus junto à samaritana mudou o jeito dela enxergar a sua existência, o seu caminhar, seus conceitos, suas concepções culturais e religiosas, de conceber a presença de Deus na sua vida, de buscar os anseios mais profundos da sua alma, pois, agora Deus se coloca no mesmo nível do ser humano, para poder se comunicar com ela e oferecer-lhe o sentido verdadeiro da vida.

Alimentada e motivada pela experiência de diálogo junto ao Mestre, convencida da chegada do Messias ao mundo, a samaritana tornar-se missionária e vai anunciar à sua cidade as maravilhas deste encontro com Jesus. (cf. Jo 4,28-29).

A ação de Jesus em oferecer a verdadeira água, a fonte da vida, para os samaritanos, nos lembra o povo no deserto, quando falta a água, reclama da sede, e, diante de Moisés, murmura chegando a duvidar de Deus (cf. Ex 17,7). E da rocha firme Deus faz brotar a água para saciar a sede do seu povo (cf. Ex 17,6). Moisés é o intercessor, que o escuta e dirige a Deus a sua súplica a favor do povo para solucionar os diversos problemas que vão surgindo na caminhada pelo deserto.

Também a samaritana foi essa ponte, essa intercessora, essa missionária, entre o seu grupo e Jesus. Foi por causa do seu anúncio sobre o Senhor, que muitos correram ao encontro da fonte (Jesus) e mudaram de vida e buscaram matar a sede de amor e superar os tantos vazios e discriminações sofridas por parte dos judeus, os quais se destacam aqui, os doutores da Lei e os fariseus.

Jesus é a nossa fonte de água viva e eterna, na caminhada do deserto de nossa existência, da nossa vida, quando, muitas vezes, nos sentimos cansados, com sede e com pouca força para continuar nossa peregrinação terrestre. N’Ele encontramos a esperança e a salvação e com Ele anunciamos o Reino de Deus.

Pela água somos inseridos no novo povo de Deus, através do Batismo e por essa água somos purificados do pecado original e nela somos mergulhados, para nascermos de novo, nos tornarmos irmãos, filhos do mesmo Pai divino, missionários do Seu amor, e caminheiros neste mundo em vista da eternidade. O Senhor é a fonte verdadeira que sacia a nossa sede, nos dando forças, nos acolhendo e nos saciando com o Seu amor e Sua misericórdia, quando nos vem o cansaço a e nossa aridez.

Lembremos da Campanha da Fraternidade que, neste ano, nos apresenta o tema “Fraternidade e Fome” e o lema “‘Dai-lhe vos mesmo de comer’ (Mt 14,16)”. A Campanha é mais um elemento de vivência do Tempo da Quaresma, que é parte do grande Ciclo da Páscoa. Por isso, nos encontros semanais, via-sacra, encontros em família, rodas de conversa, nas formações, oração pessoal e nas celebrações somos, todos, convidados a nos envolver com o Credo da nossa fé, no que se refere aos diversos problemas e carências da vida humana, sobretudo onde houver fome de alimento e de fraternidade.

Os cristãos são chamados a deixar resplandecer, em suas atitudes, o rosto amável de Cristo junto aos necessitados, aqueles que precisam não somente de pão material mas também são carentes da água viva que dá sentido e força ao existir de todos que peregrinam neste mundo.

Supliquemos ao Espírito Santo que a Sua luz e o Seu amor se derrame sobre nós, para que sejamos discípulos missionários de Jesus Cristo e que perseveremos no nosso caminhar com Ele e que dos nossos corações possa brotar a oração verdadeira, como reza o salmo 94(95): “Vinde, exultemos de alegria no Senhor, aclamemos o Rochedo que nos salva! Ao seu encontro caminhemos com louvores, e com cantos de alegria o celebremos!” Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Dai-me dessa água viva

 

Senhor,
Dai-nos dessa água viva,
Que nos abastece e nos alivia,
Deixando-nos sempre fortes,
Superando as forças da morte,
E o nosso caminho sacia.
*
Senhor,
Dai-nos dessa água viva,
Que muda a nossa vida,
Fazendo-nos firmes a caminhar,
Sem medo e sem desanimar,
Frente aos desafios da lida.
*
Senhor,
Dai-nos dessa água viva,
Para sairmos na noite ou à luz do dia,
E aos outros a novidade levar,
Sempre, sempre a proclamar,
Tua Palavra, na alegria.
*
Senhor,
Dai-nos dessa água viva,
Que muda o nosso caminho,
Deus de amor a nos surpreender,
Que vem a nos preencher,
E nunca nos deixa sozinhos.
*
Essa água viva, Senhor
Nós queremos sim buscar,
Para nossa santificação,
Vida de sentido e comunhão,
Que sempre queremos encontrar.
*
Essa água viva, Senhor
É Tua Palavra eterna,
Gerando divino alimento,
Dando-nos o santo sustento,
Da caminhada fraterna.

 

*   *   *

 

“Cristo e a samaritana”, de Pietro Benvenuti (1769-1844). In <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Samaritana_di_Pietro_Benvenuti.jpg>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, a fonte da água viva, ilumine o seu caminho! 

 

 

2º Domingo do Tempo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas vítimas de abusos ⇐
⇒ Março: Mês dedicado à São José ⇐
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)
⇒ Campanha da Fraternidade 2023 
» Tema: “Fraternidade e Fome” «
» Lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16) «
» Coleta Nacional da Solidariedade: 2 de abril «

 

Leituras: Gn 12,1-4; Sl 32(33),4-5.18-19.20.22 (R. cf. 22); Tm 1,8b-10; cf. Lc 9,35; Mt 17,1-9

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Da transfiguração à missão

Mt 17,1-9

 

Meus irmãos e minhas irmãs, celebramos hoje o 2º Domingo da Quaresma do Ano A e a Igreja nos motiva a contemplarmos a transfiguração do Senhor Jesus para que possamos ouvi-Lo, pois Ele é o Filho muito amado do Pai. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 17,1-9. Todos os anos, a Liturgia do 2º Domingo quaresmal recebe o tema da transfiguração e a cada ano com o respectivo evangelista. Neste ano, por exemplo, somos iluminados pelo Evangelista Mateus.

Neste mês as intenções do Santo Padre, o Papa Francisco, estão voltadas às vítimas de abusos. E no mês de março, tradicionalmente dedicamos especial devoção ao glorioso São José.

Diante da transfiguração de Jesus, Pedro foi tentado a se acomodar e ficar somente na glória e não se envolver com a missão após a descida do monte (cf. Mt 17,4). Neste sentido, Deus Pai intervém apresentando o Filho e pedindo que o escutem (cf. Mt 17,5). É preciso viver o discipulado orientado pela Palavra do Senhor.

A presença de Moisés e Elias representa a Lei e os profetas, reafirmando que, em Cristo, a Lei é cumprida plenamente porque Ele é o novo Moisés, aquele que conduz o novo povo de Deus. Em Jesus também está a profecia, o anúncio da justiça e da fraternidade, o dom da vida plena, pois a Palavra de Deus agora está encarnada no meio dos homens.

Os discípulos deliciam-se com a experiência mística da transfiguração e querem ficar lá, com tendas armadas para cada um. Isso confirma a vontade humana de ficarmos sempre num ambiente de conforto. O Papa São Leão Magno (395-461) nos fala que a principal finalidade da transfiguração foi afastar dos discípulos o escândalo da cruz, para que a humilhação da Paixão, voluntariamente suportada, não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo(1).

Podemos considerar como digno aspirar o bem-estar com a família, com a vida em comunidade, pois precisamos sempre parar um pouco para nos abastecer no aconchego do lar. Será incomparável se pensarmos na Eucaristia: saborear espiritualmente da maravilhosa e edificante força e encontro com o sacramento que é o Corpo de Nosso Senhor. Sempre precisamos louvar e buscar a alegria que preenche o nosso coração, o nosso ser.

Às vezes somos tentados a querer uma vida sem desafios, sem conflitos, sem dor e sem problemas, mas isso não é possível neste mundo. Somos caminheiros da vida em meio aos obstáculos, sofrimentos que vem ao nosso encontro através das enfermidades físicas e mentais, dos lutos, das lutas, dos desesperos e decepções. E o Senhor (que se transfigura na Palavra, na Eucaristia, nos encontros com os irmãos e irmãs) desce do Monte (Altar) para caminhar conosco pelas estradas da nossa vida.

Precisamos nos levantar e, como o Senhor pediu aos seus discípulos, seguir em frente. Faz-se necessário “descer” do monte da transfiguração, para que, iluminados e fortalecidos pela luz do Senhor, continuemos caminhando, prosseguindo com Ele e anunciar o Reino de Deus com esperança, nossa perseverança e nosso testemunho para que o mundo não nos desfigure com tantos brilhos, barulhos, luzes artificiais, filmes, propagandas e outros recursos que podem nos impedir de guardar tesouros no Céu (cf. Mt 6,20).

Para isso, precisamos sair da nossa zona de acomodação, da nossa segurança material e bem-estar pessoal, como fez Abrão, que deixou sua terra e se abriu a uma nova experiência de vida, uma vida transfigurada, de acordo com o que Deus o chamou e, ao mesmo tempo, o enviou (cf. Gn 12,4).

A Quaresma é esse Tempo de rezarmos, silenciarmos, fazermos penitência e aperfeiçoar cada vez mais na nossa vivência cristã através da oração, da penitência, da caridade e do sacramento da confissão, ou seja, a Quaresma é tempo favorável para praticarmos os exercícios da esmola, da oração e do jejum.

No Brasil, principalmente, temos a Campanha da Fraternidade, que neste ano tem como tema “Fraternidade e Fome” e o lema “ ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mt 14,16)”. Por isso, nos encontros semanais (Via-Sacra, encontros em família, rodas de conversa, nas celebrações, formações, oração pessoal) somos convidados a uma atitude de contemplação sobre as realidades sociais como campos de nosso envolvimento e vivência concreta da nossa fé, no que se refere aos diversos problemas humanos, carências, sobretudo onde houver fome de alimento e de fraternidade.

Assim, a Igreja, através da Liturgia, nos motiva a subirmos à montanha como Pedro, Tiago ou João e contemplarmos o rosto transfigurado do Senhor que, como o sol, ilumina, como o Seu amor, todo o ser humano e nos faz santos como o Pai do Céu é santo.

Deixemos que o Espírito Santo venha nos guiar com Sua luz e nos faça obedientes ao que Deus Pai nos pede: Escutar o Filho. Que em nossas subidas e descidas às montanhas de nossa existência possamos estar acompanhados de Cristo e de sua Palavra. E a nossa oração seja sempre voltada ao seguimento fiel de Cristo que nos chama a realizarmos nossa missão a favor de seu Reino de amor e paz. Amém.

*   *   *
(1) cf. Liturgia das Horas: Ofício das Leituras – Domingo do 2º Domingo da Quaresma.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

É bom ficarmos aqui

 

Senhor, é bom ficarmos aqui,
Na comodidade do Teu amor,
No transfigurar da Tua beleza,
No encontro da Tua mesa,
Num encontro em que não há dor,
Presença divina em Tua fortaleza.
*
Senhor, é bom ficarmos aqui,
Como corpo e membros amados,
Como amigos de caminhada,
Presentes à Mesa sempre preparada,
Para nos fazer saciados,
Para continuar a jornada.
*
Senhor é bom ficarmos aqui…
Mas é preciso continuar,
O caminho do discipulado,
Nos passos do Teu chamado,
Para o Teu Reino anunciar,
Nos sentindo sempre auxiliados.
*
Senhor é bom ficarmos aqui…
Porém, Tu nos chamas a levantar,
E com coragem Te seguir,
Para aos outros se unir,
E o Reino em comunhão anunciar,
Perseverantes, sem desistir.
*
Senhor, queremos seguir em frente,
Sairmos do nosso intimismo
Da montanha do medo descer,
Para contigo aprender.
Deixando a redoma do comodismo,
E fazermos a missão florescer.

 

*   *   *

 

“A transfiguração de Jesus, de C. Bloch (1834-1890) In <https://pt.wikipedia.org/wiki/Transfigura%C3%A7%C3%A3o_de_Jesus>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho! 

 

 

1º Domingo do Tempo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas paróquias ⇐
⇒ Fevereiro: Mês dedicado à Sagrada Família ⇐
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)
⇒ Campanha da Fraternidade 2023 
» Tema: “Fraternidade e Fome” «
» Lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16) «
» Coleta Nacional da Solidariedade: 2 de abril «

 

Leituras: Gn 2,7-9;3,1-7; Sl 50(51),3-4.5-6a.12-13.14.17 (R. cf. 3a); Rm 5,12-19 (mais longa); Rm 5,12.17-19 (mais breve); Mt 4,4b; Mt 4,1-11

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Cristo nos ensina como vencer as tentações

Mt 4,1-11

 

Meus irmãos e minhas irmãs, celebramos hoje o 1º Domingo do Tempo da Quaresma do Ano A . Desde a Quarta-feira de Cinzas já estamos no Ciclo da Páscoa e a primeira parte do Ciclo da Páscoa é o Tempo da Quaresma, que terá seis Domingos, incluindo o de Ramos. O Tempo quaresmal, portanto, iniciou-se na última quarta-feira e se encerrará na Quinta-feira Santa antes da Missa do Lava-pés e da Instituição da Eucaristia.

Também na Quarta-Feira de Cinzas, a Igreja fez a abertura da Campanha da Fraternidade, que traz como tema “Fraternidade e Fome” e como lema “ ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mt 14,6)”.

A Liturgia deste Domingo nos motiva a contemplarmos, através do Evangelista Mateus (cf. 4,1-11), Jesus, após o batismo, sendo conduzido pelo Espírito ao deserto, onde também enfrenta as tentações do diabo. Santo Agostinho nos diz: “O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar-se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação”(1).

Meditando na Liturgia da Palavra deste Domingo, percebemos que o Senhor nos ensina sobre as tentações que Ele viveu antes de se entregar ao seu ministério pela Galileia.

A primeira tentação acontece no deserto após os quarenta dias de jejum, quando sente fome. Diz o tentador: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” (Mt 4,3). O Senhor Jesus nos ensina a vencermos a tentação do ter, à qual nos leva a pensarmos que tudo se refere ao dado material e aos nossos próprios desejos e interesses.

Por vezes, somos tentados a resolvermos as situações do mundo a partir de nossa autossuficiência. Esquecemos que não é somente dos bens materiais de consumo, do acúmulo e de nossos interesses individuais que vivemos, mas da Palavra de Deus que nos orienta por um caminho de fraternidade e de partilha, vivida no amor ao nosso Deus e aos nossos irmãos (cf. Mt 4,4).

A segunda tentação ocorre no templo. Diz o tentador: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui para baixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’.” (Mt 4,6). Jesus é tentado a se apresentar glorioso e inclinar-se ao triunfalismo. A nossa vivência religiosa na Igreja não deve ser motivada por prestígio e por fama. Somos, às vezes, tentados a vivenciar uma religião de refúgio, segurança individualista, fama e também de status social. Faz-se necessário vivermos um cristianismo em virtude da justiça e do bem a favor dos outros. O Senhor nos ensina: “Não tentarás o Senhor teu Deus!” (Mt 4,7). Não podemos provocar Deus a fazer a nossa vontade em favor dos nossos interesses pessoais e do nosso prestígio, para sermos vistos pelo mundo em nossa ostentação.

Na terceira tentação, Jesus é levado a uma alta montanha onde visualiza todos os reinos poderosos do mundo. Diz o tentador: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar.” (Mt 4,9). O Senhor respondeu: “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor teu Deus e somente a ele prestarás culto’.” (Mt 4,10)

A verdade é que o pai da mentira mentiu, pois ele não pode oferecer tudo aquilo que mostrou. O que ele pode oferecer são verdadeiras estruturas que tem como fonte e meta a morte, a opressão, a maldade, a discriminação, a mentira, a falsidade e a corrupção. O verdadeiro poder político não está ao alcance do Malígno. O verdadeiro poder político é denominado por Deus como “vara do Meu poder”, isso segundo uma carta de São João Bosco (1815-1888) ao imperador da Áustria, Francisco José I (1830-1916), no ano de 1873(2). Também o tema da autoridade política pode ser visitado tanto no Catecismo da Igreja Católica (núm. 1897-1904) quanto no Compêndio da Doutrina Social da Igreja (núm. 393-405). Também o Papa Francisco repercute, ainda, a manifestação do Papa Pio XI de que a política é “a mais alta forma de caridade”.

O Senhor Jesus nos ensina que não podemos nos dobrar às motivações diabólicas do poder que mata, que divide as pessoas, que as exclui e que promovem as guerras. A tentação do lucro e do domínio por parte de poucos sobre muitos, crucifica os pobres e vulneráveis com práticas criminosas.

Precisamos entender que o poder do Senhor está no amor, na compaixão, no cuidado com os pobres, na Sua Palavra que chama o ser humano à mudança de vida e o envia a semear o Evangelho. Também na entrega à cruz, para a libertação e salvação do mundo. Porque é o amor, a escuta, a adoração, o culto ao Deus verdadeiro, que dignifica de verdade a vida das pessoas e traz a verdadeira paz que o Senhor saudou os discípulos, logo na tarde da Ressurreição, onde eles se encontravam trancados com medo dos judeus, proporcionando-lhes a Paz interior a todos os que estavam amedrontados (cf. Jo 20,19-23). Essa é a “Paz de Cristo”.

A razão de nossa vida é Cristo, o novo Adão, Aquele que no deserto, lugar onde a nação de Israel foi tentada, venceu o diabo e nos ensinou também a vencê-lo. Deu-nos a vida verdadeira e nos renovou em Seu amor. Quis ser alimento para nós, o Seu povo novo, com Seu Corpo e Sua Palavra, dando-nos força e luz em nosso peregrinar terrestre.

Peçamos perdão pelas vezes que nos deixamos vencer pelas tentações, pelas quais passaram o próprio Filho de Deus e que ainda hoje invadem a nossa vida material e espiritual. Que a luz do Espírito nos ilumine e nos encha de força para vencermos as tantas tentações que encontramos a cada dia. Que com a nossa esmola, a nossa oração e o nosso jejum sejamos cada vez mais parecidos com Cristo, tanto nas palavras quanto nas atitudes. Amém.

*   *   *
(1) cf. Dos comentários sobre os salmos, de Santo Agostinho, bispo. Liturgia das Horas, 1º Domingo da Quaresma.
(2) cf. Profecias de São João Bosco. 2 ed. São Paulo: Artpress, 2011. p. 86-87. Série “Cultura Religiosa”, núm. 15.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Vencer as tentações com Cristo

 

Contigo, Senhor,
Sou vencedor,
Contra o tentador,
Que me faz escravo
De muitas falsidades,
Atrocidades,
Contrárias ao amor.
*
Em Ti, Senhor,
Sou firme e forte,
Venço também a morte,
Que me traz as trevas,
Deixando-me perdido,
Como se fosse vencido,
Longe da Tua sorte.
*
Por Ti, Senhor,
Vou me entregando,
Sempre caminhando,
Rumo à vitória,
Meta dos Teus seguidores,
Dos evangelizadores,
E o Reino anunciando.
*
Para Ti, Senhor,
Toda gratidão,
Não é em vão,
Vamos sempre vencendo,
Vencemos o pecado,
O mal derrotado,
Em ti, novo Adão.
*
Contigo, Senhor,
Na fraternidade,
Seguindo sendo caridade,
Pelo mundo afora,
Vencendo na oração,
Sendo comunhão,
Via de santidade.

 

*   *   *

 

Obras: “Jesus tentado no deserto”, “Jesus levado ao pináculo do Templo” e “Jesus transportado por um espírito para uma alta montanha”, J. Tissot (1836-1902) In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/4453>, <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/4454> e <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/4452>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Novo Adão que nos trouxe o dom gratuito e superabundante da justiça e da misericórdia, ilumine o seu caminho! 

 

 

Quarta-feira de Cinzas (2023)

 

⇒ Dia de jejem e abstinência ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas paróquias ⇐
⇒ Fevereiro: Mês dedicado à Sagrada Família ⇐
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)
⇒ Campanha da Fraternidade 2023 
» Tema: “Fraternidade e Fome” «
» Lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16) «
» Coleta Nacional da Solidariedade: 2 de abril «

 

Leituras: Jl 2,12-18; Sl 50(51),3-4.5-6a.12-13.14 e 17 (R. cf. 3a); 2Cor 5,20-6,2; cf. Sl 94(95),8ab; Mt 6,1-6.16-18

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Cinzas, esmola, oração e jejum

Mt 6,1-6.16-18

 

Meus irmãos e minhas irmãs, celebramos hoje a Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia do Ciclo da Páscoa que tem como primeiro momento, primeira parte o Tempo da Quaresma, que terá seis Domingos, incluindo o de Ramos. O Tempo quaresmal, portanto, inicia-se nesta Quarta-feira de Cinzas e se encerra na Quinta-feira Santa antes da Missa Vespertina do Lava-pés e da Instituição da Eucaristia.

A Quaresma é um retiro universal da Igreja, é um Tempo de preparação para a festa mais importante do tempo litúrgico: a Páscoa do Senhor, o centro da experiência litúrgica. O período quaresmal nos proporciona, ainda, uma espiritualidade de penitência e conversão, com a qual recebemos diversas chaves para o retorno a Deus.

Neste ano, a Quaresma no Brasil é marcada por duas realizações evangelizadoras: a primeira é a própria Campanha da Fraternidade, que tem como tema “Fraternidade e Fome” e o lema “ ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’ (Mt 14,6)” e a segunda realização evangelizadora é o 3º Ano Vocacional, cujo tema é “Vocação: graça e missão” e o lema: “Corações ardentes – pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33).

A Liturgia da Quarta-feira de Cinzas, dia de jejum e abstinência, nos mantém ainda no contexto bíblico do Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1-7,29), hoje nos colocando diante dos exercícios de piedade da esmola, da oração e do jejum, numa releitura da Antiga Aliança. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 6,1-6.16-18.

A fé, a esperança e a caridade são virtudes que nos sustentarão neste Tempo de purificação aos pés do Senhor, pois com Ele caminharemos passando pelo calvário, pela cruz e acordaremos na manhã da Ressurreição com um coração renovado para cantar o Aleluia pela vitória do Ressuscitado.

Nesta Liturgia, o Senhor Jesus nos orienta quanto ao comportamento relativo às aparências e também que as práticas da esmola, da oração e do jejum devem ser realizadas com um coração simples e voltados para Deus.

A esmola, realizada em segredo, deve ter como recurso o resultado da nossa abstinência e destinada aos necessitados da Providência de Deus, portanto a vivência da caridade. Já a oração deve produzir uma escuta do Deus que fala em nossa vida e uma vida de mansidão nas relações humanas. Por fim, o jejum deve ser resultado de abstinências que mortifique nossas posses que nos socorrem diante das dificuldades humanas, nosso poder que nos faz ser atendidos pelos outros e também da nossa atitude que muitas vezes querermos que Deus atenda nossas vontades.

O importante é que tais práticas tenham como fruto a nossa permanente conversão, reavaliando nossa vida de batizados que querem seguir o Senhor na vida de caridade (a esmola), na prática da fé (a oração) e de esperança no Reino (jejum). Esta experiência deve nos ajudar a sermos melhores pais de família, filhos, consagrados e ordenados; melhores evangelizadores a serviço do Reino de Deus com sal da terra e luz do mundo.

Lembremos do que diz o profeta Joel, na Primeira Leitura desta Liturgia: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus” (Jl 2,13). Faz-se necessário transformar o nosso coração para mudar de vida. Já São Paulo nos exorta a vivermos a reconciliação com Deus, pois somos embaixadores de Cristo. Somente nesta sintonia com o Senhor é que podemos oferecer um testemunho.

As cinzas, que serão colocadas em nossa cabeça, é um elemento que marca a caminhada quaresmal e a nossa atitude deve ser de simplicidade e de reconhecimento de que o nosso corpo é perecível e que necessita da vida infinita em Cristo Senhor, como nos fala o livro do Gênesis: “porque és pó e ao pó hás de voltar” (3,19).

Finamente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, que enfrentou seus desertos com confiança suportada pela fé e esperança, interceda por nós e que possamos ser guiados pelo o Espírito Santo, unção de todos os santos, por este retiro quaresmal preparado pela Igreja, Corpo Místico de Cristo. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Caminhos que levam a Deus

 

Quero seguir em frente,
Sendo mais crente,
Tendo caridade,
Na simplicidade,
Sem esquecer o mundo,
Nem por um segundo,
Neste ofertar,
Neste escutar,
A quem tem necessidade.
*
Quero seguir orando,
Sempre escutando,
Ao Deus amor,
Ao irmão na dor,
Que me faz pensar,
E que me leva a orar,
E o coração,
Nesta conversão,
Para o Senhor.
*
Quero seguir jejuando,
E me transformando,
Em um humano santo,
Sem medo ou espanto,
Sensível ao irmão,
Sendo compaixão,
Coração rasgado,
Mas purificado,
Em Deus o encanto.
*
Quero prosseguir,
Sem desistir,
Nunca isolado,
Mas sintonizado,
Com todos os irmãos,
Alheios e cristãos,
Aos que não escutaram,
Mas que desejaram,
Santa conversão.
*
Quero, com o Senhor,
Viver Seu amor,
E sempre encontrar,
Para se alimentar,
Na mesa da alegria,
Encontrar a harmonia,
No alimento eterno,
Que nos faz fraternos,
A Eucaristia.

 

*   *   *

 

“O sermão das bem-aventuranças”, de J. Tissot (1836-1902). In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/13418>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, fonte e meta da nossa conversão, ilumine o seu caminho! 

 

 

7º Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas paróquias ⇐
⇒ Fevereiro: Mês dedicado à Sagrada Família ⇐
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)

 

Leituras: Lv 19,1-2.17-18; Sl 102(103),1-2.3-4.8.10.12-13 (R. 1a.8b); 1Cor 3,16-23; 1Jo 2,5; Mt 5,38-48

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A outra face: uma nova atitude

Mt 5,38-48

 

Meus irmãos e minhas irmãs, celebramos o hoje 7º Domingo do Tempo Comum, Ano A, o último Domingo antes de entrarmos no Ciclo da Páscoa através do Tempo da Quaresma. Neste mês as intenções do Santo Padre, o Papa Francisco, estão voltadas às paróquias. Rezemos também, tradicionalmente em fevereiro, pela Sagrada Família. Tenhamos ainda em nossas orações o 3º Ano Vocacional, cujo tema é “Vocação: graça e missão” e o lema: “Corações ardentes – pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33).

A Liturgia deste 7º Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplarmos Cristo como fonte da Lei mais perfeita. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 5,38-48, sequência do Domingo passado e ainda no contexto do Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1-7,29).

Ainda do alto da montanha, o Senhor continua o seu sermão nos ensinando: “Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem…” (Mt 5,39.43). Essa é uma importante lição de casa que o Senhor Jesus nos dá neste 7º Domingo do Tempo Comum.

O Senhor nos ensina que não é pela vingança, ou seja, revidando o mal que iremos construir o Reino de Deus. Pelo o contrário, é oferecendo a outra face que podemos favorecer a paz no mundo; é amando os inimigos e rezando por eles que podemos criar a fraternidade. Neste sentido, amar o inimigo está além das atitudes afetivas e alcança a maneira de olhar para o outro sem o sentimento ou desejo de vingança e de violência.

É oferecendo novas atitudes, ou seja, o outro lado da face, e também oferecendo posturas pacíficas diante das provocações, que iremos expressar os mesmos sentimentos de Jesus. É rezando pelo outro e querendo o seu bem, mesmo que não seja possível abraçá-lo e oferecer um sorriso; mesmo que suas diferenças e opções pessoais impeçam a nossa aproximação.

Podemos até pensar: ser seguidor de Cristo exige muito de nós! É uma experiência muito desafiante para quem vive num mundo de tantas competições e contradições. Lembremos que, em alguns momentos, pessoas que acompanhavam o Mestre também se questionaram e deixaram de segui-Lo porque acharam suas palavras muito duras. E, aos Doze, Ele perguntou: Quereis vós também retirar-vos? (cf. Jo 6,66-67). E na boca de Pedro temos a resposta: “Senhor, a quem iríamos nós? Só Tu tens palavras de vida eterna.” (Jo 6,68).

As atitudes que o Senhor nos pede na nossa convivência com os outros são próprias dos que buscam a santidade. O livro do Levítico nos traz o mandato que Deus encarregou a Moisés de falar ao povo de Israel. Diz o mandato: “Sede santos, porque eu, o Senhor vosso Deus, sou santo” (Lv 19,2).

A história dos santos nos mostra que não eram vingativos, não guardavam rancor e, por isso, amavam o próximo como a si mesmo. Mesmo sendo cada um santo com seu próprio temperamento e personalidade, eram caridosos, compassivos e fraternos.

Ser santo também é aceitar e compreender que cada um pode ser habitação do Espírito Santo, como nos fala São Paulo na sua Primeira Carta aos Coríntios: “Acaso não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus mora em vós?” (1Cor 3,16).

Deixar-se ser habitado por Deus é exatamente viver o que nos pede o Senhor Jesus na Liturgia deste 7º Domingo. Quando deixamo-nos habitar pelo Espírito Santo, reconhecemos que o outro é nosso irmão, filho do mesmo Pai que “faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos” (Mt 5,45).

Com este Evangelho também aprendemos que ser santo não se expressa apenas numa prática religiosa externa, mas em atitudes que vão além do que as pessoas que não são religiosas fazem. Que sentido teria, por exemplo, para um cristão amar somente as pessoas que os amam? Retribuir gratidão somente àqueles que os prestam algum favor? Qualquer pessoa mesmo sem religião faz o mesmo. Eis a nossa missão e desafio neste mundo: deixar que o Espírito do Evangelho possa transformar o nosso agir em atitudes a favor da paz e da fraternidade cristã.

Precisamos aprender com os santos, com os que lidam diretamente com os pobres nas periferias das cidades, no contato com os refugiados (as vítimas das guerras) e nos cortiços diversos de nosso país, com os que visitam os presídios. Devemos também aprender a valorizar tudo aquilo que os nossos irmãos e irmãs fazem nas tantas instâncias além dos nossos templos.

Peçamos ao Espírito Santo, o qual quer habitar em nós, para que nos faça cada vez mais santuários vivos da caridade, da fraternidade e da paz no mundo, um mundo onde atitudes novas de amor sejam sempre praticadas a serviço do Reino. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Sede santos e santuários de Deus

 

O Senhor nos ensina:
Sede santos, como Eu,
No combate à opressão,
Na promoção da paz,
Num coração que se refaz
No amor ao seu irmão.
*
O Senhor nos ensina:
Que nós somos iguais,
Diante do Pai bondoso,
Que este mundo nos deu
Chuva e sol nos ofereceu,
Com todos muito amoroso.
*
O Senhor nos ensina:
Fazei algo a mais,
Além do trivial,
Atitudes de santidade,
Em Cristo, a liberdade,
Numa entrega especial.
*
O Senhor nos ensina:
Somos Seu templo santo,
De culto vivo e verdadeiro,
Habitação que germina,
Fortalece e ensina,
A vida do caminheiro.
*
O Senhor nos oferece,
A alegria do Banquete,
Vem todos alimentar,
Nossa fome alivia,
Dá-nos paz e alegria,
Para a vida germinar.

 

*   *   *

 

“O sermão das bem-aventuranças”, de J. Tissot (1836-1902). In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/13418>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fonte da Lei mais que perfeita, ilumine o seu caminho! 

 

 

6º Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas paróquias ⇐
⇒ Fevereiro: Mês dedicado à Sagrada Família ⇐
⇒ Ciclo das Rosas: Dia da grande riqueza de Santa Teresinha do Menino Jesus – em dia 12 de fevereiro de 1889 ⇐
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)

 

Leituras: Eclo 15,16-21 (gr. 15-20); Sl 118(119),1-2.4-5.17-18.33-34 (R. 1); 1Cor 2,6-10; cf. Mt 11,25; Mt 5,17-37 (mais longo); Mt 5,20-22a.27-28.33-34a.37 (mais breve)

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Lei verdadeira, além da letra

Mt 5,17-37 (mais longo); Mt 5,20-22a.27-28.33-34a.37 (mais breve)

 

Meus irmãos e minhas irmãs, a Liturgia do 6º Domingo do Tempo Comum, Ano A , nos motiva a contemplarmos Cristo como fonte da Lei perfeita. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 5,17-37 (o texto mais longo) ou em Mt 5,20-22a.27-28.33-34a.37 (o texto mais breve), sendo que é uma sequência do Domingo passado e ainda no contexto do Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1-7,29).

Após falar para os discípulos que eles são sal da terra e luz do mundo, o Senhor Jesus apresenta as exigentes orientações sobre o cumprimento da Lei, a qual deve ser vivida além a letra.

Havia uma grande divergência entre os grupos da época no que se refere a relação entre a Lei de Moisés e os profetas. No entanto, o Senhor Jesus ensina a plenitude da Lei segundo a vontade do Pai. E o seguimento a Jesus faz com que as pessoas superem toda a formalidade da Lei, que, em sua interpretação fundamentalista, representava um fardo para os pobres, os quais não tinham condições de observar tantas normas, o que representava um privilégio para os mestres da Lei, guardiões de um código como mais de seiscentas normas.

Os discípulos precisarão aprofundar o novo mandamento de Jesus como meta para vivenciar a exigente experiência de caminhada com o Senhor. A justiça dos discípulos tem que ser maior do que a dos mestres da Lei. Caso contrário, não entrarão no reino dos Céus (cf. Mt 5,20).

A justiça dos fariseus e dos mestres da Lei fundamentava-se, sobretudo, na justiça dos homens e na letra da Lei. Faz-se necessário uma complementação. Por isso, o Senhor Jesus não veio abolir Lei, mas aperfeiçoa-la. O ensinamento do Mestre é sobre a plenitude da Lei, preceito que liberta o ser humano através do amor e da misericórdia divina, porque, como reza o salmista nesta Liturgia, é “feliz o homem sem pecado em seu caminho, que na lei do Senhor Deus vai progredindo” (Sl 118/119).

O Senhor Jesus cita alguns dos mandamentos da Lei de Moisés para explicar e motivar os discípulos e, também o povo, a avançarem na compreensão destes preceitos. A Lei é necessária, mas precisa ser vivida além do formalismo e da obrigatoriedade.

Portanto, não basta “não matar”, é preciso evitar as maldades que levam à morte. Faz-se necessário que as pessoas vivam como irmãos, numa fraternidade solidária, no perdão e na justiça. Não só evitando o ódio e a discórdia entre si, mas buscando a concórdia.

O Senhor Jesus também cita o 9º mandamento, o de não desejar a mulher do próximo (cf. Mt 5,27). O adultério, naquele contexto, era resultado do desejo de posse sobre a mulher, fruto de uma sociedade em que o poder era ocupado apenas pelos homens. Portanto, uma sociedade machista.

Ao cristão de hoje, é necessário entender que o perdão, o respeito, a fidelidade e a igualdade de dignidade entre homem e mulher é uma atitude de amor que se cumpre a Lei do Senhor.

Quanto ao jurar falso (8º mandamento), o Mestre pede que se alargue a vivência deste mandamento, fundamentado na verdade, na integridade, na honestidade e na ética, porque a falsidade não é somente quanto a Lei, mas na ausência da dimensão total da pessoa que vive em sintonia com a Palavra do Senhor.

Portanto, irmãos e irmãs, os que querem viver de acordo com a Lei perfeita, devem abraçar a sabedoria de Deus, devem escolher a vida e o bem como nos fala o livro do Eclesiástico [15,19(18)]: “a sabedoria do Senhor é imensa, ele é forte e poderoso e tudo vê continuamente”. E ainda nos diz São Paulo, na sua Primeira Carta aos Coríntios: “o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu” (1Cor 2,9).

Que o Senhor nos abençoe e o seu Espírito nos ensine a vivermos a Lei que supera todas as regras e os códigos humanos, a Lei mais completa e mais perfeita: a Lei do amor, que tudo supera e que tudo suporta (cf. 1Cor 13,4-10). Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

A Lei perfeita

 

SA Tua Lei, Senhor,
É lei perfeita,
Vem do alto para nos santificar,
É uma luz que não se apaga,
O amor perfeito a nos orientar
Sinal divino a nos iluminar.
*
A Tua Palavra, Senhor,
É verdadeira,
Não há contradição e nem falsidade,
É pura, plena e abrangente,
Conselho perfeito para a santidade,
Ensinamento de lealdade.
*
Tua Palavra, Senhor,
É liberdade,
Não se impõe e nem quer oprimir,
Está além da letra e do moralismo,
Quer nos ensinar e nos redimir,
Orientando o caminho a prosseguir.
*
Tua Palavra, Senhor,
E só bondade,
Orienta a vida com nossos irmãos,
São preceitos santos e preciosos,
Fazendo-nos discípulos em missão,
Pelo “sim” de verdade à salvação.
*
Tua Palavra, Senhor,
É a Lei maior,
Maior que nossas tantas ambições,
Além de nossos desejos e interesses,
Porquê não nos causa decepções,
E ainda habita nossos corações.
*
Tua Palavra, Senhor,
É Encarnação,
Vida concreta em cada dia,
Que nos educa para a irmandade,
É Banquete santo de alegria,
É encontro de paz, é Eucaristia.

 

*   *   *

 

“O sermão das bem-aventuranças”, de J. Tissot (1836-1902). In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/13418>. Imagem da rosa: In <gratispng.com/png-uj22en>

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fonte da Lei perfeita, ilumine o seu caminho! 

 

 

5º Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas paróquias ⇐
⇒ Fevereiro: Mês dedicado à Sagrada Família ⇐
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)

 

Leituras: Is 58,7-10; Sl 111(112),4-5.6-7.8a.9 (R. 4a.3b); 1Cor 2,1-5; Jo 8,12; Mt 5,13-16

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Cristão sem esconder-se

Mt 5,13-16

 

Meus irmãos e minhas irmãs, a Liturgia do 5º Domingo do Tempo Comum, Ano A , nos motiva a contemplarmos Cristo como fonte do sal da terra e da luz do mundo. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 5,13-16, ainda no contexto do Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1-7,29).

Disse o Senhor Jesus “assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,16). Eis o que nos pede o Senhor neste 5º Domingo do Tempo Comum. Somos chamados a ser sal da terra e luz do mundo, não isolados, não em nós ou para nós mesmos.

Como discípulos de Cristo, banhados por Ele para sermos novas criaturas, somos convocados a ser sal da terra e luz do mundo, fortificados pela Eucaristia e iluminados pela Palavra, que nos sustentam e, ao mesmo tempo – a Eucaristia e a Palavra, nos dão um sentido completo e verdadeiro à nossa existência neste mundo.

O sal é símbolo de purificação, de sabor, de conservação e dá gosto aos alimentos. Nos tempos mais antigos, o sal foi visto como símbolo da sabedoria. Está mais para o nosso “ser”. Não o vemos entre a comida, mas sentimos a sua presença ou a sua ausência quando nos alimentamos.

Os cristãos são chamados a darem sentido ao ambiente da comunidade pela sua presença sábia, humilde, desprendida e de encontro. Às vezes uma presença tão simples e discreta de uma pessoa na comunidade, dá um imenso gosto ao ambiente quando estamos em reunião. E assim o cristão, como o sal deve conservar a força do Evangelho, procurando amenizar as podridões das diversas mortes terrenas, estimulando o sentido de ser discípulo, a sabedoria nas palavras e a ação com a força do amor.

A luz como símbolo do nosso Batismo e do próprio Cristo está mais para o nosso testemunho, por isso atinge os nossos olhos. Porém, o importante é que deixemos que ela possa iluminar o nosso caminho, porque a luz vem de Deus e, para iluminarmos mundo, precisamos primeiro deixar que ela nos preencha e nos irradie com sua claridade.

Os discípulos de Cristo no mundo representam esta presença iluminadora pelo testemunho de vida, que seguem o caminho da salvação. Deixam-se iluminar pelo Senhor e, ao mesmo tempo, iluminam o mundo com sua presença em meio a tantas trevas que escurecem as realidades humanas.

O profeta Isaías nos apresenta o que devemos fazer concretamente para deixar resplandecer a luz do Senhor. E diz: “Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá” (Is 58,7-8).

Ser luz, segundo o profeta Isaías, é viver a caridade onde as carências dos irmãos devem ser vistas, ouvidas e atendidas. Olhando para a vida pública de Jesus, não percebemos outra coisa senão a caridade pura, através do perdão, da cura do corpo e da alma, do alimento, da escuta e da acolhida aos que eram marginalizados e, ao mesmo tempo, a promessa verdadeira da vida eterna.

E agora nos perguntamos: Como está nossa luz de cristãos no mundo? Como vislumbramos, entre nós o sentido, o sabor (o sal) da vida em Cristo? Inicialmente, o Senhor Jesus nos ensina que não podemos ser sal e luz fechados em nós mesmos e para nós mesmos, como lâmpadas escondidas debaixo de nosso individualismo e egoísmo.

Devemos sim ser luz para os outros a partir da presença de Cristo em nós, pela nossa ação de amor e fervor diante das pessoas que nos rodeiam. Deixar que resplandeça o amor, pela nossa fraternidade entre os irmãos e irmãs e pelas nossas ações diante dos que precisam de nós.

Devemos ser sal do mundo deixando que o nosso ser se preencha da alegria do Evangelho, porque os cristãos são chamados a terem presente no rosto sempre a alegria e nas atitudes, mesmo diante das cruzes, a força, o otimismo e os passos firmes e livres do medo de caminhar.

E quando for necessário pregar para as pessoas, que nossas palavras expressem o que somos e o que fazemos para o Senhor. Que o Espírito Santo seja o guia da nossa pregação e da nossa missão, como nos falou São Paulo: “Também a minha palavra e a minha pregação não tinham nada dos discursos persuasivos da sabedoria, mas eram uma demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé se baseasse no poder de Deus e não na sabedoria dos homens.” (1Cor 2,4-5).

Seja a nossa luz que vem de Cristo pelo Batismo o sinal da presença d’Ele. Seja o nosso sal a alegria que vem da Palavra e da Eucaristia para construir a paz de Cristo no mundo a partir de onde estamos e caminhamos. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Somo sal e luz do Senhor

 

Se queremos ser sal do mundo,
E a terra temperar,
Deixemos que a alegria,
E o Espírito Santo que nos contagia,
Em nós venha habitar!
*
Se queremos ser luz do mundo,
Clareando a escuridão,
Deixemos que o Esplendor,
Da Luz santa do Senhor,
Nos ilumine em imensidão!
*
Se queremos em meio às trevas,
Caminhar iluminando,
Acolhamos a força da vida,
Pela Ressurreição acontecida,
E o Evangelho semeando!
*
Se queremos dar sabor à vida,
E seu sentido buscar,
Busquemos na Eucaristia,
A força do amor e da alegria,
Em nós a se revelar!
*
Sejamos o sal e a luz,
Sentido e iluminação,
Nas obras concretas da caridade,
Pela justiça, paz e verdade,
Caminho de libertação.

 

*   *   *

 

“O sermão das bem-aventuranças”, de J. Tissot (1836-1902). In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/13418>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, a fonte do sal da terra e da luz do mundo, ilumine o seu caminho! 

 

 

4º Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos educadores ⇐
⇒ Janeiro: Mês dedicado ao Santíssimo Nome de Jesus
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33)

 

Leituras: Sf 2,3;3,12-13; Sl 145(146),7.8-9a.9bc-10 (R. Mt 5,3); 1Cor 1,26-31; Mt 5,12a; Mt 5,1-12a

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Felizes os que vivem em Cristo

Mt 5,1-12

 

Meus irmãos e minhas irmãs, a Liturgia do 4º Domingo do Tempo Comum, Ano A , nos motiva a contemplarmos a beleza e o sentido das bem-aventuranças. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 5,1-12.

As bem-aventuranças situam-se no Sermão da Montanha, sendo destinadas aos discípulos e à multidão. Precisamos refletir sobre o sentido mais profundo das bem-aventuranças e podemos nos perguntar: será que a nossa prática cristã, no dia-a-dia de nossa caminhada, consegue expressar, pelas nossas atitudes, as bem-aventuranças?

Precisamos olhar para o Senhor Jesus com o objetivo de perceber como Ele viveu as bem-aventuranças na Galileia. A Sua pregação refletia a própria vida junto aos pobres, aos injustiçados, aos doentes e aos discriminados. E em frente às multidões e aos discípulos, o Senhor apresenta o que, na verdade, poderia trazer felicidade àqueles que quisessem trilhar os caminhos do Reino de Deus e ganhar a salvação eterna.

E a lógica das bem-aventuranças nos ensina e nos prova que a verdadeira felicidade está no coração do homem que vive a prática do amor e da paz. Um amor traduzido numa vida totalmente livre das amarras da alienação e do medo, numa atitude serena no modo de anunciar a justiça e de lutar pela dignidade humana, mesmo nos momentos de tribulações, perseguições, sofrimentos e calúnias.

A Primeira Leitura desta Liturgia é a profecia, em Sofonias, sobre os remanescentes de Israel, também chamados de “os pobres de Israel”. Sofonias, profeta em Jerusalém na época do rei Josias (639-609), é portador de esperança num contexto de violência e opressão, pois após o reinado de Josias, Judá passa a vivenciar todo tipo de insegurança institucional e em seguida o exílio babilônico.

A profecia de Sofonias diz: “deixarei entre vós um punhado de homens humildes e pobres. E no nome do Senhor porá sua esperança (…) Eles não cometerão iniquidades nem falarão mentiras; não se encontrará em sua boca uma língua enganadora; serão apascentados e repousarão, e ninguém os molestará.” (Sf 3,12-13).

Portanto, irmãos e irmãs, a profecia era esperança para os que enfrentavam o exílio e também, séculos depois, para os discípulos e para a multidão presente no Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1). Assim, as bem-aventuranças precisam encontrar um coração humilde e justo para que haja a vivência da mansidão, da pobreza em espírito, a misericórdia e a paz.

Já na Segunda Leitura desta Liturgia, o apóstolo São Paulo, escrevendo aos coríntios, também nos fala que “Deus escolheu o que o mundo considera como estúpido, para assim confundir os sábios; Deus escolheu o que o mundo considera como fraco, para assim confundir o que é forte” (1Cor 1,27). A lógica de Deus estará na contramão do nosso mundo material, consumista, dominador, explorador, prepotente e injusto.

Os cristãos serão parecidos com Cristo quando viverem como Ele viveu, do mesmo modo que Ele mesmo percorreu o caminho das bem-aventuranças. Ele foi manso com os prepotentes, humilde com os arrogantes, justo frente aos injustos, pobre em meio aos pobres e também aos ricos. Calou na hora certa, mas também anunciou e denunciou nos momentos necessários. A Sua pregação não foi para um grupo específico, foi para todos e quem acolheu a Sua mensagem entendeu o sentido da verdadeira felicidade.

Nós todos seremos bem-aventurados, isto é, felizes, quando entendermos a lógica da pregação evangélica e a praticarmos em nossa vida diária. Seremos felizes de verdade quando nossas atitudes forem coerentes com o Evangelho. A pobreza de coração, a mansidão, a justiça, a paz e a misericórdia só terão sentido, e mesmo serão percebidas e seguidas, quando estiverem presentes em nossas ações, ou seja, em nosso testemunho.

Talvez o maior desafio dos cristãos para vivenciarem as bem-aventuranças seja a dificuldade de entender que, na prática, exige-se doação de si, desapego às ideias materialistas e egoístas e, sobretudo, aceitar o sofrimento e a perseguição, ou seja, a cruz de Cristo como modelo.

O Senhor Jesus nos dirá pelo evangelista Mateus: “Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem, e mentindo, disserem todo tipo de mal contra vós, por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos Céus” (Mt 5,11-12a). Busquemos viver uma experiência profunda de Deus e assim entenderemos a profundidade das bem-aventuranças. A nossa recompensa e felicidade perfeita, portanto, será a posse da Terra Celeste, o Céu, isto é, a nossa salvação. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

A felicidade em Cristo

 

A felicidade está
No coração desapegado,
Que não vive a escravidão
Da sedução do pecado,
Em quem vive a certeza,
No Deus amor encarnado.
*
A felicidade está
Na pessoa em liberdade,
Que caminha com firmeza,
Com os outros em irmandade,
Em quem busca a justiça,
A paz e a fraternidade.
*
A felicidade está
Nos que vivem a doação,
Guiados pelo Santo Espírito,
Vivendo a compaixão,
Ao lado daqueles que choram,
Fazendo a consolação.
*
A felicidade está
Nos que vivem a pregar
Servindo com o dom do amor,
Sem o outro explorar,
Vivendo a entrega completa,
E o testemunho a falar.
*
A felicidade está
Na mesa santa do amor,
Na pobreza de Espírito,
Vivida por Nosso Senhor,
No discípulo em missão,
Com entusiasmo e ardor.
*
A felicidade estará
Na Terra Santa e Prometida,
Morada da eternidade,
Por Deus estabelecida
No caminho mais perfeito,
Para verdadeira vida.

 

*   *   *

 

“O sermão das bem-aventuranças”, de J. Tissot (1836-1902). In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/13418>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos apresenta a beleza e o sentido das bem-aventuranças, ilumine o seu caminho! 

 

 

3º Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos educadores ⇐
⇒ Janeiro: Mês dedicado ao Santíssimo Nome de Jesus
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33) «
⇒ Domingo da Palavra de Deus 

 

Leituras: Is 8,23b-9,3; Sl 26(27),1.4.13-14 (R. 1a.1c); 1Cor 1,10-13.17; cf. Mt 4,23; Mt 4,12-23 (mais longo); Mt 4,12-17 (mais breve)

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Ele está no Meio de Nós

Mt 4,12-23 (mais longo); Mt 4,12-17 (mais breve)

 

Meus irmãos e minhas irmãs, a Liturgia do 3º Domingo do Tempo Comum, Ano A , nos motiva a contemplarmos, pelo evangelista Mateus, os primeiros passos do Filho de Deus em direção aos Seus discípulos e, consequentemente, no meio de nós. E o Evangelho desta Liturgia está em Mt 4,12-23 (na versão mais longa) ou em Mt 4,12-17 (na versão mais breve).

A nossa caminhada com o Senhor está bem no início e podemos contemplar a Sua luz brilhando no mundo, pois o Senhor Jesus é a presença concreta do Reino de Deus entre nós. Isto pela sua mensagem, pelos seus milagres e pela sua ação salvadora, através da Sua compaixão, pela Sua paixão, morte, ressurreição e glorificação.

O evangelista Mateus nos informa que Jesus foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galileia, no território de Zabulon e Neftali (cf. Mt 4,13) e essa região é a mesma anunciada pelo profeta Isaías ao se referir ao povo de Israel quando era escravo e oprimido pelos assírios, por volta do séc. VIII a.C. Por isso o profeta Isaias anuncia a esperança para aquele povo. E diz: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandece” (Is 9,1).

Informado o contexto no qual o Evangelista nos apresenta, vemos que a presença do Senhor Jesus na Galileia é o cumprimento daquilo que o profeta Isaías anunciou: agora chegou a salvação para o povo que andava nas trevas (cf. Is 9,1). Ele é a grande luz presente no mundo, pois anuncia a conversão, cura as enfermidades e, ao mesmo tempo, chama colaboradores para a missão, porque Ele já é a presença do Reino em nosso meio.

Neste Evangelho também constatamos o chamado de Jesus aos primeiros discípulos, Simão Pedro e André, Tiago e João. Eles estavam na pesca. Pedro e André estavam lançando as redes e Tiago e João consertavam as redes na barca. Eram trabalhadores dedicados, mas o Chamado faz com que eles mudem imediatamente o percurso de suas vidas, seguindo, a partir daquele momento, o caminho de Jesus. Eles seguem imediatamente o Mestre, para anunciar, por toda a Galileia, que chegou a salvação.

Faz-se necessário que todos conheçam os ensinamentos sobre o Reino. Era preciso reconhecer a força de Deus em Jesus, o Filho amado que veio morar com o Seu povo. Os discípulos são os primeiros colaboradores de Cristo (cf. Jo 1,41) para que o Reino de Deus possa chegar a todo o mundo, pois a Palavra deve se espalhar pelas nações para fermentar o coração da humanidade proporcionando sentido de vida e libertação.

Na Segunda Leitura desta Liturgia, o apostolo São Paulo nos ensina como sermos irmãos em Cristo, de tal modo que não sejamos causa de divisão na comunidade, pois o poder de Deus está na comunhão e na caridade. Assim nos fala o Apóstolo: “Irmãos, eu vos exorto, pelo nome do Senhor nosso, Jesus Cristo, a que sejais todos concordes uns com os outros e não admitais divisões entre vós.” (1Cor 1,10).

Tanto nós, como os primeiros discípulos, somos chamados a mudar o nosso percurso para seguir o caminho de Jesus. Somos convocados pelo Batismo a formarmos a comunidade de amor que o Senhor deseja. Somos chamados a anunciar o Reino, pois Ele está próximo de nós, está nas curas que Deus propicia, nas ações comunitárias, na luta por justiça, na fraternidade, na paz e na comunhão.

Deus opera milagres em nossas vidas, principalmente quando vamos nos convertendo cada vez mais ao Seu Evangelho. Converter-se é trazer em nossa vida as mesmas atitudes de Jesus. E a Igreja nos ensina que o Senhor está presente de cinco modos na Missa, na celebração eucarística: está presente na pessoa do sacerdote, na Eucaristia, nos sacramentos, na Sagrada Escritura proclamada e quando a Igreja reza e canta (cf. SC 7) (1).

Em Cristo somos livres e, ao mesmo tempo, somos chamados a libertar os outros como membros da comunidade viva de Cristo, a Igreja. O mar, no sentido bíblico, simboliza os perigos e as trevas. Os discípulos saíram dessa escuridão para seguir a Luz do Senhor e, seguindo essa Luz, vão vencendo os perigos que podem levá-los aos tormentos presentes no mundo. Assim somos nós, os cristãos no mundo de hoje, discípulos e missionários em meio aos desafios e às trevas mas confiantes na Luz de Cristo que nos ilumina, que nos fortalece e que nos indica o caminho que, juntamente com os irmãos em Cristo, devemos seguir.

Que o Senhor nos abençoe e nos conduza na missão evangelizadora que Ele mesmo nos confiou. Que nossa missão seja concretizada no nosso testemunho de discípulos missionários. Que antes de pregarmos aos outros, possamos ter a convicção de que “O Senhor é minha Luz e Salvação. O Senhor é a proteção da minha vida” [cf. Sl 26(27),1]. Por fim, possamos ouvir o apóstolo São Paulo que, na Primeira Carta aos Coríntios, nos transmite uma exortação para que não sejamos nem de um grupo nem de outro, mas membros do povo do Senhor (cf. 1Cor 1,12). Amém!

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(1) cf. SANTA SÉ. Sacrosanctum Concilium: Constituição conciliar sobre a sagrada liturgia. 1963. Disponível em: <https://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html>. Acesso em: 21 jan. 2023. 

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⇒ POESIA ⇐

Tão Perto de nós, ó Senhor

 

Tão perto de nós, ó Senhor,
Na Sua Palavra forte,
Falando-nos da vida e do amor,
Tirando-nos do caminho da morte,
Assembleia viva em louvor,
No encontro que nos conforte.
*
Tão perto de nós, ó Senhor,
Pelo Seu Corpo santo e vivo,
Que nos alegra e nos faz prosseguir,
Unindo-nos a Ele num caminhar ativo,
Fazendo-se também Corpo se sentir,
Sendo Fermento, Sal e Luz, o Motivo.
*
Tão perto de nós, ó Senhor,
Nos Teus amigos anunciadores,
Discípulos da justiça e da vida,
Tua boca frente aos opressores,
Teus pés e tuas mãos envolvidas,
Nos tantos e tantos semeadores.
*
Tão perto ainda, ó Senhor!
Nos pobres e tantos sofridos,
Tuas chagas em tantos irmãos,
Partilhando Tua cruz nos desvalidos,
Que buscam em Ti compaixão,
E esperam serem acolhidos.
*
E tão perto de nós, ó Senhor
Pede-nos em nós a mudança,
Para não sermos filhos descrentes,
Pois Seu caminho é luz e esperança,
Mesmo no silêncio está presente,
E Seu amor nunca se cansa!

 

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“A vocação de São Pedro e Santo André” In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/4458> e “A vocação de São Tiago e São João” In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/4460>, de J. Tissot (1836-1902).

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, presença concreta do Reino de Deus entre nós, ilumine o seu caminho! 

 

 

2º Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

 

Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos educadores ⇐
⇒ Janeiro: Mês dedicado ao Santíssimo Nome de Jesus
⇒ 3º Ano Vocacional 
» Tema: “Vocação: graça e missão” «
» Lema: “Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33) «

 

Leituras: Is 49,3.5-6; Sl 39(40),2.4ab.7-8a.8b-9.10 (R. 8a.9a); 1Cor 1,1-3; Jo 1,14a.12a; Jo 1,29-34

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Batizados em Cristo

Jo 1,29-34

 

Meus irmãos e minhas irmãs, a Liturgia do 2º Domingo do Tempo Comum, Ano A, nos motiva a contemplarmos o início do Tempo Comum no qual São João Batista indica Nosso Senhor Jesus Cristo como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 1,29-34.

Após a solenidade da Epifania e a Festa do Batismo do Senhor, nós entramos no chamado Tempo Comum, período que contemplamos a ação do Verbo de Deus na história dos homens. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29), porque mergulhou em nossa realidade humana, santificou as águas e trouxe o batismo no Espírito Santo para resgatar a nossa imagem, a fim de que se assemelhe à d’Ele.

No Evangelho de hoje (cf. Jo 1,29-34) São João Batista indica Nosso Senhor e confirma o que ele já tinha anunciado nas suas pregações pelo deserto e o próprio João Batista também faz uma memória do acontecimento do batismo de Jesus e a sua experiência de ter visto o Espírito Santo descer e permanecer (cf. Jo 1,33), como ouvimos na Liturgia da Festa do Batismo do Senhor (cf. Mt 3,13-17).

O profeta Isaías nos fala do Servo de Israel, que será luz das nações e que trará a salvação até os confins da terra (cf. Is 49,3-6). Para nós, cristãos, Jesus é este servo, o Cordeiro que agora se entrega para salvar todos do pecado original. Ele traz a redenção e a paz para o mundo.

São Paulo, no início da Primeira Carta aos Coríntios, dirige uma mensagem aos que encontraram em Cristo o fundamento da santidade. Os que estão em Cristo são chamados a viver os mesmos sentimentos dele (cf.1Cor 1,2-4). Por isso os batizados têm a missão de serem santos dentro das diversas realidades do mundo.

Como fermento que transforma a massa e que a faz crescer, a missão dos cristãos, dos batizados no Espírito Santo é fazer crescer a força do Evangelho no mundo, vivendo a santidade com os pés firmes no chão da vida e iluminando os outros para também trilharem o mesmo caminho. Esta é a “missão de todos nós”(1).

Não podemos viver uma espiritualidade mergulhada no isolamento e no intimismo, alheios às realidades concretas da vida as quais estamos inseridos. Onde quer que estejamos, somos chamados a dar testemunho do que vivemos e também dar testemunho nas realidades onde estão ausentes os valores do Evangelho.

No seguimento a Cristo, somos também chamados a tirar o pecado do mundo. Ser seguidor é anunciar a justiça, é construir a fraternidade, vencer os males que afetam a realidade humana. Todas as vezes que nos reunimos para rezar, para planejar as ações de amor e de caridade estamos contribuindo para que a miséria que está no mundo seja diminuída.

Quando nos alimentamos do Corpo e do Sangue do Senhor, apresentados no altar de ação de graças e da doação do amor, somos também nutridos para vivermos, com perseverança e força, a missão que o Senhor nos confiou. A apresentação do Cordeiro na Mesa da Eucaristia nos motiva a recordar a atitude de São João Batista e fazermos o mesmo que ele fez: apontar para Cristo e apresenta-Lo aos que ainda não O encontraram.

Olhemos para o Cordeiro que agora nos oferece um banquete fraterno e santo para nossa salvação e perguntemo-nos: somos capazes de reconhecer os nossos pecados dos quais Cristo quer nos tirar? Quais são os pecados do mundo os quais estamos envolvidos? Que pecados queremos que Cristo tire do mundo, com a nossa colaboração?

São muitos os pecados os quais praticamos e que, de certa forma, podemos nomear nos dias de hoje: as injustiças sociais, a corrupção, as guerras, a opressão e a falta de acolhimento aos refugiados, as ambições, o egoísmo, o individualismo e, sobretudo, a omissão dos cristãos quando é preciso levantar a voz e defender a vida e a justiça.

Mas não esqueçamos dos tantos discípulos do Senhor (Bispos, padres, diáconos, religiosos e leigos) que se dedicam ao Reino com empenho através das missões nas dioceses, nas paróquias, nas comunidades e também os missionários além fronteiras, os que se envolvem em favor da justiça, da paz e do amor. Rezemos por todos os que semeiam, com fidelidade, entusiasmo e coragem a alegria do Evangelho.

Peçamos ao Espírito Divino que ilumine as nossas ações e os nossos corações para vencermos o medo e o comodismo e que nos venha a coragem de tomarmos consciência de nossos erros, os quais trazem consequências para a humanidade se distanciar da vida verdadeira. Que o Banquete do Cordeiro alimente a nossa vontade de vivermos fielmente o nosso batismo no Espírito de Deus em virtude de fazermos a experiência dos discípulos missionários neste mundo marcado por tantas controvérsias. Amém.

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(1) Trecho da letra da música “Missão de todos nós”, de Zé Vicente. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gWj-XoDuuGc>. Acesso em: 18 jan. 2020.
 

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⇒ POESIA ⇐

Ele é o nosso Cordeiro

 

Olhemos para o altar,
Para o Cordeiro imolado,
Pedimos, Deus nos venha salvar,
Nos livrando do pecado.
*
Ouvindo o que Ele nos diz,
Nutrindo nosso coração,
Pedimos que nos faça feliz,
A vivermos como irmãos.
*
Entrando em Sua morada,
E com os irmãos encontrando,
Queremos a paz anunciada,
E no amor comungando.
*
Nosso Cordeiro amado,
Entregou-se em humildade,
E ao Seu Banquete integrados,
Vivemos a fraternidade.
*
Seu alimento é vida,
E a nós se ofertou
Fonte de eterna acolhida,
Pois a morte derrotou.
*
E a nós, os batizados,
No Espírito abrasador,
Sejamos também enviados,
Do santo e vivo amor.
*
E pelo o mundo em missão,
Levemos sempre a verdade,
O Evangelho em ação,
Salve toda a humanidade.
*
E no Batismo ardente,
Luz do Espírito que irradia,
Preencha-nos a alma e a mente,
De pura e repleta alegria.

 

*   *   *

 

“São João Batista vê Nosso Senhor Jesus de longe”, de J. Tissot (1836-1902). In <https://www.brooklynmuseum.org/opencollection/objects/4450>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, ilumine o seu caminho!