24º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela abolição da pena de morte ⇐
Mês da Bíblia 2022“O SENHOR, teu Deus, estará contigo onde quer que vás” (Js 1,9) ⇐
⇒ 3a semana: O cerco e a queda das muralhas de Jericó

 

Leituras: Ex 32,7-11.13-14; Sl 50(51),3-4.12-13.17.19 (R. Lc 15,18); 1Tm 1,12-17; 2Cor 5,19; Lc 15,1-32 (mais longo) ou Lc 15,1-10 (mais breve)

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Deus Se Alegra, na Sua Misericórdia, com a nossa Volta para os Seus Braços

Lc 15,1-32 (mais longo) ou Lc 15,1-10 (mais breve)

 

Meus irmãos e irmãs, o 24º Domingo do Tempo Comum, o segundo Domingo do Mês da Bíblia, nos motiva a contemplar um pequenino aspecto da misericórdia de Deus: a Sua alegria com a conversão de um só pecador. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 15,1-32.

No Evangelho de hoje, a Igreja nos oferece todo o capítulo 15 do evangelho de Lucas, o qual nos apresenta a parábola da misericórdia, ou seja, a ovelha perdida, a moeda perdida e o filho perdido e o filho fiel.

As três narrativas, chamadas de parábolas da misericórdia, podem ser lidas como um todo. O pai, o pastor e a mulher, representam Deus. A ovelha perdida se relaciona com o filho perdido e achado. A moeda se relaciona com o filho mais velho. Estas narrações expressam a misericórdia de Deus para conosco.

O motivo pelo qual são contadas estas parábolas, está associado às críticas dos fariseus que diziam que Jesus fazia refeições nas casas de pecadores e, ao mesmo tempo, os acolhia.

Às vezes nos perdemos como a ovelha, outras vezes, sem que tenhamos muito domínio de nós, somos perdidos como a moeda. Isso em função dos caminhos de nossa existência. Considerando um contexto narrativo, a ovelha perdida pode ser sujeito ou objeto, mas a moeda perdida é um objeto. O pastor só encontra a ovelha quando esta se reconhece perdida, quando ela para de perambular e se afastar do redil. Já a moeda, que é objeto, só pode ser encontrada pela persistência da mulher.

Sendo ovelha (sujeito) ou moeda (objeto), precisamos da luz de Deus e da sua Palavra para nos reencontrarmos. E quando somos encontrados, haverá a alegria de outros, pois a experiência da volta para Deus é sempre uma alegria comunitária.

A ovelha perdida pode nos lembrar dos momentos em que, por um tempo, saímos da comunhão com o rebanho do Senhor e depois nos damos conta dos erros e queremos voltar porque o Senhor nos reencontrou e nos carregou nos seus ombros. Isso com imensa alegria e muito amor e Ele de volta ao encontro de seu rebanho.

Já a moeda nos remete aos momentos de noite escura, quando precisamos que Deus nos ache de qualquer forma, pois ficamos impotentes diante de uma crise de fé. Às vezes não conseguimos encontrar o sentido do caminho e nem nos encontrarmos mesmo estando na casa do Pai.

Na narrativa do Pai misericordioso, vemos o quanto é grande a alegria de Deus na volta do seu filho perdido. Assim Deus faz com cada um de nós quando retornamos aos seus braços. Somos sempre bem acolhidos no banquete da vida, na casa do Pai. Isto com cantos de alegria, com o anel da dignidade, vestes e sandálias novas e o abraço de Deus.

Outras vezes participamos do amor de Deus na realidade do filho mais velho. Este esteve sempre na casa do Pai, mas quis ficar distante da sua alegria. No retorno do seu irmão, o orgulho tomou conta do seu coração. Mesmo o Pai dizendo que ele estivera sempre na sua casa, mesmo tendo recebido o perdão constante de seu Pai o qual nunca o desprezou e nem o expulsou de sua casa, porque este filho também recebeu a herança.

Portanto, o Deus misericordioso que é apresentado nas três narrativas da parábola é o mesmo Deus que diante de Moisés desistiu da punição que havia ameaçado fazer ao povo de cerviz dura (cf. Ex 32,9.14), pois, pela sua misericórdia, permitiu a possibilidade do retorno dos seus filhos para o seu amor e sua graça.

Que neste mês da Bíblia possamos iluminar as nossas ações com a Santa Palavra que é luz para os nossos passos e guia na nossa vida de discípulos missionários do Senhor. Ele nos chama em cada Liturgia, em cada encontro com a sua Palavra, Ele nos chama para voltarmos sempre cada vez mais para sua Casa e para o Seu amor e por isso nos abraça na sua alegria de Pai misericordioso. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

A Alegria da Volta

 

Quando na vida nos percebemos errantes,
E caminhamos por trilhas tão tortuosas,
Quando no abismo chegamos a cair,
Por atitudes e práticas faltosas.
Parar e procurar o que estava perdido,
Voltar um pouco o caminho percorrido,
É a ação mais necessária e corajosa.
*
Reencontrar o que no caminho se perdeu,
Com a luz que vem do eterno amor,
Limpar cada recanto para encontrar a pérola,
Que somente nos vem de Nosso Senhor,
Ele que na alegria nos quer voltando,
Nos acolhe e vai logo nos abraçando,
Por que é misericórdia e vê a nossa dor.
*
Como é bom sentir o abraço do supremo amor,
Que na alegria da volta nos dá o perdão,
Que até nos carrega nos seus ombros santos,
Para nos tirar dos males e da perdição,
E ainda faz festa na nossa chegada,
Porque nossa vida foi restaurada,
Livrou-se das correntes da escravidão.
*
E, agora como ovelhinhas reencontradas,
Ficaremos no rebanho que Ele colocou,
Partilhando a caminhada que Ele ofereceu,
Porque para a vida Ele nos retornou,
E o seu Corpo será nosso alimento,
Para não cairmos nos duros tormentos,
Que, por algum tempo, nos escravizou.
*
A alegria de Deus é nossa salvação,
Ele é Pai de misericórdia infinita,
Sua alegria maior é nos ver voltando,
Pois Ele corre, abre os braços e grita,
Porque vê seu filho que está chegando,
E sem explicações vai logo perdoando,
Oferecendo as joias e roupas mais bonitas.

 

*   *   *

 

Obras: (1) “The Good Shepherd” e (2) “The Lost Drachma”, por J. Tissot (1836-1902), In brooklynmuseum.org. (3) “O Retorno do Filho Pródigo”, por Rembrandt (1606-1669), In pt.wikipedia.org: “O_Retorno_do_Filho_Pródigo”.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, com sua infinita misericórdia, nos ensina sobre a Alegria com a conversão de um só pecador, ilumine o seu caminho! 

 

 

23º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela abolição da pena de morte ⇐
Mês da Bíblia 2022“O SENHOR, teu Deus, estará contigo onde quer que vás” (Js 1,9) ⇐
⇒ 1a semana: Fidelidade à Lei recebida no deserto
⇒ 2a semana: Adesão ao povo de Deus pela fé ⇐

 

 Leituras: Sb 9,13-18 (gr. 13-18b); Sl 89(90),3-4.5-6.12-13.14.17 (R. 1); Fm 9b-10.12-17; Sl 118(119),135; Lc 14,25-33

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

O Cristão Diante do Amor e da Bondade do Mestre

Lc 14,25-33

 

Meus irmãos e irmãs, o 23º Domingo do Tempo Comum, do Ano C, o primeiro Domingo do Mês da Bíblia, nos motiva a contemplar mais uma dimensão do discipulado: o desprendimento assertivo em favor do Reino de Deus. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 14,25-33.

No Evangelho de hoje Jesus nos fala que o verdadeiro discípulo é aquele que responde ao Chamado com as seguintes prioridade: (i) prudência na resposta, (ii) desprendimento em relação à família e aos bens materiais e (iii) a atitude de abraçar a cruz no cotidiano, independente das circunstâncias e contingências. Tais prioridades são próprias do Chamado.

Ao aderir o Chamado de Jesus e interiorizar o espírito do Evangelho, cada um deve antes pensar, calcular nas exigências do seguimento. Por isso Jesus nos orienta: “…qual de vós, querendo construir uma torre, não se senta primeiro e calcula os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar?” (Lc 14,28). O discípulo também precisa refletir sobre as condições de sua resposta, precisa ser prudente, ter consciência do que assume! O cristão não pode seguir o exemplo do construtor imprudente, do qual nos fala o Evangelho de Lucas. O cristão precisa refletir sobre sua escolha e decisão, para ver se dá conta naquilo que assumiu como vocação, como chamado e para viver isto como missão!

Outro tema deste Evangelho é o desprendimento: quando nos desapegamos das pessoas por amor ao Senhor, nos tornamos mais coerentes com o próximo, pois amar a Deus é também amar o irmão, é fazer o bem e evitar o mal, seja em relação ao próximo, seja em relação ao à natureza, na expressão do Papa Francisco, a “casa comum”, é estarmos a serviço por amor e não por carência afetiva ou por imposição. Quando nos apegamos a pessoas, alimentamos uma relação de idolatria, pois colocamos as pessoas no lugar de Deus.

Em sua natureza, o cristão deve ter o seu coração livre. Livre dos excessos de coisas que sufocam e desviam do caminho do amor. É claro que sempre precisaremos servir-nos de vários meios para os nossos compromissos de trabalho e de estudo, também para o lazer na nossa vida, porém, nunca estes deverão ser um obstáculo na experiência espiritual e na convivência humana. O Evangelho sempre nos pedirá que o nosso coração esteja livre para Deus, pois é neste sentido que somos livres para nos colocamos de braços abertos diante de nossas escolhas, como sentido e missão para a nossa existência.

Também é oportuno refletir que na vida pastoral, na vida eclesial podemos nos apegar ao serviço (ou ministério) como se fossem cargos de nossa propriedade e não da Igreja. Agindo assim haverá o grande perigo de tornarmos a Igreja estéril no crescimento do seu rebanho.

Portanto, coloquemos em nossos corações o apelo que o Senhor nos faz para nos esvaziarmos de nós mesmos e seguirmos com o coração livre para ouvir a sua Palavra e acolher o seu Amor. Tenhamos também a consciência e a sabedoria de que desapego faz parte de todos os ministérios da Igreja, pois todos são chamados a abrirem o coração para a experiência do desprendimento, pela pregação do Evangelho.

Que neste Mês da Bíblia possamos fortalecer cada vez mais o amor à Sagrada Escritura, através da leitura orante e constante, em vista de nossa permanente conversão e levando ao próximo a alegria dos que seguem o Senhor. Que a nossa alegria brote da Palavra de Deus, pela iluminação do Espírito Santo, como nos ensina o livro da Sabedoria: “Acaso alguém teria conhecido o teu desígnio, sem que lhe desses Sabedoria e do alto lhe enviasses teu santo espírito?” (Sb 9,17). Amém, amém, amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Ser Cristão, Ser Missionário

 

Ser cristão é ser discípulo,
Livre e desapegado,
De tudo que o aprisiona,
Não sendo escravizado,
É abraçar também a cruz,
Caminhar na santa Luz,
De Jesus, Ressuscitado.
*
Ser cristão é ir aos outros,
Levando a alegria,
Dos que seguem o Senhor,
Na vida de cada dia,
Deixando um pouco o seu lar,
Firme, sem desanimar,
Na paz e na harmonia.
*
Ser cristão é caminhar,
Com o amor no coração,
Enfrentando desafios,
No trabalho e na missão,
É estar também rezando,
E aos irmãos sempre ajudando,
Num gesto de gratidão.
*
Ser cristão é prosseguir,
Sempre a Palavra escutar,
Para crescer sempre mais,
No seguir, no caminhar,
É crescer na comunhão,
Na alegria com os irmãos,
Sempre, sempre a perseverar.

 

*   *   *

 

Obra: “Ele passou pelas aldeias no caminho para Jerusalém”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos ensina sobre o desprendimento assertivo em favor do Reino de Deus, ilumine o seu caminho! 

 

 

22º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos pequenos e médios empreendedores ⇐
⇒ Mês Vocacional – 4º Domingo: pela vocação para os ministérios e serviços na comunidade ⇐
⇒ Dia Nacional dos Catequistas ⇐

 

Leituras: Eclo 3,19-21.30-31 (gr. 17-18.20.28-29); Sl 67(68),4-5ac.6-7ab.10-11 (R. cf. 11b); Hb 12,18-19; Mt 11,29ab; Lc 14,1.7-14

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A humildade é a virtude que nos leva à Mesa do Reino

Lc 14,1,7-14

 

Meus irmãos e irmãs, no 22º Domingo do Tempo Comum vivenciamos o quarto Domingo do mês vocacional em que refletimos e rezamos pela vocação para os ministérios e serviços na comunidade e também Dia Nacional dos Catequistas. E neste Domingo, a Liturgia nos motiva a contemplar o ensino sobre a humildade nas palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 14,1.7-14.

No Evangelho de hoje, o Senhor Jesus está na casa de um importante fariseu para fazer uma refeição, em dia de Sábado. A mesa está pronta, muitos convidados chegam e Jesus observa lugares não ocupados. Observa também os convidados. É de se supor a presença de outros fariseus e autoridades religiosas naquela casa, os quais ocupavam os lugares principais.

Há um ensinamento de Nosso Senhor diante daquela refeição no que se refere aos lugares à mesa e também aos convidados. Ele ensina sobre a humildade numa relação não somente do homem para com o seu semelhante, mas também do homem para com Deus. Na História da Salvação, a tradição valoriza a humildade como uma virtude cristã, pois é concretizada por Deus em seu próprio Filho, Jesus, que desceu à nossa miséria e caminhou conosco, não só nos ensinando, mas também sentido as dores do nosso pecado.

“Quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado” (Lc 14,11). Este ensinamento, contido no texto de Lucas é de uma profundidade esplêndida. Pois humildade é se abaixar. Jesus desceu à terra (se abaixou), se igualou em natureza aos homens, menos no pecado, e foi mais longe: desceu à sepultura, viveu a experiência da morte, mas foi exaltado para vida infinita a fim de oferecer à humanidade a possibilidade da redenção eterna.

Jesus, Deus e homem, viveu a humildade como servo, lavou os pés dos discípulos para nos ensinar que precisamos também nos abaixar com o avental da humildade aos outros para servir. Parou para conversar com as crianças ficando no mesmo nível (físico) delas para acolhê-las e para nos dizer que é necessário viver como elas para participarmos da mesa do Reino.

Para nós, cristãos, faz-se necessário olharmos para a humildade de Deus, a humildade de Jesus, e nos enchermos dessa virtude cristã, pois o mundo do capital, da política e até das profissões parecem andar na contramão dessa força. Podemos nos perguntar: Como viver, neste mundo, a humildade a caminho do banquete do Reino? Como construirmos a fraternidade e inundar os corações das pessoas com os valores cristãos, sem que deixemos de ser eficientes, humanos e úteis no mundo do nosso trabalho?

A humildade verdadeira agrada a todos e leva a cada pessoa a meditar nesse valor. Quem é humilde coloca a sua função e eficácia a serviço dos outros. O motivo de alguém se tornar responsável por uma instituição, por um ministério, empresa ou outras responsabilidades na linha de frente, será de qualidade na medida em que esta se torna coerente. E deve ser construída na humildade, ou seja, na contramão da prepotência, abuso de poder e interesses egoístas.

Na escola da vida cristã, há muitos meios de aprendermos e aperfeiçoarmos no caminho da humildade, dependendo da opção que vamos fazendo pela vida. Por exemplo: na família, os cônjuges são chamados a se completarem e se construírem através da aceitação do outro, pelo diálogo, pelo perdão diário e de muitas vezes se abaixarem (pela humildade) um ao outro, para que o lar seja um ambiente de amor, de paz e de comunhão.

Não podemos esquecer o testemunho do clero, dos sacerdotes e diáconos, religiosos e leigos que, pela missão de levar o Evangelho aos outros, caminham junto com os injustiçados, os pobres, muitas vezes lavando os seus pés pela doação e defesa da justiça, da verdade, pela caridade e também pelo amor incondicional.

São tantos os exemplos concretos os quais podemos contemplar e seguir em frente para vivermos a humildade a caminho da mesa do Reino. Pois os últimos lugares são dos que querem viver com os mesmos sentimentos de Jesus, não somente para serem percebidos pelo dono da casa, mas porque esta postura indica o serviço e a doação cristã e não o egoísmo, prepotência e os interesses individuais.

E neste quarto Domingo do Mês Vocacional, e também na semana que o segue, devemos rezar para que os leigos que se dedicam, sobretudo com as verdadeiras virtudes heroicas, ao serviço da Igreja sem se descuidar de seus compromissos no mundo secular ou mesmo domésticos, sendo testemunhas como desejou Nosso Senhor quando instituiu Sua Igreja não para condenar, mas para salvar o mundo (cf. Jo 3,17;12,47). Rezemos ainda pelos catequistas, para que, neste Dia Nacional dos Catequistas e segundo ano da Carta Apostólica Antiquum Ministerium(1) que instituiu o Ministério laical dos Catequistas, eles possam ser edificadores da Igreja como exorta São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios (cf. 12,28-31).

E os nossos parabéns e oração a todos os irmãos e irmãs leigos e leigas, que dedicam a algum serviço à nossa Igreja, que Deus vos abençoe. Amém.

*   *   *
(1) Disponível em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/motu_proprio/documents/papa-francesco-motu-proprio-20210510_antiquum-ministerium.html>. Acesso em: 27 ago. 2022.

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Buscar a Mesa do Reino

 

Buscar a mesa do Reino,
É viver a humildade,
Caminhar na caridade,
Sem orgulho e sem rancor,
É viver primeiro o amor,
Que nos leva à santidade.
*
Buscar a mesa do Reino,
É olhar para o Senhor,
É viver o Seu amor,
Sem ser um interesseiro,
Não querer ser o primeiro,
E nem ser dominador.
*
Buscar a mesa do Reino,
É procurar sempre servir,
É a Jesus aderir,
Sem orgulho e prepotência,
É esperar na paciência,
O Reino que há de vir.
*
Buscar a mesa do Reino,
É viver a oração,
Sem esquecer a ação,
Mas na paz e na harmonia,
Cultivar a alegria,
Que é própria do cristão.
*
Busquemos esta Mesa Santa,
Que Jesus nos oferece,
Façamos a nossa prece,
Para sermos o sinal,
Do Seu amor filial,
Que nossa vida enternece.

*   *   *

Imagem: “The Great Banquet” de E. Burnand (1850-1921).

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos ensina servir na humildade, ilumine o seu caminho! 

 

 

Solenidade da Assunção de Nossa Senhora

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos pequenos e médios empreendedores ⇐
⇒ Mês Vocacional – 3º Domingo: pela vocação à vida consagrada ⇐

 

Leituras da Missa da Véspera: 1Cr 15,3-4.15-16;16,1-2; Sl 131(132),6-7.9-10.13-14 (R. 8); 1Cor 15,54-57; Lc 11,27-28
Leituras da Missa do Dia: Ap 11,19a;12,1.3-6a.10ab; Sl 44(45),10bc.11.12ab.16 (R. 10b); 1Cor 15,20-27a; Lc 1,39-56

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Maria e Isabel: O Encontro da Profecia e da Salvação

Lc 1,39-56

Meus irmãos e irmãs, neste terceiro Domingo do mês vocacional em que refletimos e rezamos pela vocação à vida consagrada, celebramos com muito júbilo a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. Esta Liturgia nos motiva a contemplar a assunção de Nossa Senhora ao Céu, de corpo e alma, sendo a primeira a participar da redenção e da glorificação celeste. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 1,39-56.

A Assunção de Nossa Senhora à glória celeste, de corpo e alma, é um dogma proclamado pela Igreja, ou seja, uma verdade de fé, e é o mais recente entre os quatro dogmas marianos, tendo sido proclamado pelo Papa Pio XII em de 1950(1). Os outros três dogmas marianos são: Maternidade Divina, Imaculada Conceição e Virgindade Perpétua.

No Evangelho desta Liturgia, o evangelista São Lucas nos apresenta a caminhada de fé da jovem Virgem rumo à casa de Isabel. A Virgem Maria, grávida por obra do Espírito Santo (cf. Mt 1,20), segue pelo longo percurso de 150 km rumo à Judeia e caminha, por entre as montanhas, para levar a caridade e a alegria à sua prima. Com esta missão, a Virgem, grávida do Salvador e vazia de interesses pessoais, na configuração de Sacrário Vivo do Senhor.

A Virgem peregrina nos dá exemplo de como abraçar o chamado de Deus e da firme decisão para crescer na resposta de fé, em atitude de amor e de doação. A Mãe do Salvador se doa de forma lenta e desinteressada, mas vai apressadamente para servir a outra grávida, portadora da profecia em seu ventre, João Batista, que preparará os caminhos de Jesus, o Messias, para que os homens o acolham, sejam curados, chamados e redimidos pelo sangue do Cordeiro.

A esposa de São José, Maria, é a imagem perfeita da Igreja [cf. CIgC(2), nº 967], que é o Corpo Místico de Cristo (cf. CIgC, nº 787-810). Ela é também Sacrário Santo e vínculo de amor entre irmãos, é meio de salvação para todos que dela se aproximam para escutar e se alimentar do Senhor, sendo purificados pela fé e glorificados na dimensão celestial.

A Virgem Maria é a mulher “vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1), como nos fala a Primeira Leitura desta Liturgia. É ela sim, pois tem no seu ventre o poder da vida vitoriosa sobre o dragão da morte, dando a vida verdadeira a todos os que acolhem os valores do Reino e a Redenção; e que desejam participar da glória de Deus.

São Paulo nos diz que “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1Cor 15,20). Deus antecipa para a Mãe do Salvador a graça da ressurreição e da glorificação. Ela é a primeira cristã entre os que seguiram e seguem o Senhor. Por isso podemos chamá-la de Nossa Senhora da Glória, pois é a rainha-mãe cuja contemplação o salmista descreve como tendo “veste esplendente de ouro de Ofir” [Sl 44(45),10c], o mais puro ouro da era do rei Salomão (cf. 1Rs 9,28), mas que na Virgem Maria o ouro de Ofir não é nada se comparado com a sua beleza e santidade.

Para vivermos um testemunho coerente, precisamos olhar para Virgem Maria, que interioriza e pratica as virtudes na simplicidade do seu cotidiano. Estando atentos ao que Deus nos pede, vivendo a obediência à Palavra do Senhor, não desviaremos a nossa atenção das diversas situações do mundo, principalmente no que se refere a todos os sofredores. Enfim, nos esvaziando do nosso egoísmo para poder nos encher da graça de Deus.

E neste terceiro Domingo do Mês Vocacional, dedicado à vocação à vida consagrada (religiosos e religiosas, consagrados e consagradas, seculares), vamos rezar pelos que foram chamados a viver de forma radical os votos de pobreza, obediência e castidade em favor do Reino de Deus, como discípulos e discípulas na experiência da santidade e da entrega missionária no mundo. Que possamos aprender da Virgem Maria sobre a escuta da Palavra, no desprendimento das coisas materiais do mundo, na obediência ao chamado de Deus, à vida de castidade, ao anúncio do Reino de Deus e na contemplação frutífera, através da oração perseverante. Amém.

*   *   *
(1) Através da constituição apostólica Munificentissimus Deus. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus.html>.
(2) Disponível em: <http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/prima-pagina-cic_po.html>.

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⇒ POESIA ⇐

A Primeira Crente da Nova Aliança

 

Aberta à voz de Deus e ao Seu chamado,
Grávida, a serviço da vida e da esperança,
Lá vai a caminheira para a sua santa missão,
Como primeira crente da Nova Aliança.
*
Vai pelas montanhas sempre entre o vento e a poeira,
Motivada pelo amor e levando a força da Redenção,
Visita a sua prima Isabel, com gratuidade fraterna,
Levando um cântico de alegria, profecia e libertação.
*
Sua alma é engrandecida pelo amor supremo,
Pois a alegria é plena do Espírito Divino,
Porque o mundo a chamará Senhora Bendita,
Porque da sua boca nasce o anúncio, por um belo hino.
*
É glorificada no Céu de corpo e alma,
Porque em Cristo és Mãe e Santificada,
Por isso o nosso culto a ti elevamos felizes,
Porque és a primeira cristã de vitória alcançada.
*
Rogai por nós, nos vales dos nossos sofrimentos,
Mãe da profecia e cheia do belo cantar de amor,
Ensina-nos a sermos vazios de nós e cheios da Graça,
Como servos atentos e santos de Nosso Senhor.

*   *   *

 

Imagem: “A bem-aventurada Virgem Maria é coroada Rainha do Céu por Seu Filho Amado”. In zephyrinus-zephyrinus.blogspot.com.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos deu como Mãe a Virgem Maria – assunta ao Céu de corpo e alma, ilumine o seu caminho! 

 

 

20º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos pequenos e médios empreendedores ⇐
⇒ Mês Vocacional – 2º Domingo: pela vocação da vida em família ⇐

 

 

Leituras: Jr 38,4-6.8-10; Sl 39(40),2.3.4.18 (R. 14b); Hb 12,1-4; Lc 12,49-53

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

O Fogo do Amor do Senhor

Lc 12,49-32-48

 

Meus irmãos e irmãs, celebramos o 20º Domingo do Tempo Comum o segundo Domingo do mês vocacional em que refletimos e rezamos pela vocação para a vida em família, a Igreja doméstica, e também celebramos, neste dia, o dia dos pais, aos quais desejamos muita paz, graças e bênçãos divinas. A Liturgia deste Domingo nos motiva a contemplar a respeito do impacto do fogo do Espírito e da Palavra purificadora do Senhor e a força transformadora do ministério messiânico. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 12,49-53, sequência do Domingo passado.

No Evangelho desta Liturgia, as Palavras de Jesus verdadeiramente nos impactam e nos provocam a refletir e pensar profundamente sobre Suas Palavras. Disse o Senhor Jesus: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12,49). Em seguida complementa: “devo receber um batismo e como estou ansioso até que isto se cumpra” (Lc 12,50).

Quando olhamos para o ministério de Jesus em toda a sua realização, podemos entender o que significa profundamente essas Palavras. Na verdade, Ele veio para transformar o mundo a partir da purificação dos corações com o fogo do Seu amor, através de Sua Palavra, profética e redentora, sua aproximação junto ao seu povo, tornando todos filhos de Deus. Com seus milagres corporais e espirituais e com seus ensinamentos, converteu e transformou a vida e o coração de muitas pessoas. Não somente isso: Suas palavras impactaram e mobilizaram muitos seguidores a viverem também o que Ele viveu.

Desse modo, o Seu chamado mudou a vida de muitas famílias fazendo com que sua Palavra libertadora chegasse a todos nós e também nos impulsionasse a sermos Seus discípulos e missionários. Essa mudança provocou, e ainda provoca, uma divisão entre os que estão em conversão e os que são indiferentes à Boa-Nova de Jesus.

Os Apóstolos e discípulos seguiram proclamando o amor misericordioso de Deus, uma vida nova, pela força da Ressurreição onde a semente da dignidade humana e a vida fraterna foram semeadas e se espalham pelo mundo. Não podemos esquecer que o anúncio da Boa-Nova de Jesus trouxe muitas consequências para as primeiras gerações de cristãos, as quais sofram perseguição por parte dos poderosos e muitos foram martirizados por causa do Evangelho, mas foram perseverantes, corajosos e cheios de fé, porque o fogo do amor do Senhor os impulsionava a seguir em frente.

Assim acontece com profeta Jeremias também sofreu perseguição de Sedecias, Rei de Judá entre os anos 597 e 587 a.C. Um poderoso rei sim, mas o último rei antes do exílio da Babilônia (586-538 a.C.). Vimos na primeira leitura desta Liturgia (cf. Jr 38,6) que o profeta quase morreu quando foi atirado numa cisterna por que anunciava o amor de Deus e a paz em vez da guerra. Jeremias estava ciente do sofrimento do povo escravizado pelo rei da Babilônia!

Assim aconteceu também ao longo dos tempos desde que Jesus consolidou Seu “pequenino rebanho” (Lc 12,38). Os que sempre anunciaram os valores do Evangelho sofreram consequências como calúnia, indiferença, perseguição e a até a morte! Nossos heróis (os santos conhecidos e anônimos), homens e mulheres que testemunharam com suas vidas as virtudes de Cristo, defenderam a dignidade humana como valor que nivela todos (homens e mulheres) no mesmo patamar diante de Deus, defenderam a fraternidade e a justiça. Tudo isso em contraste com os poderes do mundo com seus recursos políticos, econômicos e ideológicos, sempre com o objetivo de exercer domínio em benefício da elite.

Já o autor da Carta aos Hebreus nos aconselha: “Empenhemo-nos com perseverança no combate que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus.” (Hb 12,1-2). Diante dos poderes do mundo, o cristão que vive verdadeiramente os valores da Boa-Nova, a fé e os olhos fixos em Cristo, estará alerta diante das realidades que estão na contramão do Evangelho!

E neste Domingo, dia dos pais, rezemos , ao longo da semana que se segue, pela vocação para a vida em família, a “Igreja doméstica”, pelos nossos casais, também pelos jovens que aspiram ao Matrimônio, sacramento que eleva homem e mulher à “realidade divina”(1) quando realizadas as finalidade do Matrimônio, seja no bem-estar mútuo, na geração e educação dos filhos, na fidelidade, enfim, numa aliança, entre batizados, una e indissolúvel, uma reposta a Deus, sendo testemunhas de sua missão na vida do lar, na Igreja e na sociedade. Que os casados e noivos sejam abençoados e iluminados pela ação do Espírito Santo. Amém.

*   *   *
(1) Cf. Código de Direito Canônico, cânones 1055-1057.

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Nosso Coração Arde com Seu Amor

 

O fogo do amor do Senhor,
Faz arder nosso coração,
Traz-nos uma vida nova,
Nos motiva pra missão,
Faz tudo se transformar,
Provoca-nos a caminhar,
Suscita transformação.
*
Fogo aceso em nossas vidas,
Pelo Espírito de amor,
Que queima e purifica,
Pra nascer novo vigor,
Dá coragem e movimento,
Pelo Santo Alimento,
Vivo e transformador!
*
Fogo novo no Espírito,
Que deu vida e alegria,
Fazendo os Seus discípulos,
Viverem em romaria,
Boa-Nova anunciando,
A Jerusalém caminhando,
Em meio a noite e ao dia!
*
Ação divina em nós,
Em meio aos sofrimentos,
Palavra que causa mudança,
Na vida e nos acontecimentos,
Olhos fixos no Senhor,
A fé, a vida e o amor,
Pés firmes e também atentos!
*
Que a santa Eucaristia,
Alimente-nos a esperança,
E sua Palavra viva,
Provoque em nós a mudança,
Convertendo nossa vida,
Fortalecendo a nossa lida,
Com o Amor que não se cansa!

*   *   *

 

Obra: “Nosso Senhor Jesus Cristo”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que transforma o nosso coração com o fogo do Seu Amor, ilumine o seu caminho! 

 

 

19º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos pequenos e médios empreendedores ⇐
⇒ Mês Vocacional – 1º Domingo: pelas vocações ordenadas (Bispos, Padres e Diáconos) ⇐

 

 

Leituras: Sb 18,6-9; Sl 32(33),1.12.18-19.20.22 (R. 12b); Hb 11,1-2.8-19; Lc 12,32-48

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Vivendo a Segurança e a Vigilância no Senhor

Lc 12,32-48

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do 19º Domingo do Tempo Comum, do Ano C, o primeiro Domingo do mês vocacional em que refletimos e rezamos pelas vocações ordenadas, nos motiva a vencermos o medo, sermos caridosos, estarmos atentos, abraçarmos o desprendimento e vivermos a fé. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 12,32-48.

Para essa Liturgia, o Evangelho nos mostra o Senhor Jesus formando os seus discípulos, orientando-os para a experiência das realidades do Reino. E para que os Seus seguidores estejam preparados, estes devem, em primeiro lugar, perder o medo daquilo que os atrapalham no caminhar, pois o medo os desvia do foco, ou seja, do caminho e da missão.

Nosso Senhor os chama de pequeno rebanho, nome que lembra o povo de Israel. O grupo dos discípulos agora é o novo Israel que segue o Caminho da libertação plena. Libertação que o Senhor realizou na Ressurreição, quando venceu em definitivo a morte e nos presenteou com a vida nova, vida banhada pelo seu Sangue, que nos liberta e nos motiva a viver a verdadeira paz, iluminada e conduzida pelo Espírito Santo.

Outro assunto que a Igreja nos oferta nesta Liturgia é o da esmola. Para seguir o Senhor é preciso partilhar, não somente dos ideais e projetos, mas também dos bens materiais, os quais são, muitas vezes, empecilhos para cultivarmos o bem maior que é o Céu. Jesus agora pede aos discípulos esta atitude, porque percebe a dificuldade de colocar no coração o desejo de construir tesouros eternos, santos, seguros e imperecíveis.

Em seguida, Jesus orienta para a vigilância: “Que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas” (Lc 12,35). Esse é um dos maiores desafios para os que seguem o Senhor, pois parece que nunca estamos preparados para as situações que acontecem repentinamente em nossa vida.

Não estamos preparados porque colocamos nossa confiança e nossa segurança nas coisas contrárias às Reino de Deus, apegando-nos àquilo que desejamos adquirir ou que vamos amontoando nas nossas casas e na nossa vida.
Por isso, em certos momentos da nossa existência o medo e a insegurança nos invadem, nos paralisam. E então nos perguntamos: em quem ou em que coloco minha segurança? Somente nas coisas terrenas ou nas realidades divinas?

E muitos serão os desafios que enfrentaremos na vida, muitos serão os “desesperos” e angústias que deveremos passar, mas a nossa capacidade de encarar as barreiras e vencer as provações dependerão da nossa atenção, do nosso amor às realidades essenciais que Jesus nos apresenta. Ainda assim corremos o risco de desviar-nos do Caminho até que coloquemos com toda a força o nosso coração no que Deus nos oferece, o verdadeiro tesouro e perfeita segurança.

Assim como os discípulos que estiveram próximos a Jesus e caminharam com Ele demoraram para aprender sobre as verdades do Reino, nós também devemos nos esforçar para aprendermos e assim possamos estar preparados para quando chegar a nossa hora, inclusive porque não temos a mínima noção de quando será esse momento.

Na Carta aos Hebreus, o autor sagrado nos motiva a refletir sobre o belo e profundo significado da fé. Diz a Carta: “A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem” (Hb 11,1). Quem tem fé já possui aquilo que se espera, já tem a posse do tesouro que não pode ser corroído. Quem vive na fé já é convicto das coisas de Deus mesmo não enxergando com os olhos físicos, mesmo não apalpando ou usufruindo. Portanto, é preciso, ao mesmo tempo, acreditar, tomar posse e vivenciar a fé. Com isso, se apropriar da fé em nosso cotidiano.

Já está mais do que provado que o apego às coisas materiais, a certas opiniões rígidas e fixas, a certos cargos e funções produz vazio existencial, ou seja, falta de sentido. Com isso vem um conjunto de infelicidades, tais como ansiedade, depressão, perda do sentido de vida. Com a modernidade, desenvolvemos e possuímos tantas tecnologias, mas mesmo assim, corremos o risco de viver a infelicidade se o apego for às coisas materiais.

Precisamos então buscar em Deus as razões fundamentais para vivermos realizados como herdeiros do Pai (cf. Hb 11,9). Porque, pela graça, a nossa felicidade deve ser buscada dentro de nós e não nos arredores, nas coisas exteriores. Às vezes buscamos esta felicidade de forma egoísta, esquecendo que é na partilha, na comunidade que nos completamos e nos realizamos como irmãos, filhos do mesmo Pai.

Portanto, busquemos nossa realização no nosso “ser pessoa” (essência). Também aprendamos a nos relacionar com o mundo e com as coisas, sem sermos escravos. Por fim, o mais importante: “o ser e o viver” com os outros, como comunidade de filhos que partilham e que se amam no Senhor. E neste primeiro Domingo do mês vocacional, busquemos, ainda, rezar ao longo da semana pelos Bispos, Padres e Diáconos para que seus ministérios sejam abençoados e iluminados pela ação do Espírito Santo. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Segurança e Vigilância no Senhor

 

Por que termos medo
E insegurança desesperadora?
Diante do mundo,
Nesta vida, neste caminhar.
Se Deus é nossa segurança
E nosso tesouro,
Sentido maior
Que não nos deixa amedrontar.
*
Porque a displicência,
Deixando a vida acontecer?
No egoísmo, na ganância,
A nos consumir.
Quando o amor
É o nosso bem maior,
Sentido principal
Deste nosso existir?
*
O Senhor nos orienta
Sobre o essencial,
Que devemos buscar
Sem afogamento no mar,
Para não sermos
Surpreendidos naquele dia,
Quando Ele virá nos cobrar?
*
Por que precisamos
Viver tanta fadiga?
Sabemos que nos bens
Não está a segurança,
Somente vivendo a fé
De forma completa,
Pois em Deus
Está a nossa esperança.
*
Alegremo-nos,
Pois Ele sempre nos ama,
Devemos abraçá-Lo
Como nosso fundamento,
Rocha firme
Que nos faz perder o medo,
Ele, a nossa Paz,
O amor, nosso alimento.

*   *   *

 

Imagem sacra: “Cristo Pantocrator (extrato) – Paróquia Epifanía do Senhor e São Tomás de Vilanova (Valência, Es). In <epifania.es/parroquia/retablo/cristo-pantocrator>.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos motiva a vencermos o medo, sermos caridosos e vigilantes, ilumine o seu caminho! 

 

 

18º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos idosos ⇐

 

Leituras: Ecl 1,2;2,21-23; Sl 89(90),3-4.5-6.12-13.14.17 (R. 1); Cl 3,1-5.9-11; Lc 12,13-21

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

O Verdadeiro e Infinito Tesouro Somente Encontramos em Deus

Lc 12,13-21

 

MMeus irmãos e irmãs, a Liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplar Nosso Senhor nos ensinando sobre o verdadeiro tesouro, a verdadeira fonte de riqueza. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 12,13-21.

Assim, o texto próprio de Lucas (cf. 12,13-21) nos ajudará no discernimento diante do dinheiro e dos bens materiais. Jesus conta a parábola do rico tolo, em que um homem coloca todo seu prazer nos seus celeiros e no resultado da colheita de sua terra. Para aquele homem, parecia que tudo estava resolvido na sua vida. Ele poderia, então, descansar, comer e esbanjar seus bens. Como diríamos hoje: “curtir a vida e ficar tranquilo”.

“Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Ainda nesta noite, pedirão de volta a tua vida. E para quem ficará o que tu acumulaste?” (Lc 12,20). Pois bem, Deus nos dá a vida terrena, nós a administramos, sonhamos, escolhemos caminhos, fazemos projetos, construímos relações, porém não temos domínio sobre o seu fim. Somente Deus tem esse poder sobre a nossa vida e sobre a morte.

A atualidade dessa passagem evangélica é impressionante! Hoje nos vemos rodeados e estimulados por tantas propostas de consumo, que são colocadas através das diversas formas de publicidades, as quais nos sufocam no nosso cotidiano.

Sem o cultivo da essência humana, sem o alimento da vida interior e espiritual com tantos bons recursos que temos à disposição, tais como boas leituras, boas partilhas fraternas, momentos de oração e meditação, retiros, celebrações, não conseguimos viver a profundidade e o sentido de nossa existência.

E quando não cultivamos as coisas profundas que vem de Deus, ficamos vulneráveis e buscamos preencher nossa existência com a idolatria aos bens materiais ou com pautas das diversas ideologias. Em outras palavras: não priorizamos Deus e Seu amor. Consequentemente ficamos carentes do Tesouro essencial para o nosso existir e do cultivo da nossa espiritualidade, da nossa interioridade em busca do Absoluto.

“Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade.” (Ecl 1,2). Biblicamente, o termo vaidade vai além da vaidade no sentido narcisista ou prepotente e também nos remete àquilo que turva a visão, seja como uma neblina na estrada ou uma ilusão(1), não importando se se trata de coisas materiais ou ideias, mas que querem “alimentar” o nosso vazio interior com elementos e motivações superficiais.

Às vezes acontece que quando ficamos ricos das coisas materiais ficamos pobres no que se refere à sensibilidade humana, à vida interior, no cuidado de si e assim nos alimentamos do orgulho, dos ressentimentos, das indiferenças para com o outro.

E São Paulo nos alerta: “esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo… aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus” (Cl 3,1-4).

Precisamos buscar as coisas do alto, não para flutuar ou para nos alienar da realidade humana, mas para alcançarmos o que é essencial em nosso existir, pois, quanto mais vivermos a aspiração às coisas de Deus, melhor viveremos a nossa relação com os bens terrenos, os quais devem estar ao nosso serviço e também destinados ao outro, com quem devemos partilhar, quando houver necessidades.

Que possamos meditar nesta Liturgia sobre a necessidade de buscarmos, em primeiro lugar, a essência de nossa existência em Deus, o cultivo da nossa espiritualidade e a partilha fraterna, para vivermos os sinais do Reino neste nosso peregrinar terrestre, em vista de cultivarmos o sentido da vida, na busca da paz, do amor e da comunhão entre os povos, aspirando, já agora, os tesouros celestiais. Amém.

*   *   *
(1) Cf. Nota de rodapé da Bíblia Sagrada: Tradução oficial da CNBB. 4 ed., 2020.

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Verdadeiro Tesouro

 

OCom um olhar na vida infinita e verdadeira,
Buscando o sentido que nos traz felicidade,
Devemos seguir vivendo na simplicidade,
Sem nos afogarmos nos prazeres das riquezas terrenas,
Que, em muitos dos casos, até nos desordenam,
Trazendo às vezes muitas frustrações e ansiedades,
Pois devemos não levar em conta as tantas vaidades,
Que no final da vida somente nos condenam.
*
Apostar-nos tanto e tanto nos bens materiais,
Como segurança para toda a nossa vida,
Na avareza e nos desprezos pelo “amor” sem medida,
É desconhecer o sentido na Palavra do Senhor,
Que veio para perto de nós com o Seu amor.
É como construir nossos sonhos nas ilusões,
Ficando mergulhado nas tantas paixões,
Que no final somente nos traz insegurança e dor.
*
Fitemos então o olhar e nosso foco no essencial,
Que é buscar as coisas na vida que não há de acabar,
Segurança nos bens celestes a nos esperar,
Como sendo a nossa principal riqueza,
Uma vida infinita em Deus e na sua eterna beleza,
Que jamais fomos capazes de contemplar,
E que nunca, e nunca irá acabar,
Porquê estaremos ao lado da Divina Realeza.

*   *   *

 

Obra: “O Homem que Acumula”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos oferece o verdadeiro tesouro da vida, ilumine o seu caminho! 

 

 

17º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos idosos ⇐
⇒ 2º Dia Mundial dos Avós ⇐

 

Leituras: Gn 18,20-32; Sl 137(138),1-2a.2bc-3.6-7a.7bc.8 (R. 3a); Cl 2,12-14; Lc 11,1-13

 

Ouça o áudio preparado para esta Liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Oração que o Senhor nos Ensinou

Lc 11,1-13

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do 17º Domingo do Tempo Comum, 2º Dia Mundial dos Avós(1), instituído pelo Papa Francisco em 2021 , nos motiva a contemplar Nosso Senhor nos ensinando a rezar. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 11,1-13, novamente uma sequência do Evangelho do Domingo passado.

A oração que o Senhor nos ensinou é a oração por excelência do cristão, o Pai-Nosso, que rezamos sempre quando nos encontramos, seja para a Eucaristia, seja para as reuniões, estudos, Terços, novenas ou nas várias práticas devocionais que a Igreja nos oferece.

O Evangelista Lucas (cf. 11,1-13), portanto, nos apresenta Jesus rezando num certo lugar e depois levando os discípulos a sentirem o desejo de também quererem rezar. Para isso eles pedem ao Mestre que lhes ensinem, numa suplica muito significante: “Senhor, ensina-nos a rezar” (Lc 11,1).

Com a oração que saiu da boca de Jesus, o Pai-Nosso, podemos confirmar que Ele nos ensinou a chamarmos a Deus de Pai, pois nesta oração reconhecemos que somos irmãos e irmãs, porque este Pai é de todos e para todos. Com a oração do Pai-Nosso, podemos também aprender a rezar, deixando que Deus faça a Sua vontade e não a nossa, pois na nossa vida muitos acontecimentos estão nas mãos de Deus, que, como canta o salmista, faz muito mais do que promete [cf. Sl 137(138),2c].

O Pai que Jesus nos apresenta é o Pai bondoso e misericordioso, tem um amor tão grande que veio mostrar porque somos semelhantes à Ele. Veio caminhar conosco, ter a nossa carne e nos ensinar o caminho que devemos percorrer para chegar ao Céu, porque Ele é Santo e quer todos os seus filhos juntos d’Ele na morada celeste.

Na oração ensinada por Jesus pedimos que o Reino de Deus venha a nós. Quantas vezes Jesus nos fala que este Reino estava perto ou que estava no meio dos homens. Jesus e Sua ação salvadora é o próprio Reino em nosso meio. Quantas vezes pensamos que este Reino ainda está distante… Talvez esteja assim distante porque ainda não colocamos em prática o que rezamos no Pai-Nosso. O pão que pedimos ainda falta a muitos irmãos ou poucos têm demais e não aprenderam ainda não aprenderam a partilhar, pois falta a justiça, a dignidade, o respeito e a atenção para com os irmãos necessitados.

Já a Eucaristia que participamos aos Domingos, ou diariamente, ainda não se transformou em verdadeira comunhão, partilha dos irmãos e irmãs que fazem a comunidade viva, fraterna e expressão concreta da caridade no sentido bíblico, no sentido cristão.

Este Reino ainda pode estar distante porque não aprendemos a perdoar uns aos outros e pelo o nosso egoísmo ainda estamos fechados. Neste caso, nos falta a humildade de pedirmos perdão para que a fraternidade e a santidade de Deus estejam presentes entre nós. Nos falta ainda a atitude de irmãos e irmãs, amigos e amigas de verdade sem receio de corrigir o outro quando percebemos errando e caindo nas tentações da não escuta ao outro e no individualismo.

Precisamos meditar profundamente colocando no coração aquele pedido final do Pai-Nosso, quando rezamos: “perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixeis cair em tentação” (Lc 11,4). A presença do Reino no meio de nós é, portanto, o perdão dos nossos pecados, no momento em que nos reconhecemos pecadores e também perdoamos aos outros quando estes nos vem pedir perdão, em vista de retomamos a harmonia na convivência humana e na comunidade cristã.

Faz-se necessário pedir sempre ao Senhor que nos livre das armadilhas do Tentador e dos males que muitas vezes nos rodeiam. Nosso erro é querermos resolver sozinhos sem a ajuda do Senhor. Por isso o evangelista Lucas continua o resto do texto insistindo sobre a perseverança na oração diante de Deus. E diz: “Se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!” (Lc 11,15).

Confiemos ao Senhor nossa existência, nosso convívio e nossa vontade de construirmos a comunhão, a fraternidade e a paz, para que o Reino de Deus esteja sempre presente no mundo e em nosso meio. Amém.

*   *   *
(1) Cf. PAPA FRANCISCO. Ângelus (31 jan. 2021). Disponível em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/angelus/2021/documents/papa-francesco_angelus_20210131.html>. Acesso em 20 jul. 2022.

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Jesus nos Ensinou a Rezar

 

O Senhor nos ensinou a rezar,
Quando de nós próximo ficou,
Sabendo de nossas carências,
Por isso se aproximou,
Quando quis nossa humildade,
Pra acolher Sua santidade,
Pois primeiro nos amou!
*
Senhor ensina-nos a Sua oração,
Para Deus, nosso Pai, chamarmos,
Ensina-nos a perseverança,
Para não desanimarmos,
E a rezar sem egoísmo,
Com perdão e otimismo,
Para nos santificarmos.
*
Senhor ensina-nos a rezar,
Com a Sua oração,
Que a nós venha o Seu Reino,
Nosso Deus e salvação,
Pra Sua vontade fazer,
E não o nosso querer,
Mas na Sua santa ação!
*
Nosso pão de cada dia,
Ensina-nos a pedir,
Para continuar a vida,
E na missão nos nutrir,
Este pão de cada dia,
É também a Eucaristia,
No Seu caminho a seguir.
*
O perdão de nossas culpas,
Ensina-nos a suplicar,
Quando ferimos os irmãos,
Ou viemos a errar,
Tu és o Deus de puro amor,
És o nosso Salvador,
Que quer nos santificar!
*
Livra-nos de todo o mal,
Quando a Ti vos suplicamos,
Pra vencer a tentação,
Quando com ela estamos.
Assim devemos rezar,
Firmes, sem desmoronar,
Pois em Ti nós confiamos!

*   *   *

 

Obra: “O Pai-Nosso”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos ensina a rezar como Ele rezou, ilumine o seu caminho! 

 

 

16º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos idosos ⇐

 

Leituras: Gn 18,1-10a; Sl 14(15),2-3ab.4ab.5 (R. 1a); Cl 1,24-28; Lc 10,38-42

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

O Equilíbrio entre a Oração, a Contemplação e a Ação

Lc 10,38-42

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do 16º Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplar dois aspectos da piedade na humanidade refletida em Marta e Maria: a ansiedade de estar com tudo pronto para estar com Deus e a verdade de que, como disse Santo Agostinho, o nosso coração só descansa diante de Deus(1) . E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 10,38-42, sequência do Domingo passado.

Na Liturgia de hoje, vemos Marta e Maria acolhendo Nosso Senhor em casa. Duas mulheres, irmãs, que se apresentam com comportamentos diferentes diante do Rabí, que quer dizer Mestre.

Maria está aos pés do Senhor para escutá-lo; Marta está preocupada em preparar a ceia, com a visita do Senhor. Jesus chama a atenção de Marta dizendo: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas.” (Lc 10,41). E em seguida ainda fala: “Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada.” (Lc 10,42).

Escutando estas palavras de Jesus podemos também meditar: Vivemos sempre numa realidade de tantos compromissos, afazeres inacabáveis, preocupações que nos tiram a atenção e até mesmo a paz. Atividades e mais atividades que nos desviam daquilo que é essencial para a nossa vida. Somos mais Marta do que Maria e esquecemos que precisamos unir estas duas características bíblicas, estas duas personalidades para vivermos bem e assumirmos a experiência de discípulos na missão do Reino de Deus no mundo.

O que Jesus chama atenção em Marta não é com relação ao trabalho, pois ela tem a melhor das intenções na preparação das coisas para acolhê-lo, mas por que ela está sem o foco no essencial, que é a atenção à sua Palavra. Marta está sem harmonia nos seus afazeres, a ponto de repreender a sua irmã.

Assim também acontece conosco, às vezes nos afogamos no ativismo da vida pastoral ou nas nossas preocupações particulares, que nem sempre temos tempo de fazer nossas orações pessoais, de ir à celebração da comunidade e por isso perdemos o foco principal na Palavra e na Eucaristia que nos conforta e nos nutre na caminhada da nossa vida diária. E ainda: até repreendemos os irmãos e irmãs acusando-os de estarem rezando demais.

Portanto, irmãos e irmãs, na vida cristã devemos buscar o equilíbrio entre a ação (Marta) e a oração e contemplação (Maria), para não cairmos nos extremos do ativismo ou do intimismo.

Outro tema desta Liturgia é o da acolhida. Na primeira leitura, Abraão recebe Deus (cf. Gn 18,1) na pessoa de três homens e que a tradição da Igreja(2), desde os Padres da Igreja, interpretou como sendo a Santíssima Trindade. Depois temos, no próprio Evangelho, Jesus sendo acolhido pelas irmãs Marta e Maria, em Betânia. Naquela casa Jesus foi acolhido várias vezes, inclusive quando ressuscitou Lázaro (cf. Jo 11,42-45).

O que nos fará verdadeiros discípulos numa experiência de equilíbrio entre a espiritualidade e a missão é exatamente a acolhida ao Senhor na nossa vida (a nossa morada), acolhida que se estenderá no cuidado aos peregrinos, aos que sofrem e aos que precisam de nossa atenção. A nossa fé se alimentará e será uma expressão de equilíbrio entre contemplação e ação, quando estivermos atentos à Palavra de Deus e quando estivermos dispostos a acolher o Senhor na paz e no amor, atitudes que nos impulsionam à vida plena. Amém.

*   *   *
(1) SANTO AGOSTINHO. Confissões. São Paulo: Paulus, 2010. 22 ed. Livro I, Capítulo 1, p. 15.
(2) MATEO-SECO L. F. Deus Uno y Trino. Navarra: EUNSA, 2005. Parte Terceira, Capítulo 2.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Escolher a Melhor Parte

 

Está sempre com o Senhor,
Na vida de oração,
Atento à sua Palavra,
Vivendo a contemplação
É assim que deve ser,
Quando queremos crescer,
Como um autêntico cristão.
*
Escolher a melhor parte,
É amar a Eucaristia,
Estar aos pés do Senhor,
Com fé e muita alegria,
É querer sempre rezar,
Firme sem desanimar,
Toda noite e todo dia.
*
É também viver a missão,
Pedido de Nosso Senhor,
Sempre atento ao que Ele diz,
Como um filho servidor,
Não viver na ilusão,
Ou estar na distração,
Sem contemplar o amor.
*
Somos Marta e Maria,
Juntas, sem se separar,
Orando e também agindo,
Sem o Senhor desprezar,
Só fazendo deste jeito,
Seremos cristãos perfeitos,
No mundo a testemunhar.
*
Nesta nossa caminhada,
Precisamos refletir,
Que os afazeres da vida,
Não nos levem a fugir,
A melhor parte é o Senhor.
Sua Palavra e seu amor,
Nós queremos repartir.

*   *   *

 

Obra: “Jesus, Maria Madalena e Marta em Betânia”, de J. Tissot (1836-1902). In brooklynmuseum.org.

 

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos ensina sobre a contemplação e a missão, ilumine o seu caminho! 

 

 

15º Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

 

⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos idosos ⇐

 

Leituras: Dt 30,10-14; Sl 68(69),14.17.30-31.33-34.36ab.37 (R. cf. 33) // ou // Sl 18B(19),8-11 (R. 9a); Cl 1,15-20; Lc 10,25-37

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Jesus Cristo é a Palavra Viva que Veio Ficar Próxima de Nós

Lc 10,25-37

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum, do Ano C, nos motiva a contemplar um aspecto da misericórdia de Deus revelado na parábola do “Bom Samaritano”. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 10,25-37.

Este texto sobre a atitude do samaritano nos ensina sobre a caridade, que é a plenitude dos mandamentos apresentados já em Moisés, na antiga aliança. E Jesus veio dá um sentido completo e concreto à Lei, através do mandamento do amor.

Meditemos sobre a parábola do “Bom Samaritano”. Há um homem que foi assaltado e espancando, está sem nada, quase sem vida, não se sabe o nome. Está na estrada de Jerusalém a Jericó. Perdeu suas forças, sua voz e precisa de socorro. Naquela estrada passam muitas pessoas, inclusive assaltantes, mas também sacerdotes, levitas e até homens discriminados pelos judeus como foi o caso daquele samaritano. Muitos tinham compromissos, agendas lotadas, preocupação com as normas a ponto de impedir o socorro a alguém que foi vítima de assalto e de espancamento. Assim como os outros, o samaritano também deveria ter uma agenda e estava em viagem de negócios, mas não está cego para a necessidade e para sofrimento do outro.

Este relato é feito por Jesus para ensinar àquele mestre da Lei, sobre quem é o próximo e também para que ele entenda o significado pleno dos mandamentos instituídos na antiga aliança. Os Padres da Igreja interpretaram o Bom Samaritano como sendo o próprio Jesus que nas estradas da vida acolheu (e acolhe) os sofredores, os violentados, Ele cuidando das suas feridas, cura e leva para a Sua casa, a Igreja, a Barca de Pedro, para que estes sejam também alimentados e tenham suas vidas restauradas.

Hoje, em nossos dias, há tantos assaltados, espancados, famintos, pelas ruas, sem voz e sem nome que, tendo suas realidades humanas (e sociais e econômicas) supridas, fazem parte do olhar de Deus pela ação dos discípulos missionários do Senhor. E assim, os cristãos são chamados a serem bons samaritanos que colocam em prática o amor, no cuidado aos irmãos, indo ao seu encontro e ficando bem próximo deles, não somente fisicamente, mas, como Deus, que veio ficar próximos de nós, a ponto de sentir a nossa dor, tocar e curar nossas feridas. Como nos motiva o hino da Campanha da Fraternidade de 2020: “Peregrinos, aprendemos nesta estrada / o que o ‘bom samaritano’ ensinou: / ao passar por uma vida ameaçada, / ele a viu, compadeceu e cuidou. (cf. Lc 10,33-34)”(1).

Sejamos cristãos atentos às dores que encontramos pelo nosso caminho e aprendamos do Bom Samaritano, Jesus, o Salvador, aprendamos d’Ele que a caridade supera tudo, pois tudo passa menos o amor, menos a caridade (cf. 1Cor 13,13). E ao sairmos das nossas celebrações, neste Domingo, possamos meditar no que Jesus falou para aquele mestre da Lei: “Vai e faze a mesma coisa” (Lc 10,37). Pois é a atitude de fazer-se próximo do outro, de corpo e alma, que nos faz vivermos plenamente os mandamentos e ganharmos a vida eterna. Amém.

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(1) Autoria: José Antonio de Oliveira.

 

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⇒ POESIA ⇐

Os Bons Samaritanos de Hoje

 

SQuem são os bons samaritanos de hoje?
Nos dias e viagens de tantos sofredores,
Que acolhem e curam tantas feridas,
Que recolhem e aliviam as muitas dores?
São os cristãos na vida de caridade,
São também outros na sociedade,
Como corações sensibilizados e sensibilizadores.
*
Estão nas ruas sem a luz da vida,
Lá nas tocas e apoios da compaixão,
Nos portos seguros do acolhimento,
Nos grupos unidos do amor em ação,
Que se reúnem para vivenciar o amor,
Para seguirem servindo com fervor,
Colocando o Evangelho em plenificação.
*
São os bons samaritanos que se sentem próximos,
Tão próximos a ponto de tocar as muitas feridas,
Buscando remédio para aliviar a dor.
E neste compadecer-se reprogramam a sua vida,
Para servir como um braço do Senhor,
Sendo não somente gesto, mas a prática do amor,
Como chama que no peito é expandida.
*
E cada um de nós seremos bons samaritanos,
Quando deixarmos o amor de Cristo nos preencher,
Deixando o irmão cada vez mais próximo de nós,
E da sua vida cada vez lhes pertencer,
Afastando os olhares do preconceito,
Não mais tornando em nós o desrespeito,
E das suas necessidades não desconhecer.
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E agora contemplemos com muito zelo nosso Senhor,
O Bom Samaritano perfeito e santo,
Caridade divina que veio ao nosso encontro,
Que sentiu nossas dores e enxugou nosso pranto,
Que ergueu os que caíram na cova da morte,
Que os fez caminhar com pés firmes e fortes,
E que tirou dos seus corações todo medo e espanto.

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⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos ensina sobre o amor, sobre a misericórdia, ilumine o seu caminho!