XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Dt 4,1-2.6-8; Sl 14(15); Tg 1,17-18.21b-22.27; Mc 7,1-8.14-15.21-23

 

POESIA

OS PRECEITOS DO SENHOR

A Palavra do Senhor tem seus preceitos:
Lei que eleva-nos à vida de caridade,
Que nos ensina agir na simplicidade,
A inserir-nos no mais profundo da comunhão,
Para buscarmos na mesa do Vinho e do Pão,
O sentido mais verdadeiro da santidade.

Os conselhos do Senhor são superiores,
Às prescrições da pedra e do papel,
É Carne, é Homem, é o Emanuel,
Que veio ao mundo conosco morar,
Renovando a lei pra nos alimentar,
Num banquete vivo de leite e mel.

A voz do Senhor nos faz pensar:
Nas impurezas do nosso coração,
Nas misérias que fazem a devastação,
Na hora dos lábios quando superficiais,
Pelo culto vazio e as regras materiais,
E pela busca de uma vida de ilusão.

O olhar do Senhor nos levará,
Ao verdadeiro culto que faz viver,
Pela santa Palavra que nos leva a crer,
Que a voz verdadeira não enganará,
Que sua força nos salvará,
Basta seguir o amor e obedecer.

Os caminhos do Senhor nos levarão:
A falar do amor e da alegria,
A prestar um culto de verdade a cada dia,
Para levar a paz na vida em missão,
Expulsando os males que saem do coração,
Pela Santa Palavra que nos recria.

 

HOMILIA

O verdadeiro culto ao Senhor

Neste 22º Domingo do Tempo Comum meditaremos o texto do evangelista Marcos no qual Jesus está diante dos fariseus e mestres da Lei. Há um questionamento deles em ralação à limpeza exterior e Jesus logo corrige tal questionamento: “o que torna impuro no homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior.” (Mc 7,15).

Pois bem. O amor sai do nosso coração. O olhar verdadeiro sobre a vida, expresso no carinho, no caminho com os irmãos da comunidade, no grupo da nossa família. Também deste mesmo coração saem nossas mazelas, pobrezas, ignorâncias, ou seja, nossas mais abomináveis misérias. É isso que torna sempre impuro o nosso ser.

Segundo Marcos, Jesus faz referência ao texto do profeta Isaías (cf. 29,13). Disse o Senhor: “Esse povo me procura só de palavra, honra-me apenas com a boca, enquanto o coração está longe de mim. Seu temor para comigo é feito de obrigações tradicionais e rotineiras” (Mc 7,6). Jesus denuncia a postura dos especialistas da tradição de Israel, os alertando que não é o externo que agrada a Deus, mas o seguimento da Palavra é que traz o Espírito do amor e a vida nova expressa num culto verdadeiro e profundo direcionado a Deus.

Isso nos levar a refletirmos sobre nós cristãos, hoje: como está a motivação do nosso culto a Cristo ressuscitado? Buscamos no nosso coração, no mais profundo do nosso ser, os motivos que nos leva a ser um discípulo missionário com toda a nossa alma e com todo o nosso ser? Quais são as impurezas do nosso coração? A liturgia da Palavra irá nos apontar para que busquemos a libertação desta realidade das impurezas citada por Jesus. Estas sim nos torna impuros diante de Deus!

Na primeira leitura no livro do Deuteronômio, escrito na Babilônia, durante o exílio do Povo de Israel, Moisés aconselha a todos que guardem os mandamentos do Senhor. Esta obediência levará o povo a viver a justiça no mundo de sofrimento, pois o que sobrou para aquele resto do povo escolhido foi a lei de Deus, para orientar o caminho de Israel. Diz Moisés: E que nação haverá tão grande que tenha leis e decretos tão justos, como esta lei que hoje vos ponho diante dos olhos?” (Dt 4,8). Nós cristão também devemos seguir o mandamento justo e vivo confirmado por Jesus, a partir do amor a Deus e ao próximo.

Na segunda leitura, São Tiago irá dizer: “A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é que assiste os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixa contaminar pelo mundo” (Tg 1,27). Aqui podemos confirmar o que falamos acima: o amor (caridade) é o maior dos preceitos pois é a prova concreta da obediência e culto que agrada a Deus.

Vejamos que toda a Palavra deste domingo se volta para pureza baseada em nossas atitudes, intenções e palavras. Somos chamados a viver a pureza cristã expressa na caridade a qual brota de nosso coração. Esta vivência somente será possível quando somos observadores às leis do Senhor, contidas primeiramente no Evangelho. Quando deixamos que a nossa vida seja marcada e demarcada pelo o mandamento do amor o qual não está no papel, mas no coração e nas nossas atitudes do bem e sobre a luz do Espírito de Deus que também conduz a nossa existência.

Vivemos num mundo em que se relativizam as leis dos homens não a favor do amor, mas a serviço de interesses, muitas vezes, econômicos e políticos, as quais ferem a dignidade humana. Também esquecemos que a nossa pureza brota de um coração que vive o amor por Cristo, expressa na ajuda aos necessitados, aos famintos do Pão e da Palavra, de atenção e do carinho do amor do Pai.

Portanto, a nossa comunhão com Cristo se dará de verdade quando somos um só corpo de Cristo, como uma esposa fiel. Aquela que sente a dor de seus membros. Ser seguidor de Jesus é exatamente viver escutando a sua Palavra e se alimentando dela; é seguir os verdadeiros preceitos, honrando a Deus com os nossos lábios e, sobretudo, com o nosso coração, numa atitude de escuta, numa poesia e canção que deverá brotar do mais profundo do nosso ser, como louvor e gratidão ao Deus que nos alimenta e nos oferece a vida verdadeira. Amém.

XVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Cor Litúrgica: Verde

Leituras: Ex 16,2-4.12-15; Sl 77; Ef 4,17.20-24; Jo 6,24-35

 

O PÃO QUE VEM DO CÉU

 

Além do pão que vem da terra,

 Que do trigo novo se faz grãos,

Plantado pelas mãos humanas,

Fruto do amor e da Criação,

Temos o pão da eternidade,

Que nos traz a novidade,

Para a nossa salvação.

 

Pão que se dá na Palavra Santa,

Pelas letras do Livro Sagrado,

Que nos orienta para a caminhada,

Fazendo sempre nos sentir amados,

Que muda nossos comportamentos,

Que transforma nossos sentimentos,

Como pérola e tesouro encontrados.

 

Pão que se oferece para a vida nova,

Na Mesa de todos e bem preparada,

Onde todos se voltam para o Alimento,

Como irmãos felizes da mesma estrada,

E então, se alimentam e se saciam,

E depois para mundo todos anunciam,

Esse Pão nos leva a eterna morada.

 

Alimento e Bebida que nos realiza,

Que nos sacia perfeitamente,

Dando-nos o sentido mais completo,

Alimentando a nós, a sua gente,

Configurando-nos ao seu imenso amor,

Nosso Pão da vida e Nosso Senhor

Força que nos faz seguir em frente.

 

Busquemos sempre por este Pão,

Nos caminhos da vida espiritual,

Mas, não deixemos de trabalhar,

Também pelo alimento material,

Porém, o Pão do céu é a maior razão,

Que nos dá força na tribulação,

Para a nossa vida, é santo sinal.

 

Que possamos ser Eucaristia,

No mundo das contradições,

No cotidiano de nossa existência,

Na vida, nas várias dimensões,

Na luta pelas causas sociais,

Nas fomes de comida e espirituais,

Na justiça do Reino nos fazendo iguais.

 

Por isso Senhor nós te pedimos,

Alimente em nós a confiança,

Pela providência do pão de cada dia,

Ensinai-nos o perdão em perseverança,

Perdoai-nos também as nossas ofensas,

Quebrai em nós toda a prepotência

Para que brote a Paz e a Esperança.

O Pão que nos leva à vida eterna

 

A liturgia deste 18º domingo do tempo comum dá continuidade ao capítulo 6 de João. É o discurso do “Pão da vida”, em que Jesus fala para a multidão sobre o Pão do Céu oferecido por Deus para a obra de salvação.

As pessoas querem mais pão material, querem vida fácil através de uma ação quase que mágica de Jesus. Jesus aproveita para reconduzir o foco na experiência do Pão Divino que sacia todo homem.

Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará (Jo 6,27). Essa é a grande mensagem para a multidão dos seguidores de Jesus. Desafio para nós cristãos dos dias atuais, quando o espírito do consumismo invade as consciências e a vida das pessoas de forma violenta e arbitrária. Jesus alerta à multidão para que realizem a grande obra de Deus, isto é, acreditar no Filho, enviado pelo Pai, que veio mostrar a sua face e ensinar a todos a viverem como irmãos.

O pão que Jesus oferece é o seu projeto de amor, onde todos podem se alimentar e também fazer com que a partilha, a fraternidade e a solidariedade estejam presentes como sentido principal da vida, numa caminhada onde não há mais fome de sentido da nossa existência. Somos saciados quando encontramos o sentido da nossa vida e a ofertamos como sinal de alegria e graça diante do mundo. Quando vivermos isso, estaremos alimentados do verdadeiro pão da vida, o qual está além da nossa fome do pão orgânico.

Entretanto, o Pão do céu é dom de Deus, é uma ação da pessoa do Pai. Os que estavam no deserto junto a Moisés receberam de Deus a providência do pão material, mas tiveram que aprender a confiar na providência divina quando receberam a ordem de não guardar para o outro dia (cf. Ex 16,4).

Muitas vezes, quando vamos à Missa, esquecemos que devemos alimentar nossa esperança no Pão do céu e não nas nossas barganhas com Deus. Não devemos agir como aquela multidão: querer um milagre de acordo com as nossas expectativas, como se a nossa presença na celebração fosse o suficiente para merecermos a graça.

Quando vamos à Missa, devemos estar atentos a duas dimensões: a primeira, é que se faz necessário escutar os ensinamentos da Palavra e receber o alimento da Eucaristia, para prosseguirmos nossa caminhada realizando a obra de Deus pela nossa

fé; a segunda é rezarmos que a providência de Deus para atue em nossa vida, mas esta dimensão não está submissa à nossa presença em uma Celebração, ela é gratuita por que Deus é misericordioso e nós é que temos a obrigação de cultuá-lo como um gesto de gratidão, obediência e amor ao Senhor. Podemos nos perguntar: o que iremos buscar na missa ou porque vamos à missa? Jesus nos pergunta: porque me procuram, porque buscam me encontrar?

Na segunda leitura, São Paulo nos exorta a despojarmos do homem velho para se revestir do homem novo (cf. Ef 4,17-24). Um ser humano que se insere no mundo do consumismo, achando que tudo pode, está, na verdade, com as atitudes do homem velho, porque está perdendo a imagem do qual foi criado por Deus. Por isso o Apóstolo nos alerta: Revesti o homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade. (Ef 4,24).

Trazer a imagem de Deus em nós está além da nossa visão física. Esta imagem é marcada por atitudes que transforma a nossa vida e da vida dos irmãos. As atitudes do homem novo se dão quando ele busca o verdadeiro pão do céu, e ao mesmo tempo se alimento do pão de cada dia, confiando na providência de Deus…

Portanto o homem novo é aquele que se alimenta do Pão do Céu e quer mostrar para o mundo que o sentido pleno da nossa existência está no alimento que vem do Céu. Por isso quando Jesus nos ensina a pedir o pão para cada dia, ele nos fala de Pão Nosso e de Pai nosso (cf. Mt 6,9-15). Porque o pão orgânico também é dado por Deus que é Pai de todos e por isso oferece a todos o Pão e a Vida. Ele é a fonte onde encontramos a força espiritual para labutarmos na vida. Ele é o alimento e a bebida plena que nos sacia completamente.

Ao sairmos do encontro com o Senhor, alimentados pela Palavra e pela Eucaristia, deveremos ir ao mundo como sinal de comunhão e de fraternidade, nas realidades da vida cotidiana, nos vários âmbitos sociais e comunitários. Na luta por justiça e pelo pão material e espiritual que se complementam e se tornam vida cheia de alegria e senso de irmandade. Sejais, o Senhor, nosso alimento e nossa esperança… Amém.

XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: 2Rs 4,42-44; Sl 144(145); Ef 4,1-6; Jo 6,1-15

 

POESIA

A PARTILHA DO REINO

A Palavra de Cristo fará nascer a partilha,
Quando os irmãos no amor, se abraçarem,
Quando acontecer a perfeita comunhão,
Como numa festa se confraternizarem.
E assim deixando que a vida possa pregar,
Numa ação viva de tudo a se partilhar,
E do amor fraterno se alimentarem.

Porque persiste a fome em nosso mundo?
Quando tantos se encontram na mesa do Senhor?
E se extasiam do encontro aconchegante,
Mas parece que no envio perde-se o ardor.
Volta-se pra casa com uma certa incoerência,
Porque não se deixa palavra habitar a consciência,
E o coração inflamar-se do divino amor.

O Senhor nos pede que vivamos a partilha,
E que as sobras dos pães sejam guardados,
Para quando um novo encontro vir a acontecer,
E os irmãos famintos sejam também alimentados,
Porque o amor e a partilha grande milagre serão,
Para que não passe fome nem um dos irmãos,
Que ao pão da vida eterna tenha procurado.

E assim o mundo será novo e muito diferente,
Quando compartilharmos carências e os sentimentos,
O mar da fome e da morte será atravessado,
Porque todos os homens serão alimentados,
E a sede também não terá mais vez,
Porque também não haverá a escassez,
E a casta água saciará todos os necessitados.

Hoje vamos à mesa santa do Senhor mais uma vez,
Para comermos o pão do amor e da comunhão,
Para beber o vinho da vida e da alegria,
No encontro que nos faz todos irmãos.
Para que sejamos para o mundo a fraternidade,
Testemunho que alerta toda a humanidade,
Para o caminho leva vida e à salvação.

 

HOMILIA

O Senhor nos ensina a guardar o que sobra

Neste 17º domingo do tempo comum vamos aprender de Jesus a verdadeira partilha, a qual suscita o grande milagre que é a multiplicação do pão para todos. A multidão procura Jesus para aclamá-lo como rei de Israel porque ainda não compreendeu o sentido completo da sua vinda ao mundo.

Durante cinco domingos iremos ler o capítulo 6 de João, que inicia nesta liturgia com a multiplicação dos pães e prossegue o grande discurso sobre o pão da vida, alguns momentos no monte e em outros na sinagoga de Cafarnaum.

Jesus atravessa o mar e uma grande multidão o segue, estava próxima a Páscoa, Jesus percebe que o povo tem fome e provoca um de seus discípulos, Felipe, perguntando como resolver o problema da falta de alimentos. André percebe que há um menino com cinco pães e dois peixes.

Cada uma destas atitudes nos leva a refletir sobre o que ensina Jesus para a nossa caminhada cristã. Podemos perceber um paralelo entre o Antigo e o Novo Testamento: Jesus atravessa o mar da Galileia, como Moisés também atravessou o mar Vermelho, Jesus é seguido por uma grande multidão como Moisés no deserto. Há o milagre do pão como o maná no Deserto. Porém há algo novo no Evangelho: Jesus é o novo Moisés que caminha com a multidão, conduzindo-a ao Reino de Deus.

O Pão agora deve ser preservado e guardado para que os outros participem da graça do milagre de Jesus. O Pão da vida, a Eucaristia, deve alimentar o sentimento de justiça e também suscitar a percepção de que há irmãos necessitados do pão de cada dia e por passarem fome por causa do acúmulo das riquezas nas mãos de poucos.

A liturgia de hoje nos ensina o valor da partilha e da experiência da gratuidade diante do outro. Mesmo diante da fome de uma multidão necessitada, há sempre alguém a oferecer algo para que seja partilhado. O grande milagre necessário para os nossos dias é a conversão do coração humano para a partilha dos seus acúmulos.

O Evangelho quer nos ensinar que a Eucaristia é vivida quando o pão material também é disponível na mesa de todos. Não há uma comunidade eucarística onde não se sente a necessidade do outro, onde não se incomoda com as pessoas que precisam do pão de cada dia.

Outra realidade que podemos refletir nesta liturgia: a fome pode ser resolvida quando forem recolhidas as sobras das mesas fartas como um louvor pelo grande milagre da abundância oferecida por Deus. Somos convidados a oferecer o que temos, como aquele menino perdido na multidão, ou como “o homem de Baal-Salisa, que veio trazendo em seu alforje para Eliseu, o homem de Deus, vinte pães de cevada e trigo novo dos primeiros frutos da terra” (2Rs 4,42).

O Papa Francisco[1],em sua encíclica, nos lembra que “desperdiçamos no mundo aproximadamente um terço dos alimentos produzidos, e a comida que se desperdiça é como se fosse roubada da mesa do pobre” (LS,50). Esse é o grande pecado da humanidade e deve ser confessado e transformado em ação de partilha e sensibilidade pelos irmãos e irmãs da nossa casa comum, que é a terra, como nos fala o Papa.

As nossas celebrações precisam ser continuadas nas missões, onde devemos anunciar aos outros o quanto podemos contribuir com o milagre de Jesus, que é o alimento oferecido a todos. A Eucaristia deve também nos conduzir à fraternidade e a alegria do encontro onde todos são acolhidos e ajudados a viverem com a dignidade de irmãos no mesmo amor de Deus, que é justo e misericordioso.

O nosso pecado contra a Eucaristia acontece quando nos deixamos levar pela nossa obsessão ao consumismo e a nossa omissão no envolvimento com as políticas públicas de distribuição de renda. A verdade é que somos dominados pelo mercado, que presta culto ao deus do lucro, e pelo capitalismo, que exclui tantos irmãos ao acesso aos bens mais básicos de sobrevivência.

A segunda leitura nos exorta a olharmos para a nossa condição de batizados e agirmos como um povo que forma “um só Corpo e um só Espírito, porque há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos que reina sobre todos” (Ef 4,4-6). É em nome da unidade que podemos possibilitar o milagre do pão oferecido a todos, onde as mesas não estarão mais vazias do alimento material e também haverá a Eucaristia comungada e vivida como condição para a construção do Reino de Deus.

Que o Senhor tenha compaixão de nós, abrindo nossos olhos e nossos ouvidos, curando nossas paralisias diante da pobreza material, para que possamos ser sinal de Cristo, como foi o menino, que entregou tudo o que tinha: 5 cinco pães de cevada e 2 peixinhos. E que a partir daí possa acontecer um milagre, onde o amor possa alimentara a multidão, que passa fome de Pão e de Paz, pelo mundo afora. Amém.

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[1] FRANCISCO, Papa. Carta Encíclica Laudato Si’. Louvado sejas: sobre o cuidado da casa comum. Brasília: Edições CNBB, 2015. Disponível: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html>. Acesso em: 28 jul. 2018.

 

XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Jr 23,1-6; Sl 22; Ef 2,13-18; Mc 6,30-34

 

POESIA

A COMPAIXÃO DE JESUS

Coração que acolhe,
Que tem atenção,
Que dispensa o descanso,
Que dá proteção,
Que tem tanto amor,
Vê no povo o clamor,
Da sua missão.

Coração que contempla
Que vem abraçar,
Que olha as ovelhas,
Sem as desprezar
Pastor santo e forte,
Que expulsa a morte,
Para a vida ofertar.

Coração solidário,
Com olhar sempre atento,
Para os desprezados,
Sendo altar e alimento.
Aos que vem ao convívio,
Traz a todos o alívio,
Saciando os sedentos.

Coração que ensina,
E nos chama atenção,
Pelos tantos desprezos,
E ausência da missão,
De alguns dos pastores,
Que não são protetores,
Por faltar compaixão.

Coração que alerta,
Sobre o nosso egoísmo,
Quando buscamos bem-estar,
Somente no individualismo,
Esquecemos os sofridos,
Abandonamos os feridos,
E vivemos o cinismo.

Abrasai ó Senhor,
Nosso ser, nossa vida,
Tocai nossa memória,
Às vezes adormecida.
Ensinai a compaixão,
Para vivermos a ação,
Na missão assumida.

 

HOMILIA

O Senhor nos ensina sobre a compaixão

Nesta liturgia do 16º domingo do tempo comum somos convocados a refletir sobre os frutos da missão dos discípulos de Cristo e sobre o olhar cheio de compaixão que ele tem pelas pessoas cansadas da opressão e necessitadas da atenção e o do amor de Deus em suas vidas.

No domingo passado refletimos sobre o envio dos discípulos e sobre as orientações que o Mestre lhes deu. O trabalho dos missionários de Jesus trouxe muitos frutos, pois ao voltarem, as multidões buscam Jesus cada vez mais. O missionário é enviado por Jesus e levará no seu coração a chama viva do amor ardente pela compaixão e depois retorna a Jesus para juntos partilhar das alegrias e das tantas experiências vividas na missão confiada.

A missão parte de Jesus e retorna novamente a Ele. Nesta liturgia, podemos vivenciar os efeitos da participação dos discípulos no ministério de Jesus. Eles são os continuadores da mensagem do Reino. Para ter êxito na missão é necessário a oração e o deserto para que se interiorize tudo o que foi vivido e para que se prossiga o trabalho. Os discípulos continuarão com Jesus e agora viverão de forma mais intensa o ministério missionário. O barco será o transporte usado para as travessias, em virtude da missão e do trabalho da pesca, pois eles vivem daquele alimento material.

Na segunda parte do Evangelho, Marcos nos apresenta Jesus comovido: “Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor.” (Mc 6,34). O que pensou Jesus naquele momento? O que disse aos seus discípulos sobre aquele povo? O detalhe que temos, é descrito pelo próprio evangelista: “eram como ovelhas sem pastor” (Mc 6,34). Esta frase nos leva a pensar também nos dias de hoje, quando muitos rebanhos estão também como que ovelhas sem alguém que se preocupe com o pastoreio, pois os cristãos estão mais fechados nas estruturas normativas e físicas e por isso não se dispunham a saírem para se compadecer do povo sofrido.

Neste sentido o Papa Francisco também nos alerta: Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de agarrar às próprias seguranças”[1]. E agora nos perguntamos: até que ponto nós catequistas, ministros da Eucaristia, membros de pastoral familiar, grupos jovens, animadores de comunidades, os diversos grupos da Igreja e inclusive diáconos, padres e bispos carregamos no nosso coração a compaixão de Jesus pelo povo?

O Evangelho de hoje nos leva a refletir profundamente sobre esta questão que é, por sinal, a missão principal da Igreja: buscar, cuidar e alimentar as ovelhas que estão no mundo esperando que alguém lhes dê a mínima atenção. Vivemos cada vez mais ocupados em dar conta da correria do dia a dia e não há mais espaços para a atenção, para o cuidado e para o escutar e estar com o outro…

Ainda falando sobre pastor e ovelhas, na primeira leitura, do profeta Jeremias, temos outra chamada de atenção sobre o ministério pastoral: “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem, diz o Senhor!” (Jr 23,1). Nesta leitura, o profeta se refere aos governantes também como pastores, pois também pastoreiam o povo. Assim, nos dias de hoje, nossos representantes políticos, inclusive escolhidos por voto direto, são de certa forma, nossos pastores, pois devem estar atentos às necessidades da nação. Devem cuidar do bem-estar, da justiça e favorecer todos os direitos que as pessoas necessitam. Devem zelar pela vida e dignidade de todos.

Olhando o cenário político do mundo também vemos o descaso e a indiferença destes pastores escolhidos para servir o povo. Falta a compaixão e o cuidado. E por isso, o alerta do profeta Jeremias serve para hoje no que se refere à postura e as atitudes dos que governam o povo.

Portanto, esta liturgia nos pede que reflitamos e busquemos tomar novas atitudes diante do chamado do Evangelho. Em alguns momentos como responsáveis por um grupo ou um cargo, somos pastores, e em outros momentos somos ovelhas necessitadas da compaixão do Bom Pastor, mas o que deve concretizar o Reino de Deus é o amor de Cristo que nos une.

São Paulo nos diz na segunda leitura: Ele veio anunciar a paz a vós que estáveis longe, e a paz aos que estavam próximos” (Ef 2,17). É importante a convicção de que somos todos irmãos em Cristo sendo próximos ou não. Isso nos leva a participar da mesma mesa do Pastor eterno onde há a paz e a dignidade. Ele nos conduz por caminhos seguros (cf. Sl 22) e iluminados por sua luz. Que Ele tenha compaixão de nós. Amém.

 

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[1] Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. A alegria do Evangelho: sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. 2013, nº 49. Disponível em: <https://w2.vatican.va/content/francesco/pt/apost_exhortations/documents/papa-francesco_esortazione-ap_20131124_evangelii-gaudium.html>. Acesso em: 21 jul. 2018.

XV DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Am 7,12-15; Sl 84; Ef 1,3-10; Mc 6,7-13

 

POESIA

MISSÃO, PROFECIA E UTOPIA

Ide missionários, dai a minha paz,
Vão onde precisam do meu amor,
Vão sem acúmulos e sem as riquezas,
Ide trabalhar para expulsar a dor,
Caminhai atentos pelas estradas da vida,
Aceitai aqueles que te dão acolhida,
E não levai nada, nem traga rancor.

Ide profetas do amor divino,
Dispensem as tuas tantas bagagens,
Deixai o corpo leve para caminhar,
A verdade será a tua mensagem.
Pregai com tua discreta humildade,
Vivei na tua simplicidade,
Trazei em teu rosto a minha imagem.

Caminhai dois a dois por onde fores,
Para não caíres no egoísmo,
Partilhai as tristezas e as alegrias,
Expulsai de vós o individualismo,
Formai um povo em comunidade,
Plantai a paz e a fraternidade,
E não esquecei o teu profetismo.

Falai a todos do Reino do Pai,
Testemunhai antes mesmo de falar,
Vivendo a entrega e o desapego,
Pois é a tua vida que deve falar,
Deixando que meu amor possa agir,
E que minha palavra possa fluir,
Sem tuas bagagens a sufocar.

Agindo assim tudo será novo,
A beleza das flores então surgirá,
Mundo diferente nós todos veremos,
E o amor infinito então brotará.
Cessará a violência, virá a comunhão,
As grades e cadeias ausentes estarão,
E a fraternidade todos a vivenciar.

 

HOMILIA

A missão e a profecia no mundo

A liturgia deste 15º Domingo do Tempo Comum fala direto ao nosso coração: que saiamos do comodismo e do nosso egoísmo para partirmos em missão aonde for preciso anunciar o Reino de Amor que Deus nos pede. Contemplamos, portanto, o chamado e o envio dos discípulos de Jesus, segundo o evangelista Marcos.

“A Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na ‘missão’ do Filho e do Espírito Santo”, diz o decreto Ad Gentes, n. 2[1]. É neste sentido que iremos refletir nesta homilia. Quando falamos de natureza missionária, lembramos os textos do evangelho nos quais Jesus envia seus discípulos.

Mateus, Marcos e Lucas falam desta atividade, cada um na sua versão. Esta ação tão necessária para o crescimento da Igreja. O que devemos está atentos e refletir com profundidade são as orientações que o Senhor dá para os que ele envia: primeiro envia dois a dois para que ninguém se sinta sozinho, para que partilhem entre si, das alegrias e tristezas que a caminhada poderá apresentar. Depois, que não levem bagagens (cf. Mc 6,7-8), para que as preocupações não sejam desviadas para os bens materiais, mas sim para o objetivo principal que é anunciar o evangelho. O desprendimento é primordial para que o missionário possa exercer seu ministério de evangelizador com firmeza. Sem bagagens materiais e sem acúmulos de interesses pessoais, o discípulos estará mais livre e leve para seguir o caminho e o mandato que lhe foi confiado.

Outro ponto importante, é que valorizem a acolhida dos que os receberem e que fiquem ali até a partida para que os vínculos do amor e do encontro com Cristo sejam fundamentados. E se alguém não quiser os escutar, deixe-os e sigam em frente porque a adesão ao Senhor não deve ser imposta por ninguém, mas livre (cf. Mc 6,10-11).

Estes pontos acima nos fazem pensar nos dias de hoje quando também somos convocados a uma ação missionário na caminhada de todos os dias, a todo instante e em todos os lugares. É interessante que de acordo com o que Jesus nos fala, evangelizar e/ou fazer missão, é muito mais do que decorar versículos e tentar convencer as pessoas quase que impondo uma religião ou um modo de vida. Fazer missão está muito mais no testemunho, nas atitudes e no desprendimento de nossas bagagens materiais e intelectuais.

O importante da vida do discípulo missionário de Jesus é a sua posição de profeta em meio ao povo. O enviado de Cristo também deve falar a verdade e denunciar a idolatria do poder, do acúmulo das riquezas e do vínculo com o poder político que muitas vezes oprime e engana o povo. E isso deve ser feito pela postura de quem vive a missão, além das palavras, ou seja, numa vida coerente com aquilo que se prega.

Na primeira leitura desta liturgia temos o exemplo do profeta Amós. Ele, que é agricultor e vaqueiro, é chamado por Deus para anunciar a Palavra em Israel, mas lá é advertido por Amasias, sacerdote do templo. Amasias é pago pelo rei e por isso teme que falem a verdade contra as ações do rei. Amós por sua vez é livre e poderá denunciar o poder político e religioso que se aproveita do dinheiro dos impostos, e por isso comete injustiças e opressão contra os pobres. O missionário é também profeta, ele deve está livre das atitudes que são convenientes a quem governa o povo de forma alienante e opressora.

Pensemos em nós cristãos de hoje: como se dá a nossa missão? Estamos coerentes com as orientações de Jesus que nos envia em missão? Às vezes nos dá a impressão de que estamos muito distantes do projeto de Jesus. Por isso não mudamos o mundo e cresce cada vez mais o individualismo, o acúmulo, as injustiças e os atentados contra a vida.

Podemos também nos perguntar: Quais as nossas bagagens que pesam e nos impedem de seguir a vida cristã com mais leveza e coerência? Quais os bastões de apoio temos? E com quem seguimos o caminho na missão de ser sal da terra e luz do mundo?

Ser missionário e ser profeta é exatamente estar sintonizado com Deus e viver tudo o que refletimos sobre a liturgia de hoje. Devemos estar sempre focados no amor e no louvor a Cristo, como nos fala são Paulo: Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. Nele também vós ouvistes a palavra da verdade, o evangelho que vos salva” (Ef 1,3.13). Que possamos crescer cada vez na esperança e na fé de Jesus ressuscitado que, pelo batismo, nos resgata, nos santifica e nos envia a sermos profeta, reis e pastores. Amém.

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[1] Decreto do Concílio Vaticano II, sobre a Atividade Missionária da Igreja. Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree_19651207_ad-gentes_po.html>. Acesso em: 13 jul. 2018.

XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Ez 2,2-5; Sl 122; 2Cor 12,7-10; Mc 6,1-6

 

POESIA

UM OLHAR ALÉM DO HUMANO

Ele não é para nós somente,
O Jesus de Nazaré,
Que viveu perto da gente,
Que nos diz quem Ele é.
Ele é o Verbo prometido,
Mas não é bem acolhido,
Porque a muitos falta fé.

Ele não é tão somente,
O homem espetacular,
O prodigioso e admirado,
Que a alguns veio curar.
É o Messias esperado,
Por muitos, ignorado:
Por seu povo e seu lugar.

Ele caminhou conosco,
Cheio de simplicidade,
Caminhou pelas estradas,
Visitou tantas cidades,
A nossos olhos tocou,
Fez andar e perdoou,
Trouxe-nos dignidade.

Ele é também para nós,
Além do nosso olhar humano,
O filho do Deus vivo,
Que tem para nós um plano,
Plano de reconciliação,
De amor e salvação,
Tirando-nos do desengano.

Ele traz também a nós,
Palavra de transformação,
Viva eficaz e cortante,
Que rasga nosso coração,
Fazendo-nos voltar a traz.
Da guerra para a viva paz,
Seu amor é a revolução.

Veio também pra curar,
Pra pregar e reunir,
Tornando-se nosso irmão,
Sua voz fez-se ouvir.
Venceu a morte e a dor,
É o nosso Salvador,
Vida nova fez surgir.

 

HOMILIA

Ele está no meio de nós

Somos convidados, neste 14º do domingo do tempo comum, a mergulhar na simplicidade humana de Jesus de Nazaré para podermos enxergar a presença do Deus vivo e verdadeiro no meio dos homens. Marcos relata a presença de Jesus em sua cidade natal. Depois de fazer milagres por outros lugares da Galileia ele vem à sinagoga de Nazaré. Todos esperavam o profeta que os chefes da religião tinham nas suas expectativas: Alguém poderoso e cheio de ordem para libertar Israel do poder da escravidão política e manter a ordem em todos os lugares.

A presença de Jesus com sua postura simples e com um discurso na contramão do pensamento vigente, causa espanto e ao mesmo tempo indiferença por parte de seus conterrâneos. Ninguém enxerga o Verbo encarnado, o Filho do Deus vivo, o Reino de Deus entre os homens. Todos veem apenas o filho do carpinteiro, filho de Maria, aquele que morou durante trinta anos em Nazaré fazendo mesas, cadeiras e outros utensílios artesanais próprios da cultura judaica. Por isso, ali ele não fez quase nenhum milagre.

Enxergar Jesus além da natureza humana depende da fé e da experiência aberta a acolher a novidade do Reino. Apenas aqueles que já decidiram segui-lo e caminhavam com ele, tais como os discípulos e algumas pessoas curadas e perdoadas, puderam contemplar a presença viva do Filho de Deus, portador da natureza divina e da natureza humana. Somente Maria e José, no silêncio e na simplicidade, numa escuta atenta de Deus, puderem ter a consciência de que a salvação do mundo, o Reino de Deus, chegara em Israel.

O destino de Jesus diante dos que não o acolheram será como o dos profetas que vieram antes dele, pois alguns foram perseguidos pela religião oficial, outros foram até mesmo assassinados e desacreditados porque faziam a vontade de Deus e não a dos homens. Jesus será perseguido, porque a sua mensagem está a frente ou na contramão dos pensamentos dos fariseus e doutores da lei. Sua pregação é pela plenitude da Lei e não pela distorção.

No mundo de hoje, somos tentados a considerar a presença de Cristo somente nas ações litúrgicas de massas e de grandes dimensões, potencializadas pelo rádio, pela TV e pela Internet. Igualmente no excesso dos ornamentos e alfaias imponentes das nossas celebrações. Também na excessiva valorização dos ministros que aparecem nos meios de comunicação. Esquecemos que a presença de Cristo está na simplicidade e na alegria de todos os que se dedicam com carinho e amor ao Reino de Deus.

A presença de Cristo está em todos que se preocupam com as crianças, com os jovens e famílias para encaminharem no amor de Deus. Também o diácono, o padre, o bispo tem família consanguínea e foram tirados do meio do povo para servirem ao Reino de Deus. Os religiosos, os catequistas, os liturgistas, os missionários e tantas pessoas a serviço das pastorais moram com seus familiares, mas convivem conosco partilhando as alegrias, as tristezas e os sonhos. Em todos está a presença de Cristo pelo amor, pela paz e pela doação, apesar das misérias humanas que cada um carrega.

Enfim todos os batizados carregam a presença do Senhor pelo batismo e formam o Corpo Místico de Cristo. Reunidos em torno da Palavra e da Eucaristia formam a assembleia da Igreja celeste na terra. Estando ao redor do banquete do cordeiro tornam-se sinal da presença do Reino no meio dos homens.

Que possamos sempre caminhar na busca do amor de Deus, na nossa simplicidade e na nossa doação, mesmo sabendo que em alguns momentos da nossa vida somente Deus poderá nos conduzir através do Seu amor misericordioso. Que a nossa fé nos conduza às curas necessárias para merecermos o Céu. Amém.

XI DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Ez 17,22-24; Sl 91(92); 2Cor 5,6-10; Mc 4,26-34

POESIA

DEUS FAZ GERMINAR E CRESCER O REINO

Palavra que vem de mansinho,
Semeada pela mão do amor,
Que fecunda entre a noite e o dia,
Crescendo com a luz e o vigor,
Que aos poucos vai se espalhado,
E o mundo vai transformando,
Como árvore em seu esplendor.

Palavra, semente do Reino,
Que alimenta a missão,
Dos tantos semeadores,
Que vivem em constante ação,
Deixando Deus sempre agir,
Pra Boa-Nova se expandir,
E crescer a forte união.

Palavra que nos treina a espera,
Que vem ensinar a paciência,
Fazendo vencer a ansiedade,
E distrai a prepotência,
Gerando em nós a bondade,
E a força da fraternidade,
E o amor divina ciência.

Pequenas sementes do amor,
Nos gestos mais simples da vida,
Nas tantas ações em comum,
E nas propostas assumidas,
Nascendo os tantos projetos,
Que fazem o amor ser concreto,
E a paz ser reassumida.

O Verbo de Deus nos ensina,
O semear a caridade,
Pelos campos deste mundo,
Pra que tem necessidade,
A plantarmos nos corações,
E espalhar pelas nações,
O bem com gratuidade.

Novo Rebento da aliança,
Cristo que o Reino anuncia,
Que vem e que cuida da gente,
Trazendo a paz e a harmonia,
Que vem trazer a nova vida,
A todos fazendo acolhida,
E nos brindando com a alegria.

 

HOMILIA

As sementes do Reino

A liturgia deste domingo vem falar-nos do Reino de Deus através de parábolas. Para fazer o povo compreender a Boa-Nova, Jesus sempre esteve atento à maneira de como transmitir a sua mensagem. E, portanto, as parábolas (comparações) foram muito usadas na pregação do Mestre Galileu. Esse jeito de pregar (semear) fazendo comparações conseguia chegar de forma simples aos ouvidos e aos corações do povo. Todos compreendiam com facilidade, porque Jesus falava uma linguagem acessível e que fascinava os ouvintes.

Hoje, na primeira leitura, o profeta Ezequiel também usou a parábola quando apresenta no seu texto o seguinte versículo: “Eu mesmo tirarei um galho da copa do cedro, do mais alto de seus ramos arrancarei um broto e o plantarei sobre um monte alto e elevado. Vou plantá-lo sobre o alto monte de Israel” (Ez 17,22-23). Do povo escravo na Babilônia, Deus tira do broto de Davi, para replantar na terra livre da escravidão. Em Cristo o novo rebento de Israel (da família de Davi), o novo povo que vem buscar refúgio e proteção e sua libertação eterna.

“O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra. Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece” (Mc 4,27). O que nos motiva a refletir este lindo versículo de Marcos? “… ele não sabe com isso acontece”. Nesta fala de Jesus, parece haver um segredo, uma mística. Há uma força invisível no geminar do crescimento do Reino, onde não depende do semeador, mas somente de Deus.

Muitas vezes passamos despercebidos no que se refere a essa dinâmica da Palavra de Deus a qual nos cabe apenas semear, mas não, fazer crescer. É Deus quem faz crescer o Reino, ao percurso de cada dia e de cada noite. Existe um canto que diz: “Põe a semente na terra e não será em vão, não te preocupe a colheita, plantas para o irmão.”[1] As vezes não temos paciência com as sementes jogadas nos corações e queremos logo os frutos, ou também queremos interferir no processo que não compete a nós.

O que compete a nós é a semeadura, o jogar a semente do amor e da esperança nos corações humanos, terrenos que poderão acolher a semente e deixar germinar em suas vidas. O amor simples e humilde, às vezes aparentemente pequeno como um grão de mostarda, germinará e fará crescer a árvore da existência regada pela força do bem que vem de Deus.

Num mundo de tantas correrias, ocupações e obrigações, este evangelho nos ensina a ter calma com a vida. A exercitarmos a paciência e a contemplação sentimos a vida fluir e encontramos o seu sentido essencial. Na correria do nosso cotidiano, muitas vezes perdemos e não achamos momentos para pararmos e meditarmos sobre a essência da nossa existência. Sobre o amor que nos equilibra, que nos move para o bem e que nos impulsiona para a ajuda gratuita e o cuidado para com o outro.

“O Reino de Deus é como um grão de mostarda que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes da terra” (Mc 4,27). O Reino de Deus cresce na simplicidade e aos poucos se expande como a árvore de minúscula semente e torna frondosa e produz seus muitos frutos. As diversas iniciativas pastorais sejam religiosas ou sociais são a forma de fazer o Reino acontecer no meio de nós.

Parecem pequenos e insignificantes certos gestos de acolhimento, de cuidado, de escuta e de uma palavra boa a quem precisa, mas é isso que significa a semente do Reino de Deus. São as visitas aos doentes, o cuidado com os mais frágeis da sociedade, a ajuda humanitária, a atenção a quem precisa a oração pelos irmãos que vão justificar nossa entrada ao paraíso. A saudosa Ir. Miria Kolling (*1939+2017), no canto “Aquela eterna fonte”, traz este refrão: “Pois ao entardecer do meu mortal viver serei julgado pelo amor!” Sim, no final de nossa existência terrestre seremos julgados pelas boas sementes do amor, jogadas nos corações humanos para crescer o Reino de Deus.

Acolhamos as palavras de São Paulo, as quais nos reforçam sobre este tema do semear o Reino: “Por isso, também nos empenhamos em ser agradáveis a ele, quer estejamos no corpo, quer já tenhamos deixado essa morada.” (2Cor, 5,9). Ser agradável a Deus é fazer o bem aqui e agora, neste nosso mundo, nesta nossa morada terrestre em virtude do céu. O salmo 91 nos diz: “O justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados, nos átrios de meu Deus florescerão.” Busquemos o amor e a justiça de Deus e o resto acontecerá para o bem de todas as criaturas. Amém.

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[1] “Toda semente é um anseio” (Paulinas/COMEP), de José Acácio Santana (*1939+2011).

X DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Gn 3,9-15; Sl 129; 2Cor 4,13-18-5,1; Mc 3,20-35

POESIA

PALAVRA QUE VENCE O MAL

Que vem ao nosso encontro,
Vem para nos tirar do mal,
Vem para nos dá um sinal,
Que invade o nosso coração,
Que vem nos fazer irmãos,
Para a vitória final.

Palavra do Senhor,
Que nos faz família Santa,
Contra todas as tentações,
Contra tantas invasões.
Que vence o tentador,
Que nos tira o desamor,
E habita em nossos corações.

Palavra do Senhor,
Que une em vez de dividir,
Que vem nos trazer a vitória,
Que caminha na nossa história,
Que nos faz ficar atentos,
Entre os tantos desalentos,
Purifica nossa memória.

Palavra do Senhor,
Que nos chama a nos unir
Na sua casa santa,
Que em nossas vidas planta,
Pelo Espírito a santidade,
O desejo de eternidade,
Que em todos nós encanta.

Palavra do Senhor,
Que nos faz irmãos, irmãs e mães,
Reunidos em torno do Senhor,
Para superarmos o desânimo e a dor.
Para sempre e sempre escutar,
A mensagem que nos vem transformar,
Fazendo-nos seguidores do vivo amor.

Palavra de Nosso Senhor,
Que nos envia em missão,
Para a Paz e o amor distribuir,
Que une em vez de dividir,
Que no alimento do Pão,
Traz a alegria e a união,
Para no mundo expandir.

 

HOMILIA

O Senhor chama-nos para dentro

A liturgia deste 10º domingo do tempo comum vem nos convidar a fazermos parte da nova família de Jesus, pela nossa adesão, livre e verdadeira, à sua Palavra e pelo nosso seguimento consciente de que é preciso vencer o mal da indiferença, reconhecendo que ser discípulo é abraçar o novo projeto de vida centrado nas palavras do Evangelho, a abraçar a Boa-Nova.

No evangelho desta liturgia, Marcos nos apresenta dois grupos. O primeiro está dentro da casa, em escuta, e que comunica sobre os familiares que estão lá fora. Os discípulos também fazem parte do grupo de dentro. Eles que, pelo amor e pela adesão, irão fazer parte da caminhada, vivendo a missão do amor e segui-lo onde quer que ele vá. Aprenderão com a caminhada e com as dificuldades da vida, mas também viverão o processo de conversão e de alegria em seus cotidianos.

Já o grupo que está de fora, são os mestres da lei e os familiares (a mãe e os irmãos). Os doutores e mestres da lei o acusam de estar possuído pelo príncipe dos demônios (cf. Mc 3,22). Eles são inimigos de Jesus e vão persegui-lo por toda a sua missão e com a ajuda destes o mestre será condenado. São como os vilões na história de Jesus, estão sempre tramando contra suas palavras e ações.

O grupo dos familiares diz que ele não está em perfeito juízo (cf. Mc 3,21). Estes quando chegam também ficam de fora e mandam chama-lo. Querem que Jesus venha até eles. Ele não vai e responde que os verdadeiros parentes (irmãos e mãe) são os que estão dentro da casa, porque fazem a vontade de Deus e seguem a sua palavra. São os que escutam suas palavras, ou seja, não duvidam de sua mensagem.

É importante que reflitamos em nossa vida sobre estes grupos e suas atitudes. Na vida dos cristãos, quando se fala de coerência evangélica (estar dentro), significa que o Evangelho é assumido na sua totalidade. É estar de acordo com os mandamentos da nova lei, é estar consciente também das realidades que envolvem pessoas que estão fora das práticas religiosas. Para estas, é bem mais fácil as práticas do que testemunhar com coerência a Palavra na vida cotidiana do trabalho, das convivências sociais e debates possíveis.

Estar dentro, portanto, significa estar contra os projetos que agridem os pobres e à vida. Neste momento devemos estar bem conscientes e sempre pensar o que defendemos de verdade quando alguém nos pergunta sobre determinadas leis que os nossos representantes apresentam para a aprovação.

Ser do grupo de Jesus significa está inserido na vida da Igreja além da certidão do Batismo ou da Crisma. É caminhar muitas vezes contra a correnteza de ideologias do mundo moderno que comprometem a unidade e a vida em abundância.

Devemos nos perguntar: a vida que eu levo, meu testemunho, está voltado para uma atitude de quem está dentro ou fora do grupo do Galileu? Pecar contra o Espírito Santo é ser indiferente ou duvidar da obra de amor e de libertação querida por Deus. Suas palavras podem nos incomodar também e deve nos provocar a mudança. O que nos incomoda quando as palavras do Senhor ardem em nosso coração?

A primeira leitura nos fala do pecado da desobediência a Deus e do empurra-empurra da culpa para o outro. Dificilmente assumimos os erros que são cometidos em virtude da nossa omissão. Enquanto não assumimos nossos compromissos e a parte que nos cabe em favor das mudanças no mundo, fica difícil as estruturas mudarem. Lembremos que a corrupção, a política, a economia e as várias dimensões da vida só se transformam quando também mudarmos nossas pequenas atitudes, consciências e posturas nas responsabilidades e nas atribuições que assumimos no dia a dia.

Peçamos a luzes do Espírito Santo para que ilumine nossa caminhada e a missão de tornarmos a vida mais centrada no bem e na alegria do Evangelho. Precisamos está dentro do grupo do Senhor para mudarmos o mundo. Coloquemos nossa confiança e esperança nele, como reza o Salmo 129: “No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra. A minha alma espera no Senhor mais que o vigia pela aurora”.

IX DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Dt 5,12-15; Sl 80; 2Cor 4, 6-11; Mc 2,23-3,6

POESIA

A VIDA ACIMA DA NORMAS

Acima das normas ultrapassadas,
A vida vem em primeiro lugar,
Porque o Senhor veio trazer nova lei,
Que traz à existência o dignificar,
Pois seu amor veio promover a inclusão,
Dos que ficam fora da multidão,
Após a cura vem o novo caminhar.

Jesus que somente na vida fez o bem,
A todos os doentes e pobres acolhendo,
Trouxe um modo novo de viver a lei,
Deixando que os sábios fossem entendendo
Que a lei verdadeira sempre quer incluir,
E que somente amando pode-se cumprir,
Os estatutos que Deus está nos oferecendo.

É preciso buscar o sentido da nossa vida,
Buscando momentos fora das distrações,
Descansando e parando para refletir,
Na escuta, na oração e nas meditações,
Porque é importante buscar nossa essência,
Mas, é um trabalho feito em nós, com paciência,
Numa busca, num encontro e sem imposições.

Nosso Deus é amigo das suas criaturas,
Ele ama a todos sem discriminação,
Coloca o homem acima do sábado,
E o acolhe com dignificação,
Chama o enfermo e o coloca no meio,
Porque foi pra isso que ele mesmo veio,
Fazer o bem, e aos doentes a restauração.

Na nova aliança, com a ressurreição,
O novo povo vive o dia do Senhor,
Domingo primeiro dia para o descanso,
Inaugurado por Cristo, o Salvador,
Dá-nos o sentido do encontro e do pão,
Da partilha que se faz entre os irmãos,
Para depois saírem para semear o amor.

E assim o domingo vem a questionar,
As imposições da pós-modernidade,
Que ocupa as pessoas a todo o momento,
Sem o repouso que traz a dignidade
Para o encontro com a família reunida,
Na alegria das relações a serem mantidas,
No compromisso de paz e fraternidade.

 

HOMILIA

O que está acima da Lei?

Quando lemos o Evangelho desta liturgia, podemos responder ao tema desta homilia. O objetivo da Lei, para Jesus, é, em primeiro lugar, promover a vida e a dignidade. Quando as normas oprimem as pessoas perdem o seu sentido e os seus objetivos.

É no contexto da colheita das espigas no dia de sábado, que Jesus proclama a famosa frase: “O sábado foi feito para o homem, e não o sábado para o sábado” (Mc 2, 27). Porque era permitido (pela lei) colher espigas, mesmo na plantação de outros, quando alguém estivesse com fome, porém, não era permito colher no dia sagrado do descanso[1]. Mas o que era essencial naquele momento? Os peregrinos seguidores de Jesus, talvez pelo os dias exaustivos de caminhada na missão com o mestre, tivesse fome e esta necessidade, para Jesus, estava acima da lei.

É também no contexto da cura do homem da mão seca que Jesus entra em conflito com os fariseus e os questiona: “É permitido no sábado fazer o bem, ou fazer o mal” (Mc 3,4). Dá a entender que obedecer a lei naquele contexto era fazer o mal. Nestes dois momentos, podemos entender que havia uma distorção desumana das normas, na vida do povo, principalmente quando os doentes, os famintos e os descriminados tinham necessidades vitais inadiáveis.

O povo de Israel também tinha suas leis, as quais nasceram para o bem das pessoas, como vimos na primeira leitura (cf. Dt 5,12-15). Com o tempo, várias outras normas iam sendo criadas e muitas vezes eram usadas em contextos que não mais respondiam ao seu objetivo original. Como vimos no evangelho, os pobres eram os mais atingidos, como são ainda hoje, quando a leis do capitalismo, do poder político, dos tribunais e tantas emendas na constituição do país, estão contra a vida e a dignidade humana.

E nós cristãos, o que temos a ver com este tema da liturgia de hoje? Como entendemos e acolhemos a posição de Jesus no nosso contexto atual? Também na Igreja temos nossas normas, códigos e estatutos. Estas terão sentido e proveito quando usadas de modo evangélico. Sim, e quando estão a favor da vida e dignidade das pessoas.

Já mencionei em outras homilias, que precisamos entender o objetivo dos mandamentos da lei de Deus. Eles são como sinais que apontam para o caminho correto e que devem levar à vida e ao livramento dos perigos. Precisamos também ver e ficarmos atentos, quando as normas e os códigos julgam demais e não inclui as pessoas no centro da comunidade, como fez Jesus com o homem da mão seca (cf. Mc 3,3).

Os cristãos são chamados à profecia, ou seja, devem levar o Evangelho de modo que possa dar fundamentos à lei que orienta o caminhar e que leva à inclusão na vida comunitária, nas celebrações, nos encontros, nas festas, momentos que dão sentido e alegria à vida de fraternidade.

Somos chamados a transformar as correntes que escravizam e encarceram a vida humana no individualismo, no egoísmo e na opressão das leis que massacra o povo, isto, em nome de um progresso econômico que torna cada vez mais decadente a situação das criaturas de Deus. É a caridade e a sensibilidade pela vida em plenitude que coloca em prática o Evangelho e a posição de Jesus na liturgia de hoje. Neste sentido acolhamos as palavras do Papa Francisco na sua mensagem ao mundo para o primeiro dia dos pobres, em 19 de novembro de 2017: “não amemos com palavras nem com a boca, mas com obras e com verdade”. Amém.

–––––––

[1] No hebraico, שבת, sábado (sabá) quer dizer “descanso, inatividade”. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Sabá

SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Ex 24, 3-8; Sl 115; Hb 9,11-15; Mc 14,12-12.22-26

POESIA

COMUNGAR COM O SENHOR

Comungar com o Senhor,
É ação que transcende ao altar,
Vai lá, no nosso coração,
E que vem a nos impulsionar,
Para ser também o corpo seu,
Viver como ele viveu,
Sem dele se distanciar.

Comungar com o Senhor,
É ter seus mesmos sentimentos,
É viver a sua Boa-Notícia,
Como nosso ensinamento,
É como a semente a se espalhar,
Pelo mundo, para germinar,
Para o Reino em crescimento.

Comungar com o Senhor,
É viver sua santa memória,
Com ele presente aqui,
Rompendo os limites da história,
Povo vivendo em comunhão,
Encontro e partilha do Pão,
Onde a união tem a vitória.

Comungar com o Senhor,
É sair da acomodação,
Sendo sal e luz neste mundo,
Para fazer a transformação,
E aos corações que partilham o amor,
Oferecer à vida, o sentido e a cor,
Para se despedir da desilusão.

E comungando com o Senhor,
Vamos vivendo a caridade,
Sendo entrega que ele pediu,
Entre o sagrado e a humanidade,
Semeando a paz em vez da guerra,
Trazendo a harmonia a todo a terra,
E as criaturas em dignidade.

E vivendo o vínculo com o Senhor,
Pelo seu sangue, nova aliança,
E no seu corpo sendo seus membros,
Na entrega constante que não se cansa,
Estamos ligados pela Eucaristia,
Vivida nos passos de cada dia,
Mantendo a memória e a esperança.

 

HOMILIA

O Corpo e o Sangue da Nova Aliança

“Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o e entregou-lhes, dizendo: ‘Tomai, isto é o meu corpo’. Em seguida, tomou o cálice, deu graças, entregou-lhes e todos beberam dele.” (Mc 14,22-23).

Olhando os textos para esta solenidade, podemos ver que a aliança vivenciada pelo povo de Israel foi celebrada com um ritual que trazia os mesmos temas, mas que Jesus tomou para si. E o renovou. Dando um sentido novo e mais profundo. (cf. Ex, 24,4-8). Portanto, para a Nova Aliança, o sacrifício já não é do corpo e do sangue de um novilho, mas do próprio corpo do Cordeiro de Deus, que foi fiel até o fim e derramou seu sangue como uma entrega total pela salvação do mundo. Uma entrega que os seus seguidores teriam que aprender a viver também, no dia a dia de suas andanças a começar pela Galileia onde o próprio Senhor Ressuscitado proclamou o mandado, de irem pelo mundo inteiro (cf. Mt 28,16-20).

E os cristãos de hoje fazem memória viva e presente quando também doam suas vidas por um mundo cheio de vida, de dignidade, de fraternidade de “pão em todas as mesas”. São Paulo nos lembra: “… todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estarei proclamando a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor 11,26).

A cada Eucaristia celebrada, portanto, há uma renovação do compromisso com o Senhor que se entregou de forma total por todos. Há uma proclamação em memória do sangue derramado e do corpo doado, que é atualizado e vivido todas as vezes que comungamos e alimentados do Senhor, temos os mesmos sentimentos dele, na vida cotidiana, na sua família, no seu trabalho, na vida política, nas interações sociais e em outros ambientes.

Ser um cristão eucarístico é ir além do altar ou do espaço do culto. A Eucaristia não terá seu sentido completo se não for encarnada, através de uma experiência concreta de obras que o Senhor nos ensinou. Viver o amor à Eucaristia não é um ato devocional, mas ação que se dá na vida, dentro das realidades temporais também.

O encontro com o Jesus Eucarístico deve nos impulsionar para as estradas da vida e para o movimento que brota do culto e do encontro na Palavra, na assembleia, no corpo e sangue, e, no desejo de amor vivo que se move em favor do bem do outro (próximo ou distante) que esteja precisando de nós e de nossa caridade. Somos irmãos e irmãs no mesmo sangue do Senhor. O Sangue do Senhor nos dar o vínculo perpétuo da aliança que ele fez por nós e pelo mundo. Podemos nos lembrar: “Somos irmãos de sangue, em Cristo.”

Qual a memória que carregamos na nossa experiência de seguidores do Senhor? Como nos sentimos, quando dizemos que somos irmãos em Cristo? Antes da comunhão nos damos a paz… Quantas vezes, mecanicamente, não conseguimos olhar nos olhos do outro ao deseja-lhe a paz. O que nos falta para nos sentirmos naturalmente mais irmãos?

A vivência da Eucaristia nos pede profundidade que vai além das nossas emoções. Por exigência, devemos colocar Cristo ressuscitado no centro de nossas vidas. É a fé que dá sentido a tudo que é o Corpo e Sangue do Senhor, a qual vivenciamos nesta solenidade. O Cristo que irá na procissão é o mesmo que caminha conosco em nossas fadigas, angústias, derrotas, mas também em nossas alegrias, em nossas festas, encontros, jornada de trabalhos e em nossas amizades e interações sociais.

Sejamos cristãos Eucarísticos no templo, no culto, no nosso cotidiano, a cada passo de nossa existência. Deixemos nos conduzir pela memória viva, da entrega do Senhor que ofertou sua vida para que todos tenham a vida plena, alimentada pelo seu amor. Ele quer fazer a ceia conosco, ele quer partilhar seu corpo e seu sangue para nos dá força e mantermos viva a esperança. Encerremos com o louvor ao corpo do Senhor, rezando a estrofe do salmo 15: Elevo o cálice da minha salvação, invocando o nome santo do Senhor.” Amém.