XXVI Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
50ª Edição do Mês da Bíblia – “Pois todos vós sois UM só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d) ⇐
Dia Nacional da Bíblia

 

Leituras: Nm 11,25-29; Sl 19(18); Tg 5,1-6; Mc 9,38-43.45.47-48

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Jesus nos Ensina a não Escandalizar os Pequeninos

Mc 9,38-43.45.47-48

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XXVI Domingo do Tempo Comum, Dia Nacional da Bíblia, nos motiva a cultivar, enquanto discípulos do Senhor, atitudes que nos santifique diante do mundo, mudando a nossa forma de pensar e o nosso modo de agir. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 9,38-43.45.47-48.

No Evangelho desta Liturgia, Jesus ainda está em Cafarnaum, mas ocultamente, pois continua preparando os discípulos para as consequências do discipulado. No entanto, João, em nome dos discípulos, quer proibir a ação milagrosa de alguém que estava expulsando demônios em nome de Jesus (cf. Mc 9,38), mas o Senhor adverte que fazer o bem não é um privilégio do Seu grupo e que, ao fazê-lo, também está a Seu favor (cf. Mc 9,40).

O tema da liberdade do Espírito de Deus também está presente na primeira leitura desta Liturgia. Moisés partilha o seu dom de profetizar com os setenta anciãos. Josué, discípulo de Moisés desde a juventude, cai também no mesmo erro de querer proibir a ação profética de Eldad e Medad por não estarem na Tenda. Mas Moisés, sabiamente, adverte que “quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhe concedesse o seu Espírito!” (Nm 11,29).

O evangelista Marcos ainda nos apresenta outros pontos que merecem meditação, como o de escandalizar os pequeninos, tais como os pobres, os órfãos, os sem-teto. Aos escandalosos, é melhor que se afoguem no mar com uma pedra de moinho no pescoço (cf. Mc 9,42). Outra preocupação é o cuidado com o uso do nosso corpo físico (tais como mãos, pés e olhos), pois o mau uso pode ser um caminho para o inferno. Para isso é preciso cortar atitudes que impedem a vivência do amor e a experiência da fraternidade.

As mãos devem servir para escrever uma história fundamentada na caridade e não na riqueza construída com a apropriação indevida dos salários dos pobres, como denuncia São Tiago na segunda leitura desta Liturgia (cf. Tg 5,4). Quanto ao , este deve nos levar para sermos caminheiros de Cristo, visitando os pobres, os doentes e todos os sofredores marcados pela exclusão social. Como missionários, somos chamados a vestir os pequeninos da dignidade de filhos de Deus.

Já os olhos também podem nos levar à perdição quando olhamos para o outro com inveja, com más intenções, com julgamento ou desprezo. Devemos perceber a necessidade que o outro tem da nossa atenção e, desta forma, enxergar as coisas boas do Reino de Deus ou a outras pessoas que não estão no nosso grupo e que fazem o bem. E como sementes do Verbo mostram a face de Cristo pela caridade.

E neste Dia Nacional da Bíblia continuemos o exercício do encontro com a Palavra de Deus pela Carta de São Paulo aos Gálatas. A passagem bíblica nos remete ao tema “A comunidade fraterna que semeia projeto do Espírito” em Gl 6,1-5.14-18, em que o Apóstolo apresenta recomendações práticas para que, numa vida em comunidade, sejamos solidários uns com os outros tendo como fundamento a fé em Cristo Jesus.

E neste último Domingo de setembro, quando celebramos o quinquagésimo Mês da Bíblia, aprendemos muito pela leitura e escuta da Palavra sobre o ser discípulo de Cristo, que precisa primeiramente estar aberto aos outros que também querem servir e amar. A caridade não uma propriedade única dos cristãos, outros fazem a experiência do amor ao próximo. Peçamos ao Espírito Santo forças para que, santificados, possamos amar e viver a comunhão em Cristo querendo ser, plenamente, discípulos do Senhor. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Mãos, Pés e Olhos para o Senhor


Dai-me Senhor,

Mãos que abençoam
E que promovam a paz,
Mãos que escrevem
Uma história de amor capaz,
Que seguram firme
Para não romper o cordão da ciranda,
E que sejam para Ti força
Para que o Reino se expanda.
*
Livra-me Senhor
Das mãos da violência,
Que provocam escândalo
E tantas carências…
Corta-me as atitudes
Que destroem a fraternidade
E que promovem
A morte e a desigualdade.

*
Dai-me Senhor,
Pés que caminham para missão
Que vão em busca
Do encontro com o irmão;
Livra-nos das veredas
Do mau caminho
E da tentação
De querer caminhar sozinho.

*
Abençoa os caminheiros
Da perseverança,
Pelas estradas da existência
Que às vezes cansa,
Pés que pisam o chão
Da comunidade em união
Que dançam na festa
Da paz e da comunhão.
*
Enfim
, ensina-nos
A enxergar um mundo novo,
Com o teu olhar
Na vida do povo,
Contemplando
As tristezas e alegrias,
Mas esperando o teu Reino
Como o novo dia.

 

*   *   *

 

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos motiva a cultivar atitudes que nos santifique diante do mundo, ilumine o seu caminho!

XXV Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês da Bíblia – “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d) ⇐

 

Leituras: Sb 2,12.17-20; Sl 54(53); Tg 3,16-4,3; Mc 9,30-37

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Aprendendo a Ser Servo e Acolhedor

Mc 9,30-37

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XXV Domingo do Tempo Comum, neste Ano de São José, nos motiva a contemplar Cristo que nos indica formas de como ser Servo sofredor, acolhedor. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 9,30-37.

O Evangelho desta Liturgia apresenta Jesus ainda em movimento, agora Ele atravessa a Galileia, ocultamente, pois queria estar a sós com os discípulos para melhor prepará-los. Neste texto do Evangelho segundo São Marcos, Jesus faz o segundo anúncio da sua paixão, morte e Ressurreição (cf. Mc 9,30-32). Mais uma vez, Ele surpreende os discípulos e os alerta das consequências do discipulado.

Num primeiro momento, pela segunda vez, Jesus fala sobre o seu calvário e também sobre a Ressurreição após três dias, mas os discípulos não conseguem entender, pois ainda estavam presos às honrarias humanas do costume judaico, além da importância do status de determinados cargos ou postos (cf. Mc 9,34).

Jesus prossegue dizendo que, para ser Seu discípulo, é preciso que primeiro seja aquele que serve, aquele que acolhe os pequeninos, pois quem acolhe uma criança em Seu nome na verdade está acolhendo o Pai do Céu (cf. Mc 9,37). Acolher e ajudar o indefeso e sem voz é acolher o próprio Deus.

Essa experiência de segui-lo terá suas consequências de sofrimento, mas Deus o defenderá e acontecerá o livramento de seus inimigos, como nos indica o livro da Sabedoria (cf. Sb 2,18), na primeira leitura desta Liturgia. Somente quem faz a opção e vive a radicalidade do seguimento em favor do Reino poderá entender esta dimensão da vida cristã.

Na segunda leitura desta Liturgia, São Tiago nos fala que a sabedoria que vem do alto será a base dos valores dos que vivem a fé autêntica em Jesus Cristo. Esta sabedoria é pura, pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimentos (cf. Tg 3,17).

Diante destes fundamentos bíblicos, iluminados pela Liturgia da Palavra, podemos refletir que seguir Jesus supõe estar na contramão das ideologias desumanas presentes no mundo pós-moderno, onde é valorizado aquele que chega primeiro, que se projeta, que quer aparecer diante de todos.

Outro aspecto do seguimento de Jesus é a consciência do sofrimento, é comprometer-se com o outro, é estar com Cristo na escuta, na oração, na Eucaristia e na vivência da humildade (ser o último, ser como criança). É se entregar com simplicidade nas mãos de Deus, tendo disposição para suportar as perseguições, as calúnias, as incompreensões. É não ter medo do mundo (cf. 1Jo 2,15-17) e ser consciente das consequências.

Sem a compreensão do verdadeiro seguimento, como caminho de redenção, fica difícil ser um seguidor autêntico de Cristo. Para isso, é preciso meditação constante e atenta à Palavra para não correr o risco de ficar preocupado com o supérfluo, com as honrarias, com o estrelismo, a popularidade, desaguando assim na inversão da proposta do Reino.

E neste mês da Bíblia, continuemos o exercício do encontro com a Palavra de Deus pela Carta aos Gálatas. A primeira passagem nos remete ao tema “A Filiação divina como cumprimento da Promessa” em Gl 4,1-7, em que São Paulo apresenta como Cristo, descendente de Abraão, nos liberta da escravidão, além de conter a primeira referência à Virgem Maria no Novo Testamento(1) (cf. Gl 4,4). A segunda passagem nos apresenta o tema “A Vida no Espírito conduz a Igreja à Missão universal” em Gl 5,13-26, em que o Apóstolo nos exorta a nos libertar dos instintos para servir os irmãos, evitando as obras da carne e alimentando as obras do Espírito, tais como a paz, a alegria, a paciência, a generosidade, o domínio de si mesmo, entre outras.

Por fim, e retomando o mistério pascal desta Liturgia, peçamos ao Espírito Santo que nos dê forças para que, santificados, possamos enfrentar as tentações e que nosso olhar esteja fixo nas “coisas do alto” (Cl 3,1), mas nossas obras falem onde quer que estejamos, sendo servos e acolhedores para que a luz do Reino dos Céus brilhe na realidade dos desprotegidos e desamparados. Amém.

*   *   *
(1) Cf. KRIEGER, Dom Murilo S. R. Com Maria, a Mãe de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2001, p. 44.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Viver no Senhor

Quero estar contigo, Senhor,
No silêncio do meu quarto interior;
Na escuta das Tuas Palavras cortantes;
Que me convertem a cada instante;
Fazendo-me olhar o mundo com Teu amor.
*
Quero caminhar contigo Senhor
Querendo ser servo no discipulado,
Querendo ser o seguidor menor,
Querendo ser o último e melhor,
Querendo ser como criança, por Ti amado…

*
Ajuda-me a colocar a toalha da caridade,
E caminhar num mundo de tanto sofridos,
Ensina-me a lavar os pés machucados,
Dos caminhantes sem rumo, às vezes chagados…
Que precisam de um lugar para serem acolhidos.

*
Aos poucos vou entendendo
A essência do discípulo em fidelidade:
Sendo servo, perseverando,
Ser sal, luz, se entregando,
Neste mundo carente de fraternidade.
*
Ser trigo triturado, esmagado…
Ou caído na terra para germinar,
Nos caminhos do mundo, frutificando,
Na vida também a cruz carregando,
Sendo semente do Reino em todo lugar.

 

*   *   *

 

Referência da imagem: “São Paulo Escrevendo Suas Epístolas” (Saint Paul Writing His Epistles) – 1618-1620, por Valentin de Boulogne, In wikipedia.org.

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos indica modos de como ser Servo sofredor, ilumine o seu caminho!

XXIV Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês da Bíblia – “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d) ⇐

 

Leituras: Is 50,5-9a; Sl 116(114-115); Tg 2,14-18; Mc 8,25-37

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Palavra de Vida Eterna em Nosso Caminho

Mc 8,25-37

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XXIV Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplar Cristo como Servo sofredor que nos indica o Caminho que requer consciência das consequências da nossa opção de discípulos. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 8,25-37.

A Igreja, com esta Liturgia, nos motiva a abraçarmos a Palavra, conscientes do Chamado para proclamarmos as maravilhas do Reino de Deus, da sua Justiça e da sua Misericórdia. O Espírito Santo continua abrindo nossos ouvidos para que possamos contemplar o Mistério divino que se abre a nós.

A Evangelho desta Liturgia apresenta Jesus novamente em movimento, agora em Cesareia de Felipe. No caminho, Jesus faz uma pergunta aos seus discípulos: “quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,29). Parece que, para alguns, não estava tão claro quem era Jesus. É de Pedro que sai a resposta inspirada: “Tu és o Messias” (Mc 8,29). Porém, em seguida Pedro cai pois ainda não compreende o novo messianismo que Jesus apresenta no primeiro anúncio da sua Paixão (cf. Mc 8,31-33).

Pedro e os outros discípulos ainda pensam segundo a realidade humana. Por isso Jesus não autoriza que saiam falando sobre suas obras, pois ainda não tinham consciência da verdadeira missão de Jesus e das suas consequências: sem honrarias, sem fama e sem status, que passa por fracassos, humilhações, dores e mortes. E Jesus conclui: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” (Mc 8,34). Quem estava ou está preparado para este projeto?

A primeira leitura desta Liturgia profetiza o sofrimento de Jesus como Servo sofredor: “Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba…” (Is 5,6). Em Jesus se cumprirá a profeta de Isaías, pois é o Servo sofredor que, por sua vez, vencerá a morte e trará a salvação para todos os homens.

O discipulado exige a prática do seguimento, como nos exorta São Tiago na segunda leitura. A fé sem obras é morta (cf. Tg 2,17). Implica, portanto, que a fé reflita numa realidade concreta. Por isso, o cristão precisa saber quem é Jesus: seu projeto de amor e sua postura diante do mundo. Ser cristão é ter vontade de carregar a cruz das incompreensões, das calúnias e do martírio. É defender a vida na luta contra o aborto, contra a eutanásia ou quando somos solidários com os que estão em abandono. Tudo isso, muitas vezes, exige do cristão firmeza e tranquilidade diante de uma realidade desconfortável e não uma fuga para ficar com a consciência tranquila.

E neste mês da Bíblia, e em consonância com o subsídio das Edições CNBB, continuemos o exercício do encontro com a Palavra de Deus pela Carta aos Gálatas. A primeira passagem nos remete ao tema “O Batismo nos torna filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus”(1), em Gl 3,23-29, onde está localizado texto inspirador do lema do Mês da Bíblia “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). A segunda passagem nos apresenta o tema “Chamados a construir a Unidade da Igreja”, em Gl 1,11-24, em que São Paulo expõe a experiência da sua vocação, do chamado de Deus e de sua resposta que resultou no apostolado que difundiu a Palavra de Deus para todos os povos do Império Romano.

Por fim, e retomando o tema desta Liturgia, somente entenderemos o verdadeiro sentido da cruz quando soubermos quem é Cristo Jesus e vivermos verdadeiramente sua fé, sua obra, sua cruz, sem fingimentos e sem falsidades, como nos motiva o salmista “Andarei na presença de Deus, junto a Ele, na terra dos vivos.” Amém.

*   *   *
(1) Os temas aqui apresentados são os dois primeiros encontros propostos no subsídio “Encontros Bíblicos para o Mês da Bíblia 2021 – Carta aos Gálatas”, Edições CNBB (versão eletrônica).

 

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⇒ POESIA ⇐

Quem És Tu Senhor?

 

Quem és Tu ó meu Senhor?
Que me chama pra Te seguir.
Que me trata como amigo…
Que me é sincero e não me enganas,
Pro Teu caminho assumir.
*
És Pão e Palavra que vem do alto,
Alimento dos que estão unidos,
Dos que sonham sempre juntos,
Dos que caminham na Tua escuta.
Dos que procuram abrigo.

*
Tens Palavras de vida eterna,
Mas também Palavras duras.
A Teus discípulos é exigente,
Porque é um mestre diferente,
E com amor nos segura.

*
Pra Te seguir conscientes,
As consequências teremos,
O Teu mandato é exigente.
Tem cruz e humilhações,
Mas a vida encontraremos.
*
O que fazer então, ó Senhor?
Para Te responder coerente,
A verdade do meu coração,
Que ainda Te desconhece,
Como age tanta gente.
*
Somente continuar Te seguindo,
No Teu caminho de ensinamento,
Nas Tuas perguntas curtas,
Que me incomodam, mas limpa
Todo o meu entendimento.

*   *   *

 

Referência da imagem: “Cristo aparecendo a São Pedro na Via Ápia” (Domine quo vadis?) – 1602, por Annibale Carracci, In wikipedia.org.

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos indica o Caminho que requer consciência das consequências da nossa opção de discípulos, ilumine o seu caminho!

XXIII Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês da Bíblia – “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d) ⇐

 

Leituras: Is 35,4-7a; Sl 146(145); Tg 2,1-5; Mc 7,31-37

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Discípulos em Escuta e Missionários na Fala

Mc 7,31-37

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XXIII Domingo do Tempo Comum, do Ano B, nos motiva a contemplar a ação salvífica que quer curar nossas deficiências para que possamos escutar a Palavra e proclamar as maravilhas do Reino de Deus. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 7,31-37, passagem que está localizada no início da terceira parte do Evangelho segundo São Marcos, intitulada “Viagens de Jesus fora da Galileia”.

A Evangelho desta Liturgia apresenta Jesus em movimento, em território pagão – na região de Tiro e Sidônia –, numa peregrinação em meio aos homens e mulheres deste mundo. Aos seus pés trazem um surdo-mudo para ser curado, pois não ouvia e tinha dificuldade de falar. Jesus o separa da multidão, toca nos seus ouvidos e na língua. Em seguida proclama uma oração de súplica ao Pai. E aquele homem, que estava afastado da comunidade e por isso precisou ser carregado, agora escuta e fala – caminha com autonomia.

Com esta passagem, Jesus cumpre o que profetizou Isaías quando falou ao povo exilado na Babilônia, da esperança da Salvação que vem de Deus. Diz o profeta na primeira Leitura desta Liturgia: “Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 33,5).

Já na segunda leitura desta Liturgia, ainda é São Tiago quem exorta para que, na nossa fé em Jesus Cristo, não admitamos acepções de pessoas e que os herdeiros do Reino são os ricos na fé. Portanto não é Deus o promotor da exclusão, mas aqueles que, não querendo escutar o Senhor, ficam de fora da herança que Ele oferece.

Vivemos numa realidade poluída sonora e visualmente e sem o discernimento que a Palavra de Deus nos oferece podemos acabar como aquele pagão, surdo-mudo. É Cristo quem nos oferta a cura para que possamos escutar o chamado que nos leva à comunidade. E quando necessário Deus provê quem nos leve. Cristo quer que estejamos ao alcance dos sofredores, carentes do Pão e da Palavra e que estejamos disponíveis para abrir a boca para proclamar as maravilhas do Reino de Deus.

E neste mês da Bíblia, façamos um exercício do encontro com o Senhor para escutarmos o Espírito Santo na voz da Igreja, seja pela Eucaristia seja pela leitura diária da Bíblia. É pela constante escuta do que podemos permanecer firmes nos caminhos da vida e de justiça num mundo de sofrimento (cf. Dt 4,1-2.6-8). A Palavra de Deus precisa ser semeada no coração das pessoas, propiciando a cura do individualismo que se manifesta, muitas vezes, na avareza ou no consumismo.

Neste ano, a Igreja nos oferta o lema “Pois todos vós sois UM em Cristo Jesus” (Gl 3,28d), da Carta de São Paulo aos Gálatas, que é o livro escolhido para este mês. Rezamos para que possamos ser realizadores em nossa pessoa do lema de sermos um em Cristo, que possamos escutar e proclamar as maravilhas que nos foram deixadas pelo Pai, pelo Jovem Galileu e pelo outro Paráclito (cf. Jo 14,16). Peçamos à Virgem Maria que rogue por nós para que o seu “Sim” ao Pai, sua acolhida ao Espírito e a sua dedicação ao Filho sejam nutrientes para enfrentarmos os desafios e as tentações neste vale de lágrimas. Amém.

 

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⇒ POESIA ⇐

Efatá

 

Abri teu coração e os teus ouvidos,
À voz da Palavra que te liberta,
Também para a escuta do teu irmão,
Que grita em teu existir e te alerta,
Para o verdadeiro ser cristão.
*
Deixa que eu cure a tua surdez,
Para ouvires as Palavras agradáveis,
Que vem dos teus amados irmãos,
Em seus gestos sinceros e amáveis
E que fazem ressoar em teu coração.

*
Deixa que eu abra os teus lábios
Para proclamares a minha Glória,
Na partilha da Palavra e do Pão,
Na Ressurreição que é vitória,
Beleza da vida e da comunhão.

*
E convertido no teu ouvir e no teu falar,
Denunciarás as injustiças desta vida,
Proclamarás o amor em comunidade
Quando as pessoas todas reunidas
Buscarão a Paz e a Fraternidade.

*   *   *

 

Referência da imagem: J. Tissot (1836-1902), In brooklynmuseum.org.

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos quer proclamadores das maravilhas do Reino de Deus, ilumine o seu caminho!

XXI Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês Vocacional – Domingo da Vocação do Cristão Leigo ⇐

 

Leituras: Js 24,1-2a.15-17.18b; Sl 34(33); Ef 5,21-32; Jo 6,60-69

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Decidir com Quem Caminhar

Jo 6,60-69

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XXI Domingo do Tempo Comum, o quinto e último do “Discurso do Pão da Vida”(1), neste Ano de São José, nos motiva a decidir pelo dom da Vida Eterna. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 6,41-51.

A Igreja, com esta Liturgia da Palavra, nos motiva a ruminar sobre a nossa escolha diante do discurso que Jesus fez e faz sobre o Pão da vida. Até que ponto nos incomodamos com o que o Senhor nos fala pelo Santo Evangelho? Será que nos questionamos sobre nossa vida de cristãos batizados em nome do Senhor? Estamos dispostos a atravessar pela porta estreita (cf. Lc 13,22-30)?

O mundo nos incomoda e nos questiona a partir de nossas atitudes às vezes incoerentes, ou seja, vida vazia de testemunho. Conseguimos esconder muito pouco a incoerência das nossas falas e reflexões que brotam da escuta, nem sempre atenta, da Palavra. Por isso a caminhada com Jesus, a qual fizemos opção de vida (seja consagrada, ordenada ou leiga), precisa estar engajada num ministério.

Constatamos, no Evangelho desta Liturgia, o quanto foi duro, para os que já estavam no caminho de Jesus, ouvir seus critérios de adesão ao discipulado. Murmuraram e disseram: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo 6,60). Parece-nos que as palavras pronunciadas no seu discurso de Jesus soaram de forma muito pesada no coração de quem ouvia.

Mas podemos nos perguntar se aqueles “ouvintes” estavam mesmo escutando com o coração ou estavam escutando com seus interesses? Era para servir ou para serem servidos? E nós, o que respondemos hoje com a conclusão do Discurso do Pão da Vida?

Somente os que abraçaram de corpo e alma, mesmo com suas misérias, indignidades, carências, fraquezas, tal como os apóstolos, foram capazes de ouvir e professar a fé no Pão da vida. Mesmo aos “trancos e barrancos” seguiram em frente, mas decididos em continuar aprendendo com o Mestre, pois suas Palavras “são espírito e vida” (Jo 6,63). Com isso, podem levar a vida verdadeira e dá sentido ao caminhar dos seguidores, alimentar a fé dos que caminham em meio as alegrias e tristezas, dores e angústias…

Na primeira leitura desta Liturgia, a Igreja nos oferta o texto que narra a assembleia de Siquem (cf. Js 24,15). E mesmo o povo já seguindo o caminho de Deus, Josué motiva o povo a renovar a sua fé e fidelidade no Senhor Deus. Nossa vida também é assim, precisamos sempre renovar no encontro com a Palavra e com a Eucaristia, nossa fé em Jesus, Ressuscitado, pois fomos chamados através do Batismo a fazer parte do novo povo de Deus.

Na segunda leitura (cf. Ef 5,21-32) a Igreja serve uma passagem da Carta de São Paulo aos Efésios, que trata da vida doméstica dos cônjuges (casal que está debaixo do mesmo jugo, da mesma canga). O Apóstolo nos apresenta a experiência da vida matrimonial como um espelho da vida de Cristo com a Igreja. Nossa vida de cristãos deve ser marcada pelo amor e pela obediência, podemos dizer: submissão à Palavra de Cristo Esposo, que, por sua vez, entrega-se à obediência ao Pai, doa toda sua vida a favor da sua esposa, que é a Igreja.

E este quarto Domingo do Mês Vocacional é dedicado à vocação dos cristãos leigos e leigas. Rezemos para que os leigos sejam “sujeitos na ‘Igreja em saída’, a serviço do Reino”(2), tendo como referência a família de Nazaré, Jesus, Maria e José, exemplo de simplicidade, de fidelidade dos dons em vista do projeto de Deus e do amor ao próximo.

Peçamos a Deus, Pai santo, justo e misericordioso, que nos ilumine em nossa conversão diária, fruto de arrependimento, muitas vezes imperfeito, para que possamos renovar nossa escolha diariamente por Ele, como fez o Filho e guiados pelo Espírito Santo, que dá vida à carne, pois como nos motiva o salmista, possamos provar e ver o quão suave é o Senhor.

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(1) Cf. BECKHÄUSER, Frei Alberto. O Ano Litúrgico: Com Reflexões Homiléticas para cada Solenidade, Domingo e Festa do Senhor. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 226.
(2) Tema do Ano do Laicato, promovido pela CNBB em 2017/2018, cujo lema foi “Sal da Terra e Luz do Mundo (Mt 5,13-14)”.

 

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⇒ POESIA ⇐

Escolher o Caminho

 

O Senhor nos pede uma escolha:
Caminhar com ele
Ou outro percurso seguir,
Mesmo já tendo iniciado o caminho,
Alguém pode desistir.
Perder-se em meio à multidão,
Seguir os desejos do coração,
E a Palavra da vida não mais ouvir.
*
O Senhor nos pede uma decisão,
Quando sua Palavra escutarmos,
E refletirmos e logo escolhermos,
Com Ele não mais caminharmos,
Sem Ele somos indignos até de mendigar,
Podemos seguir um ídolo e adorar,
E numa vida vazia mergulhamos.

*
E a quem podemos seguir, Senhor?
Se Tuas palavras são espírito e vida,
Pois não há outro Deus a adorar,
Somente em Ti, perdão e acolhida,
Tua palavra é o Santo Pão,
Teu Corpo e Sangue é comunhão,
Que se faz na comunidade reunida.


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Referência da foto: David Shankbone (2007), In wikipedia.org

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Pão que nos leva à vida eterna, ilumine o seu caminho!

Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês Vocacional – Domingo da Vocação para a Vida Religiosa ⇐

 

Leituras: Ap 11,19a;12,1-6a.10ab; Sl 45(44); 1Cor 15,20-27a; Lc 1,39-56

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Maria e Isabel: O Encontro da Profecia e da Salvação

Lc 1,39-56

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, neste Ano de São José, nos motiva a contemplar a assunção de Nossa Senhora ao Céu, de corpo e alma, sendo a primeira a participar da redenção e da glorificação celeste. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 1,39-56.

A Assunção de Nossa Senhora à glória celeste, de corpo e alma, é um dogma proclamado pela Igreja, ou seja, uma verdade de fé, e é o mais recente entre os quatro dogmas marianos, tendo sido proclamado pelo Papa Pio XII no ano de 1950(1). Os outros três dogmas marianos são: Maternidade Divina, Imaculada Conceição e Virgindade Perpétua.

No Evangelho desta Liturgia, o evangelista São Lucas nos apresenta a caminhada de fé da jovem Virgem rumo à casa de Isabel. A Virgem Maria, grávida por obra do Espírito Santo (cf. Mt 1,20), segue pelo longo percurso de 150 km rumo à Judeia e caminha, por entre as montanhas, para levar a caridade e a alegria à sua prima. Com esta missão, a Virgem, grávida do Salvador e vazia de interesses pessoais, dá mais um passo para torna-se Sacrário Vivo do Senhor.

A Virgem peregrina nos dá exemplo de como abraçar o Chamado e da firme decisão para crescer na resposta de fé, em atitude de amor e de doação. A Mãe do Salvador se doa de forma lenta e desinteressada, mas vai apressadamente para servir a outra grávida, portadora da profecia em seu ventre (João Batista), que preparará os caminhos do Enviado para que os homens o acolham, sejam curados, chamados e redimidos pelo sangue do Cordeiro.

A Esposa de São José, Maria, é a imagem perfeita da Igreja (cf. CIgC(2), nº 967), que é o Corpo Místico de Cristo (cf. CIgC, nº 787-810). Ela é também Sacrário Santo e vínculo de amor entre irmãos, é meio de salvação para todos que dela se aproximam para escutar e se alimentar do Senhor, sendo purificados pela fé e glorificados na dimensão celestial.

É ela a mulher “vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1), como nos fala a primeira leitura desta Liturgia. É ela porque tem no seu ventre o poder da vida e que esse poder vence o dragão da morte e devolve a vida verdadeira a todos os que acolhem os valores do Reino e querem a redenção e desejam participar da glória de Deus.

São Paulo nos diz que “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1Cor 15,20). Deus antecipa para a Mãe do Salvador a graça da ressurreição e da glorificação. Ela é a primeira cristã entre os que seguiram e seguem o Senhor. Por isso podemos chamá-la de Nossa Senhora da Glória, pois é a Rainha que se encontra à direita do Rei, com o esplendor da sua beleza e da sua santidade, assim como cantamos no salmo responsorial desta Liturgia [cf. Sl 45(44)].

Para que vivamos um testemunho coerente, precisamos olhar para Virgem Maria, que interioriza e pratica as virtudes na simplicidade do seu cotidiano. Estando atentos ao que Deus nos pede, vivendo a obediência à Palavra do Senhor, não desviaremos a nossa atenção das diversas situações do mundo, principalmente no que se refere a todos os sofredores. Enfim, nos esvaziando do nosso egoísmo para poder nos encher da graça de Deus.

E neste terceiro Domingo do Mês Vocacional, dedicado à vocação à vida consagrada (religiosos e religiosas, consagrados e consagradas, seculares), rezemos pelos que são chamados para a Evangelização missionária no mundo. Que possamos aprender da Virgem Maria sobre a escuta da Palavra, a obediência ao chamado de Deus, à vida de castidade, ao anúncio do Reino de Deus e a contemplação frutífera, através da oração perseverante.

 

*   *   *
(1) Através da constituição apostólica Munificentissimus Deus. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus.html>.
(2) Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html>.

 

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⇒ POESIA ⇐

A Primeira Crente da Nova Aliança

 

Aberta à voz de Deus e ao Seu chamado,
Grávida, a serviço da vida e da esperança,
Lá vai a caminheira para a santa missão,
Como primeira crente da nova Aliança.
*
Vai pelas montanhas entre o vento e a poeira,
Motivada pelo amor e levando a Força da Redenção,
Visita a sua prima Isabel, com gratuidade fraterna,
Levando um cântico de alegria, profecia e libertação.

*
Sua alma é engrandecida pelo amor supremo,
Pois a alegria é plena do Espírito Divino,
Porque o mundo a chamará Senhora Bendita,
Porque da sua boca nasce o Anúncio, por um belo hino.

*
É glorificada no Céu de corpo e alma,
Porque em Cristo és Mãe e Santificada,
Por isso o nosso culto a ti elevamos felizes,
Porque és a primeira cristã de vitória alcançada.
*
Rogai por nós, nos vales dos nossos sofrimentos,
Mãe da profecia e cheia do belo cantar de amor,
Ensina-nos a sermos vazios de nós e cheios da Graça,
Como servos atentos e santos de Nosso Senhor.


*   *   *

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos deu como Mãe a Virgem Maria – assunta ao Céu de corpo e alma, ilumine o seu caminho!

XIX Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês Vocacional – Domingo da Vocação para a Vida em Família ⇐
⇒ Semana Nacional da Família – tema “A Alegria do Amor da Família” ⇐
⇒ Dia dos Pais ⇐


 

Leituras: 1Rs 19,4-8; Sl 34(33); Ef 4,30-5,2; Jo 6,41-51

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Vencer os Murmúrios Contra o Senhor

Jo 6,41-51

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XIX Domingo do Tempo Comum, o terceiro do “Discurso do Pão da Vida”(1), nos motiva a manter a contemplação em Cristo como o Pão que nos leva à vida eterna e também combater as tentações que nos levam a murmurar contra o Senhor. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 6,41-51.

Como não fez mais milagres para alimentar as pessoas materialmente, os judeus agora murmuram contra Jesus, que, para eles, era apenas o filho do carpinteiro. A mensagem da salvação está diante deles, mas distante dos seus entendimentos. Somente uma compreensão além da carne traz o sentido completo do Pão do Céu. Os murmuradores fizeram como aqueles que viam o maná como um dom de Moisés e não de Deus.

Murmuram porque não escutaram, como nos disse o Senhor: “Ora, todo aquele que escutou o Pai e por ele foi instruído, vem a mim” (Jo 6,45). A escuta da Palavra, escrita e ensinada, nos revela aos poucos o mistério de Deus e as portas se abrem com a chave da oração – seja comunitária seja pessoal.

A Igreja nos ensina que a Missa é o momento por excelência da escuta, pois “é a ação de Cristo e do povo de Deus hierarquicamente ordenado, é o centro de toda a vida cristã…”(2). Toda vez, portanto, que o presidente da celebração diz “oremos” ou “orai, irmãos e irmãs…” é uma chave que recebemos. Não nos esqueçamos das preces, do Pai-Nosso, do canto de comunhão e do silêncio eucarístico.

Para acolher o Senhor, como o nosso Pão da Vida, necessitamos da experiência do silêncio, em contraste com o murmúrio que luta contra o projeto de amor de Jesus. E nós? Será que também não murmuramos em nosso íntimo contra o Verbo de Deus? Como está a nossa escuta e a nossa adesão ao Chamado?

A primeira leitura desta Liturgia nos motiva a contemplar a vida dos profetas de Deus. Elias, um dos melhores exemplos do profetismo do Antigo Testamento, está triste e com sinceridade diante de Deus pede a morte e diz: “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida, pois não sou melhor que meus pais.” (1Rs 19,4). Mas Deus impede a morte de Elias e ainda providencia alimento para que ele prossiga.

Quantas vezes nos sentimos, como o profeta Elias, tomados de angústia e cheio de dúvidas em continuar a caminhada? Mas Elias sabia que Deus caminhava com ele. E nós devemos ter a mesma fé quando estivermos desanimados. Quando isso acontecer devemos buscar em Deus o nosso alimento e o sentido da nossa vida e da nossa caminhada. Como reza a belíssima letra da saudosa Ir. Míria: “Levanta-te e come, levanta-te e come! / Que o caminho é longo! Caminho longo! (…) / Te faço caminhar, vale e monte atravessar / Pela Eucaristia, Eucaristia!”.(3)

São Paulo, na segunda leitura desta Liturgia, nos motiva para que a nossa fraternidade seja permeada pela bondade, pelo amor e pela concórdia (cf. Ef 4,32). Viver no amor de Cristo é a entrega na mansidão em contraste com a rebeldia, a amargura, a cólera e as murmurações. Os que buscam em Cristo o Pão da vida devem alimentar-se de bondade e da alegria evangélica.

E este segundo Domingo do Mês Vocacional é dedicado à vocação para a vida em família, Dia dos Pais e também início da Semana Nacional da Família, com o tema “A Alegria do Amor na Família”. Rezemos pela santificação das famílias e, consequentemente, de todos os lares.

Que possamos aprender do Evangelho que o próprio Cristo é o verdadeiro Pão que veio trazer a nossa salvação. Rezemos com o salmista: “Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, seu louvor estará sempre em minha boca. Minha alma se gloria no Senhor; que ouçam os humildes e se alegrem!” [Sl 34(33)].

*   *   *
(1) Cf. BECKHÄUSER, Frei Alberto. O Ano Litúrgico: Com Reflexões Homiléticas para cada Solenidade, Domingo e Festa do Senhor. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 226.
(2) Cf. IGMR, 16.
(3) “A Força da Eucaristia”, de Irmã Míria Kolling (*1939+2017).

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Por Que Murmuras?

 

Por que murmuras?
Ó Criatura,
Nesta caminhada,
Pelas estradas,
Cadê a ternura,
Por teu Senhor,
Que tem amor,
Que é o Alimento,
Na noite escura.
*
Por que reclamas?
Discípulo irmão,
Por mim chamado,
E enviado,
Sempre em missão,
Estou contigo,
Sou teu amigo,
Sempre ao teu lado,
Em comunhão.

*
Se estás cansado,
Eis minha mesa,
Pronta pra ti,
Para seguir,
Tens gentileza,
Há muita estrada,
Até a chegada.
Acorda e vai,
Sempre em firmeza.

*
O Santo Espírito,
Já te marcou,
Pra seres irmão,
Em comunhão.
Se há discórdias,
Vivei no amor,
Sem o rancor,
Buscai a Paz,
Sou teu Senhor.


*   *   *

 

Referência da foto: Sérgio Alexandre de Carvalho, In Pixabay

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Pão que nos leva à vida eterna, ilumine o seu caminho!

XVIII Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

⇒ Ano de São José (2020/2021) ⇐
Mês Vocacional – Domingo da Vocação aos Ministérios Ordenados ⇐

 

Leituras: Ex 16,2-4.12-15; Sl 78(77); Ef 4,17.20-24; Jo 6,24-35

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Pão que nos Leva à Vida Eterna

Jo 6,25-35

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XVIII Domingo do Tempo Comum, o segundo Domingo do “Discurso do Pão da Vida”(1), nos motiva a contemplar Cristo como o Pão que nos leva à vida eterna. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 6,24-35.

Nesta Liturgia, Jesus fala à multidão sobre o Pão do Céu como um dom para a nossa salvação. A multidão desejava o pão material, isto é, que Jesus os proporcionasse uma vida fácil, mas o Senhor mostra que a experiência do Pão Divino é para saciar permanentemente. E Ele exorta: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará” (Jo 6,27).

Jesus oferece à multidão o Seu projeto de amor, onde todos se alimentam numa verdadeira fraternidade, onde há partilha e solidariedade. Na verdadeira caminhada com Cristo não há fome de sentido e nem de mesa vazia. Os cristãos são chamados, são desafiados a combater o consumismo que invade as consciências. E o Senhor nos diz que a grande obra que podemos fazer é crer verdadeiramente no Filho enviado pelo Pai (cf. Jo 6,29), que veio mostrar a Sua face e ensinar a todos a viverem como irmãos.

Desde o Antigo Testamento, como nos mostra a primeira leitura desta Liturgia, o envio do Pão do Céu é uma ação da pessoa do Pai e os que estavam no deserto junto a Moisés receberam o pão material (o maná), mas tiveram que aprender a confiar na Providência, quando receberam a ordem de não guardar para o outro dia (cf. Ex 16,4).

Quando vamos à Missa, devemos estar atentos a duas dimensões: a primeira é escutar a Palavra (escrita e ensinada) e receber a Eucaristia; a segunda é alimentar a fé para que a Providência de Deus atue em nossas vidas. Providência que é gratuita e não dependente de nossos merecimentos.

Agora devemos nos perguntar: O que buscamos na Missa? Estamos barganhando como aquela multidão que esperava um milagre para os problemas do dia a dia? E Jesus também pode nos perguntar: Porque me procuram? Porque buscam me encontrar? E nós, o que respondemos?

Na segunda leitura desta Liturgia, São Paulo nos exorta a nos revestirmos do homem novo (cf. Ef 4,17-24), criado à imagem de Deus, justo e santo. Trata-se de uma imagem marcada por atitudes que promovam a concórdia e fortaleçam a fé na Providência.

Portanto, irmãos e irmãs, o homem novo é aquele que se alimenta do Pão do Céu e quer ser sinal de confiança que o alimento (material e espiritual) vem do Céu. Por isso quando Jesus nos ensina a pedir o arroz com feijão de cada dia, nos fala de pão nosso e de Pai nosso (cf. Mt 6,9-15). Porque a fartura da mesa também é dada por Deus. Ele é a fonte onde encontramos a força material para labutarmos na vida. Ele é o Alimento e a Bebida plena que nos sacia abundantemente.

E neste primeiro Domingo do Mês Vocacional, dedicado ao ministério ordenado (Diáconos, Padres e Bispos), rezemos pela santificação e perseverança de todos aqueles que foram chamados e responderam ao sacramento da Ordem.

Ao sairmos do encontro com o Senhor, alimentados pela Palavra e pela Eucaristia, deveremos ir ao mundo como sinal de comunhão e de fraternidade nas realidades do cotidiano, social e comunitário. Que a Providência Divina derrame bênçãos sobre nossas necessidades, sejam materiais ou espirituais. E que busquemos sempre e primeiramente o Reino de Deus tendo a fé de que tudo o necessário nos será acrescentado (cf. Mt 6,33).

*   *   *
(1) Cf. BECKHÄUSER, Frei Alberto. O Ano Litúrgico: Com Reflexões Homiléticas para cada Solenidade, Domingo e Festa do Senhor. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 226.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O que Vem do Céu

 

Além do pão que vem da terra,
Que do trigo novo se faz grãos,
Plantado pelas mãos humanas,
Fruto do amor e da Criação,
Temos o Pão da eternidade,
Que nos traz a novidade,
Para a nossa salvação.
*
Pão que se dá na Palavra Santa,
Pelas letras do Livro Sagrado,
Que nos orienta para a caminhada,
Fazendo sempre nos sentir amados,
Que muda nossos comportamentos,
Que transforma nossos sentimentos,
Como pérola e tesouro encontrados.

*
Pão que se oferece para a vida nova,
Na Mesa de todos e bem preparada,
Onde todos se voltam para o Alimento,
Como irmãos felizes da mesma estrada,
E então, se alimentam e se saciam,
E depois para mundo todos anunciam,
Esse Pão nos leva a eterna morada.

*
Alimento e Bebida que nos realiza,
Que nos sacia perfeitamente,
Dando-nos o sentido mais completo,
Alimentando a nós, a Sua gente,
Configurando-nos ao Seu imenso amor,
Nosso Pão da Vida e Nosso Senhor
Força que nos faz seguir em frente.

*
Busquemos sempre por este Pão,
Nos caminhos da vida espiritual,
Mas, não deixemos de trabalhar,
Também pelo alimento material,
Porém, o Pão do Céu é a maior razão,
Que nos dá força na tribulação,
Para a nossa vida, é santo sinal.
*
Sejamos sinais da Eucaristia,
No mundo das contradições,
No cotidiano de nossa existência,
Na vida, nas várias situações,
Na luta pelas causas sociais,
Nas fomes de comida e espirituais,
Na justiça do Reino nos fazendo iguais.
*
Por isso Senhor nós te pedimos,
Alimente em nós a confiança,
Pela Providência do pão de cada dia,
Ensinai-nos o perdão em perseverança,
Perdoai-nos também as nossas ofensas,
Quebrai em nós toda a prepotência,
Para que brote a Paz e a Esperança.

 

*   *   *

 

Referência da foto: Philip Walenga, In Pixabay

 

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, como o Pão que nos leva à vida eterna, ilumine o seu caminho!

XVII Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

 Ano de São José (2020/2021) ⇐

 

Leituras: 2Rs 4,42-44; Sl 145(144); Ef 4,1-6; Jo 6,1-15

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Senhor nos Ensina a Guardar a Sobra

Jo 6,1-15

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XVII Domingo do Tempo Comum, nesta Ano de São José, nos motiva a contemplar a realização da verdadeira partilha que é o milagre da Multiplicação dos Pães que sacia a todos. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 6,1-15.

A partir deste Domingo e nos próximos quatro(1), sempre no Ano B, a Igreja nos oferta, como ápice da Mesa da Palavra, o chamado “Discurso do Pão da Vida”(2), quando seremos iluminados pelo Evangelho Segundo João.

Nesta Liturgia, Jesus atravessa o mar e é seguido pela multidão. Ao perceber que estão famintos, Jesus provoca um dos discípulos, Felipe, perguntando como resolver a falta de alimentos e é André quem apresenta um menino que tem cinco pães e dois peixes.

Podemos apresentar os paralelos entre o Antigo e o Novo Testamento, entre Jesus e Moisés: Jesus atravessa o mar da Galileia e Moisés também atravessou o mar Vermelho; Jesus é seguido por uma grande multidão como Moisés no deserto; há o milagre do pão como também o do maná. Porém há algo novo: enquanto Moisés era o condutor, Cristo é tudo – além de condutor, é a estrada e o destino, isto é, “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6).

E se houver sobra, deve ser guardado e preservado para que outros participem da graça, pois o Pão da vida também deve ser fonte de alimento (pão nosso de cada dia) e de justiça e misericórdia (vem a nós o Vosso Reino). Na construção do Reino, há sempre alguém a oferecer algo que possa ser partilhado, mesmo numa multidão faminta. Em 2015, o Papa Francisco(3), na sua Encíclica Laudato Si’, em português “Louvado Sejas”, nos alertava que o mundo desperdiça “… aproximadamente um terço dos alimentos produzidos, e a comida que se desperdiça é como se fosse roubada da mesa do pobre” (LS, 50).

A Liturgia de hoje nos ensina que a Eucaristia é vivida quando o pão material é servido a todos, especialmente com aqueles que necessitam do arroz com feijão de cada dia, pois a fome pode ser resolvida quando forem aproveitadas as sobras da produção. Somos convidados a oferecer o que temos, como aquele menino da multidão, ou como na primeira leitura, obtida do Segundo [Livro dos] Reis que narra, “o homem (…), que veio trazendo em seu alforje para Eliseu (…), vinte pães de cevada e trigo novo dos primeiros frutos da terra” (2Rs 4,42).

A Eucaristia também deve nos conduzir à caridade, à justiça e à misericórdia de Deus e igualmente à fraternidade com o outro. Nesse sentido, nos afastamos da graça eucarística quando cedemos às tentações que ora incentiva o acúmulo de bens (avareza), ora o consumo desenfreado (consumismo), impossibilitando o milagre do pão ofertado a todos. Na construção do Reino de Deus não há mesas vazias do alimento material e espiritual, pois São Paulo, na segunda leitura desta Liturgia, nos exorta a vivermos como “um só Corpo e um só Espírito, porque há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos que reina sobre todos” (Ef 4,4-6).

Que o Senhor tenha compaixão de nós e que sejamos sinais de Cristo, como foi um menino que entregou tudo o que tinha (naquela ocasião, cinco pães e dois peixes – igual ao número sete, perfeição), proporcionando um milagre que alimentou abundantemente e perfeitamente a todos os que estavam sentados. Que Cristo sacie a fome de Pão e de Paz, pelo mundo afora.

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(1) Em 2021, o XX Domingo sede lugar à Solenidade da Assunção de Nossa Senhora.
(2) Cf. BECKHÄUSER, Frei Alberto. O Ano Litúrgico: Com Reflexões Homiléticas para cada Solenidade, Domingo e Festa do Senhor. Petrópolis: Vozes, 2016. p. 226.
(3) Carta Encíclica Laudato Si’. Louvado Sejas: Sobre o Cuidado da Casa Comum. Brasília: Edições CNBB, 2015. Disponível: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html>. Acesso em: 28 jul. 2018.

 

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⇒ POESIA ⇐

A Partilha do Reino

 

A Palavra de Cristo fará nascer a partilha,
Quando os irmãos no amor, se abraçarem,
Quando acontecer a perfeita comunhão,
Como numa festa se confraternizarem.
E assim deixando que a vida possa pregar,
Numa ação viva de tudo a se partilhar,
E do amor fraterno se alimentarem.
*
Porque persiste a fome em nosso mundo?
Quando tantos se encontram na mesa do Senhor?
E se extasiam do encontro aconchegante,
Mas parece que no envio perde-se o ardor.
Volta-se pra casa com uma certa incoerência,
Porque não se deixa palavra habitar a consciência,
E o coração inflamar-se do Divino Amor.
*
O Senhor nos pede que vivamos a partilha,
E que as sobras dos Pães sejam guardados,
Para quando um novo encontro vir a acontecer,
E os irmãos famintos sejam também alimentados,
Porque o amor e a partilha grande milagre serão,
Para que não passe fome nem um dos irmãos,
Que ao Pão da vida eterna tenha procurado.
*
E assim o mundo será novo e muito diferente,
Quando compartilharmos carências e os sentimentos,
O mar da fome e da morte será atravessado,
Porque todos os homens serão alimentados,
E a sede também não terá mais vez,
Porque também não haverá a escassez,
E a casta água saciará todos os necessitados.
*
Hoje vamos à mesa santa do Senhor mais uma vez,
Para comermos o Pão do amor e da comunhão,
Para beber o Vinho da vida e da alegria,
No encontro que nos faz todos irmãos.
Para que sejamos para o mundo a fraternidade,
Testemunho que alerta toda a humanidade,
Para o caminho que nos leva à salvação.

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Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Pão que desceu do Céu para saciar a todos os que estão sentados, ilumine o seu caminho!

XVI Domingo do Tempo Comum, Ano B, São Marcos

 

 Ano de São José (2020/2021) ⇐

 

Leituras: Jr 23,1-6; Sl 23(22); Ef 2,13-18; Mc 6,30-34

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Senhor nos Ensina sobre a Compaixão

Mc 6,30-34

 

Meus irmãos e irmãs, o mistério pascal do XVI Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplar o olhar pleno de compaixão do Bom Pastor com os cansados e necessitados da Misericórdia de Deus. E o Evangelho desta Liturgia está em Mc 6,30-34.

No Domingo passado, nós vivenciamos o envio apostólico. Hoje, temos os frutos do trabalho missionário. E os frutos deste trabalho missionário são as multidões que vieram atrás dos missionários, dos apóstolos, de Jesus, pois a missão parte de Jesus e retorna novamente a Ele.

Os missionários são os continuadores da mensagem do Reino, mas a missão necessita de oração e de deserto, para ruminar a experiência e manter-se atento ao horizonte. Agora, os discípulos continuarão com Jesus, vivendo de forma mais intensa o Seu ministério e a barca ainda será instrumento de pesca (o trabalho), mas também de travessia das margens (missão).

O evangelista Marcos nos apresenta ainda Jesus comovido: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor.” (Mc 6,34). A frase “ovelhas sem pastor” nos leva a pensar também nos dias de hoje, quando muitos rebanhos estão também sem pastoreio, pois muitos estão mais preocupados com estruturas normativas do que com o sofrimento das pessoas.

Neste sentido, o Papa Francisco nos alertava em 2013: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de agarrar às próprias seguranças”(1). E agora nos perguntamos: até que ponto nós [catequistas, ministros da Eucaristia, membros de pastorais, grupos jovens, animadores de comunidades, os diversos grupos da Igreja e inclusive os ministros ordenados (diáconos, padres e bispos)] carregamos no nosso coração a compaixão de Jesus pelo sofrimento das pessoas?

E o Evangelho de hoje nos leva a refletir, profundamente, sobre esta questão que é, por sinal, a missão principal da Igreja: de buscar, de cuidar e de alimentar as ovelhas que estão perdidas no mundo. Vivemos cada vez mais ocupados em dar conta da correria do dia a dia e impedimos que Deus nos proporcione condições para darmos atenção, cuidado e escuta ao próximo, ao outro…

Ainda falando sobre pastor e ovelhas, na primeira leitura desta Liturgia, o profeta Jeremias nos exorta: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem, diz o Senhor!” (Jr 23,1). Jeremias se refere aos governantes também como pastores, que devem cuidar do bem-estar, da justiça, dos direitos e da dignidade do povo. Olhando o cenário político do mundo, também vemos o descaso e a indiferença destes pastores escolhidos para servir o povo. Tanto Jeremias quanto Jesus fazem observações sobre o passado e deixam conselhos de sabedoria para o hoje.

Portanto, irmãos e irmãs, esta Liturgia nos motiva a ter novas atitudes diante do Evangelho. Em alguns momentos como responsáveis por um grupo e em outros como ovelhas necessitadas da compaixão do Bom Pastor, mas o que deve concretizar o Reino de Deus é o amor de Cristo que nos une.

São Paulo nos diz na segunda leitura desta Liturgia: “Ele veio anunciar a paz a vós que estáveis longe, e a paz aos que estavam próximos” (Ef 2,17). É importante a convicção de que somos todos irmãos em Cristo, sendo próximos ou não. Isso nos leva a participar da mesma mesa do Senhor, o Pastor Eterno, onde há a paz e a dignidade. Ele nos conduz por caminhos seguros [cf. Sl 23(22)] e iluminados por sua luz. Que Ele tenha compaixão de nós.

*   *   *
(1)
Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. A alegria do Evangelho: sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. 2013, nº 49. Disponível em: <https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html>. Acesso em: 21 jul. 2018.

 

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⇒ POESIA ⇐

A Compaixão de Jesus

 

Coração que acolhe,
Que tem atenção,
Que dispensa o descanso,
Que dá proteção,
Que tem tanto amor,
Vê no povo o clamor,
Da sua missão.
*
Coração que contempla
Que vem abraçar,
Que olha as ovelhas,
Sem as desprezar
Pastor santo e forte,
Que expulsa a morte,
Para a vida ofertar.
*
Coração solidário,
Com olhar sempre atento,
Para os desprezados,
Sendo altar e alimento.
Aos que vem ao convívio,
Traz a todos o alívio,
Saciando os sedentos.
*
Coração que ensina,
E nos chama atenção,
Pelos tantos desprezos,
E ausência da missão,
De alguns dos pastores,
Que não são protetores,
Por faltar compaixão.
*
Coração que alerta,
Sobre o nosso egoísmo,
Quando buscamos bem-estar,
Somente no individualismo,
Esquecemos os sofridos,
Abandonamos os feridos,
E vivemos o cinismo.
*
Abrasai ó Senhor,
Nosso ser, nossa vida,
Tocai nossa memória,
Às vezes adormecida.
Ensinai a compaixão,
Para vivermos a ação,
Na missão assumida.

*   *   *

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, compassivo com os necessitados da Misericórdia de Deus, ilumine o seu caminho!