XV DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Dt 30,10-14; Sl 68(69); Cl 1,15-20; Lc 10,25-37

 

“A parábola do Bom Samaritano” (1864), por J.E. Millais

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Cristo é a Palavra Viva que veio ficar próximo de nós

Lc 10,25-37

 

O Evangelho deste 15º Domingo do Tempo Comum está em Lucas (cf. 10,25-37) e trata da parábola do Bom Samaritano. Este texto nos ensina sobre a caridade, que é a plenitude dos mandamentos apresentados por meio de Moisés, na primeira aliança. E Jesus veio dá um sentido completo e concreto à lei, através mandamento do amor.

Meditemos sobre a parábola: há um homem que foi assaltado e espancando, está sem nada, quase sem vida, sem nome, na estrada de Jerusalém a Jericó. Perdeu suas forças, sua voz e precisa de socorro como tantos assaltados, espancados, sem voz e sem nome, no hoje das realidades humanas, nos âmbitos sociais e econômicos, e que devem fazer parte do olhar de Deus pela ação dos discípulos missionários do Senhor.

Naquela estrada passam muitas pessoas, inclusive ladrões e assaltantes, mas também sacerdotes, levitas, e até homens discriminados culturalmente, socialmente e religiosamente como aquele samaritano. Muitos tinham compromissos, agendas lotadas, preocupação com as normas a ponto de impedir o socorro a alguém que foi vítima de assalto e espancamento. Assim como os outros, o samaritano também tem uma agenda, está de viagem, tem compromissos de negócio, mas não está cego para a necessidade e sofrimento do outro.

Este relato é feito por Jesus para ensinar àquele Mestre da lei, sobre quem é o próximo e também para que ele entenda o significado completo dos mandamentos instituídos na antiga aliança. Os padres da Igreja interpretaram o Bom Samaritano como sendo o próprio Cristo que nas estradas da vida deste mundo acolhe os sofredores, os violentados, cuidando das suas feridas, curando-os e levando-os para a sua casa, a Igreja, para que sejam alimentados e restaurem suas vidas.

Nos dias de hoje os cristãos são chamados a serem os bons samaritanos que colocam em prática o amor, no cuidado aos irmãos, indo ao seu encontro e ficando bem próximo deles, não somente fisicamente, mas, como Deus, que veio ficar próximos de nós, a ponto de sentir a nossa dor, tocar e curar nossas feridas.

Sejamos cristãos atentos às dores que encontramos pelo nosso caminho e aprendamos do Bom Samaritano que a caridade está além das nossas normas e dos nossos cultos, os quais muitas vezes se tornam vazios e sem sentido, porque nos tornam distantes dos irmãos que precisam de nós. E ao sairmos das nossas celebrações, possamos meditar no que Jesus falou para aquele mestre da lei: “Vai e faze a mesma coisa” (Lc 10,37). Pois é a atitude de se fazer próximo do outro, de corpo e alma, que nos faz vivermos plenamente os mandamentos e ganharmos a vida eterna. Amém.

***

⇒ POESIA ⇐

Os Bons Samaritanos de hoje

 

Quem são os bons samaritanos de hoje?
Nos dias e viagens de tantos sofredores,
Que acolhem e curam tantas feridas,
Que recolhem e aliviam as muitas dores?
São os cristãos na vida de caridade,
São também outros na sociedade,
Como corações sensibilizados e sensibilizadores.

Estão nas ruas sem a luz da vida,
Lá nas tocas e apoios da compaixão,
Nos portos seguros do acolhimento,
Nos grupos unidos do amor em ação,
Que se reúnem para pensar o amor,
Para seguirem servindo com fervor,
Colocando o evangelho em plenificação.

São os Bons Samaritanos que se sentem próximos,
Tão próximos a ponto de tocar as muitas feridas,
Buscando remédio para aliviar a dor.
E neste compadecer-se reprogramam a sua vida,
Para servir como um braço do Senhor,
Sendo não somente gesto, mas a prática do amor,
Como chama que no peito é expandida.

E cada um de nós seremos bons samaritanos,
Quando deixarmos o amor de Cristo nos preencher,
Deixando o irmão cada vez mais próximos de nós,
E da sua vida cada vez lhes pertencer,
Afastando os olhares do preconceito,
Não mais tornando em nós o desrespeito,
E das suas necessidades não desconhecer.

E agora contemplemos com muito zelo nosso Senhor,
O Bom Samaritano perfeito e santo,
Caridade divina que veio ao nosso encontro,
Que sentiu nossas dores e enxugou nosso pranto,
Que ergueu os que caíram na cova da morte,
Que os fez caminhar com pés firmes e fortes,
E que tirou dos seus corações todo medo e espanto.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 66,10-14c; Sl 65(66); Gl 6,14-18; Lc 10,1-12.17-20

 

“Jesus envia os discípulos”, por J. Tissot (1886-1894).

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

A alegria dos missionários do Senhor

Lc 10,1-12.17-20

 

O Evangelho deste 14º Domingo do Tempo Comum nos apresenta um texto de caráter profundamente missionário, porque não traz somente um chamado e um envio por parte de Jesus. No texto de Lucas (cf. 10,1-12.17-20), podemos comprovar dois momentos bem distintos sobre a convocação, envio e retorno dos 72: na primeira parte as orientações sobre como viver a missão, e, no segundo momento, a volta dos missionários e a avaliação realizada diante de Jesus. Os 72 discípulos, provavelmente, foram escolhidos a partir do grupo de seguidores que andavam com Jesus em peregrinação pelos diversos lugares da Galileia.

E, então, os discípulos recebem as orientações práticas sobre a missão: ter cuidado com os perigos que encontrarem (os lobos), não ficarem chateados com a falta de recepção, não se preocupar com bagagens e aparatos, mas sim, e principalmente, com a mensagem que cada um deve levar, ou seja, o coração do missionário deve estar livre e cheio de paz para cumprir o mandato do Senhor: “em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: A paz esteja nesta casa!” (Lc 10,5).

Porque a paz é a grande missão do discípulo do Senhor. Paz que foi sonhada pelo povo de Israel quando saiu do Exílio da Babilônia, anunciado pelo profeta Isaías, na primeira leitura: “Eis que farei correr para ela a paz como um rio e a glória das nações como torrente transbordante” (Is 66,12).

A presença do verbo encarnado é a realização plena desta Paz esperada. Outra mensagem do evangelho desta liturgia é sobre o Reino de Deus que está próximo e precisa ser instaurado no meio dos homens, porém não pode ser imposto, pois quando os mensageiros do Reino não forem bem recebidos, estes devem passar a frente sacudir o pó das sandálias e seguir perseverantemente o caminho da missão.

Porém, a missão não se fará somente de mensagens, mas também de ações concretas como a cura dos doentes, a expulsão dos males (demônios) e, sobretudo, o encontro fraterno da partilha com aqueles que receberem, de coração aberto, os missionários de Jesus (cf. Lc 10,7).

A segunda parte é sobre a volta dos missionários e a avaliação feita diante de Jesus. Os 72 voltam com o coração cheio de alegria e grandes motivações, porque exerceram autoridades inclusive sobre demônios (cf. Lc 10,17). A missão não foi feita para o próprio discípulo, mas para o Senhor e em nome do Senhor. É importante ressaltar que a missão não poderá ser feita individualmente, mas acompanhado no mínimo por outro irmão ou irmã, para que haja fraternidade na ação missionária.

E na volta da missão é necessário colocar em comum para se partilhar das maravilhas da experiência. Quando levamos a mensagem de Paz em nome de Jesus, e há um acolhimento, construímos a Paz e a fraternidade no mundo. Isto é, derramamos nos corações humanos a presença do Ressuscitado que também deu a paz nas suas aparições aos discípulos nos dias próximos à ressurreição.

Este texto de Lucas nos ensina que os cristãos batizados de hoje são os convocados para viverem esta missão de Paz. Chamados pelo Senhor para serem sal e luz do mundo (cf. Mt 5,13-16) nas diversas realidades da vida das pessoas, todos são enviados a anunciar a paz a cada lugar que estiver. E o anúncio mais forte será o testemunho de uma experiência com Jesus, reconhecendo que primeiramente a missão é feita em nome dele e para o seu Reino. Faz-se necessário reconhecer que a messe é grande, ou seja, é maior que os nossos espaços religiosos, os grupos que participamos ou os ministérios que assumimos.

Outra necessidade é o crescimento do grupo daqueles que respondem ao chamado do Senhor e que podem dedicar ao serviço do Reino. E para que isto aconteça é preciso que a Igreja esteja em oração (cf. At 12,5). A evangelização não é exclusividade dos bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos e os leigos consagrados, mas de todos os batizados. Evangelizar é tarefa de todos. Os casados, os jovens, as crianças, os ministros ordenados e consagrados numa comunhão e partilha, como catequistas e missionários permanentes, cada um com seus dons, em seu próprio campo de atuação e estado de vida cristã.

Para vivermos a vocação missionária precisamos abraçar a dimensão mística do cristianismo, que é o amor ao Ressuscitado dentro de uma realidade de pessoa renovada, carregando as marcas de Cristo em nosso corpo, como testemunhou São Paulo (cf. Gl 6,17). Pois somente percorrendo o caminho de Jesus como aqueles 72 que ele enviou em missão, podemos também partir para missão e retornarmos alegres pelo bem que fizemos, pois fizemos em nome dele e para ele. É a certeza de ser chamado pelo Senhor e a alegria de segui-lo anunciando a Paz do Reino que produz conversão aonde vamos ou estamos. Amém.

***

⇒ POESIA ⇐

Abençoe os missionários, Senhor

Abençoai Senhor,
Os jovens que estão começando,
E os que há muito tempo estão andando,
Aos que acolhem os pobres desamparados,
Aos que rezam mesmo enclausurados.

Abençoai Senhor,
Os que levantam de madrugada,
Que andam a pé pelas estradas,
O que estão em pátrias distantes da sua,
Aos que evangelizam na própria rua.

Abençoai Senhor,
Os que promovem a cidadania,
Os que lutam por uma reta democracia,
Os que evangelizam pela educação,
E os artistas das diversas formas de criação.

Abençoai Senhor,
Os que voltam alegres da missão,
Que promoveram a paz e a união,
Os que do mal e os seus irmãos protegeram,
E que os seus nomes no céu escreveram.

Enfim, abençoai Senhor,
A tantos que não saem do seu próprio lugar,
Mas convertem o seu próprio lar.
Com um testemunho evangelizador,
Promovendo a paz, a harmonia e o amor.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Rabí (Mestre) ilumine o seu caminho ***

 

 

SOLENIDADE DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

 

Leituras: At 12,1-11; Sl 33(34); 2Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19

 

“São Pedro e São Paulo” (1605-1608), por El Greco (1541-1614).

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Pedro e Paulo: Colunas da Igreja

Mt 16,13-19

 

Na liturgia de hoje, a Igreja celebra a solenidade de São Pedro e São Paulo. Estes dois santos, colunas da Igreja, ambos martirizados em Roma, entre os anos 64 e 67 d.C, foram responsáveis pela condução e missão de levar a mensagem amorosa e vital do Ressuscitado ao mundo.

Contemplemos primeiramente Pedro, o pescador da Galileia, filho de Jonas e irmão de André. Em Tiberíades, quantos dias e quantas noites ficou no mar para buscar o seu sustento? Vivia a procura de peixes! Foi naquele mar que Jesus o encontrou num dia de pesca e o chamou para tornar-se pescador de pessoas. Com o seu coração conquistado pelo chamado e amor de Jesus de Nazaré, seguiu-o e, no percurso deste seguimento, teve altos e baixos, inclusive negando ser do grupo dos discípulos, quando na paixão de Cristo alguém o interrogou se era um dos seguidores daquele que iria ser crucificado.

No evangelho desta liturgia, Jesus pergunta a seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (Mt 16,13), Pedro responde: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,3.16). De Jesus recebe as chaves, para ligar e desligar no Céu e na Terra aquilo que convém ou não ao Reino (cf. Mt 16,19). Ele é pedra em torno da qual a Igreja de Cristo será edificada, ou seja, é vínculo de comunhão entre todos aqueles que seguem o Senhor, porque a Igreja é do Senhor.

A Igreja, a partir desta dimensão, será chamada apostólica, por estar fundada nesta missão de levar ao mundo a evangelização e a construção do Reino de Deus. Após a Ressurreição de Jesus, Pedro foi fortalecido e encorajado. Pedro tornou-se, então, um apaixonado pela missão de levar a mensagem da ressurreição. Uma paixão que venceu o medo e que o fez andar na contramão do Império Romano, batendo de frente com os fariseus e demais autoridades, chegando a ser preso.

Mas a presença do Ressuscitado, que não tem barreiras e é invencível, quebrou as correntes da prisão e o fez caminhar firme ao lado do anjo de Deus, de porta a fora, para a missão de anunciar o amor e a paz ao mundo. A presença do anjo também serviu para ter a certeza de que o Senhor caminha junto nesta missão divina, vencendo o poder de opressão e da escravidão (cf. At 12,7-11).

Sobre Paulo também temos muito a dizer de acordo com as leituras bíblicas. Foi um doutor da lei, zeloso pela doutrina judaica, contemporâneo de Jesus e de seus discípulos. Foi perseguidor e inimigo do grupo dos seguidores de Jesus. Foi perseguidor dos primeiros cristãos. Mas um dia Cristo também o conquistou de forma impressionante, numa viajem na estrada de Damasco.

Após convertido, coloca todo o seu saber, todas as suas forças e todas as suas motivações para propagar a fé no Ressuscitado. Viajou a diversos lugares e formou comunidades entre os judeus e pagãos. Também sofreu pelo Senhor, foi perseguido, maltratado e martirizado, mas alimentado pela presença do Senhor também disse: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2Tm 4,7).

Suas cartas são de uma riqueza espiritual e pastoral imensa para a Igreja da época e também no decorrer dos séculos. Continuam hoje como textos valiosos e profundos para a liturgia, a catequese, grupos, comunidades e para a vida missionária da Igreja no mundo inteiro.

A liturgia de hoje está repleta do testemunho destes dois apóstolos. Eles são chamados colunas da Igreja, por que marcaram e marcam a caminhada dos cristãos. Eles nos fazem refletir que Deus chama os pecadores para serem santos e para levar a mensagem do Reino através do testemunho de conversão e a missão de levar a Palavra ao mundo inteiro, formando comunidades de amor e sendo vínculo de comunhão.

Também aprendemos que não é somente os sábios (intelectuais) que o Senhor chama. Estão incluídas as pessoas das diversas realidades de vida. Basta estar aberto ao chamado e querer viver uma experiência de caminhada com o Senhor, numa busca de crescimento espiritual e de discipulado.

Hoje, na condução da Igreja de Cristo, está um descendente de Pedro, o Papa, figura importante na busca pela santa unidade da fé cristã. Ele orienta e faz crescer o rebanho do Senhor. Ele governa e transmite o ensinamento na condução da barca do Senhor, que é toda a Igreja. Barca que rema e enfrenta as tempestades em meio ao imenso mar (o mundo), com suas inúmeras controvérsias.

Com o testemunho de Paulo, somos motivados a seguir em missão pelas diversas aldeias e realidades da vida humana. Cada palavra do evangelho, semeada nos corações, é uma oportunidade de anunciarmos o Cristo, pregando a vida nova, podendo dizer quem é o Ressuscitado e o que ele pede de todos nós. Nisto se dá o sentido da vida cristã: levar a Palavra aos vários cantos do mundo, com coragem, determinação e sem medo das consequências que poderão trazer a pregação sincera do Evangelho.

Portanto devemos seguir em frente olhando para São Pedro e São Paulo, como bases da vida apostólica e missionária da Igreja. Eles nos ensinam a caminharmos com o Ressuscitado e a superarmos nossas fragilidades e pecados que impedem de seguirmos em frente com ele. Acolhamos as palavras do apóstolo Pedro quando escreve ao povo da sua época, e a todos nós cristãos de hoje: “Estejam sempre preparados para responder a qualquer um que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês” (1Pd 3,15). Amém.

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

As colunas da Igreja

Um é o pescador
Pescador dos mares da existência,
Chamado pelo Senhor,
Para uma experiência,
Segue-O pelo caminho
Não viverá sozinho,
Mas terá as exigências.

Outro é o doutor,
O sábio, o rigoroso,
Que seguiu sem temor,
O Senhor amoroso,
Deixou a estrada da morte,
E seguiu firme e forte,
Apaixonado, fervoroso.

Os dois seguem andando,
Superando as barreiras,
Cristo os foi conquistando,
Para a missão primeira,
Que é o Reino implantar,
E a Palavra semear,
Pela sua vida inteira.

Pedro viveu com o Senhor,
Ainda neste mundo,
Conheceu seu amor,
Mais forte e mais profundo.
E quando o Senhor partiu,
E então ressurgiu,
Ele saiu pelo mundo.

Paulo viveu diferente,
Toda a sua conversão,
E foi seguindo em frente,
Caminhando em missão,
Formou muitas comunidades,
E pregou toda a verdade,
Na busca da comunhão.

Hoje Pedro, o nosso Papa,
Segue firme, a remar,
Essa barca, que é a Igreja,
E o mundo, o imenso mar,
Vai sempre anunciando,
E com Cristo caminhando,
Sem medo de afundar.

E nós, os tantos cristãos de hoje,
Da nossa atualidade,
Como ser comunhão,
Nesta sociedade,
Como ser sal e luz,
Como carregar a cruz,
E formar comunidade.

Somos Pedro, somos Paulo,
Pelas várias estradas,
Comunhão e missão,
São as nossas jornadas.
Somos a fraternidade,
Vivendo a caridade,
E sendo vidas doadas.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

XII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Zc 12,10-11;13,1; Sl 62; Gl 3,26-29; Lc 9,18-24

 

“A profissão de fé de São Pedro” (1886-1894), por J. Tissot

 

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⇒ HOMILIA ⇐

A identidade de Jesus

Lc 9,18-24

 

Neste 12º domingo do tempo comum, contemplamos Jesus em oração com os seus discípulos. O evangelista Lucas (cf. 9,18-24) nos apresenta duas perguntas concretas sobre Jesus. Primeiro: o que as pessoas dizem sobre ele? Em seguida ele se dirige aos discípulos e pergunta: E vós, quem dizeis que eu sou? Neste trecho podemos constatar o testemunho de Pedro na sua profissão de fé quando responde a Jesus: “és o Cristo de Deus” (Lc 9,20), … ou seja, o ungido, o escolhido ou o enviado do Pai (cf. Lc 9,20).

O evangelho prossegue com mais dois momentos bem distintos: Jesus apresenta o primeiro anúncio da sua paixão, morte e ressurreição – O filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei, ser morto e ressuscitar no terceiro dia (cf. Lc 9,22). Depois Jesus fala para os discípulos sobre as condições para segui-lo (cf. Lc 9,23-24). Para quem quer segui-lo, deve saber que neste caminho encontrará o sofrimento, a perseguição, a cruz.

No tempo dos discípulos, naquele momento, a pergunta era mais para Jesus na sua natureza humana entre os homens (Jesus histórico) do que para o filho de Deus, o enviado do Pai. Necessariamente se teria uma resposta da parte dos que estavam convivendo com ele na sua caminhada (os discípulos) e outra resposta da parte dos que viam Jesus de longe, nas suas pregações, milagres e curas ou os que ouviam falar dele.

Estes últimos conseguiam vê-lo pelos menos como um grande profeta (os curados ou convertidos), ou como um blasfemo, agitador do povo (os fariseus). Mesmo as escrituras mostrando sobre a vinda de Deus aos homens; mesmo os profetas anunciando a realidade da qual Jesus viveria, não era possível acolher a mensagem do filho de Deus. O profeta Zacarias, na primeira leitura, faz referência ao que Jesus iria passar (a cruz): “Naquele dia, haverá um grande pranto em Jerusalém” (Zc 12,11).

Quanto à resposta de Pedro [“és o Cristo de Deus” (Lc 9,20)], esta deve ser também a resposta dos que hoje vivem a experiência do ressuscitado na comunidade dos batizados, dos que buscam viverem mais fortemente a comunhão. Ou seja, os que vivem a experiência de oração com o Senhor, na Eucaristia, na escuta da sua palavra e o veem como o Deus que salva, que os ama e que está glorificado, ressuscitado, para glorificar todos aqueles que abraçaram o seu amor e se abriram para o infinito da vida celestial.

Porém existem muitos que o enxerga como o “reencarnado”, o “curandeiro”, o “mago”, o “psicológo”, o “sociólogo”, o “grande profeta” etc… Menos como Deus verdadeiro. Isto é o que lemos como títulos de diversos livros espalhados pelo mundo a fora.

Agora podemos também nos perguntar: quem é Jesus para nós batizados? Como acolhemos a sua proposta de vida em nosso caminhar, nos nossos dias claros e nas nossas “noites escuras”?

É importante refletir que a nossa vida de cristãos tem estas três dimensões espirituais e humanas apontadas por Lucas: a oração com o Senhor; a fé na sua ressurreição e consequentemente na nossa; e a consciência de que no caminho do Senhor sempre teremos cruz. Sempre teremos desafios a superar, mas temos uma certeza: ele está conosco nos fazendo uma comunidade fraterna, nos tornando irmãos e irmãs como referência para a paz e a fraternidade no mundo e, ao mesmo tempo, nos encaminhando para a vitória, nos conduzindo e nos preparando para o Céu.

Esta experiência de compromisso nasce do nosso batismo como nos fala São Paulo na segunda leitura: “Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27). Portanto aos batizados que vivem a experiência de comunidade, vem o compromisso de viverem as mesmas atitudes de Cristo, porque são revestidos da sua presença e vida. E aos que estão de fora, batizados ou não, também o nosso mandato de nos dirigirmos para anunciar a Boa-Nova do Reino, para que estes possam viver um reencontro com Senhor, por que somente nele encontramos a liberdade, a paz e a felicidade perfeita.

A nossa adesão perseverante e consciente ao seu caminho é nossa melhor resposta ao que ele nos perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” E os cristãos darão sempre uma resposta de fé e que deve ser de plena convicção, quando na oração Eucarística o sacerdote anuncia o mistério da fé e nos respondemos: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda!” Meditemos nesta resposta durante a semana.

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Quem é este Senhor?

 

Quem é este Senhor?
Repleto de PAZ,
Que o amor nos traz,
Que nos questiona,
Mas não nos aprisiona,
Que nos mostra o caminho,
E não nos deixa sozinho.

Quem é este Senhor?
Primeiro vivente,
Que de repente,
Faz-me parar,
Para meditar,
E vai me perguntando,
Quando vou caminhando.

Quem é este Senhor?
Que me é sincero,
Quando não espero,
Fazendo-me rezar,
Para a cruz carregar,
Sem decepção,
Rumo a redenção.

Ele é a Verdade,
Nele está a Vida,
Dando-nos a medida,
Para o bem viver,
Para na fé crescer,
Todos que a ele ama,
E não se desengana.

Ele é o vencedor,
O Ressuscitado,
Nosso bem-amado,
Que nos tira da morte,
Com ele somos fortes,
E nas diversas dores,
Faze-nos vencedores.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Cristo de Deus ilumine o seu caminho ***

 

 

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Pr 8,22-31; Sl 8; Rm 5,1-5; Jo 16,12-15

 

 

Os três anjos que visitaram Abraão, como símbolo da Trindade. (cf. Gn 18), por A. Rublev (*1360+1430).

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Santíssima Trindade: um Deus que é comunidade

Jo 16,12-15

 

Na segunda semana após o dia de Pentecoste iniciamos outro momento na Igreja, o tempo comum. Trata-se do percurso mais longo dentro da caminhada litúrgica dos cristãos católicos. No domingo passado, o Círio Pascal foi recolhido para um espaço mais reservado, porque agora são os cristãos que, com a força do Espírito Santo e alimentados da experiência do Tempo Pascal, são chamados a serem luz do mundo, velas acesas da fé nas várias realidades da vida.

Dentro do tempo comum teremos várias solenidades, a primeira é a da Santíssima Trindade, a qual celebramos no domingo após Pentecostes. A Trindade Santa é o fundamento da nossa vivência cristã, pois tudo o que celebramos ou vivemos, segundo a vontade de Deus, é em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Há uma reflexão belíssima, inspirada na exortação apostólica Verbum Domini (Palavra do Senhor), de Bento XVI, que pode nos servir muito bem no que se refere à Santíssima Trindade: “Temos antes de tudo a voz divina. Ela ressoa nas origens da criação, quebrando o silêncio do nada e dando origem às maravilhas do universo. É uma Voz que penetra logo na história ferida pelo pecado humano e atormentada pela dor e pela morte. Ela caminha junto com a humanidade para oferecer sua graça, sua aliança, sua salvação. É uma voz que desce logo nas páginas das Sagradas Escrituras que agora nós lemos na Igreja sob a guia do Espírito Santo que foi doado como luz de verdade a ela e a seus pastores.”[1]

É a voz que chamou Abraão, Moisés e orientou os profetas na caminhada do povo, que é apresentado na 1ª leitura, como a sabedoria que existe antes de tudo. Esta voz é o próprio Deus que falou na história e fala para nós, é o Pai de onde tudo procede. (cf. Pr 8,22-31).

A Palavra também tem um rosto, o Verbo encarnado que também estava no princípio. É ele quem nos revela o “sentido pleno” e unitário das Sagradas Escrituras, pelas quais o cristianismo é uma religião que tem no centro uma pessoa: Jesus Cristo, revelador do Pai. Ele nos confirma o que o texto do Gênesis diz: “Façamos o homem à nossa imagem, segundo a nossa semelhança” (Gn 1,26). Porque nós nos parecemos com Deus e Jesus não somente é parecido conosco como também assumiu a nossa natureza.

No Evangelho desta liturgia, ele próprio nos fala do Espírito da verdade e do Pai. Tudo o que o Pai possui é dele (cf. Jo 16,13.15), ou seja, ele revela a missão do Espírito Santo e apresenta o Pai para os discípulos.

E podíamos completar: A Palavra também tem uma fonte de amor que distribui os dons e anima os caminhos da Igreja fazendo criar comunhão e unidade. Ele, que segundo o Credo Niceno-Constantinopolitano, é o “Senhor que dá a vida, que procede do Pai, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado e que falou pelos profetas.”

Tudo isso para dizer que a Trindade Santa é esse Deus único, que é comunidade, é comunhão, que nos chama a vivermos o amor a partir dele. Santo Hilário, Bispo (*300+368), no seu tratado sobre a Trindade, nos diz: “um só é o Poder, do qual tudo procede; um só é o Filho, por quem tudo começa; e um só é o Dom, que é penhor da esperança perfeita.”[2] Tudo é perfeitíssimo na Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo: a infinidade no Eterno, o esplendor na Imagem, a atividade no dom.

Portanto, a Santíssima Trindade é o nosso Deus comunhão que nos acompanha na nossa vida litúrgica e no dia-a-dia da nossa caminhada terrena, pois sempre iniciamos e terminamos nossas celebrações, encontros e momentos de oração, em nome da Santíssima Trindade. Também recebemos os sacramentos em nome da Trindade. Por fim, o nosso dia será sem sentido e a nossa noite incompleta se não iniciarmos e terminarmos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém!

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[1] Resumo da mensagem do Sínodo dos Bispos ao povo de Deus, em 24 out. 2008. Disponível em: <https://pt.zenit.org/articles/resumo-da-mensagem-do-sinodo-dos-bispos-ao-povo-de-deus/>. Acesso em: 12 jun. 2019.

[2] Liturgia das Horas: Ofício das Leituras – Sexta-feira da 7ª Semana da Páscoa.

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⇒ POESIA ⇐

Um Deus comunidade

 

Poder de onde tudo inicia,
Que ama e que cria,
Que nos faz parecido com ele.
Que tudo nos dá de presente
Ele é o Pai onipotente.

Rosto para nós revelado,
Que por nossas fraquezas é doado,
Que também está no princípio,
Natureza humana oferecida,
Caminho, verdade e vida.

Força de sabedoria e amor,
Também criador,
Que pairava sobre as águas,
Que seus dons a nós oferece,
Que anima e que aquece.

Deus que é comunidade,
Que nos ensina a unidade,
Envolvendo toda a nossa existência,
Que nos reúne como irmãos,
Que nos envia em missão.

 

*** Que a Palavra e a Luz da Santíssima Trindade ilumine o seu caminho ***

 

SOLENIDADE DE PENTECOSTES, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 2,1-11; Sl 103; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23

 

“Pentecostes” (1412-1416), por Irmãos Limbourg

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Manifestação pública do Espírito Santo

Jo 20,19-23

 

Celebramos neste domingo a descida do Espírito sobre a Igreja nascente, agora não somente sobre os apóstolos, mas também sobre as nações e culturas, as quais compreendem a mensagem do amor e da fé, pelo Espírito, em sua própria língua.

O que era antes uma experiência do grupo dos apóstolos, agora se expande pelo mundo com o sopro e o fogo do Espírito Santo. O que estava preso a um grupo, homens e mulheres que conviveram com Jesus na terra, agora é manifestado para aqueles que abraçaram a fé por milagres, pelas pregações e pelo testemunho corajoso dos discípulos do Senhor.

Pentecostes é o ápice do Tempo Pascal, por que inicia o tempo da Igreja, tempo este que já na Ascensão do Senhor estava se iniciando, pois o mesmo Senhor que sobe aos Céus está presente no meio de nós, na total doação de seu Corpo e Sangue, pela sua Palavra e pelos os dons oferecidos aos que se tornam também o Corpo de Cristo no mundo.

O Evangelho de João nos faz memória da Ressurreição quando os discípulos ainda estão profundamente marcados pelo medo, fechados em si e de portas fechadas (cf. Jo 20,19). A alegria renasce quando o Senhor traz a Paz para o grupo, que ao mesmo tempo os envia para a missão, com o objetivo de anunciar ao mundo o Reino de Deus.

A partir desta experiência, de encontro com Cristo ressuscitado, todos os que ali estavam reunidos ganham força e coragem para caminhar, pregando a experiência da Ressurreição.

Na primeira leitura (cf. At 2,1-11), temos a narração de Pentecostes, quando todos os discípulos estavam reunidos e então o Espírito Santo se manifesta, um fenômeno diferente, inédito para a Humanidade.

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (At 2,4). Aquilo que o Jesus anunciou, antes e depois da Ressurreição, agora se concretiza, pois a manifestação do Espírito Santo é para que os seus discípulos anunciem ao mundo a Boa-Nova do Reino nas diversas culturas, línguas, realidades e recantos do mundo.

Por isso que o Espírito Santo não tem limites, ele sopra onde quer (cf. Jo 3,8), vai aonde quer, como quer e oferece sua Luz e Força a quem ele quiser, desde que os convocados na sua liberdade queiram receber a sua presença.

Também podemos dizer que é exatamente a sua ilimitada manifestação, com suas diversas formas atemporais, que age além das nossas expectativas humanas e barreiras geográficas. Foi esta verdade anunciada e constatada na Igreja em toda a Tradição cristã, que conseguiu chegar a nós em pleno século XXI. Foi a experiência de abertura para a missão dos primeiros cristãos, que carregados da fé corajosa, conscientes e às vezes também com marcas humanas de fraquezas, fez a messe do Senhor crescer e dar frutos, se espalhando pelos imensos espaços do mundo até nossos dias.

Há outra dimensão da ação do Espírito Santo, apresentada na 2ª leitura, que merece a nossa reflexão: “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos.” (1Cor 12,4-6).

São Paulo nos fala da manifestação do Espírito Santo em cada um de nós. São os dons oferecidos aos que se deixam conduzir pela ação de Deus e do seu Espírito. Os cristãos, como membros de um mesmo corpo, recebem dons para colocarem a serviço do bem comum. É isto que faz a beleza e a ilimitada ação na Igreja no mundo, pois somos membros que agem com diferentes serviços para que a Obra de Deus esteja presente em toda humanidade.

Quantos dons podemos oferecer a Deus? Desde o simples acolher na porta do templo, do cantar, preparar o Altar, pregar para o povo, coordenar um grupo, animar comunidades e grupos, visitar as famílias. Enfim, a Messe é grande, como afirmou o Senhor (cf. Mt 9,37).

E para fora dos espaços da Igreja, quantas capacidades podem ser oferecidas para levar Deus e sua Palavra, no cuidado quando estamos a evangelizar, por exemplo. Também a arte de compor uma música, de cantar, de fazer um poema, dar aulas e palestras, escrever uma matéria, defender a vida nos espaços políticos e sociais, escolas e meios culturais.

Tudo isso são dons do mesmo Espírito, o qual estava no início da Criação (cf. Gn 1,2), que falou pelos profetas, que anunciou a Maria a encarnação do verbo, que esteve presente no Batismo de Jesus, que o conduziu ao deserto e também durante sua missão.

O mesmo Espírito animou os apóstolos após a Ressurreição, que desceu em Pentecostes e que impulsionou a Igreja na propagação do Evangelho no decorrer dos séculos. E em quantas realidades primordiais podemos certificar a presença do Espírito Santo, tais como nos sacramentos, no chamado vocacional, na missão, nos nossos trabalhos pastorais etc.

Agradeçamos a Deus pelos tantos dons do Espírito Santo, oferecidos à Igreja para o serviço do Reino. E quanto a nós devemos sempre nos manter na convicção de que tudo aquilo que vivemos e fazemos para o bem maior, é pela força do Espírito Santo, que é Deus, a alma da Igreja, Senhor que dá a vida, que renova a face da terra (cf. Sl 103) e que nos santifica na vida de seguidores e seguidoras do Senhor Ressuscitado.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Ele é o mesmo em todo tempo

 

Presente desde o início,
Está o santificador,
Nas águas da Criação,
Presença viva de amor,
Que conduziu os profetas,
Nas suas lutas e alertas,
Junto ao povo sofredor.

Presente está em Maria,
Na sua Anunciação,
Quando fala para ela,
Do plano da salvação,
Presente também em José,
Que fez o caminho a pé,
Nos tempos de perseguição.

Presente também em Jesus,
No Batismo e no deserto,
Na caminhada do povo,
Dizendo o caminho certo.
Nos encontros de alegria,
Na vida de cada dia,
Um Deus sempre muito perto.

Presente na Ressurreição,
Como sopro de alegria,
Vencendo o medo e o desânimo,
Que nos discípulos estaria.
Fazendo um caminho novo,
Junto a multidão do povo,
Igreja que já nascia.

Presente em Pentecostes,
Ao mundo manifestado,
Para as diversas culturas,
Para o mundo anunciado,
Dom de amor incomparável,
Imenso e insondável,
Deus de amor ilimitado.

Presente em nós, cristãos,
Com força e santa alegria,
Com inumeráveis dons,
Que no caminho nos guia,
Que nos tira da tristeza,
Que nos dá a fortaleza,
Na vida de cada dia.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

DOMINGO DA ASCENSÃO DO SENHOR, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 1,1-11; Sl 47(46); Ef 1,17-23; Lc 24,46-53

“A Ascensão” (1886-1894), por J. Tissot


Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Vibremos de alegria, na Ressurreição do Senhor

Lc 24,46-53

 

A liturgia deste domingo nos convida a celebrarmos com grande alegria, o “culminar do mistério Pascal”[1], a Ascensão do Senhor como garantia da nossa santidade nele e como certeza de chegarmos também juntos na dimensão celestial, para vivermos eternamente a contemplação de nosso Deus.

Se a ressurreição é a certeza de que em Cristo todos somos chamados à família das pessoas novas, revestidos de plenitude de vida, a Ascensão é a garantia de que contemplaremos a Deus na glória celeste e seremos revestidos de santidade e da beleza divina. A beleza divina pertence àqueles que livremente decidiram seguir o Senhor na escuta da sua Palavra e na vivência da caridade durante a caminhada terrena (cf. Mt 25,34-36).

Podemos lembrar o evangelho de São João quando diz que o “verbo de Deus se fez carne e veio habitar entre nós” (Jo 1,14). Ele desceu do céu para nos mostrar que a santidade e a salvação pertencem a todos que o buscarem, pois não há barreiras de culturas e povos. O Céu é o lugar dos que querem viver o seu amor e que glorificam o seu nome, e todos que seguem este chamado devem dar testemunho desta Boa-Nova no mundo sendo fermento, sal e luz entre os povos.

Nesta liturgia contemplaremos dois textos de São Lucas: primeiro, o que narra a memória do percurso de Jesus na sua missão redentora no mundo (cf. 24,46), e seguindo ainda o mesmo trecho, lemos o pedido de Jesus para que os seus discípulos sejam testemunhas de tudo o que o Senhor fez, pois o Espírito Santo os guiará e assim o Senhor os abençoa e depois se eleva ao céu (cf. 24,48-52). O segundo texto de São Lucas é Atos dos apóstolos, o qual repete com mais detalhes a Ascensão do Senhor e que, de certa forma, complementa a narração sobre experiência da ressurreição de Jesus e a sua subida ao Céu como prova de que Ele nos elevará também ao Reino celestial.

E o que podemos aprender destas narrações? A subida de Jesus ao Céu, não é uma ausência, mas a garantia de que nós estaremos com Ele, um dia, porque o Espírito Santo nos ensinará e nos conduzirá a esta realidade.

A Ascensão do Senhor também significa que Ele está acima de todas as pretensões humanas, por que o seu Reino já começa entre nós, pois somos o seu corpo, templos do Espírito Santo, chamados a celebrar um culto novo como novas criaturas e, desta maneira, vivendo a dimensão das realidades de Deus, para morar também com o Ele.

Podemos citar a segundo leitura, na carta aos Efésios, quando nos fala daquilo que o Senhor nos possibilitará para vivermos a santidade na realidade terrena, mas tendo como meta o Céu: “Que Ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder Ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente” (Ef 1,18-19).

Podemos, portanto, meditar sobre a presença do Senhor que sobe ao Céu, mas que ao mesmo tempo é presença viva na sua Igreja terrena, quando, por exemplo, celebramos a Eucaristia, sua presença real no meio de nós, pois no culto à sua Palavra e ao seu corpo antecipamos as realidades celestes, ou seja, vivemos já o céu na terra.

Neste sentido não podemos ficar somente olhando para cima como os apóstolos (cf. At 1,10), mas caminharmos em missão para preparar o Reino do Senhor em nosso meio, vivendo o seu mandamento maior que é o amor e ao mesmo tempo cumprido o seu mandato missionário, por que somos seus servidores responsáveis de levar a sua Palavra ao mundo com a nossa vida, sendo testemunhas vivas da ressurreição.

Encerremos, esta reflexão meditando com o responsório desta liturgia, (Sl 46): “Porque Deus é o grande Rei de toda a terra, ao som da harpa acompanhai os seus louvores! Deus reina sobre todas as nações, está sentado no seu trono glorioso”. Amém.

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[1] CABALLERO, Basílio. A Palavra de cada domingo: Ano C. Apelação [Portugal]: Paulus, 2000. Pág. 116-119.

 

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

A caminho do Céu

 

A Caminho do Céu estamos,
Quando o amor vivemos,
Quando o Senhor escutamos,
E seu alimento queremos,
Como discípulos em missão,
Em escuta e em oração,
E ao Senhor nos dobraremos.

A caminho do Céu estamos,
Quando vivemos a comunhão,
E juntos o amor celebramos,
Numa festa de irmãos,
Sendo Paz e alegria,
Na noite e também no dia,
Festejando a união.

A caminho do Céu estamos,
Quando a Palavra é encarnada,
Nas trilhas que caminhamos.
E a vida seja celebrada,
Em clima de serenidade,
Num chão de fraternidade,
Com a fé bem confirmada.

A caminho do Céu estamos,
Quando o nosso bem amado,
Esteja sempre onde estamos,
E nosso ser sempre inflamado,
Das coisas da redenção,
Sendo luz na escuridão,
E os passos por ele guiados.

A caminho do Céu estamos,
Quando nós, corpo do Senhor,
Sinais de vida sejamos,
Semeando sempre o amor,
Sendo o Reino já aqui,
E possamos imprimir,
A face de Nosso Senhor.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

VI DOMINGO DA PÁSCOA, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 15,1-2.22-29; Sl 66(67); Ap 21,10-14.22-23; Jo 14,23-29

“Jesus se despede dos discípulos”, por Duccio (*1308+1311)


Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Tempo Pascal: um grande Domingo

Jo 14,23-29

 

O Nosso caminhar dentro do tempo Pascal chega ao 6º domingo e assim nos aproximamos do Pentecostes, momento litúrgico em que a Igreja celebra a descida do Espírito Santo sobre todos os que estavam reunidos no “Cenáculo de Amor”, a Igreja que acabara de nascer. Estavam ali os primeiros discípulos e missionários da Igreja de Cristo.

A liturgia deste domingo, portanto, nos conduz a uma reflexão que retoma o tema do evangelho passado: o amor é a base da vivência cristã, é o mandamento maior que leva os homens a construírem uma vida de comunhão, paz e justiça. E este amor não é abstrato, ele está voltado para a Palavra do Senhor que nos conduz ao Pai (cf. Jo 14,23).

É a escuta e a obediência desta Palavra entre os discípulos que faz a comunhão. Já os desafios da missão da Igreja, quando esta foi se expandindo pelo mundo, são enfrentados graças ao Espírito Santo prometido pelo Senhor, como descrito pelo evangelista: “ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26b).

Para melhor compreender o versículo citado acima, podemos rever a primeira leitura. Na passagem, poderemos observar a discussão entre os que anunciavam o Senhor. Surge, então, a questão dos ritos de inserção vindos da lei judaica (no caso, a circuncisão) e se deveria ser observada por aqueles que queriam fazer parte do grupo dos apóstolos de Jesus, os primeiros cristãos.

Naquele momento surge a necessidade da abertura para uma lei que possa ir além do templo e das tábuas escritas. Aqui podemos retomar o Evangelho que cita o amor (acolhimento) como o critério principal para receber os novos convertidos no grupo dos apóstolos.

Também percebemos a ação do Espírito Santo quando são enviados de Jerusalém, missionários para levarem a mensagem da decisão dos apóstolos: “Por isso, estamos enviando Judas e Silas, que pessoalmente vos transmitirão a mesma mensagem. Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis: abster-se de carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, das carnes de animais sufocados e das uniões ilegítimas.” (At 15,27-29).

Todas estas situações acima citadas são realidades que aconteceram e acontecem entre os cristãos, pois a Igreja terrestre necessitou e necessita da conversão e da purificação constante como afirmou o Papa Emérito Bento XVI: “A Igreja é a esposa de Cristo, o qual a torna santa e bela com a sua graça. Contudo esta esposa, formada por seres humanos, está sempre necessitada de purificação. E uma das culpas mais graves que deturpam o rosto da Igreja é contra a sua unidade visível, sobretudo as divisões históricas que separaram os cristãos e que ainda não foram totalmente superadas”[1]. Esta purificação vem do Espírito Santo prometido por Jesus, pois é na caminhada dos primeiros anunciadores marcados pelas perseguições, opiniões diversas, discursões doutrinais que a ação do Deus Trindade está presente.

Não podemos imaginar uma Igreja que nasceu por que os colaboradores de Jesus já eram todos santos, somente o próprio Cristo era o Deus homem, o Santo e o vencedor da morte. Para se viver a santidade todos os apóstolos passaram pela purificação como homens terrenos, porque acolheram a força da ressurreição e seguiram firmes na fé guiados pelo Paráclito. A crença nas promessas de Jesus foi fundamental para que chegasse até nós o Evangelho e a mensagem da Boa-Nova.

Agora podemos nos maravilhar daquilo que o Senhor falou aos seus discípulos no seu discurso preparatório de despedida antes de subir ao céu: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 14,27).

Seguir o Senhor ressuscitado é ser guiado pela paz que nos conforta e nos deixa o coração livre para enfrentar os desafios da vida cotidiana e da missão evangelizadora.

Podemos ainda meditar com o livro do Apocalipse, quando João nos fala do novo templo que é próprio o Senhor, o Cordeiro Santo: “Não vi templo na cidade, pois o seu Templo é o próprio Senhor, o Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro.” (21,22). Esta deve ser a nossa compreensão de culto, pois viver a adoração ao Senhor na nova aliança agora não é mais estar preso ao espaço físico, à lei mosaica, porque se faz necessário viver o amor no mundo e saber que o Senhor está em todo lugar e inclusive em nós, em nosso coração, como templos vivos para a sua habitação e nossa santificação. Amém.

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[1] Bento XVI, homilia dominical na Praça de São Pedro, 20 de janeiro de 2013. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2013/documents/hf_ben-xvi_ang_20130120.html>. Acesso em: 21 maio 2019.

 

 

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

O amor é a nova lei

 

Amar, regra primeira,
E a obediência virá
Amor ilimitado,
E a lei se cumprirá
Ouvir atento a palavra,
E o Paráclito a guiar.

Acolher nosso Senhor
Para a paz receber,
Seguir a nova lei,
Para o outro acolher,
Não descriminar,
Seguir sem esmorecer.

Encontrar com os irmãos,
Pra viver comunhão,
Acolhendo aos que chegam,
Que a nós se juntarão,
Como fermentos vivos,
Novo Reino em ação.

Seguir sempre em missão,
Com o Espírito de Amor,
Como Templos, vivos e santos,
Novo culto ao Senhor.
Num caminhar de paz,
E coração em ardor.

Esta é a nova lei,
Que o mundo irá seguir,
O amor, a principal base,
E a Palavra a ouvir,
E um culto sempre novo,
Pra se construir.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

V DOMINGO DA PÁSCOA, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 12,21b-27; Sl 144(145); Ap 21,1-5a; Jo 13,31-33a.34-35

“Cristo lavando os pés dos discípulos” (1305), por Giotto (*1267+1337)


Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Um novo céu e uma nova terra, no amor do Senhor

Jo 13,31-33a.34-35

 

O evangelho do 5º domingo da Páscoa é um texto que não traz uma narrativa pascal, mas nos apresenta a base para vivermos o sentido daquilo que é o fundamento da vida nova em Cristo: o amor. Padre Raniero Cantalamessa[1] nos lembra que o evangelho e a segunda leitura nos apresentam a repetição de uma palavra em comum: o adjetivo “novo”. “Eu vos dou um novo mandamento” (Jo 13,34a) e no Apocalipse teremos: “Vi um novo céu e uma nova terra; Vi a cidade santa, a nova Jerusalém; Eis que faço novas todas as coisas” (21,1-2.5).

A Boa-Nova da ressurreição traz um sentido novo para vida dos que já seguiam o Senhor, e também para todos que foram envolvidos neste acontecimento. Portanto, a grande novidade é o amor que Jesus vive intensa e profundamente, doando-se por amor por toda a humanidade, não apenas pelos que o seguem, mas por todas as nações. Eis a grande novidade: Este amor é que alimentará todos os missionários e missionárias que darão continuidade a obra do Senhor.

Podemos então nos perguntar: O que faz uma comunidade cristã ser sempre nova em sua experiência de encontro com o Senhor e os com irmãos? O que faz uma família ser sempre sinal de alegria e testemunho de Deus no seu ambiente interno e externo? O que nos chama atenção num grupo de jovem que faz a diferença dentro de uma paróquia, nas suas atividades pastorais e na convivência interna? A resposta será obvia: é o amor, o novo mandamento pregado por Jesus. É amor vivido entre os irmãos e irmãs, que faz a novidade na experiência cristã.

Quantas vezes tantas comunidades morreram por já não existir mais o encanto do amor entre os irmãos, substituído pela frieza que apaga a chama da motivação? Quantas famílias são destruídas por causa da ausência do amor que não foi acolhido e vivido no lar? Quantos grupos de segmentos cristãos, jovens, crianças e adultos que param de se encontrar porque existem fortes divergências que não se resolvem por falta do amor fraterno?

Faz-se necessário lembrarmos que existem muitas comunidades, famílias e grupos que são sinais do amor que renova e que anima a Igreja, que motiva e faz ser Reino de Deus, já “aqui-agora”. Novas criaturas que inflamam o coração das pessoas e que são o fermento do amor verdadeiro para o mundo com suas atitudes e práticas evangélicas.

Rezemos por todos nós para que estejamos atentos ao motivo primeiro do nosso seguimento ao Senhor: o amor entre os irmãos. Amor que é diaconia (serviço) e missionariedade na vida da Igreja e no mundo. Rezemos também pelo Santo Padre, o Papa Francisco, pelos bispos, sacerdotes, diáconos, leigos, pais de família e todas as lideranças que estão na caminhada da Igreja, para que encontrem sempre o motivo de sua fé e sigam firmes com o Senhor na proclamação da sua Boa-Nova que nos diz: Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” (Jo 13,34-35).

[1] É o pregador da Casa Pontifícia. Cf. CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C. São Paulo: Ave Maria, 2012.

 

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

O novo é o amor

 

Desde que nós existimos,
Lá no início da criação,
Estava lá o amor,
Sendo de tudo a razão,
Para sermos semelhantes,
Naquele tempo e neste instante,
Para nos fazer doação.

Tanto tempo e nada velho,
Pois o amor não envelhece,
É eterno no existir,
Não se enruga, nem desfalece,
Está no início e em nosso tempo,
Ele é tudo, é alimento,
Se germina e refloresce.

Está em nossos encontros,
De partilha e comunhão,
Faz-nos criaturas novas,
No trabalho e na oração,
É o novo mandamento,
De Jesus, é o Testamento,
Pra vivermos como irmãos.

Novo é a vida nova em Cristo,
Doação da vida plena,
Pois o AMOR é infinito,
Que acolhe e não condena,
Aceita nossa liberdade,
Na escolha da verdade,
A caridade ele ordena.

Seguindo por este caminho,
Sempre, sempre renovados,
Ao lado do bem supremo,
Que é o Senhor ressuscitado,
No novo céu vamos chegar,
E o amor nos julgará
E novo sempre nós seremos.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Evangelho, do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

IV DOMINGO DA PÁSCOA, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 13,14.53-52; Sl 99; Ap 7,9.14b-17; Jo 10,27-30

“O Bom Pastor”, 1886–1894. Por J. Tissot (1836–1902)


Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

O verdadeiro pastor é aquele que dá a vida pelas suas ovelhas

Jo 10,27-30

 

Neste 4º domingo da Páscoa, contemplemos o Cristo, o Bom Pastor, que além de conduzir as ovelhas pelo caminho do amor, doa a sua vida por elas. Este é o grande sentido e o diferencial da missão do verbo encarnado no mundo: conduzir todos para o caminho do amor e da comunhão com o Pai, reunindo a grande multidão dos que o seguiram e seguem com firmeza e coragem.

Meditemos, brevemente, o evangelho e as leituras desta liturgia. Olhemos para Cristo, como o Bom Pastor, que tem uma voz (cf. Jo 10,27), que doa a sua vida, não uma vida temporal, mas a vida eterna, ele está em comunhão com o Pai (cf. Jo 10,30).

Olhemos para nós, as ovelhas, que querem ouvir a voz do Pastor, querem segui-lo e viver para sempre com ele… “Porque ele é o nosso Deus, nosso pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz com sua mão” (salmo 95). No Senhor somos unidos para sempre, como rebanho que quis seguir a voz do Pastor eteno, eterno por que na segunda leitura podemos meditar sobre esta certeza, que, de acordo com o Apocalipse, João contempla uma multidão diante do trono do Cordeiro. Trata-se de uma multidão que reuniu gente de todas as nações, tribos, povos e línguas e que era incontável (cf. Ap 7,9).

O interessante é que ao mesmo tempo em que somos ovelhas do Senhor, somos também chamados por ele para caminhar como seu rebanho e em comunhão fraterna, numa realidade de irmãos que se ajudam na motivação da fé e na busca da santidade.

Em Atos dos Apóstolos (cf. 13,45) temos o testemunho missionário de São Paulo e São Barnabé. Eles anunciam a Palavra de Deus aos judeus. E as consequências da ação missionária dos dois já sabemos: perseguição, realidade própria de todos aqueles que anunciam a Palavra libertadora de Jesus. Sobre isso São João, no Apocalipse, também dá testemunho da sua visão: “Então um dos anciãos me disse: ‘Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro. Por isso, estão diante do trono de Deus e lhe prestam culto, dia e noite, no seu templo’.” (Ap 7,14b-15).

Podemos lembrar de tantos santos e santas que viveram a experiência do encontro com o Bom Pastor e que em vida terrena já pronunciavam a certeza de fazer parte da incontável multidão na Igreja celestial. Viveram fiéis até o derramamento de sangue (São Sebastião – *256+286), viveram na pobreza (São Francisco de Assis – *1181+1226 – e Santa Tereza de Calcutá – *1910*1997), na profundidade da meditação espiritual deixando tantos escritos que chegaram até nossos dias como riqueza da espiritualidade cristã (Santa Tereza D’Ávila – *1515+1582 – e São João da Cruz – *1542+1591), além dos inúmeros anônimos que testemunharam e testemunham a fé na simplicidade, na doação de vida, na missão e na vivência das virtudes próprias de ovelhas que escutam a voz do Senhor e estão ligadas a ele.

Lembremos que o Senhor chamou, preparou e enviou discípulos para cuidar do seu rebanho e estes vocacionados o representam na caminhada da Igreja. O Papa, os bispos, os padres, os diáconos, os catequistas, os evangelizadores e tantos cristãos coerentes na fé que vivem no mundo do trabalho, nos mostram, pelo seu testemunho, a face do Bom Pastor que cuida das suas ovelhas. Porém não esqueçamos que o Rebanho é do Senhor, não sendo, portanto, propriedade particular de ninguém, por que ao mesmo tempo em que somos lideranças (pastores) somos também ovelhas do mesmo rebanho.

Rezemos por todos aqueles que estão na caminhada evangelizadora proclamando o Reino de Deus com a sua vida nas diversas realidades do mundo, para que sejam perseverantes na sua vocação e fermento de amor entre os irmãos, numa postura e consciência de que são discípulos do Ressuscitado, mas que são ao mesmo tempo parte integral do Rebanho que é conduzido pelo Bom Pastor.

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

Supremo Pastor dos pastores

Voz que conduz a multidão
Que orienta e purifica,
Que plenifica.
Que leva à eternidade,
Sendo caridade,
Cajado que dignifica.

Pastor que conhece o rebanho,
Protegendo-o no caminhar,
Não deixando desgarrar.
Mão protetora,
Vida salvadora,
Que se deixa amar.

Cordeiro supremo da vida nova,
Que acolhe a incontável multidão,
Que se une em comunhão,
Às diversas realidades das nações,
Mártires das tribulações,
Alvejados para a santificação.

E nós ovelhas seguidoras,
A sua voz escutamos,
A ele nos ligamos.
E como rebanho nos unimos,
Vida eterna garantimos,
E chegar ao trono, almejamos.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor, o Ressuscitado, ilumine o seu caminho ***