XXIII Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês da Bíblia – “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d) ⇐

 

Leituras: Is 35,4-7a; Sl 146(145); Tg 2,1-5; Mc 7,31-37

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Discípulos em Escuta e Missionários na Fala

Mc 7,31-37

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XXIII Domingo do Tempo Comum, do Ano B, nos motiva a contemplar a ação salvífica que quer curar nossas deficiências para que possamos escutar a Palavra e proclamar as maravilhas do Reino de Deus. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 7,31-37, passagem que está localizada no início da terceira parte do Evangelho segundo São Marcos, intitulada “Viagens de Jesus fora da Galileia”.

A Evangelho desta Liturgia apresenta Jesus em movimento, em território pagão – na região de Tiro e Sidônia –, numa peregrinação em meio aos homens e mulheres deste mundo. Aos seus pés trazem um surdo-mudo para ser curado, pois não ouvia e tinha dificuldade de falar. Jesus o separa da multidão, toca nos seus ouvidos e na língua. Em seguida proclama uma oração de súplica ao Pai. E aquele homem, que estava afastado da comunidade e por isso precisou ser carregado, agora escuta e fala – caminha com autonomia.

Com esta passagem, Jesus cumpre o que profetizou Isaías quando falou ao povo exilado na Babilônia, da esperança da Salvação que vem de Deus. Diz o profeta na primeira Leitura desta Liturgia: “Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 33,5).

Já na segunda leitura desta Liturgia, ainda é São Tiago quem exorta para que, na nossa fé em Jesus Cristo, não admitamos acepções de pessoas e que os herdeiros do Reino são os ricos na fé. Portanto não é Deus o promotor da exclusão, mas aqueles que, não querendo escutar o Senhor, ficam de fora da herança que Ele oferece.

Vivemos numa realidade poluída sonora e visualmente e sem o discernimento que a Palavra de Deus nos oferece podemos acabar como aquele pagão, surdo-mudo. É Cristo quem nos oferta a cura para que possamos escutar o chamado que nos leva à comunidade. E quando necessário Deus provê quem nos leve. Cristo quer que estejamos ao alcance dos sofredores, carentes do Pão e da Palavra e que estejamos disponíveis para abrir a boca para proclamar as maravilhas do Reino de Deus.

E neste mês da Bíblia, façamos um exercício do encontro com o Senhor para escutarmos o Espírito Santo na voz da Igreja, seja pela Eucaristia seja pela leitura diária da Bíblia. É pela constante escuta do que podemos permanecer firmes nos caminhos da vida e de justiça num mundo de sofrimento (cf. Dt 4,1-2.6-8). A Palavra de Deus precisa ser semeada no coração das pessoas, propiciando a cura do individualismo que se manifesta, muitas vezes, na avareza ou no consumismo.

Neste ano, a Igreja nos oferta o lema “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d), da Carta de São Paulo aos Gálatas, que é o livro escolhido para este mês. Rezamos para que possamos ser realizadores em nossa pessoa do lema de sermos um em Cristo, que possamos escutar e proclamar as maravilhas que nos foram deixadas pelo Pai, pelo Jovem Galileu e pelo outro Paráclito (cf. Jo 14,16). Peçamos à Virgem Maria que rogue por nós para que o seu “Sim” ao Pai, sua acolhida ao Espírito e a sua dedicação ao Filho sejam nutrientes para enfrentarmos os desafios e as tentações neste vale de lágrimas. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Efatá

 

Abri teu coração e os teus ouvidos,
À voz da Palavra que te liberta,
Também para a escuta do teu irmão,
Que grita em teu existir e te alerta,
Para o verdadeiro ser cristão.
*
Deixa que eu cure a tua surdez,
Para ouvires as Palavras agradáveis,
Que vem dos teus amados irmãos,
Em seus gestos sinceros e amáveis
E que fazem ressoar em teu coração.

*
Deixa que eu abra os teus lábios
Para proclamares a minha Glória,
Na partilha da Palavra e do Pão,
Na Ressurreição que é vitória,
Beleza da vida e da comunhão.

*
E convertido no teu ouvir e no teu falar,
Denunciarás as injustiças desta vida,
Proclamarás o amor em comunidade
Quando as pessoas todas reunidas
Buscarão a Paz e a Fraternidade.

*   *   *

 

Referência da imagem: J. Tissot (1836-1902), In brooklynmuseum.org.

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos quer proclamadores das maravilhas do Reino de Deus, ilumine o seu caminho!

XXI Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês Vocacional – Domingo da Vocação do Cristão Leigo ⇐

 

Leituras: Js 24,1-2a.15-17.18b; Sl 34(33); Ef 5,21-32; Jo 6,60-69

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Decidir com Quem Caminhar

Jo 6,60-69

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XXI Domingo do Tempo Comum, o quinto e último do “Discurso do Pão da Vida”(1), neste Ano de São José, nos motiva a decidir pelo dom da Vida Eterna. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 6,41-51.

A Igreja, com esta Liturgia da Palavra, nos motiva a ruminar sobre a nossa escolha diante do discurso que Jesus fez e faz sobre o Pão da vida. Até que ponto nos incomodamos com o que o Senhor nos fala pelo Santo Evangelho? Será que nos questionamos sobre nossa vida de cristãos batizados em nome do Senhor? Estamos dispostos a atravessar pela porta estreita (cf. Lc 13,22-30)?

O mundo nos incomoda e nos questiona a partir de nossas atitudes às vezes incoerentes, ou seja, vida vazia de testemunho. Conseguimos esconder muito pouco a incoerência das nossas falas e reflexões que brotam da escuta, nem sempre atenta, da Palavra. Por isso a caminhada com Jesus, a qual fizemos opção de vida (seja consagrada, ordenada ou leiga), precisa estar engajada num ministério.

Constatamos, no Evangelho desta Liturgia, o quanto foi duro, para os que já estavam no caminho de Jesus, ouvir seus critérios de adesão ao discipulado. Murmuraram e disseram: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo 6,60). Parece-nos que as palavras pronunciadas no seu discurso de Jesus soaram de forma muito pesada no coração de quem ouvia.

Mas podemos nos perguntar se aqueles “ouvintes” estavam mesmo escutando com o coração ou estavam escutando com seus interesses? Era para servir ou para serem servidos? E nós, o que respondemos hoje com a conclusão do Discurso do Pão da Vida?

Somente os que abraçaram de corpo e alma, mesmo com suas misérias, indignidades, carências, fraquezas, tal como os apóstolos, foram capazes de ouvir e professar a fé no Pão da vida. Mesmo aos “trancos e barrancos” seguiram em frente, mas decididos em continuar aprendendo com o Mestre, pois suas Palavras “são espírito e vida” (Jo 6,63). Com isso, podem levar a vida verdadeira e dá sentido ao caminhar dos seguidores, alimentar a fé dos que caminham em meio as alegrias e tristezas, dores e angústias…

Na primeira leitura desta Liturgia, a Igreja nos oferta o texto que narra a assembleia de Siquem (cf. Js 24,15). E mesmo o povo já seguindo o caminho de Deus, Josué motiva o povo a renovar a sua fé e fidelidade no Senhor Deus. Nossa vida também é assim, precisamos sempre renovar no encontro com a Palavra e com a Eucaristia, nossa fé em Jesus, Ressuscitado, pois fomos chamados através do Batismo a fazer parte do novo povo de Deus.

Na segunda leitura (cf. Ef 5,21-32) a Igreja serve uma passagem da Carta de São Paulo aos Efésios, que trata da vida doméstica dos cônjuges (casal que está debaixo do mesmo jugo, da mesma canga). O Apóstolo nos apresenta a experiência da vida matrimonial como um espelho da vida de Cristo com a Igreja. Nossa vida de cristãos deve ser marcada pelo amor e pela obediência, podemos dizer: submissão à Palavra de Cristo Esposo, que, por sua vez, entrega-se à obediência ao Pai, doa toda sua vida a favor da sua esposa, que é a Igreja.

E este quarto Domingo do Mês Vocacional é dedicado à vocação dos cristãos leigos e leigas. Rezemos para que os leigos sejam “sujeitos na ‘Igreja em saída’, a serviço do Reino”(2), tendo como referência a família de Nazaré, Jesus, Maria e José, exemplo de simplicidade, de fidelidade dos dons em vista do projeto de Deus e do amor ao próximo.

Peçamos a Deus, Pai santo, justo e misericordioso, que nos ilumine em nossa conversão diária, fruto de arrependimento, muitas vezes imperfeito, para que possamos renovar nossa escolha diariamente por Ele, como fez o Filho e guiados pelo Espírito Santo, que dá vida à carne, pois como nos motiva o salmista, possamos provar e ver o quão suave é o Senhor.

*   *   *
(1) Cf. BECKHÄUSER, Frei Alberto. O Ano Litúrgico: Com Reflexões Homiléticas para cada Solenidade, Domingo e Festa do Senhor. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 226.
(2) Tema do Ano do Laicato, promovido pela CNBB em 2017/2018, cujo lema foi “Sal da Terra e Luz do Mundo (Mt 5,13-14)”.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Escolher o Caminho

 

O Senhor nos pede uma escolha:
Caminhar com ele
Ou outro percurso seguir,
Mesmo já tendo iniciado o caminho,
Alguém pode desistir.
Perder-se em meio à multidão,
Seguir os desejos do coração,
E a Palavra da vida não mais ouvir.
*
O Senhor nos pede uma decisão,
Quando sua Palavra escutarmos,
E refletirmos e logo escolhermos,
Com Ele não mais caminharmos,
Sem Ele somos indignos até de mendigar,
Podemos seguir um ídolo e adorar,
E numa vida vazia mergulhamos.

*
E a quem podemos seguir, Senhor?
Se Tuas palavras são espírito e vida,
Pois não há outro Deus a adorar,
Somente em Ti, perdão e acolhida,
Tua palavra é o Santo Pão,
Teu Corpo e Sangue é comunhão,
Que se faz na comunidade reunida.


*   *   *

 

Referência da foto: David Shankbone (2007), In wikipedia.org

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Pão que nos leva à vida eterna, ilumine o seu caminho!

XIX Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês Vocacional – Domingo da Vocação para a Vida em Família ⇐
⇒ Semana Nacional da Família – tema “A Alegria do Amor da Família” ⇐
⇒ Dia dos Pais ⇐


 

Leituras: 1Rs 19,4-8; Sl 34(33); Ef 4,30-5,2; Jo 6,41-51

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Vencer os Murmúrios Contra o Senhor

Jo 6,41-51

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XIX Domingo do Tempo Comum, o terceiro do “Discurso do Pão da Vida”(1), nos motiva a manter a contemplação em Cristo como o Pão que nos leva à vida eterna e também combater as tentações que nos levam a murmurar contra o Senhor. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 6,41-51.

Como não fez mais milagres para alimentar as pessoas materialmente, os judeus agora murmuram contra Jesus, que, para eles, era apenas o filho do carpinteiro. A mensagem da salvação está diante deles, mas distante dos seus entendimentos. Somente uma compreensão além da carne traz o sentido completo do Pão do Céu. Os murmuradores fizeram como aqueles que viam o maná como um dom de Moisés e não de Deus.

Murmuram porque não escutaram, como nos disse o Senhor: “Ora, todo aquele que escutou o Pai e por ele foi instruído, vem a mim” (Jo 6,45). A escuta da Palavra, escrita e ensinada, nos revela aos poucos o mistério de Deus e as portas se abrem com a chave da oração – seja comunitária seja pessoal.

A Igreja nos ensina que a Missa é o momento por excelência da escuta, pois “é a ação de Cristo e do povo de Deus hierarquicamente ordenado, é o centro de toda a vida cristã…”(2). Toda vez, portanto, que o presidente da celebração diz “oremos” ou “orai, irmãos e irmãs…” é uma chave que recebemos. Não nos esqueçamos das preces, do Pai-Nosso, do canto de comunhão e do silêncio eucarístico.

Para acolher o Senhor, como o nosso Pão da Vida, necessitamos da experiência do silêncio, em contraste com o murmúrio que luta contra o projeto de amor de Jesus. E nós? Será que também não murmuramos em nosso íntimo contra o Verbo de Deus? Como está a nossa escuta e a nossa adesão ao Chamado?

A primeira leitura desta Liturgia nos motiva a contemplar a vida dos profetas de Deus. Elias, um dos melhores exemplos do profetismo do Antigo Testamento, está triste e com sinceridade diante de Deus pede a morte e diz: “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida, pois não sou melhor que meus pais.” (1Rs 19,4). Mas Deus impede a morte de Elias e ainda providencia alimento para que ele prossiga.

Quantas vezes nos sentimos, como o profeta Elias, tomados de angústia e cheio de dúvidas em continuar a caminhada? Mas Elias sabia que Deus caminhava com ele. E nós devemos ter a mesma fé quando estivermos desanimados. Quando isso acontecer devemos buscar em Deus o nosso alimento e o sentido da nossa vida e da nossa caminhada. Como reza a belíssima letra da saudosa Ir. Míria: “Levanta-te e come, levanta-te e come! / Que o caminho é longo! Caminho longo! (…) / Te faço caminhar, vale e monte atravessar / Pela Eucaristia, Eucaristia!”.(3)

São Paulo, na segunda leitura desta Liturgia, nos motiva para que a nossa fraternidade seja permeada pela bondade, pelo amor e pela concórdia (cf. Ef 4,32). Viver no amor de Cristo é a entrega na mansidão em contraste com a rebeldia, a amargura, a cólera e as murmurações. Os que buscam em Cristo o Pão da vida devem alimentar-se de bondade e da alegria evangélica.

E este segundo Domingo do Mês Vocacional é dedicado à vocação para a vida em família, Dia dos Pais e também início da Semana Nacional da Família, com o tema “A Alegria do Amor na Família”. Rezemos pela santificação das famílias e, consequentemente, de todos os lares.

Que possamos aprender do Evangelho que o próprio Cristo é o verdadeiro Pão que veio trazer a nossa salvação. Rezemos com o salmista: “Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, seu louvor estará sempre em minha boca. Minha alma se gloria no Senhor; que ouçam os humildes e se alegrem!” [Sl 34(33)].

*   *   *
(1) Cf. BECKHÄUSER, Frei Alberto. O Ano Litúrgico: Com Reflexões Homiléticas para cada Solenidade, Domingo e Festa do Senhor. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 226.
(2) Cf. IGMR, 16.
(3) “A Força da Eucaristia”, de Irmã Míria Kolling (*1939+2017).

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Por Que Murmuras?

 

Por que murmuras?
Ó Criatura,
Nesta caminhada,
Pelas estradas,
Cadê a ternura,
Por teu Senhor,
Que tem amor,
Que é o Alimento,
Na noite escura.
*
Por que reclamas?
Discípulo irmão,
Por mim chamado,
E enviado,
Sempre em missão,
Estou contigo,
Sou teu amigo,
Sempre ao teu lado,
Em comunhão.

*
Se estás cansado,
Eis minha mesa,
Pronta pra ti,
Para seguir,
Tens gentileza,
Há muita estrada,
Até a chegada.
Acorda e vai,
Sempre em firmeza.

*
O Santo Espírito,
Já te marcou,
Pra seres irmão,
Em comunhão.
Se há discórdias,
Vivei no amor,
Sem o rancor,
Buscai a Paz,
Sou teu Senhor.


*   *   *

 

Referência da foto: Sérgio Alexandre de Carvalho, In Pixabay

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Pão que nos leva à vida eterna, ilumine o seu caminho!

XVIII Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês Vocacional – Domingo da Vocação aos Ministérios Ordenados ⇐

 

Leituras: Ex 16,2-4.12-15; Sl 78(77); Ef 4,17.20-24; Jo 6,24-35

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Pão que nos Leva à Vida Eterna

Jo 6,25-35

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XVIII Domingo do Tempo Comum, o segundo Domingo do “Discurso do Pão da Vida”(1), nos motiva a contemplar Cristo como o Pão que nos leva à vida eterna. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 6,24-35.

Nesta Liturgia, Jesus fala à multidão sobre o Pão do Céu como um dom para a nossa salvação. A multidão desejava o pão material, isto é, que Jesus os proporcionasse uma vida fácil, mas o Senhor mostra que a experiência do Pão Divino é para saciar permanentemente. E Ele exorta: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará” (Jo 6,27).

Jesus oferece à multidão o Seu projeto de amor, onde todos se alimentam numa verdadeira fraternidade, onde há partilha e solidariedade. Na verdadeira caminhada com Cristo não há fome de sentido e nem de mesa vazia. Os cristãos são chamados, são desafiados a combater o consumismo que invade as consciências. E o Senhor nos diz que a grande obra que podemos fazer é crer verdadeiramente no Filho enviado pelo Pai (cf. Jo 6,29), que veio mostrar a Sua face e ensinar a todos a viverem como irmãos.

Desde o Antigo Testamento, como nos mostra a primeira leitura desta Liturgia, o envio do Pão do Céu é uma ação da pessoa do Pai e os que estavam no deserto junto a Moisés receberam o pão material (o maná), mas tiveram que aprender a confiar na Providência, quando receberam a ordem de não guardar para o outro dia (cf. Ex 16,4).

Quando vamos à Missa, devemos estar atentos a duas dimensões: a primeira é escutar a Palavra (escrita e ensinada) e receber a Eucaristia; a segunda é alimentar a fé para que a Providência de Deus atue em nossas vidas. Providência que é gratuita e não dependente de nossos merecimentos.

Agora devemos nos perguntar: O que buscamos na Missa? Estamos barganhando como aquela multidão que esperava um milagre para os problemas do dia a dia? E Jesus também pode nos perguntar: Porque me procuram? Porque buscam me encontrar? E nós, o que respondemos?

Na segunda leitura desta Liturgia, São Paulo nos exorta a nos revestirmos do homem novo (cf. Ef 4,17-24), criado à imagem de Deus, justo e santo. Trata-se de uma imagem marcada por atitudes que promovam a concórdia e fortaleçam a fé na Providência.

Portanto, irmãos e irmãs, o homem novo é aquele que se alimenta do Pão do Céu e quer ser sinal de confiança que o alimento (material e espiritual) vem do Céu. Por isso quando Jesus nos ensina a pedir o arroz com feijão de cada dia, nos fala de pão nosso e de Pai nosso (cf. Mt 6,9-15). Porque a fartura da mesa também é dada por Deus. Ele é a fonte onde encontramos a força material para labutarmos na vida. Ele é o Alimento e a Bebida plena que nos sacia abundantemente.

E neste primeiro Domingo do Mês Vocacional, dedicado ao ministério ordenado (Diáconos, Padres e Bispos), rezemos pela santificação e perseverança de todos aqueles que foram chamados e responderam ao sacramento da Ordem.

Ao sairmos do encontro com o Senhor, alimentados pela Palavra e pela Eucaristia, deveremos ir ao mundo como sinal de comunhão e de fraternidade nas realidades do cotidiano, social e comunitário. Que a Providência Divina derrame bênçãos sobre nossas necessidades, sejam materiais ou espirituais. E que busquemos sempre e primeiramente o Reino de Deus tendo a fé de que tudo o necessário nos será acrescentado (cf. Mt 6,33).

*   *   *
(1) Cf. BECKHÄUSER, Frei Alberto. O Ano Litúrgico: Com Reflexões Homiléticas para cada Solenidade, Domingo e Festa do Senhor. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 226.

 

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⇒ POESIA ⇐

O que Vem do Céu

 

Além do pão que vem da terra,
Que do trigo novo se faz grãos,
Plantado pelas mãos humanas,
Fruto do amor e da Criação,
Temos o Pão da eternidade,
Que nos traz a novidade,
Para a nossa salvação.
*
Pão que se dá na Palavra Santa,
Pelas letras do Livro Sagrado,
Que nos orienta para a caminhada,
Fazendo sempre nos sentir amados,
Que muda nossos comportamentos,
Que transforma nossos sentimentos,
Como pérola e tesouro encontrados.

*
Pão que se oferece para a vida nova,
Na Mesa de todos e bem preparada,
Onde todos se voltam para o Alimento,
Como irmãos felizes da mesma estrada,
E então, se alimentam e se saciam,
E depois para mundo todos anunciam,
Esse Pão nos leva a eterna morada.

*
Alimento e Bebida que nos realiza,
Que nos sacia perfeitamente,
Dando-nos o sentido mais completo,
Alimentando a nós, a Sua gente,
Configurando-nos ao Seu imenso amor,
Nosso Pão da Vida e Nosso Senhor
Força que nos faz seguir em frente.

*
Busquemos sempre por este Pão,
Nos caminhos da vida espiritual,
Mas, não deixemos de trabalhar,
Também pelo alimento material,
Porém, o Pão do Céu é a maior razão,
Que nos dá força na tribulação,
Para a nossa vida, é santo sinal.
*
Sejamos sinais da Eucaristia,
No mundo das contradições,
No cotidiano de nossa existência,
Na vida, nas várias situações,
Na luta pelas causas sociais,
Nas fomes de comida e espirituais,
Na justiça do Reino nos fazendo iguais.
*
Por isso Senhor nós te pedimos,
Alimente em nós a confiança,
Pela Providência do pão de cada dia,
Ensinai-nos o perdão em perseverança,
Perdoai-nos também as nossas ofensas,
Quebrai em nós toda a prepotência,
Para que brote a Paz e a Esperança.

 

*   *   *

 

Referência da foto: Philip Walenga, In Pixabay

 

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, como o Pão que nos leva à vida eterna, ilumine o seu caminho!

XVII Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

 Ano de São José (2020/2021) ⇐

 

Leituras: 2Rs 4,42-44; Sl 145(144); Ef 4,1-6; Jo 6,1-15

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Senhor nos Ensina a Guardar a Sobra

Jo 6,1-15

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XVII Domingo do Tempo Comum, nesta Ano de São José, nos motiva a contemplar a realização da verdadeira partilha que é o milagre da Multiplicação dos Pães que sacia a todos. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 6,1-15.

A partir deste Domingo e nos próximos quatro(1), sempre no Ano B, a Igreja nos oferta, como ápice da Mesa da Palavra, o chamado “Discurso do Pão da Vida”(2), quando seremos iluminados pelo Evangelho Segundo João.

Nesta Liturgia, Jesus atravessa o mar e é seguido pela multidão. Ao perceber que estão famintos, Jesus provoca um dos discípulos, Felipe, perguntando como resolver a falta de alimentos e é André quem apresenta um menino que tem cinco pães e dois peixes.

Podemos apresentar os paralelos entre o Antigo e o Novo Testamento, entre Jesus e Moisés: Jesus atravessa o mar da Galileia e Moisés também atravessou o mar Vermelho; Jesus é seguido por uma grande multidão como Moisés no deserto; há o milagre do pão como também o do maná. Porém há algo novo: enquanto Moisés era o condutor, Cristo é tudo – além de condutor, é a estrada e o destino, isto é, “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).

E se houver sobra, deve ser guardado e preservado para que outros participem da graça, pois o Pão da vida também deve ser fonte de alimento (pão nosso de cada dia) e de justiça e misericórdia (vem a nós o Vosso Reino). Na construção do Reino, há sempre alguém a oferecer algo que possa ser partilhado, mesmo numa multidão faminta. Em 2015, o Papa Francisco(3), na sua Encíclica Laudato Si’, em português “Louvado Sejas”, nos alertava que o mundo desperdiça “… aproximadamente um terço dos alimentos produzidos, e a comida que se desperdiça é como se fosse roubada da mesa do pobre” (LS, 50).

A Liturgia de hoje nos ensina que a Eucaristia é vivida quando o pão material é servido a todos, especialmente com aqueles que necessitam do arroz com feijão de cada dia, pois a fome pode ser resolvida quando forem aproveitadas as sobras da produção. Somos convidados a oferecer o que temos, como aquele menino da multidão, ou como na primeira leitura, obtida do Segundo [Livro dos] Reis que narra, “o homem (…), que veio trazendo em seu alforje para Eliseu (…), vinte pães de cevada e trigo novo dos primeiros frutos da terra” (2Rs 4,42).

A Eucaristia também deve nos conduzir à caridade, à justiça e à misericórdia de Deus e igualmente à fraternidade com o outro. Nesse sentido, nos afastamos da graça eucarística quando cedemos às tentações que ora incentiva o acúmulo de bens (avareza), ora o consumo desenfreado (consumismo), impossibilitando o milagre do pão ofertado a todos. Na construção do Reino de Deus não há mesas vazias do alimento material e espiritual, pois São Paulo, na segunda leitura desta Liturgia, nos exorta a vivermos como “um só Corpo e um só Espírito, porque há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos que reina sobre todos” (Ef 4,4-6).

Que o Senhor tenha compaixão de nós e que sejamos sinais de Cristo, como foi um menino que entregou tudo o que tinha (naquela ocasião, cinco pães e dois peixes – igual ao número sete, perfeição), proporcionando um milagre que alimentou abundantemente e perfeitamente a todos os que estavam sentados. Que Cristo sacie a fome de Pão e de Paz, pelo mundo afora.

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(1) Em 2021, o XX Domingo sede lugar à Solenidade da Assunção de Nossa Senhora.
(2) Cf. BECKHÄUSER, Frei Alberto. O Ano Litúrgico: Com Reflexões Homiléticas para cada Solenidade, Domingo e Festa do Senhor. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 226.
(3) Carta Encíclica Laudato Si’. Louvado Sejas: Sobre o Cuidado da Casa Comum. Brasília: Edições CNBB, 2015. Disponível: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html>. Acesso em: 28 jul. 2018.

 

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⇒ POESIA ⇐

A Partilha do Reino

 

A Palavra de Cristo fará nascer a partilha,
Quando os irmãos no amor, se abraçarem,
Quando acontecer a perfeita comunhão,
Como numa festa se confraternizarem.
E assim deixando que a vida possa pregar,
Numa ação viva de tudo a se partilhar,
E do amor fraterno se alimentarem.
*
Porque persiste a fome em nosso mundo?
Quando tantos se encontram na mesa do Senhor?
E se extasiam do encontro aconchegante,
Mas parece que no envio perde-se o ardor.
Volta-se pra casa com uma certa incoerência,
Porque não se deixa palavra habitar a consciência,
E o coração inflamar-se do Divino Amor.
*
O Senhor nos pede que vivamos a partilha,
E que as sobras dos Pães sejam guardados,
Para quando um novo encontro vir a acontecer,
E os irmãos famintos sejam também alimentados,
Porque o amor e a partilha grande milagre serão,
Para que não passe fome nem um dos irmãos,
Que ao Pão da vida eterna tenha procurado.
*
E assim o mundo será novo e muito diferente,
Quando compartilharmos carências e os sentimentos,
O mar da fome e da morte será atravessado,
Porque todos os homens serão alimentados,
E a sede também não terá mais vez,
Porque também não haverá a escassez,
E a casta água saciará todos os necessitados.
*
Hoje vamos à mesa santa do Senhor mais uma vez,
Para comermos o Pão do amor e da comunhão,
Para beber o Vinho da vida e da alegria,
No encontro que nos faz todos irmãos.
Para que sejamos para o mundo a fraternidade,
Testemunho que alerta toda a humanidade,
Para o caminho que nos leva à salvação.

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Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Pão que desceu do Céu para saciar a todos os que estão sentados, ilumine o seu caminho!

XVI Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

 Ano de São José (2020/2021) ⇐

 

Leituras: Jr 23,1-6; Sl 23(22); Ef 2,13-18; Mc 6,30-34

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Senhor nos Ensina sobre a Compaixão

Mc 6,30-34

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XVI Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplar o olhar pleno de compaixão do Bom Pastor com os cansados e necessitados da Misericórdia de Deus. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 6,30-34.

No Domingo passado, nós vivenciamos o envio apostólico. Hoje, temos os frutos do trabalho missionário. E os frutos deste trabalho missionário são as multidões que vieram atrás dos missionários, dos apóstolos, de Jesus, pois a missão parte de Jesus e retorna novamente a Ele.

Os missionários são os continuadores da mensagem do Reino, mas a missão necessita de oração e de deserto, para ruminar a experiência e manter-se atento ao horizonte. Agora, os discípulos continuarão com Jesus, vivendo de forma mais intensa o Seu ministério e a barca ainda será instrumento de pesca (o trabalho), mas também de travessia das margens (missão).

O evangelista Marcos nos apresenta ainda Jesus comovido: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor.” (Mc 6,34). A frase “ovelhas sem pastor” nos leva a pensar também nos dias de hoje, quando muitos rebanhos estão também sem pastoreio, pois muitos estão mais preocupados com estruturas normativas do que com o sofrimento das pessoas.

Neste sentido, o Papa Francisco nos alertava em 2013: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de agarrar às próprias seguranças”(1). E agora nos perguntamos: até que ponto nós [catequistas, ministros da Eucaristia, membros de pastorais, grupos jovens, animadores de comunidades, os diversos grupos da Igreja e inclusive os ministros ordenados (diáconos, padres e bispos)] carregamos no nosso coração a compaixão de Jesus pelo sofrimento das pessoas?

E o Evangelho de hoje nos leva a refletir, profundamente, sobre esta questão que é, por sinal, a missão principal da Igreja: de buscar, de cuidar e de alimentar as ovelhas que estão perdidas no mundo. Vivemos cada vez mais ocupados em dar conta da correria do dia a dia e impedimos que Deus nos proporcione condições para darmos atenção, cuidado e escuta ao próximo, ao outro…

Ainda falando sobre pastor e ovelhas, na primeira leitura desta Liturgia, o profeta Jeremias nos exorta: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem, diz o Senhor!” (Jr 23,1). Jeremias se refere aos governantes também como pastores, que devem cuidar do bem-estar, da justiça, dos direitos e da dignidade do povo. Olhando o cenário político do mundo, também vemos o descaso e a indiferença destes pastores escolhidos para servir o povo. Tanto Jeremias quanto Jesus fazem observações sobre o passado e deixam conselhos de sabedoria para o hoje.

Portanto, irmãos e irmãs, esta Liturgia nos motiva a ter novas atitudes diante do Evangelho. Em alguns momentos como responsáveis por um grupo e em outros como ovelhas necessitadas da compaixão do Bom Pastor, mas o que deve concretizar o Reino de Deus é o amor de Cristo que nos une.

São Paulo nos diz na segunda leitura desta Liturgia: “Ele veio anunciar a paz a vós que estáveis longe, e a paz aos que estavam próximos” (Ef 2,17). É importante a convicção de que somos todos irmãos em Cristo, sendo próximos ou não. Isso nos leva a participar da mesma mesa do Senhor, o Pastor Eterno, onde há a paz e a dignidade. Ele nos conduz por caminhos seguros [cf. Sl 23(22)] e iluminados por sua luz. Que Ele tenha compaixão de nós.

*   *   *
(1)
Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. A alegria do Evangelho: sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. 2013, nº 49. Disponível em: <https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html>. Acesso em: 21 jul. 2018.

 

*   *   *

⇒ POESIA ⇐

A Compaixão de Jesus

 

Coração que acolhe,
Que tem atenção,
Que dispensa o descanso,
Que dá proteção,
Que tem tanto amor,
Vê no povo o clamor,
Da sua missão.
*
Coração que contempla
Que vem abraçar,
Que olha as ovelhas,
Sem as desprezar
Pastor santo e forte,
Que expulsa a morte,
Para a vida ofertar.
*
Coração solidário,
Com olhar sempre atento,
Para os desprezados,
Sendo altar e alimento.
Aos que vem ao convívio,
Traz a todos o alívio,
Saciando os sedentos.
*
Coração que ensina,
E nos chama atenção,
Pelos tantos desprezos,
E ausência da missão,
De alguns dos pastores,
Que não são protetores,
Por faltar compaixão.
*
Coração que alerta,
Sobre o nosso egoísmo,
Quando buscamos bem-estar,
Somente no individualismo,
Esquecemos os sofridos,
Abandonamos os feridos,
E vivemos o cinismo.
*
Abrasai ó Senhor,
Nosso ser, nossa vida,
Tocai nossa memória,
Às vezes adormecida.
Ensinai a compaixão,
Para vivermos a ação,
Na missão assumida.

*   *   *

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, compassivo com os necessitados da Misericórdia de Deus, ilumine o seu caminho!

 

XV Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

 Ano de São José (2020/2021) ⇐

 

Leituras: Am 7,12-15; Sl 85(84); Ef 1,3-14; Mc 6,7-13

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Missão e a Profecia no Mundo

Mc 6,7-13

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XV Domingo do Tempo Comum do Ano B nos motiva a contemplar o enviado do Pai, Jesus, realizando o envio apostólico. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 6,7-13, passagem que compõe a segunda parte do Evangelho segundo São Marcos, intitulada “O Ministério de Jesus na Galileia”.

Assim, a Igreja nos motiva a sair do comodismo para, em missão, anunciar a Boa-Nova de Jesus. Nos ensina o Vaticano II, no decreto Ad Gentes (n. 2), documento sobre a Atividade missionária da Igreja, que “a Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na ‘missão’ do Filho e do Espírito Santo.”(1)

Jesus realiza o envio também numa passagem em Mateus (cf. 10,1-16) e duas em Lucas, sendo a primeira o envio dos Doze (cf. 9,1-6) e a segunda dos setenta e dois, à Sua frente (cf. 10,1-16).

A Igreja precisa dos missionários para crescer. Devemos está atentos e refletir com profundidade as orientações que o Senhor dá para os que Ele envia: primeiro envia dois a dois, para que ninguém esteja só e partilhem das alegrias e das tribulações que a caminhada poderá apresentar. Depois, que não levem bagagens (cf. Mc 6,8), para que as preocupações não os desviem do Anúncio, pois o desapego, fundamental para evangelizar com firmeza, também foi o modo como Deus se encarnou entre nós, seja no presépio em Belém, no exílio no desterro no Egito, nos quarenta dias no deserto ou no ministério em que sequer teve “onde reclinar a cabeça” (Lc 9,58).

A outra dimensão da missão é a acolhida dos missionários, que deve ser fundamentada no amor fraternal, mandamento de Cristo (cf. Jo 13,35). E se alguém não quiser os escutar deixem-nos e sigam em frente porque a adesão ao Senhor é livre (cf. Mc 6,10-11).

Para nossos dias, ser missionário é muito mais do que decorar versículos ou impor uma religião, um modo de vida. É no testemunho, nas atitudes e no desprendimento de nossas bagagens materiais, ideológicas e intelectuais. Por isso, o cristão é profeta no meio do povo, onde fala a verdade, denuncia a idolatria do poder e do acúmulo de riquezas, que oprimem e enganam o povo.

O profeta Amós, na primeira leitura desta Liturgia, recebe a vocação para anunciar a Palavra em Israel. E Amós era agricultor e vaqueiro próximo a Belém. Por isso é advertido por Amasias, sacerdote do templo e se incomoda com a verdade contra as ações do rei. Amós por sua vez é livre e poderá denunciar o que o poder político apronta naquele país contra o povo. O missionário é também profeta, ele deve está livre das atitudes que são convenientes a quem governa o povo de forma alienante e opressora.

Pensemos em nós cristãos de hoje: como se dá a nossa missão? Estamos coerentes com as orientações de Jesus que nos envia em missão? Nós somos bombardeados a todo instante por informações fúteis e carregadas das ideologias de um mundo sem empatia distante da misericórdia de Deus e apegado a conveniências humanas.

A Liturgia de hoje, portanto, nos motiva a viver a sintonia entre ser missionário e ser profeta. Devemos estar sempre focados no amor e no louvor a Deus, como nos fala São Paulo, na segunda leitura: “Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu.” (Ef 1,3). Que possamos crescer cada vez na esperança, na caridade e na fé no Ressuscitado que, pelo Batismo, nos resgata, nos santifica e nos envia como missionários e como profetas num mundo tão carente da mensagem do Jovem Galileu. Que Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeira das missões, e Nossa Senhora do Desterro, padroeira dos exilados e refugiados, intercedam por nós, para que o desapego não se confunda com a indiferença.

 

*   *   *

⇒ POESIA ⇐

Missão e Profecia

 

Ide missionários, dai a minha paz,
Vão onde precisam do meu amor,
Vão sem acúmulos e sem riquezas,
Ide trabalhar para expulsar a dor,
Caminhai atentos pelas estradas da vida,
Aceitai aqueles que te dão acolhida,
E não levai nada, nem traga rancor.

Ide profetas do amor divino,
Dispensem as tuas tantas bagagens,
Deixai o corpo leve para caminhar,
A verdade será a tua mensagem.
Pregai com tua discreta humildade,
Vivei na tua simplicidade,
Trazei em teu rosto a minha imagem.

Caminhai dois a dois por onde fores,
Para não caíres no egoísmo,
Partilhai as tristezas e as alegrias,
Expulsai de vós o individualismo,
Formai um povo em comunidade,
Plantai a paz e a fraternidade,
E não esquecei o teu profetismo.

Falai a todos sobre o Reino do Pai,
Testemunhai antes mesmo de falar,
Vivendo a entrega e o desapego,
Pois é a tua vida que deve falar,
Deixando que meu amor possa agir,
E que minha palavra possa fluir,
Sem tuas bagagens a sufocar.

Agindo assim tudo será novo,
Cuidado e compaixão em vós surgirá,
Mundo diferente nós todos veremos,
E o amor infinito então brotará.
Cessará a violência, virá comunhão,
As grades e cadeias ausentes estarão,
E a fraternidade todos a propagar.

 

*   *   *

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o enviado do Pai e que envia em missão, ilumine o seu caminho!

 

XIII Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Sb 1,13-15;2,23-24; Sl 30(29); 2Cor 8,7.9.13-15; Mc 5,21-43

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Mãos que Curam e Trazem à Vida

Mc 5,21-43

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XIII Domingo do Tempo Comum, neste Ano de São José, nos motiva a contemplar a revelação de Jesus que acolhe e cura duas mulheres, inaugurando, na sua ação ministerial, um espaço sem dominação masculina. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 5,21-43.

Nesta Liturgia, o evangelista Marcos apresenta Jesus noutra travessia, exercendo seu ministério salvífico junto à multidão que quer ouvi-lo, alcançar os milagres, ter uma experiência com a acolhida misericordiosa de Deus e a inclusão dos que estão doentes e marginalizados. Agora, Jesus é a causa de cura e de vida para duas mulheres.

A primeira é a hemorroíssa, mulher sem nome, conhecida apenas pela sua enfermidade, por isso impura e discriminada por 12 anos com fluxo de sangue. Pela sua fé, ela toca em Jesus e o próprio Jesus sente que alguém lhe tocou. Por isso Ele a acolhe e diz: “ ‘Filha, a tua fé te curou. Vai em paz e fica curada dessa doença” (Mc 5,34).

A segunda mulher, uma adolescente, também sem nome, mas filha de Jairo, chefe da sinagoga, que chega a ser considerada morta. Esta menina, pela fé de seu pai, que intercede por ela, recebe das mãos de Jesus a força da vida. E o texto diz: “Jesus pegou na mão da menina e disse (…) ‘Menina, levanta-te!’ Ela levantou-se imediatamente e começou a andar…” (Mc 5,41-42).

O tema da fé é apresentado mais uma vez por Jesus nos dois momentos (cf. Mc 5,34.36): tanto na hemorroíssa que vai a Jesus, quando Ele diz “tua fé te curou”; quanto em Jairo que leva Jesus à sua filha, Ele também diz “basta ter fé”.

É importante observarmos que, nos dois momentos, muitos ficam indiferentes ou hostis e duvidam de Jesus. No primeiro momento são os discípulos que duvidam dEle quando Jesus fala que alguém o tocou (cf. Mc 5,31). No segundo momento, na casa de Jairo, quando Jesus disse que a menina dormia, as pessoas caçoaram dele (cf. Mc 5,40).

No momento atual, em tempo de coronavírus, podemos verificar também as posturas de indiferença ou hostilidade com os sofrimentos e a carestia ou o descaso a respeito da solidariedade e do cuidado com a saúde e à vida das pessoas em situação de risco. Neste contexto podemos nos perguntar: como é a nossa atenção, como discípulos de Cristo, aos que buscam a nossa ajuda e o nosso cuidado? Como estou me comportando com relação aos enlutados, doentes e as diversas formas de tratamento, de imunização das pessoas do nosso país e do nosso mundo?

Esta Liturgia nos revela que o Senhor caminha conosco operando milagres da cura e de salvação, seja em meio à multidão, nas travessias da vida, nas nossas indiferenças, medos, desesperos, enfermidades, nos diversos sofrimentos. Deus quer que tenhamos fé nEle, buscando tocá-Lo quando recebemos a Eucaristia e nos deixando tocar por Ele na sua Palavra. Como nos ensinou o teólogo Royo Marín (*1913+2005), fomos feitos pelo Criador para sermos habitação dEle, mas Deus quer nossa decisão de que Ele faça morada em nós.(1)

O livro da Sabedoria, na primeira leitura desta Liturgia, nos ajuda neste entendimento de que fomos criados para a vida imperecível: “Deus criou o homem para a imortalidade e o fez à imagem de Sua própria natureza” (Sb 2,23). Em nós, Deus imprime sua natureza, Ele nos chama a participar de Sua realidade santa e eterna.

São Paulo, na segunda leitura desta Liturgia, nos exorta sobre a importância da fé e da caridade na experiência de filhos e irmãos em Cristo: “Como tendes tudo em abundância – fé, eloquência, ciência, zelo para tudo, e a caridade de que vos demos o exemplo – assim também procurai ser abundantes nesta obra de generosidade” (2Cor 8,7). Busquemos caminhar com o Senhor praticando a nossa fé no seu amor, vencendo a nossa indiferença pela ação do Espírito Santo.

***

(1) In MARÍN, Fr. Antonio Royo. O Grade Desconhecido: O Espírito Santo e seus dons. Campinas: Ecclesiae, 2016, p. 112.

***

⇒ POESIA ⇐

Mãos do Cuidado e da Salvação

 

Mãos que acolhem e curam,
Que trazem o toque da salvação,
Que nos seguram para nos levantar,
Que nos abençoa em nossa ação,
Mãos amáveis de Nosso Senhor,
Que pelo seu imenso amor,
Ensinam-nos o valor da compaixão.

E pela nossa fé no Deus da vida,
Pedimos as bênçãos do Senhor,
Que nos faz filhos amados e queridos,
Pelas mãos que portam o amor,
Que nossas mãos tragam ações do bem,
Paz, serenidade e carinho, também,
Quando na vida nos vem a dor!

Senhor que dignifica a vida humana,
Que se expõe a nós para ser tocado,
Em meio a grande multidão,
Por doenças e mortes, sufocados,
Curai-nos da indiferença e hostilidade,
Que nossas mãos tragam a fraternidade,
Fazei-nos filhos muito amados.

Que nossas mãos façam caridade,
No cuidado e amor ao irmão doente,
Que sigamos vivenciando a fé,
No Deus amoroso e onipotente,
Sejamos discípulos perseverantes,
Na travessia a todo instante,
Comunidade de povo crente!

Que as mãos do Senhor toquem os corações,
Que se endurecem pela arrogância,
E o nosso mundo seja contagiado,
Da Palavra santa, imensa bonança,
E a paz seja fruto da Eucaristia,
No lugar da tristeza a alegria,
E nas nações sempre a esperança!

 

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que é força de cura e de vida, ilumine o seu caminho! ***

 

XII Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: 38,1.8-11; Sl 107(106); 2Cor 5,14-17; Mc 4,35-41

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Jesus Está Conosco no Mar Revolto de nossa Vida

Mc 4,35-41

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XII Domingo nos motiva a contemplar a revelação de Jesus como Senhor dos fenômenos naturais, como o mar revolto. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 4,35-41, sequência do Domingo passado.

E no final daquela tarde Jesus está em travessia no Mar da Galileia, com alguns discípulos. Lá pelo meio do Mar a tempestade se aproxima, o barco vai se enchendo de água, mas Jesus está ali… tranquilo, dormindo. No desespero, os discípulos supõem que Jesus não se importa com eles. Serenamente, Jesus levanta e ordena à tempestade: “Silêncio! Cala-te!” (Mc 4,39). Em seguida a grande calmaria e acontece a pergunta de Jesus aos seus seguidores: “Porque sois tão medrosos? [em outra tradução: “Porque sois tão covardes?”] Ainda não tendes fé?” (Mc 4,40). Há um espanto por parte dos discípulos, pois ainda não reconheciam em Jesus a sua divindade e seu poder (cf. Mc 4,41).

E na travessia do mar de nossa vida, na nossa missão, devemos confiar que Jesus está no barco conosco. É Ele a origem da calma, da coragem e do equilíbrio diante das tribulações ou das tempestades existenciais, seja nos desafios da missão de cristão ou no cotidiano da nossa humanidade.

A verdade é que o desespero é uma das realidades humanas que nos afastam de Deus. E Ele, que nos dá três tipos de forças (ou virtudes) para estarmos sempre próximos, a Ele: a fé, a esperança e a caridade (cf. 1Cor 13,13). Em diversos momentos de nossa vida, quando no desespero, agimos como se Deus não caminhasse com a gente, como se estivesse dormindo. Somos fracos na fé, às vezes covardes quando nos escondemos atrás dos mais fracos e deixamos que o medo nos torne incapazes.

Mas o Apóstolo no exorta que a fé, que é a luz necessária para caminhar nas tribulações, é o fundamento da esperança (cf. Hb 11,1). Ser cristão, discípulo de Cristo, portanto, exige sacrifício, compromisso, entrega. Uma entrega à busca por uma profunda confiança na experiência do remar e do caminhar com Deus e seu projeto. Mais do que nossa própria humanidade (corajosa ou medrosa), é o próprio Espírito Santo, derramado em Pentecostes, quem nos alertará e nos preparará para os perigos nas tribulações e nas tempestades.

Por isso a importância do exercício da confiança no poder e na providência de Deus, tendo a certeza que Ele domina a tempestade, a ventania, o próprio mar. Ele é a rocha firme que fundamenta a fé e, consequentemente, a esperança. Como Jó, na primeira leitura desta liturgia, quando Deus, do meio da tempestade lhe pergunta: “quem fechou o mar com portas, quando ele jorrou com ímpeto do seio materno, quando eu lhe dava nuvens por vestes e névoas espessas por faixas” (Jó 38,8-9). Jó no seu sofrimento, pela fé, fez sua experiência do encontro com Deus, esse Deus que tem poder acima de qualquer tempestade.

Meditemos como está a vivência da nossa fé em meio às tempestades da nossa missão cristã, na nossa vocação assumida como pais de família, catequistas, ministros (ordinários ou extraordinários), coordenadores de pastorais e de movimentos – todos evangelizadores. Acolhamos o que nos diz São Paulo na segunda leitura desta Liturgia: “se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo.” (2Cor 5,17). Que a fé e a esperança sejam forças para estamos sempre próximos a Deus, remando e caminhando mesmo em meio às tempestades da nossa existência e da missão.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Com Jesus à Outra Margem

 

No caminhar desta vida terrestre,
Ou em meio ao mar das contradições,
Navegamos em meio às tempestades,
Nas águas fortes das agitações.
Para a outra margem remamos,
De encontro ao medo que enfrentamos,
Mas o Senhor acalma nossos corações.

Por que o medo nos vem tão forte?
Por quê de Cristo duvidar?
Se Ele caminha conosco tão presente,
E a gente vem a se apavorar?
Será por que ainda duvidamos,
Que somente no medo o buscamos?
Se Ele conosco sempre está?

E para atravessar esse mar bravio,
E para o outro lado ir com o Senhor,
Precisamos vencer a insegurança,
Que nos invade como um terror,
Precisamos também o outro aceitar,
Levando a palavra que vai salvar,
Com a força viva que é o amor.

E no nosso barco do qual estamos,
Outros irmãos estão remando,
Também com medo da tempestade,
Que no dia a dia vão enfrentado,
São tantos monstros a insistir,
Querendo a comunhão destruir,
Mas o Senhor está operando.

Então busquemos seguir em frente,
Tendo a certeza do Senhor presente,
Não somente na calmaria,
Mas na tempestade principalmente,
Porque Ele quer nosso seguimento,
Em cada dia, em cada momento,
Porquê é assim o discípulo crente.

E no hoje da grande embarcação,
Quando impera as contradições,
Quando não se confia mais na Providência,
Quando muitos navegam nas ilusões,
Os cristãos precisam firmes seguir,
Com Cristo presente a nos unir,
Vencendo o mar das decepções.

 

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que quer nosso seguimento, ilumine o seu caminho! ***

 

XI Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

*** Ano de São José (2020/2021) ***

 

Leituras: Ez 17,22-24; Sl 92(91); 2Cor 5,6-10; Mc 4,26-34

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

As Semente do Reino

Mc 4,26-34

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XI Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplar a mística do crescimento do Reino de Deus através das parábolas da semente. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 4,26-34.

Nesta Liturgia, o evangelista nos apresenta duas parábolas: a primeira é a da semente que germina por si só (cf. Mc 4,26-29) e a segunda é a do grão de mostarda (cf. Mc 4,30-32). As parábolas, ou comparações, era uma maneira de Jesus usar no seu ministério, na sua pregação para chegar aos ouvidos e aos corações do povo.

“O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (Mc 4,27). É o próprio Deus quem faz crescer o Reino. Muitas vezes não temos paciência e queremos colher os frutos ou mesmo interferir no processo que não compete a nós. É a mística, o segredo da parábola da semente que germina só. O que nos compete é a semeadura, espalhando a semente ou cuidando do terreno que poderá acolher a semente. Num mundo de tantos barulhos, a parábola da semente que germina só nos motiva a contemplar a vida fluir segundo os desígnios de Deus.

“O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra” (Mc 4,27). Esse crescimento acontece na simplicidade e aos poucos se expande como resultado de uma minúscula semente, produzindo muitos frutos. A Igreja, na diversidade de ministérios e pastorais (inclusive na dimensão social), faz o Reino acontecer no meio de nós.

Parecem pequenos certos gestos de acolhimento e de escuta, mas é isso que significa o grão de mostarda. São as visitas aos doentes, o cuidado com os mais frágeis e a atenção aos que precisam de oração. Como reza uma letra da saudosa Ir. Míria Kolling (*1939+2017), inspirada no poema de São João da Cruz: “pois ao entardecer do meu mortal viver serei julgado pelo amor!”. Sim, nós seremos julgados pelas sementes que espalhamos. O amor simples e humilde, às vezes pequeno como um grão de mostarda, germinará e fará crescer a árvore da existência regada pela força que vem de Deus.

Na primeira leitura desta Liturgia, a profecia de Ezequiel nos é revelada através de uma alegoria. “Eu mesmo tirarei um galho da copa do cedro, do mais alto de seus ramos arrancarei um broto e o plantarei sobre um monte alto e elevado. Vou plantá-lo sobre o alto monte de Israel” (Ez 17,22-23). Apesar da opressão babilônica, Deus renova a promessa de replantar na Terra Prometida e escolhe da cepa de Davi uma rama para a encarnação do Autor da Vida e fazer surgir um novo povo de Deus, que é a Igreja, fonte de libertação definitiva das amarras do mundo.

Na segunda leitura, São Paulo nos exorta a querer fazer parte do Reino. Diz o Apóstolo: “Por isso, também nos empenhamos em ser agradáveis a ele, quer estejamos no corpo, quer já tenhamos deixado essa morada.” (2Cor 5,9). Ser agradável a Deus é fazer a vontade de Deus na morada terrestre em virtude do céu. Com o salmista busquemos esperança pois “o justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados, nos átrios de meu Deus florescerão.” Busquemos o amor e a justiça de Deus e o resto acontecerá para o bem de todas as criaturas.

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Deus Faz Germinar e Crescer o Reino

 

Palavra que vem de mansinho,
Semeada pela mão do amor,
Que fecunda entre a noite e o dia,
Crescendo com a luz e o vigor,
Que aos poucos vai se espalhando,
E o mundo vai transformando,
Como árvore em seu esplendor.

Palavra, semente do Reino,
Que alimenta a missão,
Dos tantos semeadores,
Que vivem em constante ação,
Deixando Deus sempre agir,
Pra Boa-Nova se expandir,
E crescer a forte união.

Palavra que treina a espera,
Que vem ensinar a paciência,
Fazendo vencer a ansiedade,
E distrai a prepotência,
Gerando em nós a bondade,
E a força da fraternidade,
E o amor divina ciência.

Pequenas sementes do amor,
Nos gestos mais simples da vida,
Nas tantas ações em comum,
E nas propostas assumidas,
Nascendo os tantos projetos,
Que fazem o amor ser concreto,
E a paz ser reassumida.

O Verbo de Deus nos ensina,
O semear a caridade,
Pelos campos deste mundo,
Pra quem tem necessidade,
A plantarmos nos corações,
E espalhar pelas nações,
O bem com gratuidade.

Novo Rebento da aliança,
Cristo que o Reino anuncia,
Que vem e que cuida da gente,
Trazendo a paz e a harmonia,
Que vem trazer a nova vida,
A todos fazendo acolhida,
E nos brindando com a alegria.

 

 

***

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que revela a mística do crescimento do Reino de Deus, ilumine o seu caminho! ***