VI DOMINGO DA PÁSCOA, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 15,1-2.22-29; Sl 66(67); Ap 21,10-14.22-23; Jo 14,23-29

“Jesus se despede dos discípulos”, por Duccio (*1308+1311)


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⇒ HOMILIA ⇐

Tempo Pascal: um grande Domingo

Jo 14,23-29

 

O Nosso caminhar dentro do tempo Pascal chega ao 6º domingo e assim nos aproximamos do Pentecostes, momento litúrgico em que a Igreja celebra a descida do Espírito Santo sobre todos os que estavam reunidos no “Cenáculo de Amor”, a Igreja que acabara de nascer. Estavam ali os primeiros discípulos e missionários da Igreja de Cristo.

A liturgia deste domingo, portanto, nos conduz a uma reflexão que retoma o tema do evangelho passado: o amor é a base da vivência cristã, é o mandamento maior que leva os homens a construírem uma vida de comunhão, paz e justiça. E este amor não é abstrato, ele está voltado para a Palavra do Senhor que nos conduz ao Pai (cf. Jo 14,23).

É a escuta e a obediência desta Palavra entre os discípulos que faz a comunhão. Já os desafios da missão da Igreja, quando esta foi se expandindo pelo mundo, são enfrentados graças ao Espírito Santo prometido pelo Senhor, como descrito pelo evangelista: “ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26b).

Para melhor compreender o versículo citado acima, podemos rever a primeira leitura. Na passagem, poderemos observar a discussão entre os que anunciavam o Senhor. Surge, então, a questão dos ritos de inserção vindos da lei judaica (no caso, a circuncisão) e se deveria ser observada por aqueles que queriam fazer parte do grupo dos apóstolos de Jesus, os primeiros cristãos.

Naquele momento surge a necessidade da abertura para uma lei que possa ir além do templo e das tábuas escritas. Aqui podemos retomar o Evangelho que cita o amor (acolhimento) como o critério principal para receber os novos convertidos no grupo dos apóstolos.

Também percebemos a ação do Espírito Santo quando são enviados de Jerusalém, missionários para levarem a mensagem da decisão dos apóstolos: “Por isso, estamos enviando Judas e Silas, que pessoalmente vos transmitirão a mesma mensagem. Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis: abster-se de carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, das carnes de animais sufocados e das uniões ilegítimas.” (At 15,27-29).

Todas estas situações acima citadas são realidades que aconteceram e acontecem entre os cristãos, pois a Igreja terrestre necessitou e necessita da conversão e da purificação constante como afirmou o Papa Emérito Bento XVI: “A Igreja é a esposa de Cristo, o qual a torna santa e bela com a sua graça. Contudo esta esposa, formada por seres humanos, está sempre necessitada de purificação. E uma das culpas mais graves que deturpam o rosto da Igreja é contra a sua unidade visível, sobretudo as divisões históricas que separaram os cristãos e que ainda não foram totalmente superadas”[1]. Esta purificação vem do Espírito Santo prometido por Jesus, pois é na caminhada dos primeiros anunciadores marcados pelas perseguições, opiniões diversas, discursões doutrinais que a ação do Deus Trindade está presente.

Não podemos imaginar uma Igreja que nasceu por que os colaboradores de Jesus já eram todos santos, somente o próprio Cristo era o Deus homem, o Santo e o vencedor da morte. Para se viver a santidade todos os apóstolos passaram pela purificação como homens terrenos, porque acolheram a força da ressurreição e seguiram firmes na fé guiados pelo Paráclito. A crença nas promessas de Jesus foi fundamental para que chegasse até nós o Evangelho e a mensagem da Boa-Nova.

Agora podemos nos maravilhar daquilo que o Senhor falou aos seus discípulos no seu discurso preparatório de despedida antes de subir ao céu: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 14,27).

Seguir o Senhor ressuscitado é ser guiado pela paz que nos conforta e nos deixa o coração livre para enfrentar os desafios da vida cotidiana e da missão evangelizadora.

Podemos ainda meditar com o livro do Apocalipse, quando João nos fala do novo templo que é próprio o Senhor, o Cordeiro Santo: “Não vi templo na cidade, pois o seu Templo é o próprio Senhor, o Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro.” (21,22). Esta deve ser a nossa compreensão de culto, pois viver a adoração ao Senhor na nova aliança agora não é mais estar preso ao espaço físico, à lei mosaica, porque se faz necessário viver o amor no mundo e saber que o Senhor está em todo lugar e inclusive em nós, em nosso coração, como templos vivos para a sua habitação e nossa santificação. Amém.

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[1] Bento XVI, homilia dominical na Praça de São Pedro, 20 de janeiro de 2013. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2013/documents/hf_ben-xvi_ang_20130120.html>. Acesso em: 21 maio 2019.

 

 

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

O amor é a nova lei

 

Amar, regra primeira,
E a obediência virá
Amor ilimitado,
E a lei se cumprirá
Ouvir atento a palavra,
E o Paráclito a guiar.

Acolher nosso Senhor
Para a paz receber,
Seguir a nova lei,
Para o outro acolher,
Não descriminar,
Seguir sem esmorecer.

Encontrar com os irmãos,
Pra viver comunhão,
Acolhendo aos que chegam,
Que a nós se juntarão,
Como fermentos vivos,
Novo Reino em ação.

Seguir sempre em missão,
Com o Espírito de Amor,
Como Templos, vivos e santos,
Novo culto ao Senhor.
Num caminhar de paz,
E coração em ardor.

Esta é a nova lei,
Que o mundo irá seguir,
O amor, a principal base,
E a Palavra a ouvir,
E um culto sempre novo,
Pra se construir.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

V DOMINGO DA PÁSCOA, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 12,21b-27; Sl 144(145); Ap 21,1-5a; Jo 13,31-33a.34-35

“Cristo lavando os pés dos discípulos” (1305), por Giotto (*1267+1337)


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⇒ HOMILIA ⇐

Um novo céu e uma nova terra, no amor do Senhor

Jo 13,31-33a.34-35

 

O evangelho do 5º domingo da Páscoa é um texto que não traz uma narrativa pascal, mas nos apresenta a base para vivermos o sentido daquilo que é o fundamento da vida nova em Cristo: o amor. Padre Raniero Cantalamessa[1] nos lembra que o evangelho e a segunda leitura nos apresentam a repetição de uma palavra em comum: o adjetivo “novo”. “Eu vos dou um novo mandamento” (Jo 13,34a) e no Apocalipse teremos: “Vi um novo céu e uma nova terra; Vi a cidade santa, a nova Jerusalém; Eis que faço novas todas as coisas” (21,1-2.5).

A Boa-Nova da ressurreição traz um sentido novo para vida dos que já seguiam o Senhor, e também para todos que foram envolvidos neste acontecimento. Portanto, a grande novidade é o amor que Jesus vive intensa e profundamente, doando-se por amor por toda a humanidade, não apenas pelos que o seguem, mas por todas as nações. Eis a grande novidade: Este amor é que alimentará todos os missionários e missionárias que darão continuidade a obra do Senhor.

Podemos então nos perguntar: O que faz uma comunidade cristã ser sempre nova em sua experiência de encontro com o Senhor e os com irmãos? O que faz uma família ser sempre sinal de alegria e testemunho de Deus no seu ambiente interno e externo? O que nos chama atenção num grupo de jovem que faz a diferença dentro de uma paróquia, nas suas atividades pastorais e na convivência interna? A resposta será obvia: é o amor, o novo mandamento pregado por Jesus. É amor vivido entre os irmãos e irmãs, que faz a novidade na experiência cristã.

Quantas vezes tantas comunidades morreram por já não existir mais o encanto do amor entre os irmãos, substituído pela frieza que apaga a chama da motivação? Quantas famílias são destruídas por causa da ausência do amor que não foi acolhido e vivido no lar? Quantos grupos de segmentos cristãos, jovens, crianças e adultos que param de se encontrar porque existem fortes divergências que não se resolvem por falta do amor fraterno?

Faz-se necessário lembrarmos que existem muitas comunidades, famílias e grupos que são sinais do amor que renova e que anima a Igreja, que motiva e faz ser Reino de Deus, já “aqui-agora”. Novas criaturas que inflamam o coração das pessoas e que são o fermento do amor verdadeiro para o mundo com suas atitudes e práticas evangélicas.

Rezemos por todos nós para que estejamos atentos ao motivo primeiro do nosso seguimento ao Senhor: o amor entre os irmãos. Amor que é diaconia (serviço) e missionariedade na vida da Igreja e no mundo. Rezemos também pelo Santo Padre, o Papa Francisco, pelos bispos, sacerdotes, diáconos, leigos, pais de família e todas as lideranças que estão na caminhada da Igreja, para que encontrem sempre o motivo de sua fé e sigam firmes com o Senhor na proclamação da sua Boa-Nova que nos diz: Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” (Jo 13,34-35).

[1] É o pregador da Casa Pontifícia. Cf. CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C. São Paulo: Ave Maria, 2012.

 

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

O novo é o amor

 

Desde que nós existimos,
Lá no início da criação,
Estava lá o amor,
Sendo de tudo a razão,
Para sermos semelhantes,
Naquele tempo e neste instante,
Para nos fazer doação.

Tanto tempo e nada velho,
Pois o amor não envelhece,
É eterno no existir,
Não se enruga, nem desfalece,
Está no início e em nosso tempo,
Ele é tudo, é alimento,
Se germina e refloresce.

Está em nossos encontros,
De partilha e comunhão,
Faz-nos criaturas novas,
No trabalho e na oração,
É o novo mandamento,
De Jesus, é o Testamento,
Pra vivermos como irmãos.

Novo é a vida nova em Cristo,
Doação da vida plena,
Pois o AMOR é infinito,
Que acolhe e não condena,
Aceita nossa liberdade,
Na escolha da verdade,
A caridade ele ordena.

Seguindo por este caminho,
Sempre, sempre renovados,
Ao lado do bem supremo,
Que é o Senhor ressuscitado,
No novo céu vamos chegar,
E o amor nos julgará
E novo sempre nós seremos.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Evangelho, do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

IV DOMINGO DA PÁSCOA, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 13,14.53-52; Sl 99; Ap 7,9.14b-17; Jo 10,27-30

“O Bom Pastor”, 1886–1894. Por J. Tissot (1836–1902)


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⇒ HOMILIA ⇐

O verdadeiro pastor é aquele que dá a vida pelas suas ovelhas

Jo 10,27-30

 

Neste 4º domingo da Páscoa, contemplemos o Cristo, o Bom Pastor, que além de conduzir as ovelhas pelo caminho do amor, doa a sua vida por elas. Este é o grande sentido e o diferencial da missão do verbo encarnado no mundo: conduzir todos para o caminho do amor e da comunhão com o Pai, reunindo a grande multidão dos que o seguiram e seguem com firmeza e coragem.

Meditemos, brevemente, o evangelho e as leituras desta liturgia. Olhemos para Cristo, como o Bom Pastor, que tem uma voz (cf. Jo 10,27), que doa a sua vida, não uma vida temporal, mas a vida eterna, ele está em comunhão com o Pai (cf. Jo 10,30).

Olhemos para nós, as ovelhas, que querem ouvir a voz do Pastor, querem segui-lo e viver para sempre com ele… “Porque ele é o nosso Deus, nosso pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz com sua mão” (salmo 95). No Senhor somos unidos para sempre, como rebanho que quis seguir a voz do Pastor eteno, eterno por que na segunda leitura podemos meditar sobre esta certeza, que, de acordo com o Apocalipse, João contempla uma multidão diante do trono do Cordeiro. Trata-se de uma multidão que reuniu gente de todas as nações, tribos, povos e línguas e que era incontável (cf. Ap 7,9).

O interessante é que ao mesmo tempo em que somos ovelhas do Senhor, somos também chamados por ele para caminhar como seu rebanho e em comunhão fraterna, numa realidade de irmãos que se ajudam na motivação da fé e na busca da santidade.

Em Atos dos Apóstolos (cf. 13,45) temos o testemunho missionário de São Paulo e São Barnabé. Eles anunciam a Palavra de Deus aos judeus. E as consequências da ação missionária dos dois já sabemos: perseguição, realidade própria de todos aqueles que anunciam a Palavra libertadora de Jesus. Sobre isso São João, no Apocalipse, também dá testemunho da sua visão: “Então um dos anciãos me disse: ‘Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro. Por isso, estão diante do trono de Deus e lhe prestam culto, dia e noite, no seu templo’.” (Ap 7,14b-15).

Podemos lembrar de tantos santos e santas que viveram a experiência do encontro com o Bom Pastor e que em vida terrena já pronunciavam a certeza de fazer parte da incontável multidão na Igreja celestial. Viveram fiéis até o derramamento de sangue (São Sebastião – *256+286), viveram na pobreza (São Francisco de Assis – *1181+1226 – e Santa Tereza de Calcutá – *1910*1997), na profundidade da meditação espiritual deixando tantos escritos que chegaram até nossos dias como riqueza da espiritualidade cristã (Santa Tereza D’Ávila – *1515+1582 – e São João da Cruz – *1542+1591), além dos inúmeros anônimos que testemunharam e testemunham a fé na simplicidade, na doação de vida, na missão e na vivência das virtudes próprias de ovelhas que escutam a voz do Senhor e estão ligadas a ele.

Lembremos que o Senhor chamou, preparou e enviou discípulos para cuidar do seu rebanho e estes vocacionados o representam na caminhada da Igreja. O Papa, os bispos, os padres, os diáconos, os catequistas, os evangelizadores e tantos cristãos coerentes na fé que vivem no mundo do trabalho, nos mostram, pelo seu testemunho, a face do Bom Pastor que cuida das suas ovelhas. Porém não esqueçamos que o Rebanho é do Senhor, não sendo, portanto, propriedade particular de ninguém, por que ao mesmo tempo em que somos lideranças (pastores) somos também ovelhas do mesmo rebanho.

Rezemos por todos aqueles que estão na caminhada evangelizadora proclamando o Reino de Deus com a sua vida nas diversas realidades do mundo, para que sejam perseverantes na sua vocação e fermento de amor entre os irmãos, numa postura e consciência de que são discípulos do Ressuscitado, mas que são ao mesmo tempo parte integral do Rebanho que é conduzido pelo Bom Pastor.

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

Supremo Pastor dos pastores

Voz que conduz a multidão
Que orienta e purifica,
Que plenifica.
Que leva à eternidade,
Sendo caridade,
Cajado que dignifica.

Pastor que conhece o rebanho,
Protegendo-o no caminhar,
Não deixando desgarrar.
Mão protetora,
Vida salvadora,
Que se deixa amar.

Cordeiro supremo da vida nova,
Que acolhe a incontável multidão,
Que se une em comunhão,
Às diversas realidades das nações,
Mártires das tribulações,
Alvejados para a santificação.

E nós ovelhas seguidoras,
A sua voz escutamos,
A ele nos ligamos.
E como rebanho nos unimos,
Vida eterna garantimos,
E chegar ao trono, almejamos.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor, o Ressuscitado, ilumine o seu caminho ***

 

III DOMINGO DA PÁSCOA, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 5,27b-32.40b-41; Sl 117; Ap 5,11-14; Jo 21,1-19

“Alimenta meus cordeiros”, 1886–1894, J. Tissot (1836–1902)


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⇒ HOMILIA ⇐

A força do testemunho no Ressuscitado

Jo 21,1-19

 

Na liturgia do terceiro domingo da Páscoa contemplamos com alegria a beleza do testemunho dos apóstolos. Em destaque Pedro e João, que proclamam a verdade na Ressurreição, preenchidos de coragem e alegria. Através da experiência da fé na ressurreição os discípulos são transformados em corajosos missionários da vida nova, indo por todos os lugares para viverem como pescadores de pessoas, para construir o Reino de amor e redenção do mundo.

O interessante é que a terceira aparição de Jesus é realizada dentro do contexto profissional dos apóstolos, na vida cotidiana, no trabalho, não mais a portas fechadas, mas ao “ar livre”, porque a Ressurreição não tem barreiras e nem obstáculos e a presença do Senhor também não está presa ao templo ou ao culto antigo, agora o templo de adoração é o corpo glorificado.

Este texto nos traz várias chaves de reflexão para a experiência comunitária, às lideranças e para a missão evangelizadora da Igreja. Estas ações acima citadas nos levam a refletir que é o ressuscitado que conduz a comunidade cristã para que se lance ao mundo. A pesca foi um fracasso até a aparição de Jesus. Com Jesus acontece o milagre da abundância. Somente com Jesus a nossa evangelização tem êxito e faz crescer a multidão dos seguidores do Senhor.

O chamado de Jesus para cuidar do rebanho deve ser alimentado primeiramente pela vivência do amor. “Jesus perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?’ Pedro respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo’. Jesus disse: ‘Apascenta os meus cordeiros’.” (Jo 21,14).

Por três vezes Pedro é interrogado pelo Senhor, pois antes tinha negado que conhecia Jesus também por três vezes (cf. Lc 22,56-60). Mas isso não foi impedimento para seguir em frente, agora está disposto e reabilitado pela força da ressurreição e conversão mais profunda, para tomar conta do rebanho, para representar a comunidade dos seguidores do Senhor.

Lembremo-nos de que é o Senhor que conduz a Igreja (a barca) e que também Pedro não seguirá sozinho, pois a pesca foi realizada também pelos outros apóstolos, quando disseram: nós também vamos pescar (cf. Jo 21,3).

Com esta experiência Pedro caminhará e encontrará perseguições, calúnias. Seguirá para o martírio com uma convicção tão forte que se sentirá alegre e satisfeito porque agora encontrou a razão da sua fé, como podemos confirmar nos Atos dos Apóstolos: os apóstolos saíram do Conselho, muito contentes, por terem sido considerados dignos de injúrias, por causa do nome de Jesus (cf. 5,41).

Olhemos agora para João, o discípulo amado, aquele que esteve no sepulcro vazio e esperou Pedro chegar para conferir o acontecimento. Ele está também presente na pesca milagrosa e é quem reconhece primeiramente a Jesus ressuscitado e comunica a Pedro (cf. Jo 21,7). João é a face da Igreja contemplativa, orante, ministério do amor, que reclina a cabeça sobre o coração de Cristo (cf. Jo 13,23), que está ao pé da cruz e que acolhe Maria como sua mãe (cf. Jo 19,26-27), mas que é obediente ao representante do colégio dos apóstolos.

As nossas comunidades paroquiais, grupos e pastorais devem se fixar nestas duas faces da Igreja: uma face que trabalha que age, que administra (Pedro), e ao mesmo tempo uma face que reza, que contempla e se alimenta da comunhão, numa realidade de partilha e de missão (João).

Diante de tantos olhares bíblicos, nós cristãos do século XXI, somos testemunhas primeiramente da Ressurreição do Senhor, que é autor da vida, que a defende e a proclama como infinita. Também devemos viver a caridade, a comunhão e a obediência quando respondemos ao Senhor que chama e nos manda lançar as redes para a pesca.

Peçamos ao Senhor as virtudes teologais (fé, esperança e caridade), para que cuidemos de nosso caminho de discipulado e também sejamos agraciados por ajudar a outras pessoas a alimentarem a sua fé em Jesus Cristo. E agradecemos pelo nosso Papa que segue na barca de Pedro, vivendo os desafios da evangelização no mundo, mas na simplicidade e na obediência ao Senhor que o chamou para cuidar do seu rebanho.

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

Pela fé, na coragem e na alegria

Lá vão os discípulos, seguidores do amor,
Em meio a calúnias e injúrias,
É o grande cominho que inicia,
Seguem sem medo,
Confiantes e na alegria.

Vão remando mar adentro,
Para o grande milagre,
Para a pesca do amor,
Que não afunda com a tempestade.
Por que o barco é do Senhor.

E em meio à mesa da partilha,
Onde o Pão os sacia,
Confirmam a missão,
Anunciando vida nova,
Construindo comunhão.

Seguem em comunidade,
Como “pedras vivas”,
Para o reino edificar,
A caminho do martírio,
Firmes vão, sem desanimar.

E nós missionários de agora,
Seguiremos também no amor,
Vivendo como os primeiros,
Caminhando sobre tempestades,
Mar adentro, sem desespero.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

DOMINGO DA MISERICÓRDIA, ANO  C – SÃO LUCAS

Leituras: At 5,12-16; Sl 117(118); Ap 1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31

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⇒ HOMILIA ⇐

Ressurreição: vida nova de Cristo que cresce pelo mundo

Jo 20,19-31

Acabamos de vivenciar a semana chamada de oitava da páscoa, na qual a liturgia da Palavra foi marcada profundamente por tantos testemunhos, através de milagres, medos por parte dos apóstolos, choro das mulheres. Estes foram pessoas que viveram primeiramente a experiência da ressurreição do Senhor e proclamaram para o mundo tantas maravilhas.

O evangelista João nos conta que era noite, primeiro dia da semana, as portas fechadas por medo dos Judeus (cf. Jo 20,19), ou seja, os que acompanharam Jesus de perto, estavam ainda nas trevas, marcados pelo medo e pelo desespero.

Era dia do Senhor, o dia da ressurreição, e Jesus aparece numa realidade gloriosa, vivo, trazendo a sua Paz, alegrando os discípulos, apresentando o seu sopro de vida nova, para enviar-lhes em missão e transmitirem a autoridade do perdão dos pecados. Por que ele veio para salvar a todos dos pecados do mundo, mostrando a face de um Deus eterno em amor e misericórdia.

Outro ponto importante do evangelho é a descrença de Tomé. Inicialmente, Tomé não estava na comunidade quando Jesus aparece a primeira vez e por isso se mostra incrédulo, como um cientista que quer provas palpáveis para acreditar na verdade da ressurreição.

Após um período de oito dias, novamente no primeiro dia da semana (domingo), o senhor vem ao encontro da comunidade e está lá Tomé para viver a experiência da fé na vida nova.

Tomé é convidado a tocar as chagas de Jesus para ver e crer, assim como muitos de nós que para acreditarmos na ação salvadora do Senhor, precisamos de provas, de situações concretas para poder aumentar o nosso amor ao Senhor.

Disse Jesus a Tomé: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20,29). Nós, cristãos da atualidade, somos felizes quando vivenciamos a nossa fé na ressurreição de Jesus e quando vivemos também vida nova em nossa caminhada e ao mesmo tempo somos transmissores desta verdade.

O que somos capazes de proclamar para os outros sobre o Ressuscitado? O que nos motiva a vivermos uma experiência de convicção da nossa fé? O tempo pascal é propício para reavaliarmos a nossa experiência de discípulos e discípulas do Senhor e levarmos a frente esta verdade.

Tenhamos a certeza de que foi a convicção dos que seguiram Jesus ou ouviram a pregação sobre ressuscitado, que fez chegar até nós, no nosso tempo, a mensagem maravilhosa de que o Senhor ressuscitou e nós podemos ressuscitar com ele.

Precisamos meditar por que Tomé duvidou exatamente quando estava fora da comunidade dos discípulos e por que Jesus não apareceu somente a ele após a aparição aos outros? Onde estava Tomé, porque estava ausente?

E foi exatamente após a caminhada de uma semana que Jesus se apresentou mais uma vez e agora se encontra Tomé que é convidado pelo Senhor da vida a tocar nas suas chagas. Como Tomé, as vezes precisamos de mais tempo para absorvermos uma realidade nova em nossa existência.

O evangelista João faz questão de nos lembrar das marcas da crucificação e da presença de Tomé no grupo. Talvez por duas razões: primeiro para provar que era Jesus mesmo que estava ali com eles, com as feridas, pois fora crucificado e também para dizer que a fé dos apóstolos foi alimentada na experiência da comunidade reunida.

Portanto, amigos e amigas, é na partilha da mesma realidade e no encontro com os irmãos e irmãs que alimentamos a nossa fé na ressurreição do Senhor e somos motivados a prosseguir um caminho novo. Peçamos ao Senhor da vida que possamos professar com convicção a frase de Tomé: Meu Senhor e meu Deus. Muitas vezes somos como aquele apóstolo, não temos a fé suficiente para acreditar na presença de Deus em nossa vida. Ele que nos alimenta com sua Palavra e com seu corpo nos fortalecendo na caminhada de filhos e filhas de Deus.

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

“Ele está no meio de nós”

Ele está em nosso meio,
No encontro e na alegria,
Na reza de cada dia,
Na partilha do pão,
Fazendo-nos comunhão,
Viva e Santa Eucaristia.

Ele está na caminhada,
Dos caminheiros queridos,
Que mesmo com os pés feridos,
Das estradas compridas,
As vezes trazendo fadiga,
Mas se sentem agradecidos.

Ele está em nossa vida,
Às vezes a portas fechadas,
Com a paz anunciada,
Para nos tranquilizar,
E fazer-nos caminhar,
Numa vida renovada.

Ele está em nosso ser,
Para a fé nos retomar,
E o medo espantar,
Pra nos dar a segurança,
E refazer-nos a esperança,
Para o caminho trilhar.

Enfim, ele está aqui e agora,
Quando faço poesia,
Nos passos de cada dia,
Presente em todo momento,
Sendo Deus fonte e alimento,
Que nunca se esvazia.

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

DOMINGO DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 10,34a.37-43; Sl 117; Cl 3,1-4; Jo 20,1-9

“Discípulo Amado e São Pedro no sepulcro vazio”, J. Tissot


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⇒ HOMILIA ⇐

A nossa Alegria é a Ressurreição do Senhor

Jo 20,1-9

 

Maravilhados das alegrias, vindas da vigília pascal e despertados na manhã do sepulcro vazio, celebremos a vitória do primeiro a ressuscitar, Jesus Cristo, o mais belo entre todos os homens, glorioso, Deus da vida, o vencedor sobre a morte.

“A ressurreição de Jesus é o mistério central da nossa fé cristã e o fundamento da nossa esperança de libertação total”[1]. Somente no Senhor somos totalmente livres e alegres, apesar dos sofrimentos e desilusões da vida terrena.

Iniciamos um novo tempo da Igreja, o período Pascal, onde tudo está voltado para os acontecimentos da ressurreição de Jesus, quando aprendemos e nos firmamos na fé, através de tantos testemunhos dos que seguiram e amaram profundamente o Senhor.

O Evangelista João (cf. 20,1-9) nos fala da sua experiência com o ressuscitado, de uma forma simples e ao mesmo tempo profunda. Simples por que descreve detalhes, tais como: faixas de linho no chão, pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte” (Jo 20, 5-7).

Voltemos o nosso olhar também para quem foi primeiro ao túmulo de Jesus, quando ainda estava escuro, Maria Madalena, que percebeu a pedra retirada do túmulo. Ela anuncia primeiro, aos discípulos Pedro e João, os quais vão confirmar a ressurreição. Eles que também ainda estavam marcados profundamente pela dor da morte de Jesus. “Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou.” (Jo 20,8).

Meditemos alguns pontos importantes da liturgia deste domingo da Ressureição do Senhor: “Maria Madalena viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo” (Jo 20,1) e por isso volta correndo para anunciar que algo estranho tinha acontecido.

Muitas vezes, nós também precisamos retirar a pedra que nos impede de perceber algo extraordinário em nossa vida, sobretudo referente à ação de Deus na nossa caminhada de discípulos que querem seguir o Senhor ressuscitado.

Esta pedra muitas vezes é o nosso rito vazio, a nossa indiferença, a mesmice e a sensação de que mais um ano passou e nas festas pascais não conseguimos viver uma experiência nova, ou seja, vida que se faz ressurreição no Senhor.

O primeiro domingo da Páscoa é o dia do Senhor por excelência, de onde nasceu a nossa fé no ressuscitado. Daquela manhã do túmulo vazio em diante, os discípulos passarão por uma nova ótica na experiência com Jesus.

Cabe a nós cristãos fazermos como os discípulos, os quais viveram a experiência do ressuscitado, muitas vezes ainda sem muita clareza, mas crescendo aos poucos dando motivo da sua fé, como Pedro professou: “Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia” (At 10, 40).

Pedro viveu com Jesus as duas realidades: primeiro, caminhando com ele na sua missão terrena, depois fazendo a sua experiência da ressurreição. Desta forma, o apóstolo nos ensina o sentido profundo da vida renovada em seu discipulado.

São Paulo, que fez uma outra experiência de conversão, proclama com convicção: Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus…” (Cl 3,1-2).

Portanto, cada um de nós, após dois mil anos, devemos viver a realidade a qual Paulo viveu, encontrando com o ressuscitado e vivendo a missão de Evangelizar com convicção, sem medo e com firmeza na fé.

Peçamos ao Espírito Santo a graça da fé no ressuscitado, para vivermos cada momento de nossa vida, alimentados pela Palavra e pela Eucaristia, dando razões de nossa fé e sempre cantando como o Salmo 117: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!”

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[1] CABALLERO, Basílio. A Palavra de cada domingo: Ano C. Apelação [Portugal]: Paulus, 2000. Pág. 92.

 

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⇒ POESIA ⇐

A manhã nova do Senhor

Ainda é escuro, é madrugada,
É o dia novo, da nova vida,
Pelos discípulos e por nós acolhida,
Arranquemos a pedra,
Pedra que impede um novo olhar,
Que às vezes nos faz tropeçar,
Olhemos para o alto, a nos alegrar!

A Luz vem chegando,
Percebamos os sinais da vitória,
Da luz, da nova vida em Glória,
Por que o Senhor não está entre os mortos,
Ele é o homem vivo para sempre,
Quer caminhar conosco eternamente
O Santo dos Santos, o homem vivente!

Sua vida nos traz esperança,
Certeza de que seremos eternos,
Na nova comunidade, fraternos,
Estaremos para sempre com ele,
Sem barreiras a nos atrapalhar,
Ele é pão vivo a nos alimentar,
Para além daqui quer nos elevar!

A sua glória é de todos,
O seu corpo é totalmente novo,
Sua vida nova é para o seu povo,
Pois nele está a esperança,
Que os discípulos sempre alcançam,
Caminhando no amor e na bonança!

Sigamos firmes,
Sigamos louvando,
Sigamos felizes e festejando,
Sigamos na fé, no ressuscitado,
Sua vida nova é plena alegria,
Já não é mais noite, é novo dia,
Vamos ao banquete que nos sacia!

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

SOLENIDADE DE PENTECOSTES

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 2,1-11; Sl 103; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23

POESIA

SOPRO DE VIDA NOVA

Sopro santo de Deus,
Nas narinas da criatura humana,
Imagem e semelhança,
Que sua bondade emana,
E se espalha pelo mundo inteiro,
Através dos discípulos mensageiros,
Sobre todos aqueles que a Deus amam.

Sopro e fogo de Deus,
Nos discípulos agora encorajados,
Pela presença dos dons oferecidos,
Pelos frutos do amor, inflamados,
Na vivência da sua missão,
Pregando o Reino da salvação,
E pelos confins do mundo espalhados.

Sopro e luz de Deus,
No Pentecostes do nosso agora,
Nos discípulos no mundo atual,
Dizendo a todos que desperte na aurora,
Na diversidade das nossas situações,
Transformando os nossos corações,
Para anunciarmos que chegou a hora.

Sopro e força de Deus,
Agindo naqueles que estão chegando,
Que pelo Batismo são inseridos,
E à comunidade, vão se irmanando,
Tornando-se um povo em comunhão,
Impulsionados para a missão,
E a Igreja Santa vai aumentando.

Sopro e benção de Deus,
Que vem e desce sobre a Santa Mesa,
Para transformar o pão e o vinho,
Trazendo-nos o amor e a fortaleza,
Dando-nos o Santo e vivo alimento,
Para a comunidade o sustento,
Deus belo, forte… Nossa realeza.

 

HOMILIA

Manifestação pública do Espírito Santo

Celebramos neste domingo a descida do Espírito sobre a Igreja nascente. Agora não somente sobre os apóstolos, mas também sobre as nações e culturas que acolheram a mensagem do amor e da fé em sua própria língua. O que antes era uma experiência do grupo dos apóstolos, agora se expande pelo mundo com o sopro e o fogo do Espírito Santo.

O que estava restrito a um grupo de homens e mulheres que conviveram com Jesus na terra, agora é manifestado para aqueles que abraçaram a fé por milagres, pelas pregações e pelo testemunho corajoso dos discípulos do Senhor.

O antigo Pentecostes era a festa que lembrava a chegada do povo ao monte Sinai, cinquenta dias após a libertação do Egito. É no Sinai que Moisés recebe de Deus os mandamentos e os apresenta ao povo. O novo Pentecostes é o ápice do Tempo Pascal porque inicia o tempo da Igreja, tempo este que já na Ascensão estava se iniciando, pois o mesmo Senhor que sobe aos céus está presente no meio de nós, na total doação de seu Corpo e Sangue, pela sua Palavra e pelos os dons oferecidos aos que se tornam também o Corpo de Cristo no mundo.

O Evangelho de João nos faz memória da ressurreição quando os discípulos ainda estão profundamente marcados pelo medo, fechados em si e no espaço físico (cf. Jo 20,19). A alegria renasce quando o Senhor traz a paz para o grupo, que no mesmo momento é enviado para missão, com o objetivo de anunciar ao mundo a alegria do Evangelho.

A partir desta experiência de encontro com Cristo ressuscitado que traz também o sopro de vida nova, todos os que ali estavam reunidos ganham força e coragem para caminharem pregando a experiência da ressurreição. Todos agora se colocam em movimento, porque o Espírito do Senhor está sobre eles dando-lhes vigor e motivação nos seus corações para semearem o Evangelho até os confins da terra!

Na primeira leitura (At 2,1-11) temos o relato de Pentecostes, quando todos os discípulos estavam reunidos e então há a manifestação do Espírito Santo, um fenômeno diferente, o qual os discípulos ainda não tinham presenciado. “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (2,4).

Aquilo que o Senhor anunciou, antes e depois da Ressurreição, se concretiza, pois a manifestação do Espírito Santo agora é para que os seus discípulos anunciem ao mundo a Boa-Nova do Reino nas diversas culturas, línguas, realidades e recantos do mundo.

Por isso que o Espírito Santo não tem limites, ele sopra onde quer (cf. Jo 3,8), vai aonde quer, como quer e oferece sua luz e força a quem ele quiser, desde que os convocados na sua liberdade queiram receber a sua presença.

Também podemos dizer: é sobre o Santo Espírito que na sua ilimitada manifestação, com suas diversas formas atemporais, que age além das nossas expectativas humanas e barreiras geográficas. Foi esta verdade anunciada e constatada na Igreja em toda a Tradição cristã, que conseguiu chegar a nós em pleno século XXI.

Foi a experiência de abertura para a missão dos primeiros cristãos que, carregados da fé corajosa, conscientes, e às vezes também com marcas humanas de fraquezas, fez a messe do Senhor crescer, dar frutos e se espalhar pelos imensos espaços do mundo até chegar em nossos dias.

Há outra dimensão da ação do Espírito Santo que merece a nossa reflexão, apresentada na segunda leitura da liturgia desta solenidade: “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos.” (1Cor 12,4-6). São Paulo nos fala da manifestação do Espírito Santo em cada um de nós. São os dons oferecidos aos que se deixam conduzir pela ação de Deus e do seu Espírito.

Os cristãos, como membros de um mesmo corpo, numa dimensão de unidade na diversidade, recebem dons para colocarem a serviço do bem comum. É isto que faz a beleza e a ilimitada ação do Espírito Santo na Igreja e no mundo, pois somos membros que agem com diferentes serviços para que a vida de Deus esteja presente em todas as suas criaturas.

Quantos dons temos a oferecer a Deus, desde o simples acolher na porta do templo, do cantar, preparar o altar, pregar para o povo, coordenar o grupo, animar as comunidades e grupos, visitar as famílias, cuidar dos doentes… E para fora dos espaços da Igreja, quantas capacidades podem ser oferecidas para levar Deus e sua Palavra, no cuidado com a natureza e quando estamos a evangelizar e a se envolver nas causas sociais.

Também a arte de compor uma música, de cantar, de fazer um poema, dar aulas e palestras, escrever uma matéria, defender a vida nos espaços políticos e sociais, escolas e meios culturais… Tudo isso são dons do mesmo Espírito o qual estava no início da Criação. Espírito Santo que falou pelos profetas, que esteve presente no quando a encarnação do verbo foi anunciada a Maria, que esteve presente no batismo de Jesus e o conduziu ao deserto e a sua missão.

Espírito que animou os apóstolos após a ressurreição, que desceu em Pentecostes e que impulsionou a Igreja na propagação do Evangelho no decorrer dos séculos até os nossos tempos.

E em quantas realidades mais podemos certificar da presença do Espírito Santo, tais como nos sacramentos, no chamado vocacional, na missão, nos nossos trabalhos pastorais, na vida familiar, nas diversas profissões e serviços aos outros etc.

Portanto, devemos sempre nos manter na convicção de que tudo aquilo que vivemos e fazemos para o bem maior, é pela força do Espírito Santo, que é Deus, a alma da Igreja, Senhor que dá a vida, que renova todas as criaturas e santifica a vida dos seguidores e seguidoras do Senhor Ressuscitado. E com o salmo 103 podemos proclamar e suplicar ao nosso Deus, rezando o seguinte refrão: “Enviai o vosso Espírito Senhor, e da terra toda a face renovai, e da terra toda a face renovai”. Amém!

SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR

ANO NACIONAL DO LAICATO

DIA DAS MÃES  **  DIA MUNDIAL DAS COMUNICAÇÕES SOCIAIS

Leituras: At 1,1-11; Sl 46; Ef 1,17-23; Mc 16,15-20

POESIA

CRISTO NOS LEVA AO PAI

O Senhor nos eleva ao céu,
À face pura e Divina,
Quer-nos junto do Amor maior
Que nos chama e nos ensina,
Basta seguirmos nesta vida,
Com fé e oração na lida,
Com firmeza e disciplina.

O Senhor nos chama ao céu,
Junto a sua legião,
Quer unir todos os santos,
Na perfeita comunhão,
Para viver o puro amor,
Sem tristeza, morte ou dor,
Isto é, a salvação.

O Senhor nos quer no céu,
Mas nos chama a trabalhar,
No envia pelo mundo,
E sua Palavra pregar,
Levando a todos a vida,
Paz, dignidade e acolhida,
Sem nunca desanimar.

O Senhor vem e nos envia,
A todas as criaturas,
No cuidado a toda a terra,
Em sua vida e formosura,
À Natureza: fauna e flora,
Missão feita no agora,
Pelo amor, pela ternura.

O Senhor subiu ao céu,
Mas conosco ele está,
Pela sua santa Palavra,
Pelo seu corpo a nos dá,
Pela sua comunhão,
E sua Igreja em missão,
No mundo a continuar.

 

HOMILIA

Cristo na Glória do Pai

Neste 7º Domingo da Páscoa celebramos a Ascensão de Jesus Ressuscitado à Glória do Pai. A subida de Jesus ao céu não significa o distanciamento dele em relação a nós, mas também a possibilidade da nossa participação na Glória de Deus. Diz santo Agostinho: “Ele não abandonou o céu descendo até nós e nem se afastou de nós quando de novo subiu ao céu”[1]. O nosso Deus está sempre próximo, sempre caminhou conosco e agora quer continuemos a sua missão pelo mundo.

Os discípulos viveram durante quarenta dias a experiência da Ressurreição do Senhor que apareceu ao grupo sempre que estavam juntos. Preparou-os para a vinda do Espírito Santo, fez refeição com eles e depois de ter se manifestado os enviou em missão dizendo-os: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado.” (Mc 16,15-16).

Agora chega o momento de expandir a obra do Reino. É preciso caminhar firme com a certeza de que o Senhor caminha ao lado daquele grupo, orientando-os com a Palavra e alimentando-os com o seu corpo. Não se faz necessário fixar o olhar nas nuvens, é preciso dirigir a atenção para o caminho, local de itinerância e missão.

Às vezes, passa despercebido pelos pregadores a frase “… anunciai o Evangelho a toda criatura”. Esta mensagem de Jesus se refere não somente a todas as nações (povos diversos), mas a toda a criação de Deus. A Boa-Nova de Cristo deve ser disseminada pelo mundo de forma concreta como sendo um cuidado com toda a natureza criada por Deus: as matas, os animais, a terra, o ar, a água e tudo que ficou sobe o cuidado dos homens e mulheres. O que tem a ver isso com os cristãos? O Papa Francisco nos estimula à conversão ecológica e diz que “viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial de uma existência virtuosa.”[2]

Esta liturgia da Ascensão do Senhor também nos motiva a olharmos todo o mundo criado pela força divina. E não somente olharmos, mas perceber de que forma estamos cuidando de tudo isso. Percebemos muitas as doenças vinda dos poluentes, vemos tantas queimadas, ouvimos as notícias sobre a exploração dos povos indígenas e suas terras para se construir hidrelétricas e tirar madeiras, também tecnologias, mais em função da destruição que da preservação. Isso tem a ver com o Evangelho e com o envio dos discípulos de Jesus. É o cuidado com a “casa comum”, como prega o Papa Francisco.

Lucas, nos Atos dos Apóstolos, na primeira leitura, nos fala: Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: ‘Homens da Galileia’, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1,10-11).

Estes versículos dos Atos dos Apóstolos nos ajuda a refletir sobre a nossa experiência de discípulos missionários no mundo de hoje. A religião cristã não é uma espiritualidade baseada nas nuvens, ou seja, na concepção de um Deus distante e que subiu ao céu para ficar longe de nós. Ele foi elevado ao céu exatamente para também nos elevar. Cristo é presença viva pela Palavra, pela Eucaristia e pela Igreja reunida sobre a ação do Espírito Santo.

Neste sentido, não devemos tirar os pés do chão e flutuarmos, achando que o nosso Deus está distante. Quando pensamos assim, esquecemos que na terra precisa-se de homens e mulheres que assumam a presença viva de Cristo “rumo ao reino definitivo”.[3] Precisamos continuar a proclamar a Boa-Nova de Jesus, mesmo depois de dois mil anos, para que haja conversão, para que os já batizados encontrem a salvação.

Precisamos seguir anunciando a Boa-Nova em meio ao mundo que se corrompe pelas injustiças sociais, pela escravidão! Recentemente o Papa Francisco denunciou que “a escravidão não é algo de outros tempos” e estima-se que “existem mais de 40 milhões de pessoas, homens, mas principalmente mulheres e crianças, em situação de escravidão”.[4]

Nestas circunstâncias, o discípulo do Ressuscitado deve está de pé para transmitir esperança e fazer emergir o sentimento e as ações em favor da justiça, da dignidade humana e da paz mundial.

Portanto, ainda há pessoas que não receberam o Evangelho e necessitam da presença de Cristo em suas vidas. Há muitos batizados que precisam mergulhar no mistério de Deus para que se sintam também chamados a se tornarem mensageiros do Reino no mundo de hoje.

Sem a presença viva de Deus em nós e nós nele perdemos o sentido do caminho de nossa existência e assim caímos na ilusão do consumo, das riquezas materiais, do individualismo. Somos reféns das inovações, novidades que não se tornam Boa-Nova. Precisamos da Palavra de Cristo que quando invade nosso coração, às vezes, nos arrebenta, mas se torna Evangelho, Boa-Nova de vida e esperança para nós e para o irmão. Neste momento saímos do isolamento e temos vontade de também falar aos outros sobre o que vivemos de bom através da presença do Ressuscitado.

Que a Nossa Senhora nos ensine sempre mais sobre a experiência de Jesus que foi elevado ao céu pela sua ressurreição para também nos elevar, mas que ao mesmo tempo caminha conosco em Espírito e verdade, como fala o evangelista Marcos: “O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16,20). Portanto, a missão do cristão é exatamente tornar presente a convicção da vida nova em Cristo no mundo. Amém.


Notas:

[1] Apud CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C. São Paulo: Ave Maria, 2012, p. 320.

[2] FRANCISCO. Carta Encíclica Laudato Si’, n. 217. Documentos Pontifícios 22. Brasília: Edições CNBB, 2015.

[3] CNBB, Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2015-2019 (Doc. 102), trecho do Objetivo Geral.

[4] Publicado em 7 de maio de 2018. Disponível em: <https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2018-05/papa-escravidao-moderna-forum-internacional.html>.

VI DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 10,25-26.34-35.44-48; Sl 97(98); 1Jo 4,7-10; Jo 15,9-17

POESIA

UM AMOR QUE VEM PRIMEIRO

Olho para o Senhor,
E vejo que ele me escolheu,
Para ser seu amigo,
Para permanecer no seu amor,
E viver todo o esplendor,
E por isso no seu caminho eu sigo.

Olho para o Senhor,
E vejo o seu mandamento,
Que é um amor perfeito,
Que está além dos meus desejos,
Dos interesses que tenho e vejo,
Grande, abrangente e sem defeito.

Olho para o Senhor,
E vejo que a sua alegria é plena,
Porque traz vida e esperança,
Que não deixa nossas forças cair,
Nem no caminho a gente desistir,
Por que com Senhor ninguém se cansa.

Olho para o Senhor,
E vejo que ele nos quer amando,
Entre todos como irmãos,
Sem o rancor de outro dominar,
Nem na sua frente passar,
Querendo ser o seu patrão.

E vejo ainda que o Senhor,
Tem um amor de Pai e Mãe,
Ele está no início do meu existir,
Por primeiro nos amando,
Por isso está nos chamando,
Para com ele prosseguir.

Olho e vejo o seu banquete,
Que nos chama para festa,
Repleta de forte alegria,
Que chama para partir o pão,
Que mata a fome e a solidão,
Restaurando a vida em harmonia!

 

HOMILIA

O amor e a alegria no Senhor

A liturgia do 6º Domingo da Páscoa apresenta-nos, no evangelho de João, as temáticas do amor de Deus pelo Filho, o amor do Filho por nós e o conselho para que entre nós cristãos possa existir este amor a fim de que a nossa alegria seja completa.

Podemos nos perguntar: até que ponto a nossa compreensão do conceito e da prática do amor alcança o sentido mais próximo do amor de Deus? Podemos olhar para o amor do Pai pelo Filho, que se manifesta desde o início da Criação. Um amor que abraça por completo todas as criaturas não humanas e todos os homens e mulheres do mundo. Deus nos amou primeiro, nos quis semelhante a Ele, nos fez filhos através do seu Filho.

O amor de Jesus por todos nós se dá numa proximidade de amigos, pois nos revelar o seu plano de amor para o mundo e assim ele nos diz: “Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15b). E assim formamos a comunidade dos amigos de Jesus onde participamos das mesas da sua Palavra e da Eucaristia, comemos e bebemos com Cristo e em Cristo como irmãos e amigos seus. E vivemos na alegria, o que nos motiva a sermos irmãos na mesma mesa. Da mesma bebida, da mesma palavra que ressoa em todos os lugares do mundo, sem barreira de idiomas e culturas.

Nesta experiência de caminharmos com Jesus sendo amigos dele, devemos nos amar e viver este testemunho para que o mundo veja a beleza do amor que existia entre os primeiros cristãos. Eles mostraram para o mundo a experiência da partilha e da caridade colocando tudo em comum (cf. At 2,44). Como vivemos este amor entre nós? Como percebemos nossa relação de comunidade cristã, amigos do Senhor? Como está a partilha do nosso pão e da nossa vida cotidiana?

São reflexões necessárias no mundo de hoje, onde o amor é tão cantado e tão falado em palavras, mas que na prática é vazio de sentido. Às vezes, determinadas expressões de amor se apresentam com uma aparente tristeza ingênua, mas que, na verdade, buscam algum tipo de recompensa, de retribuição.

O amor da mãe pelos seus filhos é a expressão mais concreta deste amor que Jesus nos fala hoje na liturgia: um amor além dos sentimentos e dos afetos. Uma experiência da entrega e da consciência da missão de mãe. As mães amam os seus filhos, independentes das respostas que eles lhes dão. Assim é o amor de Deus por nós: um amor que vem antes de sermos gerados e que não espera retribuição nossa para que seu nome seja engrandecido.

O Senhor nos pede para guardar o seu mandamento e persistir no seu amor (cf. Jo 15,10). Permanecer no amor, perseverar nesta experiência do amor de Deus é a nossa tarefa de amigos de Jesus, para que a nossa alegria seja plena da presença da vida. Permanecer no amor… Até que ponto conseguimos permanecer nos nossos propósitos de caridade, de doação de nossa vida, de projetos a favor dos que precisam, como fez Jesus?

O Senhor deseja que permaneçamos no seu amor. Porque é isso que faz o Reino de Deus acontecer: manter o projeto de amor que Cristo pregou e viveu entre nós. Ele passou a vida fazendo o bem, disse o apóstolo Pedro (cf. At 10,38), que compreendeu que o amor de Cristo Ressuscitado também está para todos os homens e mulheres. “De fato, estou compreendendo que deus não faz distinção entre as pessoas”(At 10,34).

Que neste mês de maio, Nossa Senhora, a mãe de todas as mães e mãe de todos os homens, nos ensine o valor do amor de Deus em nossas vidas. O Senhor que nos escolheu para sermos seus amigos nos ajude a permanecermos no seu amor e na sua alegria, como nos fala o salmista: “Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, alegrai-vos e exultai”. Busquemos e vivamos a alegria do Evangelho no lugar da tristeza das guerras, do medo, do ódio e das desesperanças. Amém.

V DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 9,26-31; Sl 21(22); 1Jo 3,18-24; Jo 15,1-8

POESIA

NOSSA ETERNA VIDEIRA

Cristo nossa videira eterna,
Pela força do amor,
Faz-nos seus ramos vivos.
E o Pai, o agricultor,
Poda-nos pra santidade,
Dá-nos a vivacidade,
A seiva do salvador.

Cristo tronco vivo e eterno,
Igreja ramo a frutificar,
Pelo mundo espalha os frutos,
E as sementes a germinar,
E pelo Pai tendo cuidado,
Pelo filho muito amado,
Vida nova a regar.

Nem um ramo viverá,
Sem à videira, ligado
Precisa permanecer,
E ao tronco enxertado,
Para ter vida de paz,
E a seiva, amor que refaz,
Mundo novo instaurado.

Nos unindo como irmãos,
Em Cristo permanecendo,
Somos ramos em evolução,
E muitos frutos oferecendo,
A esperança será constante,
Frutos doces a todo instante
E a vida nova oferecendo.

Seiva que traz o verdor,
E o existir em harmonia,
A vida com seu sentido,
Que floresce na alegria,
Dá sentido à nossa essência,
Motiva nossa existência,
Sendo à noite ou à luz do dia!

Força, fonte e beleza,
Faz os ramos em união,
O encontro à videira tão bela,
Festa que se faz de irmãos,
No encontro de paz e partilha,
Vinha que cresce e que brilha
Povo novo em comunhão.

 

HOMILIA

Cristo é nossa videira verdadeira

A liturgia deste quinto domingo do tempo Pascal nos apresenta Jesus que se denomina como a videira verdadeira. Jesus, que viveu dentro de uma realidade de plantadores de uvas, contempla o trato e o cuidado dos agricultores com cada ramo de parreira. Olhando para a Igreja, nós somos os ramos da videira e formamos a grande vinha de Deus. E se queremos produzir bons frutos devemos permanecer unidos a Ele. Jesus apresenta o Pai como o agricultor, ou seja, aquele que cuida da plantação podando os galhos e tirando os excessos de ramos secos que impedem a produção dos frutos.

Quando Jesus nos fala que é a videira verdadeira, nos vem naturalmente algumas perguntas: O que é a videira falsa? Porque o Pai é o agricultor? No tempo da promessa (Antigo Testamento) podemos verificar que Israel foi considerado como uma videira que nem sempre produziu bons frutos. Em alguns momentos produziu as uvas que nasceram amargas e inúteis (cf. Jr 2,21). Em outros momentos acumularam galhos seco e inférteis.

Faz necessário que os ramos sejam podados para que estejam limpos e com o objetivo de produzir bons frutos. Esta poda que se dar pelas atitudes de conversão e pelo novo caminhar, que retoma a vivacidade dos ramos que estão ligados ao tronco, que é o próprio Cristo.

Jesus é a videira verdadeira. A partir da sua encarnação e da ressurreição, nasce a vida nova. Ao mesmo tempo ele produz muitos ramos e frutos. Diz Jesus: “Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5b). Faz necessário permanecer ligado a ele para dar bons frutos. Pois dele brota a seiva, o amor que traz a vitalidade, o sabor e o sentido da nossa existência.

Não faz sentido ramos desligados da vida em Deus pela autossuficiência e pela ignorância em relação à Palavra. Quando agimos assim temos como consequência o vazio e o sentimento de abandono, como se Deus não estivesse caminhando conosco. Como se estivéssemos desligado do sentido de existir e por isso não se transmite vida e nem se irradia o seu sentido.

Nós, cristãos, somos os ramos que se ligaram a Cristo a partir do batismo e por isso precisamos permanecer unidos entre si e ao mesmo tempo ligados ao tronco. Precisamos deixar-nos ser podados pelo agricultor divino para que ele nos tire os ramos secos e improdutivos representado pelos nossos pecados.

Se nomearmos esses ramos secos (pecados) podemos dizer que estes se traduzem no nosso comodismo, na nossa indiferença, na nossa incoerência, na distância de quem amamos, nas nossas injustiças, falta de cuidado com o outro e as tantas maldades que praticamos contra nossos irmãos e irmãs.

O novo povo de Deus é a grande videira que espalha seus ramos pelo mundo através dos discípulos do Senhor. E nessa caminhada de fé e missão poderemos saborear frutos deliciosos, seja quando nos encontramos ao redor da mesa da Eucaristia e da Palavra ou quando partilhamos nossos sonhos e propósitos junto aos que amamos e também quando estamos perto das pessoas que sonham conosco, por um mundo que se parece com uma vinha de harmonia, amor e paz, como sendo os frutos doces que alegram e animam a existência humana e a criação de Deus.

A comunidade cristã, portanto, é o lugar onde nos relacionamos como ramos (irmãos) para expressar o esplendor da vida, da alegria e da beleza de nossa união. Isto acontece nos momentos de conversas, de confraternizações, nas orações e nas celebrações, onde o pão e o vinho são partilhados, onde acontece a união da vida em Cristo pelo encontro com ele e com os outros.

Quanto aos frutos, temos as obras concretas de caridade aos irmãos que se realizam nos movimentos a favor da justiça e da vida, nas campanhas de ajuda aos pobres, nos diversos projetos sociais e na conscientização política a favor do bem comum, quando os impostos são bem empregados em favor das pessoas.

Na segunda leitura desta liturgia, São João nos adverte: “não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!” (1Jo 3,18). A falta de amor aos irmãos corresponde a improdutividade da videira ou ao desligamento de Cristo. A lei do amor é praticada quando as nossas atitudes forem coerentes com nossos discursos, os quais, às vezes, são puramente teóricos.

Sem a presença do amor de Deus em nossas vidas, somos como galhos secos e sem vida. Quantas vezes dizemos que amamos a Cristo quando estamos dentro da Igreja, mas ao sair na rua já desprezamos um necessitado ou um doente. Em quantos momentos de euforia pregamos tão bonito e no nosso cotidiano somos incoerentes com tudo que falamos.

Por isso é importante sempre revermos nossas ações, nossos pecados, nossa miséria para que sejamos podados pela graça purificadora do perdão de Deus. E, sobretudo, nos perguntar como está a nossa harmonia de vida em nosso caminhar. Se buscarmos o contato com o ser infinito de Deus, nos tornamos mais expressão dele onde quer que estejamos e também naquilo que fazemos.

Peçamos ao Espírito Santo que a sua luz nos ilumine e nos faça iluminados, porque somos também iluminadores quando estamos unidos a Cristo. Precisamos iluminar o mundo que está em guerra e que também explora e massacra a criação de Deus, seja o homem, seja a natureza, a terra, “nossa casa comum”. Amém.