Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos pequenos e médios empreendedores ⇐
⇒ Mês Vocacional – 3º Domingo: pela vocação à vida consagrada ⇐

 

Leituras da Missa da Véspera: 1Cr 15,3-4.15-16;16,1-2; Sl 131(132),6-7.9-10.13-14 (R. 8); 1Cor 15,54-57; Lc 11,27-28
Leituras da Missa do Dia: Ap 11,19a;12,1.3-6a.10ab; Sl 44(45),10bc.11.12ab.16 (R. 10b); 1Cor 15,20-27a; Lc 1,39-56

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Maria e Isabel: O Encontro da Profecia e da Salvação

Lc 1,39-56

Meus irmãos e irmãs, neste terceiro Domingo do mês vocacional em que refletimos e rezamos pela vocação à vida consagrada, celebramos com muito júbilo a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Esta Liturgia nos motiva a contemplar a assunção de Nossa Senhora ao Céu, de corpo e alma, sendo a primeira a participar da redenção e da glorificação celeste. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 1,39-56.

A Assunção de Nossa Senhora à glória celeste, de corpo e alma, é um dogma proclamado pela Igreja, ou seja, uma verdade de fé, e é o mais recente entre os quatro dogmas marianos, tendo sido proclamado pelo Papa Pio XII em de 1950(1). Os outros três dogmas marianos são: Maternidade Divina, Imaculada Conceição e Virgindade Perpétua.

No Evangelho desta Liturgia, o evangelista São Lucas nos apresenta a caminhada de fé da jovem Virgem rumo à casa de Isabel. A Virgem Maria, grávida por obra do Espírito Santo (cf. Mt 1,20), segue pelo longo percurso de 150 km rumo à Judeia e caminha, por entre as montanhas, para levar a caridade e a alegria à sua prima. Com esta missão, a Virgem, grávida do Salvador e vazia de interesses pessoais, na configuração de Sacrário Vivo do Senhor.

A Virgem peregrina nos dá exemplo de como abraçar o chamado de Deus e da firme decisão para crescer na resposta de fé, em atitude de amor e de doação. A Mãe do Salvador se doa de forma lenta e desinteressada, mas vai apressadamente para servir a outra grávida, portadora da profecia em seu ventre, João Batista, que preparará os caminhos de Jesus, o Messias, para que os homens o acolham, sejam curados, chamados e redimidos pelo sangue do Cordeiro.

A esposa de São José, Maria, é a imagem perfeita da Igreja [cf. CIgC(2), nº 967], que é o Corpo Místico de Cristo (cf. CIgC, nº 787-810). Ela é também Sacrário Santo e vínculo de amor entre irmãos, é meio de salvação para todos que dela se aproximam para escutar e se alimentar do Senhor, sendo purificados pela fé e glorificados na dimensão celestial.

A Virgem Maria é a mulher “vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1), como nos fala a Primeira Leitura desta Liturgia. É ela sim, pois tem no seu ventre o poder da vida vitoriosa sobre o dragão da morte, dando a vida verdadeira a todos os que acolhem os valores do Reino e a Redenção; e que desejam participar da glória de Deus.

São Paulo nos diz que “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1Cor 15,20). Deus antecipa para a Mãe do Salvador a graça da ressurreição e da glorificação. Ela é a primeira cristã entre os que seguiram e seguem o Senhor. Por isso podemos chamá-la de Nossa Senhora da Glória, pois é a rainha-mãe cuja contemplação o salmista descreve como tendo “veste esplendente de ouro de Ofir” [Sl 44(45),10c], o mais puro ouro da era do rei Salomão (cf. 1Rs 9,28), mas que na Virgem Maria o ouro de Ofir não é nada se comparado com a sua beleza e santidade.

Para vivermos um testemunho coerente, precisamos olhar para Virgem Maria, que interioriza e pratica as virtudes na simplicidade do seu cotidiano. Estando atentos ao que Deus nos pede, vivendo a obediência à Palavra do Senhor, não desviaremos a nossa atenção das diversas situações do mundo, principalmente no que se refere a todos os sofredores. Enfim, nos esvaziando do nosso egoísmo para poder nos encher da graça de Deus.

E neste terceiro Domingo do Mês Vocacional, dedicado à vocação à vida consagrada (religiosos e religiosas, consagrados e consagradas, seculares), vamos rezar pelos que foram chamados a viver de forma radical os votos de pobreza, obediência e castidade em favor do Reino de Deus, como discípulos e discípulas na experiência da santidade e da entrega missionária no mundo. Que possamos aprender da Virgem Maria sobre a escuta da Palavra, no desprendimento das coisas materiais do mundo, na obediência ao chamado de Deus, à vida de castidade, ao anúncio do Reino de Deus e na contemplação frutífera, através da oração perseverante. Amém.

*   *   *
(1) Através da constituição apostólica Munificentissimus Deus. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus.html>.
(2) Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html>.

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⇒ POESIA ⇐

A Primeira Crente da Nova Aliança

 

Aberta à voz de Deus e ao Seu chamado,
Grávida, a serviço da vida e da esperança,
Lá vai a caminheira para a sua santa missão,
Como primeira crente da Nova Aliança.
*
Vai pelas montanhas sempre entre o vento e a poeira,
Motivada pelo amor e levando a força da Redenção,
Visita a sua prima Isabel, com gratuidade fraterna,
Levando um cântico de alegria, profecia e libertação.
*
Sua alma é engrandecida pelo amor supremo,
Pois a alegria é plena do Espírito Divino,
Porque o mundo a chamará Senhora Bendita,
Porque da sua boca nasce o anúncio, por um belo hino.
*
É glorificada no Céu de corpo e alma,
Porque em Cristo és Mãe e Santificada,
Por isso o nosso culto a ti elevamos felizes,
Porque és a primeira cristã de vitória alcançada.
*
Rogai por nós, nos vales dos nossos sofrimentos,
Mãe da profecia e cheia do belo cantar de amor,
Ensina-nos a sermos vazios de nós e cheios da Graça,
Como servos atentos e santos de Nosso Senhor.

*   *   *

 

Imagem: “A bem-aventurada Virgem Maria é coroada Rainha do Céu por Seu Filho Amado”. In zephyrinus-zephyrinus.blogspot.com.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos deu como Mãe a Virgem Maria – assunta ao Céu de corpo e alma, ilumine o seu caminho! 

 

 

19º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos pequenos e médios empreendedores ⇐
⇒ Mês Vocacional – 1º Domingo: pelas vocações ordenadas (Bispos, Padres e Diáconos) ⇐

 

 

Leituras: Sb 18,6-9; Sl 32(33),1.12.18-19.20.22 (R. 12b); Hb 11,1-2.8-19; Lc 12,32-48

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Vivendo a Segurança e a Vigilância no Senhor

Lc 12,32-48

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do 19º Domingo do Tempo Comum, do Ano C, o primeiro Domingo do mês vocacional em que refletimos e rezamos pelas vocações ordenadas, nos motiva a vencermos o medo, sermos caridosos, estarmos atentos, abraçarmos o desprendimento e vivermos a fé. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 12,32-48.

Para essa Liturgia, o Evangelho nos mostra o Senhor Jesus formando os seus discípulos, orientando-os para a experiência das realidades do Reino. E para que os Seus seguidores estejam preparados, estes devem, em primeiro lugar, perder o medo daquilo que os atrapalham no caminhar, pois o medo os desvia do foco, ou seja, do caminho e da missão.

Nosso Senhor os chama de pequeno rebanho, nome que lembra o povo de Israel. O grupo dos discípulos agora é o novo Israel que segue o Caminho da libertação plena. Libertação que o Senhor realizou na Ressurreição, quando venceu em definitivo a morte e nos presenteou com a vida nova, vida banhada pelo seu Sangue, que nos liberta e nos motiva a viver a verdadeira paz, iluminada e conduzida pelo Espírito Santo.

Outro assunto que a Igreja nos oferta nesta Liturgia é o da esmola. Para seguir o Senhor é preciso partilhar, não somente dos ideais e projetos, mas também dos bens materiais, os quais são, muitas vezes, empecilhos para cultivarmos o bem maior que é o Céu. Jesus agora pede aos discípulos esta atitude, porque percebe a dificuldade de colocar no coração o desejo de construir tesouros eternos, santos, seguros e imperecíveis.

Em seguida, Jesus orienta para a vigilância: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas” (Lc 12,35). Esse é um dos maiores desafios para os que seguem o Senhor, pois parece que nunca estamos preparados para as situações que acontecem repentinamente em nossa vida.

Não estamos preparados porque colocamos nossa confiança e nossa segurança nas coisas contrárias às Reino de Deus, apegando-nos àquilo que desejamos adquirir ou que vamos amontoando nas nossas casas e na nossa vida.
Por isso, em certos momentos da nossa existência o medo e a insegurança nos invadem, nos paralisam. E então nos perguntamos: em quem ou em que coloco minha segurança? Somente nas coisas terrenas ou nas realidades divinas?

E muitos serão os desafios que enfrentaremos na vida, muitos serão os “desesperos” e angústias que deveremos passar, mas a nossa capacidade de encarar as barreiras e vencer as provações dependerão da nossa atenção, do nosso amor às realidades essenciais que Jesus nos apresenta. Ainda assim corremos o risco de desviar-nos do Caminho até que coloquemos com toda a força o nosso coração no que Deus nos oferece, o verdadeiro tesouro e perfeita segurança.

Assim como os discípulos que estiveram próximos a Jesus e caminharam com Ele demoraram para aprender sobre as verdades do Reino, nós também devemos nos esforçar para aprendermos e assim possamos estar preparados para quando chegar a nossa hora, inclusive porque não temos a mínima noção de quando será esse momento.

Na Carta aos Hebreus, o autor sagrado nos motiva a refletir sobre o belo e profundo significado da fé. Diz a Carta: “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem” (Hb 11,1). Quem tem fé já possui aquilo que se espera, já tem a posse do tesouro que não pode ser corroído. Quem vive na fé já é convicto das coisas de Deus mesmo não enxergando com os olhos físicos, mesmo não apalpando ou usufruindo. Portanto, é preciso, ao mesmo tempo, acreditar, tomar posse e vivenciar a fé. Com isso, se apropriar da fé em nosso cotidiano.

Já está mais do que provado que o apego às coisas materiais, a certas opiniões rígidas e fixas, a certos cargos e funções produz vazio existencial, ou seja, falta de sentido. Com isso vem um conjunto de infelicidades, tais como ansiedade, depressão, perda do sentido de vida. Com a modernidade, desenvolvemos e possuímos tantas tecnologias, mas mesmo assim, corremos o risco de viver a infelicidade se o apego for às coisas materiais.

Precisamos então buscar em Deus as razões fundamentais para vivermos realizados como herdeiros do Pai (cf. Hb 11,9). Porque, pela graça, a nossa felicidade deve ser buscada dentro de nós e não nos arredores, nas coisas exteriores. Às vezes buscamos esta felicidade de forma egoísta, esquecendo que é na partilha, na comunidade que nos completamos e nos realizamos como irmãos, filhos do mesmo Pai.

Portanto, busquemos nossa realização no nosso “ser pessoa” (essência). Também aprendamos a nos relacionar com o mundo e com as coisas, sem sermos escravos. Por fim, o mais importante: “o ser e o viver” com os outros, como comunidade de filhos que partilham e que se amam no Senhor. E neste primeiro Domingo do mês vocacional, busquemos, ainda, rezar ao longo da semana pelos Bispos, Padres e Diáconos para que seus ministérios sejam abençoados e iluminados pela ação do Espírito Santo. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Segurança e Vigilância no Senhor

 

Por que termos medo
E insegurança desesperadora?
Diante do mundo,
Nesta vida, neste caminhar.
Se Deus é nossa segurança
E nosso tesouro,
Sentido maior
Que não nos deixa amedrontar.
*
Porque a displicência,
Deixando a vida acontecer?
No egoísmo, na ganância,
A nos consumir.
Quando o amor
É o nosso bem maior,
Sentido principal
Deste nosso existir?
*
O Senhor nos orienta
Sobre o essencial,
Que devemos buscar
Sem afogamento no mar,
Para não sermos
Surpreendidos naquele dia,
Quando Ele virá nos cobrar?
*
Por que precisamos
Viver tanta fadiga?
Sabemos que nos bens
Não está a segurança,
Somente vivendo a fé
De forma completa,
Pois em Deus
Está a nossa esperança.
*
Alegremo-nos,
Pois Ele sempre nos ama,
Devemos abraçá-Lo
Como nosso fundamento,
Rocha firme
Que nos faz perder o medo,
Ele, a nossa Paz,
O amor, nosso alimento.

*   *   *

 

Imagem sacra: “Cristo Pantocrator (extrato) – Paróquia Epifanía do Senhor e São Tomás de Vilanova (Valência, Es). In <epifania.es/parroquia/retablo/cristo-pantocrator>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos motiva a vencermos o medo, sermos caridosos e vigilantes, ilumine o seu caminho! 

 

 

18º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos idosos ⇐

 

Leituras: Ecl 1,2;2,21-23; Sl 89(90),3-4.5-6.12-13.14.17 (R. 1); Cl 3,1-5.9-11; Lc 12,13-21

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

O Verdadeiro e Infinito Tesouro Somente Encontramos em Deus

Lc 12,13-21

 

MMeus irmãos e irmãs, a Liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplar Nosso Senhor nos ensinando sobre o verdadeiro tesouro, a verdadeira fonte de riqueza. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 12,13-21.

Assim, o texto próprio de Lucas (cf. 12,13-21) nos ajudará no discernimento diante do dinheiro e dos bens materiais. Jesus conta a parábola do rico tolo, em que um homem coloca todo seu prazer nos seus celeiros e no resultado da colheita de sua terra. Para aquele homem, parecia que tudo estava resolvido na sua vida. Ele poderia, então, descansar, comer e esbanjar seus bens. Como diríamos hoje: “curtir a vida e ficar tranquilo”.

“Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?” (Lc 12,20). Pois bem, Deus nos dá a vida terrena, nós a administramos, sonhamos, escolhemos caminhos, fazemos projetos, construímos relações, porém não temos domínio sobre o seu fim. Somente Deus tem esse poder sobre a nossa vida e sobre a morte.

A atualidade dessa passagem evangélica é impressionante! Hoje nos vemos rodeados e estimulados por tantas propostas de consumo, que são colocadas através das diversas formas de publicidades, as quais nos sufocam no nosso cotidiano.

Sem o cultivo da essência humana, sem o alimento da vida interior e espiritual com tantos bons recursos que temos à disposição, tais como boas leituras, boas partilhas fraternas, momentos de oração e meditação, retiros, celebrações, não conseguimos viver a profundidade e o sentido de nossa existência.

E quando não cultivamos as coisas profundas que vem de Deus, ficamos vulneráveis e buscamos preencher nossa existência com a idolatria aos bens materiais ou com pautas das diversas ideologias. Em outras palavras: não priorizamos Deus e Seu amor. Consequentemente ficamos carentes do Tesouro essencial para o nosso existir e do cultivo da nossa espiritualidade, da nossa interioridade em busca do Absoluto.

“Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.” (Ecl 1,2). Biblicamente, o termo vaidade vai além da vaidade no sentido narcisista ou prepotente e também nos remete àquilo que turva a visão, seja como uma neblina na estrada ou uma ilusão(1), não importando se se trata de coisas materiais ou ideias, mas que querem “alimentar” o nosso vazio interior com elementos e motivações superficiais.

Às vezes acontece que quando ficamos ricos das coisas materiais ficamos pobres no que se refere à sensibilidade humana, à vida interior, no cuidado de si e assim nos alimentamos do orgulho, dos ressentimentos, das indiferenças para com o outro.

E São Paulo nos alerta: “esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo… aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus” (Cl 3,1-4).

Precisamos buscar as coisas do alto, não para flutuar ou para nos alienar da realidade humana, mas para alcançarmos o que é essencial em nosso existir, pois, quanto mais vivermos a aspiração às coisas de Deus, melhor viveremos a nossa relação com os bens terrenos, os quais devem estar ao nosso serviço e também destinados ao outro, com quem devemos partilhar, quando houver necessidades.

Que possamos meditar nesta Liturgia sobre a necessidade de buscarmos, em primeiro lugar, a essência de nossa existência em Deus, o cultivo da nossa espiritualidade e a partilha fraterna, para vivermos os sinais do Reino neste nosso peregrinar terrestre, em vista de cultivarmos o sentido da vida, na busca da paz, do amor e da comunhão entre os povos, aspirando, já agora, os tesouros celestiais. Amém.

*   *   *
(1) Cf. Nota de rodapé da Bíblia Sagrada: Tradução oficial da CNBB. 4 ed., 2020.

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Verdadeiro Tesouro

 

OCom um olhar na vida infinita e verdadeira,
Buscando o sentido que nos traz felicidade,
Devemos seguir vivendo na simplicidade,
Sem nos afogarmos nos prazeres das riquezas terrenas,
Que, em muitos dos casos, até nos desordenam,
Trazendo às vezes muitas frustrações e ansiedades,
Pois devemos não levar em conta as tantas vaidades,
Que no final da vida somente nos condenam.
*
Apostar-nos tanto e tanto nos bens materiais,
Como segurança para toda a nossa vida,
Na avareza e nos desprezos pelo “amor” sem medida,
É desconhecer o sentido na Palavra do Senhor,
Que veio para perto de nós com o Seu amor.
É como construir nossos sonhos nas ilusões,
Ficando mergulhado nas tantas paixões,
Que no final somente nos traz insegurança e dor.
*
Fitemos então o olhar e nosso foco no essencial,
Que é buscar as coisas na vida que não há de acabar,
Segurança nos bens celestes a nos esperar,
Como sendo a nossa principal riqueza,
Uma vida infinita em Deus e na sua eterna beleza,
Que jamais fomos capazes de contemplar,
E que nunca, e nunca irá acabar,
Porquê estaremos ao lado da Divina Realeza.

*   *   *

 

Obra: “O Homem que Acumula”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos oferece o verdadeiro tesouro da vida, ilumine o seu caminho! 

 

 

17º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos idosos ⇐
⇒ 2º Dia Mundial dos Avós ⇐

 

Leituras: Gn 18,20-32; Sl 137(138),1-2a.2bc-3.6-7a.7bc.8 (R. 3a); Cl 2,12-14; Lc 11,1-13

 

Ouça o áudio preparado para esta Liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Oração que o Senhor nos Ensinou

Lc 11,1-13

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do 17º Domingo do Tempo Comum, 2º Dia Mundial dos Avós(1), instituído pelo Papa Francisco em 2021 , nos motiva a contemplar Nosso Senhor nos ensinando a rezar. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 11,1-13, novamente uma sequência do Evangelho do Domingo passado.

A oração que o Senhor nos ensinou é a oração por excelência do cristão, o Pai-Nosso, que rezamos sempre quando nos encontramos, seja para a Eucaristia, seja para as reuniões, estudos, Terços, novenas ou nas várias práticas devocionais que a Igreja nos oferece.

O Evangelista Lucas (cf. 11,1-13), portanto, nos apresenta Jesus rezando num certo lugar e depois levando os discípulos a sentirem o desejo de também quererem rezar. Para isso eles pedem ao Mestre que lhes ensinem, numa suplica muito significante: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1).

Com a oração que saiu da boca de Jesus, o Pai-Nosso, podemos confirmar que Ele nos ensinou a chamarmos a Deus de Pai, pois nesta oração reconhecemos que somos irmãos e irmãs, porque este Pai é de todos e para todos. Com a oração do Pai-Nosso, podemos também aprender a rezar, deixando que Deus faça a Sua vontade e não a nossa, pois na nossa vida muitos acontecimentos estão nas mãos de Deus, que, como canta o salmista, faz muito mais do que promete [cf. Sl 137(138),2c].

O Pai que Jesus nos apresenta é o Pai bondoso e misericordioso, tem um amor tão grande que veio mostrar porque somos semelhantes à Ele. Veio caminhar conosco, ter a nossa carne e nos ensinar o caminho que devemos percorrer para chegar ao Céu, porque Ele é Santo e quer todos os seus filhos juntos d’Ele na morada celeste.

Na oração ensinada por Jesus pedimos que o Reino de Deus venha a nós. Quantas vezes Jesus nos fala que este Reino estava perto ou que estava no meio dos homens. Jesus e Sua ação salvadora é o próprio Reino em nosso meio. Quantas vezes pensamos que este Reino ainda está distante… Talvez esteja assim distante porque ainda não colocamos em prática o que rezamos no Pai-Nosso. O pão que pedimos ainda falta a muitos irmãos ou poucos têm demais e não aprenderam ainda não aprenderam a partilhar, pois falta a justiça, a dignidade, o respeito e a atenção para com os irmãos necessitados.

Já a Eucaristia que participamos aos Domingos, ou diariamente, ainda não se transformou em verdadeira comunhão, partilha dos irmãos e irmãs que fazem a comunidade viva, fraterna e expressão concreta da caridade no sentido bíblico, no sentido cristão.

Este Reino ainda pode estar distante porque não aprendemos a perdoar uns aos outros e pelo o nosso egoísmo ainda estamos fechados. Neste caso, nos falta a humildade de pedirmos perdão para que a fraternidade e a santidade de Deus estejam presentes entre nós. Nos falta ainda a atitude de irmãos e irmãs, amigos e amigas de verdade sem receio de corrigir o outro quando percebemos errando e caindo nas tentações da não escuta ao outro e no individualismo.

Precisamos meditar profundamente colocando no coração aquele pedido final do Pai-Nosso, quando rezamos: “perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixeis cair em tentação” (Lc 11,4). A presença do Reino no meio de nós é, portanto, o perdão dos nossos pecados, no momento em que nos reconhecemos pecadores e também perdoamos aos outros quando estes nos vem pedir perdão, em vista de retomamos a harmonia na convivência humana e na comunidade cristã.

Faz-se necessário pedir sempre ao Senhor que nos livre das armadilhas do Tentador e dos males que muitas vezes nos rodeiam. Nosso erro é querermos resolver sozinhos sem a ajuda do Senhor. Por isso o evangelista Lucas continua o resto do texto insistindo sobre a perseverança na oração diante de Deus. E diz: “Se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,15).

Confiemos ao Senhor nossa existência, nosso convívio e nossa vontade de construirmos a comunhão, a fraternidade e a paz, para que o Reino de Deus esteja sempre presente no mundo e em nosso meio. Amém.

*   *   *
(1) Cf. PAPA FRANCISCO. Ângelus (31 jan. 2021). Disponível em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2021/documents/papa-francesco_angelus_20210131.html>. Acesso em 20 jul. 2022.

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Jesus nos Ensinou a Rezar

 

O Senhor nos ensinou a rezar,
Quando de nós próximo ficou,
Sabendo de nossas carências,
Por isso se aproximou,
Quando quis nossa humildade,
Pra acolher Sua santidade,
Pois primeiro nos amou!
*
Senhor ensina-nos a Sua oração,
Para Deus, nosso Pai, chamarmos,
Ensina-nos a perseverança,
Para não desanimarmos,
E a rezar sem egoísmo,
Com perdão e otimismo,
Para nos santificarmos.
*
Senhor ensina-nos a rezar,
Com a Sua oração,
Que a nós venha o Seu Reino,
Nosso Deus e salvação,
Pra Sua vontade fazer,
E não o nosso querer,
Mas na Sua santa ação!
*
Nosso pão de cada dia,
Ensina-nos a pedir,
Para continuar a vida,
E na missão nos nutrir,
Este pão de cada dia,
É também a Eucaristia,
No Seu caminho a seguir.
*
O perdão de nossas culpas,
Ensina-nos a suplicar,
Quando ferimos os irmãos,
Ou viemos a errar,
Tu és o Deus de puro amor,
És o nosso Salvador,
Que quer nos santificar!
*
Livra-nos de todo o mal,
Quando a Ti vos suplicamos,
Pra vencer a tentação,
Quando com ela estamos.
Assim devemos rezar,
Firmes, sem desmoronar,
Pois em Ti nós confiamos!

*   *   *

 

Obra: “O Pai-Nosso”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos ensina a rezar como Ele rezou, ilumine o seu caminho! 

 

 

13º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

⇒ Encerramento do Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas famílias cristãs ⇐

 

Leituras: 1Rs 19,16b.19-21; Sl 15(16),1-2a.5.7-8.9-10.11 (R. cf. 5a); Gl 3,26-29; Lc 9,51-62

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

O Caminho de Jesus

Lc 9,51-62

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia deste 13º Domingo do Tempo Comum nos ensina como caminhar com Jesus e segui-Lo de coração desprendido, cheio de paz, atento e entregue em favor do Reino de Deus. E o Evangelho desta Liturgia está Lc 9, 51-62.

A Liturgia deste Domingo, portanto, nos fala de chamado, de escolhas, de decisão, de envio, de caminhada. Jesus, prestes a iniciar Sua caminhada para Jerusalém, envia mensageiros à sua frente para preparar hospedagem.

No primeiro momento Jesus não é acolhido em Samaria. Tiago e João não acolhem muito bem negativa dos samaritanos e querem reagir com vingança, mas nesse momento são repreendidos por Jesus (cf. Lc 9, 54-55). Para caminhar com Jesus faz-se necessário que o discípulo esteja preparado para lidar com as rejeições, com as frustrações e os obstáculos que vão surgindo na caminhada. Não pode carregar um coração vingativo e violento, pois isso desvirtua o foco do discipulado e se perde o objetivo da missão em favor do Reino de Deus.

Jesus caminha para Jerusalém e não caminhará sozinho, contará sim, com os seus discípulos. Mas, também ao longo desta caminhada Ele contará com outros pretendentes ao discipulado, que, com diversas atitudes querem O seguir. Um se dispõe com muita euforia, para seguir Jesus, mas o Mestre o adverte das exigências desse compromisso (cf. Lc 9,58).

A outro Jesus chama, mas, este quer deixar seu pai morrer primeiro para depois se decidir e seguir o Senhor. Jesus alerta sobre a necessidade e urgência do anúncio do Reino de Deus (cf. Lc 9,59-60). E ainda há outra pessoa quer caminhar como discípulo, porém, depois que se despedir de seus familiares. A esse Jesus responde: “quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus. Portanto, não há tempo, não é possível, não se está apto aquele que põe seu olhar para trás, pois para seguir o Senhor é preciso olhar para frente e seguir o caminho com o Mestre.

Na primeira leitura desta Liturgia, Eliseu pediu a Elias para beijar seu pai e sua mãe primeiro para se despedir e depois seguir. Elias permitiu, mas, ao mesmo tempo, foi enfático, ao dizer que, retornasse logo. E Eliseu teve uma atitude de desprendimento muito relevante: se desfez da junta de boi, e usou a lenha do arado e da canga a fim de fazer um churrasco para o seu povo (cf. 1Rs 19,21). Nada ficou para trás, Eliseu, herdou o manto de Elias e seguiu em frente, seguiu em liberdade e em missão, sendo um grande profeta de Deus (cf.Rs 19,19).

A liberdade em Cristo é a grande dádiva que faz o discípulo seguir desprendido, com coragem e amor, no caminho com o Senhor. São Paulo na sua carta aos Gálatas nos fala da liberdade conduzida pelo Espírito (cf. Gl 5,18) e não a liberdade determinada pelos desejos, vontades e desvios irracionais.

Na atualidade, há a concepção de uma liberdade segundo nossos instintos, desejos e vontades disfuncionais. Trata-se de uma concepção que desvirtua o verdadeiro conceito humano da liberdade a qual faz cada pessoa decidir sobre o que dá sentido e direção à sua vida, à sua vocação e a sua missão neste mundo. A liberdade segundo o Espírito orienta a pessoa para o equilíbrio e a justa medida na sua existência.

Portanto, irmão e irmãs, seguir o caminho de Jesus, exige do discípulo desprendimento, foco nas escolhas, coração cheio de paz e sem rancor, com atitudes de liberdade, guiadas pelo o Espírito Santo de Deus. Busquemos a luz e a força do Espírito Santo para buscarmos seguir o caminho com o Senhor com inteira liberdade que vem d’Ele pelo Seu amor e Sua graça! Amém!

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Seguir para Frente com o Senhor

 

Seguir ao Senhor,
Exige certeza,
Um olhar para frente,
Não apego ao passado,
Caminho focado,
De discípulo crente,
Amor exigente,
Com o Bem-Amado!
*
Seguir ao Senhor,
É perseverança,
Forte decisão,
Força criativa,
Uma missão viva,
Sem acomodação,
Amor decisão,
Caminhar que cativa!
*
Seguir o Senhor,
Pé firme no chão,
Livre como o passarinho,
No amor e na acolhida,
Nas questões da vida,
Sem ficar sozinho,
Focando o caminho,
Sem contar a despedida.
*
Seguir ao Senhor,
Com real liberdade,
E o Espírito guiando,
Enchendo o coração,
Com paz e gratidão,
Em frente caminhando,
O Reino anunciando,
Quão sublime missão!

*   *   *

 

Obra: “With Passover Approaching, Jesus Goes Up to Jerusalem”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos ensina a segui-Lo de coração desprendido e cheio de paz em favor do Reino de Deus, ilumine o seu caminho! 

 

 

12º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas famílias cristãs ⇐

 

Leituras: Zc 12,10-11; 13,1; Sl 62(63),2abcd.2e-4.5-6.8-9 (R. 2ce); Gl 3,26-29; Lc 9,18-24

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Identidade de Jesus

Lc 9,18-24

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do  do 12º Domingo do Tempo Comum, nos motiva a contemplar Jesus, “verdadeiro Deus e verdadeiro homem” (cf. CIgC 464) quando está em oração com os Seus discípulos. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 9,18-24, sequência do Evangelho da Solenidade de Corpus Christi e última passagem, neste Ano Litúrgico, da quarta parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Ministério de Jesus na Galileia” (cf. Lc 4,14-9,50).

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está em algum lugar entre um deserto próximo de Betsaida (cf. Lc 9,10) e o território de Cesareia de Filipe (cf. Mt 16,13; Mc 8,27), no extremo norte da Terra Prometida e distante sessenta quilômetros de Damasco.

Nesta Liturgia, portanto, a Igreja nos coloca novamente em um Domingo do Tempo Comum, agora na segunda etapa, que é um tempo em que revivemos tudo o que Jesus ensinou e praticou para nossa salvação. Consequentemente a espiritualidade nos impele à vivência do Reino de Deus e nos ensina que os cristãos são sinais do Reino de Deus.

No Evangelho de hoje, evangelista São Lucas nos apresenta duas perguntas concretas sobre a pessoa de Jesus (cf. Lc 9,18-24). Primeiro: o que as pessoas dizem sobre Ele? Depois, Ele se dirige aos discípulos e pergunta: E vós, quem dizeis que Eu Sou? Neste trecho podemos constatar o testemunho de Pedro na sua profissão de fé quando responde a Jesus: “és o Cristo de Deus” (Lc 9,20). Em outras palavras: és o Ungido, o Escolhido ou o Enviado do Pai.

O Evangelho prossegue com mais dois momentos bem distintos: Jesus apresenta o primeiro anúncio da sua paixão, morte e Ressurreição – “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (cf. Lc 9,22). Depois Jesus fala para os discípulos sobre as condições para segui-Lo (cf. Lc 9,23-24). Para quem quer segui-Lo, deve saber que neste caminho encontrará o sofrimento, a perseguição, a cruz.

No tempo dos discípulos, naquele momento, a pergunta era mais para Jesus na Sua natureza humana entre os homens (o Jesus histórico) do que para a natureza divina (o enviado do Pai). Necessariamente se teria uma resposta da parte dos que estavam convivendo com Ele na sua caminhada (os discípulos) e outra resposta da parte dos que viam Jesus de longe, nas Suas pregações, milagres e curas ou os que ouviam falar d’Ele.

Os curados ou convertidos conseguiam vê-Lo como um grande profeta e os fariseus e outras autoridades religiosas tinham Jesus como um blasfemo, um agitador do povo. Mesmo as Escrituras mostrando sobre a vinda de Deus aos homens; mesmo os profetas anunciando a realidade da qual Jesus viveria, não era suficiente, não era possível acolher a mensagem do Filho de Deus. O profeta Zacarias, na primeira leitura de hoje, faz referência ao que Jesus iria passar (a cruz): “Naquele dia, haverá um grande pranto em Jerusalém” (Zc 12,11).

Quanto à resposta de Pedro [“és o Cristo de Deus” (Lc 9,20)], esta deve ser também a resposta dos que hoje vivem a experiência do Ressuscitado na comunidade dos batizados, dos que buscam viver mais fortemente a comunhão. Ou seja, os que vivem a experiência de oração com o Senhor, na Eucaristia, na escuta da Palavra e o veem como o Deus que salva, que os ama e que está glorificado, Ressuscitado, para glorificar todos aqueles que abraçaram o Seu amor e se abriram para o infinito da vida celestial.

Porém existem muitos que o enxerga como o “reencarnado”, o “curandeiro”, o “mago”, o “psicólogo”, o “sociólogo”, o “grande profeta” etc… Menos como “verdadeiro Deus e verdadeiro homem” (CIgC 464). Isto é o que lemos como títulos de diversos livros e outras publicações espalhados pelas redes sociais.

Agora podemos também nos perguntar: quem é Jesus para nós enquanto batizados? Como acolhemos a sua proposta de vida em nosso caminhar, na claridade dos nossos dias e também nas nossas “noites escuras”?

É importante refletir que a nossa vida de cristãos tem estas três dimensões espirituais e humanas apontadas no Evangelho de Lucas: a oração com o Senhor; a fé na sua Ressurreição e consequentemente na nossa; e a consciência de que no caminho do Senhor sempre teremos cruz. Sempre teremos desafios a superar, mas temos uma certeza: Ele está conosco nos fazendo uma comunidade fraterna, nos tornando irmãos e irmãs como referência para a paz e a fraternidade no mundo e, ao mesmo tempo, nos encaminhando para a vitória, nos conduzindo e nos preparando para o Céu.

Esta experiência de compromisso nasce do nosso batismo como nos fala são Paulo na segunda leitura desta Liturgia: “Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27). Portanto, irmãos e irmãs, aos batizados que vivem a experiência de comunidade têm o compromisso de viverem as mesmas atitudes de Cristo, porque são revestidos da Sua presença e vida. E aos que estão de fora também o nosso mandato de anunciarmos a Boa-Nova do Reino, para que estes possam viver um reencontro com Senhor, um encontro com o Senhor, pois que somente n’Ele encontramos a liberdade, a paz e a felicidade perfeita.

A nossa adesão perseverante e consciente ao seu caminho é nossa melhor resposta ao que ele nos perguntou: “E vós, quem dizeis que Eu Sou?” E os cristãos darão sempre uma resposta de fé e que deve ser de plena convicção, quando na oração Eucarística o sacerdote anuncia o mistério da fé e nós respondemos: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda!”

Peçamos a intercessão da Virgem de Nazaré, Mãe de Deus e Nossa, para que possamos ser humildes e perseverantes diante das tentações que buscam nos afastar de Nosso Senhor Jesus Cristo, “verdadeiro Deus e verdadeiro homem”. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Quem é este Senhor?

 

Quem é este Senhor?
Repleto de paz,
Que o amor nos traz,
Que nos questiona,
Mas não nos aprisiona,
Que nos mostra o caminho,
E não nos deixa sozinho.
*
Quem é este Senhor?
Primeiro vivente,
Que de repente,
Faz-me parar,
Para meditar,
E vai me perguntando,
Quando eu vou caminhando.
*
Quem é este Senhor?
Que me é sincero,
Quando não espero,
Fazendo-me rezar,
Para a cruz carregar,
Sem decepção,
Rumo à redenção.
*
Ele é a Verdade,
N’Ele está a Vida,
Dando-nos a medida,
Para o bem viver,
Para na fé crescer,
Todos que a Ele ama,
E não se desengana.
*
Ele é o vencedor,
O Ressuscitado,
Nosso Bem-Amado,
Que nos tira da morte,
Com Ele somos fortes,
E nas diversas dores,
Faze-nos vencedores.

 

*   *   *

 

Obra: “O Primado de São Pedro”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, “verdadeiro Deus e verdadeiro homem”, ilumine o seu caminho! 

 

 

Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, Solenidade, Ano C, São Lucas

 

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas famílias cristãs ⇐

 

Leituras: Gn 14,18-20; Sl 109(110); 1Cor 11,23-26; Lc 9,11b-17

 

Ouça o áudio preparado para esta Liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Verbo de Deus, o Pão que Desceu do Céu

Lc 9,11b-17

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia da Solenidade do Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo, Corpus Christi, neste Ano C, neste Ano “Família Amoris Lætitia”, nos motiva a contemplar o alimento perfeito que atualiza tanto a Multiplicação dos Pães e Peixes quanto a Última Ceia. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 9,11-17, passagem que está situada no final da quarta parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Ministério de Jesus na Galileia” (cf. Lc 4,14-9,50).

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está num deserto próximo de Betsaida (cf. Lc 9,10), que ficava há aproximadamente quatro quilômetros de Cafarnaum e também nas proximidades do Mar da Galileia (que é o Mar de Tiberíades ou Lago de Genesaré).

E nesta Solenidade, a qual celebramos sempre na Quinta-feira após a Solenidade da Santíssima Trindade, a Igreja nos mantêm num “território místico”, ou seja, numa realidade espiritual, no qual podemos, com a graça de Deus, continuar vislumbrando a glória de Deus Uno e Trino, entregar-nos em adoração, agora com a Liturgia voltada para a presença real de Nosso Senhor na Eucaristia.

O dia da semana, a Quinta-feira, nos reporta ao dia da instituição da Eucaristia e da realização do Lava-pés. E agora, depois do Tempo da Páscoa, a Igreja dedica uma Quinta-feira para celebrar, de forma solene, o Santíssimo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo. E mesmo celebrando a Eucaristia diária ou semanalmente, faz-se necessário, neste dia, aclamar, fazer procissão, pintar tapetes nas passarelas da Igreja e asfaltos, produzir artes e adorar o Senhor que nos dá o seu Corpo e o seu Sangue para nos alimentar na caminhada, suportando os desertos da nossa existência ou mesmo os cansaços ou as tribulações.

No Evangelho desta Liturgia, São Lucas nos apresenta Jesus fazendo missão com os Seus discípulos e, ao mesmo tempo, acompanhado por muita gente do povo, sedento de cura, do corpo e da alma. E quando a tarde chega os Apóstolos sugerem a Jesus que dispense a multidão já que estão num lugar deserto (cf. Lc 9,12).

Esta foi a tentação dos principais seguidores de Jesus (e talvez, em algum momento, nossa também): seguir o caminho mais fácil, ou seja, se livrar do povo para que possamos até rezar em paz. No entanto, Jesus vendo que a multidão estava com fome disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13). E havia entre eles ainda algo para partilhar aparentemente tão insignificante para tanta gente: cinco pães e dois peixes, ou seja, sete itens de alimento.

Na Bíblia, o sete é um número que significa perfeição, totalidade. Por isso tudo estava perfeito para a ação, para o milagre de Deus, pois existiam elementos materiais para que Jesus operasse o milagre. Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o Céu, abençoou-os, partiu-os e os deu aos Apóstolos para distribuí-los à multidão (cf. Lc, 9,16). Estes gestos e palavras nos reportam ao momento da Última Ceia. Assim, Jesus sinaliza como será a Sua missão entre os homens: ser alimento, marcado pelo milagre da saciedade infinita onde todos são chamados a partilhar do seu Banquete e não ter mais fome e nem sede, além de ser fonte de realização e felicidade plena.

O milagre do deserto também tem outros ensinamentos que não podemos deixar de lado: a comunidade que escuta a Palavra do Senhor no deserto da vida é também a mesma que precisa do “maná” para se alimentar durante o caminho com Ele. Os cristãos ao mesmo tempo em que são membros do Corpo de Cristo também precisam de exercícios espirituais para manter-se unidos ao seu Corpo, recebendo a Eucaristia, vivenciando a comunhão, pois é nas mãos abertas e no amém que confirmamos e concretizamos o que são Paulo proclamou diante da comunidade de Corinto: “Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que Ele venha.” (1Cor 11,26).

Portanto, irmãos e irmãs, celebrar Corpus Christi é meditar e contemplar o imenso milagre da Eucaristia que nos torna capazes de vivermos unidos como irmãos, partilhando o que temos para o nosso crescimento espiritual da comunidade, mas, ao mesmo tempo, também é considerar o cotidiano com suas lutas, carências e projetos, na busca de uma vida onde haja o pão de cada dia, casa para o aconchego da família e dignidade humana para todos.

Peçamos a Nossa Senhora, a cheia de graça (cf. Lc 1,28) que gerou o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Lc 1,31; Mt 1,20), que ela interceda por nós nesta caminhada a qual precisamos viver na certeza de que o Senhor voltará e que devemos proclamar a nossa fé em Deus, Ele que veio morar entre nós, morreu e Ressuscitou e que nós ressuscitaremos com Ele e com Ele viveremos para sempre. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Alimento Perfeito

 

Dos altares de todo o mundo
Brota o alimento perfeito,
Que nos sacia e nos fortalece,
Indicando-nos o caminho direito,
Que não se perde e jamais perece,
Que nos reúne como povo eleito.
*
E pelo deserto da nossa vida,
O Teu milagre é a comunhão,
Que nos conduz à fraternidade,
A nos chamar todos de irmãos,
E vivendo sempre na unidade,
Onde não mais a solidão.
*
Assim seguimos a caminhada,
Querendo seguir sempre o Senhor,
Mesmo que as vezes sendo tentado,
Agindo como se fosse um traidor,
Mas o Senhor está ao nosso lado,
Para não seguirmos o tentador.
*
Eucaristia alimento perfeito,
Desta Igreja viva em peregrinação,
Que no encontro se fortalece,
Na grande busca da união,
E o estar junto quase se eternece,
No esperar da ressurreição.

 

*   *   *

 

Obra: “The Miracle of the Loaves and Fishes”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que alimenta abundantemente, ilumine o seu caminho! 

 

 

Santíssima Trindade, Solenidade, Ano C, São Lucas

 

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas famílias cristãs ⇐

 

Leituras: Pr 8,22-31; Sl 8; Rm 5,1-5; Jo 16,12-15

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Santíssima Trindade: Um Deus que é Comunidade

Jo 16,12-15

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia da Solenidade da Santíssima Trindade, do Ano C, neste Ano “Família Amoris Lætitia, nos motiva a contemplar a dimensão comunitária da Santíssima Trindade. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 16,12-15, passagem que está situada no final do contexto da “A Última Ceia de Jesus com Seus Discípulos” (cf. Jo 13,1-17,26).

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está em Jerusalém para a festa da Páscoa, segundo o calendário judaico, momentos antes da agonia no Monte das Oliveiras (cf. Lc 22,39-46).

E neste Domingo, a Igreja nos conduz a um “território místico” no qual podemos, com a Graça de Deus, vislumbrarmos a glória de Deus Uno e Trino e ali possamos entregar-nos em adoração.

Na Segunda-feira semana após o Domingo de Pentecostes, nós retomamos o Tempo Comum. Trata-se do percurso mais longo dentro do Ano Litúrgico. Após a Celebração do Domingo passado, o Círio Pascal foi recolhido para a proximidade da fonte batismal. Agora, os cristãos, alimentados pela força da Luz de Cristo (o Círio) e do Espírito Santo, vivenciados no Tempo Pascal, são chamados a serem luz do mundo, velas acesas da fé nas várias realidades da vida.

Dentro do Tempo Comum, teremos várias solenidades e a primeira é a da Santíssima Trindade, celebrada neste Domingo, a qual nós celebramos no Domingo seguinte ao de Pentecostes. A Trindade Santa é o fundamento da nossa vivência cristã, pois tudo o que celebramos ou vivemos, segundo a vontade de Deus, é em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Há uma reflexão belíssima, inspirada na Exortação Apostólica Verbum Domini (Palavra do Senhor), do Papa Emérito Bento XVI, que pode nos servir muito bem no que se refere à Santíssima Trindade: “Temos antes de tudo a voz divina. Ela ressoa nas origens da criação, quebrando o silêncio do nada e dando origem às maravilhas do universo. É uma Voz que penetra logo na história ferida pelo pecado humano e atormentada pela dor e pela morte. Ela caminha junto com a humanidade para oferecer sua graça, sua aliança, sua salvação. É uma voz que desce logo nas páginas das Sagradas Escrituras que agora nós lemos na Igreja sob a guia do Espírito Santo que foi doado como luz de verdade a ela e a seus pastores.”(1)

É a voz que chamou Abraão, Moisés e orientou os profetas na caminhada do povo e que é apresentada na primeira leitura desta Liturgia como a Sabedoria que existe antes de tudo. Esta voz é o próprio Deus que falou na história e fala para nós, é o Pai de onde tudo procede (cf. Pr 8,22-31).

A Palavra também tem um rosto, o Verbo encarnado que também estava no princípio. É Ele quem nos revela o sentido pleno e unitário das Sagradas Escrituras, pelas quais o cristianismo é uma religião que tem no centro uma pessoa: Jesus Cristo, revelador do Pai. Ele nos confirma o que o texto do Gênesis diz: “Façamos o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança” (Gn 1,26), pois nós nos parecemos com Deus e Jesus não somente é parecido conosco como também assumiu a nossa natureza.

No Evangelho desta Liturgia, Ele próprio nos fala do Espírito da verdade e do Pai. Tudo o que o Pai possui é d’Ele (cf. Jo 16,13.15), ou seja, Ele revela a missão do Espírito Santo e apresenta o Pai para os discípulos. E podíamos completar: a Palavra também tem uma fonte de amor que distribui os dons e anima os caminhos da Igreja fazendo criar comunhão e unidade. Ele que, segundo o Credo Niceno-Constantinopolitano, é o “Senhor que dá a vida, que procede do Pai, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado e que falou pelos profetas.”

Tudo isso, irmãos e irmãs, para dizer que a Trindade Santa é esse Deus único, que é comunidade, é comunhão, que nos chama a vivermos o amor a partir d’Ele. Santo Hilário (*300+368), no seu Tratado sobre a Trindade, nos diz: “um só é o Poder, do qual tudo procede; um só é o Filho, por quem tudo começa; e um só é o Dom, que é penhor da esperança perfeita.”(2) Tudo é perfeitíssimo na Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo: a infinidade no Eterno, o esplendor na imagem, a atividade no dom.

Queremos recordar que foi numa Liturgia da Santíssima Trindade, no dia 9 de junho de 1895, que Santa Teresinha do Menino Jesus, “Irmã e Amiga dos Sacerdotes”, registrou sua oferenda de si ao Amor Misericordioso, à “Trindade Bem-Aventurada”(3). A “Florzinha de Lisieux” expressa o desejo de que cada batimento do coração seja a renovação do Oferecimento.

Peçamos a Nossa Senhora, coroada pela Santíssima Trindade, que interceda por nós junto à Trindade, que é o nosso Deus comunhão que nos acompanha na nossa vida litúrgica e no cotidiano da nossa caminhada pelo “vale de lágrimas”, pois sempre iniciamos e terminamos nossas celebrações, encontros e momentos de oração em nome da Santíssima Trindade. Também recebemos os sacramentos em nome da Trindade. Por fim, o nosso dia será sem sentido e a nossa noite incompleta se não iniciarmos e terminarmos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém!

*   *   *
(1) Cf. Resumo da mensagem do Sínodo dos Bispos ao povo de Deus, em 24 out. 2008. Disponível em: <https://pt.zenit.org/articles/resumo-da-mensagem-do-sinodo-dos-bispos-ao-povo-de-deus/>. Acesso em: 12 jun. 2019.
(2) Cf. Liturgia das Horas: Ofício das Leituras – Sexta-feira da 7ª Semana da Páscoa.
(3) Cf. SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS. História de uma Alma: manuscritos autobiográficos. São Paulo: Paulus, 2012, 29. reimpressão, pág. 328-331.

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Um Deus Comunidade

 

Poder de onde tudo inicia,
Que ama e que cria,
Que nos faz parecido com Ele.
Que tudo nos dá de presente
Ele é o Pai onipotente.
*
Rosto para nós revelado,
Que por nossas fraquezas é doado,
Que também está no princípio,
Natureza humana oferecida,
Caminho, verdade e vida.
*
Força de sabedoria e amor,
Também criador,
Que pairava sobre as águas,
Que seus dons a nós oferece,
Que anima e que aquece.
*
Deus que é comunidade,
Que nos ensina a unidade,
Envolvendo toda a nossa existência,
Que nos reúne como irmãos,
Que nos envia em missão.

 

*   *   *

 

Imagens principais: “The Last Supper” e “The Last Sermon of Our Lord”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org. Imagem da Rosa: In <gratispng.com/png-uj22en>

 

⇒ Irmãos e irmãs, que estejamos prontos, com a graça, para sermos moradas da Trindade guardando tudo o que Cristo nos ensinou e que a graça de Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo esteja sempre em seu caminho!