II Domingo do Tempo Comum – Ano C, São Lucas

 

 

Leituras: Is 62,1-5; Sl 95(96); 1Cor 12,4-11; Jo 2,1-11

 

⇒ POESIA ⇐

FESTA DO VINHO NOVO

Convidamos o Senhor
Para a festa nova da nossa vida,
Para matar a sede que nos torna tristes,
Para transformar a estrada percorrida,
Superando a barreiras que existem,
E que torna nossa história sofrida.

Convidamos a nossa Santa Mãe,
Que percebe nossas dificuldades,
Quando não temos o suficiente,
Para prosseguir o encontro com a verdade.
Pois nem sempre há clareza existente,
Para seguir o caminho da unidade.

Convidamos ainda os primeiros seguidores,
Que pela fé aderiram o Senhor,
Para sempre foram anunciadores,
Mesmo diante das barreiras e da dor,
Viveram a santidade como grandes pregadores,
Entregaram a vida com radical amor.

Que sejamos servos obedientes,
Quando o Senhor algo nos pedir,
Possamos exercer a liturgia da vida,
Vivendo a santidade agora e aqui,
Que nossa missão nunca seja esquecida,
E que o vinho novo possa sempre existir.

Que a mesa santa traga-nos a fraternidade,
E os gestos falem mais do que pronunciamentos,
Trazendo os sinais da transformação,
E a alegria viva como fermento,
A justiça e a paz via de comunhão,
E o amor na vida: sentido e sustento.

 

⇒ HOMILIA ⇐

Fazei tudo o que o Senhor vos disser

 

Estamos na primeira parte do Tempo Comum que totaliza cinco semanas até o início da Quaresma. A liturgia da Palavra nos apresenta o evangelista João com o conhecido texto das Bodas de Caná.

Na cultura judaica as festas de casamento duravam em média uma semana e o vinho era a bebida principal a qual não poderia faltar. Mas naquela festa, a qual estavam Jesus, Maria, os discípulos e muitos outros convidados, faltou o vinho. Maria, na sua sensibilidade e percepção da situação, quer livrar os noivos de tão grande constrangimento, ela tem consciência e a certeza que Jesus poderia resolver o problema, por isso o chama, pedindo que encontre uma saída e depois fala para os servos da festa que obedeçam ao que o Senhor disser (cf. Jo 2,5).

E Jesus opera o seu primeiro milagre, que o evangelista João chama de primeiro sinal, pois a água transformada em vinho é sinal de vida nova ao mesmo tempo em que já aponta para a sua ressurreição e a certeza da nossa salvação por meio dele.

O vinho novo também se relaciona com a Eucaristia quando é transformado no corpo e sangue do Senhor, o sangue da Nova Aliança que nos conduz à nossa redenção.

Podemos refletir mais alguns pontos desta passagem do evangelista João: a presença de Maria neste episódio nos leva a meditar que ela é a intercessora diante das nossas necessidades, ela é primeira discípula de Cristo e também quem primeiro nos pede para obedecer à palavra de Deus: “Fazei tudo o que o Senhor vos disser” (Jo 2,5). Depois, o sinal de Jesus realizado numa festa de casamento nos aponta para a primeira leitura, em que o profeta diz que “já não te chamarão ‘Abandonada’, nem chamarão à tua terra ‘Desolação’. Antes, será chamada ‘Meu prazer está nela’, e tua terra, ‘Desposada’. Com efeito, o Senhor terá prazer em ti e se desposará com tua terra.” (Is 62,4). Na caminhada do povo de Israel, Deus é o esposo fiel mesmo diante das infidelidades de seu povo. No Novo Testamento Jesus é o esposo fiel da Igreja que doa seu corpo e seu sangue para que esta seja alimentada e torne-se presença do Reino no mundo.

Outro ponto interessante é que este primeiro sinal de Jesus fez os discípulos crerem nele, significando que a partir daí eles fizeram a adesão verdadeira e seguiram alimentados pela fé no Senhor que os chamou.

O encontro com o Senhor e a vivência da fé nele, deve nos levar para a experiência do discipulado missionário onde devemos testemunhar o próprio Cristo e ser sinal de amor no mundo de tantas controvérsias. O amor de Deus por nós é constante e eterno, ele é o esposo fiel mesmo que haja infidelidade ao longo do caminho que percorremos, ele que não deixa acabar o vinho da alegria na festa da nossa vida.

Não podemos esquecer que o matrimônio é o grande sinal do Reino no mundo, expresso na unidade, na fidelidade, no respeito, no diálogo e sobretudo no amor do casal. A família que vive tais virtudes são sinais da presença de Deus e ao mesmo tempo como em Caná, onde o Senhor faz o milagre do vinho novo símbolo da constante alegria da vida e do amor abundante no mundo.

Há uma presença sensível e auxiliadora na vida dos cristãos, que é a intercessão de Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa. Ela percebe quando falta algo em nossa vida e pede ao Senhor que opere o milagre da restauração e da saciedade. A nós cabe a atitude dos servos da festa: que sejamos obedientes, ou seja, devemos assiduamente ler e meditar a Palavra de Deus que nos converte, nos chama e depois pela fé nos tornamos discípulos missionários de Cristo, como Maria.

Peçamos as bençãos de Deus para uma caminhada marcada pela felicidade em Deus e que Maria interceda sempre por nós quando nos faltar aquilo que mais nos torna firmes na caminhada: a alegria de sermos filhos e filhas de Deus. E que lembrando a Carta de São Paulo aos Coríntios (cf. 12,4-11), possamos ser sinais de serviço ao Reino com os diversos dons que Deus nos concede, sobre a luz do mesmo Espírito, que nos ilumina, nos fortalece e nos capacita em nossa missão para sermos sinais do amor e da alegria no mundo. Amém!

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

II DIA MUNDIAL DOS POBRES

Leituras: Dn 12,1-3; Sl 15(16); Hb 10,11-14.18; Mc 13,24-32

 

POESIA

PALAVRAS ETERNAS

 

Palavras eternas são as do Senhor,
Semeadas nos corações dos homens,
Como sinal que germina o seu amor,
Como lâmpada no seu caminhar,
Como vida para partilhar,
Como ação do Criador.

Eterna é a vida prometida,
Que já começa aqui neste mundo,
O Reino da Paz refletida,
Que está além da vida natural,
Dos céus, do sol, da lua afinal,
E a eternidade sempre prometida.

Eterno é o teu Reino em ação,
Presente na Palavra encarnada,
Que cura, converte e chama para missão,
Que nos chama a ser sal e luz,
Que pelos caminhos nos conduz,
E nos apresenta a Salvação.

Eterno é o teu amor frente às nações,
Que percorreu com o teu povo a caminhar,
Mesmo diante das infidelidades e traições,
Mas que pelos seus caminhos permaneceu,
Esperando a fidelidade que não morreu,
Que chegou até nós suas promessas e ações.

 

HOMILIA

Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!

O texto do evangelho de Marcos, neste penúltimo domingo do Tempo comum, nos apresenta Jesus ensinando aos discípulos sobre o final dos tempos. Trata-se de uma narração apocalíptica onde fenômenos naturais de grandes dimensões poderão acontecer. O importante é refletirmos que o sol, a lua, as estrelas, o céu, a terra são finitos e um dia poderão passar, mas Deus e sua Palavra não passarão, porque são eternos (cf. Mc 13,31).

O foco da nossa reflexão é a ação de Deus na sua vinda gloriosa para julgar a terra e para isso ele nos ensina como será este acontecimento: Ele enviará os anjos aos quatros cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade a outra da terra (cf. Mc 13,27). E duas coisas são importantes para que estejamos atentos: primeiro, a Palavra de Deus é eterna e, segundo, não se sabe nem como, nem quando será o seu julgamento, muito menos o dia e a hora que irá acontecer, somente o Pai sabe (cf. Mc 13,32).

Para os cristãos que vivem no aqui e no agora, com o pé na realidade da vida, este evangelho nos ajudará a pensar que a construção do Reino já inicia neste mundo, com o cuidado de viver como discípulos atentos aos acontecimentos diversos e olhar a tantas situações, destruições naturais, religiosas e morais.

Quantas vezes a natureza é afetada pelas mãos humanas somente pelo interesse de se obter lucro, crescimento econômico, sem uma visão de zelo pela Criação de Deus. Os rios poluídos, as cidades caóticas, as florestas destruídas etc. As consequências são imensas quando se age assim. O cristão deve estar atento a esta realidade.

Outra realidade que pode colocar a humanidade em risco é o relativismo religioso, ou seja, quando parece que Deus não é mais nosso Pai, que cuida de seus filhos, mas nosso empregado, que deve realizar nossos desejos materiais, na hora que queremos.

Como ser luz do mundo nesta diversidade de opiniões que muitas vezes não levam em conta os direitos humanos e até mesmo a Constituição do País? As questões acima levantadas parecem não dizer respeito ao evangelho citado nesta liturgia, mas se fizermos uma reflexão mais profunda, podemos nos perguntar: porque existem tantas mortes, famílias destruídas, inundações e tragédias naturais? Elas são consequências de atitudes humanas, seja ela consciente ou decorrente de uma mentalidade de indiferença às realidades que compõem a nossa existência.

Somos cristãos, vivendo na pós-modernidade e esta nos traz muitos desafios, mudanças ideológicas, econômicas e tecnológicas traduzidas no imediatismo das novidades, nos grandes eventos, nas aparências, nas redes sociais vazias de conteúdo do sentido essencial da vida, porém marcadas por muitas imagens e sons que em alguns momentos são agressivos e maléficos à saúde mental e espiritual dos humanos. Falta-nos a dimensão da interioridade e da espiritualidade para a construção das consciências.

Frente a tantas situações avassaladoras, Jesus nos olhará e nos julgará se fomos capazes de ser luz diante destes sinais modernos. A primeira leitura, no livro de Daniel, nos fará referência aos que viveram de acordo com a Lei do Senhor: “Os que tiverem sido sábios brilharão como o firmamento e os que tiverem ensinado a muitos homens os caminhos das virtudes brilharão como as estrelas, por toda a eternidade” (Dn 12,3).

Não basta vivermos na retidão fundamentada numa fé intimista, individualista, mas também ensinar aos outros os caminhos do Senhor assim como Jesus, tantas vezes, preparou os seus discípulos para serem fermento na massa, sal da terra e mensageiros da sua Palavra por todo o mundo.

Precisamos usar os meios que temos para evangelizar, tais como as redes sociais, mas não somente estas… Precisamos lembrar que, em alguns momentos, somente a presença física, humana, cuidadosa e acolhedora, poderá ser instrumentos de escuta atenta, abraçar verdadeiro, de acolhimento para enxugar as lágrimas que vem do clamor do próximo…

Portanto, o Evangelho nos mostra a esperança de todos os que vivem como mensageiro da Justiça e do amor. Por isso se faz necessário estarmos mais atentos aos irmãos que sofrem e também voltados para os cuidados com a criação de Deus. Os que se portarem assim serão levados para as mãos divinas e “brilharão como estrelas, por toda a eternidade” (Dn 12,3). Peçamos as luzes do Santo Espírito no nosso caminho rumo à morada eterna, porém construindo já, e aqui, o Reino de Deus.

 

XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: 1Rs 17,10-16; Sl 145(146); Hb 9,24-28; Mc 12,38-44

 

POESIA

NOSSA VERDADEIRA OFERTA

 

Nossa verdadeira oferta é a entrega,
Entrega total do coração,
Do que temos e que não sobra,
Mas que é obra de doação.

Nossa verdadeira oferta vem da alma,
Da coragem e da caridade,
De se consumir em busca de Deus,
De segui-lo no caminho e na fidelidade.

Nossa verdadeira oferta vem da confiança,
Nos desígnios do Senhor,
Na simplicidade da vida orante e da luta,
Carregada de esperança e amor…

Enfim a verdadeira oferta opera milagre,
Na vida de quem recebe e de que faz,
Pois a retribuição será diferente, transformada,
Carrega o coração num sentimento de Paz.

 

HOMILIA

O caminho de Jesus à conversão e ao discipulado

O texto do Evangelho deste domingo apresenta Jesus em Jerusalém, alertando à multidão e aos seus discípulos sobre o comportamento dos doutores da lei, que são incoerentes com o que dizem e ao mesmo tempo carentes de uma experiência espiritual voltada para a caridade a respeito dos pobres, das viúvas, dos doentes, dos estrangeiros etc. Eles valorizam de forma exagerada os aspectos exteriores, as aparências.

Num segundo momento, Jesus observa, no Templo, o comportamento daqueles que trazem suas ofertas (esmolas). Aí existem dois grupos com comportamentos totalmente diferenciados no que se refere às doações. Primero os ricos, que depositavam grandes quantias (cf. Mc 12,41b); depois o grupo dos pobres representado pela viúva que deu tudo que tinha: duas pequenas moedas (cf. Mc 12,42). Segundo estudiosos, pelo próprio texto do Evangelho, podemos deduzir que a quantia da esmola oferecida era declarada publicamente.

Jesus chama os discípulos, ensina-os que a viúva fez a verdadeira oferta, por que deu tudo o que tinha, confiando totalmente na providência de Divina (cf. Mc 12,44). Na primeira aliança, no primeiro livro de Reis, constatamos também uma viúva diante do profeta Elias que também obedece à Palavra de Deus: “Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: a vasilha de farinha não acabará e a jarra de azeite não diminuirá, até o dia em que o Senhor enviar a chuva sobre a face da terra” (1Rs 17,14).

De acordo com o que vimos nas leituras, quantas lições dentro da experiência cristã podemos tirar? Qual é a verdadeira oferta? Como tem sido o comportamento dos cristãos nas nossas comunidades e grupos pastorais referente a compreensão e a prática da esmola?

É interessante observar que nos dias atuais temos uma valorização exagerada dos que têm mais poder aquisitivo e que gostam das honrarias. Muitas vezes avaliamos os outros pelo aspecto exterior e também pelo seu status. É lamentável que mesmo dentro dos grupos cristãos isto é visível. Podemos dizer que este comportamento humano, sobretudo quando vivido pelos que se dizem cristãos, é um grande obstáculo na vida dos verdadeiros discípulos do Senhor, pois a Igreja deve expressar o rosto de Cristo, servidor e caridoso.

A viúva é a figura dos que se entregam totalmente nas mãos de Deus; dos que quando oferecem a ajuda fazem com todo o corpo e com toda a alma, dos que se consomem dia e noite, vivendo a caridade sem medo de que lhe falte alguma coisa.

A oferta dos ricos no evangelho pode nos lembrar o poder público que tanto arrecada aos seus cofres, mas quando é preciso devolver para os que necessitam (pobres, doentes, abandonados nas ruas, etc.) esbarra na burocracia, nos interesses particulares dos que estão à frente da administração e nem oferecem o que sobra, porém o que lhes faz ser visto pelo povo e que lhes pode render publicidade.

Podemos lembrar que a Igreja nasceu da caridade, quando não havia necessitados e todos partilhavam os bens (cf. At 2,42-47). Está ação é necessária e contínua entre os cristãos. Podemos lembrar abrigos para os idosos, as creches para as crianças pobres, as casas de apoio ao povo de rua, os hospitais para os aidéticos, para os portadores de câncer e muitas outras ações que são conduzidos pelas Igrejas e ainda mais, são mantidos pela ajuda não do governo, mas pela generosidade das pessoas de bem e de coração generoso as quais são como a viúva de Sarepta, a qual era pagã e que, obedecendo à Palavra do Senhor, deu do que tinha e não lhe faltou nada para a sua sobrevivência.

Portanto esta liturgia nos ensina a confiar na providência de Deus, a entregar a nossa vida sem reservas ao Senhor que nos chama e para que doemos não o tempo e a esmola que nos sobra, mas aquilo que temos e somos de corpo e alma. O seguimento a Jesus é vivido pela nossa entrega e nossa solidariedade no nosso trabalho, na nossa família, entre nossos amigos e na Igreja.

Que a nossa entrega seja manifestada no verdadeiro culto e que cresça a nossa consciência de uma Igreja que manifesta o rosto caridoso e misericordioso de Cristo, pois somos os seus membros vivos neste mundo.

 

XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Jr 31,7-10; Sl 125(126); Hb 5,1-6; Mc 10,46-52

 

POESIA

UM CERTO BARTIMEU

Bem a beira do caminho
Tinha um certo Bartimeu
Que gritava com insistência,
Sendo filho de Timeu.
O seu grito foi ouvido,
Por Jesus foi atendido,
Pois a cura aconteceu.

No caminho de Jesus
Aquele homem foi seguindo
Tornou-se um discípulo seu,
Missionário foi agindo.
Proclamou a sua fé
Sempre disposto e de pé
Mundo novo construindo.

Nos caminhos do Senhor
Precisamos de coragem,
Viver a perseverança,
Partir para outras margens
Passos firmes a caminhar,
A fé sempre professar
Para levar a mensagem.

Precisamos estar atentos
Para o mundo em que estamos,
Ouvir o grito dos pobres,
Que nem sempre escutamos
Viver fé e caridade,
Construir fraternidade
No chão onde nós pisamos.

Nosso olhar, olhar de Deus.
Para as questões sociais,
Não ser pedra de tropeço,
Mas ser sempre um a mais
Que ajude a levantar
Os que estão a tropeçar,
Por causa dos capitais.

Jesus, mestre querido,
Sacerdote, eterno amor,
Curai todos os sofredores
Que padecem muita dor,
Mudai os acomodados,
Abri os olhos fechados,
Pois só vós, sois o Senhor.

 

HOMILIA

O caminho de Jesus à conversão e ao discipulado

O Evangelho deste domingo nos traz uma profunda reflexão sobre a ação de Jesus em nossa vida e na nossa busca de encontrá-lo, enxergá-lo e segui-lo. A caminho de Jerusalém, passando por Jericó, Jesus é seguido de uma grande multidão e também de seus discípulos. Alguém está à beira do caminho e é identificado como filho de Timeu, de nome Bartimeu. Sua condição social: cego e mendigo (cf. Mc 10,46). Sua postura: está atento ao Senhor que passa, e grita, confessando insistentemente: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!”. Embora muitos queriam calá-lo. O seu grito perseverante chega aos ouvidos de Jesus que manda chamá-lo. O interessante é que o chamado é feito por um grupo de pessoas as quais empregam dois imperativos: “coragem levanta-te, Jesus te chama!”. Diante desta palavra aquele cego “joga o manto para trás” e vai até Jesus (Mc 10,5). Diante do milagre de Jesus, Bartimeu torna-se seu discípulo.

Esta narrativa de Marcos nos traz um leque de reflexões para a nossa vida pessoal, e, sobretudo, para a dimensão coletiva da vivência dos cristãos. Na dimensão pessoal podemos dizer que muitas vezes precisamos que o Senhor nos faça enxergar os seus caminhos para depois segui-lo.

Precisamos neste seguimento abrir os olhos para as situações de opressão, que colocam muitos irmãos e irmãs à beira do caminho, e as nossas misérias interiores, que nos trazem consequências que atrapalham o nosso discipulado. Quando se trata de uma atitude coletiva, podemos dizer que sem um olhar iluminado pelo Senhor não conseguimos perceber e ouvir os diversos gritos na nossa caminhada cristã. Muitas vezes queremos calar as pessoas, dizendo que a vida é assim e precisamos nos conformar e, por isso, não devemos lutar por uma vida digna como Deus sonhou.

Quantas vezes desencorajamos ou criticamos os irmãos que estão lutando por dignidade humana; quantos cristãos, irmãos e irmãs, que não conhecem e não sabem o que significa as ações sociais da Igreja (grito dos excluídos, comissão justiça e paz, povo da rua, Cáritas etc) e, por isso, criticam os que estão envolvidos nesta causa.

Bartimeu é a figura dos que gritam e não desistem mesmo diante das repreensões dos outros que caminham com Jesus; ele nos apresenta a conversão para seguir Jesus. No gesto do jogar o manto para trás e também é exemplo de fé no verdadeiro messias que veio para implantar o Reino e não somente curar e fazer milagres, por isso, acreditando segue o caminho de Jesus.

Este texto também nos convida a jogar o manto, ou seja, desfazer de tudo aquilo que nos impede de seguir o Senhor, também nos convida a professarmos a confiança em Deus: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” (Mc 10,47). A ação salvadora de Jesus já era a promessa desde a antiga aliança como fala o profeta Jeremias na 1ª leitura: “Eis que eu os trarei do país do Norte e os reunirei desde as extremidades da terra; entre eles há cegos e aleijados, são uma grande multidão os que retornam. Eles chegarão entre lágrimas e eu os receberei entre preces; eu os conduzirei por torrentes d’água, por um caminho reto onde não tropeçarão…” (Jr 31,8-9). Deus salva os que sofrem e os conduz pelos seus caminhos.

Em Hebreus 5,6 podemos ver que Jesus é o sacerdote eterno que viveu como homem, porém a sua natureza humana não tinha inclinação para o pecado, portando veio para conduzi todos os homens na recriação, ou seja, a salvação.

Peçamos ao Senhor a graça de abrir os nossos olhos para ver o mundo e a vida com o olhar de Deus. Agradeçamos, pois Ele nos chama e nos traz a alegria e realização completa e digamos como o salmo responsorial desta liturgia dominical: “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!”. Amém.

 

XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 53,10-11; Sl 32(33); Hb 4,14-16; Mc 10,35-45

 

POESIA

ENTRE NÓS NÃO DEVE SER ASSIM

Entre nós não deve ser assim:
Quem caminha em missão
Não deve ser o primeiro,
Mas viver a servidão.
Precisa de humildade,
Servir com simplicidade
E sem a dominação.

Entre nós não deve ser assim:
Nada de popularismo,
Nem querer os pedestais
E nem o autoritarismo.
Não deve assim viver,
Devem é se converter,
Pra não cair no abismo.

Entre nós não deve ser assim:
Não esqueçamos nossa essência.
Para vivermos a Palavra,
Fazendo a experiência.
Pra viver o discipulado,
Precisamos estar focados,
E ter muita consciência.

Entre nós não deve ser assim:
Luz do mundo, sal da terra,
Nas tantas realidades,
Plantar paz e não guerra,
Semeando o amor,
Seguindo sempre o Senhor,
Caminho que ninguém erra.

Entre nós não deve ser assim:
Deve haver sempre a partilha,
Nas nossas comunidades,
Seguindo sempre as trilhas,
Do Senhor que nos chamou
E pro mundo nos enviou,
A ser luz que brilha.

Entre nós não deve ser assim:
Devemos sempre servir
Com amor e alegria,
Sem nada de oprimir.
Ser profetas da verdade,
Ser sinal de caridade,
Mundo novo construir.

Entre nós não deve ser assim:
Vamos viver em missão,
Na Trindade iluminados,
Corpo e alma em doação.
A festa em comunidade,
Busca da fraternidade,
Em Deus, nossa comunhão.

 

HOMILIA

Ser discípulo de Cristo, é servir

Neste 29º domingo do tempo comum caminhamos com Jesus em missão, aprendendo dele sobre o verdadeiro discipulado. Como sabemos, a missão é a essência da nossa ação evangelizadora, sem missão a Igreja não será fecunda e não será sinal para o mundo. No mês missionário, a Igreja faz a coleta para as missões a qual é muito importante para manter os projetos missionários dentro e fora do nosso país. É importante salientar que quem ajuda, fazendo sua oferta na coleta para as missões, já é também missionário. Muitas vezes não temos disponibilidade para levar a Palavra como gostaríamos. Portanto, é um gesto nobre para a vivência cristã ser sensível e solidário àquilo que a Igreja realiza.

A liturgia deste domingo nos apresenta Jesus caminhando com os discípulos para Jerusalém, quando dois deles, Tiago e João, motivados pela concepção de um reino terreno, fazem diante de Jesus um pedido ingênuo e desconcertante para o seu mestre: “Deixa-nos sentar um a tua direita e outro a tua esquerda, quando estiveres na tua glória. (Mc 10,37). Esta atitude dos dois discípulos causou um problema no grupo e os outros dez ficaram indignados com Tiago e João (cf. Mc 10,41), porque, com certeza, almejam o mesmo.

Jesus, diante desta situação, orienta os discípulos quanto à seriedade do que é viver o compromisso do Reino. Ser discípulo, não é tão simples, pois requer atitudes diferentes dos poderes do mundo. O Mestre alerta: “entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos” (Mc 10,43-44). Jesus deixa claro que o discípulo deve viver o serviço, oferecendo a própria vida. Esta reflexão está ligada à primeira leitura, quando Isaías apresenta o servo sofredor que oferecerá a sua vida em expiação (cf. Is 53,10), depois a segunda leitura, Carta aos Hebreus, que afirma: “temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas…” (Hb 4,15).

Jesus é o servo de Deus que oferece a sua vida. É o sumo sacerdote que oferece a sua vida para o resgate de todos no seu Reino. Ele se entrega totalmente ao serviço do Reino do Pai. Lava os pés dos discípulos, apresentando-os o gesto concreto de simplicidade e desprendimento de quaisquer honrarias, prepotência e desapego ao poder.

Portanto, todos os que querem seguir Jesus devem ter bem claro as exigências do seguimento: não querer ser o melhor ou o mais autoritário. Não deve oprimir os outros, e nem querer o primeiro lugar, como privilégio diante do mundo, porque essa postura já está presente no mundo. Mesmo nos regimes democráticos, os chefes já trazem muita opressão e imposição sobre as pessoas.

Estas orientações de Jesus estão praticamente na contramão da mentalidade humana. Estamos sempre em busca de ser o primeiro nas nossas empresas, nos concursos, no esporte, na nossa vida profissional e etc. Claro que ninguém deve ser irresponsável nos seus ofícios. Deve ser justo e comprometido naquilo que realiza e também nunca deve-se usar as habilidades e dons para menosprezar ou se desfazer do outros. Pelo contrário, é com nossos dons e bens desenvolvidos que servimos melhor ao outro e é com nossa doação que contribuímos melhor para um ambiente de paz onde quer que estejamos.

A vida do discípulo missionário é exercida nos diversos ministérios das comunidades cristãs. Nossa ação deve estar orientada para servir melhor aos irmãos nas diversas situações de vida, mesmo que haja a cruz das críticas e dificuldades diante do ministério. Mesmo quando exercemos coordenações de grupos, quando representamos conselhos pastorais, devemos servir com humildade e simplicidade, sem querer ser o melhor ou o maior.

Entre nós cristãos não deve haver indiferença, nem dominação, não deve imperar a prepotência e a insensibilidade. Entre as nossas comunidades é essencial a solidariedade, a colaboração, a escuta da Palavra, onde há a mesa da partilha e da alegria. Deve haver a festa, onde todos possam perdoar e retornar à dignidade de filhos muito amados e em comunhão com Deus.

Peçamos as luzes do Espírito Santo para que ilumine a nossa missão e nos leve a ser um sinal de humildade e de vida neste mundo marcado pelo autoritarismo, pelo egoísmo e pela opressão sobre os mais simples e pobres. Os cristãos devem apresentar ao mundo o rosto do Cristo misericordioso e servidor, pois é essa ação divina que liberta e salva a todos que querem seguir o supremo mestre.

 

XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Sb 7,7-11; Sl 89(90); Hb 4,12-13; Mc 10,17-30

 

POESIA

COMO GANHAR A VIDA ETERNA?

Ansiando a vida eterna
Alguém a Jesus procurou,
Dos mandamentos sabia,
Mas isso não lhe bastou
Precisava algo mais:
Deixar bens materiais
Para seguir o Senhor.

Jesus logo respondeu
O que era preciso:
Viver o desprendimento
E não ficar indeciso.
Mas o homem desistiu,
E muito triste saiu,
Chorando e sem sorriso.

Vender todos os seus bens
Não estava nos seus planos.
Jesus foi muito exigente
Sem mostrar nem um engano.
Para ser seu seguidor,
Tem que lhe prestar amor
Sem desvio ao profano.

Com as palavras de Jesus
Os discípulos se espantaram,
Surgiram interrogações.
Muitas coisas questionaram,
Pra poder no céu entrar
Como então se preparar,
São poucos os que sobraram.

Pra Deus tudo é possível.
Jesus então respondeu,
Ter uma mudança de vida,
Ao jovem ele esclareceu.
Viver o desprendimento,
Ir além dos mandamentos,
Venceu o egoísmo seu.

Olhando esta narração
Que nos leva ao seguimento
Precisamos refletir
Sobre o desprendimento.
A Jesus o amor primeiro,
As coisas por derradeiro,
Sem apego e fingimento.

O nosso discipulado
É marcado pelo amor.
Tendo Jesus por primeiro,
Mesmo diante da dor.
Pois pra ter a salvação,
Temos que amar o irmão
Sem reserva e sem rancor.

Buscar a sabedoria
Que vem da fonte divina
Para ser um bom discípulo,
Como Jesus nos ensina.
Estar aos pés do Senhor
Para não perder o ardor,
Ter também a disciplina.

Também desprendimento
Dos métodos ultrapassados,
Fazem parte do roteiro
Do nosso discipulado,
A conversão pastoral
Sem desprezo ao social,
Atenção e amor doado.

Peçamos as luzes divinas
Supremas do Deus Trindade,
Para a nossa caminhada.
Que nos dê a santidade,
E que a nossa missão,
Nunca venha a ser em vão,
Mas, caminho à eternidade.

 

HOMILIA

Viver além dos preceitos

Irmãos e irmãs, caminhamos com Jesus neste 28º domingo do tempo comum, numa busca de aprofundar cada vez mais a natureza missionária e a vivência da caridade, que devem ser as marcas principais dos cristãos.

O Evangelho nos apresenta desta vez alguém que quer seguir Jesus. Numa atitude de reverência, ajoelha-se aos pés do Senhor e pergunta: “Que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,17). Pelo texto podemos deduzir que esta pessoa já observava os mandamentos desde muito jovem e que queria algo mais que saber de forma decorada a lei de Deus.

Então Jesus lança o desafio: “Vai vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” (Mc 10,21). Jesus pede o desprendimento de tudo que amarra, do que é obstáculo, daquilo que desvia do Caminho. Pede também que partilhe com os que não têm nada. Depois destas condições poderá segui-lo. Com a exigência da renúncia aquela pessoa desiste, pois é demais para ela viver uma prática de partilha e de mudança radical de vida.

Seguir a Jesus exige uma reflexão constante sobre o desprendimento das coisas materiais, as quais muitas vezes são obstáculos fortes na vida. A primeira leitura nos faz refletir profundamente sobre esse assunto: “Preferi a Sabedoria aos cetros e tronos e, em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza” (Sb 7,8). Jesus, nas conversas com os discípulos fará sua formação, usando o tema dos ricos e suas riquezas. E neste momento, eles se espantam a ponto de duvidarem que alguém possa ser salvo (cf. Mc 10,26).

Ouvindo seus discípulos e as dificuldades de entenderem sua exigência, Jesus os conforta, dizendo que é Deus quem age quando alguém quer ser seu seguidor. E Jesus vai mais além ao dizer que a vida do discípulo missionário implica em deixar muitas vezes casa, irmãos, mãe, pai, filhos e campos em favor do Evangelho.

Os pontos levantados acima, no Evangelho e na 1ª leitura, sugerem duas reflexões dentro da vocação cristã. Primeiro sobre o seguimento das vocações específicas, tais como a vida consagrada e o presbiterato, vocações essas que exigem do homem ou da mulher, o deixar a família, o emprego e até a sua terra, quando se decide pela vocação missionária além-fronteiras.

O segundo ponto é sobre a vida profissional dos jovens, dos casais, das comunidades de vida e de aliança e dos leigos em geral, que na vida secular decidem por seguir Jesus de forma autêntica dentro da sua condição particular, nas diversas realidades do mundo. Nesta condição, nem sempre é possível deixar os bens, mas é possível sim ser desapegados das coisas, ou melhor, colocar os bens materiais no seu devido lugar.

Quando servimos ao Senhor na evangelização, muitas vezes a nossa casa é colocada à disposição para as reuniões, nosso carro para conduzir pessoas, o nosso computador para elaborar os conteúdos de formação, nossos instrumentos musicais para animar os encontros e celebrações e, sobretudo, o nosso tempo de dedicação. Tudo isso é partilha também.

Podemos, ainda, refletir que o nosso desprendimento como discípulos missionários de Cristo também passa pelo desapego às nossas ideias pessoais e/ou métodos, que, muitas vezes, já não funcionam no nosso trabalho pastoral. Para isso é necessária uma conversão pastoral, como nos fala o Documento de Aparecida nº 370, o qual cito, abaixo, na íntegra:

“A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária. Assim será possível que ‘o único programa do Evangelho continue introduzindo-se na história de cada comunidade eclesial’ com novo ardor missionário, fazendo com que a Igreja se manifeste como mãe que vai ao encontro, uma casa acolhedora, uma escola permanente de comunhão missionária.”

Neste sentido, podemos olhar para a carta aos Hebreus que nos diz que a Palavra de Deus é como “espada de dois gumes e que penetra todo o nosso ser e nos julga nas nossas ações e intenções do nosso coração” (Hb 4,12). A Palavra do Senhor quando entra em nosso coração transforma, questiona nossas atitudes e nossos esquemas egoístas. Às vezes nos desconstrói e nos orienta a vivermos uma conversão no nosso caminhar. Por isso ela nos corta como espada, nos inunda como a água da chuva e não volta para o Senhor, sem antes produzir frutos em nós (cf. Is 55,10-11).

Portanto, é praticando esta Palavra que nos tornamos verdadeiros discípulos e missionários de Cristo, na doação aos irmãos, no desprendimento, na partilha dos bens e na conversão pessoal e pastoral. Para seguir o Senhor temos que caminhar com o coração livre, isto é, pautado na Palavra viva que nos transforma e com uma atenção ao chamado e ao mandato de Cristo, os quais estão além de simplesmente observar preceitos. Amém.

 

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Gn 2,18-24; Sl 127(128); Hb 2,9-11; Mc 10,2-16

 

POESIA

CRIADOS PARA O AMOR

O Deus de infinita grandeza,
Artista da criação,
Bem da suprema beleza,
Um oleiro em ação,
Na obra que iniciou
Ao homem entregou
Para a contemplação. (cf. Gn 2,18-19)

E o homem assim olhou
Para todas as criaturas
E não se identificou
Com nenhuma a sua altura.
Então Deus fez nascer
Outro semelhante ser
De beleza e formosura. (cf. Gn 2,22-23)

Do homem se fez companheira
A caminhar do seu lado
Pra viver a vida inteira.
Ele então o seu amado
Rompendo a solidão
Foram viver a união
Como Deus tinha pensado. (cf. Gn 2,24)

Foram feitos para o amor
E para a fecundidade.
O matrimônio iniciou
O Bem para humanidade.
Uma só carne serão (cf. Gn 2,24b)
Pra viver em união
Sempre em fidelidade.

Jesus então confirmou
A santa Instituição.
Aos fariseus contestou,
Fazendo a reprovação. (cf. Mc 10,5)
No início foi assim
E ninguém porá o fim
Nesta sagrada união. (cf. Mc 10,6)

Ninguém pode separar
Aquilo que Deus uniu (cf. Mc 10,9)
E também nem desmanchar
O que Deus instituiu.
A união é para sempre.
Temos que ser conscientes
Do que Deus instituiu.

O cristão deve zelar
Desta santa união.
Tem sempre que protestar
Quando houver profanação.
A família é o fundamento
Que dará sempre sustento
Pra formar um bom cristão.

Quando o lar é bem formado
A Moral é respeitada.
Os filhos são educados.
Numa fé fundamentada
Jesus Cristo é amado
E também anunciado.
Se vive o discipulado.

É importante a oração
Com a família no lar
Também nossa pregação
Na fé, no testemunhar.
É preciso esperança,
Viver com perseverança
Para não desmoronar.

Jesus, esposo perfeito
Da Igreja, esposa amada,
Confortai os seus eleitos
Que te seguem em caminhada.
Que a Mãe do salvador
No seu infinito amor
Auxilie na caminhada.

 

HOMILIA

O projeto de amor de Deus

O Evangelho deste domingo, segundo Marcos, nos apresentará dois momentos bem distintos: no primeiro há o encontro de Jesus com os fariseus, vem colocá-lo à prova quanto ao tema do divórcio. Jesus irá recordar literalmente aquilo que está na primeira leitura: “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gn 2,24). E acrescentará: “O que Deus uniu o homem não pode separar” (Mc 10,9). Jesus conversará com os discípulos reforçando a indissolubilidade da união conjugal, deixando bem claro que o rompimento de uma primeira união e o início de uma segunda implicará em adultério. (cf. Mc 10,12).

Portanto homem e mulher são chamados a vivência de uma relação indissolúvel, pois se trata de uma união sacramentada, santificada. Os elementos que darão sustentação ao matrimônio serão o amor e a fidelidade, que serão vividos através no dia a dia através do perdão, do cuidado, do companheirismo e da admiração entre os cônjuges, e, ao mesmo tempo, alimentados pela escuta da palavra e pela perseverança. O adultério quebrará essa preciosidade do matrimônio e poderá causar como consequência, ao homem e à mulher, uma vida de tristezas e muitas vezes grandes desastres existenciais na união conjugal.

Quanto ao segundo momento do evangelho, constatamos a postura dos discípulos diante das crianças (cf. Mc 10,13). Jesus mais uma vez fará a intervenção e, aborrecido, orientará os seus discípulos dizendo que o Reino de Deus é daqueles que se convertem em crianças (cf. Mc 10,15), pois elas são exemplos de inocência e simplicidade. As crianças naquela cultura eram excluídas, uma espécie de pobre, ou seja, não tinham vez e não eram acolhidas. Jesus rompe com esta postura, abraçando e abençoando-as, e, desta forma, apontando uma nova atitude e exemplo para entrar no Reino de Deus.

Diante destas duas cenas do evangelho podemos refletir como está o mundo de hoje diante das realidades do matrimônio e dos pobres: quanto ao sacramento do matrimônio enfrentamos uma mentalidade de inversão de valores, onde a instituição família é banalizada e, ao mesmo, tempo bombardeada pelos meios de comunicação com os valores que ferem a vida cristã. O pior é que, muitas vezes, aqueles que querem assumir um compromisso matrimonial também são atingidos pela cultura do relativismo referente às uniões conjugais. Muitos, quando são orientados para uma preparação adequada para o casamento religioso, se possível, fogem dessas responsabilidades.

O Sacramento do matrimônio é uma entrega, uma vocação e um compromisso de fidelidade como a entrega de Cristo à cruz, a caminho da ressurreição em favor de todos, como cita a carta aos hebreus (cf. Hb 2,9), e também como seu amor a Igreja esposa.

Ainda referente à segunda cena do Evangelho, vemos Jesus que acolhe, abraça e abençoa as crianças, como sinal do abraço a todos que buscam nele a redenção. Esta opção de amor aos simples de coração e pobres é o grande sinal de que nós cristãos devemos também estar atentos e vivê-lo na nossa prática. O Reino de Deus é daqueles que acolhem, amam e que se tornam como crianças e não dos arrogantes que se fecham no mundo do individualismo e do egoísmo. É interessante refletir que Deus é misericordioso e sua misericórdia e a sua salvação é para todos, porém não de forma impositiva e automática, mas com a nossa colaboração de acolhermos a sua graça. Santo Agostinho falará exatamente desta nossa colaboração na nossa caminhada: “Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti.”[1]

Peçamos a graça e a perseverança da vivência da caridade cristã em que estamos inseridos como discípulos e missionários de Cristo e que o nosso amor a ele seja fiel e constante. E então possamos proclamar como salmista: “O Senhor nos abençoe cada dia de nossa vida.” Amém!

 

 

[1] Santo Agostinho de Hipona – Religioso e teólogo cristão. Doutor da Igreja sistematizou a doutrina cristã com enfoque neoplatônico. Foi o primeiro filósofo a refletir sobre o sentido da história, mas tornou-se acima de tudo o arquiteto do projeto intelectual da Igreja Católica.

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Nm 11,25-29; Sl 18(19); Tg 5,1-6; Mc 9,38-43.45.47-48

 

POESIA

MÃOS, PÉS E OLHOS PARA O SENHOR

Dai-me Senhor,
Mãos que abençoam e que promovem a paz,
Mãos que escrevem uma história de amor capaz,
Que seguram firme para não romper o cordão da ciranda,
E que sejam para Ti força para que o Reino se expanda.

Livra-me Senhor das mãos da violência,
Que provocam escândalo e tantas carências…
Corta-me as atitudes que destroem a fraternidade
E que promovem a morte e a desigualdade.

Dai-me Senhor,
Pés que caminham para missão
Que vão em busca do encontro com o irmão;
Livra-nos das veredas do mau caminho
E da tentação de querer caminhar sozinho.

Abençoa os caminheiros da perseverança,
Pelas estradas da existência que às vezes cansa,
Pés que pisam o chão da comunidade em união
Que dançam na festa da paz e da comunhão.

Enfim, ensina-nos a enxergar um mundo novo,
Com o teu olhar na vida do povo,
Contemplando as tristezas e alegrias,
Mas esperando o teu Reino como o novo dia.

 

HOMILIA

Jesus nos ensina a não escandalizar os pequeninos

Queridos irmãos e irmãs, este último domingo de setembro a Igreja dedica à Bíblia Sagrada. Todos são convidados a viver o amor à Palavra que é o próprio Cristo que se encarnou e veio habitar entre nós (cf. Jo 1,14). A Bíblia é o livro ou coleção de livros mais publicada e lida do mundo e por isso temos que aceitar que o seu conteúdo vai além dos nossos templos, casas, capelas e grupos.

No Evangelho desta liturgia podemos constatar mais um ato vergonho dos discípulos diante de Jesus: eles espalham, equivocadamente, que alguém estava expulsando demônios em seu nome e por isso até querem impedir a ação dessa pessoa (cf. v. 38). A intervenção de Jesus é imediata, advertindo que fazer o bem não é um privilégio do grupo dele, mas também de outros, que, ao fazê-lo, também se incluem ao lado de Jesus (cf. v. 40). É o que vemos também na primeira leitura, quando Moisés quer partilhar o seu dom de profetizar com os setenta anciãos. Josué discípulo de Moisés cai também no mesmo erro de querer proibir Eldad e Medad de profetizar por não fazerem parte dos setenta (cf. v. 28). Mas Moisés, numa atitude de sábio e profeta de Deus, fala: “quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor e lhe concedesse o seu Espírito” (cf. v. 29).

O Evangelho de Marcos traz em seguida outros pontos que merecem ser refletidos com profundidade como o escandalizar os pequeninos que crêem. A esses é melhor se afogar no mar com uma pedra de moinho no pescoço (cf. v. 42): os pobres, os doentes, os órfãos, os imigrantes, os sem-lar são pequeninos que, muitas vezes, são escandalizados pela sociedade do acúmulo e do poder. Infelizmente, muitas vezes são os cristãos que também promovem tais escândalos.

Outra preocupação de Jesus é o cuidado com o uso do nosso corpo físico (tais como mãos, pés, olhos, língua, etc), pois o mau uso pode levar-nos ao inferno. Ou seja, é preciso cortar as atitudes más que brotam do nosso corpo físico pois estas devem estar a serviço da fraternidade. Servem para escrever uma nova história, para levantar os que estão no chão, oferecer a caridade e não para roubar o salário dos pobres ou para matar o outro. É o que São Tiago nos alerta na segunda leitura: “O salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos, que vós deixastes de pagar, está gritando, e o clamor dos trabalhadores chegou aos ouvidos do Senhor todo-poderoso” (v. 4).

Quanto ao “pé”, temos de cortar as atitudes que nos levam ao caminho errado, o caminho do mal. Precisamos usá-los para levar a Palavra, semear o amor e fazer com que Cristo seja conhecido e amado. O mundo precisa de tantos caminheiros do bem que visitem os pobres, os doentes e todos os sofredores marcados pela exclusão social. Como missionários, somos chamados a vestir os pequeninos da dignidade de filhos de Deus.

Os nossos “olhos” também podem nos levar à perdição quando olhamos para o outro com inveja, com más intenções, com atitudes de julgamento e de desprezo. Devemos perceber a necessidade que o outro tem da nossa atenção e, desta forma, enxergar as coisas boas do Reino de Deus ou a outras pessoas que não estão no nosso grupo e que fazem o bem, mostrando a face de Cristo pela sua caridade.

O grande ensinamento da liturgia deste domingo é que para ser discípulos do Senhor precisamos mudar a nossa maneira de agir e de pensar diante do mundo.

Convido agora a refletirmos a caminhada que o evangelista Marcos fez conosco durante o mês de setembro:

02/09/18 (XXII Dom.): “o que torna impuro no homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior.” (Mc 7,15). Do nosso coração sai o amor, o olhar verdadeiro sobre a vida, expressa no carinho, no caminho com os irmãos da nossa comunidade, do nosso grupo da nossa família. Também deste mesmo coração saem nossa mazelas, pobrezas, ignorâncias, ou seja, nossas mais abomináveis misérias. É isso que torna sempre impuro o nosso ser.

09/09/18 (XXIII Dom.): “Aos seus pés trazem um surdo e mudo para ser curado, era alguém que não podia ouvir, e para falar tinha dificuldades” (Mc, 7,32). Vivemos num mundo das diversas realidades sociais onde estão presentes as injustiças, onde reina a poluição sonora e visual, onde também diversas propostas de modos de vida são sugeridas às pessoas. Isto nos deixa muitas vezes confusos e falta-nos discernimentos, ou seja, nos deixam surdos e mudos.

16/09/18 (XXIV Dom.): “quem dizeis que eu sou?” (Mc 8,29); “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga…” (Mc 8,34). O primeiro requisito para ser cristão é saber quem é Jesus. Este saber quem é Ele exige o conhecimento do seu projeto, do seu plano de amor, da postura diante do mundo e suas realidades adversas e, sobretudo, a coragem de carregar a cruz das incompreensões, das calúnias e do próprio martírio.

23/09/18 (XXV Dom.): “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todo” (Mc 9,37). Seguir Jesus é ter consciência dos sofrimentos, é comprometer-se com o outro, é um estar com Ele na escuta, na oração, na Eucaristia e na vivência da humildade (ser o último, ser como criança);

E neste último domingo de setembro aprendemos muito sobre o ser discípulo de Jesus, que precisa primeiramente está aberto aos outros que querem também servir e amar. A caridade não uma propriedade única dos cristãos, outros fazem a experiência do amor aos irmãos e até mesmo da missão.

Peçamos ao Espírito Santo o dom de amar e de viver a comunhão em Cristo querendo ser discípulo seu, “vivendo como ele viveu, amando como ele amou e pensando como Ele pensou”[1].

 

[1] (Pe. Zezinho).

 

XXV DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Sb 2,12.17-20; Sl 53(54); Tg 3,16-4,3; Mc 9,30-37

 

POESIA

VIVER NO SENHOR

Quero estar contigo Senhor,
No silêncio do meu quarto interior;
Na escuta das tuas Palavras cortantes;
Que desmontam o meu coração,
Que me fazem ver o mundo com o teu olhar.

Quero caminhar contigo Senhor
Querendo ser servo,
Querendo ser o menor,
Querendo ser o último,
Querendo ser como criança…

Ajuda-me a colocar a toalha da caridade,
E caminhar num mundo de tantas pobrezas,
Ensina-me a lavar os pés machucados,
Dos caminhantes sem rumo…
E sem ninguém por eles.

Aos poucos vou entendendo
A essência do discípulo fiel:
Ser servo,
Ser sal,
Ser luz,
Ser fermento,
E também ser trigo.

Isto mesmo,
Ser trigo triturado, esmagado…
Ou caído na terra,
Pelos caminhos do mundo,
Para ser semente do Reino.

HOMILIA

Aprendendo a ser servo e acolhedor

Estamos no 25º Domingo do tempo comum. Nesta experiência da escuta da Palavra, caminhamos com Jesus atentos aos ensinamentos que nos preparam para sermos discípulos missionários neste mundo de tantas realidades e ideologias contra a proposta do Reino.

Aprendemos nesta liturgia dominical que Jesus queria estar a sós com os discípulos para prepará-los melhor, para que ficassem atentos aos seus ensinamentos. Mais uma vez ele surpreende àqueles que o seguem, mas era importante que os seguidores tivessem consciência das consequências do discipulado.

Num primeiro momento, Jesus fala aos seus discípulos sobre o seu calvário, também sobre a sua ressureição após três dias, mas eles não conseguem entender, pois ainda estavam presos às honrarias humanas, marcada pelo costume judaico, no qual muitos se preocupavam sobre a importância dos postos de status (cf. v. 34).

Jesus prossegue dizendo que para ser discípulo primeiro seja aquele que serve, aquele que acolhe os pequeninos, pois quem acolhe uma criança em seu nome na verdade está acolhendo o Pai do Céu (cf. v. 37). Acolher e ajudar o indefeso e sem voz é acolher o próprio Deus.

Essa experiência de segui-lo terá suas consequências de sofrimento, mas Deus o defenderá e o livrará de seus inimigos, como fala o livro da Sabedoria (cf. 18). Isso mesmo, no “calvário” colocado pelos inimigos do Senhor, em alguns momentos, somente Deus estará caminhando ao seu lado. Somente quem faz a opção e vive a radicalidade do seguimento em favor do Reino, poderá entender esta dimensão da vida cristã.

São Tiago, na segunda leitura, falará da sabedoria que vem do alto e como ela será a base dos valores dos que vivem a fé autêntica em Jesus Cristo. Esta sabedoria é pura, pacífica, modesta, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade e sem fingimento (cf. v. 17).

Diante destes fundamentos bíblicos que a liturgia da Palavra vem iluminar nossa experiência de fé, podemos refletir que seguir Jesus supõe estar na “contramão” das ideologias predominantes do chamado mundo pós-moderno, onde a ideia é chegar primeiro, é projetar-se, é aparecer, ser o maior diante dos homens; outra reflexão a partir do seguimento de Jesus é ter consciência dos sofrimentos, é comprometer-se com o outro, é um estar com Ele na escuta, na oração, na Eucaristia e na vivência da humildade (ser o último, ser como criança) numa postura de simplicidade e entrega nas mãos de Deus; seguir Jesus também é estar disposto a enfrentar perseguições, calúnias, incompreensões. É não ter medo do “mundo” é ser consciente das possíveis consequências.

Sem a compreensão do verdadeiro seguimento, como caminho de Redenção, fica difícil ser um seguidor autêntico de Cristo. Sem uma meditação constante e atenta à Palavra corremos o risco de ficarmos preocupados com o supérfluo, com as honrarias, estrelismo, popularidade e podemos desaguar na inversão da proposta do Reino.

Peçamos ao Espírito Santo que nos ilumine e nos dê forças para enfrentarmos as tentações, que desviam o nosso olhar das coisas do Reino. Que nosso testemunho possa falar pelas obras onde quer que estejamos. Que aprendamos a ser servos e acolhedores para que a luz do Reino brilhe no mundo do desprotegidos e desamparados. Amém.

XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 35,4-7a; Sl 145(146); Tg 2,1-5; Mc 7,31-37

 

POESIA

EFATÁ

Abri teu coração e os teus ouvidos,
À voz da Palavra que te liberta,
Também para a escuta do teu irmão,
Que grita em teu existir e te alerta,
Para o verdadeiro ser cristão.

Deixa que eu cure a tua surdez,
Para ouvireis as Palavras agradáveis,
Que vem dos teus amados irmãos,
Em seus gestos sinceros e amáveis
E que fazem ressoar em teu coração.

Deixa que eu abra os teus lábios
Para proclamares a minha Glória,
Na partilha da Palavra e do Pão,
Na ressurreição que é vitória,
Beleza da vida e da comunhão.

E convertido no teu ouvir e no teu falar,
Denunciarás as injustiças desta vida,
Proclamarás o amor em comunidade
Quando as pessoas todas reunidas
Buscarão a Paz e a fraternidade.

 

HOMILIA

Discípulos em escuta e missionário na fala

A liturgia deste vigésimo terceiro domingo do tempo comum nos alerta para que nos curemos da nossa surdez e da nossa mudez na nossa experiência de discípulos missionários do Senhor. Discípulos que seguem a Cristo através da escuta da sua Palavra e proclamam o amor, encontrando em Deus a graça da cura porque o Senhor tocou os ouvidos e a língua para que anunciem ao mundo as maravilhas do Reino de Deus.

O Evangelho desta liturgia apresenta Jesus em território pagão, na região de Tiro e Sidônia, numa peregrinação em meio aos homens e mulheres deste mundo. Aos seus pés trazem um surdo-mudo para ser curado. Era alguém que não podia ouvir e tinha dificuldade de falar. Jesus o separa da multidão e toca nos seus ouvidos e também na sua língua. Em seguida proclama uma oração de súplica ao Pai abrindo a possibilidade do falar e do escutar para aquele homem que estava fora da comunidade e que foi trazido por seus amigos para ser curado, porque não era mais possível até então caminhar sozinho em busca de Jesus.

Esta ação de Jesus já era anunciada em Isaías quando fala ao povo exilado na Babilônia, da esperança da Salvação que vem de Deus: “Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 33,5). Em Jesus se cumpre o que anunciou o profeta.

Na segunda leitura, São Tiago nos alerta para que, na nossa fé em Jesus Cristo não admitamos acepções de pessoas, porém fala que os herdeiros do Reino são os ricos na fé. Portanto não é Deus que exclui, mas aqueles que, não querendo escutar o Senhor, ficam de fora da herança que Ele oferece.

Vivemos num mundo das diversas realidades sociais onde estão presentes as injustiças, onde reina a poluição sonora e visual, onde também diversas propostas de modos de vida são sugeridas às pessoas. Isto nos deixa muitas vezes confusos e falta-nos discernimentos, ou seja, nos deixam surdos e mudos.

A Palavra de Deus é a verdadeira referência para escutarmos a verdade. É pela escuta da Palavra nas celebrações, nos encontros, na leitura orante em comunidade e/ou individual que podemos ser curados da nossa surdez e da nossa mudez. É a palavra de Cristo que penetrando em nossos ouvidos leva-nos a entrar na comunidade. O isolamento nos tira da escuta, nos tira a vivacidade da comunicação com os irmãos. Por isso precisamos que alguém que já faça parte da comunidade nos encaminhe a Cristo.

É por amor e aceitação à Palavra que o próprio Cristo, Verbo encarnado, nos dá a capacidade para ouvir o clamor dos sofredores, carentes do Pão e da Palavra. É pelo encontro com o Senhor, muitas vezes na escuta silenciosa, que somos motivados a abrirmos a nossa boca para proclamarmos a justiça, a caridade e vivermos a fraternidade no nosso caminho cristão em favor do mundo.

Façamos esse exercício do encontro com o Senhor, pela Eucaristia, pela leitura da Bíblia e escutando o Espírito Santo na voz da Igreja. É somente pela constante escuta do Senhor, à Palavra, que podemos permanecer firmes nos caminhos da vida. Somente um proclamar insistente das maravilhas de Deus poderá transformar a nossa vida e a vida dos irmãos. É pela constante leitura da Sagrada Escritura e escuta da Igreja, o Corpo Místico de Cristo, que nos tornamos íntimos de Cristo e da sua proposta na vida nossa de cada dia.

A Palavra de Deus precisa ser semeada no coração das pessoas, trazendo como consequência na escuta, na conversão e na fala a esperança na salvação, inserindo-nos na comunidade dos amigos de Cristo que constantemente aprende a ouvir os apelos de Deus em favor da humanidade, que em muitas situações precisa ser curada da surdez do individualismo que traz tanto sofrimento às pessoas. Amém.