IV Domingo da Páscoa – Ano A – São Mateus

 

Leituras: At 2,14a.36-41; Sl 22(23); 1Pd 2,20b-25; Jo 10,1-10

 

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Jesus Cristo é o verdadeiro Pastor dos “pastores”

Jo 10,1-10

 

Estamos no 4º Domingo da Páscoa, também conhecido como o domingo do Bom Pastor, quando contemplamos o Senhor como nosso guia eterno. Ele, que nos conduz e que nos ensina por onde caminharmos, também nos ensina a sermos discípulos pastores, porque muitas vezes temos um pequeno ou grande rebanho (paróquia, diocese, comunidade, família, grupo, pastoral ou movimento) sobre nossa responsabilidade para caminhar com ele. Porém este mesmo rebanho é sempre do Senhor, ele é o dono, e é quem conduz o seu povo.

E o evangelho desta liturgia está em João (cf. 10,1-10). Neste texto, Jesus nos diz: “Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo” (Jo 10,9). Quando nós vamos à celebração encontramos a casa do Senhor de portas abertas, para que nos encontremos com ele, possamos nos reunir como rebanho dele. Queremos escutar a sua voz e participar do seu banquete, onde encontramos o alimento eterno que é a sua Palavra, o seu corpo e o seu sangue.

O que nos cabe como seguidores do supremo Pastor é que façamos o esforço de imitá-lo, amá-lo e buscar nele a nossa força e salvação. Que possamos também carregar em nosso ministério e em nossas responsabilidades o cheiro dos que estão sob nossa condução, como nos fala o Papa Francisco: “Vo-lo peço que sejam pastores com o cheiro das ovelhas, pastores no meio do seu rebanho e pescadores de homens.”[1]

Precisamos também nos lembrar de que diante do que vivemos na caminhada cristã somos primeiramente rebanho do Senhor. Antes de tudo somos convidados a ouvir a voz do nosso pastor, Cristo, para seguirmos por caminhos seguros, por lugares onde haja alimento, paz, justiça e a certeza de segurança em Deus.

Hoje são muitas as vozes e pastores que se dizem verdadeiros, que querem ser ouvidos e seguidos. Diante de tantas realidades e ofertas de vida, de tantas opções, que o mundo oferece, faz-se necessário que primeiramente nos acostumemos a ouvir a voz de Cristo que nos fala pela Palavra Sagrada, que nos convoca através das celebrações da Palavra e da Eucaristia. Agindo primeiro desta forma, teremos o discernimento de seguirmos pelo caminho que nos leva a verdadeira liberdade e à salvação.

No tempo em que Cristo caminhou com os homens, pela Galileia, antes da sua ressurreição, existiam também os falsos pastores, os ladrões e assaltantes (cf. Jo 10,8). Estes não ofereciam vida e segurança para o povo e, portanto, armavam pesados fardos através de leis injustas e preconceituosas as quais oprimiam as pessoas, principalmente, os pobres, as mulheres, os doentes…

Hoje não é diferente, há ainda muitas vozes e portas que soam e se abrem para nós, nos apelando para as injustiças, para as fake news (notícias faças), a hipocrisia, a ganância, a opressão e para as ideologias que nos desviam do caminho do Bom Pastor. São caminhos de ilusões e escravidões na nossa existência

Precisamos treinar o nosso ouvido para podermos ouvir a voz verdadeira que vem de Cristo. Somos um rebanho que muitas vezes não encontra a porta verdadeira e por isso caímos no pecado e nos perdemos.

Como ovelhas, vivendo no rebanho do Senhor e seguindo-o como discípulos seus, podemos atrair outras ovelhas para seguirem pelo caminho do Bom Pastor. Isso aconteceu com a pregação de Pedro, como podemos conferir no livro dos Atos dos Apóstolos (cf. 2,41), quando se uniram a eles mais ou menos três mil pessoas, depois que Pedro pregou ao povo no dia de Pentecostes.

Precisamos buscar sempre no Senhor o nosso repouso. Ele nos conduz por caminhos de alegria e alimentos fartos, ele nos abre a porta, nos leva ao seu banquete (cf. Sl 22/23), para que nos saciemos e encontremos o amor e a paz.

Que o Espírito Santo nos anime e nos ilumine quando for preciso retornar aos braços do Bom Pastor e nos dê sempre perseverança para continuarmos firmes nos caminho do Senhor e fazendo parte do seu rebanho.

Rezemos por todos os que são chamados a seguirem como colaboradores do Bom Pastor (bispos, padres, diáconos, agentes de pastorais, catequistas, coordenadores de grupos e movimentos) para que sejam sempre animados a continuarem a colaborar com dignidade as tarefas que Deus lhes confiou. Porque, O Senhor é o pastor que nos conduz, paras as águas repousantes nos encaminham (Sl 22). Amém.

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[1] CNBB. Roteiros homiléticos para o Tríduo Pascal e Tempo Pascal: Ano A, São Mateus. “Celebremos a páscoa do cordeiro!”. abril / junho 2017. Ano 3 – nº 13, Brasília: Edições CNBB, 2017. p. 50.

 

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⇒ POESIA ⇐

O Bom Pastor

O Bom Pastor,
É a porta da vida,
Para a acolhida,
Na sua casa santa,
Onde nos alegra,
E assim se entrega,
Na Paz oferecida.

O Bom Pastor,
É quem nos conduz,
Com sua luz,
Por caminhos retos,
Somos seu rebanho,
Não é um estranho,
É Amor que seduz.

O Bom Pastor
É nossa sorte,
Que vence a morte,
Com seu poder,
Tudo rompendo,
E nos acolhendo,
Com a sua voz forte.

O Bom Pastor
Está nos chamando,
Nos conquistando,
Para segui-lo,
Por seus caminhos,
Não nos deixa sozinhos
Ele vai nos guiando.

O Bom Pastor,
Quer-nos sempre unidos,
Do seu amor, imbuídos,
O mundo iluminando,
E na nossa missão,
Na santa comunhão,
Sempre, sempre nutridos.

O Bom Pastor,
Tem o cheiro da gente,
Ver seu povo carente,
Vem ao nosso curral,
Pela porta ele entra,
Seu rebanho alimenta,
Novo povo de crentes.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Bom Pastor, ilumine o seu caminho! ***

 

III Domingo da Páscoa – Ano A – São Mateus

 

Leituras: At 2,14.22-33; Sl 15(16); 1Pd 1,17-21; Lc 24,13-35

 

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Palavra e Pão que faz arder o coração

Lc 24,13-35

 

 

Neste 3º Domingo da Páscoa a liturgia da Palavra nos apresenta um texto do Evangelho segundo São Lucas (cf. 24,13-35). Trata-se do belo texto dos discípulos de Emaús, o qual nós já refletimos na quarta-feira da Oitava da Páscoa, você lembra? Vamos fazer uma breve memória…

Naquele mesmo dia da Páscoa, o primeiro da semana, os dois discípulos fugiam de Jerusalém em direção a um povoado chamada Emaús (cf. Lc 24,13). Caminhavam sem esperança, com um sentimento de que tudo tinha acabado e que não teriam mais motivos para sonharem com o Reino de Deus. A quem eles mais amavam e estimavam, tinha sido assassinado, pregado numa cruz. Mas a vida continuava e seria preciso caminhar para algum lugar, mesmo que seja fugindo, para encontrar um repouso seguro e tranquilo.

E Jesus aparece no caminho deles, fazendo memória das Sagradas Escrituras sobre o acontecido. E apesar do coração deles arder, naquele momento, quando ainda estavam no caminho e o escutavam (cf. Lc 24,32), não foi possível se tocarem sobre quem falava com eles. Somente no momento em que estão à mesa, quando Jesus toma o pão, abençoa, parte e distribui, é que aqueles discípulos abrem os olhos e o reconhecem…

E assim também, na nossa vida, Deus caminha com a gente para nos ensinar com sua Palavra; para se fazer companheiro, solidário e se doar-se como o pão da vida aos que ele amou e ama. Para fazer arder o coração da gente e nos motivar para o retorno à nossa Jerusalém de nossos compromissos assumidos, da nossa vocação pessoal, na nossa missão de anunciar que o Senhor está vivo e caminha conosco em todos os nossos momentos, seja de alegria, seja de tristeza, seja de aparente derrota ou seja de vitória e glória.

E assim, discípulos de Emaús também somos nós que caminhamos às vezes desiludidos, fugindo das nossas responsabilidades, compromissos, ou da comunidade dos irmãos. Às vezes não meditando sobre as ações de Deus em nossa vida, como nossas vitórias, como nossas alegrias e as curas materiais e espirituais que ao longo do nossa existência vão acontecendo pela ação do Ressuscitado.

Você já percebeu que este texto da narração dos discípulos de Emaús nos apresenta a estrutura da celebração da missa? Primeiro o nosso caminhar em busca do templo com o coração em Cristo (a estrada, o caminho); depois, a nossa entrada à casa de Deus e a entrada de quem preside a celebração de ceia (Cristo Sacerdote), o início do encontro dos irmãos; em seguida Ele nos fala através da sua Palavra (leituras, cânticos e salmos, o Evangelho) e continua a nos falar na homilia. Neste momento ele nos explica a sua ação na nossa vida e nos acontecimentos do mundo, fazendo arder o nosso coração. À mesa Cristo parte o Pão conosco e nos faz reconhecê-lo como o Senhor da vida eterna que nos oferece um banquete santo, banquete de irmãos que partilham da mesma mesa.

E quando alimentados pelo corpo e pelo sangue do Senhor voltamos para a “nossa Jerusalém” onde está nossa família, nossos amigos e nossos irmãos e irmãs de caminhada profissional, membros da nossa comunidade, e outros que iremos encontrando durante a semana e a vida.

Precisamos testemunhar e confirmar que Cristo está vivo como fez o apóstolo Pedro, nos Atos dos Apóstolos, o porta-voz da comunidade dos seguidores do Senhor: “Jesus de Nazaré, o Enviado do Pai, realizou milagres e sinais em favor do povo. Ele foi escolhido por muitos e rejeitados por outros até a morte na Cruz. ‘Mas Deus o ressuscitou, libertando-o da angústias da morte’, revelando a eficácia de sua doação a serviço do projeto divino de salvação.” (At 2,22.24).

O Ressuscitado caminha conosco, nos alimentando e nos encorajando a continuar o caminho de discípulos missionários na nossa vida diária. Como nos falou Pedro na sua carta, nós fomos resgatados “… pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha nem defeito” (1Pd 1,19).

Que a cada celebração possamos seguir firmes no amor a Cristo ressuscitado, através de atitudes concretas na nossa relação conosco e com os irmãos. E que possamos cantar como o salmo 15(16): “Vós me ensinais vosso caminho para a vida; junto a vós felicidade sem limites!” Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Fazer arder o coração

Tua Palavra Senhor,
Faz arder o nosso coração,
Porque nos vem encorajar,
Vencendo a nossa solidão,
Mostrando-nos aonde ir,
Por onde e quando prosseguir.

Tua Palavra Senhor,
Faz arder nosso coração,
Dando-nos, ao caminhar o sentido,
Conduzindo-nos a santa comunhão,
Fazendo-nos à mesa sentarmos,
Para de vós nos alimentarmos.

Tua Palavra Senhor,
Faz arder nosso coração,
Porque nos faz retornarmos,
Para o anúncio da Ressurreição,
Pelo amor nos reenvia,
Por um caminho de alegria.

Tua Palavra Senhor,
Faz arder nosso coração,
Tirando-nos das nossas fugas,
Vencendo nossa desilusão,
Para que voltemos a acreditar,
Na vida que vem a brotar.

Tua Palavra, Pão e Vinho,
Faz-nos de novo, reunirmos,
Para partilharmos da vida,
Para a estrada prosseguirmos,
A viva alegria exalarmos,
E à “nossa Jerusalém” voltarmos.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Enviado do Pai, ilumine o seu caminho! ***

 

II Domingo da Páscoa – Ano A – São Mateus

 

Leituras: At 2,42-47; Sl 117(118); 1Pd 1,3-9; Jo 20,19-31

 

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Cristo tem misericórdia dos que duvidaram

Jo 20,19-31

 

Neste segundo domingo da Páscoa a liturgia da Palavra  nos traz um texto do evangelho de João (cf. 20,19-31), o qual nos apresenta dois momentos para nos mostrar a experiência dos discípulos em meio à Ressurreição de Jesus. Estes dois momentos acontecem sempre no primeiro dia da semana (Dies domini), o domingo, porque foi no primeiro dia da semana que tudo mudou na caminhada de fé dos primeiros seguidores de Jesus. Daí nasce a fé dos primeiros cristãos e que depois se espalhou por todo o mundo até chegar a nós do século XXI.

Na primeira parte (cf. Jo 20,19-25), o evangelista nos fala que estava anoitecendo quando Jesus aparece. A vida estava obscura para aquele grupo de seguidores, havia medo, insegurança, portas fechadas… E o Ressuscitado com a força do amor e da paz, rompe as barreiras físicas se pondo no meio deles e dizendo: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19). Era preciso que os discípulos ouvissem esta saudação para a confirmação de que o Príncipe da Paz estava no meio deles, Ressuscitado, vencedor, para trazer vida nova e reanimá-los para continuarem.

Depois, mostrando as marcas da crucificação, repete a saudação, confirmando sua presença de vida plena e anuncia que eles devem continuar a missão redentora da paz, da misericórdia, da justiça e do amor. Agora não devem ir somente para às aldeias, povoados e arredores de Jerusalém, mas para os confins do mundo.

Por isso o sopro do Espírito Santo foi concedido pelo próprio Ressuscitado para que anunciem e perdoem os pecados dos homens (cf. Jo 20,23) e os conduzam para uma vida transformada e dedicada também a missão do Redentor.

Na segunda parte deste Evangelho (cf. Jo 20,26-31) fica-nos uma pergunta: Onde estava Tomé naquela primeira aparição? Por que estava distante dos irmãos? Talvez porque o seu desânimo era maior do que a esperança, e, portanto, foi inundado por esta realidade, ficando isolado, fechado em si.

Ao encontrar os seus companheiros, Tomé duvida da aparição de Cristo. Ele desafia a Jesus, pois não acredita ainda na sua ressurreição. Quer uma prova concreta como muitos de nós cristãos quando nos isolamos e ficamos fora da comunidade. Às vezes duvidamos das maravilhas de Deus, e nos tornamos incrédulos.

Oito dias depois a comunidade dos discípulos está reunida e Tomé está presente. Novamente Jesus deseja a Paz e se volta para Tomé e lhe diz: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel’. Jesus disse mais: ‘Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!’” (Jo 20,27-28). A resposta de Tomé é forte: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). E Cristo tem misericórdia de Tomé que duvidou, mas que depois professou a sua fé no Ressuscitado e na sua ressurreição.

Nós, os cristãos, reunidos em torno da Palavra e da Eucaristia, somos os discípulos que acreditam sem terem visto e sem ter tocado as feridas e sem contemplarem o lado de Cristo, mas que escutam a voz do Senhor na Palavra e tocam o seu corpo quando na fila de Comunhão o recebem para se nutrirem da fé na vida verdadeira e prosseguirem a caminhada de fé.

Há feridas humanas que precisamos sentir e tocar, as quais estão presentes nos crucificados deste mundo. Essas feridas aparecem nos que passam fome, estão desempregados, nos presos, nos que estão com o Coronavírus e nos seus familiares, também nos que, injustamente, são colocados como culpados, porque denunciam a desumanidade e injustiças de opções e projetos políticos, econômicos e sociais. Quem poderá sentir e considerar esta realidade que está além do templo? Somente os discípulos, os batizados em Cristo que acreditam e vivem a ressurreição, em muitas pessoas do bem, que se empenham em vista de uma sociedade justa, fraterna, solidária e cheia de vida e de paz.

E neste Domingo da misericórdia peçamos o sopro do Espírito Santo e a misericórdia de Deus quando também não acreditamos na presença de Cristo em nossas vidas. Que possamos sair do nosso medo, do fechamento e de nosso egoísmo, para anunciar a certeza da ressurreição através de nossa vida e do nosso testemunho, o qual se expressa na nossa alegria, na nossa paz, na nossa união e por que não dizer, na nossa caridade, virtude própria dos que amam o Senhor e o seguem. Amém!

 

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⇒ POESIA ⇐

Meu Senhor e meu Deus

Tomé somos nós,
Quando nos isolamos,
Quando duvidamos,
E ficando distante,
Numa tristeza constante,
Fechados, sem acreditar.

Tomé somos nós,
Quando queremos comprovações,
Nas tantas situações,
E de Deus então duvidamos,
Também o desafiamos,
Querendo as feridas olhar.

Tomé também somos nós,
Quando ao grupo retornamos,
E aos irmãos nós encontramos,
Para ver e encontrar o Senhor,
Com acolhida e amor,
Para podermos recomeçar.

E, sendo como Tomé,
Queremos o Senhor tocar,
Nos seu corpo vindo nos dar,
Para seguir agora, em frente,
Num caminhar obediente,
Sem medo e sem desistir.

Mesmo como Tomé,
Queremos ao Senhor ouvir,
Para podê-lo seguir,
Nossa fé nele professar,
Sempre, sempre a caminhar,
Pois, ele é o Ressuscitado.

Como Tomé e os outros,
Nossa dúvidas todas rompamos,
Abramos as portas e sigamos,
Pra sair do grupo fechado,
E anunciar o Ressuscitado,
Que conosco quer caminhar.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que tem misericórdia dos que duvidam, ilumine o seu caminho! ***

 

Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor – Ano A – São Mateus

 

Leituras: At 10,34a.37-43; Sl 117(118); Cl 3,1-4; Jo 20,1-9

 

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

A nossa Alegria é a Ressurreição do Senhor

Jo 20,1-9

 

Maravilhados das alegrias, vindas da vigília pascal, da noite do sábado, e despertados na manhã do sepulcro vazio, celebremos a vitória do primeiro a ressuscitar, Jesus Cristo, o mais belo entre todos os homens, glorioso, Deus da vida, o vencedor sobre a morte.

Iniciamos um novo tempo da Igreja, o tempo Pascal, onde tudo está voltado para os acontecimentos da ressurreição de Jesus, quando aprendemos e nos firmamos na fé, através de tantos testemunhos dos que seguiram e amaram profundamente o Senhor.

O evangelista João (cf. 20,1-9) nos fala da sua experiência com o Ressuscitado, de uma forma simples e, ao mesmo tempo, profunda. Simples por que descreve detalhes, tais como: faixas de linho no chão, pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte” (Jo 20,5-7).

Voltemos o nosso olhar também para quem foi primeiro ao túmulo de Jesus, quando ainda estava escuro, Maria Madalena, que percebeu a pedra retirada do túmulo. Ela anuncia primeiro aos discípulos Pedro e João, os quais vão, correndo, confirmar o acontecido. Eles que também ainda estavam marcados profundamente pela dor da morte de Jesus. “Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou.” (Jo 20,8).

Meditemos alguns pontos importantes da liturgia deste domingo da Ressurreição do Senhor: “Maria Madalena viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo” (Jo 20,1) e por isso volta correndo para anunciar que algo estranho tinha acontecido.

Muitas vezes, nós também precisamos retirar a pedra que nos impede de perceber algo extraordinário em nossa vida, sobretudo referente à ação de Deus na nossa caminhada de discípulos que querem seguir o Ressuscitado.

Esta pedra muitas vezes é o nosso rito vazio, a nossa indiferença, a mesmice e a sensação de que mais um ano passou e nas festas pascais não conseguimos viver uma experiência nova, ou seja, vida que se faz ressurreição no Senhor.

O primeiro domingo da Páscoa é, por excelência, o dia do Senhor, de onde nasceu a nossa fé no Ressuscitado. Daquela manhã do túmulo vazio em diante, os discípulos passarão por uma nova ótica na experiência com Jesus.

Os discípulos, os quais viveram a experiência do Ressuscitado, sem muita clareza, foram crescendo de forma gradativa, dando motivo da sua fé, como Pedro professou: “Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia” (At 10,40).

Pedro viveu com Jesus as duas realidades: primeiro, caminhando com ele na sua missão terrena, pela Galileia, depois fazendo a sua experiência da ressurreição, quando em vários momentos encontrou-se com o ressuscitado. Desta forma, o apóstolo nos ensina o sentido profundo da vida renovada em sua missão apostólica.

“A ressurreição de Jesus é o mistério central da nossa fé cristã e o fundamento da nossa esperança de libertação total”[1]. Somente no Senhor somos totalmente livres e alegres, apesar dos sofrimentos e desilusões da vida terrena. Somente em nome do Senhor anunciamos a alegria do Evangelho que se concretiza na prática da justiça, do amor aos irmãos e na promoção da paz.

E nesta realidade da Covid-19, queremos suplicar ao Senhor em favor de todos aqueles familiares que perderam seus entes queridos por causa desta pandemia, que estes fortaleçam a sua fé na ressurreição e na vida eterna. E, ao mesmo tempo, queremos dá graças e louvores ao Senhor da vida pela cura de muitas pessoas, as quais já estão livres deste vírus.

Peçamos ao Espírito Santo a graça da fé no Ressuscitado, para vivermos cada momento de nossa vida, alimentados pela Palavra e pela Eucaristia, dando razões de nossa fé e sempre cantando como o Salmo 117(118): “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!”

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[1] CABALLERO, Basílio. A Palavra de cada domingo: Ano C. Apelação [Portugal]: Paulus, 2000. Pág. 92.

 

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⇒ POESIA ⇐

A manhã nova do Senhor

Ainda é escuro, é madrugada,
É o dia novo, da nova vida,
Pelos discípulos e por nós acolhida,
Arranquemos a pedra,
Pedra que impede um novo olhar,
Que às vezes nos faz tropeçar,
Olhemos para o alto, a nos alegrar!

A Luz vem chegando,
Percebamos os sinais da vitória,
Da luz, da nova vida em Glória,
Por que o Senhor não está entre os mortos,
Ele é o homem vivo para sempre,
Quer caminhar conosco eternamente
O Santo dos santos, o homem vivente!

Sua vida nos traz esperança,
Certeza de que seremos eternos,
Na nova comunidade, fraternos,
Estaremos para sempre com Ele,
Sem barreiras a nos atrapalhar,
Ele é Pão Vivo a nos alimentar,
Para além daqui quer nos elevar!

A sua glória é de todos,
O seu corpo é totalmente novo,
Sua vida nova é para o seu povo,
Pois nele está a esperança,
Que os discípulos sempre alcançam,
Caminhando no amor e na bonança!

Sigamos firmes,
Sigamos louvando,
Sigamos felizes e festejando,
Sigamos na fé, no Ressuscitado,
Sua vida nova é plena alegria,
Já não é mais noite, é novo dia,
Vamos ao banquete que nos sacia!

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos leva à vida eterna, ilumine o seu caminho! ***

 

Domingo de Ramos e Paixão do Senhor – Ano A, São Mateus

 

Leituras: Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11; Mt 21,1-11 (Procissão); Mt 27,11-54 (Paixão)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

O louvor dos homens e a Paixão de Cristo

Mt 21,1-11 (Procissão);Mt 27,11-54 (Paixão)

 

A celebração do Domingo de Ramos é um resumo de toda a vivência do Tríduo Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo), liturgia que nos insere no clima e sentido espiritual da Semana Santa. Nesta celebração, portanto, contemplamos Cristo que caminha livre para Jerusalém onde irá viver a sua paixão e morte. Lá nos dará como presente a vida nova, pois vencerá a morte para sempre e ressuscitará para também nos proporcionar a ressurreição.

Na caminhada de Jesus para Jerusalém também vemos a sua simplicidade e a sua entrega como um rei diferente. Contrariando as expectativas de muitos, montará num jumentinho, emprestado, para nos mostrar que o seu reinado é marcado pela humildade, pelo amor e pela entrega total para a salvação do mundo.

Na procissão de Ramos, cantamos “Hosana ao Filho de Davi, Bendito o que vem em nome do Senhor”. A nossa vida também é marcada pela caminhada rumo à cidade santa, a cidade celeste, em procissão para a casa da Palavra e do Pão, a qual nos orienta, nos alimenta e nos faz crescer como irmãos e irmãs.

Na nossa vida também encontramos, aclamações, louvores, elogios… em outros momentos, muitas cruzes, ameaças e mortes, como Jesus encontrou na sua missão. E nestes dias que se passaram e que virão, em que a Igreja não celebra com o seu povo, a liturgia presencial, nós somos convidados a fazer a nossa peregrinação, nossa procissão de Ramos, interior, em espírito e verdade, sobre a Ação do Espírito Santo.

As nossas casas poderão ser marcadas por ramos nas portas, como sinal de que entramos com Jesus e com sua Igreja na Semana Santa. Como os discípulos, estamos juntos com Jesus, para sua última ceia, na sua entrega à Cruz e na sua vitória sobre a morte, nos dando vida nova.

O roteiro homilético da CNBB[1] nos lembra que nesta semana, nós meditaremos sobre cinco movimentos os quais marcam não somente este tempo, mas também toda a nossa caminhada de fé, dentro do sentido de um itinerário pascal.

O primeiro movimento é a procissão do domingo de Ramos (que neste ano, não faremos por causa da situação do Covid 19), mas podemos meditar neste momento sobre este movimento… Como cristãos, pelas jornadas da nossa vida, vivemos o louvor e o sofrimento, mas continuamos a caminhada, pois estamos com o Senhor.

O segundo movimento acontece concretamente na Sexta-Feira Santa, quando adoramos e beijamos a Cruz. Ela é o sinal da glória de Cristo, representação do amor máxima de Jesus por nós, a explicação do limite o qual Jesus chegou para nos apresentar a face misericordiosa de Deus Pai pelos homens. A Cruz também é sinal de misericórdia e vitória.

No terceiro movimento, podemos dizer que é o mais forte e marcante para os cristãos, pois é o nosso caminhar atrás do círio Pascal, a luz verdadeira que brilha nas trevas. Cristo ressuscitado agora nos guia e nos ilumina com sua luz. Caminhamos sem medo da escuridão, das dores, das angústias e das tristezas, pois agora somos vencedores marcados pela alegria, coragem e paz no mundo. Cristo está vivo!

O quarto movimento diz respeito à nossa procissão rumo à mesa cujo o alimento é o corpo do ressuscitado, o seu sangue mata a nossa sede e nos sacia para continuarmos firmes, marcados pela esperança num mundo novo cheio de fraternidade e vida nova para todos. Neste ano, os que celebram as Eucaristia presencial, farão este movimento em nome de toda a Igreja, enquanto os fiéis que estão em casa, contemplam e fazem a sua comunhão espiritual.

No quinto e último movimento, somos enviados em missão para proclamarmos que Cristo venceu a morte.  Lá fora da Igreja, seremos sempre presenças vivas entre os homens, para mostrarmos a face do Senhor que é amor e compaixão que deseja que todos sejamos irmãos.

Portanto, vivamos a semana das semanas, num espírito de oração, de penitência e jejum, também em nossas casas. Fiquemos atentos aos passos do Senhor na sua paixão, morte e ressurreição, pois é nesta verdade e neste acontecimento que está fundamentada a nossa fé. Amém.

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[1] Roteiros homiléticos da quaresma, março e abril, ano A. 2014.

 

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

O caminho com Jesus

 

Com alegria e liberdade,
Caminhamos com o Senhor,
Seguindo-o na simplicidade,
Com um cântico de louvor.

Vivendo na irmandade.
E como bons caminheiros,
A vida é totalidade,
E dela nós somos os herdeiros.

Com os ramos verdes e santos,
Seguimos sempre a cantar,
E com a cruz, nosso sinal,
Que vem nos santificar.

Pensando em nosso Senhor,
Seguimos a caminhar,
Vamos ao perfeito amor,
Que vem para nos salvar.

E chegando em sua casa,
Atentos, vamos ouvir,
A sua Palavra viva,
Que vem a nos invadir.

Ela ao fervor nos motiva,
Nos ensina e nos sustenta,
Numa caminhada ativa,
Que nos guia e orienta.

Vamos para a Paixão e morte,
Que Jesus também provou,
Como o servo que sofreu,
Quando na cruz se entregou.

Nós também temos a cruz,
Na vida do dia-a-dia,
Pois o nosso caminhar,
Muitas vezes nos desafia.

Mas vencemos com o Senhor,
Ele a pedra de firmeza,
Mestre da vida e do amor,
Que nos chama à sua mesa.

Na condenação pereceu,
Porque o Pai o permitiu,
Mas a morte ele venceu,
E a vida ressurgiu.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que caminha a Jerusalém por entre o triunfalismo, ilumine o seu caminho! ***

 

V Domingo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Ez 37,12-14; Sl 129(130); Rm 8,8-11; Jo 11,1-45

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Desatemo-nos para a Vida nova

Jo 11,1-45

 

Na liturgia deste 5º domingo da Quaresma, mais uma vez iremos ler o Evangelho de João (cf. 11,1-45), o qual nos apresenta a Ressurreição de Lázaro, o sétimo sinal de Jesus, segundo este evangelista. Diante da situação a qual estamos vivendo no Brasil e no mundo, por causa da coronavírus, Jesus vem nos dizer: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crer em mim, mesmo que morra viverá.” (Jo 11,25).

E no diálogo com Marta, irmã de Lázaro, esta mulher, chorosa e sofrendo por causa da morte seu irmão, ela professa sua fé no Senhor da vida, dizendo: Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo” (Jo 11,27). Alimentada por esta esperança e certeza ela vai anunciar para a sua irmã, Maria sobre a presença de Jesus entre elas. A fé de Marta se expressa na condição de se colocar a caminho para anunciar a esperança na ressurreição já no tempo presente.

Quanto à Maria e os judeus, estes precisaram presenciar o sinal da ressurreição para poderem acreditar no milagre da vida nova. Lázaro que está no túmulo, enterrado há quatro dias, de mãos e pés atados e sem possibilidades de movimento. Jesus ordena: “Desatai-o e deixai-o caminhar!” (Jo 11,44). Diante da ressurreição de Lázaro “muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele” (Jo 11,45).

A fé em Cristo, será a nossa grande resposta nesta certeza, que é a experiência de amor e de vida completa com o ele, que como no caso de Lázaro, nos chama a desatar a nossas amarras e caminhar sempre para uma vida renovada.

Precisamos refletir sobre o sentido deste sinal de Jesus para o nosso crescimento espiritual e a nossa fé na ressurreição. A morte de Lázaro nos lembra toda a humanidade morta pelo pecado e é através de Jesus que todos têm acesso a vida que vence o pecado.

O batismo é a porta que nos traz de volta para a vida eterna, para a vitória sobre o pecado. O choro de Jesus nos lembra de sua natureza humana, de que ele se compadece da nossa dor e por isso comove-se, porque caminha conosco sendo solidário aos nossos sofrimentos, cruzes e dores que acontecem na nossa existência terrena.

Quanto ao túmulo, lembramos que muitas vezes estamos quase que sepultados no nosso individualismo, na nossa indiferença, no nosso comodismo e no nosso medo de seguir em frente com o Senhor. Vivemos num mundo que muitas vezes proclama a morte e a desesperança. Quando falta-nos os elementos da fé, caímos nos abismos da morte e ficamos atados a insegurança.

Precisamos desatar as nossas mãos para que construamos a paz e a fraternidade. Precisamos desamarrar nossos pés das amarras do indiferentismo e da zona de conforto que muitas vezes nos impedem de seguirmos caminhando com Jesus como discípulos missionários pelas estradas do mundo.

Precisamos lembrar a 1ª leitura desta liturgia quando o profeta Ezequiel fala para o povo de Israel escravo na Babilônia: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel; e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor” (Ez 37,12-13).

Muitas vezes estamos presos ao sepulcro do pessimismo e da tristeza como escravos do comodismo e sem coragem para continuar a nossa caminhada. Diante disso escutemos o Senhor que diz: “Desatai-o e deixai-o caminhar.” (Jo 11,44).

A Palavra do Senhor deve encher a nossa vida de alegria e esperança, para sermos sinais de Deus no mundo. Lembremo-nos o que diz o Papa Francisco no início da exortação apostólica Evangelii Gaudium “a Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria”[1].

Neste tempo de recolhimento por causa do Covid-19, momento em que somos estimulados a vivermos uma experiência de Quaresma dentro da quarentena, outras formas de nos reunir, de celebrar e de compartilhar nossa vida vão surgindo no nosso cotidiano. Importante que a nossa fé seja exercitada neste novo contexto e que a nossa experiência com a Palavra de Deus seja constante.

Nesta Quaresma de 2020, especificamente, nesta realidade em que não podemos celebrar presencialmente a Eucaristia, devemos perseverar na oração, nos alimentando da Palavra e comungando espiritualmente da Eucaristia. Deus caminha conosco neste nosso deserto, ele nos ensina e nos ajuda a vencermos as tentações em nossa vida cotidiana, ele se transfigura e nos ajudar a transfigurarmos em nosso testemunho, em nossas convivências, e em nossa missão. Jesus é nossa fonte de água viva em cada momento de nossa existência, em cada momento de nosso dia, fazendo-nos enxergar novas realidades, novas formas de vivermos como irmãos e irmãs na nossa Igreja.

As mensagens, os vídeos, áudios, as orações compartilhadas nas redes sociais só nos ajudarão em nossa experiência de oração, se pararmos um pouco e na calma do nosso ser, da nossa alma, no silêncio do nosso coração deixarmos Deus falar a nós com seu amor, com sua Palavra e com sua misericórdia.

Façamos o exercício de pararmos um pouco e rezarmos de verdade sobre a situação de nosso país e de nosso mundo, com as realidades concretas dos enfermos, do que morrem por consequência do Coronavírus e de outras doenças, no espírito de fraternidade e sentimento que somos uma comunidade global, compartilhamos de uma situação comum de sofrimento e por isso que impele à irmandade.

 

Que o Senhor que dá vida nos encha de esperança e alegria e nos conduza para celebrarmos com profundidade, a sua Páscoa, a Festa das festas. Amém.

 

——–

[1] Evangelii Gaudium, nº 1.

.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Vem para fora

 

O Senhor nos chama:
Vem para fora,
Sai do teu medo,
Da desesperança,
Para a confiança
E segue em frente,
Discípulo crente,
Levando ao mundo
O amor vivente.

O Senhor nos ordena:
Vem para fora,
Sai da omissão,
Do teu comodismo,
Do teu fanatismo,
Para testemunhar,
E para proclamar
A ressurreição,
Sem desanimar.

O Senhor nos alerta:
Vem para fora,
Fora do teu orgulho,
Da tua indiferença,
Abraça a benevolência,
E vem construir,
Um encontro a unir
Na fraternidade,
Para a vida florir.

Ao Senhor escutemos,
Sua voz de esperança,
Abracemos a vida,
E então, levantemo-nos,
Desatemo-nos!
Por Cristo, alimentados,
Saiamos fortificados,
Deixemos nossos túmulos,
Sigamos o ressuscitado!

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que representa a Glória de Deus, ilumine o seu caminho! ***

 

IV Domingo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

Leituras: 1Sm 16,1b.6-7.10-13a; Sl 22(23); Ef 5,8-14; Jo 9,1-41

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

⇒ HOMILIA ⇐

O Senhor nos lava e nos faz enxergar novos caminhos

Jo 9,1-41

 

Neste 4º Domingo da Quaresma nós somos convocados a viver o domingo da alegria, pois já se aproxima a Páscoa do Senhor, a festa da vida verdadeira e infinita. Somos atraídos pela luz da ressurreição a qual se aproxima, quando no sábado santo viveremos a maior festa do ano litúrgico. O Evangelho para este 4º Domingo da Quaresma, portanto, está em João (cf. 9,1-41), texto que narra a cura que Jesus realizou em um cego de nascença.

Esta liturgia nos leva a refletir que devemos livrar nossos olhos das cegueiras, das miopias, que muitas vezes nos impedem de ver a presença do Senhor em nossas vidas, os milagres e as obras que ele vai operando em nosso caminhar, em nossa existência, na missão, nos nossos convívios em nossa comunidade de fé.

Vejamos a ação de Jesus na cura do cego de nascença: “Cuspiu no chão, fez lama com a saliva e colocou-a sobre os olhos do cego. E disse-lhe: ‘Vai lavar-te na piscina de Siloé’. O cego foi, lavou-se e voltou enxergando” (Jo 9,6-7).

O que podemos aprender destes versículos do Evangelho de João? Jesus com a sua saliva e um pouco de terra faz lama. E então? O barro nas mãos de Jesus nos lembra a Criação, quando o homem esteve nas mãos de Deus, nosso perfeito artesão, para ser criado por ele.

Em Jesus, o homem é recriado, recapitulado, para sair da primeira cegueira: o pecado de Adão. O Senhor nos ilumina com sua luz, para que, como vasos de barro que somos não sejamos danificados com os perigos que as trevas do mundo poderão nos apresentar.

Após a cura, o cego foi aconselhado a se lavar na piscina. E a água nos lembra que é através do batismo que somos restaurados e inseridos na multidão dos filhos e filhas de Deus, os quais participam da ressurreição do Senhor, da sua vida nova, e da comunidade de seus discípulos.

Os doutores da lei, cegos da verdade e da luz de Deus, querendo reprimir aquele homem que agora enxergava, buscavam explicações nas leis físicas e humanas, também de forma obscura e cega. Eles justificaram que em dia de sábado ninguém podia trabalhar, inclusive se fosse para fazer o bem.

Quanto aos discípulos, também precisaram ter olhos novos no seguimento a Jesus, porque eles perguntaram: “Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?” (Jo 9,2). Neste momento Jesus também precisou curar o seu grupo da cegueira humana e espiritual que impediam deles verem a glória e a ação de Deus se manifestar.

O plano de Deus nos surpreende, porque ele age fora dos nossos parâmetros. Foi assim que agiu quando Israel precisou ungir o seu novo rei. O rei Davi, aquele que ninguém esperava ser escolhido. Ele estava inclusive pastoreando o rebanho nos campos de Israel. “E o Senhor disse a Samuel: ‘Levanta-te, unge-o: é este!’ Samuel tomou o chifre com óleo e ungiu a Davi na presença de seus irmãos. E a partir daquele dia o espírito do Senhor se apoderou de Davi” (1Sm 16,12-13).

Nós, muitas vezes, caímos nesta limitação humana: enxergamos com nossos parâmetros pessoais limitados e agimos segundo nossos critérios. Precisamos deixar que Deus nos ilumine com sua luz, vença nossas trevas, nossas cegueiras. Trevas que aparecem nos nossos pensamentos, nas nossas intenções, ações e comportamentos, tais como, egoísmos, individualismo, injustiças e indiferença contra os irmãos. Assim agiram os doutores da lei, os fariseus: eles tentaram ofuscar a ação de Deus na vida daquele que era cego, e que então, testemunhava a sua cura.

Precisamos reconhecer que através do nosso batismo, nós somos iluminados e banhados para sempre pela luz verdadeira e a água viva que vem do Senhor. Neste sentido, somos convidados a ter em nosso coração a convicção que São Paulo nos fala na sua carta aos Efésios: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade” (5,8-9).

Peçamos a luz e a força do Espírito Divino para que nos ilumine em nosso caminhar com Jesus. E que o Bom Pastor, luz das nações, nos conduza à vida verdadeira, nos livrando dos perigos que poderão nos levar a nos tirar do caminho do amor e do céu. Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Guia-nos com Tua luz

Senhor é bom ficarmos aqui,
Na comodidade do teu amor,
No transfigurar da tua beleza,
No encontro da tua mesa,
Num encontro em que não há dor,
Presença divina em tua fortaleza.

Senhor é bom ficarmos aqui,
Como corpo e membros amados,
Como amigos de caminhada,
Presentes à mesa sempre preparada,
Para nos fazer saciados,
Para continuar a jornada.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Mas é preciso continuar,
O caminho do discipulado,
Nos passos do teu chamado,
Para o teu Reino anunciar,
Nos sentindo sempre auxiliados.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Porém, tu nos chamas a levantar,
E com coragem te seguir,
Para aos outros se unir,
E Reino em comunhão anunciar,
Perseverantes, sem desistir.

Senhor, queremos seguir em frente,
Sairmos do nosso intimismo
Da montanha do medo descer,
Para contigo aprender.
Deixando a redoma do comodismo,
E fazermos a missão florescer.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho do Homem, ilumine o seu caminho! ***

 

III Domingo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Ex 17,3-7; Sl 94(95); Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

⇒ HOMILIA ⇐

Busquemos a fonte Viva e Eterna

Jo 4,5-42

 

Neste 3º Domingo da Quaresma, a liturgia nos apresenta o texto do Evangelho de João (4,5-42), que narra o encontro de Jesus com uma samaritana. Em plena luz do dia, marcado pelo sol escaldante da Galileia, Jesus senta-se junto à fonte de Jacó (cf. Jo 4,6). Cansado fisicamente da caminhada de peregrino, vai ao poço e aí acontece um encontro com uma mulher samaritana, sem nome, que, com certeza, sempre ia para aquele poço buscar água.

Aquela mulher viverá uma experiência de encontro, nunca esperado, pois aquele meio dia não foi comum como os outros. Algo mudou a sua vida completamente. Ela era de um grupo de pessoas descriminadas pelos judeus e, por isso, nunca esperaria um encontro com um mestre de Israel, um profeta, tão próximo, que lhe ouvisse e até ousasse pedir-lhe água para beber.

Para os discípulos também foi uma surpresa, porque, ao chegarem junto a Jesus, não entendem aquela conversa (cf. Jo 4,27). A aproximação de Jesus e o seu diálogo com aquela mulher nos mostra a ação de um Deus que vem ao encontro do humano para oferecer a sua vida. Ele é a fonte de água viva e infinita, que sacia a sede de todos os que o buscam e o encontram.

A presença de Jesus junto à samaritana mudou o jeito dela enxergar a sua existência, o seu caminhar, seus conceitos, suas concepções culturais e religiosas. De conceber a presença de Deus na sua vida, de buscar os anseios mais profundos da sua alma, pois, agora Deus se coloca no mesmo nível do ser humano, para poder se comunicar com ela e oferecer-lhe o sentido verdadeiro da vida.

Alimentada e motivada pela experiência de diálogo junto ao Mestre, convencida da chegada do Messias ao mundo, a samaritana tornar-se missionária e vai anunciar à sua cidade as maravilhas deste encontro com Jesus. (cf. Jo 4,28-29).

A ação de Jesus em oferecer a verdadeira água, a fonte da vida, para os samaritanos, nos lembra o povo no deserto, quando falta a água, reclama da sede, e, diante de Moisés, murmura chegando a duvidar de Deus (cf. Ex 17,7). E da rocha firme Deus faz brotar a água para saciar a sede do seu povo (cf. Ex 17,6). Moisés é o intercessor, que o escuta e dirige a Deus a sua súplica a favor do povo para solucionar os diversos problemas que vão surgindo na caminhada pelo deserto.

Também a samaritana foi esta ponte, esta intercessora, esta missionária, entre o seu grupo e Jesus. Foi por causa do seu anúncio sobre o Senhor, que muitos correram ao encontro da fonte (Jesus), mudaram de vida e buscaram matar a sede de amor e superar os tantos vazios e discriminações sofridas por parte dos judeus, os quais se destacam aqui, os doutores da lei e os fariseus.

Jesus é a nossa fonte de água viva e eterna, na caminhada do deserto de nossa existência, quando muitas vezes nos sentimos cansados, com sede e com pouca força para continuar nossa peregrinação terrestre. Nele encontramos a esperança e a salvação e com ele anunciamos o Reino de Deus.

Pela água somos inseridos no novo povo de Deus, através do Batismo, por ela somos purificados do pecado original e nela somos mergulhados, para nascermos de novo, nos tornarmos irmãos, filhos do mesmo Pai Divino, missionários do seu amor, e caminheiros neste mundo em vista da eternidade. O Senhor é a fonte verdadeira que sacia a nossa sede, nos dando forças, nos acolhendo e nos saciando com o seu amor e sua misericórdia, quando nos vem o cansaço a e nossa aridez.

Os cristãos são chamados a deixar resplandecer, em suas atitudes, o rosto amável de Cristo junto aos irmãos necessitados. Àqueles que precisam não somente de pão material mas também são carentes da água viva que dá sentido e força ao existir de todos que peregrinam neste mundo.

Supliquemos ao Espírito Santo que a sua luz e o seu amor se derrame sobre nós, para que sejamos discípulos missionários de Jesus Cristo e que perseveremos no nosso caminhar com ele e, dos nossos corações, possa brotar a oração verdadeira, como reza o salmo 94(95): “Vinde, exultemos de alegria no Senhor, aclamemos o Rochedo que nos salva! Ao seu encontro caminhemos com louvores, e com cantos de alegria o celebremos!” Amém!

 

***

⇒ POESIA ⇐

Dai-me desta água viva

 

Senhor é bom ficarmos aqui,
Na comodidade do teu amor,
No transfigurar da tua beleza,
No encontro da tua mesa,
Num encontro em que não há dor,
Presença divina em tua fortaleza.

Senhor é bom ficarmos aqui,
Como corpo e membros amados,
Como amigos de caminhada,
Presentes à mesa sempre preparada,
Para nos fazer saciados,
Para continuar a jornada.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Mas é preciso continuar,
O caminho do discipulado,
Nos passos do teu chamado,
Para o teu Reino anunciar,
Nos sentindo sempre auxiliados.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Porém, tu nos chamas a levantar,
E com coragem te seguir,
Para aos outros se unir,
E Reino em comunhão anunciar,
Perseverantes, sem desistir.

Senhor, queremos seguir em frente,
Sairmos do nosso intimismo
Da montanha do medo descer,
Para contigo aprender.
Deixando a redoma do comodismo,
E fazermos a missão florescer.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho! ***

 

II Domingo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Gn 12,1-4; Sl 32(33); 2Tm 1,8b-10; Mt 17,1-9

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

⇒ HOMILIA ⇐

Da transfiguração à missão

Mt 17,1-9

 

O 2º Domingo da Quaresma nos traz o texto de Mateus (cf. 17,1-9), o qual nos apresenta transfiguração de Jesus. Nesta liturgia, portanto, somos convidados a subir à montanha com Pedro, Tiago e João e contemplarmos o rosto transfigurado de Jesus que, como o sol, ilumina todo homem, com seu amor e nos faz santos como o Pai do Céu é santo.

Diante da transfiguração de Jesus, Pedro foi tentado a se acomodar e ficar somente na glória e não se envolver com a missão após a descida do monte (cf. Mt 17,4). Neste sentido, Deus Pai intervém apresentando o Filho e pedindo que o escutem (cf. Mt 17,5). É preciso viver o discipulado orientado pela Palavra de Jesus.

Há, ainda, a presença de Moisés e Elias na cena apresentada por Mateus. Eles representam a Lei e os profetas para nos afirmar que em Jesus a Lei é cumprida plenamente porque ele é o novo Moisés, aquele que conduz o novo povo de Deus. Em Jesus também está a profecia, o anúncio da justiça e da fraternidade, o Dom da vida plena, porque a Palavra de Deus – Jesus – agora se encarnou no meio dos homens e fala conosco como irmão.

Os discípulos se deliciam com a experiência mística da transfiguração e querem ficar lá, com tendas armadas para cada um. Isso confirma a vontade humana de ficarmos sempre num ambiente de conforto. O Papa São Leão Magno (395-461) nos fala que a principal finalidade da transfiguração foi afastar dos discípulos o escândalo da cruz, para que a humilhação da Paixão, voluntariamente suportada, não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo[1].

Apesar de que todos nós precisamos ficar um pouco usufruindo o bem-estar com a família, com os amigos, precisamos parar um pouco para nos abastecer no aconchego da nossa casa, saborear espiritualmente da maravilhosa e edificante força e encontro com a Eucaristia. Sempre precisamos louvar e buscar a alegria que preenche o nosso coração. Às vezes somos tentados a querer uma vida sem desafios, sem dor e sem problemas, mas não é possível neste mundo. Somos caminheiros da vida em meio aos obstáculos, sofrimentos que vem ao nosso encontro através das enfermidades físicas e mentais, dos lutos, das lutas, dos desesperos e decepções. Mas o Senhor que se transfigura na Palavra, na Eucaristia, nos encontros com os irmãos e irmãs, desce do Monte (Altar) para caminhar conosco pelas estradas da nossa vida!

Precisamos nos levantar e, como o Senhor pediu aos seus discípulos, seguir em frente. Faz-se necessário descer do monte da transfiguração, para que, iluminados e fortalecidos pela luz do Senhor, continuemos caminhando, prosseguindo com Cristo e anunciar o Reino de Deus com o nosso testemunho, nossa perseverança, na esperança, para que o mundo não nos desfigure com tantos barulhos, luzes artificiais, filmes, propagandas e outros recursos que podem nos impedir de guardar tesouros no céu (cf. Mt 6,20).

Muitas vezes, faz-se necessário sairmos do nosso lugar de mesmice, cômodo, da nossa segurança material e bem-estar pessoal, como fez Abrão, que deixa sua terra e se abre a uma nova experiência de vida, uma vida transfigurada, de acordo com o que Deus o chamou e, ao mesmo tempo, o enviou (cf. Gn 12,4).

A Quaresma é este tempo de rezarmos, silenciarmos, fazermos penitência e aperfeiçoar cada vez mais na nossa vivência cristã através da oração, da penitência, da caridade e do sacramento da confissão. Resumindo: praticando jejum, oração e esmola.

No Brasil, e em outros países, temos a Campanha da Fraternidade, como mais um elemento de vivência do tempo quaresmal, que é parte do grande ciclo pascal. Por isso, nos encontros semanais (Via-Sacra, encontros em família, rodas de conversa, nas celebrações, formações) somos convidados a uma atitude de contemplação sobre as realidades sociais como campos de nosso envolvimento e vivência concreta da nossa fé, no que se refere aos diversos problemas e carências da vida humana.

Deixemos que o Espírito Santo venha nos guiar com sua luz e nos faça obedientes ao que Deus Pai nos pede: Escutar o Filho. Que em nossas subidas e descidas às montanhas de nossa existência possamos estar acompanhados de Cristo e de sua Palavra. E a nossa oração seja sempre voltada ao seguimento fiel de Cristo que nos chama a realizarmos nossa missão a favor de seu Reino de amor e paz.

——–

[1] Dos sermões de São Leão Magno, Liturgia da Hora II, 2º Domingo da Quaresma.

 

***

⇒ POESIA ⇐

É bom ficarmos aqui

 

Senhor é bom ficarmos aqui,
Na comodidade do teu amor,
No transfigurar da tua beleza,
No encontro da tua mesa,
Num encontro em que não há dor,
Presença divina em tua fortaleza.

Senhor é bom ficarmos aqui,
Como corpo e membros amados,
Como amigos de caminhada,
Presentes à mesa sempre preparada,
Para nos fazer saciados,
Para continuar a jornada.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Mas é preciso continuar,
O caminho do discipulado,
Nos passos do teu chamado,
Para o teu Reino anunciar,
Nos sentindo sempre auxiliados.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Porém, tu nos chamas a levantar,
E com coragem te seguir,
Para aos outros se unir,
E Reino em comunhão anunciar,
Perseverantes, sem desistir.

Senhor, queremos seguir em frente,
Sairmos do nosso intimismo
Da montanha do medo descer,
Para contigo aprender.
Deixando a redoma do comodismo,
E fazermos a missão florescer.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho! ***

 

I Domingo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Gn 2,7-9;3,1-7; Sl 50(51); Rm 5,12-19; Mt 4,1-11

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

⇒ HOMILIA ⇐

Cristo nos ensina a vencermos as tentações

Mt 4,1-11

 

A liturgia deste 1º domingo da quaresma nos apresenta, através do Evangelista Mateus (cf. 4,1-11), Jesus, após o batismo, sendo conduzido pelo Espírito ao deserto para enfrentar as tentações do diabo. Diz Santo Agostinho (*354+430), bispo de Hipona (moderna Annaba, na Argélia): O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar-se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação”[1].

Na tentação dos nossos primeiros pais[2], Adão e Eva, percebemos a fraqueza e a desobediência. Diante dos resultados desta atitude, o casal se percebe na nudez de sua realidade humana. A nudez da qual narra o Gênesis é exatamente a descoberta de que não podemos nada sem Deus e que não podemos ser como Ele, pois somos suas criaturas e já carregamos algo muito precioso: a sua imagem e semelhança.

Meditando na liturgia da palavra deste 1º domingo da quaresma, aprendamos o que o Senhor nos ensina sobre as tentações que ele viveu antes de se entregar ao seu ministério pela Galiléia.

A primeira tentação acontece no deserto após os quarenta dias de jejum, quando Jesus sente fome. “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” (Mt 4,30). Jesus nos ensina a vencermos esta tentação do ter. Esta tentação, a qual nos leva a pensarmos que tudo se refere ao dado material e aos nossos próprios desejos e interesses. De vez em quando, caímos na motivação diabólica de resolvermos as situações do mundo a partir de nossa autossuficiência. Esquecemos que não é somente dos bens materiais de consumo, do acúmulo e de nossos interesses individualistas, que vivemos, mas da Palavra de Deus que nos orienta por um caminho de fraternidade e de partilha, vivida no amor ao nosso Deus e aos nossos irmãos (cf. Mt 4,4).

A segunda tentação ocorre no templo: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui para baixo” (Mt 4,6). Jesus é tentado a se apresentar glorioso e inclinar-se ao triunfalismo. A nossa vivência religiosa na Igreja não deve ser motivada por prestígio e por fama. Somos, às vezes, tentados a vivermos uma religião de refúgio, segurança individualista, fama e também de status social. Faz-se necessário vivermos um cristianismo em virtude da justiça e do bem a favor dos outros. O Senhor nos ensina: Não tentarás o Senhor teu Deus!” (Mt 4,7). Não podemos provocar Deus a fazer a nossa vontade em favor dos nossos interesses individualistas e do nosso prestígio, para sermos vistos pelo mundo em nossa ostentação.

Na última tentação, Jesus é levado a uma alta montanha onde se visualiza todos os reinos poderosos do mundo. Diz o diabo: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar.” (Mt 4,9). Os reinos de satanás são governados pelo poder opressor, pelas maldades, discriminação, mortes, mentiras, falsidade e corrupções.

Jesus nos ensina que não podemos nos dobrar às motivações diabólicas do poder que mata, que divide as pessoas, que as exclui e que promovem as guerras. A tentação do lucro e do domínio por parte de poucos sobre muitos, crucifica os pobres e vulneráveis com práticas criminosas.

Precisamos entender que o poder de Jesus está no amor, na compaixão, no cuidado com os pobres, na sua palavra que chama o ser humano à mudança de vida e o envia a semear o Evangelho. Também na entrega à cruz, para a libertação e salvação do mundo. Porque é o amor, a escuta, a adoração, o culto ao Deus verdadeiro, que dignifica de verdade a vida das pessoas e traz a verdadeira paz, a Paz de Cristo, o shalom que Jesus saudou os discípulos, logo na tarde da Ressurreição, onde eles se encontravam trancados com medo dos judeus, proporcionando-lhes a Paz interior a todos os que estavam amedrontados (cf. Jo 20,19-23).

A razão de nossa vida é Cristo, o novo Adão, Aquele que no deserto, lugar onde Israel foi tentado, venceu o diabo e nos ensinou também a vencê-lo. Deu-nos a vida verdadeira e nos renovou em seu amor. Quis ser alimento para nós, o seu povo novo, com seu corpo e sua Palavra, dando-nos força e luz em nosso peregrinar terrestre.

Peçamos perdão pelas vezes que nos deixamos vencer pelas tentações, às quais passaram por Jesus e que ainda hoje invadem a nossa vida material e espiritual. Que a luz do Espírito nos ilumine e nos encha de força para vencermos as tantas tentações que encontramos a cada dia. Que o nosso jejum, a nossa oração e a nossa esmola nos transformem em pessoas cada vez mais parecidas com Cristo, nas atitudes e nas palavras. Amém.

——–

[1] Dos comentários sobre os salmos, de Santo Agostinho, bispo. Liturgia das Horas, 1º Domingo da Quaresma.

[2] O nome Adão (em hebraico ´adamah, pois procede da terra), se torna ´ish (que quer dizer homem, mortal). E da palavra ´ish surge ´isshá (que quer dizer mulher), pois é carne da mesma carne, isto é, procede do homem, sendo da mesma substância (cf. nota de rodapé de Gn 2,23, da Bíblia do Peregrino, editora Paulus, 2018).

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Vencer as tentações com Cristo

 

Contigo, Senhor,
Sou vencedor,
Contra o tentador,
Que me faz escravo
Das suas falsidades,
Atrocidades,
Contrárias ao amor.

Em ti, Senhor,
Sou firme e forte,
Venço também a morte,
Que me traz as trevas,
Deixando-me perdido,
Como se fosse vencido,
Longe da tua sorte.

Por ti, Senhor,
Vou me entregando,
Sempre caminhando,
Rumo à vitória,
Meta dos teus seguidores,
Dos evangelizadores,
E o reino anunciando.

Para ti, Senhor,
Toda gratidão,
Nada é em vão,
Vamos sempre vencendo,
Vencemos o pecado,
O mal derrotado,
Em ti, novo Adão.

Contigo, Senhor,
Na fraternidade,
Seguindo sendo caridade,
Pelo mundo a fora,
Vivendo a oração,
Sendo comunhão,
Via da santidade.

.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o novo Adão que nos trouxe o dom gratuito e superabundante da justiça, ilumine o seu caminho! ***