Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, Solenidade

 

Leituras: 2Sm 5,1-3; Sl 121(122); Cl 1,12-20; Lc 23,35-43

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Rei, reino e trono diferente dos “reinos” deste mundo

Lc 23,35-43

 

Chegamos ao último domingo deste ano litúrgico, ano C. E neste encerramento celebramos Cristo, Rei do Universo. A festa de Cristo Rei foi instituída como celebração litúrgica pelo Papa Pio XI em 1925. Inicialmente era celebrada no último domingo de outubro, o qual era próximo do dia de Todos os Santos, “a fim de que se proclamasse abertamente a glória daquele que triunfa em todos os santos eleitos”. Com a reforma do Concílio Vaticano II, esta festa foi transferida para o último domingo do Tempo Comum, concedendo um significado mais amplo, sublinhando a dimensão escatológica do reino em sua consumação final[1].

Olhando todo este percurso queremos também olhar para o Senhor e para nós no intuito de fazermos uma retrospectiva de tantos passos dados. A cada Eucaristia celebrada, aliada à dimensão da Palavra, nos fortalecemos de nossos desânimos e cansaços da vida. Por isso, essa ação precisa ser constante. Mas essa rotina é, como prometido por Jesus, suave e leve.

O Evangelho desta liturgia nos apresenta Jesus, o nosso Rei, num trono diferente, a cruz, de pernas e braços presos ao madeiro, porém a boca e o coração estão livres para anunciar e oferecer o seu Reino de amor e salvação aos que acolherem ou suplicarem.

Contemplamos ainda a sua coroa de espinhos e os ladrões ao seu lado. Um deles quis e soube fazer sua súplica, ele pediu que aquele Rei não se esquecesse dele no Paraíso e por isso conseguiu um lugar no Reino Celestial, pois a resposta de Jesus nos assegura esta afirmação: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43)

A promessa que os profetas anunciaram sobre o Reino de justiça, de amor e de paz se cumpre plenamente em Jesus. Ele é da descendência de Davi, aquele rei que foi ungido em Israel para apascentar, conduzir, zelar e cuidar do povo, como rebanho que é do Senhor e não propriedade do rei terreno (cf. 2Sm 5,1-3).

Jesus é rei diferente, ele é o Bom Pastor, pois não somente conduz, mas se possível e necessário carrega as ovelhas nos seus braços, para que retornem ao rebanho. Sua autoridade é o serviço aos que estão perdidos, e carregados de fardos pesados, de cruzes que a vida terrena vai apresentando durante a caminhada. A comida para as suas ovelhas é seu próprio corpo doado gratuitamente, a bebida é seu próprio sangue derramado para purificar, para matar a sede de amor e fortalecer seus membros, os bem-aventurados que desejam inserir-se na multidão dos santos na glória celeste.

São Paulo, na segunda leitura, nos leva a contemplar a figura do nosso Rei o qual devemos sempre reconhecer como o verdadeiro: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois por causa dele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, as visíveis e invisíveis, tronos e dominações, soberanias e poderes” (Cl 1,15-16).

Muitas vezes queremos incutir em nossas ações e posturas o anúncio distorcido sobre o poder de Deus e seu reino. Esquecemos que quando pedimos “venha a nós o vosso reino”, estamos suplicando a presença de uma realidade divina em nossas vidas. A presença de Cristo em nosso meio é a presença da imagem do Pai Nosso, que nos congrega como irmãos, para formamos um Reino diferente do reino que o mundo dos homens concebe.

Portanto, a mensagem que a liturgia nos apresenta hoje é que possamos pensar naquilo que é a vontade e plano do reino de Deus. Enquanto existirem as tantas injustiças e dominações das pessoas sobre elas próprias, podemos dizer que está ausente e, ao mesmo tempo, há a necessidade do Reino de Deus. Quando há partilha, doação, fraternidade e a caridade entre as pessoas e para as pessoas, haverá um sinal concreto de que o reino de Deus está acontecendo já neste mundo.

Que a Eucaristia nos alimente na busca da construção do Reino de Jesus sobre o mundo e que a Palavra nos oriente na realização de nosso ministério como discípulos missionários na busca de contribuir e concretizar a Igreja como ambiente de expressão do reinado santo de Deus. Encerremos esta reflexão rezando alguns versículos do salmo responsorial desta liturgia: “Quanta alegria e quando ouvi que me disseram: vamos à casa do Senhor… A sede da justiça lá está e o trono de Davi.” Amém.

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[1] Cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum – Ano B – São Marcos. Brasília, Edições CNBB, 2012.

 

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⇒ POESIA ⇐

Um Rei que nos quer no seu trono

 

Olho para ti Senhor,
Entregando-se na Cruz em liberdade,
Sendo em nossas dores solidariedade,
E vejo o teu amor se derramar por nós,
Querendo que ao seu trono cheguemos,
E por isso com medo não fiquemos,
Por que caminhamos perto de Vós.

Olho para ti Senhor,
Reconhecendo tua justiça e teu perdão,
Ansiando teu presente, à salvação,
Como aquele ladrão suplicando ao teu lado,
Levaste à Glória aquele que se compadeceu,
Porque tuas palavras no coração ele acolheu,
E por isso foi participar do teu santo reinado.

Olho para Ti, Senhor,
Caminhamos tanto, mas precisamos aprender,
Que o teu Reino ainda está a estabelecer,
Porque nos desviamos do teu caminho,
E assim precisamos muito pedir-te perdão,
E reconhecer que teu amor é imensidão,
E que não nos salvamos nunca sozinhos.

Olho para Ti, Senhor,
Neste trono, braços abertos para todas as nações,
Quer reinar fortemente em nossos corações,
E vejo o teu trono, acima do nosso olhar,
Quer nos conduzir ao “hoje” do teu paraíso,
Apenas o nosso querer e pedido é preciso,
Para nos conduzir a teu santo lugar.

Olho para Ti, Senhor,
Vejo o poder que vem do teu infinito amor,
O teu corpo que é alimento salvador,
Peço-te que nos ensine o teu jeito de reinar,
Tua palavra nos ensina por onde prosseguir,
Teu reinado é somente amar e servir,
E nada mais que se possa acrescentar.

Olho para Ti, Senhor,
E penso quando nos encontrar em fraternidade,
Quando o nosso apostolado se faz na caridade,
E assim vejo que teu Reino em nosso meio já está,
E a paz é em definitivo anunciada,
Nossa vida em comunhão concretizada,
Tendo em nós a certeza que tu nos salvará.

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*** Que a Palavra e a Luz de Cristo, Rei do Universo, ilumine o seu caminho ***

 

 

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Ml 3,19-20a; Sl 97(98); 2Ts 3,7-12; Lc 21,5-19

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Nossa fé e esperança se sustentam na Palavra de Deus e na Eucaristia

Lc 21,5-19

 

A caminhada litúrgica do Ano C está chegando ao seu término e nós, os cristãos, continuamos a caminhada, aguardando o novo ano, orientados pela Palavra de Deus e alimentandos pela Eucaristia, que nos sustenta na fé e na esperança. O 33º domingo do tempo comum nos apresenta, na liturgia da Palavra, Jesus orientando-nos e tornando-nos discípulos conscientes sobre as consequências da missão. Muitas são as realidades e acontecimentos que vão surgindo no mundo, muitas são as ameaças aos que creem e muitas são as vidas oferecidas para que o Reino de Deus seja anunciado.

Não devemos imaginar a missão e a experiência cristã como algo tranquilo e acomodado, vivenciada na zona de conforto das nossas vidas. O Senhor nos alertou sobre o que aconteceria aos que seguissem o seu caminho, porém podemos ter certeza que Ele também não nos decepciona quando nos promete a vida nova e eterna na sua glória.

Jesus se dirige aos que o acompanham, seus discípulos, e diz: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21,9). Jesus se refere ao templo material, que é perecível, fala sobre os sinais, os combates e os falsos mensageiros que aparecerão para pregar outras doutrinas.

Os que seguem o Senhor e anunciam a sua Palavra serão agraciados com sua proteção e, portanto, não deverão temer o julgamento porque Ele o fará com justiça como nos fala o salmista: “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará. Logo seu julgamento será temido pelos que não a abraçam.” (Sl 97/98)

Muitos se deixam enganar, exatamente, porque ouvem mais o que falam de Jesus, do que fala o próprio Jesus ou, ainda, não estão conscientes do caminho que o Senhor da vida verdadeira nos apresenta. Por isso é importante escutar a Palavra e ruminá-la constantemente. Faz-se necessário, ainda, ao cristão exercitar a paciência e perseverança, dimensões esquecidas nos tempos pós-modernos, porém de suma importância para se construir um alicerce mais consistente e firme da fé, da esperança e da caridade (cf. Lc 21,19).

Quando nos engajamos no seguimento de Jesus, que é Mestre, Senhor e Deus, devemos seguir firmemente sem temer as perseguições e as provações, internas e externas. Às vezes situações muitos simples e até naturais da vida nos afetam facilmente porque não temos bem claro o caminho que fazemos e não desenvolvemos a confiança verdadeira em Deus, que é um Pai atento às necessidades de seus filhos e dará o que é bom aos que pedirem (cf. Mt 7,11) e dará também o Espírito Santo (cf. Lc 11,13). Por isso devemos nos alimentar sempre da Palavra e da Eucaristia, pois são a presença e a força de Cristo ressuscitado em nós.

Como discípulos e missionários de Cristo precisamos confiar e nos entregarmos ao seu caminho. Devemos ser caminheiros incansáveis, corajosos sem medo de enfrentar os combates que se apresentam a nossa frente. Como falou Jesus: “E eles matarão alguns de vós. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,16b.18-19). Confiar nesta promessa de Jesus nos fará fortes discípulos, fortes missionários e autênticos profetas. Se anunciarmos as verdades do Evangelho, de uma forma ou de outra, virão as perseguições e provações, mas devemos ter a certeza de que ser cristão é também muito bom e gratificante, porque estamos a serviço do Senhor que nos apresenta e nos assegura a vida verdadeira na sua glória.

Caminhemos firmes e fortes como verdadeiros discípulos, sem ociosidade, sem comodismos, porque São Paulo nos alerta sobre esta questão na 2ª leitura: “Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada.” (2Ts 3,11). Os discípulos e missionários estão sempre a serviço do Reino, também trabalhando para a manutenção do seu sustento e de sua família. O apóstolo quer aqui ressaltar a dignidade do trabalho humano que é necessário para a vida.

Que neste penúltimo domingo do ano litúrgico possamos fazer uma avaliação da nossa caminhada com o Senhor, relacionado ao nosso discipulado, exercido na comunidade em que estamos inseridos, à nossa experiência na Palavra, que nos orientou e nos orienta, à participação na Eucaristia, que nos fortalece na busca da santidade e no nosso convívio com os irmãos e as irmãs. Podemos ainda avaliar o nosso anúncio: será que fomos anunciadores do Reino no nosso trabalho, no convívio social e nos nossos contatos gratuitos com as pessoas nas diversas dimensões sociais em que estamos inseridos? Rezemos sobre estes questionamentos e vejamos aonde chegamos. Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Vivos e fortes em Cristo

 

Somos fortes e vencedores,
Quando alimentados pela certeza,
De que em Cristo temos a fortaleza,
Para continuar sem medo de desistir,
Mantendo a fé no caminho a seguir,
Como fiéis de Cristo ao redor da mesa.

Acreditar na vida como um presente,
É nosso destino, é a eternidade,
Continuamos vivendo a gratuidade,
Que depende de nós para chegar,
Basta uma qualidade de fé cultivar,
E abraçar o espírito de fraternidade.

É preciso o alimento forte receber,
Para não desmoronar em frente ao tentador,
Pois com o Ressuscitado não há temor,
Porque ele, a vida nova veio nos dar,
E o seu reino eterno, nos presentear,
Para todos os que querem o seu amor.

Somos fortes também na comunidade,
Quando unidos vivemos a unidade,
Ouvindo a Palavra na fraternidade,
Como o povo de Deus a se encontrar,
Para neste encontro junto comungar,
E vivermos o sonho da eternidade.

Que ao redor da mesa do Senhor,
Possamos proclamar com convicção,
Quando do corpo que era pão,
Anunciar que a morte foi vencida,
E que acreditamos na nova vida,
Que recebemos por graça e doação.

Animando os nossos corações,
E confirmando a nossa boa ação,
Ficando cada vez mais em oração,
Para que a Palavra seja anunciada,
E que seja sempre confirmada
Que a Vida de Cristo, em nós, é redenção.

 

*** Que a Palavra e a Luz do nosso Mestre e Senhor ilumine o seu caminho ***

 

 

XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: 2Mc 7,1-2.9-14; Sl 16(17); 2Ts 2,16-3,5; Lc 20,27-38

 

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⇒ HOMILIA ⇐

O Senhor ressuscitado é a nossa certeza da ressurreição

Lc 20,27-38

 

A liturgia deste 32º Domingo do Tempo Comum nos apresenta Jesus sendo interrogado pelos saduceus, os quais negavam a ressurreição dos mortos, pois, para eles, a vida era um momento de estágio no tempo terreno. Estes detinham o poder político, econômico e religioso, eram os colaboradores diretos do Império romano, sendo, portanto, maioria no sinédrio*. Por esse motivo era uma turma influente, querendo impor suas posições sobre Jesus e seu grupo.

A pergunta dos saduceus foi irônica, pois eles queriam colocar Jesus numa situação de contradição e por isso inventam a história da mulher viúva que teve vários maridos. Eles citam a lei do levirato (cf. Dt 25,5-6) que obrigava o irmão de um marido defunto sem descendência, se casar com a viúva. E a pergunta foi: se a mulher ficar viúva várias vezes e casar novamente, quando ela morrer, na ressurreição, ela será esposa de quem? (cf. Lc 20,27-33).

Jesus responde que na vida eterna não seremos como neste mundo, pois seremos como anjos, os quais já estão em outra realidade não mais limitada ao campo biológico, não seremos mais dependentes de heranças materiais e descendências humanas. Seremos filhos transformados para uma vida nova quando já contemplaremos a face santa de Deus.

O tema central desta liturgia, portanto, é a fé na ressurreição e na vida eterna. No AT, temos o exemplo de que pessoas que acreditava na ressurreição. No segundo livro de Macabeus, narra-se a história de uma família judaica (os irmãos macabeus) o qual vive o martírio por manter firmemente a fé na ressurreição dos mortos (cf. 2Mc 7,1-2.9-14).

Os discípulos do Filho de Deus caminham neste mundo alimentado pela esperança numa vida nova e na perspectiva de um dia encontrar-se com Deus, numa realidade que chamamos de visão beatífica, por isso seremos iguais a anjos (cf. Lc 20,36).

Esta fé e esta esperança, que proclamamos a cada domingo na celebração eucarística quando rezamos o Credo. Afirmamos que cremos em Jesus Cristo, que passou pela paixão, morreu e ressuscitou ao terceiro dia. Professamos esta fé e caminhamos na certeza de que Cristo irá nos chamar a uma vida nova, por que ele venceu a realidade da vida velha marcada pelo pecado e pela corrupção da carne.

Também após a consagração do Corpo e do Sangue do Senhor quando o sacerdote apresenta a ceia como mistério da fé, nós respondemos: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos Senhor, à Vossa morte, enquanto esperamos vossa vinda”.

A sagrada Eucaristia alimenta a nossa certeza e também o nosso anúncio não somente na ressurreição, mas também na morte do Senhor, porque esta morte é o sinal de que Deus, na encarnação do verbo, nos visitou na nossa natureza humana para nos santificar e nos salvar.

Quando carregamos esta convicção da vida nova e eterna em Cristo, já não temos mais medo, já não tememos as ameaças que nos rodeiam. Por isso que muitos derramaram e derramam o seu sangue, mantendo esta certeza, pregando e acreditando naquilo que Cristo anunciou e viveu. Quando somos sal e luz do mundo, somos como um braço de Deus construindo o seu Reino no meio do mundo sem medo e com esperança.

Quando nos alimentamos da Palavra e da Eucaristia com fé verdadeira, não ficamos livres dos sofrimentos e provações, porém, vencemos as tentações e os desafios que chegam à nossa frente. Neste sentido caminhamos cheios de esperança e alegria mesmo carregando a cruz nos nossos compromissos e atribuições cotidianas, as quais Deus permite aparecer em nossa vida.

Que possamos cultivar a espiritualidade da esperança firme na ressurreição e na vida eterna, carregando em nosso corpo e no nosso coração, mesmo como vasos de barro, pois temos a Palavra que nos orienta e o Corpo do Senhor que nos alimenta e nos santifica. Que possamos seguir o conselho de São Paulo na sua segunda carta aos Tessalonicenses: “Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo” (2Ts 3,5).

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* Cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II – Ano C – São Lucas. Brasília, Edições CNBB, 2013, pág. 96.

 

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⇒ POESIA ⇐

Dignos da mesa do Senhor

 

Somos forte e vencedores,
Quando alimentados pela certeza,
De que em Cristo temos a fortaleza,
Para continuar sem medo de desistir,
Mantendo a fé no caminho a seguir,
Como fiéis de Cristo ao redor da mesa.

Acreditar na vida como um presente,
É nosso destino, é a eternidade,
Continuamos vivendo a gratuidade,
Que depende de nós para chegar,
Basta uma qualidade de fé cultivar,
E abraçar o espírito de fraternidade.

É preciso o alimento forte receber,
Para não desmoronar em frente ao tentador,
Pois com o ressuscitado não há temor,
Porque ele, a vida nos presenteou,
E o seu reino eterno nos apresentou,
Para todos os que querem o seu amor.

Somos forte também na comunidade,
Quando unidos vivemos a unidade,
Ouvindo a Palavra na fraternidade,
Como o povo de Deus a se encontrar,
Para nesse encontro junto comungar,
E vivermos o sonho da eternidade.

Que ao redor da mesa do Senhor,
Possamos proclamar com convicção,
Quando do corpo que era pão,
Anunciar que a morte foi vencida,
E que acreditamos na nova vida,
Que recebemos por graça e doação.

Animando os nossos corações,
E confirmando a nossa boa ação,
Ficando cada vez mais em oração,
Para que a Palavra seja anunciada,
E que seja sempre confirmada
Que a Vida de Cristo, em nós, é redenção.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Mestre (Rabí) ilumine o seu caminho ***

 

 

XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Eclo 35,15b-17.20-22a; Sl 34(33); 2Tm 4,6-8.16-18; Lc 18,9-14

(1) O Deus de Jacó e de Moisés jamais despreza a prece do pobre. (cf. Eclo 35,17). Imagem: extrato de “A criação de Adão” (1508-1515), por Michelangelo. (2) “O fariseu e o publicano” (1886-1894), por J. Tissot.

 

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⇒ HOMILIA ⇐

O modelo de oração

Lc 18,9-14

 

A liturgia deste 30º Domingo do Tempo Comum retoma o tema da oração e nos apresenta duas posturas diante de Deus com relação à prática do homem orante. No domingo passado, o Senhor nos falou da necessidade de rezar sempre sem nunca desistir (cf. Lc 18,1). Na liturgia de hoje ele nos apresenta dois modelos de oração para nos ensinar que o centro da oração não somos nós mesmos, mas, da parte de Deus, a gratuidade e a misericórdia e, da nossa parte, a humildade.

Neste sentido, mesmo cumprindo todos os mandamentos, jejuando duas vezes por semana, participando diariamente da missa, rezando o Terço e as novenas todos os dias, fazendo momentos de adoração e louvor, não podemos nos colocar na posição e no direito de julgar o outro, dizendo: não somos como os outros homens… (cf. Lc 18,11).

Jesus não está pedindo que deixemos nossas práticas espirituais e nem está elogiando os que não vivem a vida cristã e por isso levam uma vida incoerente com os critérios de honestidade e moralidade. Ele quer nos mostrar que o centro da oração deve ser sempre Deus, com sua misericórdia e não as culpas do outro e, ao mesmo tempo, o nosso autoelogio.

Deus nos ensina sobre a nossa oração humilde, como nos fala o Eclesiástico: A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha e faça justiça aos justos e execute o julgamento” (Eclo 35,21-22).

Devemos refletir que, mesmo quando somos fiéis aos nossos compromissos cristãos e às nossas práticas orantes, continuamos pecadores e necessitados da misericórdia de Deus. Será que muitas vezes nos comportamos como aquele fariseu citado no evangelho desta liturgia? Considerando-nos os mais responsáveis, os mais corretos, honestos e cumpridores das leis da Igreja e dizemos que não somos como os aqueles outros…

Ter uma vida correta moralmente e religiosamente é nosso deve, pois somos chamados pelo batismo a ser sal e luz do mundo. O mundo precisa da nossa presença com uma vida reta, que tem sentido e que pode ajudar os outros a caminharem em direção à vivência da Palavra, no cultivo da justiça, do amor e da paz.

A postura do fariseu nos lembra o início das nossas celebrações, quando somos convidados a fazer um exame de consciência para dignamente ouvirmos a Palavra e nos alimentarmos do corpo e sangue do Senhor. Neste constante olhar sobre nós, numa postura e espírito de humildade, vamos crescendo na experiência do amor misericordioso de Deus. Nesta vida de humildade, de não julgamento dos outros, de escuta do Senhor e de confiança, está a nossa verdadeira oração.

Será nossa felicidade e nossa graça chegarmos ao final da nossa caminhada terrestre e dizermos como são Paulo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa.” (2Tm 4,7-8).

Peçamos a luz do Espírito Santo, para que ilumine nossas ações na vida cotidiana e nos momentos em que celebramos a sua Palavra e comungamos de seu corpo, para não sermos incoerentes com o que falamos diante do Senhor. Que sejamos revestidos da confiança em Deus e da nossa humildade de filhos dEle e, nEle, irmãos de todos os homens. Aos que se encontram numa vida fora do caminho do Senhor, rezemos para que possam também voltar-se para Ele e recomeçar com uma vida nova, pela fé no amor e na divina misericórdia.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Dignos da mesa do Senhor

 

Deixemos que o Senhor
Ensine-nos a rezar,
Com sua Santa Palavra,
Que ensina e que encanta,
Que anima a nossa vida,
Nas chegadas e partidas,
Com sua força sem cessar.

Deixemos que o Senhor
Abra o nosso coração,
Com a força do seu amor,
Com o seu forte fervor,
Fazendo-nos perseverar,
Nossa vida a iluminar,
Em profunda oração.

Façamos com o Senhor
Nossa forte oração,
Sem medo, sem desanimar,
Sempre e sempre a caminhar,
Na vida missionária,
Na vida também solidária,
Com e para os irmãos.

Fiquemos com o Senhor
A cada passo realizando,
Numa presença constante,
Caminheiro e caminhante,
Amigos em sinceridade,
Diálogo de lealdade,
Sempre, sempre retomando.

Sejamos com o Senhor,
Discípulos perseverantes,
Caminhando na esperança,
Em oração de confiança,
Nos braços do Deus amado,
Entregues e em nada reservados,
Totalmente confiantes.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Mestre (Rabí) ilumine o seu caminho ***

 

 

XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Ex 17,8-13; Sl 120(121); 2Tm 3,14-4,2; Lc 18,1-8

 

“O juiz iníquo e a viúva inoportuna” (1908), por Eugène Burnand

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Oração perseverante

Lc 18,1-8

 

O evangelista Lucas (cf. 18,1-8) inicia o seu texto, neste 29º domingo do tempo comum, com mais uma parábola. Jesus “contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir” (Lc 18,1).

O sucesso na experiência de oração será exatamente quando houver a perseverança e a percepção da necessidade de sempre rezar. A oração, portanto, é este encontro com o Mistério Santo e Infinito, o nosso Deus Verdadeiro que está sempre pronto a nos encontrar e nos escutar.

Quando buscamos aprofundamento nos mestres espirituais, percebemos que rezar está muito além das petições, dos louvores, das fórmulas e dos textos decorados. A oração, portanto, é o diálogo livre com Deus, numa atitude de filhos, numa postura interior de total confiança e entrega aos braços divinos. Claro que quando rezamos a oração da Ave Maria e a oração do Pai Nosso não somente falamos palavras, mas buscamos, no nosso coração, orante o fundamento e o sentido maior destas orações para nós cristãos.

A parábola do juiz iníquo e da viúva inoportuna nos ensina também que se deve orar suplicando a Deus sem cessar, porque ele escuta o clamor dos seus filhos os quais confiam no seu amor, pois ele fará justiça à todos que lhes suplicam dia e noite.

No livro Êxodo (cf. 17, 12-13), temos a experiência de Moisés na sua luta contra o inimigo, pois, para vencer, precisou ser forte e até mesmo necessitou do apoio do povo que o ajuda a manter seus braços erguidos para continuar vencendo os amalecitas. Muitas vezes, nós também precisamos contar com a ajuda e as orações dos outros para nos mantermos firmes e obtermos a vitória. Portanto, temos um modelo de oração no sentido bíblico, para nos mostrar que é a fé no Deus verdadeiro, a perseverança e a força, também nossa, é que nos mantém vencendo o mal.

Diante destas reflexões podemos nos perguntar: Como está a minha experiência de oração pessoal e comunitária? Qual a qualidade dos meus momentos de encontro com Deus? A nossa oração também suplica a justiça de Deus em favor dos irmãos que sofrem descriminação, desprezo, desemprego e muitos outros sofrimentos?

Como cristãos, discípulos do Senhor, devemos sempre nos perguntar se a nossa vida está marcada por uma atitude de oração pessoal e comunitária, tendo como base a Eucaristia, a meditação da palavra do Senhor e a comunhão com os irmãos.

Devemos viver os momentos litúrgicos e eclesiais, como combustível que fortalece a nossa caminhada diária, na nossa vida familiar, no nosso trabalho, nas interações sociais, na vida de comunidade e na nossa missão de ser sal e luz, em vista de mundo mais fraterno e justo para os filhos e filhas de Deus.

Que neste mês das missões possamos refletir que sem a oração verdadeira o discípulo não terá sucesso na evangelização, pois a oração fortalece o missionário e, ao mesmo tempo, o coloca consciente de sua caminhada em meio a tantos desafios a serem superados.

 

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⇒ POESIA ⇐

Necessitamos da oração

 

Deixemos que o Senhor
Ensine-nos a rezar,
Com sua Santa Palavra,
Que ensina e que encanta,
Que anima a nossa vida,
Nas chegadas e partidas,
Com sua força sem cessar.

Deixemos que o Senhor
Abra o nosso coração,
Com a força do seu amor,
Com o seu forte fervor,
Fazendo-nos perseverar,
Nossa vida a iluminar,
Em profunda oração.

Façamos com o Senhor
Nossa forte oração,
Sem medo, sem desanimar,
Sempre e sempre a caminhar,
Na vida missionária,
Na vida também solidária,
Com e para os irmãos.

Fiquemos com o Senhor
A cada passo realizando,
Numa presença constante,
Caminheiro e caminhante,
Amigos em sinceridade,
Diálogo de lealdade,
Sempre, sempre retomando.

Sejamos com o Senhor,
Discípulos perseverantes,
Caminhando na esperança,
Em oração de confiança,
Nos braços do Deus amado,
Entregues e em nada reservados,
Totalmente confiantes.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus, Senhor e Deus, ilumine o nosso caminho ***

 

 

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Hab 1,2-3;2,2-4; Sl 94(95); 2Tm 1,6-8.13-14; Lc 17,5-10

 

“A exortação aos apóstolos” (1886-1894), por J. Tissot

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Aumentando a fé na caminhada

Lc 17,5-10

 

O Evangelho deste 27º domingo do tempo comum inicia exatamente com uma forte súplica dos apóstolos a Jesus: “Aumenta a nossa fé!” (Lc 17,5).

Os apóstolos caminham com Jesus para Jerusalém e, depois de terem ouvido sobre a misericórdia, a pobreza e a riqueza, sentem o desafio e as possíveis barreiras a serem enfrentadas no apostolado.

E Jesus, vendo aquela fé “infantil”* dos apóstolos, vinda da tradição do antigo povo de Israel, responde: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria.” (Lc 17,6).

Na caminhada com o Mestre, os apóstolos necessitavam de aumentar fé, pois a experiência de segui-lo em missão exigia um compromisso maduro e mais concreto, baseada numa resposta consciente de cada seguidor, a cada dia, a cada desafio, a cada crise. Caminhar com Jesus não era mais como seguir a tradição dos mestres da lei, que muitas vezes impunha normas e preceitos sem adesão das pessoas.

Para seguir o mestre exigia-se novas atitudes de vivência religiosa, e desta vez concreta e encarnada na vida, no contato com os doentes, com os pobres e com os marginalizados, também no embate com as lideranças políticas e religiosas daquela época. Isso exigia que a fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, precisaria crescer, ter força de transformação, de movimento e de mudanças consistentes na vida de cada apóstolo.

Estas palavras de Jesus nos leva a refletir que talvez precisamos suplicar uma fé que seja mais sólida e que tenha a força das palavras do evangelho, maior do que a fé infantil absorvida, mas necessária, nos primeiros anos de catequese. E então podemos pedir: Senhor, aumenta a nossa fé, qualifica a nossa fé, torna a nossa experiência com o Senhor cada vez mais autêntica, como aquela que transformou a vida dos primeiros seguidores do Caminho, mesmo que ela seja tão pequena quanto um grão de mostarda.

E Jesus nos ensina sobre a nossa posição de servos: “quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’.” (Lc 17,10). Neste sentido, é o crescimento de nossa fé como discípulos do Senhor que nos faz nos reconhecermos como servos inúteis ou simples servos.

Crescer na fé é uma graça que vem de Deus. Servir ao Senhor não nos dar o direito aos merecimentos, às honrarias, mas de bem-aventurança por fazermos um caminho de discipulado para como o Senhor e nos convertermos e ganharmos o Céu. Vivemos num mundo que estimula os méritos. Ser discípulos é se colocar na contramão desta concepção de merecimentos humanos. Ser um simples servo é ser discípulo em gratuidade e agradecimento por caminhar com Jesus e colaborar com o seu Reino e no anúncio de sua Boa-Nova.

Na primeira leitura podemos constatar um diálogo entre o profeta Habacuc e Deus, que poderá nos ajudar nesta compreensão da experiência da fé. O profeta se queixa de tantos sofrimentos a sua frente, pois ele já não compreende porque tantos problemas a sua vista e aparentemente sem soluções. E Deus lhes responderá no final: “Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé.” (Hab 2,4). O justo viverá pela sua fé, este é o segredo.

Na segunda leitura, São Paulo, na carta a Timóteo, nos exorta a vivermos sem medo ou timidez nesta estrada do Senhor: “Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e sobriedade.” (2Tm 1,7). O discípulo do Senhor não pode caminhar na insegurança, nem no medo. Ele deve carregar no coração a esperança, e como servo inútil buscar viver a sua fé numa dinâmica de crescimento do mandato recebido.

E no início do mês missionário e do Santo Rosário, peçamos ao Senhor que aumente o nossa fé e o nosso entusiasmo na missão. Também o nosso compromisso na evangelização, caminhando com Ele na construção do seu Reino. Mesmo reconhecendo que a nossa fé seja tão pequena quanto um grão de mostarda, supliquemos ao Senhor que qualifique a nossa confiança, pois somos servos inúteis e necessitamos sempre da Graça de Deus e, ao mesmo tempo, incapazes de corresponder plenamente ao que o Senhor nos favorece, porque seu amor além de ser incalculável é gratuito. Amém.

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* A expressão “infantil” nos remete à uma vivência de adoração a Deus anteriormente a encarnação do Filho. Essa noção pode ser lida em Pagola (O caminho aberto por Jesus: Lucas. Petrópolis: Vozes, 2012, pp. 279-285).

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Os caminhos da fé

Em missão vão os discípulos,
Junto ao Senhor que tanto os ama,
Suplicam a fé em quantidade,
Para que não se apague o fervor da chama,
Que se acendeu quando Ele os chamou,
E continua acessa por onde Ele caminhou,
Mas que por um momento já não inflama.

Ao perceberem os desafios do caminhar,
Pedem a fé para perseverar,
A confiança na rocha firme que é o Senhor,
Para na missão com pés firmes continuar,
Sem medo, sem desconfiança,
Mas na obediência e na esperança,
Que com o Senhor não irão desandar.

Hoje somos nós os seguidores,
Que pedem o dom da esperança e da alegria,
Com o peito marcado pelo fervor
Nas noites escuras e, mas também ao dia,
Buscando ouvir a palavra como alimentação,
Querendo viver sem desolação,
E seguindo a Luz que sempre alumia.

O Senhor nos chama a sempre caminhar,
E nos dá o seu corpo que nos fortalece,
Nos chama a viver na comunhão,
Acolher seu amor que nos enternece,
E o Santo Espírito sempre acolher,
Que a nossa vida quer aquecer,
Numa firme busca que se oferece.

E nesta vida de peregrinação,
Como servos inúteis vamos andando,
Aos passos lentos procurando entender,
Tudo que o Senhor vai nos ensinando,
Como na fé a gente vai crescendo,
Mesmo que no momento não entendendo,
Porque a vida santa se faz caminhando.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus, Senhor e Deus, ilumine o nosso caminho ***

 

 

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Am 6,1a.4-7; Sl 145(146); 1Tm 6,11-16; Lc 16,19-31

 

(1) “O pobre Lázaro à porta do mau rico”; (2) “O mau rico no inferno” (1886-1894), obras de J. Tissot

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

No amor de Cristo, vencemos os abismos entre os irmãos

Lc 16,19-31

 

O Evangelho do 26º domingo do tempo comum, que está em Lc 16,19-31, nos traz a parábola do rico avarento e do pobre Lázaro. Jesus fala sobre duas realidades que envolvem o homem: a riqueza e a pobreza. Um homem rico que se vestia de vaidade, com belas e caras roupas. Do outro lado, o pobre Lázaro ao chão, estava ferido, faminto e esfarrapado, diante da porta do rico (cf. Lc 16,19-21).

A segunda cena deste Evangelho já não é mais no plano terrestre. Lázaro encontra-se “junto de Abraão” (Lc 16,22) enquanto que o rico está na “a região dos mortos, no meio dos tormentos” (Lc 16,23).

As realidades se invertem: Lázaro que padeceu na terra, está agora gozando da paz e da harmonia, porque mesmo vivendo na extrema miséria, confiou totalmente na Graça divina. O rico, que não soube usar dos seus bens para se aproximar e ajudar os outros, pecou pela indiferença, agora está nos tormentos.

Vejamos que, de forma mesquinha, o rico pede uma gota de água para refrescar a sua língua, como que não acreditando na abundância da Graça divina, e ainda mais: pede não pelos os homens que estão na terra, mas de forma egoística, apela pelos cinco irmãos. No seu abismo não há mais possibilidades de criar uma ponte para junto de Abraão (cf. Lc 16,26).

A riqueza na antiga Aliança por muitas vezes foi vista como benção de Deus, como prosperidade ao homem fiel à promessa. Por outro lado, a pobreza era como uma maldição e falta de benção e de prosperidade. Os tempos passaram e as riquezas materiais foram se tornando mais obstáculos para o homem do que possibilidades para que o mesmo prepare o seu caminho rumo ao paraíso eterno.

Atualmente, não parece que mudou muito estas duas realidades, entre ricos e pobres. Há um abismo enorme, quase intransponível, entre os filhos do mesmo Pai Divino. Ainda há muitas mansões e palácios luxuosos, ainda há muita ostentação e esbanjamento das riquezas materiais.

O pior é que ainda persiste o pecado da indiferença e do desrespeito para com a necessidade dos pobres. Há nas calçadas, nas ruas, nas portas, os famintos, os doentes, os sofredores, os excluídos. Eles clamam por comida, por assistência médica e por justiça social. Em suas situações de sofrimento, eles nos revelam e denunciam as feridas de um sistema desigual e excludente, criado pelo capitalismo do mundo pós-moderno e seus interesses lucrativos.

Diante disso, podemos nos perguntar: Como está a nossa atenção aos irmãos que estão na miséria, nas calçadas, feridos e sem a assistência que os humanos merecem? Como está a nossa relação com os bens materiais? As riquezas são possibilidades de aproximação ou de abismos para com o Reino de Deus?

O cristão é chamado a ser o agente de transformação desta realidade. Jesus nos chama a romper as portas da indiferença de nosso coração para construímos pontes de solidariedade, de justiça e caridade no mundo.

Podemos concluir, lembrando-nos do salmo desta liturgia, o qual mostra como Deus deseja que o homem trilhe pelo caminho do bem e ao mesmo tempo como ele protege os sofredores, pobres materiais e espirituais guiando-os na sua vida, porque ele reina e sempre vence o mal. “O Senhor é fiel para sempre, faz justiça aos que são oprimidos; ele dá alimento aos famintos, é o Senhor quem liberta os cativos. Ele ampara a viúva e o órfão, mas confunde os caminhos dos maus. O Senhor reinará para sempre! (Sl 145/146). Amém.

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Abismos entre irmãos

Mundo de tantos altares,
Onde o dinheiro é adorado,
Onde tantos estão focados,
Nas coisas materiais,
Tornando-se desiguais.
Como Deus será amado?

Jesus nosso Salvador,
É quem nos traz a lição:
Vivermos sem ambição,
As coisas não adorar,
Mas somente administrar,
Para o bem do nosso irmão.

Servir somente ao Senhor,
Como único e verdadeiro,
Não sendo interesseiro,
Sem o outro corromper,
Mas a ele oferecer,
O Amor como primeiro.

Ser fiel no que lhe cabe,
Saber administrar,
Sem ao outro enganar
Viver com muito cuidado,
Para não ser condenado,
Quando Deus vier cobrar

Deus de amor Ressuscitado,
Curai nosso coração,
Pra não viver a ilusão,
De uma vida enganada,
Guia-nos na tua estrada,
Que nos leva a salvação.

Abençoai todos aqueles,
Que estão sempre a servir,
Amando sem oprimir,
Que sabem administrar,
O que Senhor lhe confiar,
E os irmãos vivem a unir.

Espírito Santo de amor,
Iluminai nosso viver,
Faz-nos esclarecer,
Cada passo desta estrada,
Nessa nossa caminhada,
Pois, o Céu queremos ver.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Am 8,4-7; Sl 112(113); 1Tm 2,1-8; Lc 16,1-13

 

“O administrador desonesto” (1908), por Eugène Burnand

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Os discípulos de Cristo são os adoradores e servidores do único Deus

Lc 16,1-13

 

A Liturgia da palavra deste 25º domingo do tempo comum nos apresenta mais uma parábola de Jesus contada pelo evangelista Lucas (cf. 16,1-13). Esta parábola fala sobre o administrador infiel e esperto. Ele é alertado pelo seu patrão por praticar uma administração desonesta. Este administrador, refletindo sobre a sua demissão, usa uma estratégia para sair desta situação. Ele abre mão do seu lucro e desta forma consegue devolver o dinheiro que é do seu patrão. (cf. Lc 16,5-7).

Jesus elogia a esperteza daquele administrador e fala para seus discípulos: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas” (Lc 16,9). Para Jesus, o dinheiro injusto era aquele que os ricos ajuntavam à custa da exploração das pessoas. Porém, este dinheiro poderia ser usado a serviço da caridade e da vida dos pobres. Desta forma, os pobres, os bem-aventurados, poderiam acolher os ricos no Céu, porque estes colocaram suas riquezas a favor dos necessitados. Pois o Céu é daqueles que fizeram o bem e viveram a caridade na sua caminhada terrena (cf. Mt 25,34).

Jesus chama a atenção dos seus discípulos para que sejam fiéis no seguimento a Ele e na missão, pois eles serão administradores dos bens celestes e deverão carregar no coração a honestidade e a verdade da Palavra de Deus.

Na missão, os discípulos de Jesus deveriam também estar atentos com a mesma astúcia do administrador infiel, porém buscando a sabedoria do Espírito Santo para administrarem os bens do Reino. Em nossa caminhada cristã, precisamos também da sabedoria e da coerência, em virtude do nosso testemunho e do serviço ao Evangelho.

Jesus também ensina que o seu discípulo é aquele que é fiel nas pequenas e grandes coisas, as quais são colocadas sobre sua responsabilidade (cf. Lc 16,10). Também para ser discípulo é preciso que este ame a Deus como único Senhor (cf. Lc 16,13). O dinheiro pode ser cultuado como um deus (ídolo) com muitos altares erguidos por todos os lugares, pode ser adorado e confundir o homem na busca do bem maior de sua existência, que é o sentido da sua vida e seu papel no mundo.

O profeta Amós nos apresenta a situação de corrupção que já existia desde os tempos antigos: “E o sábado, para darmos pronta saída ao trigo, para diminuir medidas, aumentar pesos, e adulterar balanças, dominar os pobres com dinheiro e os humildes com um par de sandálias, e para pôr à venda o refugo do trigo?” (Am 5b-6). Parece que o nosso mundo não mudou. Sempre existiu esta luta entre os filhos das trevas e os filhos da luz.

Hoje temos tantas situações parecidas com o que apresenta Amós, pois as fraudes comerciais, políticas e administrativas são visíveis. Nem sempre o dinheiro é usado a serviço das necessidades básicas e concretização dos direitos os quais as leis nacionais e internacionais exigem que os governantes devam cumpri-las.

Também fiquemos atentos ao que nos ensina São Paulo, na sua primeira carta a Timóteo: “Antes de tudo, recomendo que se façam preces e orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens; pelos que governam e por todos que ocupam altos cargos, a fim de que possamos levar uma vida tranquila e serena, com toda piedade e dignidade. Isto é bom e agradável a Deus, nosso Salvador; ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade.” (1Tm 2,1-4). A nossa oração pelos que nos governam e o sincero propósito de crescermos na comunhão, na verdade e na honestidade, nos ajudará na construção do Reino de Deus, através do anúncio da Boa-Nova (Evangelho) ao mundo.

 

 

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⇒ POESIA ⇐

Servir somente ao Senhor

Mundo de tantos altares,
Onde o dinheiro é adorado,
Onde tantos estão focados,
Nas coisas materiais,
Tornando-se desiguais.
Como Deus será amado?

Jesus nosso Salvador,
É quem nos traz a lição:
Vivermos sem ambição,
As coisas não adorar,
Mas somente administrar,
Para o bem do nosso irmão.

Servir somente ao Senhor,
Como único e verdadeiro,
Não sendo interesseiro,
Sem o outro corromper,
Mas a ele oferecer,
O Amor como primeiro.

Ser fiel no que lhe cabe,
Saber administrar,
Sem ao outro enganar
Viver com muito cuidado,
Para não ser condenado,
Quando Deus vier cobrar

Deus de amor Ressuscitado,
Curai nosso coração,
Pra não viver a ilusão,
De uma vida enganada,
Guia-nos na tua estrada,
Que nos leva a salvação.

Abençoai todos aqueles,
Que estão sempre a servir,
Amando sem oprimir,
Que sabem administrar,
O que Senhor lhe confiar,
E os irmãos vivem a unir.

Espírito Santo de amor,
Iluminai nosso viver,
Faz-nos esclarecer,
Cada passo desta estrada,
Nessa nossa caminhada,
Pois, o Céu queremos ver.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***