VII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: 1Sm 26, 2.7-9.12-13.22-23; Sl 102; 1Cor 15,45-49; Lc 6,27-38

 

⇒ POESIA ⇐

O AMOR ALÉM DO HUMANO

 

Amor aos inimigos, diz o Senhor,
Fazendo-nos amar na profundidade,
Indo além do dar e do receber,
Que é próprio da nossa humanidade.
Como fugir do convencional?
Como agir contrário ao mal?
E sair da vingança para a humildade?

Muitos humanos estimulam fortemente,
A revanche no lugar do perdão,
O olho por olho como sendo a lei,
Sufocando a reconciliação,
E, então, se esconde a verdade,
Não se vê o que é lealdade,
E emerge a forte contradição.

Fazer o bem aos enraivecidos,
Buscar vencer o ressentimento,
Provoca o bem, e, cura a pessoa,
Alivia os traumas e os sofrimentos,
Estimula a paz e a serenidade,
Faz caminharmos para a liberdade,
Cura a alma e seus ferimentos.

Bendizer os que nos praguejam,
Semear o bem e se desarmar,
Deixar que nosso coração,
Pulse livre sem se inchar,
Para que a vida seja alegria,
Seja inspiração pra poesia,
E, a estrada firme pra se caminhar.

E a oração aos caluniadores,
Que muitos vem a questionar,
Para alguns, quase impossível,
Mas ninguém pode desanimar,
Porque a oração é força vital,
Para os que creem é essencial,
Alimenta a alma e faz caminhar.

 

⇒ HOMILIA ⇐

O amor no alto nível cristão

Lc 6,27-38

 

A liturgia deste domingo vem nos trazer o tema do amor no mais alto nível, o qual brota da boca de Jesus. Trata-se do amor desprendido de recompensas ou de aprovação. O Evangelho de Lucas nos apresenta quatro pedidos de Jesus: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam e rezai por aqueles que vos caluniam” (Lc 6, 27-28). São conselhos que nos fazem pensar em nossas atitudes interiores e na prática de nossas posições no dia a dia de nossas vidas, no convívio com os outros.

Como seguir estes conselhos máximos de Jesus? As palavras dele nos inquietam, nos provocam e nos fazem pensar no desafio próprio do ser cristão na sua forma mais autêntica. Querendo ou não, o cristianismo é uma posição na contramão de muitas posturas e concepções, as quais podemos verificar nas nossas funções profissionais, nas escolhas políticas, no modo de vida de muita gente e, infelizmente, também presentes no cotidiano dos grupos humanos e das comunidades cristãs.

Às vezes esquecemo-nos destas palavras de Jesus e, portanto, agimos de forma muito incoerente com o Evangelho. Em diversos momentos podemos até afirmar que o pedido de Jesus é impossível de se viver. Esquecemos que as nossas curas interiores e a nossa conversão acontecem quando arrancamos os ressentimentos, quando nos desprendemos dos julgamentos e nos desfazemos dos desejos vingativos no nosso coração.

Entre tantos pedidos, Jesus ainda diz: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também a eles” (Lc 6,31). Quantas vezes desconhecemos este conselho e fazemos o contrário. Jesus nos motiva a vivermos atitudes novas em vista de um mundo novo. Numa sociedade de tantos incentivos a vinganças, discursos políticos incoerentes com o evangelho, somos chamados a nos despertar e nos iluminar para enxergamos as misturas de joio e de trigo presentes entre nós cristãos e também nos que se dizem cristãos e moralmente corretos.

Importante lembrar o texto da primeira leitura, quando Davi tendo a oportunidade de matar seu inimigo político, Saul, decide que esta não seria a sua atitude coerente com um pretendente a chefe de uma nação… Davi era o candidato ao trono, mas evitou sujar as mãos com o sangue da rivalidade e da sede de poder. Diz ele: “quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor e ficar impune” (1Sm 26,9). Os políticos do nosso país poderiam aprender muito com a atitude de Davi. Quantas vezes se mata o outro ou tenta-se armadilhas para se tomar o poder.

Assim foi a história humana ao longo da sua existência: posições do bem, fundamentadas no amor e conseguintemente fomentando a vida, e, posições do mal, onde está presente a morte por causa das disputas e vinganças as quais desaguam nas guerras e destruições da vida.

O que Jesus nos ensina no Evangelho, Davi já colocou em prática a milhares de anos antes. Mas em Cristo tudo é pleno e em vista do Reino de Deus. Não podemos também esquecer os tantos cristãos que vivem a favor da justiça, da caridade e da paz. O testemunho das pessoas que pregam o amor e encarnam em sua vida a atitudes e posições que a Palavra hoje nos pede, são expressões do evangelho no mundo.

Portanto, a liturgia de hoje nos motiva a olharmos para Jesus e acolhermos suas palavras carregadas das expressões que nos impulsionam a vivermos o seu amor e a sua misericórdia. Palavras, as quais brotam do seu coração divino. E assim, cada cristão é chamado ter as marcas do amor e da misericórdia de Deus.

Cristo é o novo Adão que veio nos visitar com sua humanidade e divindade, e, por isso, nos ensina aquilo que devemos fazer para transformar o mundo e ao mesmo tempo construirmos o seu Reino, que já acontece neste mundo quando se coloca em prática o amor aos inimigos, quando se vive a prática do bem, a benção aos que nos praguejam e a oração em favor dos caluniadores. Com a graça e a força de Deus é possível vivermos estas máximas de Jesus. Amém!

VI DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Jr 17,5-8; Sl 1; 1Cor 12.16-20,1-11; Lc 6,17.20-26

 

⇒ POESIA ⇐

MERGULHO NO MAIS PROFUNDO DA VIDA

 

Como a raiz da árvore próxima ao rio,
Buscando a energia e a força vital,
Assim é o homem que busca ao Senhor,
Vivendo sua essência original,
Com os pés no chão da vida, firmando,
Com segurança ele vai caminhando,
Sendo mensageiro, e, para o mundo um sinal.

Seguir o caminho da vida aventurada,
Na busca do verdadeiro sentido,
Nos propósitos das bem-aventuranças,
Com o caminho iluminado e fortalecido,
Sem se render a uma posição superficial,
Mas mergulhando na Palavra que é sinal,
E no abraço de um Deus amor e Pai querido!

O Senhor nos alerta a viver a felicidade,
Que se constrói pela nossa conversão,
Que se constrói na coerência e bondade,
Porque ele nos ensina a compaixão,
Nos motiva a vivermos no sumo bem,
Abraçados pela sua misericórdia também,
Porque ele nos oferece a redenção.

A Palavra do Senhor é também alimento,
Para os peregrinos da paz e da alegria,
Para os que promovem a justiça e a vida,
Na realidade da criação, a cada dia,
Porque Deus nos criou para a felicidade,
Para comunhão, o encontro e a fraternidade,
Como Pai amoroso nos fortalece e nos sacia!

 

⇒ HOMILIA ⇐

A felicidade que não se acaba

Lc 6,17.20-26

 

A liturgia deste Domingo nos apresenta Jesus descendo do monte e pregando as bem-aventuranças para as multidões e, especialmente, para os discípulos. A palavra de Jesus se dirige aos pobres, aos que passam fome, os que choram e aos que são odiados (cf. Lc 6,20-22). Esta realidade era percebida por Jesus no seu contato com o povo e na sua realidade conflituosa com os chefes políticos e religiosos da sua época.

A pregação de Jesus denuncia a realidade de pobreza, de fome, de angústia e de hostilidade em que o povo era vítima. Ele traz um alento e ajuda às pessoas a fim de que acreditem que as realidades de sofrimento humanas e terrenos podem passar. Outra realidade surgirá após esta vida. Jesus ao contemplar a realidade de seu povo traz a esperança e a segurança de que Deus está com os que sofrem e que ele quer construir um mundo de justiça, de paz e de alegria já neste mundo.

Os que buscam experiência da confiança no Senhor e que lutam por um mundo melhor são como a árvore plantada junto às águas, que estendem as raízes em busca de umidade (cf. Jr 17,8). Por essa razão, as pessoas que buscam o Senhor encontram força quando são atingidos pelo sofrimento, provindo da pobreza, da opressão e das calúnias que poderiam vir como consequência do discipulado.

A Palavra do Senhor será sempre o alimento que fortalece e a seta que orienta o cristão a seguir em frente. E, portanto, quem coloca sua existência numa busca do sentido mais profundo entenderá o significado das bem-aventuranças pregadas por Jesus. Os discípulos que acolheram o seu chamado entenderam que era preciso viver a experiência de desprendimento (pobreza) e, neste sentido, seriam também os bem-aventurados, os que encontraram em Deus o significado pleno de suas existências.

Num segundo momento a Palavra de Jesus também é dirigida a outro grupo: “Aí de vós ricos, porque já tende vossa consolação… Ai de vós que agora rides, porque tereis luto e lágrimas!” (Lc 6,24.25). Jesus alerta e provoca os que usam as suas riquezas com arrogância, aqueles que zombam dos que sofrem. Os “ais” de Jesus podem estimular a conversão dos avarentos, desumanos e zombadores. Sua voz pode ressoar como um apelo a uma mudança de vida em direção ao amor, à fraternidade e, sobretudo, a caridade.

Os cristãos podem se perguntar se no dia a dia de suas vidas não reproduzem as atitudes e posições desumanas e incoerentes ao evangelho. A cada encontro com o Senhor através de sua Palavra somos convidados a refletir sobre o sentido das bem-aventuranças.

Cabe nos perguntar sobre a provocação que as palavras de Jesus produzem no coração daqueles que se colocaram numa posição de opressão, de injustiça e firmam sua confiança unicamente nas obras e ações humanas, na adoração aos bens materiais, realidade que não possibilitam estabilidade à manutenção da essência do homem.

Precisamos entender que as bem-aventuranças não são uma apologia ao sofrimento, mas uma forma de dizer que a vontade de Deus seja presente e que o ser humano encontre a verdadeira felicidade. As bem-aventuranças nos apontam para a vida eterna, onde tudo é permanente passará e a vida será plena em Deus.

Portanto podemos nos perguntar: como está nossa vida de seguidor e servidor de Cristo?            Como procedemos e agimos no nosso dia a dia? Em quem depositamos nossa confiança? Para responder estas questões é importante vivermos em profundidade a experiência da fé no Ressuscitado e na nossa ressurreição, pois Cristo é o fundamento que nos faz seguir vivendo como peregrinos neste mundo em busca de uma vida de aventurança plena.

São Paulo escreve na sua carta aos coríntios: “… na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morrem. Nossa fé cristã deve se fundamentar na verdade destas palavras do apóstolo” (1Cor 15,20). Somente com esta confiança e esta certeza na ressurreição, podemos prosseguir com segurança nossa vida de discípulos e colocarmos nossos dons e testemunho a serviço do Reino de Deus, o qual já se inicia aqui pela nossa vivência fraterna, digna e coerente com o Evangelho. Amém!

V DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 6,1-2a.3-8; Sl 137(138); 1Cor 15,1-11; Lc 5,1-11

 

⇒ POESIA ⇐

AVANCEMOS PARA A MESSE

Avancemos para os campos,
Para as cidades, vilas e favelas,
Anunciemos nelas,
O dom do amor,
Também do fervor,
Sempre a proclamar,
E acreditar,
No que diz o Senhor.

Avancemos com a barca de Jesus,
Em busca das multidões,
Em mutirões,
Para viver a pesca,
Pois ainda resta,
A nossa obediência,
Na paciência,
E na vida honesta.

Avancemos com os discípulos,
Que firmes seguiram,
E se uniram,
A caminhar,
Vivendo a pregar,
As vezes a cair,
Mas sem desistir,
Sempre a levantar.

Avancemos para os mundos humanos,
Em suas existências,
Com suas essências,
Se fazendo união,
Na vida de irmãos,
Nas tantas partilhas,
Que para o mundo brilham,
Pela comunhão!

 

⇒ HOMILIA ⇐

Eis-me aqui, envia-me!

Lc 5,1-11

 

A liturgia que celebramos neste Domingo é toda voltada para a dimensão vocacional, pois, presenta o chamado dos primeiros discípulos de Jesus. Até então, nas liturgias anteriores, vimo que Jesus agiu e falou sozinho e dentro da sinagoga, dentro do templo. A partir de agora ele está em movimento, sairá do espaço religioso. Formará o seu grupo para presenciar o Reino, pois agora, cercado de seguidores fará a experiência da missão no mundo.

Podemos imaginar o cenário deste texto: uma manhã à beira do mar; uma multidão que cerca Jesus; pescadores desanimados pelo insucesso no seu trabalho, barcos vazios… tentaram a noite toda e não tiveram êxito na pesca.

O texto de Lucas terá três momentos que poderão ser observados para a nossa reflexão: (i) a pregação de Jesus à multidão; (ii) a pesca milagrosa; e (iii) o chamado aos quatro primeiros discípulos – Pedro e André; Tiago e João.

Depois dos ensinamentos às multidões, Jesus ordena a Pedro e aos seus companheiros que avancem para águas mais profundas e lancem as redes (cf. Lc 5,4), pois estavam na margem. Esta ordem arrancou Pedro da acomodação e do desânimo, que somente pela obediência ao Senhor atende ao pedido.

O resultado da ação dos futuros discípulos é o grande milagre da abundância de peixes que quase rompe as redes. Em seguida vem a confissão de Pedro: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!” (Lc 5,8). Este reconhecimento de que Jesus é o Senhor já sinaliza para a sua ressurreição quando vencerá a morte e trará a todos a prova de que ele é o Deus verdadeiro e quer que todos ressuscitem.

O terceiro momento é o chamado dos discípulos para serem pescadores de pessoas, para se lançarem no mundo com Jesus e viverem a missão de anunciar que o reino de Deus está próximo. O texto diz: “eles levaram os barcas para a margem, deixaram tudo, e seguiram a Jesus.” (Lc 5,11).

A barca é um símbolo que representa a Igreja onde Jesus opera o milagre da abundância, onde ele sacia todos da fome. Fome que deixa as pessoas desanimadas e sem motivação para continuar a jornada da vida.

Para os que seguem de forma mais radical o Senhor, faz-se necessário ser obediente para ir além das práticas religiosas e se lançar no mundo para testemunhar que a salvação está a nossa porta. Também é importante que no dia-a-dia da missão cristã, quando faltar a coragem e o ânimo para continuar, precisamos nos voltar para o Senhor e confiar na sua Palavra. Ela nos encoraja a continuar e a sermos sal e luz do mundo, onde quer que estejamos. Ele também nos aponta o caminho a seguir.

É importante para os missionários o reconhecimento de que somos pecadores e precisamos confessar a nossa fé no Senhor que nos chama; também é importante a vontade de ser melhor a cada dia, pois é isto que nos faz crescer. Precisamos discernir quando é necessário deixar aquilo que para nós “é tudo” e seguir em frente, mesmo continuando a nossa profissão, colocando os nossos bens e nossas capacidades (dons) a serviço do Reino.

Peçamos ao Espírito Santo o dom fortaleza para sermos melhores cristãos e digamos, como São Paulo, que somos o que somos pela graça de Deus (cf. 1Cor 15,10) e completemos com as palavras do profeta “aqui estou! Envia-me!” (cf. Is 6,8).

IV DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

Leituras: Jr 1,4-5.17-19; Sl 70(71); 1Cor 12,31;13-1-13; Lc 4,21-30

 

⇒ POESIA ⇐

MARCADOS PELO AMOR

Somente no AMOR,
Somos capazes de caminhar,
Seguir firmemente e sem desanimar,
Caminhar com o coração livre e dizer:
Que a caridade não se deixa vencer,
Pois o nosso julgamento final será pelo amor.
Quando em nós houve o agir acolhedor,
E a esperança nunca a desaparecer!

Somente com o AMOR,
Exalamos o perfume da vida verdadeira,
Vindo da flor que sai da videira,
Vida que segue até eternamente,
Se estendendo com calma e fraternalmente,
Fundamentada na Palavra sempre Viva,
Encarnada e com a unção ativa
Que se cumpre no hoje no povo crente.

Somente no AMOR,
Semeamos também nos gestos de profecia,
Da verdade não aceitada que se anuncia,
Porque a Palavra está na boca dos profetas,
Que falam, agem, motivam e despertam,
Denunciam as mentiras e a injustiças,
Os poderes, opressões e cobiças,
E por isso caminha também em alerta!

Somente no AMOR,
Somos capazes de entender,
Que desde o ventre e ao nascer,
Fomos por Deus, chamados e amados,
A serviço do Reino a ser implantado,
Que se dar na vida e na comunhão,
Na comunidade viva dos irmãos,
No encontro que nos faz congregados.

 

⇒ HOMILIA ⇐

A caridade como chave para o Reino de Deus

Lc 4,21-30

 

O Evangelho deste Domingo é a continuidade da liturgia dominical anterior. O texto do evangelista Lucas inicia exatamente onde terminou no Domingo passado: “Então começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura’.” (Lc 4,21). Diante da afirmação de Jesus dois grupos tiveram reações diferentes: os que davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca (cf Lc 4,22). E os que ficaram furiosos, que expulsaram da cidade e queria lançá-lo no precipício (cf. Lc 4,28-29).

Este texto nos traz duas reflexões importantes para a evangelização da Igreja nas diversas realidades humanas e culturais. Podemos recordar que diante das palavras de Jesus um grupo ficou admirado e até dava testemunho de Jesus, pois o reconhecia como um conterrâneo seu: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22). Porém outra turma ficou furiosa, pois quando Jesus faz memória da Primeira Aliança lembrando a ação de Deus em favor da viúva em Sarepta e do leproso Naamã que eram de outros povos, justificando que a ação de Deus não está restrita a um grupo de privilegiados, estes os expulsaram e queria assassiná-lo, lançando-o no precipício.

Pois bem, para os cristãos que estão na caminhada evangelizadora levando a Palavra como discípulos missionários, faz-se necessário estar atentos a estas duas realidades do mundo: na pregação sempre haverá os que escutam e ficam até admirados, depois dão testemunhos como seguidores do Senhor. Por outro lado, há os que não aceitam e até matam os profetas da verdade tentando calá-los.

Na primeira leitura lemos sobre o profeta Jeremias: “antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei. Eu te constituí profeta para as nações.” (Jr 1,5). Aqui vale frisar a experiência da profecia. Os cristãos são chamados a viverem pela vida e pregarem a experiência de ser, às vezes hostilizado, ignorados ou perseguidos como Jesus.

Meu irmão, minha irmã, você já se sentiu perseguido porque falou verdade, porque denunciou alguma injustiça ou porque se colocou a favor da vida?

E há ainda outra dimensão própria dos cristãos e que Lucas faz questão de frisar nos seus textos: a universalização da Palavra. Ou seja, inicialmente, todos são destinatários da salvação, dentro da sua liberdade e possibilidade de aceitar ou não.

Quando se fala das nações é exatamente neste sentido da Palavra dirigida a todos os povos e não somente a Israel. Percebemos então que já havia uma mensagem da Palavra de Deus através dos profetas que fomentava a universalização da libertação esperada pelos hebreus, porém dirigida a todas as nações.

Por fim, é importante meditarmos sobre a carta de São Paulo aos coríntios: “atualmente permanecem estas três coisas: fé, esperança, caridade. Mas a maior delas é a caridade.” (1Cor 13,13). Neste versículo temos a compreensão da base da vivência cristã, seja na evangelização ou nas ações sociais. Tudo o que fazemos deve ser fundamentado no amor com sentido caritas, pois sem este fundamento nossa pregação fica vazia e nossa ação será apenas uma filantropia fria e sem compromisso com o outro.

Peçamos as luzes do Espírito Santo para que ilumine nosso coração e nossa mente para entendermos o sentido principal do nosso ser cristão. Fiquemos com a máxima de São João da Cruz: “Pois ao entardecer do meu mortal viver serei julgado pelo amor.” Amém

III DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Ne 8,2-4a.5-6.8-10; Sl 18(19); 1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4; 4,14-21

 

⇒ POESIA ⇐

O ESPÍRITO DO SENHOR ESTÁ SOBRE NÓS

O Espírito do Senhor está sobre nós
Para que ilumine o nosso caminhar,
Para que purifique o nosso olhar,
Para que no corpo do Senhor,
Encarnemos o seu Amor,
E não venhamos a desanimar.

O Espírito do Senhor está sobre nós
Para fazermos o Reino acontecer,
No “hoje” desde o amanhecer,
Como naquele dia da Ressurreição,
Certeza da nossa redenção,
Infinita nossa vida há de ser.

O Espírito do Senhor está sobre nós
No seguimento de discípulos missionários,
Na vida dos pobres sendo solidários,
Para sermos sal e luz do mundo,
Vivendo com amor profundo,
Trabalhando como dignos operários.

O Espírito do Senhor está sobre nós,
Na escuta da Palavra e na oração,
Como membros em fraterna comunhão,
Vivendo em Cristo o amor perfeito.
Pra ser feliz não há outro jeito,
Somente buscando a santificação.

 

⇒ HOMILIA ⇐

Jesus é o cumprimento das Escrituras

Lc 1,1-4; 4,14-21

 

A liturgia deste Domingo, no que se refere ao Evangelho, nos apresenta dois trechos distintos de Lucas, ambos carregados de uma profunda mensagem. Na primeira parte (1,1-4) trata-se da introdução onde podemos observar as quatro etapas da formação dos evangelhos: (i) os acontecimentos sobre Jesus (cf. 1,1); (ii) a pregação dos apóstolos e discípulos de Jesus, os quais Lucas chama de testemunhas oculares e ministros da palavra (cf. 1,2); (iii) vários escritos menores também transmitidos pelos primeiros cristãos (cf. 1,2); (iv) o próprio escrito do Evangelho como lemos atualmente, quando o evangelista fala que decidiu escrever de modo ordenado (cf. 1,3).

Toda a introdução é dirigida a um certo Teófilo, que os estudos bíblicos e teológicos traduzem como “amigo de Deus”, ou seja, aqueles que estão abertos ao chamado do Senhor e querem seguir a sua Palavra e o seu caminho.

A segunda parte nos mostra Jesus indo à sinagoga como de costume. Na liturgia das sinagogas, celebradas aos sábados, eram proclamadas duas leituras: uma do Pentateuco, seguida do comentário de um especialista; e a outra tirada dos profetas, que poderia ser comentada por qualquer pessoa que tivesse a permissão do presidente da assembleia.

Parece que para muitos naquele sábado era uma celebração comum como as outras, mas não foi. Após a leitura feita por Jesus, algo era diferente: todos estavam de olhos fixos nele (cf. Lc 4,20). Jesus tem a permissão e faz uma homilia, afirmando que aquela palavra do Profeta Isaías (cf. 61,1-2) se cumpriu naquele momento. Mesmo que o povo esperasse por alguém para trazer a libertação de Israel anunciada pelos profetas foi difícil aceitar a afirmação de Jesus.

Jesus anuncia o programa da sua missão: a Boa-Nova (Boa-Notícia) direcionada aos pobres (devedores, cativos, doentes, oprimidos) que esperavam da parte de Deus tal benevolência. O olhar voltado para os pobres está mais presente em Lucas do que nos demais evangelistas, embora seja esse o projeto do Reino apresentado por Jesus. Ele é a própria Palavra encarnada, nele está encarnado o sonho do povo de Deus prefigurado na primeira leitura (livro de Neemias), quando Esdras celebra com o povo a Palavra de Deus para nutrir a esperança e para a renovação da Aliança com o Senhor. O texto de Neemias nos apresenta uma lista de orientações litúrgicas e, sobretudo, mostra-nos como deve ser o verdadeiro culto a Deus.

Ao declarar: “hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura.” (Lc 4,21) Jesus nos apresenta o cumprimento da chegada do Reino, o “hoje” determina que chegou a hora de vivermos plenamente a Palavra como regra principal, pois a libertação anunciada por Jesus é a própria redenção do homem, a salvação para todos. O vazio que torna as pessoas escravas das drogas, do álcool, da prostituição do corpo e das ideias relativistas é a maior pobreza. Além disso, o comodismo e a incoerência dos cristãos também trará consequências como a pobreza material, moral e as injustiças para os pequeninos de Deus.

Portanto, Jesus indica o que é necessário que façamos como seguidores dele e, sobretudo, como membros do seu corpo. É o que fala São Paulo na primeira carta aos Coríntios: “Vós, todos juntos, sois o corpo de Cristo e individualmente, sois membros desse corpo.” (1Cor 12,27). Ser membro do corpo de Cristo é sentir a dor dos outros membros, é também valorizar cada pessoa com dignidade independente do que seja, do que faça e do que tenha.

Para finalizar esta reflexão, podemos nos perguntar: qual o meu programa de vida cristã? Como batizado, será que tenho os olhos fixos em Cristo, para melhor viver o testemunho autêntico de um discípulo missionário do Senhor?

Peçamos ao Espírito Santo que nos conduza na nossa missão de seguidores de Cristo, sempre se sentindo como membro do Corpo de Cristo. Amém!

II Domingo do Tempo Comum – Ano C, São Lucas

 

 

Leituras: Is 62,1-5; Sl 95(96); 1Cor 12,4-11; Jo 2,1-11

 

⇒ POESIA ⇐

FESTA DO VINHO NOVO

Convidamos o Senhor
Para a festa nova da nossa vida,
Para matar a sede que nos torna tristes,
Para transformar a estrada percorrida,
Superando a barreiras que existem,
E que torna nossa história sofrida.

Convidamos a nossa Santa Mãe,
Que percebe nossas dificuldades,
Quando não temos o suficiente,
Para prosseguir o encontro com a verdade.
Pois nem sempre há clareza existente,
Para seguir o caminho da unidade.

Convidamos ainda os primeiros seguidores,
Que pela fé aderiram o Senhor,
Para sempre foram anunciadores,
Mesmo diante das barreiras e da dor,
Viveram a santidade como grandes pregadores,
Entregaram a vida com radical amor.

Que sejamos servos obedientes,
Quando o Senhor algo nos pedir,
Possamos exercer a liturgia da vida,
Vivendo a santidade agora e aqui,
Que nossa missão nunca seja esquecida,
E que o vinho novo possa sempre existir.

Que a mesa santa traga-nos a fraternidade,
E os gestos falem mais do que pronunciamentos,
Trazendo os sinais da transformação,
E a alegria viva como fermento,
A justiça e a paz via de comunhão,
E o amor na vida: sentido e sustento.

 

⇒ HOMILIA ⇐

Fazei tudo o que o Senhor vos disser

 

Estamos na primeira parte do Tempo Comum que totaliza cinco semanas até o início da Quaresma. A liturgia da Palavra nos apresenta o evangelista João com o conhecido texto das Bodas de Caná.

Na cultura judaica as festas de casamento duravam em média uma semana e o vinho era a bebida principal a qual não poderia faltar. Mas naquela festa, a qual estavam Jesus, Maria, os discípulos e muitos outros convidados, faltou o vinho. Maria, na sua sensibilidade e percepção da situação, quer livrar os noivos de tão grande constrangimento, ela tem consciência e a certeza que Jesus poderia resolver o problema, por isso o chama, pedindo que encontre uma saída e depois fala para os servos da festa que obedeçam ao que o Senhor disser (cf. Jo 2,5).

E Jesus opera o seu primeiro milagre, que o evangelista João chama de primeiro sinal, pois a água transformada em vinho é sinal de vida nova ao mesmo tempo em que já aponta para a sua ressurreição e a certeza da nossa salvação por meio dele.

O vinho novo também se relaciona com a Eucaristia quando é transformado no corpo e sangue do Senhor, o sangue da Nova Aliança que nos conduz à nossa redenção.

Podemos refletir mais alguns pontos desta passagem do evangelista João: a presença de Maria neste episódio nos leva a meditar que ela é a intercessora diante das nossas necessidades, ela é primeira discípula de Cristo e também quem primeiro nos pede para obedecer à palavra de Deus: “Fazei tudo o que o Senhor vos disser” (Jo 2,5). Depois, o sinal de Jesus realizado numa festa de casamento nos aponta para a primeira leitura, em que o profeta diz que “já não te chamarão ‘Abandonada’, nem chamarão à tua terra ‘Desolação’. Antes, será chamada ‘Meu prazer está nela’, e tua terra, ‘Desposada’. Com efeito, o Senhor terá prazer em ti e se desposará com tua terra.” (Is 62,4). Na caminhada do povo de Israel, Deus é o esposo fiel mesmo diante das infidelidades de seu povo. No Novo Testamento Jesus é o esposo fiel da Igreja que doa seu corpo e seu sangue para que esta seja alimentada e torne-se presença do Reino no mundo.

Outro ponto interessante é que este primeiro sinal de Jesus fez os discípulos crerem nele, significando que a partir daí eles fizeram a adesão verdadeira e seguiram alimentados pela fé no Senhor que os chamou.

O encontro com o Senhor e a vivência da fé nele, deve nos levar para a experiência do discipulado missionário onde devemos testemunhar o próprio Cristo e ser sinal de amor no mundo de tantas controvérsias. O amor de Deus por nós é constante e eterno, ele é o esposo fiel mesmo que haja infidelidade ao longo do caminho que percorremos, ele que não deixa acabar o vinho da alegria na festa da nossa vida.

Não podemos esquecer que o matrimônio é o grande sinal do Reino no mundo, expresso na unidade, na fidelidade, no respeito, no diálogo e sobretudo no amor do casal. A família que vive tais virtudes são sinais da presença de Deus e ao mesmo tempo como em Caná, onde o Senhor faz o milagre do vinho novo símbolo da constante alegria da vida e do amor abundante no mundo.

Há uma presença sensível e auxiliadora na vida dos cristãos, que é a intercessão de Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa. Ela percebe quando falta algo em nossa vida e pede ao Senhor que opere o milagre da restauração e da saciedade. A nós cabe a atitude dos servos da festa: que sejamos obedientes, ou seja, devemos assiduamente ler e meditar a Palavra de Deus que nos converte, nos chama e depois pela fé nos tornamos discípulos missionários de Cristo, como Maria.

Peçamos as bençãos de Deus para uma caminhada marcada pela felicidade em Deus e que Maria interceda sempre por nós quando nos faltar aquilo que mais nos torna firmes na caminhada: a alegria de sermos filhos e filhas de Deus. E que lembrando a Carta de São Paulo aos Coríntios (cf. 12,4-11), possamos ser sinais de serviço ao Reino com os diversos dons que Deus nos concede, sobre a luz do mesmo Espírito, que nos ilumina, nos fortalece e nos capacita em nossa missão para sermos sinais do amor e da alegria no mundo. Amém!

BATISMO DO SENHOR – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 42,1-4.6-7; Sl 29(28); At 10,34-38; Lc 3,15-16,21-22

 

⇒ POESIA ⇐

BATIZADOS PARA O REINO

Como um mergulho na vida de Cristo,
Sem sabermos o tamanho desta realidade,
Somos chamados a amar de verdade,
Num caminhar de discípulos amados,
Pela alegria imensamente inundados,
E na convicção da nossa santidade.

Filhos do mesmo Pai misericordioso,
Nossa fonte da eterna Criação,
A Ele também nossa adoração,
Como irmãos na mesma caminhada,
Num olhar de vida contemplada,
Alegres pela vida em missão.

Guiados pelo Espírito de amor,
Ao receber a sua santa unção,
Que nos alegra pela sua inspiração,
Que conduz na nossa longa estrada,
E nos fortalece nas nossas jornadas,
Ajudando-nos na nossa santificação.

Batizados para formar comunhão,
Para sermos sinal para a humanidade,
Sendo ação na fé e na caridade,
Seremos do Reino, continuadores,
Discípulos de Cristo, evangelizadores,
Nas mais diversas realidades.

Trindade Santa, Deus de amor,
Fazei conosco comunhão,
Fortalece-nos na oração,
Para do Batismo não desanimar,
Mas cada vez mais fortificar,
Nossa gratuita filiação.

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Batismo do Senhor e o nosso batismo

 

Festejamos o Batismo do Senhor e logo depois desta liturgia dominical já iniciamos, no dia seguinte, segunda-feira, o Tempo Comum, num período de cinco semanas, as quais nos separam da Quaresma.

Lucas nos apresenta nesta leitura, o testemunho de João Batista e o Batismo de Jesus. Conta o evangelho que havia uma expectativa por parte do povo referente a João Batista. João faz a distinção entre o seu batismo e o de Jesus. “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo.” (Lc 3,16). O mesmo Espírito que falou pelos profetas, também marca o início da missão de Jesus e faz nascer em pentecostes a Igreja e sua missão.

É dentro da realidade do batismo de João Batista que entra em cena Jesus para ser batizado. Fiquemos atentos para os detalhes do acontecimento do batismo de Jesus: Achava-se em oração, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corporal, como pomba. “E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho; eu, hoje, te gerei!’.” (Lc 3,22).

A oração de Jesus é o sinal do seu contato com o Pai e a pomba nos lembra a Arca de Noé depois do dilúvio voltando com um ramo de oliveira trazendo a mensagem da possibilidade de nova vida na terra (cf. Gn 8,11-12). A voz do Pai unge o Filho para o início de sua missão entre os homens. Nesta narração também identificamos a presença da Trindade no mundo, que é manifestada para nos mostrar que se inicia caminhada de Jesus à sua paixão, morte e ressurreição, dirigindo-se até pentecostes.

Jesus é o servo anunciado por Isaías: “Eis o meu servo que eu sustento, o meu eleito, em quem tenho prazer. Pus sobre ele o meu Espírito, ele trará o direito às nações.” (Is 42,1). Esta missão está bem detalhada nos Atos dos apóstolos: “ele passou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo diabo, porque Deus estava com ele.” (At 10,38).

A Festa do Batismo do Senhor nos faz refletir sobre a vivência do nosso batismo na caminhada cristã como seguidores de Jesus. É a Trindade Santa que uma vez marcando a nossa vida na entrada para o novo povo de Deus, estará sempre na nossa missão de cristãos inseridos na morte e ressurreição do Senhor.

É conduzido pelo Espírito Santo que continuamos firmes na nossa vida familiar e na evangelização, é assim que somos inspirados nas nossas pregações, encontros de catequese, reuniões de família e, sobretudo vivendo o Culto Eucarístico e da Palavra que é centro da nossa vida de batizados, como Igreja peregrina em busca do céu.

Também, é nos sentindo na condição de filhos de Deus que nos alegramos como irmãos e irmãs numa mesma família amada e querida pelo mesmo Pai de amor e de misericórdia. E é sendo discípulo e missionário de Jesus que construímos juntos o Reino, que é de justiça, de solidariedade, de paz, de amor, de alegria e de comunhão num mundo que segue na contramão das realidades do evangelho.

Marcados por esta certeza da presença da Trindade na nossa vida batismal, podemos cantar alegres, o refrão pascal: “Banhados em Cristo, / somos uma nova criatura. / As coisas antigas já se passaram, / somos nascidos de novo”.

 

SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 60,1-6; Sl 72(71); Ef 3,2-3a.5-6; Mt 2,1-12

 

POESIA

CAMINHAR EM BUSCA DO MENINO

Seguindo a estrela de Belém,
Marcados pelo desejo de encontrar o Senhor
Vão os caminheiros do oriente,
Com o coração ardente,
Prontos para adorar,
E também para ofertar,
Os seus ricos e simbólicos presentes.

O encontro com o Deus menino,
Muda a direção dos curiosos caminheiros,
Seguem um caminho transformado,
As trilhas são de homens renovados,
Que vão levar a divina alegria,
Que pra eles antes não existia,
E agora é um sonho precioso realizado.

Também nós devemos seguir este caminho,
Via que nos leva até o Deus encarnado,
Para sermos discípulos com dons a oferecer,
Adorando o Senhor para na fé crescer,
Num caminho de evangelização,
Marcado pelo amor e a oração,
Convictos de um constante converter.

Não façamos como o rei tirano e solitário,
Que somente quis saber onde nasceu o Salvador,
Não se dispôs trilhar o caminho e até a ele chegar,
Pois teve medo de perder o seu lugar,
Mas o reinado do Senhor é diferente,
É de amor e para todos, como presente,
Para os que querem o encontrar.

Carreguemos o sentido da salvação universal,
Onde todos têm direito aos dons divinos.
Pois, todo homem é chamado à conversão,
De qualquer canto do mundo ou nação,
Basta abrir o coração a grande novidade,
Por que Deus veio morar na humanidade,
Para nos presentear com a salvação.

 

HOMILIA

Os magos do oriente são atraídos pela luz do Senhor

 

A Solenidade da Epifania[1] do Senhor nos traz o texto de Mateus, o qual nos conta o nascimento de Jesus em Belém. O Evangelista nos situa dentro do reinado de Herodes, o qual se sente ameaçado por tal acontecimento e procura encontrar o menino (cf. Mt 2,3).

Os especialistas nas escrituras (mestres da lei) localizam o texto do profeta Miquéias (5,1-4), que cita o nascimento do Messias em Belém. Em cena aparecem também os magos do oriente, que estão curiosos. Eles não têm as escrituras para decifrarem sobre o nascimento do Jesus, mas querem chegar até ele (cf. Mt 2,2). Herodes quer usar os magos para chegar até o menino, mas não consegue. No entanto, os magos são avisados em sonho para voltarem dessa grande jornada de busca e visita ao Messias por outro caminho (cf. Mt 2,12), para que Herodes não tenha a localização do Presépio.

A nossa reflexão mais importante deve se voltar para o significado da visita, das ofertas e da volta dos magos por outro caminho. Em primeiro lugar, a interpretação teológica nos ensina que os magos representam os gentios em sua diversidade racial, buscando e acolhendo a salvação universal que Deus através de seu Filho, Jesus Cristo, o Enviado.

Ir ao encontro do Menino significa a busca dos que querem encontrar-se com Deus. O texto de Mateus nos ensina que a Salvação em Cristo é para todos os homens, como nos fala São Paulo na segunda leitura: “os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo Corpo e coparticipantes da Promessa em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.” (Ef 3,6).

Um segundo ensinamento sobre a visita dos magos são as ofertas feitas por eles: ouro que é símbolo da realeza de Cristo; incenso, a sua divindade; e mirra, a sua unção no túmulo, no corpo (natureza humana) e a incorruptibilidade do seu corpo que culmina na Ressurreição. Antes mesmo das ofertas, os magos se ajoelham diante do Menino e o adoram (cf. Mt 2,12).

Num terceiro momento podemos lembrar que os visitantes retornaram para sua terra seguindo outro caminho, significando que o encontro com o menino Jesus transforma a vida daqueles que vivem a experiência que o Filho de Deus proporciona, tal como posteriormente aconteceu com a adúltera, com Zaqueu, com a Samaritana, com Bartimeu, com a hemorroíssa. Isso para ficar em apenas alguns relatos dos Evangelhos. Mas teremos inúmeros outros casos de Jesus e daqueles que caminharam em discipulado com ele nos três anos de ministério na Terra Santa. E essa experiência tem sido passada ao longo dos vinte séculos após a passagem do Galileu.

Portanto, a liturgia da Epifania do Senhor deve nos levar a meditar sobre a constante necessidade que temos de encontrar Jesus e renovar nossa caminhada, abrir novos caminhos e avançar na vida de discípulos amados por ele. A nossa vida deve ser de louvor marcada pela alegria que o encontro pode nos proporcionar. Podemos ainda nos perguntar: o que temos para oferecer a Deus? Que dons podemos colocar a serviço do Reino?

A dimensão universal da salvação, proposta em Mateus, pode nos direcionar para o aspecto ecumênico nas nossas ações cristãs em nossos relacionamentos com os irmãos de outras Igrejas e no nosso trabalho social voltado para serviço aos pobres.

Juntemos a nossa prece às das crianças do mundo inteiro, para que percorramos um ano novo cheio de muitas transformações na vida dos que querem encontrar o Senhor, dos que querem fazer uma caminhada marcada pelo crescimento espiritual, daqueles que querem juntamente conosco conhecer e seguir Jesus. Por fim, rezemos com o salmista: “As nações de toda terra hão de adorar-vos, ó Senhor” (Sl 72/71). Amém.

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[1] Do Grego, manifestação.

 

SOLENIDADE DA SAGRADA FAMÍLIA – ANO C, SÃO LUCAS

Leituras: Eclo 3,3-7.14-17a; Sl 128(127); Col 3,12-21; Lc 2,41-52

 

POESIA

A FAMÍLIA SANTA DE NAZARÉ

Mãe que escuta e a Deus se entrega,
Para viver um plano de amor exigente,
Que questiona, porém consente,
O peso da imensa missão,
Meditando no seu coração,
O amor de Deus e de sua gente.

Pai terreno e obediente ao Pai do Céu,
Discreto no seu silêncio orante,
Que nas dúvidas segue avante,
Ao anjo em sonho escutou,
E firmemente acreditou,
Postura de homem Santo suplicante.

Filho, Deus que desce a este mundo,
Presente no meio da multidão,
Rosto de Misericórdia e perdão,
Que traz aos homens a esperança,
A vida eterna como herança,
Ressuscita e nos dá a ressurreição.

Família, modelo para chegarmos ao céu,
Santa desde a sua fundação,
Referência para cada lar cristão,
Conduz-nos a evangelizar,
Fazendo-nos firmemente acreditar,
Que o reino se constrói pela missão.

E agora pedimos um auxílio santificador,
Para construirmos uma Igreja em nosso lar,
E ao mundo podermos testemunhar,
Uma vida de cuidado e comunhão,
Marcada pela evangelização,
Para as chagas do mundo poder curar.

 

HOMILIA

Família cristã: chamada a ser Igreja doméstica

 

O Domingo depois do Natal nos apresenta a Santa Família de Nazaré em peregrinação a Jerusalém. Trata-se da vivência de fé da família de Jesus em sintonia com o povo da primeira Aliança.

O evangelista Lucas nos fala de Jesus aos doze anos, já chegando a sua maturidade, de acordo com a tradição judaica. Ao final da Festa que durava sete dias, os peregrinos retornavam para suas casas geralmente em grupos familiares, Maria e José também voltam para Nazaré, e na longa caminhada percebem a ausência de Jesus e por isso retornam a Jerusalém.

O Evangelista conta que foram três dias a procura do Menino quando o encontram no Templo entre os doutores da lei. Podemos imaginar as palavras do Menino Jesus a respeito das coisas divinas, pois os ouvintes ficavam maravilhados. A resposta aos Pais, “não sabíeis que devo estar na casa de meu Pai?” (Lc 2,49), deve ter deixado Maria e José intrigados inicialmente, mas depois ambos compreenderam, pois neste momento o menino já dá sinais da sua divindade e obediência ao Pai do Céu.

O interessante é que ele seguirá obediente à Maria e José no seu lar em Nazaré, no silêncio da família santa, no dia-a-dia de sua juventude até os trinta anos, quando sua vida pública se inicia, segundo as narrações do Evangelista.

Jesus vive na natureza humana e na divina obediência, virtudes próprias da santidade, postura original de santos e santas que nos deixaram os seus testemunhos para ensinar a todos os que querem seguir o Senhor.

A liturgia deste Domingo, portanto nos traz grandes orientações espirituais para que a família possa viver a santidade, a começar pela primeira leitura: “Aquele que respeita o pai obtém o perdão dos pecados, o que honra sua mãe é como quem ajunta um tesouro.” (Eclo 3,3-4). Numa sociedade em que se percebe a fragilidade da autoridade dos pais, é muito importante vislumbrar o valor que devemos dar ao amor e atenção, aos seus conselhos e a experiência de quem dedicou a sua vida aos filhos. Isso certamente nunca sairá da moda.

Quanto ao cuidado aos pais na velhice e o carinho nas suas limitações, nem sempre é uma realidade na ação filhos no mundo de hoje. São Paulo, na Carta aos Colossenses, aconselha que sejamos revestidos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência… (cf. Cl 3,12). Estas virtudes são exatamente as necessárias para vivermos a santidade na família e nos são exigidas quando cuidamos dos idosos e enfermos com suas limitações físicas e psicológicas.

Olhemos para Jesus que mesmo sendo Deus, era obediente à Maria e José. Com certeza foi também amável, solidário, paciente e orante no seu ambiente familiar e no convívio com os amigos. Maria, que guardava tudo no seu coração, com certeza também viveu um imenso amor ao seu lar, meditando o projeto que Deus lhe tinha proposto. A cada momento com Jesus deve sempre ter relembrado as palavras do anjo, deve ter pensado nos desafios do seu caminhar desde o nascimento do filho e com a certeza de que a sua missão não acabava com a maturidade de Jesus. E José como varão fiel ao projeto de Deus foi também orante, amoroso e obediente a Deus, vivendo do seu trabalho e preocupando-se com a manutenção da casa.

É importante que família cristã tenha como referência e centro de sua espiritualidade a Sagrada Família. Os pais devem ser referencial de evangelização primeiramente com o testemunho de santidade conjugal, no cuidado com os filhos no que se refere à educação, à vida de oração e ao convívio social. Deve ser missionária, formando Igrejas em casa, cultivando a leitura e a escuta da Palavra de forma constante, onde a partilha e o amor estejam presentes para fortalecerem a sua existência como instituição sagrada.

Não devemos esquecer que as chagas da sociedade é fruto de uma certa displicência no cuidado, na presença e na formação junto às crianças, adolescentes e jovens. O relativismo toma conta dos ambientes familiares, onde religião é opção pessoal e onde também falta ao pai e à mãe uma formação cristã mais sólida e consciente de sua missão.

Rezemos pedindo à Sagrada Família que ajude a tantos lares a se tornarem um ambiente de fraternidade, amor e oração, uma Igreja doméstica que viva a missão evangelizadora dentro e fora da casa. Amém.

IV DOMINGO DO ADVENTO – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Mq 5,1-4a; Sl 80(79); Hb 10,5-10; Lc 1,39-45

 

POESIA

MÃE DO SILÊNCIO DA ESCUTA

No silêncio e na escuta do mensageiro,
Mas também questionando,
Entrega-se ao Senhor que forte lhe chama,
Coloca-se a disposição por que muito ama,
Mãe de Deus e da humanidade,
Para Deus é toda gratuidade,
Como poetisa um poema exclama.

Apressada parte caminhando,
Nos caminhos longos das tantas montanhas,
Para viver a missão em caridade,
Sentindo o chamado em simplicidade.
Leva consigo o Deus criança,
Parte sem medo e com muita esperança,
Para servir com humildade.

Traz ao mundo o Verbo encarnado,
Na sua vida de exigente e de peregrina,
Carrega no colo com muita coragem,
Levando a sério a divina mensagem,
Por que será a mãe de um Rei de amor,
Colaborando no plano salvador,
Deus virá em carne, além da imagem.

Denuncia os tantos erros do mundo
Com o canto alegre de profecia,
Vê os poderes que machucam os humanos,
Percebe as riquezas do mundo como engano,
Quando são usados para oprimir,
Somente Deus poder corrigir,
A deficiência dos homens e os seus planos.

E nesta missão divina que recebeu,
É Cheia de Graça em abundância,
Repleta da Palavra do Senhor,
Cantora dos pobres em sua dor,
Está consciente de sua missão,
Vive ativa e sem omissão,
É mãe dos apóstolos com pleno amor.

 

HOMILIA

Maria, exemplo de caminheira, de silêncio e de espera

 

O quarto domingo do Advento nos traz o texto do evangelista Lucas que apresenta duas mulheres, mães e santas, as quais fazem uma ligação da Antiga à Nova Aliança. Nelas, e através delas, Deus realiza as maravilhas da Salvação. Nessa mesma situação, há também o encontro de duas crianças: o precursor, o último dos profetas da primeira Aliança e depois o Emanuel, o Deus conosco, que confirmará a sua presença entre os homens, participando das situações próprias dos homens, menos no pecado.

O interessante é que se trata de realidades onde comprovamos a frase que o próprio Lucas coloca na boca do Anjo: “Para Deus, com efeito, nada é impossível.” (Lc 1,37). Vejamos: Maria era virgem e ficaria grávida. Deus lhe propõe um projeto, mas apesar dos questionamentos e perturbações (cf. Lc 1,29) ela abraça este plano com o seu sim. Isabel era idosa, já não havia possibilidades para engravidar e o Senhor faz o impossível às convicções humanas. O ventre de Isabel guarda João Batista, aquele que preparou os caminhos do Senhor. Em Maria, Sacrário Santo! Deus se encarna para recriar o homem à sua imagem e semelhança.

Voltemos nossa atenção para Maria, a escolhida para colaborar no plano da Salvação. Ela parte apressadamente, porque sente a necessidade de ajudar a Isabel, porque o tempo das promessas de Deus começa a se realizar e é preciso caminhar rápido. A sua visita é mais que uma presença física, é um ato missionário e de serviço à sua prima Isabel. Aqui está presente o cuidado de Maria, na caridade que brota do seu coração totalmente disponível a Deus.

Maria vive toda esta realidade por que acreditou e acreditar é próprio dos que obedecem a Deus. Maria é a Bem-Aventurada, a cheia de Graça, a mulher da escuta e do silêncio. Por isso, de uma forma ousada podemos dizer que ela é a poetisa de Deus. Sua declamação (poesia), o magnificat, brota de sua constante oração, escuta e leitura da Palavra de Deus anunciada pelos profetas. Não é fantasia de uma jovem judia, mas um olhar voltado para o mundo, no chão onde ela pisa, através da consciência de que Deus faz “maravilhas, que demonstra o poder de seu braço, que dispersa os orgulhosos, derruba os poderosos de seus tronos e exalta os humildes”[1].

A disposição de Maria como serva do Senhor já se realiza na presença caridosa à Isabel que a acolhe na simplicidade e alegria. Isabel poderá também significar todas as mães e crianças que necessitam da presença da caridade cristã que se traduz no zelo e cuidado de Deus para com os pobres. Aqueles que acolhem a mãe de Deus e o salvador em sua casa e em sua vida.

Toda a realização da chegada de Jesus em Belém já estava anunciada pelo Profeta Miquéias que diz: “E tu, Belém-Éfrata, pequena entre os clãs de Judá, de ti sairá para mim aquele que governará Israel.” (Mq 5,1).

Na segunda leitura temos a ação de Cristo, sua missão e identidade diante do mundo. É o filho de Deus que veio para fazer a vontade do Pai, assim diz a carta aos Hebreus: “E graças a esta vontade é que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas.” (Hb 10,10).

A liturgia do IV Domingo do Advento, portanto, nos convida a olharmos para Maria e seguirmos seu exemplo de serva fiel ao Senhor. Ela nos ensina a sermos obedientes ao chamado de Deus, colaborar com o seu Plano de Salvação, acolhendo Jesus que vem. Faz-se necessário acreditarmos no que Deus nos diz e nos chama a fazer, mesmo que muitas situações ainda não estejam tão claras no caminho com ele.

Por fim, para viver de forma completa a experiência com Deus não podemos ser intimista ou individualista. Devemos nos voltar para o próximo percebendo as necessidades mais plausíveis e indispensáveis de nossa presença, ou seja, a vivência cristã nunca será completa se não vivermos a caridade.

Portanto, quando estamos cheios da Graça de Deus e de sua Palavra, nossa boca proclama naturalmente as maravilhas d’Ele e ao mesmo tempo nossas palavras são proféticas, nossas ações são pautadas no amor, a nossa vida no testemunho que às vezes dispensam as palavras.

Peçamos a Deus a graça da perseverança e a coragem de mudarmos nossa vida para uma atitude cada vez mais orante. Peçamos como o salmista: “Iluminai a vossa face sobre nós, convertei-nos para que sejamos salvos!” Amém.

[1] Cf. Cântico Evangélico “Magnificat”. In Liturgia das Horas: segundo o rito romano. Vozes; Paulinas; Paulus; Ave Maria, 1999.