V Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelos profissionais de saúde ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Is 43,16-21; Sl 126(125); Fl 3,8-14; Jo 8,1-11

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

As Pedras dos nossos Julgamentos

Jo 8,1-11

 

Meus irmãos e irmãs, a liturgia deste domingo retomará o tema do perdão e da misericórdia de Deus, porém com um cenário e uma situação muito diferente da realidade da parábola do filho pródigo ou do Pai Misericordioso, que foi reflexão do Domingo passado.

Enquanto no texto do 4º Domingo da Quaresma o filho volta arrependido por sua própria iniciativa, neste 5º Domingo, o evangelista são João (8,1-11) narra que uma mulher, sem nome, adúltera é empurrada pelos mestres da Lei e fariseus até Jesus para ser condenada por adultério (cf. Jo 8,3).

Segundo o livro do Levítico (20,10), a punição sobre o adultério era igual para os dois culpados, homem e mulher. E diz: “se um homem cometer um adultério com a mulher do próximo, o adúltero e a adúltera serão punidos com a morte”. Também no Deuteronômio (22,22) teremos a mesma orientação para os que cometem adultério.

Aqueles senhores doutores também tinham outra intensão: montar uma armadilha para pegar Jesus em contradição, na interpretação da lei judaica e no julgamento daquela situação. E Jesus começa a escrever no chão. E como queríamos saber o que ele escreveu!

Alguns estudiosos supõem que Jesus escrevia a frase que logo em seguida diria para os fariseus: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7). O autor do cartaz da Campanha da Fraternidade deste ano de 2022 supõe que Jesus escreveu “amor e sabedoria”. Outros ainda especulam que Jesus escreveu os tantos pecados cometidos pelos doutores da lei e fariseus.

A postura de Jesus e suas palavras de sabedoria fizeram com que todos largassem as pedras no chão. Seus ensinamentos com amor gerou uma reflexão não somente no coração da mulher, mas também no coração dos acusadores. Saíram calados e desarmados, a começar pelo mais velho (cf. Jo 8,9), que obviamente era o mais experiente e tinha maior conhecimento da lei, porém faltava-lhe no coração o amor, o perdão e a misericórdia.

Todos foram embora. E o tempo agora é somente para Jesus e a mulher. A misericórdia e a miséria. O pecador e o perdão. Deus e o humano. Ela não pede perdão, não fala nada, até que Jesus pergunta onde estão os acusadores (cf. Jo 8,10). E as palavras de Jesus definem o caminhar daquela pecadora: “Podes ir, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11).

Daquele momento em diante aquela mulher viverá uma vinda nova, caminhada de conversão e de reconhecimento concreto do amor e da misericórdia de Deus. Ela voltará justificada com certeza, porque atenderá o pedido de Jesus: não peques mais.

Que ensinamentos podemos retirar deste texto de João para o nosso caminhar cristão, como discípulos que querem testemunhar o amor e a misericórdia do Senhor? Olhando para os fariseus podemos também nos perguntar: quando é que agimos como aqueles fariseus e doutores da lei julgando e condenando os irmãos, como se não tivéssemos nossos pecados, nossas fragilidades e nossos erros absurdos também.

Tantas vezes enchemos nossas mãos das pedras da intolerância, da arrogância e da dureza de nosso coração. E por isso nos consideramos mestres dos outros. Em outros momentos, somos superficiais, pregando uma moral e uma lei que está em contraste com o Evangelho.

E chegando já para o final deste tempo quaresmal, nós somos convidados a contemplar a ação de Deus na história e no nosso caminhar. Precisamos reconhecer a graça libertadora e santificadora do Senhor, como fala o salmo: “Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!”. Pois o nosso Deus é maior do que as leis humanas, Ele vai além dos nossos caprichos e interesses pessoais, porque ama a todos dentro das suas limitações. Porém, nos pede para seguirmos em frente e não ficarmos parados e também nos ordena que nos convertamos a cada dia, que desocupemos nossas mãos das “pedras” que nos impedem de vivermos a fraternidade e a paz entre os irmãos e irmãs.

Neste ano, a Campanha da Fraternidade, que acontece mais visivelmente no Tempo da Quaresma e traz o tema “Fraternidade e Educação” e o lema “fala com sabedoria, ensina como amor”, nós teremos no próximo dia 10, Domingo de Ramos, o dia nacional da coleta da solidariedade. É importante saber que desta coleta financeira, 60% fica na própria diocese e é gerido pelo fundo diocesano de solidariedade, com o objetivo de apoiar iniciativas e projetos locais. Os outros 40% arrecadados compõem o fundo nacional de solidariedade que é administrado pelo departamento social da CNBB sob a orientação do conselho gestor da mesma.

Por fim, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados e iluminados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, que Ele nos ajude a purificar nossas mãos das pedras da arrogância e dos julgamentos contra os nossos irmãos e irmãs, para podermos a Palavra e a Eucaristia, que estejamos de mãos limpas para saudar os irmãos e irmãs e de corações livres para construir a paz e a fraternidade como sinais do Reino de Deus no mundo. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Tira-nos Senhor, as pedras de nossas mãos


Pecadores que somos
Pedimos ao Senhor,
Que nas nossas arrogâncias,
E também nas ganâncias,
Possamos ser transformados pelo amor,
Querendo a conversão abraçar,
E o caminho da Paz continuar.
Jogando fora o rancor.
*
Quantas pedras em nossas mãos,
Para nos outros atirar,
Que impedem a caridade,
Que dificultam a fraternidade,
E muitas vezes querem dominar,
Numa atitude de opressão,
Impedindo a libertação,
Que Jesus veio pregar.
*
Olha para nós, ó Senhor,
Ajuda-nos nesta nossa caminhada,
Tira das nossas mãos a violência,
Capacita-nos com a benevolência,
Por onde segue a nossa estrada,
Ensina-nos com a própria prática do perdão,
Rega com o amor nosso coração.
Que nossa vida seja restaurada.
*
Seja o nosso encontro contigo Senhor,
Como o da mulher pecadora,
Que em nada se justificou,
Somente em Deus esperou,
A sentença libertadora,
Que Jesus veio a lhe dar,
De seguir em frente e não mais pecar,
E depois ser sua seguidora.
*
Ilumina Senhor com a Tua Palavra,
Nossa vida de discípulos ainda pecadores,
Mas que querem seguir em frente,
Querendo ser no mundo semente,
Como humanos anunciadores,
Com mãos livres para edificar,
E os irmãos podermos abraçar,
Caminheiros, discípulos, sonhadores.


*   *   *

 

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, no Seu amor e na Sua misericórdia, ilumine o seu caminho! 

 

 

IV Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas (Domingo Lætare)

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Js 5,9a.10-12; Sl 34(33); 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

Os Braços da Misericórdia

Lc 15,1-3.11-32

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do IV Domingo da Quaresma, o Domingo Lætare (ou “o Domingo da Alegria”), nos motiva a contemplar a misericórdia de Deus que é compassivo com os que se perdem dentro e fora de Sua Casa. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 15,1-3.11-32, passagens que estão situadas no início da metade final da quinta parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Subida para Jerusalém”(1).

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor revelando a misericórdia de Deus aos publicanos e pecadores, que se aproximaram para ouvi-Lo, e aos fariseus e escribas, que criticavam sobre Jesus.

Com a parábola do “Pai das Misericórdias” (ou conhecida também como “parábola do filho pródigo”) a Igreja nos coloca diante da alegria preconizada por Isaías (cf. Is 66,10) e por São Paulo (cf. Fl 4,4). Também diante da alegria de Josué em escutar a confirmação da promessa da Terra Prometida (cf. Js 5,9a). Já o Papa Francisco nos recorda que a atitude de São José de acolher a Virgem Maria e Jesus pode ter sido uma das inspirações para a parábola do “Pai das Misericórdias”(2).

Reflitamos sobre cada uma das figuras da parábola: o filho mais novo, o pai e o filho mais velho. O mais novo toma a iniciativa de pedir a parte da herança, o mais velho também recebe a sua parte e o pai cede as duas partes.

O mais novo quer se distanciar para dissipar os bens. Quando acabou a última moeda e a última gota de vinho e diante da miséria social desejou matar a forme com a comida dos porcos (cf. Lc 15,16). Diante de sua angústia, renuncia ao seu orgulho e pensa em pedir perdão ao pai e a Deus e deseja ser tratado como empregado e não como filho. Depois disso, toma a iniciativa de voltar para a casa do Pai.

Ainda estava longe ele é alcançado pelo olhar e abraço do pai. O Pai dispensa as palavras do filho e acolhe com alegria, com veste, anel no dedo e sandálias e também com um banquete.

O mais velho ao retornar da jornada de trabalho é surpreendido com a festa e não acolhe o mais novo. O mais velho devia ter mais experiência, era trabalhador, mas não conhecia a misericórdia de seu Pai. Também o mais velho precisava renunciar ao seu orgulho para aprender sobre o amor que o Pai transmitia diariamente desde a ausência do filho mais novo.

O filho mais velho é a figura dos fariseus que conheciam a Lei mas não a Misericórdia e o amor. Também figura os cristãos que se acham autossuficientes e incapazes de acreditar no amor da misericórdia de Deus.

A figura do Pai é a concretização de tudo aquilo que Jesus pregou e viveu, ou seja, a misericórdia e a alegria de Deus que, sem acolher o pecado, sempre acolhe Seus filhos pecadores, independente da sua dignidade.

Cada encontro que fazemos com o Senhor através da Sua Palavra e do Seu Corpo partilhado é um grande banquete, ação de graças, uma festa, pela nossa restauração, pela nossa volta aos braços do amor misericordioso de Deus. Deus sempre faz festa quando retornamos a Ele e à Sua Casa.

Para vivermos as virtudes da santidade de forma concreta devemos atender ao que São Paulo nos aconselha: “deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que n’Ele nós nos tornemos justiça de Deus.” (2Cor 5,20-21).

E neste IV Domingo da Quaresma, o Domingo da Alegria, continuemos a nossa atenção e reflexão sobre o tema e o lema da Campanha da Fraternidade: “Fraternidade e Educação” e “Fala com amor, ensina com sabedoria” (cf. Pr 31,26). Na parábola do “Pai das Misericórdias”, Jesus nos fala com sabedoria sobre a ação do Pai misericordioso, de como o nosso Deus age com Seus filhos errantes. O Senhor também nos ensina com amor, nos educa para a vivência da misericórdia, para com o irmão que se perde e quer se reencontrar com o amor divino.

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, para renunciarmos ao nosso orgulho e possamos escutar o Filho e fazer a vontade do Pai. Amém.

*   *   *
(1) Na Bíblia de Jerusalém, o Evangelho Segundo São Lucas é composto das seguintes partes: Prólogo (cf. Lc 1,1-4), I. Nascimento e vida oculta de João Batista e de Jesus (cf. Lc 1,5-2,52), II. Preparação do ministério de Jesus (cf. Lc 3,1-4,13), III. Ministério de Jesus na Galileia (cf. Lc 4,14-9,50), IV. Subida para Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,27), V. Ministério de Jesus em Jerusalém (cf. Lc 19,28-21,38), VI. A paixão (cf. Lc 22,1-23,56) e VII. Após a Ressurreição (cf. Lc 24,1-53).
(2) Cf. §§ 32.40 da Carta Apostólica Patris Corde, do Papa Francisco, por ocasião do 150º aniversário da declaração de São José como padroeiro universal da Igreja.

 

 

 

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Abraço Alegre do Pai


Nas minhas idas e voltas,
Peço-Te agora, ó Senhor,
Que me acolha no Teu amor,
No meu arrependimento,
Também no meu sofrimento,
Aliviando-me a dor.
*
E no abraço da alegria,
Com o anel da dignidade,
E as sandálias da fraternidade,
Faz-me, Senhor, restaurado,
Como Teu Filho amado,
Na Tua simplicidade.
*
Faz-me grande banquete,
No retorno à minha vida,
Na divina acolhida,
Sem cobrar a herança,
Retoma a esperança,
Vida renascida.
*
Preciso, então, aprender,
Ser filho, Contigo,
Sendo Teu amigo,
Sem autossuficiência,
Sem prepotência,
E mais agradecido.
*
Perdoando o pecado mal que fiz,
Te bendigo o retorno e celebro,
A uma vida nova me entrego,
Renasce em mim amor e paz,
Reforçando a vida que me traz,
Abraço de amor que me alegra.


*   *   *

 

 

⇒ Que a Palavra e a Luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos revela o Pai das Misericórdias, ilumine o seu caminho! 

 

 

III Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Ex 3,1-8a.13-15; Sl 103(102); 1Cor 10,1-6.10.12; Lc 13,1-9

 

 

 

 

 

 

 

*   *   *

 

Que a Palavra e a Luz do Senhor, que nos ensina a paciência divina, ilumine o seu caminho!

 

 

II Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Gn 15,5-12.17-18; Sl 27(26); Fl 3,17-4,1; Lc 9,28b-36

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

A Transfiguração do Senhor e a nossa transfiguração

Lc 9,28b-36

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do II Domingo da Quaresma nos motiva a contemplar a Transfiguração do Senhor, segundo o evangelista São Lucas. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 9,28-36, passagem que está situada no final da quarta parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Ministério de Jesus na Galileia”.

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está, segundo uma tradição, no Monte Tabor, na proximidade de Naim e há aproximadamente 40 quilômetros de Cafarnaum, a cidade do Senhor e que fica na margem norte do Mar da Galileia.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor mostrando toda a Sua glória, sinal da glória infinita de Deus e prefiguração de Sua Ressurreição, com o testemunho de Moisés e de Elias (o Antigo Testamento) e de Pedro, Tiago e João.

Com a Transfiguração em São Lucas, a Igreja nos coloca diante de portas para acessarmos o mistério de Deus. Aqui, Moisés e Elias aparecem revestidos de glória e conversam com Jesus sobre a Sua morte (cf. Lc 9,31), um dado que nos é revelado apenas pelo evangelista São Lucas. Durante a Transfiguração, os discípulos adormecem e quando despertam encontram Jesus em Sua glória.

Ao acordar, Pedro propõe armar as tendas para continuarem por ali, mas é interrompido pela manifestação da nuvem. Os discípulos entram nela e ouvem a voz do Pai que diz: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz!” (Lc 9,35). A Palavra nos indica que a escuta ao Filho é mais importante que a contemplação da glória do Filho, que o seguimento consciente é a marca do discípulo.

Deus, em sua pedagogia, nos mostra que a oração é a chave para viver os mistérios que Deus, através da Igreja, nos revela constantemente, inclusive as consequências da Missão. E a presença de Moisés e Elias confirma tudo o que foi prometido no Antigo Testamento e que Pedro, Tiago e João são os portadores da revelação, sobretudo a partir de Abraão.

Precisamos subir também ao Monte a partir do convite do Senhor para vivermos a oração pessoal e comunitária, não para entrarmos na nossa posição de comodismo, de zona de conforto, mas para que a nossa missão de cristãos fique mais clara e comprometida, a fim de que estejamos mais conscientes de que a Cruz estará também na nossa estrada, se temos como meta a ressurreição em Cristo. E a tenda, mais do que um local para descanso, é uma referência à Tenda do Encontro de Moisés que encontrava Deus, como cita o livro do Êxodo: “Logo que Moisés entrava na Tenda, a coluna de nuvem baixava e ficava parada na entrada, enquanto o Senhor falava com Moisés.” (Ex 33,9).

Portanto, irmãos e irmãs, neste Tempo quaresmal em que somos convidados a vivermos mais intensamente a escuta da Palavra, orando e revendo nossa caminhada para, ao entrarmos na nuvem, possamos escutar o Pai do Céu que nos diz: “Este é o meu Filho, o Eleito” (Lc 9,35).

E a nossa escuta também deve estar dirigida à contemplação aos diversos gritos no mundo, os quais estão expressos nos angustiados, nos presos, nos doentes, nos órfãos, nos abandonados nas ruas, nas nações vítimas da cruel guerra, nos refugiados e nas vítimas da opressão econômica expressa no desemprego e na carestia.

E neste Domingo, queremos fazer mais uma abordagem da Campanha da Fraternidade que traz como lema “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26). Tendo como referência o cartaz da Campanha, reserve um momento para olhar esse Cartaz. Dele, destacamos a mulher frágil e as pedras. A pessoa humana, representada pela mulher frágil, é o objeto da educação e a pedra representa o instrumento de correção e de punição.

No entanto, Jesus, Divino Mestre, oferece à frágil mulher e aos seus acusadores uma alternativa que não se limita à educação como transmissão de conhecimento, senão também como valorização da pessoa humana e a correção como condução pelo caminho reto(1). A mulher não ficou mais fragilizada e os seus acusadores saíram dali com um desafio: encontrar mecanismos de correção que supere o pecado, mas que preserve a vida e as relações humanas na vivência do amor e da misericórdia.(2)

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, para sermos fiéis à missão de testemunhar plenamente a glória do Filho de Deus, isto é, escutando o Filho e fazendo a vontade do Pai. Amém.

*   *   *
(1) Cf. Texto-Base CF 2022, n. 24-25.
(2) Cf. Texto-Base CF 2022, Apresentação.

 

 

 

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Vamos Subir ao Monte de Deus


Subamos ao Monte,
Para o encontro com o Senhor;
Para ouvi-Lo e contemplá-Lo na Sua glória,
Para descobrirmos a vida em vitória,
Sem medo ou comodismo,
Sem o mal do individualismo,
Porque Ele é o Senhor da nossa história.
*
Desçamos do Monte
Em caminhada firmes, e fortes,
Para seguirmos em frente, a missão,
Para caminharmos mesmo na perseguição,
Com a coragem que vem do Senhor,
Que mesmo abraçando a dor,
Continuemos firmes a sua oração.
*
Continuemos a nossa estrada
Com o Senhor transfigurado,
Sendo fiéis seguidores do Seu amor,
Com um coração cheio de vigor,
Na alegria de sempre crer,
Sem nunca, nunca esmorecer,
Com coragem que se faz no ardor.
*
Despertemos do sono da indiferença,
Ou mesmo do nosso comodismo,
Para do Monte seguirmos em frente,
Sendo discípulos firmes e conscientes,
Cheios de vida, e transfigurados,
Em vida nova, e motivados,
Comunhão refeita e coração ardente!


*   *   *

 

Obra: “A Transfiguração”, de C. H. Bloch. In pt.wikipedia.org.

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho!

 

 

I Domingo do Tempo da Quaresma, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pela resposta cristã aos desafios da bioética ⇐
⇒ Campanha da Fraternidade: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (cf. Pr 31,26) ⇐

 

Leituras: Dt 26,4-10; Sl 91(90); Rm 10,8-13; Lc 4,1-13

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

 

As Tentações de Jesus e as tentações do Cristão

Lc 4,1-13

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do I Domingo da Quaresma, neste Ano “Família Amoris Lætitia, nos motiva a contemplar a experiência de Jesus no deserto, segundo o evangelista Lucas. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 4,1-13, passagem que conclui a terceira parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “Preparação do ministério de Jesus”(1).

Nesta Liturgia, Nosso Senhor está no deserto da judeia. A tradição diz que se trata de uma colina (conhecida como “colina da tentação”), situada há uns 10 quilômetros de Bethabara (cf. Jo 1,28), que quer dizer “Casa do Deserto” ou “Lugar da Passagem”, às portas de Jericó, local em que foi batizado por São João Batista.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta Nosso Senhor vivendo um tempo de penitência, não que Ele precisasse de uma penitência, pois não pecou. No entanto, Sua experiência de tempo penitencial, cujo ápice foram as tentações, é para nós um modelo de como viver o tempo quaresmal.

No deserto, Jesus vence as três tentações: quando chega a fome há uma tentação de transformar as pedras em pães (cf. Lc 4,3). Em um segundo momento, diante dos reinos do mundo, o tentador promete todas as riquezas para que Jesus as adore (cf. Lc 4,7). Por fim, Jesus é tentado a se jogar do ponto mais alto (cf. Lc 4,8).

Diante destas tentações contra a sua natureza humana, Jesus se faz fiel ao plano do Pai e, por isso, tem sempre uma resposta firme perante o tentador, pois é conduzido pelo Espírito.

Na fome, Ele se ampara no alimento imperecível que é a oração constante ao Pai e responde ao tentador que “não só de pão vive o homem” (Lc 4,4). Diante da tentação do poder, Jesus é fiel ao projeto do Reino, pois somente ao Deus verdadeiro se deve adorar e servir (cf. Lc 4,8). Diante da tentação da falsa segurança, não Se coloca no perigo, pois, pelas Escrituras, não podemos tentar a Deus somente porque que Ele se prevê poderoso.

O ser humano vive num constante deserto. Nele sofremos todo tipo de tentações para resolver nossas necessidades pessoais, nossas ambições perante coisas e pessoas ou mesmo tentando que Deus faça a nossa vontade. Entretanto, não percebemos quantas coisas boas o Senhor nos dá no deserto de nossa existência, com as quais enfrentamos nossas lutas, nossos desafios, nossas provações. Deus quer nos ajudar a vencer e para isso nos ensina muito mais do que os sucessos mirabolantes baseados apenas em interesses terrenos e perecíveis.

A fé cristã é exatamente a consciência de que em cada momento da nossa vida estamos caminhando para a eternidade, pois o Senhor está conosco nos fortalecendo pelos desertos de nossa da vida, nos dando a vitória rumo à libertação e à salvação.

O Papa Francisco, em sua mensagem para a Quaresma deste ano(2), nos exorta a cultivar relações humanas mais íntegras e integrais, concretizadas no corpo-a-corpo, numa prática alegre e generosa da esmola, inclusive a esmola do tempo, pois a Quaresma é tempo de visitar o solitário e de nos aproximarmos do irmão que sofre e que é necessitado da Providência de Deus.

Finalmente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe da Divina Graça, que ela interceda por nós para que possamos ser guiados pelo Espírito Santo, Espírito da Fortaleza, possamos vencer as tentações que enfrentamos nos desertos de nossa existência e fazermos a vontade de Deus em todas as circunstâncias de nossas vidas. Amém.

*   *   *
(1) Na Bíblia de Jerusalém (Paulus, 2013), o Evangelho Segundo São Lucas é composto das seguintes partes: Prólogo (cf. Lc 1,1-4), I. Nascimento e vida oculta de João Batista e de Jesus (cf. Lc 1,5-2,52), II. Preparação do ministério de Jesus (cf. Lc 3,1-4,13), III. Ministério de Jesus na Galileia (cf. Lc 4,14-9,50), IV. Subida para Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,27), V. Ministério de Jesus em Jerusalém (cf. Lc 19,28-21,38), VI. A paixão (cf. Lc 22,1-23,56) e VII. Após a Ressurreição (cf. Lc 24,1-53).
(2) Cf. Papa FRANCISCO. Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2022. Disponível em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/messages/lent/documents/20211111-messaggio-quaresima2022.html>. Acesso em: 4 mar. 2022.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Deserto da Vida


No deserto desta vida,
Muitas coisas enfrentamos,
Tentações de todo tipo,
Que às vezes duvidamos,
Mas Jesus está com a gente,
Caminhando firmemente,
É nEle que acreditamos.
*
Muitas vezes ao caminhar,
O deserto fica quente,
Vem a sede e vem a fome,
Que vai castigando a gente,
Então vem a esperança,
O Senhor é a bonança,
Pois na vida está presente.
*
Temos tantas tentações,
No nosso mundo atual,
Consumir pra mais da conta,
Cultivando o capital,
Somos tentados a comprar,
E ainda adorar,
O ídolo material.
*
Não podemos esquecer,
Que a vida do cristão,
Deve ser simplicidade,
Vivendo a contemplação,
Com Jesus sem desistir,
O caminho a prosseguir,
Pra viver a conversão.
*
A caminhada é longa,
No deserto da existência,
Mas nós vamos aprendendo,
A viver com paciência,
Com jejum e oração,
Caridade em ação,
Santa e viva penitência.
*
Viver o tempo quaresmal,
Para o cristão é importante,
Faz muito a gente crescer,
E seguir perseverante,
A Palavra é fundamento,
Oração como alimento,
Testemunho a todo instante.


*   *   *

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos ensina a vencer as tentações, ilumine o seu caminho!

 

 

VIII Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas religiosas e consagradas ⇐

 

Leituras: Eclo 27,5-8; Sl 92(91); 1Cor 15,54-58; Lc 6,39-45

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

Autêntico Exame de Consciência

Lc 6,39-45

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do VIII Domingo do Tempo Comum, do Ano C, nos motiva a continuar contemplando Jesus de Nazaré, o Cordeiro de Deus, no “Sermão da Montanha”, hoje nos apresentando a necessidade de um profundo exame de consciência. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 6,39-45, sequência do Domingo passado.

Nesta Liturgia, Jesus ainda continua no contexto do “Discurso Inaugural”(1) nas proximidades de Cafarnaum, a cidade em que Ele habitou (cf. Mt 4,12;9,1) em cumprimento da profecia de Isaías que diz que Deus não deixará sem luz os que padecem na região da sombra da morte (cf. Mt 4,13-16).

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta, ainda na sequência das bem-aventuranças, as quais vimos nos dois últimos Domingos, mais um recurso para o vocacionado, para o discípulo, para que ele alcance e anuncie o Reino de Deus: a permanente vigilância do que está cultivando no próprio coração. Convém recordar que na Bíblia o coração representa o território das emoções, dos sentimentos, mas principalmente o centro da razão e das decisões.

O Senhor quer que os Seus seguidores imprimam na alma uma nova forma de relação com as pessoas e também entre eles próprios. Jesus pergunta: “Pode um cego guiar outro cego?” (Lc 6,39). Como, em vista da missão, o discípulo poderia “guiar” as pessoas em busca do Reino se não percebesse também seus próprios limites e obstáculos?

Mais adiante, Jesus fala: “Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Lc 6,42). Os discípulos, chamados a serem também luz do mundo (cf. Mt 5,14), necessitavam tirar de sua vida aquilo que os impediam de enxergar o mundo e as pessoas com os olhos de Deus. Não podemos ajudar o outro se não tirarmos as traves que nos impedem de nos reconhecermos como somos. O risco é de acabamos agindo hipocritamente, pois como podemos iluminar a vida das pessoas sem estarmos iluminados?

Jesus também lembra da árvore que deve ser reconhecida pelos seus frutos (cf. Lc 6,43). Os frutos do cristão deve ser a paz, a justiça, sabedoria, a fraternidade, o perdão, o cuidado com os pobres e necessitados da Providência de Deus. E do cultivo de tais valores no coração poderá brotar atitudes coerentes com o Evangelho.

As orientações de Jesus aos Seus discípulos também são destinadas a todos nós e refletem perfeitamente as palavras contidas na primeira leitura desta Liturgia. Diz o autor sagrado do Eclesiástico: “Como o forno prova os vasos do oleiro, assim o homem é provado em sua conversa, O fruto revela como foi cultivada a árvore; assim, a palavra mostra o coração do homem.” (Eclo 27,6-7).

Portanto, irmãos e irmãs, a Liturgia de hoje nos estimula fortemente a fazermos um profundo exame de consciência, a ponto de tirarmos os obstáculos, as traves, que represam em nós o egoísmo, a ganância, o individualismo e a falta de convivência fraternal. Enxergando o seu caminho, sua vida e sua missão, o discípulo poderá, pelo seu exemplo, guiar outros a Jesus.

Somente a humildade, que nos leva ao reconhecimento de nossa condição humana, poderá nos fazer novas criaturas. O cultivo da sabedoria que vem de Deus nos fará produzir bons frutos em qualquer fase de nossa vida. O salmo 91 nos exorta: “O justo crescerá como a palmeira, florirá igual ao cedro que há no Líbano; na casa do Senhor estão plantados, nos átrios de meu Deus florescerão.”

Peçamos a Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, que ela interceda por nós e que possamos receber o Espírito Santo, unção de todos os santos, para que tenhamos a atitude de confiança dos noivos das bodas de Caná, pois o vinho melhor é promessa para nós e através de nós. É com a graça e a força de Deus que podemos viver estas máximas de Jesus, sendo iluminados por Deus e sendo instrumento de Sua luz para o próximo. Amém.

*   *   *
(1) No Evangelho Segundo São Mateus é conhecido como “Sermão da Montanha” (cf. Mt 5,1-7,29).

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

A Sabedoria que Vem do Alto


Ações sábias alegram o coração de Deus,
Pois do Senhor brota o sumo bem,
Que alimenta a santidade do homem,
Que lhe faz coerente também,
Porque o coração cheio de amor,
Traz para a vida a força e o ardor,
Que aos bons e justos convém.
*
E os olhos limpos das tantas traves,
Fará o sábio para o mundo iluminar,
Porque a sabedoria vem da luz de Deus,
Que ao seu coração vem a orientar,
Para seguir em frente como caminheiro,
Pela longa estrada caminhará inteiro,
Firme e iluminado e sem tropeçar…
*
Quem for discípulo como seu mestre,
Carregará o amor como fundamento,
No ministério do seu dia a dia,
Será da paz em qualquer momento,
Nascerão bons frutos da sua missão,
No seu caminhar terá compaixão,
Seu testemunho será ensinamento.
*
Cristãos iluminados pelo Senhor,
Curados das trevas e das cegueiras,
Fazendo-os também a outros se guiarem,
E se livrarem das trilhas traiçoeiras,
Que às vezes tentam os atropelar,
Porque a vida é este trilhar,
Existência que se faz em nós verdadeira.
*
A comunhão nos traz a lucidez,
Pois o olhar do outro pode nos orientar,
E assim o encontro nos conduz à cura,
Em vista de a nossa vida transformar,
Porque a boa mensagem é fruto do seguidor,
Sentido e fortaleza que vem do Senhor,
Pela Boa Notícia a nos alegrar.

*   *   *

 

Extrato da obra “O Sermão da Montanha” (1920), de H. Copping, In wikipedia.org – “File:Harold Copping – The sermon on the mount – (MeisterDrucke-52362).jpg”

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos apresenta mais uma fonte de recursos para realizarmos a nossa vocação, ilumine o seu caminho!

 

 

VII Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas religiosas e consagradas ⇐

 

Leituras: 1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23; Sl 138(137); 1Cor 15,45-49; Lc 6,27-38

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Amor no Alto Nível Cristão

Lc 6,27-38

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do VII Domingo do Tempo Comum nos motiva a continuar contemplando Jesus de Nazaré no “Sermão da Montanha”, hoje sobre a vivência do amor e da misericórdia de Deus. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 6,27-38, sequência do Domingo passado, passagem que compõe a terceira parte do Evangelho Segundo São Lucas intitulada “O ministério de Jesus na Galileia”.

Nesta Liturgia, Jesus continua no contexto do “Discurso Inaugural”(1), ensinando os discípulos após a eleição do grupo dos Doze (cf. Lc 6,12-16) possivelmente ao pé da colina de Tabgha, há aproximadamente três quilômetros de Cafarnaum, a cidade de Jesus (cf. Mt 4,12;9,1).

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta, na sequência das bem-aventuranças, as quais vimos no Domingo passado, mais um recurso para o vocacionado, para o discípulo, alcançar e anunciar o Reino de Deus: trata-se do amor no mais alto nível, o qual brota da boca de Jesus, que nos revela um amor desprendido de recompensas ou de aprovação.

O Evangelho de Lucas nos apresenta quatro indicações de Jesus para que o vocacionado: amar os inimigos, fazer o bem aos que odeiam, bendizer os que amaldiçoam e rezar pelos caluniadores (cf. Lc 6, 27-28).

Como seguir tais conselhos? As palavras de Jesus nos provocam a pensar no autêntico desafio do cristão, pois o cristianismo nos coloca na contramão de concepções que o mundo oferece como soluções, quem podem ser políticas, culturais ou econômicas. Às vezes nos esquecemos destas palavras de Jesus e acabamos agindo de modo incoerente com o Evangelho.

E diante de nossas quedas, não devemos nos desanimar, pois a nossa conversão acontece quando conseguirmos dissolver nossos ressentimentos e abrir mão dos desejos de vinganças que corroem nosso coração. Num mundo que incentiva a vingança, a intolerância, muitas vezes as guerras, o uso de armas, somos chamados a discernir sobre as misturas do joio e do trigo(2) presentes entre nós cristãos, seja como indivíduo, seja como comunidade.

Davi, na primeira leitura desta Liturgia, candidato ao trono, evitou sujar as mãos com o sangue do rival por sede de poder. Diz ele: “quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor, e ficar impune?” (1Sm 26,9). Os políticos do nosso país poderiam aprender muito com a atitude de Davi. Quantas vezes se mata ou monta-se armadilhas por disputa política?

São Paulo, na segunda leitura desta Liturgia, nos exorta a caminhar na certeza de que Cristo é o novo Adão que veio nos visitar com sua humanidade e divindade e que a partir de Sua humanidade podemos ser reflexo do homem celeste, que é o Filho de Deus.

Portanto, irmãos e irmãs, a Liturgia de hoje nos motiva a olharmos para Jesus e acolhermos suas palavras carregadas das expressões que nos impulsionam a vivermos o Seu amor e a Sua misericórdia, atitudes que estão prefiguradas já no Antigo Testamento, como por exemplo a atitude de Davi.

Finamente, peçamos a Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa, que ela interceda por nós e que possamos receber o Espírito Santo, unção de todos os santos, para que tenhamos a atitude dos servos das bodas de Caná e façamos tudo o que Cristo nos disser (cf. Jo 2,5), em relação a Deus e ao próximo. Com a graça e a força de Deus é possível vivermos estas máximas de Jesus. Amém.

*   *   *
(1) No Evangelho Segundo São Mateus é conhecido como “Sermão da Montanha” (cf. Mt 5,1-7,29).
(2) Cf. Mt 13,24-30. Cf. XVI Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

O Amor Além do Humano


Amor aos inimigos, diz o Senhor,
Fazendo-nos amar na profundidade,
Indo além do dar e do receber,
Que é próprio da nossa humanidade.
Como fugir do convencional?
Como avançar no combate ao mal?
E sair da vingança para a humildade?
*
Muitos humanos estimulam fortemente,
A revanche no lugar do perdão,
O olho por olho como sendo uma lei,
Sufocando a reconciliação,
E então se esconde a verdade,
Não se vê o que é lealdade,
E emerge a forte contradição.
*
Fazer o bem aos enraivecidos,
Buscar vencer o ressentimento,
Provoca o bem e cura a pessoa,
Alivia os traumas e os sofrimentos,
Estimula a paz e a serenidade,
Faz caminharmos para a liberdade,
Cura a alma e seus ferimentos.
*
Bendizer os que nos praguejam,
Semear o bem e se desarmar,
Deixar que nosso coração,
Pulse livre sem se inchar,
Para que a vida seja alegria,
Seja inspiração pra poesia,
E rocha para suportar.
*
E a oração aos caluniadores,
Que o mundo vem a questionar,
Para alguns, quase impossível,
Mas ninguém pode desanimar,
Porque a oração é força vital,
Para os que creem é essencial,
Alimenta a alma e faz caminhar.

*   *   *

 

Extrato da obra “O Sermão da Montanha” (1920), de H. Copping, In wikipedia.org – “File:Harold Copping – The sermon on the mount – (MeisterDrucke-52362).jpg”

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos dá os recursos para perseverar na realização da nossa vocação, ilumine o seu caminho!

 

 

VI Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas religiosas e consagradas ⇐

 

Leituras: Jr 17,5-8; Sl 1; 1Cor 15,12.16-20; Lc 6,17.20-26

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Felicidade que Não se Acaba

Lc 6,17.20-26

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do VI Domingo do Tempo Comum, neste Ano “Família Amoris Lætitia, nos motiva a contemplar Jesus apresentando as bem-aventuranças aos pobres e o alerta aos ricos. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 6,17.20-26.

Nesta Liturgia, Jesus continua percorrendo a Galileia, possivelmente ao pé da colina de Tabgha, onde fica a Igreja da Multiplicação (também conhecida como Igreja do Primado de São Pedro). Tabgha está entre Genesaré e Cafarnaum.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta o programa do vocacionado, ou seja, aqueles que são chamados a serem discípulos e missionários. E as bem-aventuranças – e as ameaças aos ricos – são apresentadas por Jesus após a eleição do grupo dos Doze (cf. Lc 6,12-16). O Evangelista nos conta que, ao descer da montanha e, diante de uma imensa multidão oriunda da Judeia, de Jerusalém e de Tiro e Sidônia, Jesus ensina aos Seus discípulos (cf. Lc 6,17.20).

Jesus se dirige aos pobres – sejam famintos, odiados, perseguidos (cf. Lc 6,20-22) – e Sua pregação revela uma realidade que oprime o povo com fome, angústia, hostilidade. Mas a pregação do Jovem Galileu também traz um alento e revela o amor (a caridade), a esperança e a fé como recursos para que os discípulos (os vocacionados) alcancem e anunciem o Reino de Deus.

Jesus, o Profeta por excelência, anuncia e denuncia o sofrimento do povo expondo um conflito com a elite religiosa (e política) de sua época. Na segunda parte do Evangelho desta Liturgia (cf. Lc 6,24-26) a Palavra se volta, em modo de ameaça, aos ricos. E diz Jesus: “Ai de vós ricos, porque já tende vossa consolação… Ai de vós que agora rides, porque tereis luto e lágrimas!” (Lc 6,24-25). Deste modo, Jesus quer converter os que agem com avareza e zombaria, para que usem seus dons (bens e capacidades) para uma vida de amor (uma vida de caridade e de fraternidade).

Os que buscam experiência da confiança no Senhor e que lutam por um mundo melhor são como “como a árvore plantada junto às águas, que estende as raízes em busca de umidade, por isso não teme a chegada do calor: sua folhagem mantém-se verde” (Jr 17,8). Portanto, a primeira leitura desta Liturgia nos indica que é Deus a fonte da nossa força quando somos atingidos pelo sofrimento, provindo da pobreza, da opressão e das calúnias – consequência do exercício do discipulado.

A Palavra de Deus será sempre o alimento e o guia para o cristão seguir em frente com desprendimento (ou seja, a pobreza evangélica), pois os bem-aventurados encontram em Deus o sentido pleno de suas existências, sem reproduzir atitudes desumanas, incoerentes com o Evangelho. A cada encontro com o Senhor, através de Sua Palavra, todos somos convidados a refletir sobre o sentido das bem-aventuranças.

recisamos entender que as bem-aventuranças não representam uma apologia ao sofrimento vitimista, mas é uma forma de fazer a vontade de Deus, proporcionando o encontro com a verdadeira felicidade, pois as bem-aventuranças (ou as felicidades) nos apontam para a vida eterna, onde tudo é pleno e permanente.

Portanto, irmãos e irmãs, podemos nos perguntar: como está nossa vida de seguidor e de servidor de Cristo? Como agimos no nosso dia a dia? Em quem depositamos nossa confiança? E a resposta para tais questões podemos encontrar na experiência da fé no Ressuscitado, pois Cristo é o fundamento que nos faz seguir vivendo como peregrinos em busca da felicidade plena.

São Paulo, na segunda leitura desta Liturgia, escreve na Primeira Carta aos Coríntios: “na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram.” (1Cor 15,20). Nossa fé cristã deve se fundamentar nessa verdade para que possamos prosseguir com segurança no discipulado a serviço do Reino de Deus.

Por fim, roguemos a Nossa Senhora, Rainha dos Apóstolos, que ela interceda por nós e que possamos receber o Espírito Santo, Distribuidor dos Dons Celestes, para que possamos ouvir como discípulos e falar (anunciar) como missionários a Boa-Nova das bem-aventuranças. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Raízes Mais Profundas da Vida


Como a raiz da árvore próxima ao rio,
Buscando a energia e a força vital,
Assim é o homem que busca o Senhor,
Vivendo sua essência original,
Com os pés no chão da vida, firmando,
Com segurança ele vai caminhando,
Sendo mensageiro e para o mundo um sinal.
*
Seguir o caminho da vida aventurada,
Na busca do verdadeiro sentido,
Nos propósitos das bem-aventuranças,
Com o caminho iluminado e fortalecido,
Sem se render a uma posição superficial,
Mas mergulhando na Palavra que é sinal,
E nos braços de Deus – Amor e Pai querido!
*
O Senhor nos alerta a viver a felicidade,
Que se constrói pela nossa conversão,
Que se expressa na coerência e bondade,
Porque Ele nos ensina a compaixão,
Nos motiva a vivermos no sumo bem,
Abraçados pela sua misericórdia também,
Porque Ele nos oferece a Redenção.
*
A Palavra do Senhor é também alimento,
Para os peregrinos da paz e da alegria,
Para os que promovem a justiça e a vida,
Na realidade da criação, a cada dia,
Porque Deus nos criou para a felicidade,
Para comunhão, o encontro e a fraternidade,
Como Pai amoroso nos fortalece e nos sacia!

*   *   *

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos dá o alimento e o guia para a realização da nossa vocação, ilumine o seu caminho!

 

 

V Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐
⇒ Intenções do Santo Padre, o Papa Francisco: Pelas religiosas e consagradas ⇐

 

Leituras: Is 6,1-2a.3-8; Sl 138(137); 1Cor 15,1-11; Lc 5,1-11

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

“Eis-me Aqui, Envia-me!”

Lc 5,1-11

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do V Domingo do Tempo Comum nos motiva a contemplar a vocação como uma iniciativa de Cristo. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 5,1-11.

Nesta Liturgia, Jesus está nas margens do lago de Genesaré(1). Genesaré ficava situada entre Cafarnaum e Magdala, que são separadas por uma distância de 10 quilômetros.

Neste Domingo, a Igreja nos apresenta a dimensão vocacional. Anteriormente, no Domingo passado, vimos que Jesus agiu e falou sozinho, mas agora estará em movimento, fora do espaço religioso e às margens do Lago, formando, assim, o Seu grupo (discípulos e Apóstolos) e futuros missionários a todas as nações (cf. Lc 24,44-48).

Para isso, a Liturgia nos apresenta o Evangelho em três momentos: o primeiro é a pregação à multidão (cf. Lc 5,1-3); o segundo é a pesca milagrosa (cf. Lc 5,4-7); e terceiro é o chamado aos quatro primeiros discípulos (cf. Lc 5,8-11).

Podemos imaginar o cenário daquela manhã às margens do Lago: uma multidão que cerca Jesus; pescadores desanimados pelo insucesso do trabalho noturno e barcos vazios de peixe. Depois de dar o ensino às multidões, Jesus ordena a Pedro e aos seus companheiros que lancem suas redes em águas mais profundas (cf. Lc 5,4), pois estavam na margem.

Como resultado, eles pescam uma abundância de peixes que chega a romper as redes. Em resposta, Pedro, aos pés de Jesus, diz “Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador!” (Lc 5,8). Isso indica que começa a acontecer o reconhecimento de que Jesus é o Senhor e Ele mesmo já sinaliza para a sua Ressurreição quando vencerá a morte, dando-nos a prova de que Ele é o Deus verdadeiro e quer que todos ressuscitem.

O momento final é o chamado para serem pescadores de homens e lançarem suas redes anunciando a chegada do Reino. E a resposta está contida numa belíssima descrição. Diz o Evangelista: “Então levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus.” (Lc 5,11).

A barca simboliza a Igreja onde Jesus sacia os famintos (uma imagem da Mesa da Palavra) e onde também Jesus opera o milagre da abundância (imagem da Mesa da Eucaristia). Ao nos dar o ensino e o milagre da abundância, Jesus nos fornece elementos essenciais para combater o desânimo, a desmotivação e a desesperança. Mas há um detalhe importante: para ensinar, Jesus tinha à sua disposição duas barcas (cf. Lc 5,2) e Ele escolhe a de Pedro (cf. Lc 5,3). Naquele dia, a barca de Pedro, “uma barca petrina”, foi um verdadeiro ambão, uma verdadeira Mesa da Palavra.

Sendo obediente, o discípulo precisa ir além das práticas religiosas e se lançar no mundo como testemunha da Salvação. E diante do desânimo e da debilidade, se volte para Deus, fonte de coragem para ser sal e luz do mundo no caminho que Deus mesmo indica. Para isso, é preciso discernir quando deixar aquilo que para nós “é tudo” e seguir em frente, mesmo continuando a nossa profissão, mas colocando os dons (bens e capacidades) a serviço da Missão.

Recordarmos que neste mês as intenções do Papa Francisco, herdeiro da barca de Pedro, estão voltadas para as religiosas e consagradas, que respondem a muitos desafios e são exemplos de fé, esperança e caridade, num tempo carente de pão, fruto da terra, mas também, e sobretudo, do Pão descido do Céu que nos sacia verdadeiramente (cf. Jo 6,58).

Por fim, roguemos a Nossa Senhora, Torre de Marfim, que ela interceda por nós e que possamos receber o Espírito Santo, Espírito das Virtudes, para sermos melhores cristãos, pois, como diz São Paulo, pela graça de Deus (cf. 1Cor 15,10) e completemos com as palavras do profeta Isaías: “aqui estou! Envia-me!” (cf. Is 6,8). Amém.

*   *   *
(1) Depois de ser expulso de Nazaré (cf. Lc 4,29), Jesus vai para Cafarnaum (cf. Lc 4,31-41). Em seguida, sai de Cafarnaum em segredo e vai pregar nas sinagogas da Judeia (cf. Lc 4,42-44).

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Avancemos para a Messe


Avancemos para os campos,
Para as cidades, vilas e favelas,
Anunciemos nelas,
O dom do amor,
Também do fervor,
Sempre a proclamar,
E acreditar,
No que diz o Senhor.
*
Avancemos com a barca de Jesus,
Em busca das multidões,
Em mutirões,
Para viver a pesca,
Pois ainda resta,
A nossa obediência,
Na paciência,
E na vida honesta.
*
Avancemos com os discípulos,
Que firmes seguiram,
E se uniram,
A caminhar,
Vivendo a pregar,
As vezes a cair,
Mas sem desistir,
Sempre a levantar.
*
Avancemos para os mundos humanos,
Em suas existências,
Com suas essências,
Se fazendo união,
Na vida de irmãos,
Nas tantas partilhas,
Nas estradas e trilhas,
Pela comunhão!

*   *   *

 

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que tem a iniciativa da nossa vocação, ilumine o seu caminho!

 

 

IV Domingo do Tempo Comum, Ano C, São Lucas

⇒ Ano “Família Amoris Lætitia” (2021/2022) ⇐

 

Leituras: Jr 1,4-5.17-19; Sl 71(70); 1Cor 12,31-13,13; Lc 4,21-30

 

 

⇒ HOMILIA ⇐

A Caridade como Chave para o Reino de Deus

Lc 4,21-30

 

Meus irmãos e irmãs, a Liturgia do IV Domingo do Tempo Comum, do Ano C, nos motiva a continuar contemplando Jesus de Nazaré, em Seu ministério, como sendo o cumprimento de tudo o que Deus prometeu ao povo através de Moisés e dos profetas. E o Evangelho desta Liturgia está em Lc 4,21-30, sequência, do tipo revezamento, do Evangelho do Domingo passado.

Nesta Liturgia, Jesus continua na Sinagoga de Nazaré, em observação a um dos preceitos do Sábado, quando anunciou o cumprimento da profecia de Isaías (cf. Is 61,1-2) sobre a chegada do Enviado do Pai portador da Boa-Nova aos pobres.

Para esta Liturgia, o início do Evangelho que a Igreja nos oferece é o final do Texto do Domingo passado, em Lc 4,21, que diz: “Então começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura’.” A afirmação de Jesus provoca reação em dois grupos diferentes: os que davam testemunho a Seu respeito pelas palavras que saíam da Sua boca (cf. Lc 4,22); e os que ficaram furiosos – estes O expulsaram da cidade e queria lançá-Lo no precipício (cf. Lc 4,28-29).

O Evangelho desta Liturgia nos proporciona dois elementos para meditarmos sobre a nossa ação evangelizadora. O primeiro é o fato de Jesus ser um conterrâneo: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22) e o segundo, que provoca a fúria de alguns, é que o Enviado do Pai não está a serviço de um grupo de privilegiados, como Jesus mesmo faz memória da ação de Deus em favor de estrangeiros como a viúva em Sarepta (cf. 1Rs 17,7-24) e do leproso Naamã (cf. 2Rs 5,1-27).

Pois bem, como discípulos missionários do Senhor precisamos caminhar com a pertença de algum lugar e com a liberdade profética que nos leva onde quer o Senhor. Na pregação sempre haverá os que escutam e ficam até admirados (e elogiam), depois dão testemunhos como seguidores do Senhor. Por outro lado, há os que não aceitam e até matam os profetas da verdade.

Na primeira leitura desta Liturgia, ouvimos sobre a vocação do profeta Jeremias. Diz o texto sagrado: “antes de formar-te no ventre materno, eu te conheci; antes de saíres do seio de tua mãe, eu te consagrei e te fiz profeta das nações.” (Jr 1,5). Somos, enquanto cristãos, chamados a pregar a experiência de ser como Cristo, que foi hostilizado (e ignorado) e perseguido. O chamado profético quer a nossa adesão, que nos aprofundemos na Palavra e que sejamos testemunhas do projeto salvífico no mundo (cf. CIgC 785).

Há, ainda, outra dimensão própria dos cristãos, presente tanto em Jeremias quanto em Lucas: a universalização da Palavra, em que todos são os destinatários da salvação, mas livres para aceitar ou rejeitar o Chamado de Cristo. Vimos, desde os profetas do Antigo Testamento, que a liberdade esperada pelos hebreus era destinada a todas as nações.

A segunda leitura desta Liturgia, da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, nos exorta para abraçar as virtudes necessárias para nos firmarmos na caminhada com o Senhor. Diz o Apóstolo: “atualmente permanecem estas três coisas: fé, esperança, caridade. Mas a maior delas é a caridade.” (1Cor 13,13). Tudo o que fazemos deve ser fundamentado no amor caritativo, para que nossa pregação não caia no vazio e nossa ação social não seja apenas uma filantropia que não aponta para Deus e Seu projeto salvífico.

Por fim, peçamos a intercessão de São João da Cruz, Doutor Místico da Igreja e um dos principais ícones do Carmelo, que sejamos fortes para abraçar nossas circunstâncias com a certeza de que, como disse o próprio São João da Cruz, “ao entardecer do meu mortal viver serei julgado pelo Amor”. Amém.

 

*   *   *

 

⇒ POESIA ⇐

Marcados pelo Amor


Somente no amor,
Somos capazes de caminhar,
Seguir firmemente e sem desanimar,
Caminhar com o coração livre e dizer:
Que a caridade não se deixa vencer,
Pois o nosso julgamento final será pelo amor.
Quando em nós houve o agir acolhedor,
E a esperança nunca a desaparecer!
*
Somente com o amor,
Exalamos o perfume da vida verdadeira,
Vindo da Flor que sai da Videira,
Vida que segue até eternamente,
Se estendendo com calma e fraternalmente,
Fundamentada na Palavra sempre viva,
Encarnada e com a unção ativa
Que se cumpre no hoje no povo crente.
*
Somente no amor,
Semeamos também nos gestos de profecia,
Da verdade não aceitada que se anuncia,
Porque a Palavra está na boca dos profetas,
Para que as almas estejam despertas,
Denunciam as mentiras e as injustiças,
Os poderes, opressões e as cobiças,
E por isso caminha também em alerta!
*
Somente com o amor,
Somos capazes de entender,
Que desde o ventre e ao nascer,
Fomos por Deus, chamados e amados,
A serviço do Reino a ser implantado,
Que se dar na vida e na comunhão,
Na comunidade viva dos irmãos,
No encontro que nos faz congregados.

*   *   *

 

Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, que nos trouxe as virtudes necessárias para nos tornarmos filhos de Deus (cf. Jo 1,12), ilumine o seu caminho!