Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, Solenidade

 

Leituras: 2Sm 5,1-3; Sl 121(122); Cl 1,12-20; Lc 23,35-43

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Rei, reino e trono diferente dos “reinos” deste mundo

Lc 23,35-43

 

Chegamos ao último domingo deste ano litúrgico, ano C. E neste encerramento celebramos Cristo, Rei do Universo. A festa de Cristo Rei foi instituída como celebração litúrgica pelo Papa Pio XI em 1925. Inicialmente era celebrada no último domingo de outubro, o qual era próximo do dia de Todos os Santos, “a fim de que se proclamasse abertamente a glória daquele que triunfa em todos os santos eleitos”. Com a reforma do Concílio Vaticano II, esta festa foi transferida para o último domingo do Tempo Comum, concedendo um significado mais amplo, sublinhando a dimensão escatológica do reino em sua consumação final[1].

Olhando todo este percurso queremos também olhar para o Senhor e para nós no intuito de fazermos uma retrospectiva de tantos passos dados. A cada Eucaristia celebrada, aliada à dimensão da Palavra, nos fortalecemos de nossos desânimos e cansaços da vida. Por isso, essa ação precisa ser constante. Mas essa rotina é, como prometido por Jesus, suave e leve.

O Evangelho desta liturgia nos apresenta Jesus, o nosso Rei, num trono diferente, a cruz, de pernas e braços presos ao madeiro, porém a boca e o coração estão livres para anunciar e oferecer o seu Reino de amor e salvação aos que acolherem ou suplicarem.

Contemplamos ainda a sua coroa de espinhos e os ladrões ao seu lado. Um deles quis e soube fazer sua súplica, ele pediu que aquele Rei não se esquecesse dele no Paraíso e por isso conseguiu um lugar no Reino Celestial, pois a resposta de Jesus nos assegura esta afirmação: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43)

A promessa que os profetas anunciaram sobre o Reino de justiça, de amor e de paz se cumpre plenamente em Jesus. Ele é da descendência de Davi, aquele rei que foi ungido em Israel para apascentar, conduzir, zelar e cuidar do povo, como rebanho que é do Senhor e não propriedade do rei terreno (cf. 2Sm 5,1-3).

Jesus é rei diferente, ele é o Bom Pastor, pois não somente conduz, mas se possível e necessário carrega as ovelhas nos seus braços, para que retornem ao rebanho. Sua autoridade é o serviço aos que estão perdidos, e carregados de fardos pesados, de cruzes que a vida terrena vai apresentando durante a caminhada. A comida para as suas ovelhas é seu próprio corpo doado gratuitamente, a bebida é seu próprio sangue derramado para purificar, para matar a sede de amor e fortalecer seus membros, os bem-aventurados que desejam inserir-se na multidão dos santos na glória celeste.

São Paulo, na segunda leitura, nos leva a contemplar a figura do nosso Rei o qual devemos sempre reconhecer como o verdadeiro: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois por causa dele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, as visíveis e invisíveis, tronos e dominações, soberanias e poderes” (Cl 1,15-16).

Muitas vezes queremos incutir em nossas ações e posturas o anúncio distorcido sobre o poder de Deus e seu reino. Esquecemos que quando pedimos “venha a nós o vosso reino”, estamos suplicando a presença de uma realidade divina em nossas vidas. A presença de Cristo em nosso meio é a presença da imagem do Pai Nosso, que nos congrega como irmãos, para formamos um Reino diferente do reino que o mundo dos homens concebe.

Portanto, a mensagem que a liturgia nos apresenta hoje é que possamos pensar naquilo que é a vontade e plano do reino de Deus. Enquanto existirem as tantas injustiças e dominações das pessoas sobre elas próprias, podemos dizer que está ausente e, ao mesmo tempo, há a necessidade do Reino de Deus. Quando há partilha, doação, fraternidade e a caridade entre as pessoas e para as pessoas, haverá um sinal concreto de que o reino de Deus está acontecendo já neste mundo.

Que a Eucaristia nos alimente na busca da construção do Reino de Jesus sobre o mundo e que a Palavra nos oriente na realização de nosso ministério como discípulos missionários na busca de contribuir e concretizar a Igreja como ambiente de expressão do reinado santo de Deus. Encerremos esta reflexão rezando alguns versículos do salmo responsorial desta liturgia: “Quanta alegria e quando ouvi que me disseram: vamos à casa do Senhor… A sede da justiça lá está e o trono de Davi.” Amém.

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[1] Cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum – Ano B – São Marcos. Brasília, Edições CNBB, 2012.

 

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⇒ POESIA ⇐

Um Rei que nos quer no seu trono

 

Olho para ti Senhor,
Entregando-se na Cruz em liberdade,
Sendo em nossas dores solidariedade,
E vejo o teu amor se derramar por nós,
Querendo que ao seu trono cheguemos,
E por isso com medo não fiquemos,
Por que caminhamos perto de Vós.

Olho para ti Senhor,
Reconhecendo tua justiça e teu perdão,
Ansiando teu presente, à salvação,
Como aquele ladrão suplicando ao teu lado,
Levaste à Glória aquele que se compadeceu,
Porque tuas palavras no coração ele acolheu,
E por isso foi participar do teu santo reinado.

Olho para Ti, Senhor,
Caminhamos tanto, mas precisamos aprender,
Que o teu Reino ainda está a estabelecer,
Porque nos desviamos do teu caminho,
E assim precisamos muito pedir-te perdão,
E reconhecer que teu amor é imensidão,
E que não nos salvamos nunca sozinhos.

Olho para Ti, Senhor,
Neste trono, braços abertos para todas as nações,
Quer reinar fortemente em nossos corações,
E vejo o teu trono, acima do nosso olhar,
Quer nos conduzir ao “hoje” do teu paraíso,
Apenas o nosso querer e pedido é preciso,
Para nos conduzir a teu santo lugar.

Olho para Ti, Senhor,
Vejo o poder que vem do teu infinito amor,
O teu corpo que é alimento salvador,
Peço-te que nos ensine o teu jeito de reinar,
Tua palavra nos ensina por onde prosseguir,
Teu reinado é somente amar e servir,
E nada mais que se possa acrescentar.

Olho para Ti, Senhor,
E penso quando nos encontrar em fraternidade,
Quando o nosso apostolado se faz na caridade,
E assim vejo que teu Reino em nosso meio já está,
E a paz é em definitivo anunciada,
Nossa vida em comunhão concretizada,
Tendo em nós a certeza que tu nos salvará.

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*** Que a Palavra e a Luz de Cristo, Rei do Universo, ilumine o seu caminho ***

 

 

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Ml 3,19-20a; Sl 97(98); 2Ts 3,7-12; Lc 21,5-19

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Nossa fé e esperança se sustentam na Palavra de Deus e na Eucaristia

Lc 21,5-19

 

A caminhada litúrgica do Ano C está chegando ao seu término e nós, os cristãos, continuamos a caminhada, aguardando o novo ano, orientados pela Palavra de Deus e alimentandos pela Eucaristia, que nos sustenta na fé e na esperança. O 33º domingo do tempo comum nos apresenta, na liturgia da Palavra, Jesus orientando-nos e tornando-nos discípulos conscientes sobre as consequências da missão. Muitas são as realidades e acontecimentos que vão surgindo no mundo, muitas são as ameaças aos que creem e muitas são as vidas oferecidas para que o Reino de Deus seja anunciado.

Não devemos imaginar a missão e a experiência cristã como algo tranquilo e acomodado, vivenciada na zona de conforto das nossas vidas. O Senhor nos alertou sobre o que aconteceria aos que seguissem o seu caminho, porém podemos ter certeza que Ele também não nos decepciona quando nos promete a vida nova e eterna na sua glória.

Jesus se dirige aos que o acompanham, seus discípulos, e diz: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21,9). Jesus se refere ao templo material, que é perecível, fala sobre os sinais, os combates e os falsos mensageiros que aparecerão para pregar outras doutrinas.

Os que seguem o Senhor e anunciam a sua Palavra serão agraciados com sua proteção e, portanto, não deverão temer o julgamento porque Ele o fará com justiça como nos fala o salmista: “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará. Logo seu julgamento será temido pelos que não a abraçam.” (Sl 97/98)

Muitos se deixam enganar, exatamente, porque ouvem mais o que falam de Jesus, do que fala o próprio Jesus ou, ainda, não estão conscientes do caminho que o Senhor da vida verdadeira nos apresenta. Por isso é importante escutar a Palavra e ruminá-la constantemente. Faz-se necessário, ainda, ao cristão exercitar a paciência e perseverança, dimensões esquecidas nos tempos pós-modernos, porém de suma importância para se construir um alicerce mais consistente e firme da fé, da esperança e da caridade (cf. Lc 21,19).

Quando nos engajamos no seguimento de Jesus, que é Mestre, Senhor e Deus, devemos seguir firmemente sem temer as perseguições e as provações, internas e externas. Às vezes situações muitos simples e até naturais da vida nos afetam facilmente porque não temos bem claro o caminho que fazemos e não desenvolvemos a confiança verdadeira em Deus, que é um Pai atento às necessidades de seus filhos e dará o que é bom aos que pedirem (cf. Mt 7,11) e dará também o Espírito Santo (cf. Lc 11,13). Por isso devemos nos alimentar sempre da Palavra e da Eucaristia, pois são a presença e a força de Cristo ressuscitado em nós.

Como discípulos e missionários de Cristo precisamos confiar e nos entregarmos ao seu caminho. Devemos ser caminheiros incansáveis, corajosos sem medo de enfrentar os combates que se apresentam a nossa frente. Como falou Jesus: “E eles matarão alguns de vós. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,16b.18-19). Confiar nesta promessa de Jesus nos fará fortes discípulos, fortes missionários e autênticos profetas. Se anunciarmos as verdades do Evangelho, de uma forma ou de outra, virão as perseguições e provações, mas devemos ter a certeza de que ser cristão é também muito bom e gratificante, porque estamos a serviço do Senhor que nos apresenta e nos assegura a vida verdadeira na sua glória.

Caminhemos firmes e fortes como verdadeiros discípulos, sem ociosidade, sem comodismos, porque São Paulo nos alerta sobre esta questão na 2ª leitura: “Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada.” (2Ts 3,11). Os discípulos e missionários estão sempre a serviço do Reino, também trabalhando para a manutenção do seu sustento e de sua família. O apóstolo quer aqui ressaltar a dignidade do trabalho humano que é necessário para a vida.

Que neste penúltimo domingo do ano litúrgico possamos fazer uma avaliação da nossa caminhada com o Senhor, relacionado ao nosso discipulado, exercido na comunidade em que estamos inseridos, à nossa experiência na Palavra, que nos orientou e nos orienta, à participação na Eucaristia, que nos fortalece na busca da santidade e no nosso convívio com os irmãos e as irmãs. Podemos ainda avaliar o nosso anúncio: será que fomos anunciadores do Reino no nosso trabalho, no convívio social e nos nossos contatos gratuitos com as pessoas nas diversas dimensões sociais em que estamos inseridos? Rezemos sobre estes questionamentos e vejamos aonde chegamos. Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Vivos e fortes em Cristo

 

Somos fortes e vencedores,
Quando alimentados pela certeza,
De que em Cristo temos a fortaleza,
Para continuar sem medo de desistir,
Mantendo a fé no caminho a seguir,
Como fiéis de Cristo ao redor da mesa.

Acreditar na vida como um presente,
É nosso destino, é a eternidade,
Continuamos vivendo a gratuidade,
Que depende de nós para chegar,
Basta uma qualidade de fé cultivar,
E abraçar o espírito de fraternidade.

É preciso o alimento forte receber,
Para não desmoronar em frente ao tentador,
Pois com o Ressuscitado não há temor,
Porque ele, a vida nova veio nos dar,
E o seu reino eterno, nos presentear,
Para todos os que querem o seu amor.

Somos fortes também na comunidade,
Quando unidos vivemos a unidade,
Ouvindo a Palavra na fraternidade,
Como o povo de Deus a se encontrar,
Para neste encontro junto comungar,
E vivermos o sonho da eternidade.

Que ao redor da mesa do Senhor,
Possamos proclamar com convicção,
Quando do corpo que era pão,
Anunciar que a morte foi vencida,
E que acreditamos na nova vida,
Que recebemos por graça e doação.

Animando os nossos corações,
E confirmando a nossa boa ação,
Ficando cada vez mais em oração,
Para que a Palavra seja anunciada,
E que seja sempre confirmada
Que a Vida de Cristo, em nós, é redenção.

 

*** Que a Palavra e a Luz do nosso Mestre e Senhor ilumine o seu caminho ***

 

 

XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: 2Mc 7,1-2.9-14; Sl 16(17); 2Ts 2,16-3,5; Lc 20,27-38

 

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⇒ HOMILIA ⇐

O Senhor ressuscitado é a nossa certeza da ressurreição

Lc 20,27-38

 

A liturgia deste 32º Domingo do Tempo Comum nos apresenta Jesus sendo interrogado pelos saduceus, os quais negavam a ressurreição dos mortos, pois, para eles, a vida era um momento de estágio no tempo terreno. Estes detinham o poder político, econômico e religioso, eram os colaboradores diretos do Império romano, sendo, portanto, maioria no sinédrio*. Por esse motivo era uma turma influente, querendo impor suas posições sobre Jesus e seu grupo.

A pergunta dos saduceus foi irônica, pois eles queriam colocar Jesus numa situação de contradição e por isso inventam a história da mulher viúva que teve vários maridos. Eles citam a lei do levirato (cf. Dt 25,5-6) que obrigava o irmão de um marido defunto sem descendência, se casar com a viúva. E a pergunta foi: se a mulher ficar viúva várias vezes e casar novamente, quando ela morrer, na ressurreição, ela será esposa de quem? (cf. Lc 20,27-33).

Jesus responde que na vida eterna não seremos como neste mundo, pois seremos como anjos, os quais já estão em outra realidade não mais limitada ao campo biológico, não seremos mais dependentes de heranças materiais e descendências humanas. Seremos filhos transformados para uma vida nova quando já contemplaremos a face santa de Deus.

O tema central desta liturgia, portanto, é a fé na ressurreição e na vida eterna. No AT, temos o exemplo de que pessoas que acreditava na ressurreição. No segundo livro de Macabeus, narra-se a história de uma família judaica (os irmãos macabeus) o qual vive o martírio por manter firmemente a fé na ressurreição dos mortos (cf. 2Mc 7,1-2.9-14).

Os discípulos do Filho de Deus caminham neste mundo alimentado pela esperança numa vida nova e na perspectiva de um dia encontrar-se com Deus, numa realidade que chamamos de visão beatífica, por isso seremos iguais a anjos (cf. Lc 20,36).

Esta fé e esta esperança, que proclamamos a cada domingo na celebração eucarística quando rezamos o Credo. Afirmamos que cremos em Jesus Cristo, que passou pela paixão, morreu e ressuscitou ao terceiro dia. Professamos esta fé e caminhamos na certeza de que Cristo irá nos chamar a uma vida nova, por que ele venceu a realidade da vida velha marcada pelo pecado e pela corrupção da carne.

Também após a consagração do Corpo e do Sangue do Senhor quando o sacerdote apresenta a ceia como mistério da fé, nós respondemos: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos Senhor, à Vossa morte, enquanto esperamos vossa vinda”.

A sagrada Eucaristia alimenta a nossa certeza e também o nosso anúncio não somente na ressurreição, mas também na morte do Senhor, porque esta morte é o sinal de que Deus, na encarnação do verbo, nos visitou na nossa natureza humana para nos santificar e nos salvar.

Quando carregamos esta convicção da vida nova e eterna em Cristo, já não temos mais medo, já não tememos as ameaças que nos rodeiam. Por isso que muitos derramaram e derramam o seu sangue, mantendo esta certeza, pregando e acreditando naquilo que Cristo anunciou e viveu. Quando somos sal e luz do mundo, somos como um braço de Deus construindo o seu Reino no meio do mundo sem medo e com esperança.

Quando nos alimentamos da Palavra e da Eucaristia com fé verdadeira, não ficamos livres dos sofrimentos e provações, porém, vencemos as tentações e os desafios que chegam à nossa frente. Neste sentido caminhamos cheios de esperança e alegria mesmo carregando a cruz nos nossos compromissos e atribuições cotidianas, as quais Deus permite aparecer em nossa vida.

Que possamos cultivar a espiritualidade da esperança firme na ressurreição e na vida eterna, carregando em nosso corpo e no nosso coração, mesmo como vasos de barro, pois temos a Palavra que nos orienta e o Corpo do Senhor que nos alimenta e nos santifica. Que possamos seguir o conselho de São Paulo na sua segunda carta aos Tessalonicenses: “Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo” (2Ts 3,5).

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* Cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II – Ano C – São Lucas. Brasília, Edições CNBB, 2013, pág. 96.

 

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⇒ POESIA ⇐

Dignos da mesa do Senhor

 

Somos forte e vencedores,
Quando alimentados pela certeza,
De que em Cristo temos a fortaleza,
Para continuar sem medo de desistir,
Mantendo a fé no caminho a seguir,
Como fiéis de Cristo ao redor da mesa.

Acreditar na vida como um presente,
É nosso destino, é a eternidade,
Continuamos vivendo a gratuidade,
Que depende de nós para chegar,
Basta uma qualidade de fé cultivar,
E abraçar o espírito de fraternidade.

É preciso o alimento forte receber,
Para não desmoronar em frente ao tentador,
Pois com o ressuscitado não há temor,
Porque ele, a vida nos presenteou,
E o seu reino eterno nos apresentou,
Para todos os que querem o seu amor.

Somos forte também na comunidade,
Quando unidos vivemos a unidade,
Ouvindo a Palavra na fraternidade,
Como o povo de Deus a se encontrar,
Para nesse encontro junto comungar,
E vivermos o sonho da eternidade.

Que ao redor da mesa do Senhor,
Possamos proclamar com convicção,
Quando do corpo que era pão,
Anunciar que a morte foi vencida,
E que acreditamos na nova vida,
Que recebemos por graça e doação.

Animando os nossos corações,
E confirmando a nossa boa ação,
Ficando cada vez mais em oração,
Para que a Palavra seja anunciada,
E que seja sempre confirmada
Que a Vida de Cristo, em nós, é redenção.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Mestre (Rabí) ilumine o seu caminho ***

 

 

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

 

Leituras: Ap 7,2-4.9-14; Sl 23(24); 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12a

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⇒ HOMILIA ⇐

Bem-aventurados são os que procuram o Senhor

Mt 5,1-12a

 

Celebramos neste domingo a solenidade de Todos os Santos. O Evangelho de Mateus (cf. 5,1-12), nos apresenta Jesus que, vendo as multidões, sobe à montanha e senta para proclamar as bem-aventuranças aos seus discípulos. É bom lembrarmos que a montanha na realidade do Antigo Testamento e dos judeus é o lugar da manifestação de Deus. Na montanha, Deus fala com Moisés e lhe entrega o decálogo, ou seja, a Lei para que o povo siga e busque prosseguir na caminhada com o Senhor, rumo à libertação.

As bem-aventuranças nos ensina que, primeiramente, a santidade nos pede que sejamos discípulos de Cristo, na simplicidade, na humildade, com o pé no chão da vida e, sobretudo, no olhar atento às diversas situações do mundo, sejam elas econômicas, políticas, sociais ou religiosas. Sendo discípulo de olho no mundo, faz-se necessário a nossa mansidão, a nossa fome de amor, a nossa sede de justiça e a nossa preocupação com a paz entre as nações.

Podemos nos perguntar: o que tem a ver comigo os conflitos no oriente médio? A violência nas cidades e no campo? A intolerância religiosa nos diversos recantos do mundo? Ser santo é estar atento a tudo isso.

Jesus ainda apresenta uma última bem-aventurança e desta vez mais exigente do que simplesmente estar atento às realidades humanas do mundo: serão bem-aventurados (felizes) os que forem perseguidos por causa da justiça, também serão bem-aventurados os que forem injuriados e caluniados por causa de Jesus (cf. Mt 5,10-12). A busca pela justiça e a experiência das consequências desta busca nos fará santos e nos levará aos Céus.

Finalmente não podemos esquecer que a vivência da santidade deve ser testemunhada no aqui-agora. Devemos ser mansos, justos, puros de coração, promotores da paz no grupo onde participamos, no nosso ciclo de trabalho, nas relações sociais e no nosso lar. Pois é na família, no meio dos filhos, irmãos, cônjuges, amigos, que precisa-se de santos e santas. No meio dos ministros ordenados e religiosos, na missão cristã de cada dia, precisa-se de santos e santos.

Santos e santas, pessoas que sejam sal, luz e fermento na massa, para aumentar cada vez mais a multidão dos bem-aventurados. Santos e santas que leiam e vivam a Palavra, que rezem e que sejam livres nos caminhos do Senhor e que façam o bem a todos em vista de um Reino de Amor e Paz.

Portanto, é sendo santos que podemos nos “juntar a multidão imensa de gente de todas as nações, tribos povos e línguas, incontáveis” (Ap 7,9), como nos fala são João na primeira leitura. Esta busca de santidade deve ser sempre no Senhor, como discípulos missionários. Assim podemos citar também o final da segunda leitura: “Todo o que espera nele purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1Jo,3,3). E concluímos com o refrão do salmo desta liturgia: “É assim a geração dos que procuram o Senhor” (Sl 23/24). Sejamos, no meio do mundo, esta geração que procura o Senhor e que semeia o Evangelho para a santidade e salvação de todos. Amém.

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Quem é santo…

 

Para buscar e viver a santidade
Deve-se trilhar nos caminhos do Senhor,
Estar atento a Bíblia Sagrada,
Ser manso, justo e ter muito amor.
Deve-se viver as bem-aventuranças
Que Jesus nos deu como herança,
Que é centro do seu plano salvador.

A santidade não é coisa qualquer
Que a gente possa imaginar,
É caminhar no chão concreto da vida,
Não ter medo do que se possa encontrar,
Pois ser santo tem suas consequências,
Muitas vezes precisa-se paciência,
Para no caminho não desanimar.

No início da história dos cristãos,
Ser santo implicava muita ousadia,
Muitas vezes implicava ser devorado pelas feras,
Ou ser colocado em grelha com brasas que ardia,
Mas o santo em sua enorme dor,
Ainda carregava o senso de humor,
Quando o fogo em chama lhe consumia.

O ser santo é sempre destinado
Para toda pessoa que quiser,
Mas para isso é preciso requisito,
Pois, não se santifica de um jeito qualquer,
Pra isso é preciso ter vocação,
Não viver na fantasia e na ilusão,
Mas é possível para homem quanto para a mulher.

Tem que ter um coração de amor,
Ter muita paz e muita alegria,
Mesmo diante das tantas misérias,
Fazer da noite às vezes o dia,
Ser bondoso e de muita caridade,
Promover a paz e a unidade,
Onde há muitas vezes má sintonia.

Às vezes é também ser ignorado,
Não ser reconhecido ainda em vida,
Pois ser santo exige além do presente,
Vivendo o amor e uma paz refletida,
Carregar um coração aberto às ações divinas,
Acreditar noutra vida que não termina,
E em Jesus apostar o caminho e a lida.

Muitos viveram radicalmente a castidade,
Entregaram sua vida totalmente,
Sem de nada ter nem um apego,
Carregavam no corpo e em sua mente
Um coração entregue somente ao Senhor,
Vivendo o trabalho na oração e no amor,
Vivendo no serviço às pessoas carentes.

Temos também que reconhecer
Que santos não são somente os do altar,
Temos tantos santos que não os conhecemos,
Por isso é preciso acreditar,
Que santo são todos os bem-aventurados,
Que viveram ou vivem o amor ao Bem-Amado,
Na esperança no céu e com Jesus morar.

*** Que a Palavra e a Luz do nosso Mestre e Senhor ilumine o seu caminho ***

 

 

XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Eclo 35,15b-17.20-22a; Sl 34(33); 2Tm 4,6-8.16-18; Lc 18,9-14

(1) O Deus de Jacó e de Moisés jamais despreza a prece do pobre. (cf. Eclo 35,17). Imagem: extrato de “A criação de Adão” (1508-1515), por Michelangelo. (2) “O fariseu e o publicano” (1886-1894), por J. Tissot.

 

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⇒ HOMILIA ⇐

O modelo de oração

Lc 18,9-14

 

A liturgia deste 30º Domingo do Tempo Comum retoma o tema da oração e nos apresenta duas posturas diante de Deus com relação à prática do homem orante. No domingo passado, o Senhor nos falou da necessidade de rezar sempre sem nunca desistir (cf. Lc 18,1). Na liturgia de hoje ele nos apresenta dois modelos de oração para nos ensinar que o centro da oração não somos nós mesmos, mas, da parte de Deus, a gratuidade e a misericórdia e, da nossa parte, a humildade.

Neste sentido, mesmo cumprindo todos os mandamentos, jejuando duas vezes por semana, participando diariamente da missa, rezando o Terço e as novenas todos os dias, fazendo momentos de adoração e louvor, não podemos nos colocar na posição e no direito de julgar o outro, dizendo: não somos como os outros homens… (cf. Lc 18,11).

Jesus não está pedindo que deixemos nossas práticas espirituais e nem está elogiando os que não vivem a vida cristã e por isso levam uma vida incoerente com os critérios de honestidade e moralidade. Ele quer nos mostrar que o centro da oração deve ser sempre Deus, com sua misericórdia e não as culpas do outro e, ao mesmo tempo, o nosso autoelogio.

Deus nos ensina sobre a nossa oração humilde, como nos fala o Eclesiástico: A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha e faça justiça aos justos e execute o julgamento” (Eclo 35,21-22).

Devemos refletir que, mesmo quando somos fiéis aos nossos compromissos cristãos e às nossas práticas orantes, continuamos pecadores e necessitados da misericórdia de Deus. Será que muitas vezes nos comportamos como aquele fariseu citado no evangelho desta liturgia? Considerando-nos os mais responsáveis, os mais corretos, honestos e cumpridores das leis da Igreja e dizemos que não somos como os aqueles outros…

Ter uma vida correta moralmente e religiosamente é nosso deve, pois somos chamados pelo batismo a ser sal e luz do mundo. O mundo precisa da nossa presença com uma vida reta, que tem sentido e que pode ajudar os outros a caminharem em direção à vivência da Palavra, no cultivo da justiça, do amor e da paz.

A postura do fariseu nos lembra o início das nossas celebrações, quando somos convidados a fazer um exame de consciência para dignamente ouvirmos a Palavra e nos alimentarmos do corpo e sangue do Senhor. Neste constante olhar sobre nós, numa postura e espírito de humildade, vamos crescendo na experiência do amor misericordioso de Deus. Nesta vida de humildade, de não julgamento dos outros, de escuta do Senhor e de confiança, está a nossa verdadeira oração.

Será nossa felicidade e nossa graça chegarmos ao final da nossa caminhada terrestre e dizermos como são Paulo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa.” (2Tm 4,7-8).

Peçamos a luz do Espírito Santo, para que ilumine nossas ações na vida cotidiana e nos momentos em que celebramos a sua Palavra e comungamos de seu corpo, para não sermos incoerentes com o que falamos diante do Senhor. Que sejamos revestidos da confiança em Deus e da nossa humildade de filhos dEle e, nEle, irmãos de todos os homens. Aos que se encontram numa vida fora do caminho do Senhor, rezemos para que possam também voltar-se para Ele e recomeçar com uma vida nova, pela fé no amor e na divina misericórdia.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Dignos da mesa do Senhor

 

Deixemos que o Senhor
Ensine-nos a rezar,
Com sua Santa Palavra,
Que ensina e que encanta,
Que anima a nossa vida,
Nas chegadas e partidas,
Com sua força sem cessar.

Deixemos que o Senhor
Abra o nosso coração,
Com a força do seu amor,
Com o seu forte fervor,
Fazendo-nos perseverar,
Nossa vida a iluminar,
Em profunda oração.

Façamos com o Senhor
Nossa forte oração,
Sem medo, sem desanimar,
Sempre e sempre a caminhar,
Na vida missionária,
Na vida também solidária,
Com e para os irmãos.

Fiquemos com o Senhor
A cada passo realizando,
Numa presença constante,
Caminheiro e caminhante,
Amigos em sinceridade,
Diálogo de lealdade,
Sempre, sempre retomando.

Sejamos com o Senhor,
Discípulos perseverantes,
Caminhando na esperança,
Em oração de confiança,
Nos braços do Deus amado,
Entregues e em nada reservados,
Totalmente confiantes.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Mestre (Rabí) ilumine o seu caminho ***

 

 

SOLENIDADE DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

 

Leituras: Ap 11,19a;12,1-6a.10ab; Sl 44(45); 1Cor 15,20-26.27a; Lc 1,39-56

 

“A visitação”, por J. Tissot (1836-1902)

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Em Maria e Isabel, o encontro da profecia e da salvação

Lc 1,39-56

 

Celebramos neste domingo a solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao Céu. Foi ela quem viveu primeiramente a fé e o serviço a Cristo e, por isso, a primeira a participar, de corpo e alma, da redenção e da glorificação ao Céu.

A Assunção de Nossa Senhora é uma verdade de fé (dogma), proclamada pela Igreja de forma irreversível. Este dogma sobre Nossa Senhora é o mais recente, entre os quatro. Foi o Papa Pio XII que, em 1º de novembro de 1950, através da constituição apostólica Munificentissimus Deus[1], a proclamou assunta à glória celeste, de corpo e alma. Os outros três dogmas são: Maternidade Divina, Imaculada Conceição e Virgindade Perpétua.

Quanto à liturgia da Palavra, o Evangelho segundo Lucas (cf. 1,39-56) nos apresenta Maria realizando a caminhada da sua fé rumo à casa de Isabel para uma visita. Maria segue pelo longo percurso de 150 km, rumo a Judeia, caminha, por entre as montanhas, para levar a caridade e a alegria à sua prima. Ao abraçar o chamado de Deus, torna-se sacrário vivo do Senhor. Maria seguirá a sua peregrinação, grávida do Salvador e vazia dos seus desejos e interesses pessoais, como todos aqueles que também abraçam o chamado do Senhor e decidem crescer na resposta de fé, pois todos aqueles que estão cheios de Deus vivem a mesma atitude de amor e de doação.

Maria, na sua caminhada, não se doa de forma lenta e desinteressada, mas às pressas, quase correndo, por que a salvação está próxima e, por isso, faz-se necessário anunciar a promessa que Deus fez aos profetas. Pois há outra grávida (Isabel), que traz em seu ventre a profecia (João Batista), que preparará os caminhos do Enviado para que os homens o acolham, sejam curados, chamados e redimidos pelo sangue do Cordeiro.

Maria é a imagem perfeita da Igreja, casa que acolhe o Verbo de Deus, a Palavra do Senhor, que proclama e deve ser repleta do Espírito Santo, recebendo a missão de anunciar a salvação a todos os homens. A Igreja, que é o corpo místico de Cristo, também sacrário Santo e vínculo de amor entre os irmãos, é meio de salvação para todos que dela se aproxima para escutar e se alimentar do Senhor, será purificada pele fé e glorificada na dimensão celestial.

É ela a mulher “vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12,1). Por que tem no seu ventre o poder da vida que vence o dragão da morte e devolve a vida verdadeira a todos os que acolhem os valores do Reino e querem a redenção e desejam participar da glória de Deus.

A assunção de Nossa Senhora, portanto, já nos indica a certeza da nossa ressurreição em Cristo e nos apresenta os caminhos que deveremos trilhar para chegarmos aonde ela chegou. São Paulo nos diz que “Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram” (1Cor 15,20). Deus antecipa a Maria à graça da ressurreição e da glorificação, ela é a primeira cristã entre os que seguiram e seguem o Senhor. Por isso podemos chamá-la de Nossa Senhora da Glória, pois ela é a Rainha que se encontra à direita do Rei, com o esplendor da sua beleza e de sua santidade, assim como cantamos no salmo responsorial desta liturgia (cf. Sl 44/45).

Para que vivamos um testemunho coerente do ser cristão, precisamos olhar para Maria, num duplo movimento concomitante: interiorizando e praticando as virtudes de Maria nas simples atitudes de cada dia. Em primeiro lugar estarmos atentos ao que Deus nos fala e nos pede; vivermos a todo o momento a obediência à Palavra do Senhor; não desviarmos a nossa atenção às diversas situações do mundo, principalmente no que se refere a todos os sofredores, e, por fim, nos esvaziarmos do nosso egoísmo e individualismo para nos encher da graça de Deus.

Rezemos neste 3º domingo do mês vocacional, quando a Igreja lembra de todos os religiosos e as religiosas como discípulos missionários chamados e enviados para a Evangelização no mundo. Para que todos os homens e mulheres que se consagraram a serviço do Reino de forma radical, possam aprender de Maria sobre a escuta da Palavra, a obediência ao chamado, a vivência da castidade, o olhar atento às realidades do mundo, o anúncio do Reino de Deus e a contemplação frutífera, através da oração perseverante.

*****

[1] Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus.html>.

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⇒ POESIA ⇐

A primeira crente da Nova Aliança

Aberta à voz de Deus e ao seu chamado,
Grávida, a serviço da vida e da esperança,
Lá vai a caminheira para a santa missão,
Como primeira crente da nova Aliança.

Vai pelas montanhas entre o vento e a poeira,
Motivada pelo amor e levando a força da redenção,
Visita a sua prima Isabel, com gratuidade fraterna,
Levando um cântico de alegria, profecia e libertação.

Sua alma é engrandecida pelo amor supremo,
Pois a alegria é plena do Espírito Divino,
Porque o mundo a chamará Senhora Bendita,
Porque da sua boca nasce o anúncio, por um belo hino.

És glorificada no Céu de corpo e alma,
Porque em Cristo és mãe e santificada,
Por isso o nosso culto a ti elevamos felizes,
Porque és a primeira cristã de vitória alcançada.

Rogai por nós, nos vales dos nossos sofrimentos,
Mãe da profecia e cheia do belo cantar de amor,
Ensina-nos a sermos vazios de nós e cheios da Graça,
Como servos atentos e santos de Nosso Senhor.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho ***

 

 

 

 

XXIV DOMINGO DO TEMPO COMUM

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 50,5-9a; Sl 114(115); Tg 2,1-5; Mc 7,31-37

 

POESIA

QUEM ÉS TU SENHOR?

Quem és tu o meu Senhor?
Que me chama pra te seguir.
Que me trata como amigo…
Que me é sincero e não me enganas,
Pro seu caminho assumir.

És Pão e Palavra que vem do alto,
Alimento dos que estão unidos,
Dos que sonham sempre juntos,
Dos que caminham na tua escuta.
Dos que procuram abrigo.

Tens palavras de vida eterna,
Mas também palavras duras.
A teus discípulos é exigente,
Porque é um mestre diferente,
E com amor nos segura.

Pra te seguir conscientes,
As consequências teremos,
O teu mandato é exigente.
Tem cruz e humilhações,
Mas a vida encontraremos.

O que fazer então, ó Senhor?
Para te responder coerente,
A verdade do meu coração,
Que ainda te desconhece,
Como age tanta gente.

Somente continuar te seguindo,
No teu caminho de ensinamento,
Nas tuas perguntas curtas,
Que me incomodam, mas limpa
Todo o meu entendimento.

 

HOMILIA

A Palavra de vida eterna em nosso caminho

O Senhor nos ensina, durante nossa caminhada com ele, a sermos conscientes das consequências da nossa opção de discípulos. É o que nos faz refletir a liturgia deste 24º domingo do tempo comum.

A intenção da Igreja é que os cristãos busquem, cada vez mais nesta fonte viva da Palavra, o maior conhecimento de Jesus e do projeto do seu Reino. Conscientes do chamado do Senhor, devemos anunciar a todos o amor misericordioso do Ressuscitado, que vem recriar o homem para a contemplação eterna do mistério Santo.

No Evangelho deste domingo, no capítulo 8 de Marcos, podemos contemplar Jesus em caminhada com seus discípulos para Cesareia de Felipe. Ele faz uma pesquisa sobre a sua identidade, com uma única e simples pergunta: “quem dizeis que eu sou?” (v. 29). Parece que, para alguns, não estava tão claro quem era ele. A resposta de Pedro salva da decepção dos outros: “Tu és o Messias” (v. 29). Porém, logo depois o decepciona, pois a visão de Pedro ainda é puramente humana, arraigada na concepção dos mestres e doutores da lei (cf. v. 32), quando Jesus o repreende por não entender o novo messianismo (cf. v. 33).

O próprio Jesus fará imediatamente a correção da visão de Pedro, pois este ainda não pensa nas coisas de Deus, mas sim na realidade dos homens, na superficialidade terrena. Por isso Jesus não autoriza que saiam falando sobre suas obras, pois ainda não tinham conhecimento da verdadeira missão de Jesus e das suas consequências.

O texto proclamado nesta liturgia dominical encerra com as palavras de Jesus aos discípulos e à multidão: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga.” (v. 34). Seguir não quer dizer honrarias, fama e status. Abraçar a missão do servo de Deus implica muitas vezes fracassos, humilhações, dores e morte. Quem estava preparado para este projeto aparentemente fracassado aos olhos humanos e terrenos?

Jesus passará pela realidade anunciada na primeira leitura, quando Isaías fala do servo de Javé: “Ofereci as costas para me baterem e as faces para me arrancarem a barba...” (v. 6). As palavras de Jesus no Evangelho são o primeiro anúncio da sua Paixão. Nele se cumprirá o que o profeta Isaías anunciou na primeira leitura desta liturgia. Cristo é o servo sofredor que, por sua vez, vencerá a morte e trará a salvação para todos os homens.

Caminhar com Jesus, portanto, exige a prática do seguimento, como fala São Tiago, na segunda leitura. A fé sem obras é morta (cf. v. 17). Implica unir a fé como uma certeza e convicção da ação de Deus e, ao mesmo tempo, viver a obra do amor e do seguimento.

Assim sendo, para ser cristão o primeiro requisito é saber quem é Jesus. Este saber exige o conhecimento do seu projeto, do seu plano de amor, da postura diante do mundo e suas realidades adversas e, sobretudo, a coragem de carregar a cruz das incompreensões, das calúnias e do próprio martírio.

Seguir Jesus é defender a vida concretamente e isso acontece quando somos contra o aborto, quando não aceitamos a eutanásia, quando ajudamos os necessitados sendo solidários com o sofrimento e procurando saídas para que vençam o desemprego e o abandono. Eis o desafio dos que seguem Cristo. Tudo isso, muitas vezes, exige uma postura desconfortável diante da sociedade, pois é a ação que Jesus nos pede e não uma fuga do outro para ficar com a consciência tranquila. Pelo contrário é um encontrar-se com o outro e preocupar-se com ele sendo capaz de desmontar num itinerário que possamos servir e cuidar do irmão caído, como Cireneu e o Bom Samaritano.

Somente entenderemos o sentido verdadeiro da cruz e do seu discipulado quando soubermos quem é Jesus. Segui-Lo é antes de tudo abraçar a cruz, pois, como disse o Papa Francisco não há cristianismo sem cruz[1]. E conhecer Jesus é viver a fé expressa nas obras, ou seja, na nossa ação verdadeira sem fingimentos e falsidades. Isso será possível quando tivermos uma constante leitura e meditação da Palavra. É nessa busca que poderemos cantar como no salmo responsorial desta liturgia: “Andarei na presença de Deus, junto a Ele, na terra dos vivos.” Amém!

[1] Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2014/documents/papa-francesco_20140408_meditazioni-47.html>. Acesso em: 12 set. 2015.

CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 52,13-53,12; Sl 30 (Refrão: Lc 23,46); Hb 4,14-16;5,7-9; Jo 18,1-19,42

POESIA

A ÁRVORE DA VIDA NOVA

Ó Cruz libertadora,
Que Cristo a subiu por amor,
Para nos trazer a vida,
Mesmo aos tormentos e na dor,
Sinal da entrega total,
Matando a morte afinal,
Pra ser o nosso Salvador.

Cordeiro que se entregou,
Ao sacrifício livremente,
No silêncio e na firmeza,
Em favor de sua gente,
Fez de si santa comida,
Como também a bebida,
Que se dá agora e sempre.

Essa cruz também se estende,
Aos irmãos, aos sofredores,
Que também carregam o fardo,
Expressos em suas dores,
Os sem voz e oprimidos,
Aos tristes e deprimidos,
Que vivem os seus temores.

No silêncio da Cruz de Cristo,
Se une aos abandonados,
Às famílias em desalento,
Aos tantos desempregados,
Aos reféns dos tantos conflitos,
Aos peregrinos aflitos,
E aos irmãos refugiados.

Que a Cruz de nosso Senhor,
A sua santa Paixão,
Faça-nos a Igreja viva,
Fundada na Comunhão,
E que o seu Corpo Santo,
Faça-nos enxugar o pranto,
E nos dê consolação.

 

HOMILIA

A Páscoa de Cristo na Cruz

Em silêncio e de joelhos, iniciamos a celebração da Paixão do Senhor, a sua segunda Páscoa, dentro do mistério da redenção. Todo o momento desta liturgia é realizado na mais absoluta reverência e clima de meditação da palavra, da contemplação da Cruz. Da cruz a qual Jesus subiu e a tornou o trono do seu reinado para a nossa salvação. Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado por entrega total e livremente.

No Jardim das Oliveiras, Jesus foi entregue aos inimigos para viver a sua Paixão e morte e nos resgatar para a vida nova. O Jardim é simbólico. Lá o homem (Adão) desobedeceu a Deus e quis ser igual a Ele. No Jardim Jesus foi obediente ao Pai pela nossa Salvação. A maioria de seus discípulos fugiram, pois esperavam um rei poderoso segundo as expectativas humanas. Pilatos se acovardou por medo da popularidade de Jesus. Por medo de perder seu poder diante do Império Romano.

O Reino de Cristo não é deste mundo, mas do alto e do Pai. Esse reino não tem critérios humanos, não tem interesses de poderes terrenos e de ambições de poder e opressão contra os pobres, os sem vez e sem voz. Jesus sim, esteve a todo tempo ao lado dos necessitados de saúde, de acolhimento, de perdão e de libertação. Tudo isso levou Jesus a ser condenado pelos poderes do mundo.

Ontem, no lava-pés, Jesus nos deu o exemplo do mandamento do amor e do serviço e nos pediu que fizéssemos o mesmo. Hoje recebemos o testemunho da entrega total, do esvaziamento pelo sofrimento limítrofe humanamente falando. “Embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,6-7). É com a natureza humana e santa que Cristo se entrega pela nossa salvação.

Nós somos chamados a viver a paixão de Cristo nos tornando solidários aos que sofrem vivendo a compaixão pela dor do outro e tentando amenizá-la. Somos convidados a valorizarmos a vida, a cada dia. Quantas vezes reclamamos por pouca coisa e queremos desistir de seguir em frente. Cristo no chama a caminharmos com ele em meio as glórias e carregando a cruz.

O Senhor se compadeceu de nossos pecados e sofrimentos. Ele é misericordioso quando erramos e quer que retornemos a dignidade de filhos e filhas. Quer que voltemos a sua casa, onde há o pão da Palavra e da Eucaristia e onde há a bebida que mata a nossa sede de paz e harmonia para sempre.

O salmo de hoje nos convida a refletirmos sobre a confiança no Senhor: “Pai em tuas mãos eu entrego o meu espírito”. O servo justo coloca toda a confiança em Deus que lhe dá força e não o abandona. Às vezes temos o sentimento de abandono, achamos que Deus nos abananou e não nos escuta. Mas Cristo nos ensina que devemos perseverar mesmo no sofrimento, mesmo quando somos caluniados em busca da nossa redenção.

Nós hoje estamos com Jesus vivendo a sua Páscoa na Cruz. Como Maria e o discípulo amado (João), estamos também aos pés da Cruz para dizermos que somos uma comunidade onde se abraça o sofrimento, não com masoquismo, mas sim com coragem e ao mesmo tempo, carregados de esperança e amor na vida nova que brota do coração de Cristo.

Reconhecemos que muitas vezes queremos desistir da Cruz, queremos mais glória, mais festas, mais apegos humanos, comodidades, e por isso temos medo do compromisso e das consequências do abraço à Cruz.

Nesta celebração vamos unir nossas preces em favor das realidades humanas, temporais e espirituais. Depois iremos acolher a Cruz como símbolo da vitória de Cristo. Em procissão reconheceremos que somos a Igreja que nasce do lado de Cristo no alto da Cruz. Pelas águas do Batismo somos unidos aos discípulos do Senhor.

Pela Eucaristia nos unimos como Igreja corpo que se torna comunhão mística que busca a redenção. Depois, em silêncio também sairemos para meditarmos em nossas casas, sobre a Paixão do Senhor. O Sábado deverá ser vivido no silêncio até o início da Vigília Pascal. Que o Senhor nos abençoe e nos dê a perseverança de vivermos santamente este Tríduo Pascal. Amém.

Missa Vespertina da Ceia do Senhor (2018)

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Ex 12,1-8.11-14; Sl 115; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15

POESIA

O AVENTAL DE CRISTO

Jesus que tanto amou o mundo,
E continua a nos amar,
Ensina-nos a servir aos outros,
Quando um avental quis usar,
Como o servo do amor,
Fez-se um Rei servidor,
A fim de nos libertar.

Abaixou-se a nossos pés,
Com a solidariedade,
Ensinou-nos a comungar,
Pra vivermos a unidade,
Pois comungar é servir,
No amor se consumir,
Por toda a humanidade.

Só comunga com o Senhor,
Aquele que quer servir,
Que veste o avental da entrega,
E segue sem desistir,
Que desce da prepotência,
Pra viver a benevolência,
E a voz do outro ouvir.

A Santa Eucaristia
É Jesus ressuscitado,
Ensinando-nos o serviço,
Para o necessitado,
É os pés do outro lavar,
E o amor testemunhar,
Com o coração doado.

Recordando a última ceia,
Hoje também partilhando,
Avental e lava pés,
E mesma fé professando,
Na comunhão e caridade,
No serviço e na irmandade,
Corpo e sangue comungando.

 

HOMILIA

O lava-pés e a Ceia do Senhor

O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor”. O refrão do salmo 115 nos oferece a profundidade da celebração da Ceia do Senhor. Porque todos que se reúnem na comunidade dos batizados vem partilhar da mesma palavra, do mesmo pão e do mesmo sangue, abençoados e oferecidos pelo mesmo Senhor.

A missa do lava-pés é a porta de entrada do Tríduo Pascal, cume do ano litúrgico e em que celebramos três páscoas (passagem): a primeira, na quinta-feira, celebramos a páscoa da ceia; a segunda, na sexta-feira, a páscoa da paixão; e a terceira, no sábado e no domingo, a páscoa da ressureição.

Nesta celebração da quinta-feira o evangelista João vem apresentar a sua particularidade na última ceia de Jesus: o gesto do lava-pés, o qual os outros evangelistas não trazem em seus textos. Isso significa que é mais um elemento que enriquece o sentido da Ceia nas narrações dos evangelhos.

Jesus realiza um gesto que era próprio dos escravos ou servos daquela época: lavar os pés do seu Senhor. Isso para nos dizer que a Eucaristia só será completa quando, ao recebê-la, estivermos prontos para servir os outros. Prontos para vivermos a caridade, cuidando também do irmão. Eucaristia também é lava-pés, é abaixar-se e se colocar também a disposição do outro no cuidado e na simplicidade, numa postura que se dá no mesmo nível humano.

Jesus realizou este gesto para dizer aos discípulos que era preciso fazer o mesmo. E por isso disse: “Quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro seja o escravo de todos” (Mt 10,43-44). Todo o ensinamento de Jesus, antes de ser falado, é vivido por ele. Vemos que se tornou servo das pessoas, caridoso para com os pobres, misericordioso com os pecadores e consolador dos tristes.

Vemos que os discípulos tiveram dificuldade de entender o gesto de lavar os seus pés. Foi algo totalmente novo e desafiador para os seus seguidores. Pedro, por exemplo, disse-lhe: “Tu nunca me lavarás os pés. E Jesus lhe responde: Se eu não lavar, não terás parte comigo” (Jo 13,8). O pensar de Pedro estava em consonância com o dos judeus. Um mestre nunca poderá lavar os pés de seus seguidores.

Assim são cristãos, quando acham que a religião traz status e honra humana. Ser discípulo de Jesus é estar primeiramente a serviço dos irmãos que precisam de nós. É pão partilhado e sangue oferecido para a salvação de todos, mas que traz libertação e vida nova, isso, quando os necessitados forem atendidos e os sem esperança forem animados e fortalecidos pela força edificadora de Cristo.

Hoje somos nós, os batizados, que participamos e atualizamos aquela ceia derradeira. A Eucaristia nos faz sentirmos como os seus discípulos naquele momento. Muitas vezes temos dificuldades de entender o agir do Senhor para conosco. E em outros momentos nos sentimos incapazes de realizar o que ele nos pediu.

Portanto, a última ceia de Jesus foi marcada pela memória da libertação de Israel, mas ao mesmo tempo atualizada pela sua entrega como cordeiro que se oferece em sacrifício pela salvação, não somente de um povo, mas de todo o mundo. Jesus inaugura uma nova aliança e um novo povo.

Que a cada dia possamos entender que o encontro perseverante e constante com o Senhor na Palavra e na Eucaristia nos fortalece e nos faz continuar a caminhada, como também nos ensina, a cada dia, algo novo para chegarmos à salvação e ao céu. É caminhando com Jesus que nos tornamos cada vez mais capacitados para servir e amar os irmãos e sermos sinais de santidade no mundo. Amém.

TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR, FESTA (ANO A)

Leituras: Dn 7,9-10.13-14; Sl 96(97); 2Pd 1,16-19; Mt 17,1-9

POESIA

ESCUTAI O MEU FILHO AMADO

Ouvi o meu Filho querido,
Diz Deus Pai nos ensinando,
Para descermos do monte,
Continuar anunciando,
Sem temer a morte e a cruz,
Ter o Senhor como luz,
Sua Palavra semeando.

Levantar e não ter medo,
O Senhor vem nos dizer,
Quer que sigamos com ele,
E esta ordem obedecer,
Pois no mundo há ilusão,
Tem morte e opressão,
E nós precisamos vencer.

Fixar o olhar em Cristo,
Pra seguir na segurança,
Fazer santa experiência,
Da nova e viva Aliança,
Viver a Transfiguração,
Abraçando a paixão,
E seguir na esperança.

Não temer a sua voz,
Que vem nos questionar,
Às vezes nos provocando,
Pra poder nos levantar,
E sair da insegurança,
Continuar as andanças,
E o Reino anunciar.

Buscar o Senhor no silêncio,
Na escuta interior,
Desfazermos do supérfluo,
E optarmos pelo amor,
Que nos faz filhos queridos,
E por Deus, sempre reunidos,
Na vida e também no louvor.

Formar a comunidade,
Na paz e na alegria,
Reunir os batizados,
Velas que ao mundo alumia,
Nutrir-se da comunhão,
Brindar sempre a união,
Pra ressurgir novo o dia.

HOMILIA

Transfiguração: sinal da glorificação eterna

“Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi transfigurado diante deles.” (Mt 17,1-2a). A liturgia da Transfiguração nos apresenta a manifestação de Jesus na sua realidade divina junto aos seus discípulos, antes da sua ressurreição, quando peregrinou com seus seguidores nas terras da Palestina. Palavra divina que se fez carne, veio visitar o seu povo, habitou na humanidade e mostrou a sua glória que recebeu do Pai (cf. Jo 1,14). Essa é a compreensão que nos conduz a encontrar no homem Jesus a sua natureza divina.

Temos, na segunda leitura, o belo testemunho ocular de Pedro, o qual participa daquela profunda experiência mística com Jesus, na montanha: “Não foi seguindo fábulas habilmente inventadas que vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. ‘Este é o meu Filho bem-amado, no qual ponho o meu bem-querer’. Esta voz, nós a ouvimos, vinda do céu, quando estávamos com ele no monte santo.” (2Ped 1,17.18).

A transfiguração de Jesus na montanha é a realização da visão que o profeta Daniel no apresentou na primeira leitura: “… e eis que, entre as nuvens do céu, vinha um como filho de homem, aproximando-se do Ancião de muitos dias, e foi conduzido à sua presença” (Dn 7,13). Em Cristo se concretiza o que o profeta anunciou: “…seu poder é um poder eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá. (Dn 7,14).

Prosseguindo nossa meditação, mergulharemos em outros versículos que nos ajudam em nossa caminhada de discípulos do Senhor. Moisés e Elias (a Lei e os profetas) nos levam a refletir sobre todo o processo da história da salvação que agora culminada em Jesus. Eles foram importantes, mas agora se cumpre tudo o que a antiga lei orientou e se realiza todas as profecias contidas na primeira Aliança. Pedro ainda teve a incompreensão de igualar Jesus à Moisés e a Elias, quando sugeriu as três tendas (Mt 17,4).

Como Pedro, também queremos permanecer na Transfiguração (cf. Mt 17,4). É claro que quando somos invadidos pela experiência de amor e presença do Senhor, queremos ficar sempre na montanha dos louvores, dos encontros, dos retiros, das celebrações, porque na verdade é “muito bom”. Mas é preciso partir para a missão. Faz-se necessário descermos para o encontro com as realidades humanas, onde está o sofrimento do outro e há carência da presença libertadora de Cristo.

“Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado. Escutai-o!” (cf. Mt 17,5). Naquela experiência dos três discípulos quando Deus Pai lhes fala, o susto toma conta de seus corações. Diante disso Jesus os tranquiliza. Levantai-vos, e não tenhais medo” (Mt 17,7). Pois a partir daquele momento precisam seguir em frente com a missão de anunciarem o Reino.

Nós também precisamos ouvir a voz do Pai o qual nos ordena escutar o seu Filho. Levantar e seguir em frente. Vencer os nossos medos e inseguranças. Quantas vezes somos marcados pelo comodismo e pessimismo e queremos ficar somente na segurança da montanha?

Na nossa caminhada, quantos medos nos invadem e nos aterrorizam, quando não escutamos a voz de Deus. Não ouvir o Filho amado é seguir por caminhos de dúvidas. Por isso em muitos momentos temos receios do novo provocado pelo Evangelho. Queremos ficar na nossa zona de conforto. A Palavra de Deus é viva e dinâmica e nos impulsiona a nos movimentar e transformar as realidades de alienação e escravidão em nova consciência que liberta o homem do relativismo religioso e ideológico. A nossa liberdade está em optar pelo caminho de Cristo para que o seu Reino cresça e fermente o mundo.

Que a força e a alegria da Ressurreição de Cristo, prefigurada na Transfiguração, nos impulsione a descermos do monte de nossas comodidades e conveniências pessoais, para seguirmos ouvindo a Palavra fortificadora e libertadora do Evangelho. Porque em nossa caminhada de discípulos e discípulas do Senhor, podemos rezar e cantar como o salmo 96(97): Porque vós sois o Altíssimo, Senhor, muito acima do universo que criastes, e de muito superais todos os deuses.” Somente em Cristo temos a verdadeira segurança e liberdade. Amém.