6º Domingo do Tempo da Páscoa, Ano C, São Lucas

 

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela fé dos jovens ⇐

 

Leituras: At 15,1-2.22-29; Sl 67(66); Ap 21,10-14.22-23; Jo 14,23-29

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Tempo Pascal: Um Grande Domingo

Jo 14,23-29

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do 6º Domingo da Páscoa, do Ano C, neste Ano “Família Amoris Lætitia”, nos motiva a manter a contemplação no novo mandamento: amarmos uns aos outros. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 14,23-29, passagem que está situada no mesmo contexto bíblico do Domingo passado, isto é, “A despedida” (cf. Jo 13,31-14,31) de Jesus logo após o episódio do lava-pés.

E neste 6º Domingo, a Igreja nos conduz a uma reflexão que retoma o tema do Domingo passado: o amor é a base da vivência cristã, é o fundamento da construção de uma vida de comunhão, paz e justiça. E este amor não é abstrato, pois está voltado para a Palavra do Senhor que nos conduz ao Pai (cf. Jo 14,23).

Assim, o nosso caminhar dentro do tempo pascal chega ao 6º domingo e assim nos aproximamos do Pentecostes, momento litúrgico em que a Igreja celebra a descida do Espírito Santo sobre todos os que estavam reunidos no Cenáculo.

O amor que Nosso Senhor nos deixou é resultado da escuta e da obediência da Palavra com a iluminação do Espírito Santo prometido pelo Senhor. A luz do Espírito Santo tem iluminado a Igreja em seus desafios missionários desde início, pois o próprio Cristo prometeu: “Ele [o Espírito Santo] vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26).

A primeira leitura desta Liturgia (cf. At 15,1-2.22-29) nos apresenta algumas dificuldades das primeiras comunidades, sobretudo a questão dos ritos de inserção da lei judaica (a circuncisão) que deveria ser observada pelos que se convertiam e que queriam fazer parte do grupo dos discípulos do Nazareno.

Naquele momento surge a necessidade da abertura para uma Lei que ultrapassasse o Templo e das tábuas escritas. Aqui podemos retomar o Evangelho que cita o amor (o acolhimento) como o critério principal para receber os novos convertidos no grupo dos Apóstolos.

Também percebemos a ação do Espírito Santo quando são enviados, de Jerusalém, missionários para levarem a mensagem da decisão dos Apóstolos, como relata a seguinte passagem: “Por isso, estamos enviando Judas e Silas, que pessoalmente vos transmitirão a mesma mensagem. Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis: abster-se de carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, das carnes de animais sufocados e das uniões ilegítimas.” (At 15,27-29).

Todas estas situações acima citadas são realidades que aconteceram e que acontecem entre os cristãos, pois a Igreja terrestre necessitou e necessita da conversão e da purificação constante como nos afirmou o Papa Emérito Bento XVI: “A Igreja é a esposa de Cristo, o qual a torna santa e bela com a sua graça. Contudo esta esposa, formada por seres humanos, está sempre necessitada de purificação. E uma das culpas mais graves que deturpam o rosto da Igreja é contra a sua unidade visível, sobretudo as divisões históricas que separaram os cristãos e que ainda não foram totalmente superadas”(1) . Esta purificação vem do Espírito Santo prometido por Nosso Senhor, pois é na caminhada dos primeiros anunciadores marcados pelas perseguições, opiniões diversas, discursões doutrinais que a ação de Deus, Uno e Trino, está presente.

Não podemos imaginar uma Igreja que nasceu porque os colaboradores de Jesus já eram todos santos, somente o próprio Cristo era o Deus homem, o Santo e o vencedor da morte. Para se viver a santidade todos os Apóstolos passaram pela purificação como homens terrenos, porque acolheram a força da Ressurreição e seguiram firmes na fé guiados pelo Paráclito. Os discípulos acreditarem e proclamaram as promessas de Jesus. Isso foi fundamental para que chegasse até nós o Evangelho e a mensagem da Boa-Nova.

Agora podemos nos maravilhar daquilo que o Senhor falou aos Seus discípulos na despedida logo após o lava-pés: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 14,27).

Seguir o Senhor ressuscitado é ser guiado pela paz que nos conforta e nos deixa o coração livre para enfrentar os desafios da vida cotidiana e da missão evangelizadora.

Podemos, meditar, ainda, a partir da segunda leitura, obtida do livro do Apocalipse (cf. Ap 21,10-14.22-23), quando João, no versículo 22, nos fala do novo templo que é o próprio Senhor: “Não vi templo na cidade, pois o seu Templo é o próprio Senhor, o Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro.” Esta deve ser a nossa compreensão de culto, pois viver a adoração ao Senhor na nova aliança agora não é mais estar preso ao espaço físico, porque se faz necessário viver o amor no mundo e saber que o Senhor está em todo lugar e inclusive em nós, em nosso coração, como templos vivos para a Sua habitação e nossa santificação.

E neste tempo da Páscoa, que temos vivido como um único dia de alegria e de ação de graças , nos preparemos para o Pentecostes com a Novena que se inicia na próxima Quinta-feira e peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, que ela interceda por nós para estarmos preparados para recebermos o dom da piedade, fundamental para que estejamos com firmes e prazerosos, de dia e de noite, diante do amor de Deus (cf. Sl 1,2). Amém.

*   *   *
(1) Papa Bento XVI. Homilia dominical na Praça de São Pedro, 20 de janeiro de 2013. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2013/documents/hf_ben-xvi_ang_20130120.html>. Acesso em: 20 maio 2022.
(2) Cf. ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico: Sua história e seu significado segundo a renovação litúrgica. São Paulo: Loyola, 2019. p. 61.

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Novo é o Amor


Amar, regra primeira,
E a obediência virá
Amor ilimitado,
E a Lei se cumprirá
Ouvir atento a Palavra,
E o Paráclito a guiar.
*
Acolher Nosso Senhor
Para a paz receber,
Seguir a nova Lei,
Para o outro acolher,
Não discriminar,
Seguir sem esmorecer.
*
Encontrar com os irmãos,
Pra viver comunhão,
Acolhendo aos que chegam,
Que a nós se juntarão,
Como fermentos vivos,
Novo Reino em ação.
*
Seguir sempre em missão,
Com o Espírito de Amor,
Como templos vivos e santos,
Novo culto ao Senhor.
Num caminhar de paz,
E coração em ardor.
*
Esta é a nova Lei,
Que o mundo irá seguir,
O Amor, a principal base,
E a Palavra a ouvir,
E um culto sempre novo,
Pra se construir.


*   *   *

 

Obra: “O Último Sermão de Nosso Senhor”, In brooklynmuseum.org, de J. Tissot.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que manda que nos amemos uns aos outros, ilumine o seu caminho! 

 

 

5º Domingo do Tempo da Páscoa, Ano C, São Lucas

 

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela fé dos jovens ⇐

 

Leituras: At 14,21b-27; Sl 145(144); Ap 21,1-5a; Jo 13,31-33a.34-35

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Um Novo Céu e uma Nova Terra, no Amor do Senhor

Jo 13,31-33a.34-35

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do 5º Domingo da Páscoa, do Ano C, neste Ano “Família Amoris Lætitia”, nos motiva a contemplar o Senhor Jesus Cristo que nos dá um novo mandamento: amarmos uns aos outros. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 13,31-33a.34-35, passagem que está situada no início da terceira e última parte do Evangelho Segundo São João intitulada “A hora de Jesus. A Páscoa do Cordeiro de Deus” (cf. Jo 13,1-21,25). Numa leitura um pouco mais detalhada, percebe-se que a passagem conhecida como “A despedida” (cf. Jo 13,31-14,31) está no início dos capítulos conhecidos como “A Última Ceia de Jesus com Seus Discípulos” (cf. Jo 13,1-17,26), logo após o episódio do lava-pés.

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está em Jerusalém para a festa da Páscoa, segundo o calendário judaico.

E neste 5º Domingo, a Igreja nos oferece um texto do Evangelho que não traz, necessariamente, uma narrativa pascal, mas nos apresenta a base para vivermos o sentido daquilo que é o fundamento da vida nova em Cristo: o amor. O Cardeal Raniero Cantalamessa(1), pregador da Casa Pontifícia, nos lembra que o Evangelho e a segunda leitura, desta Liturgia, apresentam a repetição de uma palavra em comum: o adjetivo novo. E assim diz no Evangelho: “Eu vos dou um novo mandamento” (Jo 13,34a); no Apocalipse: “Vi um novo Céu e uma nova terra; Vi a cidade santa, a nova Jerusalém; Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,1-2.5). [grifos nossos].

A notícia da Ressurreição traz um sentido novo para vida dos que já seguiam o Senhor e também para todos que foram envolvidos nesse acontecimento. Portanto, a grande novidade é o amor que Jesus vive, de forma imensa, intensa e profundamente, doando-se à humanidade, não apenas pelos Seus seguidores, mas por todos os povos e nações, sendo que o amor de Deus trazido pelo Filho será o alimento dos missionários na continuidade a obra do Senhor.

Podemos então nos perguntar: O que faz uma comunidade cristã ser sempre nova em sua experiência de encontro com o Senhor e os com irmãos? O que faz uma família ser sempre sinal de alegria e de testemunho de Deus no seu ambiente interno e externo? O que nos chama atenção num grupo de jovem que faz a diferença dentro de uma paróquia, nas suas atividades pastorais e na convivência do grupo de forma interna? A resposta será obvia: é o Amor, o novo mandamento de Cristo, a novidade de uma experiência cristã.

E quantas comunidades morreram por não cultivar o mandamento do Amor fraterno, o mandamento novo deixado por Cristo, sendo substituído pela frieza que apaga a chama do Espírito Santo? Quantas famílias são destruídas por causa da ausência do mesmo Amor que não foi acolhido e vivido no lar? Quantos grupos cristãos de crianças, jovens e adultos que param de se encontrar porque existem fortes divergências que não se resolvem por falta da fraternidade cristã?

No entanto, precisamos reconhecer que muitas comunidades, famílias e grupos são sinais do amor que renova e que anima a Igreja, que motiva e ressoa a verdade da Boa-Nova anunciada por Jesus e pelos primeiros missionários (Apóstolos e discípulos): que o Reino de Deus já está entre nós (Lc 9,2.10,9), pois nos transforma em uma nova criatura com o coração inflamado pelo amor de Cristo e sendo fermento de atitudes da verdadeira caridade no mundo.

Rezemos por todos nós para que estejamos atentos ao motivo primeiro do nosso seguimento ao Senhor: o amor entre os irmãos. Amor que é diaconia (serviço) e missionariedade na vida da Igreja e no mundo. Rezemos também pelo Santo Padre, o Papa Francisco, pelos Bispos, presbíteros, diáconos, pais de família e todas as lideranças que estão na caminhada da Igreja, para que encontrem sempre o motivo de sua fé e sigam firmes com o Senhor na proclamação da sua Boa-Nova que nos diz: “Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” (Jo 13,34-35).

Recordemos que ainda estamos sob a sombra da festa litúrgica de Nossa Senhora de Fátima, celebrada no último dia 13 de maio, cujas aparições, que ocorreram entre maio e outubro de 1917, ainda repercutem em nossos dias.

E neste forte tempo de Pentecostes, tempo pascal, peçamos a Nossa Senhora, a Virgem de Fátima, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, que ela interceda por nós para estarmos preparados para recebermos os dons da fortaleza e do conhecimento, dons fundamentais para superarmos nossas debilidades e escutarmos da Palavra de Deus e abraçarmos a vontade do Pai que está nos Céus. Amém.

*   *   *
(1) É o pregador da Casa Pontifícia desde 1980 e seu criado Cardeal em 28 nov. 2020. Cf. CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C. São Paulo: Ave Maria, 2012.

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Novo é o Amor


Desde que nós existimos,
Lá no início da Criação,
Estava presente o Amor,
Sendo de tudo a razão,
Para sermos semelhantes,
Naquele tempo e neste instante,
Para nos fazer doação.
*
Tanto tempo e nada velho,
Pois o Amor não envelhece,
É eterno no existir,
Não se enruga, nem desfalece,
Está no início e em nosso tempo,
Ele é tudo, é alimento,
Se germina e refloresce.
*
Está em nossos encontros,
De partilha e comunhão,
Faz-nos criaturas novas,
No trabalho e na oração,
É o novo mandamento,
De Jesus, é o testamento,
Pra vivermos como irmãos.
*
Novo é a vida nova em Cristo,
Doação da vida plena,
Pois o Amor é infinito,
Que acolhe e nada condena,
Aceita nossa liberdade,
Na escolha da verdade,
A caridade Ele ordena.
*
Seguindo por este caminho,
Sempre, sempre renovados,
Ao lado do Bem Supremo,
Que é o Senhor ressuscitado,
No novo Céu vamos chegar,
E o Amor nos julgará
E novos sempre nós seremos.


*   *   *

 

Obra: “A Última Ceia”, In brooklynmuseum.org, de J. Tissot.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que manda que nos amemos uns aos outros, ilumine o seu caminho! 

 

 

4º Domingo do Tempo da Páscoa, Domingo do Bom Pastor, Ano C, São Lucas

⇒ 59º Dia Mundial de Oração pelas Vocações – tema “chamados para construir a família humana”

⇒ Dia das Mães ⇐
⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela fé dos jovens ⇐

 

Leituras: At 13,14.43-52; Sl 100(99); Ap 7,9.14b-17; Jo 10,27-30,27

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

O Verdadeiro Pastor é Aquele que Dá a Vida pelas Suas Ovelhas

Jo 10,27-30

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do 4º Domingo da Páscoa, o Domingo do Bom Pastor e Dia Mundial de Oração pelas Vocações, do Ano C, neste Ano “Família Amoris Lætitia, nos motiva a contemplar Cristo, o Bom Pastor, que dá vida eterna para Suas ovelhas. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 10,27-30, passagem que está situada no final da segunda parte do Evangelho Segundo São João intitulada “O ministério de Jesus” (cf. Jo 1,19-12,50). Averiguando um pouco mais texto de João, percebemos que o Evangelho de hoje está dentro do contexto da “A verdadeira identidade de Jesus” (cf. Jo 10,22-39).

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está em Jerusalém para a festa da Dedicação.

Neste Domingo, a Igreja nos oferece uma terceira dimensão da identidade do Bom Pastor como sendo Aquele que dá a vida eterna, conduzindo as ovelhas, firmes e corajosas, pelo caminho que leva à tenda do Pai, onde não há nem fome nem sede e o centro é o próprio Cristo, Cordeiro e Pastor (cf. Ap 7,15-17).

Agora, olhemos para nós, ovelhas que desejam ouvir a voz do Pastor para segui-lo e fazer parte da multidão diante do trono do Cordeiro; uma multidão que reuniu muita gente de todas as nações, tribos, povos e línguas e que era incontável (cf. Ap 7,9).

No entanto, ao mesmo tempo em que somos ovelhas, somos também chamados para caminhar no caminho do Seu rebanho, numa realidade de irmãos que se ajudam na motivação da fé e na busca da santidade e em comunhão.

Na primeira leitura desta Liturgia, temos o testemunho missionário de são Paulo e são Barnabé de anunciar a Palavra de Deus aos judeus e as consequências desta ação missionária destes dois já sabemos: perseguição, uma realidade própria de todos aqueles que anunciam a Palavra libertadora de Jesus. Já a segunda leitura nos apresenta o testemunho de são João sobre a glória do Cordeiro com a presença dos “que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro. Por isso, estão diante do trono de Deus e lhe prestam culto, dia e noite, no seu templo’.” (Ap 7,14b-15).

Podemos lembrar de tantos santos e santas que viveram a experiência do encontro com o Bom Pastor e que em vida terrena já pronunciavam a certeza de fazer parte da incontável multidão na Igreja celestial. Viveram fiéis até o derramamento de sangue (São Sebastião – *256+286), viveram na pobreza (São Francisco de Assis – *1181+1226 – e Santa Tereza de Calcutá – *1910+1997), na profundidade da meditação espiritual deixando tantos escritos que chegaram até nossos dias como riqueza da espiritualidade cristã (Santa Tereza D’Ávila – *1515+1582 – e São João da Cruz – *1542+1591; e tantos outros santo), além dos inúmeros santos anônimos que testemunharam e testemunham a fé na simplicidade, na doação de vida, na missão e na vivência das virtudes próprias de ovelhas que escutam a voz do Senhor, a voz do Bom Pastor e estão ligadas a Ele.

Lembremos que o Senhor chamou, preparou e enviou discípulos para cuidar do Seu rebanho e estes vocacionados o representam na caminhada da Igreja. O Papa, os Bispos, os padres, os diáconos, os catequistas, os evangelizadores e tantos cristãos coerentes na fé e que vivem no mundo do trabalho, nos mostram, pelo seu testemunho, a face do Bom Pastor que cuida das Suas ovelhas. Porém não esqueçamos que o rebanho é do Senhor, não sendo, portanto, propriedade particular de ninguém, porque ao mesmo tempo em que somos lideranças (pastores) somos também ovelhas do mesmo rebanho.

Rezemos por todos aqueles que estão na caminhada evangelizadora proclamando o Reino de Deus com a sua vida nas diversas realidades do mundo, para que sejam perseverantes na sua vocação e fermento de amor entre os irmãos, numa postura, numa atitude de consciência de que são discípulos do Ressuscitado, mas que são também parte integral do Rebanho que é conduzido pelo Bom Pastor.

Neste Domingo do Bom Pastor a Igreja, universalmente, está voltada para o Dia Mundial de Oração pelas Vocações, instituído pelo Papa São Paulo VI, em 1964, em meio aos trabalhos do Concílio Vaticano II. Nesta 59ª edição do Dia Mundial de Oração pelas Vocações, o Papa Francisco nos apresenta o termo “vocação” em sentido amplo, que deve estar vocacionado para cura das feridas, das lepras modernas da família humana, desejada por Deus. Para isso nos apresenta o tema “chamados para construir a família humana”. Recordemos, ainda, que no horizonte desta semana, dia 13 de maio, está a festa litúrgica de Nossa Senhora de Fátima, cujas aparições, entre maio e outubro de 1917, ainda nos cobrem com mensagens de alerta sobre a Rússia e os povos vizinhos.

E neste tempo forte de preparação para o dia de Pentecostes, peçamos a Nossa Senhora, a Virgem de Fátima, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, que ela interceda por nós para estarmos preparados para recebermos os dons do entendimento e do conselho, dons fundamentais para o aprimoramento da escuta da Palavra de Deus e da vontade do Pai que está nos Céus. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Supremo Pastor dos Pastores


Voz que conduz a multidão
Que orienta e purifica,
Que plenifica.
Que leva à eternidade,
Sendo caridade,
Cajado que dignifica.
*
Pastor que conhece o rebanho,
Protegendo-o no caminhar,
Não deixando desgarrar.
Mão protetora,
Vida salvadora,
Que se deixa amar.
*
Cordeiro supremo da vida nova,
Que acolhe a incontável multidão,
Que se une em comunhão,
Às diversas realidades das nações,
Mártires das tribulações,
Alvejados para a santificação.
*
E nós ovelhas seguidoras,
A sua voz escutamos,
A ela nos ligamos.
E como rebanho nos unimos,
Vida eterna garantimos,
E chegar ao trono, almejamos.


*   *   *

 

Obra: “O Bom Pastor”, In brooklynmuseum.org, de J. Tissot.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pastor que dá vida eterna para Suas ovelhas, ilumine o seu caminho! 

 

 

3º Domingo da Páscoa, Ano C, São Lucas

⇒ Dia de São José Operário ⇐
⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela fé dos jovens ⇐

 

Leituras: At 5,27b-32.40b-41; Sl 30(29); Ap 5,11-14; Jo 21,1-19

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Força do Testemunho no Ressuscitado

Jo 21,1-19

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do 3º Domingo da Páscoa, do Ano C, neste Ano “Família Amoris Lætitia , nos motiva a contemplar a beleza do testemunho dos apóstolos que proclamam, com coragem e alegria, a verdade na Ressurreição. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 21,1-19, passagem que é sequência do Domingo passado e que está situada no final da terceira e última parte do Evangelho Segundo São João intitulada “A hora de Jesus. A Páscoa do Cordeiro de Deus” (cf. Jo 13,1-21,25).

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está, em Seu Corpo glorioso, à margem do Mar de Tiberíades (que é o mesmo Mar da Galileia ou Lago de Genesaré). Tiberíades ficava ao sul de Cafaranum, a cidade do Senhor Jesus, e eram separadas por uma distância de, aproximadamente, 20 km.

Neste Domingo, a Igreja nos oferece, uma vez mais na Liturgia da Palavra, a perspectiva da ressurreição da carne, como uma participação na glória do Filho, que assumiu em tudo, menos no pecado, a natureza humana.

Esta aparição do Ressuscitado acontece no contexto profissional dos apóstolos, na vida cotidiana, no trabalho, ao “ar livre” e não com “portas fechas”, pois a Ressurreição passa por entre barreiras e obstáculos. A presença do Senhor também não está presa ao Templo, agora o templo de adoração é o Corpo glorificado do Senhor.

O Evangelho de hoje nos proporciona vários pontos de reflexão para a experiência comunitária, sobretudo a de que é o Ressuscitado o condutor para que a comunidade cristã evangelize o mundo. A pesca foi um fracasso até a aparição de Jesus Ressuscitado, mas com Ele acontece o milagre da abundância, isto é, somente com Ele a nossa evangelização tem êxito.

O chamado para cuidar do rebanho deve ser alimentado, primeiramente, pela vivência do amor. “Pela terceira vez, perguntou a Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas?’ Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele o amava. Respondeu: ‘Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo’. Jesus disse-lhe: ‘Apascenta as minhas ovelhas’.” (Jo 21,17).

Por três vezes Pedro é interpelado pelo Senhor, pois antes tinha negado que conhecia Jesus também por três vezes antes do galo cantar (cf. Lc 22,56-60). Mas isso não foi impedimento para seguir em frente, agora está disposto e reabilitado pela força da Ressurreição e também por sua conversão mais profunda. Cristo tem o senhorio da barca e da missão e a iniciativa de Pedro de realizar a pesca é seguida pelos outros apóstolos, quando disseram nós também vamos pescar (cf. Jo 21,3).

Com esta experiência Pedro caminhará e encontrará perseguições, calúnias. Seguirá para o martírio com uma convicção tão forte que se sentirá alegre e satisfeito porque agora encontrou a razão da sua fé, como podemos confirmar nos Atos dos Apóstolos: “Os apóstolos saíram do Conselho, muito contentes, por terem sido considerados dignos de injúrias, por causa do nome de Jesus.” (cf. At 5,41).

Olhemos agora para João, o Discípulo Amado, aquele que esteve no sepulcro vazio e esperou Pedro chegar para conferir o acontecimento. Ele também está presente na pesca milagrosa e é quem reconhece primeiramente o Senhor Jesus e comunica a Pedro (cf. Jo 21,7). João é a face da Igreja contemplativa, orante, ministério do amor, que reclina a cabeça sobre o coração de Cristo (cf. Jo 13,23), que está ao pé da cruz e que acolhe a Virgem Maria como sua mãe (cf. Jo 19,26-27), mas que é obediente ao representante do colégio apostólico.

As nossas comunidades paroquiais, grupos e pastorais devem fixar estas duas faces da Igreja: a que trabalha, representada por Pedro; e a que contempla e alimenta a comunhão e a missão, representada por João. Assim, nós, cristãos do século XXI, somos testemunhas primeiramente da Ressurreição do Senhor, que é autor da vida. Também devemos viver a caridade, a comunhão e a obediência quando respondemos ao Senhor que chama para lançarmos as redes de pesca.

Recordemos ainda que neste mês de maio as intenções do Papa Francisco, Bispo de Roma e herdeiro da barca de Pedro, estão voltadas à juventude, para que, a exemplo a Virgem Maria, descubram a coragem como fruto da fé e o amor como motivação e como resultado da dedicação ao serviço.

E neste tempo forte da Páscoa peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, que ela interceda por nós para estarmos preparados para o reconhecimento, para o recebimento do dom da sabedoria e assim estejamos revestidos do Shalom do Pai, da Paz do Senhor e ao caminharmos por entre barreiras, obstáculos e tribulações possamos acreditar na vida nova. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Pela Fé, na Coragem e na Alegria


Lá vão os discípulos, seguidores do Amor,
Em meio a calúnias e injúrias,
É o grande cominho que inicia,
Seguem sem medo,
Confiantes e na alegria.
*
Vão remando mar adentro,
Para o grande milagre,
Para a pesca do amor,
Que não afunda com a tempestade.
Porque o barco é do Senhor.
*
E em meio à mesa da partilha,
Onde o Pão os sacia,
Confirmam a missão,
Anunciando vida nova,
Construindo comunhão.
*
Seguem em comunidade,
Como “pedras vivas”,
Para o Reino edificar,
A caminho do martírio,
Firmes vão, sem desanimar.
*
E nós missionários de agora,
Seguiremos também no Amor,
Vivendo como os primeiros,
Caminhando sobre tempestades,
Mar adentro, sem desespero.


*   *   *

 

Obras: “Refeição de Nosso Senhor e dos Apóstolos” In <brooklynmuseum.org> e “Alimente meus cordeiros”, In <brooklynmuseum.org>, de J. Tissot..

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos proporciona a sabedoria que nos permite caminharmos em paz por entre as tribulações da vida, ilumine o seu caminho! 

 

 

2º Domingo da Páscoa, Domingo da Misericórdia, Ano C, São Lucas

⇒ Domingo da Misericórdia ⇐
⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐

 

Leituras: At 5,12-16; Sl 118(117); Ap 1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Ressurreição: Vida Nova de Cristo que Cresce pelo Mundo

Jo 20,19-31

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do 2º Domingo da Páscoa, do Ano C, neste Ano “Família Amoris Lætitia, nos motiva a contemplar Cristo que vem aos Seus discípulos com a própria Paz enviada por Deus, cuja misericórdia é eterna [Sl 118(117),2]. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 20,19-31, passagem que é quase sequencial ao Evangelho do Domingo passado e está situada na terceira e última parte do Evangelho Segundo São João intitulada “A hora de Jesus. A Páscoa do Cordeiro de Deus” (cf. Jo 13,1-21,25).

Nesta Liturgia, portanto, Nosso Senhor aparece aos Seus discípulos que estavam às escondidas num cenáculo, em Jerusalém. Estavam com as portas fechadas, pois tinham medo dos judeus.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor Jesus Cristo, ressuscitado pelo Pai, apresentando-se aos Seus discípulos com a tradicional saudação judaica: shalom, que quer dizer, a “paz esteja convosco”. Mas não era qualquer paz, era a paz de Deus. Com esta saudação, o Ressuscitado apresenta-se então como a própria Paz de Deus, ou seja, Cristo é, como diz a canção “Benção de Paz”(1), “o shalom do Pai”.

Acabamos de vivenciar a semana chamada Oitava da Páscoa, na qual a Liturgia da Palavra foi marcada por testemunhos, sejam através de milagres, medo dos homens ou choro das mulheres. Atitudes características dos primeiros dias depois do Gólgota.

O evangelista João nos conta que era o início da noite, primeiro dia da semana e as portas fechadas por medo dos Judeus (cf. Jo 20,19), ou seja, os que acompanharam Jesus de perto, estavam ainda nas trevas, marcados pelo medo e pelas incertezas.

No dia da Ressurreição, Nosso Senhor aparece numa realidade gloriosa, vivo e alegrando os discípulos, apresentando o Seu sopro de vida nova, para enviar-lhes em missão e transmitirem a autoridade do perdão dos pecados, pois Ele veio para salvar a todos dos pecados do mundo, mostrando a face de Deus, que é infinita misericórdia.

Outro ponto importante do Evangelho é a descrença de Tomé, que não estava na comunidade quando o Senhor aparece pela primeira vez e por isso se mostra incrédulo, como um cientista que quer provas para dar crédito à verdade da Ressurreição e, novamente, oito dias depois (ou o primeiro dia da semana – o Domingo), o Senhor vem ao encontro da comunidade e está lá Tomé para viver a experiência da fé na vida nova.

Tomé é convidado a tocar nas chagas de Jesus para sentir e crer, assim como muitos de nós ainda precisamos de provas para crer que o Reino de Deus já está entre nós. Disse o Senhor a Tomé: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20,29). Nós, cristãos da atualidade, também somos felizes quando vivenciamos a nossa fé na Ressurreição de Jesus e quando vivemos também a vida nova em nossa caminhada e, ao mesmo tempo, somos transmissores desta verdade.

O que somos capazes de proclamar para os outros sobre o Ressuscitado? O que nos motiva a vivermos uma experiência de convicção da nossa fé? O Tempo Pascal é propício para reavaliarmos a nossa experiência de discípulos e discípulas do Senhor e levarmos a frente esta verdade, com a certeza de que foi a convicção dos que seguiram o Senhor Jesus ou ouviram a pregação sobre o Ressuscitado que fez chegar até nós, no nosso tempo, a mensagem maravilhosa de que o Senhor ressuscitou e nós podemos ressuscitar com Ele.

Precisamos meditar se a descrença de Tomé tem relação com sua ausência da comunidade dos discípulos e porque Jesus não apareceu somente a ele após a aparição aos outros? Onde estava Tomé? O que levou ele a ficar ausente?

E foi exatamente após a caminhada de uma semana que o Senhor Jesus se apresentou mais uma vez e agora com a presença de Tomé que é convidado a tocar nas Suas chagas. Como Tomé, às vezes, precisamos de mais tempo também para absorvermos uma realidade nova em nossa existência.

O evangelista João faz questão de nos lembrar das marcas, das feridas, da crucificação e da presença de Tomé no grupo. Talvez por duas razões: primeiro para provar que era Jesus mesmo que estava ali com eles, com as feridas, pois fora crucificado e também para dizer que a fé dos apóstolos foi alimentada na experiência da comunidade reunida.

Portanto, irmãos e irmãs, é na partilha da mesma realidade e no encontro fraterno que alimentamos a nossa fé na Ressurreição do Senhor e somos motivados a prosseguir um caminho novo.

Peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Igreja e Rainha dos Apóstolos, que ela interceda por nós para estarmos preparados para o recebimento dos dons do Espírito Santo, neste Tempo, neste grande dia que a Igreja chama de Tempo da Páscoa ou Tempo de Pentecostes. Amém.

*   *   *
(1) Cf. CD “Na Dança da Vida”, Comunidade Católica Shalom.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Ele está no Meio de Nós


Ele está em nosso meio,
No encontro e na alegria,
Na reza de cada dia,
Na partilha do Pão,
Fazendo-nos Comunhão,
Viva e santa Eucaristia.
*
Ele está na caminhada,
Dos caminheiros queridos,
Que mesmo com os pés feridos,
Das estradas compridas,
Às vezes trazendo fadiga,
Mas se sentem agradecidos.
*
Ele está em nossa vida,
Às vezes com portas fechadas,
Com a Paz anunciada,
Para nos tranquilizar,
E fazer-nos caminhar,
Numa vida renovada.
*
Ele está em nosso ser,
Para a fé nos retomar,
E o medo espantar,
Pra nos dar a segurança,
E refazer-nos a Esperança,
Para o caminho trilhar.
*
Enfim, Ele está aqui e agora,
Quando faço poesia,
Nos passos de cada dia,
Presente em todo momento,
Sendo Deus fonte e alimento,
Que nunca se esvazia.


*   *   *

 

Obra: “A Descrença de São Tomé”, de J. Tissot. In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos dá a verdadeira Paz, ilumine o seu caminho! 

 

 

Domingo da Páscoa do Senhor (2022)

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐

 

Leituras: At 10,34a.37-43; Sl 118(117); Cl 3,1-4; Jo 20,1-9

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Animados e Iluminados pela Ressurreição de Cristo

Jo 20,1-9

 

Meus irmãos e irmãs, eu vos desejo uma feliz e abençoada Páscoa! A Liturgia do Domingo da Ressurreição do Senhor, neste Ano “Família Amoris Lætitia, nos motiva a contemplar a alegria do Aleluia e do Glória que, desde a Vigília do Sábado, ontem, se estenderá até o Pentecostes por cinquenta dias como sendo um único dia. E o Evangelho desta Liturgia está em Jo 20,1-9, passagem que é sequência do Evangelho da Sexta-feira da Paixão e que está situada na terceira e última parte do Evangelho Segundo são João intitulada “A hora de Jesus. A Páscoa do Cordeiro de Deus” (cf. Jo 13,1-21,25).

Nesta Liturgia, Nosso Senhor ainda está na mansão dos mortos. Segundo a dimensão litúrgica de antiga tradição do séc. IV, Ele entrou, como que numa procissão de entrada, e portando a cruz vitoriosa com o reconhecimento dos que lá estavam conduzindo-os ao um banquete preparado para receber os cativos resgatados da mansão dos mortos.(1)

Maria Madalena, marcada pelo sofrimento e pela morte de Jesus, vai, antes do sol raiar, tratar do Corpo de Nosso Senhor e encontra o túmulo vazio (cf. Jo 20,1). Leva a notícia aos outros discípulos, sendo, no Evangelho desta Liturgia, a primeira a anunciar o grande acontecimento.

Os discípulos, ainda atordoados pelos acontecimentos, não conseguiram vislumbrar a grande dádiva de Deus. Tudo era muito novo, muitas coisas precisavam acontecer para que eles vivessem a certeza da Ressurreição do Senhor.

Aquela manhã, a do primeiro dia da semana, ficará marcada no coração dos discípulos e discípulas como sendo o Dies Domini, Domingo, que quer dizer Dia do Senhor. É o dia em que se consolida a fé na Ressurreição, porque o Discípulo Amado viu, acreditou e disseminou esta certeza (cf. Jo 20,8) e a força do Ressuscitado se espalhará por todos os cantos. A fé agora será amadurecida na caminhada dos seguidores de Cristo até ao ponto de testemunharem sem medo tudo o que aconteceu.

Alimentados da esperança e pela certeza, os discípulos enfrentarão o mesmo destino do Senhor: serão perseguidos, caluniados e martirizados, mas encontrarão a ressurreição e a vida eterna. Se fortalecerão na comunidade reunida com a presença da Santa Mãe de Deus.

Pedro e os outros discípulos anunciarão a verdade da Ressurreição como vimos na primeira leitura de hoje: “… Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos. Ele nos mandou proclamar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos” (At 10,39-42).

Somos os herdeiros desta mensagem quando nos reunimos para o encontro com a Palavra viva e com a Eucaristia, nutrientes para o nosso caminhar na nossa peregrinação terrestre. Assim, somos despertados para uma nova vida que se constitui a cada momento, a cada desafio vencido, a cada graça ofertada por Deus. A fé que temos no Senhor foi consolidada naquela madrugada de Madalena e dos outros discípulos. Somos também discípulos missionários que devem levar a mensagem de esperança e de vida nova todo o mundo.

Precisamos buscar o Ressuscitado na oração, no jejum e na esmola. Cristo, o Ressuscitado, é a Eucaristia que devemos receber com o coração purificado pela confissão dos nossos pecados – e aqueles que não podem receber a Eucaristia, que estejam com o coração puro de malícias e maledicências. Na celebração eucarística devemos, como disse são Paulo na segunda leitura de hoje, nos esforçar para “… alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus…” e aspirar “… às coisas celestes e não às coisas terrestres.” (Cl 3,1-3).

Que nesta caminhada pascal possamos semear a verdade esperançosa e alegre, num mundo carente do amor do Pai e marcado pelas dores e mortes das pandemias, das guerras e das injustiças. E que a cada dia também possamos amadurecer a nossa fé no Ressuscitado que nos faz novas criaturas. Sigamos em frente e meditemos neste período de cinquenta dias que se seguem, celebrando-os como sendo um, e cantemos confiante: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e n’Ele exultemos!” [Sl 118(117)].

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, que sempre se fez mãe dos filhos no Filho, que ela interceda por nós para que possamos ser entender tudo aquilo que Deus quer que entendamos. Amém.

*   *   *
(1) Cf. LITURGIA DAS HORAS. De uma antiga Homilia no grande Sábado Santo: A descida do Senhor à mansão dos mortos. Disponível em: <https://liturgiadashoras.online/quaresma/SabadoSanto>. Acesso em: 6 mar 2020.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Quem Ama Chega Primeiro


Por amor e pela esperança,
Madalena vai correndo,
Cheia de uma novidade,
Que está lhe preenchendo,
Volta do túmulo vazio,
Madrugada em vento e frio,
Coração se aquecendo.
*
Primeira anunciadora,
De Jesus Ressuscitado,
Vai dizer aos seus irmãos,
Sobre o túmulo arrebentado,
Precisa se refazer,
Para poder entender,
O que Deus tem realizado.
*
A mensagem é semeada,
Junto aos outros irmãos,
Aos poucos se espalhando,
Por Pedro e também por João,
Cristo trouxe a vida nova,
Túmulo vazio é a prova,
Da santa Ressurreição.
*
Há um amor que motivou,
Ao Discípulo em seu correr,
Pois o amor chega primeiro,
E não se deixa esmorecer,
Sem medo ele segue em frente,
Sendo de Pedro o primado evidentemente
Sem dúvida a lhe preencher.
*
O amor do Discípulo Amado,
A muitos encorajou,
Fez Pedro chegar à frente,
Mesmo que ao Mestre negou,
Pois foi o amor e a fé,
Que fez Pedro ficar de pé,
Com coragem continuou.
*
Compreender a vida nova,
No caminhar do dia a dia,
Aceitar outra maneira,
Pra seguir a nova via,
A morte não tem mais poder,
Basta seguir e também crer,
Na paz e na alegria.
*
Somos também seguidores,
De Cristo Ressuscitado,
Seguimos a nova vida,
Com o nosso Deus amado,
Que se fez nosso Alimento,
Na alegria e sofrimento,
Caminhando ao nosso lado.
*
O encontro com os irmãos,
Faz sair da madrugada,
Para abraçar a luz completa,
E a vida iluminada,
Pois Cristo que se faz clarão,
Na Palavra e Comunhão,
E a assembleia renovada.


*   *   *

 

Obra: “São Pedro e São João Correm para o Sepulcro”, de J. Tissot. In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos dá a vida eterna, ilumine o seu caminho! 

 

 

Santa Missa da Vigília Pascal, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐

 

Leituras: 1ª Leitura: Gn 1,1-2,2; Salmo: Sl 16(15); 3ª Leitura: Ex 14,15-15,1; 4ª Leitura: Is 54,5-14; 5ª Leitura: Is 55,1-11; 6ª Leitura: Br 3,9-15.32-4,4; 7ª Leitura: Ez 36,16-17a.18-28; Salmo: Sl 104(103); Salmo: Sl 30(29); Salmo: Is 12; 2ª Leitura: Gn 22,1-18; Leitura do Novo Testamento: Rm 6,3-11; Evangelho: Lc 24,1-12

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Cristo é a Luz da nova Criação

Lc 24,1-12

 

Meus irmãos e irmãs, a celebração da Vigília Pascal faz memória da História da Salvação desde a Criação do mundo e do homem até a Nova Criação em Jesus Cristo. A Nova Aliança que se dá na Última Ceia e se concretiza na Ressurreição do Senhor.

É uma Liturgia repleta de rituais com uma simbologia muito profunda e que nos insere no mistério da vida nova no Senhor. Ele vem como luz da Nova Criação. N’Eele somos banhados pelo batismo para fazermos parte do novo Povo de Deus, como sacerdote, profeta e rei, na dignidade de filhos e filhas de Deus.

Para mergulharmos profundamente no sentido desta Liturgia iremos vivenciar quatro momentos bem definidos. Primeiro adentramos na Liturgia da Luz, que é a celebração da Páscoa cósmica, marcado pela a passagem das trevas para luz. O círio, aceso na fogueira, em frente ou ao lado da igreja, é a luz do Ressuscitado que irá se espalhando por todo o espaço da assembleia, através das nossas velas, as quais nos lembram o dia de nosso batismo, o dia do nosso novo nascimento.

No segundo momento, na Liturgia da Palavra, revivemos pelas leituras bíblicas, a Páscoa histórica, enfatizada nos principais momentos da História da Salvação. A Páscoa do povo Judeu e a Páscoa da Nova Aliança, quando seremos um povo renovado pelo Sangue do Cordeiro de Deus.

Num terceiro momento viveremos a Liturgia batismal, que celebra a Páscoa da Igreja, povo de Deus nascido da fonte batismal. A Igreja batiza e o seu povo renova o compromisso do seu batismo como de discípulos e discípulas de Cristo.

Por fim, a Liturgia Eucarística, que celebra a Páscoa perene e futura quando seremos julgados definitivamente por Cristo no final dos tempos. A Páscoa de todos os dias quando vamos à Missa e mergulhamos no mistério do Banquete do Cordeiro que se oferece como alimento para a festa da vida e da esperança.

Portanto, os elementos da luz, da água, do pão e do vinho, acompanham toda a nossa vida de filhos e filhas de Deus em Cristo Senhor. A cada momento de nossa vida temos esses elementos vitais e sensíveis em nossa caminhada. Em cada celebração, nós renovamos nosso compromisso de caminhar com o Senhor esperando a sua vinda gloriosa.

No Evangelho desta Liturgia, ouvimos o testemunho das mulheres, Maria Madalena e Maria mãe de Tiago, como também de Salomé que vão ao túmulo vazio. A força da vida nova rompeu a pedra que queria impedir a vida. Como grão que arrebenta a terra para nascer, Cristo com sua força salvífica arrebentou as barreiras da morte, da escuridão e da tristeza. Como nos fala são Paulo, na Carta aos Romanos, Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem pode sobre Ele. (cf. Rm 8,6). As mulheres ainda iam ver o cadáver, Jesus entre os mortos. Queriam ungir o corpo corruptível, mas, ele já se tinha transformado para sempre em um corpo novo e cheio de vida. Nós também, muitas vezes, queremos cultuar um Cristo morto por não querer acreditar que Ele nos trará vida nova e transformada. Queremos visitar os túmulos de nosso pessimismo, de nossas dúvidas e de nossa falta de esperança. No Batismo somos novas criaturas e sinais de Cristo, luz do mundo.

A Páscoa não é um acontecimento do passado, crer em Cristo Ressuscitado é, portanto, acreditar n’Ele agora e para sempre. Não podemos perder esse foco da fé. Cristo é o coração do Mundo, como disse o teólogo K. Ranner (1904-1984). Nele está a nossa esperança de uma existência nova, redimida e transformada já aqui na nossa caminhada terrena.

Ele está em nossas lágrimas, como força, e nas dores como consolo permanente e vitorioso sobre nossos sofrimentos. Ele está em nossos fracassos e impotências como força segura que nos defende. Ele nos visita em nossas depressões, acompanhando-nos na nossa solidão e nas nossas tristezas; Ele age em nossos pecados, nos oferecendo a misericórdia e o Seu perdão como possibilidade de um novo significado para a nossa vida cotidiana e comunitária no caminho da santidade.

A experiência no Ressuscitado significa acreditar que Ele está vivo, aqui e agora entre nós. É acreditar que ele está com a gente na comunidade reunida, na catequese, na liturgia, no Terço dos Homens, nos Terços nas casas, também quando saímos em missão, quando nos encontramos para a Missa e em muitos outros momentos que vivenciamos na nossa comunidade a união e a alegria do Evangelho.

Jesus tem força para ressuscitar e transformar nossa vida, renovar a nossa esperança de nos converter. Não são os bens materiais que nos dão a vida nova, mas a paixão e o amor à vida, alimentada pela mística espiritual do encontro, da partilha e da busca de harmonia com o supremo Deus que nos coloca na dignidade de filhas e filhos muito amados.

Que a experiência da Ressurreição do Senhor nos faça também pessoas pascais, ou seja, marcadas pela vida nova no amor do Senhor e no compromisso com a paz e a justiça do Reino de Deus. Busquemos vencer a morte que está nas tantas realidades humanas – nas guerras, nas injustiças, na nossa conivência com as mentiras deste mundo e nas pobrezas espirituais e materiais.

O Senhor está conosco em todos os dias de nossas vidas até o fim dos tempos (Mt 28,20). Sigamos com a vida e a esperança na força do Ressuscitado, na busca de um mundo novo. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

A Páscoa de Cristo em Nós


Acompanhados da Luz do vivente,
Caminhamos como amigos e irmãos,
Vencendo as trevas e iluminados,
Fortes, vencendo a escuridão,
Seguindo-O vamos em frente,
Na procissão como povo crente,
Em busca do altar da comunhão.
*
Pela companhia da Palavra santa,
Vamos ouvindo o novo mandamento,
Aprendendo e caminhando com o Senhor,
Vivendo a salvação como ensinamento,
Não como algo que ficou no passado,
Que aconteceu e ficou desprezado,
Mas no hoje de nossa vida fundamento.
*
Banhados pela água batismal,
Renovando o compromisso que se selou,
Sigamos a mesma fé professando,
Vivendo a nossa páscoa que chegou,
A cantar o cântico dos renascidos
Como discípulos fiéis e redimidos,
Com o Jesus que conosco Ressuscitou.
*
Encontro da mesa e do Vinho novo,
Comungamos do Corpo do Ressuscitado,
Que nos convida e nos oferece a alegria,
Vem trazer a paz aos desanimados,
Na fraternidade sempre a seguir,
Com coragem e sem desistir,
No mundo novo que agora é recriado.


*   *   *

 

Obra: “A Ressurreição”, de J. Tissot. In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos insere numa vida nova pela Sua Ressurreição, ilumine o seu caminho! 

 

 

Celebração da Paixão do Senhor (2022)

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐

 

Leituras: Is 52,13-53,12; Sl 31(30); Hb 4,1416;5,7-9; Jo 18,1-19,42

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Páscoa de Cristo na Cruz

Jo 18,1-19,42

 

Irmãos e irmãs, nesta Sexta-feira Santa, no silêncio e de joelhos, toda a Igreja inicia, às 15h, a Celebração da Paixão do Senhor, a sua segunda Páscoa, dentro do mistério da redenção. Todo o momento desta Liturgia é realizado na mais absoluta reverência e clima de meditação da Palavra e da contemplação da cruz. Da cruz, a qual Jesus foi pregado e elevado, viveu o seu Sacrifício de entrega e a tornou o trono do seu reinado para a nossa salvação. Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado por entrega total e livremente.

No Jardim das Oliveiras, Jesus foi entregue aos inimigos para viver a sua paixão e morte e nos resgatar para a vida nova. O jardim é simbólico. Lá o homem (Adão) desobedeceu a Deus e quis ser igual a Ele. No jardim, Jesus foi obediente ao Pai pela nossa Salvação. A maioria de seus discípulos fugiu porque esperavam um rei poderoso segundo as expectativas imperiais e humanas. Pilatos se acovardou por medo da popularidade de Jesus. Por medo de perder seu poder diante do Império Romano.

O Reino de Cristo não é deste mundo, mas do alto e do Pai. Esse Reino não tem critérios humanos, não tem interesses de poderes terrenos e de ambições de poder e opressão contra os pobres, os sem vez e sem voz. Jesus sim, esteve a todo tempo ao lado dos necessitados de saúde, de acolhimento, de perdão, de misericórdia, de amor e de libertação. Tudo isso levou Jesus a ser condenado pelos poderes do mundo.

Ontem, na Última Ceia, Jesus nos deu o exemplo do mandamento do amor e do serviço e nos pediu que fizéssemos o mesmo. Hoje nos dar o testemunho da entrega total, do esvaziamento pelo sofrimento, limítrofe humanamente falando. “Embora sendo Deus, não considerou que ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,6-7). É a natureza humana e santa de Cristo que se entrega pela nossa salvação.

Nós somos chamados a viver a paixão de Cristo nos tornando solidários aos que sofrem vivendo a compaixão pela dor do outro e tentando amenizá-la. Somos convidados a valorizarmos a vida, a cada dia. Quantas vezes reclamamos por pouca coisa e queremos desistir de seguir em frente. Cristo nos chama a caminharmos com Ele em meio às glórias e carregando a cruz.

O Senhor se compadeceu de nossos pecados e sofrimentos. É misericordioso quando erramos e quer que retornemos à dignidade de filhos e filhas. Quer que voltemos à sua Casa, onde há o Pão, da Palavra e da Eucaristia, e onde há a Bebida que mata a nossa sede para sempre.

O salmo responsorial desta Liturgia, o Salmo 30, nos convida a refletirmos sobre a confiança no Senhor: Pai em tuas mãos eu entrego o meu espírito. O servo justo coloca toda a confiança em Deus que lhe dá força e não o abandona. Às vezes temos o sentimento de abandono, achamos que Deus nos abandonou e não nos escuta. Mas Cristo nos ensina que devemos perseverar (mesmo no sofrimento, mesmo no sacrifício e nas dores da cruz, mesmo quando somos caluniados em busca da nossa redenção).

Nós, hoje, estamos com Jesus vivendo a Sua Páscoa na cruz, vivendo a Sua passagem pela cruz. Como Maria e o discípulo amado, nós também aos pés da cruz para dizermos que somos uma comunidade onde se abraça o sofrimento, mas, ao mesmo tempo, com coragem e carregados de esperança e amor. Reconhecemos que, muitas vezes, queremos desistir da cruz, queremos mais glória, mais festa, mais apegos humanos e por isso temos medo das consequências do abraço à cruz.

Nesta Celebração vamos unir nossas preces em favor das realidades humanas, temporais e espirituais. Depois iremos acolher a cruz como símbolo da vitória de Cristo. Em procissão reconheceremos que somos a Igreja que nasce do lado de Cristo no alto da cruz. Pelas águas do Batismo somos unidos aos discípulos do Senhor.

Pela Eucaristia nos unimos como Igreja corpo que se torna comunhão mística, comunhão espiritual, que busca a redenção. Depois, em silêncio, também sairemos para meditarmos em nossas casas, sobre a paixão do Senhor. Amanhã, Sábado Santo, deverá ser vivido no silêncio até o início da Vigília Pascal. Que o Senhor nos abençoe e nos dê a perseverança de vivermos santamente este Tríduo Pascal. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

A Árvore da Vida Nova


Ó cruz libertadora,
Que Cristo a passou por amor,
Para nos trazer a vida,
Mesmo aos tormentos e na dor,
Sinal da entrega total,
Matando a morte, afinal,
Pra ser o nosso Salvador.
*
Cordeiro que se entregou,
Ao Sacrifício, livremente,
No silêncio e na firmeza,
Em favor de sua gente,
Fez de Si santa Comida,
Como também a Bebida,
Que se dá agora e sempre.
*
Essa cruz também se estende,
Aos irmãos, os sofredores,
Que também carregam o fardo,
Expressos em suas dores,
Os sem voz e oprimidos,
Aos tristes e deprimidos,
Que vivem os seus temores.
*
O silêncio da cruz do Senhor,
Se une aos abandonados,
Às famílias em desalento,
Aos tantos desempregados,
Aos reféns dos tantos conflitos,
Reféns das guerras, aflitos,
E aos irmãos refugiados.
*
Que a cruz de nosso Senhor,
A sua santa Paixão,
Faça-nos a Igreja viva,
Fundada na comunhão,
E que o Seu Corpo Santo,
Faça-nos enxugar o pranto,
E nos dê consolação.


*   *   *

 

Obra: “Uma Santa Mulher Enxuga o Rosto de Jesus”, de J. Tissot. In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos ensina a ser Servos por amor, ilumine o seu caminho! 

 

 

Missa Vespertina da Ceia do Senhor (2022)

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐

 

Leituras: Ex 12,1-8.11-14; Sl 116(114-115); 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

O Lava-pés e a Ceia do Senhor

Jo 13,1-15

 

Irmão e irmãs, com esta Liturgia, a da Missa Vespertina da Ceia Senhor, nós iniciamos o Tríduo Pascal que seguirá como uma única Liturgia até a vigília do Sábado Santo. Nesta Liturgia, o refrão do salmo 115 nos diz: “O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor”. Este refrão nos oferece a profundidade da celebração da Ceia do Senhor, porque todos que se reúnem na comunidade dos batizados vem partilhar da mesma palavra, do mesmo pão e do mesmo sangue, abençoados, consagrados e oferecidos pelo mesmo Senhor. Nesta liturgia Jesus institui o Sacerdócio e a Eucaristia; o mandamento do amor.

A Missa da Última Ceia, do Lava-pés, é a porta de entrada do Tríduo Pascal, cume do Ano Litúrgico e em que celebramos três páscoas (passagem): a primeira, na quinta-feira, celebramos a páscoa da ceia; a segunda, na sexta-feira, a páscoa da paixão; e a terceira, no sábado e no Domingo, a páscoa da Ressureição.

Nesta celebração, da quinta-feira, o evangelista João vem apresentar a sua particularidade na Última Ceia de Jesus: o gesto do lava-pés o qual os outros evangelistas não trazem em seus textos. Isso significa que é mais um elemento que enriquece o sentido da Ceia nas narrações dos evangelhos.

Jesus realiza um gesto que era próprio dos escravos ou servos daquela época: lavar os pés do seu senhor. Isso para nos dizer que a Eucaristia só será completa quando, ao recebê-la, estivermos prontos para servir também os outros. Prontos para vivermos a caridade, cuidando também do irmão. Eucaristia também é lava-pés, é abaixar-se e se colocar também à disposição do outro no serviço, no cuidado e na simplicidade.

Jesus realizou este gesto para dizer aos discípulos que era preciso fazer o mesmo. E por isso disse: “Quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro seja o escravo de todos” (Mt 10,43-44). Todo o ensinamento de Jesus, antes de ser falado, é vivido por Ele. Vemos que se tornou servo das pessoas; compassivo, caridoso para com os pobres; misericordioso com os pecadores; e consolador dos aflitos.

Vemos que os discípulos tiveram dificuldade de entender o gesto de lavar os seus pés. Foi algo totalmente novo e desafiador para os Seus seguidores. Pedro, por exemplo, disse-lhe: “Tu nunca me lavarás os pés. E Jesus lhe responde: Se eu não lavar, não terás parte comigo” (Jo 13,8). O pensar de Pedro era ainda dos antigos judeus. Um mestre nunca poderá lavar os pés de seus seguidores.

Assim são os cristãos, quando acham que a religião traz status e honra. Ser discípulo de Jesus é estar primeiramente a serviço dos irmãos que precisam de nós. É pão partilhado e sangue oferecido para a salvação de todos, mas que traz libertação e vida nova. Isso quando os necessitados forem atendidos e os sem esperança forem animados e fortalecidos pela força edificadora de Cristo.

Hoje, somos nós, os batizados em Cristo, que participamos e atualizamos aquela ceia derradeira. A Eucaristia nos faz sentirmos como os seus discípulos naquele momento. Muitas vezes temos dificuldades de entender o agir do Senhor para conosco. E, em outros momentos, nos sentimos incapazes de realizar o que Ele nos pediu, pois a Eucaristia nos motiva a ter parte com Jesus Cristo e com seu projeto, de missão, de amor e de misericórdia.

Portanto, a Última Ceia de Jesus foi marcada pela memória da libertação de Israel, mas ao mesmo tempo atualizada pela sua entrega como o Cordeiro que se oferece em Sacrifício pela salvação, não somente de um povo, mas de todo o mundo. Jesus inaugura a Nova Aliança e o novo Povo de Deus.

Que a cada dia possamos entender que o encontro perseverante e constante com o Senhor, na Palavra e na Eucaristia, nos fortalece e nos faz continuar a caminhada, como também nos ensina, a cada dia, algo novo para chegarmos à salvação e ao Céu. É caminhado com Jesus que nos tornamos cada vez mais capacitados para servir e amar os irmãos e sermos sinais de servidão e de santidade no mundo. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Avental de Cristo


Jesus que tanto amou o mundo,
E continua a nos amar,
Ensina-nos a servir aos outros,
Quando um avental quis usar,
Como o servo do amor,
Fez-se Rei servidor,
A fim de nos libertar.
*
Abaixou-se a nossos pés,
Com a solidariedade,
Ensinou-nos a comungar,
Pra vivermos a unidade,
Pois comungar é servir,
No amor se consumir,
Por toda a humanidade.
*
Só comunga com o Senhor,
Aquele que quer servir,
Que veste o avental da entrega,
E segue sem desistir,
Que desce da prepotência,
Pra viver a benevolência,
E a voz do outro ouvir.
*
A santa Eucaristia
É Jesus Ressuscitado,
Ensinando-nos o serviço,
Para o necessitado,
É os pés do outro lavar,
E o amor testemunhar,
Com o coração doado.
*
Recordando a Última Ceia,
Hoje também partilhando,
Avental e lava-pés,
E mesma fé professando,
Na comunhão e caridade,
No serviço e na irmandade,
Corpo e Sangue comungando.


*   *   *

 

Obra: “O Lava-pés”, de J. Tissot. In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos ensina a ser Servos por amor, ilumine o seu caminho! 

 

 

Domingo de Ramos e da Paixão, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Is 50,4-7; Sl 22(21); Fl 2,6-11; Lc 19, 28-40; Lc 23,1-49

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Entre Aclamações e a Cruz

Lc 19, 28-40; Lc 23,1-49

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do Domingo de Ramos nos motiva a contemplar o mistério salvífico numa dupla dimensão: a primeira é a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, quando é aclamado Rei e que vem de forma simples e sem exércitos de força, para nos mostrar que o Seu Reino tem como base principal o amor e a paz e a segunda é a paixão e morte, nos mostrando as consequências da missão de Jesus neste mundo.

O Evangelho de hoje nos coloca, neste início da Semana Santa, diante da ação em que Jesus rompe com o culto antigo, que com tantas leis oprimiam os pobres, deixando-os à margem da sociedade. As demais leituras da Liturgia deste Domingo de Ramos nos fornecem a dimensão do verdadeiro culto em toda a História da Salvação.

O profeta Isaías nos apresenta a figura do servo sofredor, paciente diante da humilhação. Diz o Profeta: “Mas o Senhor Deus é meu Auxiliador, por isso não me deixei abater o ânimo, conservei o rosto impassível como pedra, porque sei que não sairei humilhado” (Is 50,7). São Paulo nos confirma que este servo sofredor que se esvazia na humilhação é de condição divina (cf. Fl 2,6). No salmo responsorial temos o lamento no sofrimento e no abandono máximo o qual passa a natureza humana de Deus e que se solidariza com todos os que carregam a cruz na caminhada da vida.

A liturgia deste início de Semana Santa, portanto, nos leva a meditar sobre os dois acontecimentos no final da vida de Jesus. Primeiro, a aclamação do povo e dos discípulos na entrada de Jerusalém com ramos tapetes: “Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!” (Lc 19,38), nos lembrando dos pastores em Belém, na noite do nascimento.

Alguns querem silenciar as aclamações e manifestação dos discípulos, Jesus, porém, repreende, pois são os discípulos que aclamam e caminham com Ele. Ser discípulo é anunciar a presença de Cristo no meio do povo, não é possível calar a voz dos missionários, dos pregadores e dos profetas.

O caminho de Jesus não tem volta. Segue em direção à sua paixão e à cruz. Por isso é importante que juntemos os dois textos de Lucas nesta Liturgia. Precisamos caminhar com o Senhor aclamando como Rei de amor e contemplando a sua paixão, no calvário e na cruz. É a cruz que nos leva à vitória e a redenção.

Qual seria a nossa reposta se começássemos a refletir sobre nosso caminhar com Jesus na nossa história. Seríamos um “Cireneu” que ajudou, involuntariamente, a carregar a cruz? Seríamos como Maria que ficou, voluntariamente, ao pé da cruz? Ou estaríamos de longe, com medo, fugindo e negando ser discípulo d’Ele?

Esta reflexão é importante tendo em vista que, ainda hoje, o Filho de Deus é crucificado nas crianças abortadas, nos jovens assassinados, nos pais de família que enfrentam a violência e o desemprego, nos refugiados, nos fugitivos das guerras e nas tantas mulheres vítima da exploração sexual, violência doméstica, exploração moral e social.

E para proclamá-Lo Ressuscitado no meio do mundo, precisamos também viver a experiência da ressurreição, quando somos vencedores com o Senhor mesmo diante de tantos desafios e tribulações inerentes à vida no “vale de lágrimas”.

Precisamos nos envolver na pregação do Evangelho em nossa vida e na proclamação de seus valores para que a existência humana seja libertada das tantas cruzes, dos tantos sofrimentos a fim de que uma vida nova ressurja em cada pessoa.

Recordemos ainda que neste mês de abril as intenções do Papa Francisco, Vigário de Cristo e Bispo de Roma, estão voltadas pelo êxito dos profissionais de saúde na assistência aos doente e idosos, sobretudo nas localidades mais pobres e carentes.

Também neste dia, a Igreja, no Brasil, está voltada para o dia nacional da coleta da solidariedade referente à Campanha da Fraternidade, que traz como tema “Fraternidade e Educação” e o lema “fala com sabedoria, ensina como amor”, cujos recursos são geridos tanto pelas dioceses quanto pelo fundo nacional de solidariedade que é administrado pelo departamento social da CNBB sob a orientação do conselho gestor da mesma.

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora da Piedade que ela interceda por nós para que, nesta Semana Santa, possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, para, junto com Jesus, passarmos pelo triunfalismo e fazer a vontade do Pai. Amém.

 

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⇒ POESIA ⇐

Com Jesus na Cruz e na Nossa Vida


Vamos caminhar com Jesus
Com cantos de alegria,
Com ramos nas mãos sem hipocrisia,
Caminhemos com Ele até a cruz,
Sejamos discípulos do Amor e da Luz,
Façamos por inteiro nosso peregrinar,
Expusemos o medo de com Ele caminhar.
*
Façamo-Lo Rei,
Não da força e da prepotência,
Mas do amor, da paz e da paciência,
Num caminhar sereno e de prontidão,
Seguindo a estrada na partilha e na união,
No culto novo e cheio de amor,
Além do que se pede a lei e seu rigor.
*
Entre a fama e a cruz,
Há um caminhar ainda a se fazer,
Há violentos e assassinos a se atrever,
Há também os traidores,
Há os medrosos, os fujões e desertores,
Mas há os que são solidários,
Que caminham até o fim, mesmo solitários.
*
Triste é saber, e ver,
Que no mundo, neste caminhar,
Ainda há muitos crucificados a gritar,
Marcados pelo flagelo e a humilhação,
Que gemem com o peso da opressão,
Mas aparecem os “cireneus” para ajudar,
Para o peso do sofrimento aliviar.
*
Olhemos para Jesus,
Que caminha com a gente e sem desistir,
Fazendo Sua aliança conosco cumprir,
Caminhando sem medo e com humildade,
Totalmente entregue e na liberdade,
Para nos dar o prêmio da vida por Ele anunciado,
Para nos conduzir ao Reino, pelo Pai preparado.


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Ouça o áudio preparado para esta Liturgia.


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Obra: “A Procissão nas Ruas de Jerusalém”, de J. Tissot. In brooklynmuseum.org.

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos aproxima da verdadeira Sabedoria e do verdadeiro Amor, ilumine o seu caminho!