III Domingo do Advento, Domingo da Alegria, Ano A

Leituras: Is 35,1-6a.10; Sl 145(146); Tg 5,7-10; Mt 11,2-11

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⇒ HOMILIA ⇐

Esperar com alegria

Mt 11,2-11

Estamos no 3º Domingo do Advento, o altar já está mais iluminado com as três velas da coroa do Advento acessas, os paramentos, neste domingo, podem também ser de cor rosa, pois a alegria se torna mais forte, porque está próximo o grande momento, o grande dia, a celebração da encarnação do Filho do Altíssimo, o Natal do Senhor, Deus que veio ficar perto de nós para nos ensinar sobre o seu amor e sua misericórdia. Está chegando para alegrar o mundo com sua luz e sua mensagem e ação de vida e esperança para todos os povos.

O Evangelho de Mateus (cf. 11,2-11) nos apresenta um cenário de realidades e situações que nos fazem pensar como aconteceu a vinda do filho de Deus: João Batista, já tem notícias dos sinais referentes ao que Jesus anunciou e, por isso, enquanto está prisioneiro, o precursor envia alguns de seus discípulos para certificar-se se é mesmo o Messias que está no meio do povo.

A resposta de Jesus aos mensageiros de João sinaliza a certeza da presença de Deus feito homem no mundo. Pela sua presença e ação “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados.” (Mt 11,5).

Muitos já desfrutaram da ação milagrosa e salvadora do Filho de Deus, porque sentem a realização do Reino em suas vidas. Jesus ainda faz um elogio a João Batista: “Em verdade vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele.” (Mt 11,11).

O Reino de Deus agora está no meio dos homens, a preparação desta vinda custou a condenação de João Batista, pois assim, também, foi o destino de quase todos os profetas no Antigo Testamento. Os verdadeiros profetas, na caminhada de Israel, foram sempre anunciadores das realidades de Deus, seja da alegria, no anúncio da justiça ou na denúncia da opressão e morte contra o povo.

O profeta Isaías proclama o que irá se cumprir em Jesus: “Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores.” (Is 35,1-2). E os cristãos podem cantar esta realização, pois a salvação já se faz presente por meio de Jesus que trouxe a libertação, a alegria, a justiça, o amor, a fraternidade e a misericórdia em favor de todo o mundo.

São Tiago, na sua carta, nos encoraja a continuarmos firmes nesta espera, como o agricultor, que nos desafios da seca, espera firme o tempo das chuvas para molhar a terra e ver germinar a semente sepultada no chão. E diz ainda que a vinda do Senhor está próxima, por isso é necessário manter-se na espera sem desanimar (cf. Tg 5,7-8).

Viver o Advento, portanto, é fazer a experiência da espera do Senhor em nossas vidas, é querer caminhar com perseverança, alimentados pela Eucaristia, mesmo que os dias sejam de grandes sofrimentos. É ouvir a Palavra, mesmo que os nossos ouvidos estejam um pouco surdos, e muitas vezes poluídos pelos barulhos do mundo que afetam nossas consciências com palavras de desânimo e que destrói o otimismo e a fé. Mas nossa fé e nossa esperança é em Deus que nos enche de alegria, otimismo e paz.

Abençoai Senhor o caminhar do povo de Deus e de tantos irmãos e irmãs que esperam dias de restauração em suas vidas e seus lares. Protegei os que anunciam a verdade do Evangelho da vida e os que mesmo nas perseguições por causa do Reino, como João Batista, permanecem firmes e corajosos. Amém.

***

⇒ POESIA ⇐

A alegria na espera

Onde está a nossa alegria?
Que tanto nós almejamos,
Que na paz a gente busca,
E que em Deus nós esperamos,
A alegria mais completa,
A ânsia da nossa meta,
Que todo dia sonhamos.

Está no canto e nas santas cores,
Nas luzes, nas árvores e no altar,
Nos presépios, nas ruas e praças,
Nas casas, e no nosso lar
Nos corações orantes,
Nas celebrações vibrantes,
Na assembleia a celebrar.

Está também na profecia,
Na palavra viva ecoando,
No caminhar com os irmãos,
Na espera do novo nos alegrando,
No pão do encontro e do amor,
Eucaristia: força e vigor,
A cada dia nos alimentando.

A nossa espera é orante,
Como uma espera de alegria,
Pois já não se tem dúvidas,
Do tempo que se anuncia
Pois o novo esperamos,
Ouvimos e também pregamos,
O Natal, o grande dia.

Sejamos também precursores,
Desta alegria abençoada,
Dos frutos e dos milagres
Da redenção esperada,
Do amor do Deus Menino,
Do louvor que se faz hino,
Que brota da mesa sagrada.

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, testemunha do ministério de João Batista, ilumine o seu caminho! ***

Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora

 

Leituras: Gn 3,9-15,20; Sl 97(98); Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Um sim para a nossa salvação

Lc 1,26-38

 

A Solenidade de Nossa Mãe Imaculada sempre acontece dentro do tempo do Advento. Maria foi a primeira a viver o advento santo de Nosso Salvador. Ela esperou em Deus, no silêncio, na oração e na serenidade.

Esta verdade de fé, sobre a Imaculada Conceição de Maria, foi declarada pelo Papa Pio IX, no dia 8 de dezembro de 1854, através da bula Ineffabilis Dei. No número 41, o Santo Padre declara: “Esta doutrina sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis.”

A Mãe Imaculada nos ajuda a vivermos este tempo litúrgico do advento de forma mais profunda, pois foi por ela e através dela que o mundo pôde conhecer o Salvador esperado, aquele que é salvação para todos. Maria viveu intensamente e de forma particular a espera do Deus Menino. O seu advento foi o mais completo e perfeito, por que ela colocou em Deus toda a sua espera e confiança.

No Evangelho de Lucas (cf. 1,26-38) podemos aprender de Maria como responder a Deus no momento e que Ele nos chama. Nem sempre devemos ser passivos quando o chamado vem, pois faz necessário perguntar com fez Maria: Como acontecerá isso? (cf. Lc 1,34). A resposta divina virá, os caminhos se abrirão, Deus nos falará… E o Mensageiro de Deus, o anjo, falou à Maria: “O Espírito Santo virá sobre você e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra…” (Lc 1,35). Diante do esclarecimento divino, haverá a entrega, a disponibilidade, o “sim” definitivo da Mãe Imaculada, em favor do plano salvador de Deus.

Maria, mãe de Deus e nossa, ensina-nos como proceder na santidade, pois todas as suas ações, a sua escuta e sua resposta fiel ao chamado do Senhor é para nós a direção do caminho ao Céu. Devemos ser fiéis em nossos propósitos quando sentimos que é Deus que nos chama e nos quer colaboradores do seu Reino, quando nos quer discípulos e missionários seus. Devemos dialogar com Deus, quando não o entendemos, deixando que Ele nos fale do seu projeto para nós.

Maria é a Cheia de Graça, frase que a Igreja eternizou e que rezamos todos os dias na oração da Ave Maria, mesmo sem perceber tamanha importância. Nesta frase do Anjo temos a certeza de que Nossa Senhora tem muito a nos ensinar e também interceder por nós com o seu santo amor maternal.

Mulher Santa e Fiel, da concepção até à Cruz, caminhou e esperou cada realização que Deus lhe prometeu, pois esperou no silêncio e na oração, guardando tudo em seu coração, para poder agir na esperança e na confiança. Mãe imaculada, ou seja, sem a mácula do pecado original, porque Deus não poderia se encarnar num ventre com a mancha do pecado, com as fraquezas humanas que muitas vezes dificultam a resposta ao plano Deus.

Sem pecado, Maria, como a nova Eva, esmaga o mal e destrói a desobediência que existiu no início da Criação (cf. Gn 3,15). Imaculada, cuidou do seu filho Santo em Nazaré, caminhou com ele pela Galileia. Como discípula, se tornou também nossa mãe, pois na Cruz o próprio Jesus Cristo nos apresenta para que ela cuide com amor de todos nós.

Que neste Advento possamos interiorizar os sinais que Deus nos mostrar para vivermos como seus servos. Meditar no silêncio, principalmente quando encontramos a Cruz e a sentimos mais pesada do que antes.

Esperar o Natal é sobretudo esperar a coisas novas que nascerão em nossa vida para o nosso bem e para o bem do mundo, pois o menino nasce para todos. Ele vem ao nosso encontro para nos dizer e nos mostrar que Deus tem um rosto como o nosso e quer que o nosso seja igual ao dele. Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Mulher do sim

 

Visitada pelo anjo,
A escolhida perturbada:
Escuta o mensageiro,
Acolhe-o, desconcertada,
Questiona-o, mas aceita,
E diz sim por ser amada.

Acolherá o Verbo de Deus,
Para o mundo, esperança.
Ele será grande e Justo
Rei diferente em bonança
Reinando para sempre,
Deus fiel da aliança.

A Mulher do sim sem limites,
A Santa e Imaculada,
A Mãe de amor verdadeiro,
A mais pura e amada,
Ensina-nos a perseverança,
E a fé na caminhada.

Esperemos o Senhor,
Aprendendo com Maria,
Perseverando nas lutas
Seja noite ou seja dia,
Mesmo na dúvida e na cruz,
Seja Deus o nosso guia.

Olhando o seu rosto Santo,
Aprendamos sua lição,
De sempre escutar a Deus
Na alegria e na aflição,
Vivendo o santo silêncio,
Pra acolher a salvação.

Mãe de Deus e nossa Mãe,
Cheia da graça divina,
Modelo de santidade,
Que intercede e que ensina,
Que ama e protege os filhos,
Amor que afaga e ilumina.

Que na Santa Eucaristia,
Preparemos um lugar,
Um sacrário em nosso ser,
Pra Jesus poder estar,
Como fez também Maria,
Quando Deus veio nos salvar.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, concebido da Virgem Maria, ilumine o seu caminho! ***

 

 

I Domingo do Advento, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Is 2,1-5; Sl 121(122); Rm 13,11-14; Mt 24,37-44

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Esperemos alegres o Senhor que vem!

Mt 24,37-44

 

Com o tempo do Advento iniciamos um novo ano na liturgia da Igreja. Trata-se de um tempo de espera, quando o ambiente da Igreja muda para um clima de espera e vigilância, com as cores roxas nos paramentos e nas alfaias. Próximo ao local do Altar, está a coroa do Advento, na qual, a cada domingo, uma vela é acesa para marcar o nosso caminhar na espera do Senhor que vem. Os cantos também expressam o que estamos celebrando no ritmo diário e semanal. As letras e os refrãos dos cantos deste tempo litúrgico nos introduzem no clima de espera alegre e esperança, pois suas melodias anunciam que algo novo vem e nos alegrará. O Advento é esta espera alegre e confiante no Senhor no caminhar de nossa vida.

Neste primeiro Domingo do Advento, do ano A, acolhemos os textos de Mateus no início da espera vigilante e alegre para nascimento do Menino Deus. Este evangelista escreve para os novos cristãos, vindos do judaísmo. Nesta liturgia podemos ver, primeiramente, que o evangelista nos fala sobre a vinda do Senhor para julgar a terra. O segundo tema é sobre a vigilância, que é a atitude que os cristãos devem ter para esperar a justiça divina.

Portanto, ficai atentos, porque não sabeis em que dia virá o Senhor” (Mt 24,42). Ficar atento às nossas atitudes, no que se refere às nossas fraquezas, ao nosso comodismo, egoísmos e a nossa indiferença à Palavra de Deus. Ficar vigilantes é estar preparado para o dia em que o Senhor virá julgar os homens. Não é necessário nos separarmos da realidade em que estamos inseridos, mas continuarmos atentos ao nosso testemunho entre os outros, com as pessoas, pois aqueles que viverão de acordo com a lei de Deus, serão levados para o Senhor na sua glória (cf. Mt 24,40).

Diante destas reflexões não devemos ficar apavorados, com medo, mas fazer a experiência da escuta sempre atenta da Palavra e, ao mesmo tempo, numa atitude de alegre espera, confiando na justiça do Senhor. Devemos caminhar como discípulos que anuncia a esperança num mundo onde a vida nova deverá nascer para todos, certos de que a salvação e o julgamento de Deus virá. Por isso a vida de oração e vigilância caracteriza a nossa preparação para celebrarmos o nascimento de Jesus e, ao mesmo tempo, estarmos atentos a cada momento de nossa vida para a segunda vinda do Senhor.

O profeta Isaías nos faz o convite para vivermos esta alegre espera: Vinde, todos da casa de Jacó, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor” (Is 2,5). Deixar guiar pela luz do Senhor nos dá a segurança e a certeza de que caminhamos para a vida eterna e que estamos iluminados e orientados por sua Lei. Neste sentido, o apóstolo Paulo nos exorta a revestirmo-nos do Senhor Jesus Cristo (cf. Rm 13,11-14). Revestir-se do Senhor é deixar de lado tudo aquilo que tira nossa dignidade e desfigura a nossa imagem de filhos de Deus.

Portanto é na Eucaristia e no encontro com a Palavra que devemos viver o Advento. A penitência e a oração são de suma importância para vivermos bem este tempo litúrgico. No encontro com os irmãos, partilhando o mesmo pão, partilhando também a Palavra e a vida, nas novenas de Natal em família, na reza do Terço e na contemplação do Presépio. Todas estas práticas e atitudes espirituais (e outras mais) nos colocam no clima da espera e da vigilância que o tempo do Advento nos propõe.

Que alegria, quando ouvi que me disseram: ‘vamos à casa do Senhor!’” O salmo 121(122) nos faz compreender que é na casa do Senhor que melhor poderemos aprender sobre a experiência do seu amor e sua misericórdia. Nessa Casa (Igreja) encontramos o alimento completo (Palavra e Eucaristia) e a razão de sermos filhos e imagem do Deus que nos criou e nos quer presentes no seu reino eterno: Amém!

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Espera atenta e ativa

 

Atentos à voz do Senhor
Trazendo-nos a redenção,
A este mundo em conflitos,
Carente de reconciliação
E as dores sufocando
Toda a nossa criação.

 Atentos à Palavra Santa,
Que vem nos comunicar,
A perfeita alegria de Deus
Chegando a nos despertar,
E das trevas nós fujamos,
Firmes sempre a caminhar.

 Atentos à Luz verdadeira,
Clareando o espaço sagrado,
E às flores que perfumam,
O nosso tempo esperado,
Do Verbo que sempre vem,
Nosso Deus muito amado.

 Que vença o amor de Deus,
Em toda a humanidade,
E espalhando o diálogo,
No lugar da maldade
E em todos os corações,
Renasça a fraternidade.

 Pés firmes na longa estrada,
E em nosso bom Senhor,
Que renasça a alegria,
Sem o medo e o rancor,
E que se acenda chama,
Da vida e do esplendor!

 Sejamos também presentes
Do Deus eterno amor,
Supremo, Verbo, vida
Menino, santo e Senhor.
E na santa comunhão,
Esperemos o Salvador.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho do Homem, ilumine o seu caminho! ***

 

 

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, Solenidade

 

Leituras: 2Sm 5,1-3; Sl 121(122); Cl 1,12-20; Lc 23,35-43

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Rei, reino e trono diferente dos “reinos” deste mundo

Lc 23,35-43

 

Chegamos ao último domingo deste ano litúrgico, ano C. E neste encerramento celebramos Cristo, Rei do Universo. A festa de Cristo Rei foi instituída como celebração litúrgica pelo Papa Pio XI em 1925. Inicialmente era celebrada no último domingo de outubro, o qual era próximo do dia de Todos os Santos, “a fim de que se proclamasse abertamente a glória daquele que triunfa em todos os santos eleitos”. Com a reforma do Concílio Vaticano II, esta festa foi transferida para o último domingo do Tempo Comum, concedendo um significado mais amplo, sublinhando a dimensão escatológica do reino em sua consumação final[1].

Olhando todo este percurso queremos também olhar para o Senhor e para nós no intuito de fazermos uma retrospectiva de tantos passos dados. A cada Eucaristia celebrada, aliada à dimensão da Palavra, nos fortalecemos de nossos desânimos e cansaços da vida. Por isso, essa ação precisa ser constante. Mas essa rotina é, como prometido por Jesus, suave e leve.

O Evangelho desta liturgia nos apresenta Jesus, o nosso Rei, num trono diferente, a cruz, de pernas e braços presos ao madeiro, porém a boca e o coração estão livres para anunciar e oferecer o seu Reino de amor e salvação aos que acolherem ou suplicarem.

Contemplamos ainda a sua coroa de espinhos e os ladrões ao seu lado. Um deles quis e soube fazer sua súplica, ele pediu que aquele Rei não se esquecesse dele no Paraíso e por isso conseguiu um lugar no Reino Celestial, pois a resposta de Jesus nos assegura esta afirmação: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43)

A promessa que os profetas anunciaram sobre o Reino de justiça, de amor e de paz se cumpre plenamente em Jesus. Ele é da descendência de Davi, aquele rei que foi ungido em Israel para apascentar, conduzir, zelar e cuidar do povo, como rebanho que é do Senhor e não propriedade do rei terreno (cf. 2Sm 5,1-3).

Jesus é rei diferente, ele é o Bom Pastor, pois não somente conduz, mas se possível e necessário carrega as ovelhas nos seus braços, para que retornem ao rebanho. Sua autoridade é o serviço aos que estão perdidos, e carregados de fardos pesados, de cruzes que a vida terrena vai apresentando durante a caminhada. A comida para as suas ovelhas é seu próprio corpo doado gratuitamente, a bebida é seu próprio sangue derramado para purificar, para matar a sede de amor e fortalecer seus membros, os bem-aventurados que desejam inserir-se na multidão dos santos na glória celeste.

São Paulo, na segunda leitura, nos leva a contemplar a figura do nosso Rei o qual devemos sempre reconhecer como o verdadeiro: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois por causa dele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, as visíveis e invisíveis, tronos e dominações, soberanias e poderes” (Cl 1,15-16).

Muitas vezes queremos incutir em nossas ações e posturas o anúncio distorcido sobre o poder de Deus e seu reino. Esquecemos que quando pedimos “venha a nós o vosso reino”, estamos suplicando a presença de uma realidade divina em nossas vidas. A presença de Cristo em nosso meio é a presença da imagem do Pai Nosso, que nos congrega como irmãos, para formamos um Reino diferente do reino que o mundo dos homens concebe.

Portanto, a mensagem que a liturgia nos apresenta hoje é que possamos pensar naquilo que é a vontade e plano do reino de Deus. Enquanto existirem as tantas injustiças e dominações das pessoas sobre elas próprias, podemos dizer que está ausente e, ao mesmo tempo, há a necessidade do Reino de Deus. Quando há partilha, doação, fraternidade e a caridade entre as pessoas e para as pessoas, haverá um sinal concreto de que o reino de Deus está acontecendo já neste mundo.

Que a Eucaristia nos alimente na busca da construção do Reino de Jesus sobre o mundo e que a Palavra nos oriente na realização de nosso ministério como discípulos missionários na busca de contribuir e concretizar a Igreja como ambiente de expressão do reinado santo de Deus. Encerremos esta reflexão rezando alguns versículos do salmo responsorial desta liturgia: “Quanta alegria e quando ouvi que me disseram: vamos à casa do Senhor… A sede da justiça lá está e o trono de Davi.” Amém.

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[1] Cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum – Ano B – São Marcos. Brasília, Edições CNBB, 2012.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Um Rei que nos quer no seu trono

 

Olho para ti Senhor,
Entregando-se na Cruz em liberdade,
Sendo em nossas dores solidariedade,
E vejo o teu amor se derramar por nós,
Querendo que ao seu trono cheguemos,
E por isso com medo não fiquemos,
Por que caminhamos perto de Vós.

Olho para ti Senhor,
Reconhecendo tua justiça e teu perdão,
Ansiando teu presente, à salvação,
Como aquele ladrão suplicando ao teu lado,
Levaste à Glória aquele que se compadeceu,
Porque tuas palavras no coração ele acolheu,
E por isso foi participar do teu santo reinado.

Olho para Ti, Senhor,
Caminhamos tanto, mas precisamos aprender,
Que o teu Reino ainda está a estabelecer,
Porque nos desviamos do teu caminho,
E assim precisamos muito pedir-te perdão,
E reconhecer que teu amor é imensidão,
E que não nos salvamos nunca sozinhos.

Olho para Ti, Senhor,
Neste trono, braços abertos para todas as nações,
Quer reinar fortemente em nossos corações,
E vejo o teu trono, acima do nosso olhar,
Quer nos conduzir ao “hoje” do teu paraíso,
Apenas o nosso querer e pedido é preciso,
Para nos conduzir a teu santo lugar.

Olho para Ti, Senhor,
Vejo o poder que vem do teu infinito amor,
O teu corpo que é alimento salvador,
Peço-te que nos ensine o teu jeito de reinar,
Tua palavra nos ensina por onde prosseguir,
Teu reinado é somente amar e servir,
E nada mais que se possa acrescentar.

Olho para Ti, Senhor,
E penso quando nos encontrar em fraternidade,
Quando o nosso apostolado se faz na caridade,
E assim vejo que teu Reino em nosso meio já está,
E a paz é em definitivo anunciada,
Nossa vida em comunhão concretizada,
Tendo em nós a certeza que tu nos salvará.

.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Cristo, Rei do Universo, ilumine o seu caminho ***

 

 

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Ml 3,19-20a; Sl 97(98); 2Ts 3,7-12; Lc 21,5-19

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Nossa fé e esperança se sustentam na Palavra de Deus e na Eucaristia

Lc 21,5-19

 

A caminhada litúrgica do Ano C está chegando ao seu término e nós, os cristãos, continuamos a caminhada, aguardando o novo ano, orientados pela Palavra de Deus e alimentandos pela Eucaristia, que nos sustenta na fé e na esperança. O 33º domingo do tempo comum nos apresenta, na liturgia da Palavra, Jesus orientando-nos e tornando-nos discípulos conscientes sobre as consequências da missão. Muitas são as realidades e acontecimentos que vão surgindo no mundo, muitas são as ameaças aos que creem e muitas são as vidas oferecidas para que o Reino de Deus seja anunciado.

Não devemos imaginar a missão e a experiência cristã como algo tranquilo e acomodado, vivenciada na zona de conforto das nossas vidas. O Senhor nos alertou sobre o que aconteceria aos que seguissem o seu caminho, porém podemos ter certeza que Ele também não nos decepciona quando nos promete a vida nova e eterna na sua glória.

Jesus se dirige aos que o acompanham, seus discípulos, e diz: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21,9). Jesus se refere ao templo material, que é perecível, fala sobre os sinais, os combates e os falsos mensageiros que aparecerão para pregar outras doutrinas.

Os que seguem o Senhor e anunciam a sua Palavra serão agraciados com sua proteção e, portanto, não deverão temer o julgamento porque Ele o fará com justiça como nos fala o salmista: “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará. Logo seu julgamento será temido pelos que não a abraçam.” (Sl 97/98)

Muitos se deixam enganar, exatamente, porque ouvem mais o que falam de Jesus, do que fala o próprio Jesus ou, ainda, não estão conscientes do caminho que o Senhor da vida verdadeira nos apresenta. Por isso é importante escutar a Palavra e ruminá-la constantemente. Faz-se necessário, ainda, ao cristão exercitar a paciência e perseverança, dimensões esquecidas nos tempos pós-modernos, porém de suma importância para se construir um alicerce mais consistente e firme da fé, da esperança e da caridade (cf. Lc 21,19).

Quando nos engajamos no seguimento de Jesus, que é Mestre, Senhor e Deus, devemos seguir firmemente sem temer as perseguições e as provações, internas e externas. Às vezes situações muitos simples e até naturais da vida nos afetam facilmente porque não temos bem claro o caminho que fazemos e não desenvolvemos a confiança verdadeira em Deus, que é um Pai atento às necessidades de seus filhos e dará o que é bom aos que pedirem (cf. Mt 7,11) e dará também o Espírito Santo (cf. Lc 11,13). Por isso devemos nos alimentar sempre da Palavra e da Eucaristia, pois são a presença e a força de Cristo ressuscitado em nós.

Como discípulos e missionários de Cristo precisamos confiar e nos entregarmos ao seu caminho. Devemos ser caminheiros incansáveis, corajosos sem medo de enfrentar os combates que se apresentam a nossa frente. Como falou Jesus: “E eles matarão alguns de vós. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,16b.18-19). Confiar nesta promessa de Jesus nos fará fortes discípulos, fortes missionários e autênticos profetas. Se anunciarmos as verdades do Evangelho, de uma forma ou de outra, virão as perseguições e provações, mas devemos ter a certeza de que ser cristão é também muito bom e gratificante, porque estamos a serviço do Senhor que nos apresenta e nos assegura a vida verdadeira na sua glória.

Caminhemos firmes e fortes como verdadeiros discípulos, sem ociosidade, sem comodismos, porque São Paulo nos alerta sobre esta questão na 2ª leitura: “Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada.” (2Ts 3,11). Os discípulos e missionários estão sempre a serviço do Reino, também trabalhando para a manutenção do seu sustento e de sua família. O apóstolo quer aqui ressaltar a dignidade do trabalho humano que é necessário para a vida.

Que neste penúltimo domingo do ano litúrgico possamos fazer uma avaliação da nossa caminhada com o Senhor, relacionado ao nosso discipulado, exercido na comunidade em que estamos inseridos, à nossa experiência na Palavra, que nos orientou e nos orienta, à participação na Eucaristia, que nos fortalece na busca da santidade e no nosso convívio com os irmãos e as irmãs. Podemos ainda avaliar o nosso anúncio: será que fomos anunciadores do Reino no nosso trabalho, no convívio social e nos nossos contatos gratuitos com as pessoas nas diversas dimensões sociais em que estamos inseridos? Rezemos sobre estes questionamentos e vejamos aonde chegamos. Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Vivos e fortes em Cristo

 

Somos fortes e vencedores,
Quando alimentados pela certeza,
De que em Cristo temos a fortaleza,
Para continuar sem medo de desistir,
Mantendo a fé no caminho a seguir,
Como fiéis de Cristo ao redor da mesa.

Acreditar na vida como um presente,
É nosso destino, é a eternidade,
Continuamos vivendo a gratuidade,
Que depende de nós para chegar,
Basta uma qualidade de fé cultivar,
E abraçar o espírito de fraternidade.

É preciso o alimento forte receber,
Para não desmoronar em frente ao tentador,
Pois com o Ressuscitado não há temor,
Porque ele, a vida nova veio nos dar,
E o seu reino eterno, nos presentear,
Para todos os que querem o seu amor.

Somos fortes também na comunidade,
Quando unidos vivemos a unidade,
Ouvindo a Palavra na fraternidade,
Como o povo de Deus a se encontrar,
Para neste encontro junto comungar,
E vivermos o sonho da eternidade.

Que ao redor da mesa do Senhor,
Possamos proclamar com convicção,
Quando do corpo que era pão,
Anunciar que a morte foi vencida,
E que acreditamos na nova vida,
Que recebemos por graça e doação.

Animando os nossos corações,
E confirmando a nossa boa ação,
Ficando cada vez mais em oração,
Para que a Palavra seja anunciada,
E que seja sempre confirmada
Que a Vida de Cristo, em nós, é redenção.

 

*** Que a Palavra e a Luz do nosso Mestre e Senhor ilumine o seu caminho ***

 

 

XXXII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: 2Mc 7,1-2.9-14; Sl 16(17); 2Ts 2,16-3,5; Lc 20,27-38

 

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⇒ HOMILIA ⇐

O Senhor ressuscitado é a nossa certeza da ressurreição

Lc 20,27-38

 

A liturgia deste 32º Domingo do Tempo Comum nos apresenta Jesus sendo interrogado pelos saduceus, os quais negavam a ressurreição dos mortos, pois, para eles, a vida era um momento de estágio no tempo terreno. Estes detinham o poder político, econômico e religioso, eram os colaboradores diretos do Império romano, sendo, portanto, maioria no sinédrio*. Por esse motivo era uma turma influente, querendo impor suas posições sobre Jesus e seu grupo.

A pergunta dos saduceus foi irônica, pois eles queriam colocar Jesus numa situação de contradição e por isso inventam a história da mulher viúva que teve vários maridos. Eles citam a lei do levirato (cf. Dt 25,5-6) que obrigava o irmão de um marido defunto sem descendência, se casar com a viúva. E a pergunta foi: se a mulher ficar viúva várias vezes e casar novamente, quando ela morrer, na ressurreição, ela será esposa de quem? (cf. Lc 20,27-33).

Jesus responde que na vida eterna não seremos como neste mundo, pois seremos como anjos, os quais já estão em outra realidade não mais limitada ao campo biológico, não seremos mais dependentes de heranças materiais e descendências humanas. Seremos filhos transformados para uma vida nova quando já contemplaremos a face santa de Deus.

O tema central desta liturgia, portanto, é a fé na ressurreição e na vida eterna. No AT, temos o exemplo de que pessoas que acreditava na ressurreição. No segundo livro de Macabeus, narra-se a história de uma família judaica (os irmãos macabeus) o qual vive o martírio por manter firmemente a fé na ressurreição dos mortos (cf. 2Mc 7,1-2.9-14).

Os discípulos do Filho de Deus caminham neste mundo alimentado pela esperança numa vida nova e na perspectiva de um dia encontrar-se com Deus, numa realidade que chamamos de visão beatífica, por isso seremos iguais a anjos (cf. Lc 20,36).

Esta fé e esta esperança, que proclamamos a cada domingo na celebração eucarística quando rezamos o Credo. Afirmamos que cremos em Jesus Cristo, que passou pela paixão, morreu e ressuscitou ao terceiro dia. Professamos esta fé e caminhamos na certeza de que Cristo irá nos chamar a uma vida nova, por que ele venceu a realidade da vida velha marcada pelo pecado e pela corrupção da carne.

Também após a consagração do Corpo e do Sangue do Senhor quando o sacerdote apresenta a ceia como mistério da fé, nós respondemos: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos Senhor, à Vossa morte, enquanto esperamos vossa vinda”.

A sagrada Eucaristia alimenta a nossa certeza e também o nosso anúncio não somente na ressurreição, mas também na morte do Senhor, porque esta morte é o sinal de que Deus, na encarnação do verbo, nos visitou na nossa natureza humana para nos santificar e nos salvar.

Quando carregamos esta convicção da vida nova e eterna em Cristo, já não temos mais medo, já não tememos as ameaças que nos rodeiam. Por isso que muitos derramaram e derramam o seu sangue, mantendo esta certeza, pregando e acreditando naquilo que Cristo anunciou e viveu. Quando somos sal e luz do mundo, somos como um braço de Deus construindo o seu Reino no meio do mundo sem medo e com esperança.

Quando nos alimentamos da Palavra e da Eucaristia com fé verdadeira, não ficamos livres dos sofrimentos e provações, porém, vencemos as tentações e os desafios que chegam à nossa frente. Neste sentido caminhamos cheios de esperança e alegria mesmo carregando a cruz nos nossos compromissos e atribuições cotidianas, as quais Deus permite aparecer em nossa vida.

Que possamos cultivar a espiritualidade da esperança firme na ressurreição e na vida eterna, carregando em nosso corpo e no nosso coração, mesmo como vasos de barro, pois temos a Palavra que nos orienta e o Corpo do Senhor que nos alimenta e nos santifica. Que possamos seguir o conselho de São Paulo na sua segunda carta aos Tessalonicenses: “Que o Senhor dirija os vossos corações ao amor de Deus e à firme esperança em Cristo” (2Ts 3,5).

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* Cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum II – Ano C – São Lucas. Brasília, Edições CNBB, 2013, pág. 96.

 

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⇒ POESIA ⇐

Dignos da mesa do Senhor

 

Somos forte e vencedores,
Quando alimentados pela certeza,
De que em Cristo temos a fortaleza,
Para continuar sem medo de desistir,
Mantendo a fé no caminho a seguir,
Como fiéis de Cristo ao redor da mesa.

Acreditar na vida como um presente,
É nosso destino, é a eternidade,
Continuamos vivendo a gratuidade,
Que depende de nós para chegar,
Basta uma qualidade de fé cultivar,
E abraçar o espírito de fraternidade.

É preciso o alimento forte receber,
Para não desmoronar em frente ao tentador,
Pois com o ressuscitado não há temor,
Porque ele, a vida nos presenteou,
E o seu reino eterno nos apresentou,
Para todos os que querem o seu amor.

Somos forte também na comunidade,
Quando unidos vivemos a unidade,
Ouvindo a Palavra na fraternidade,
Como o povo de Deus a se encontrar,
Para nesse encontro junto comungar,
E vivermos o sonho da eternidade.

Que ao redor da mesa do Senhor,
Possamos proclamar com convicção,
Quando do corpo que era pão,
Anunciar que a morte foi vencida,
E que acreditamos na nova vida,
Que recebemos por graça e doação.

Animando os nossos corações,
E confirmando a nossa boa ação,
Ficando cada vez mais em oração,
Para que a Palavra seja anunciada,
E que seja sempre confirmada
Que a Vida de Cristo, em nós, é redenção.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Mestre (Rabí) ilumine o seu caminho ***

 

 

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS

 

Leituras: Ap 7,2-4.9-14; Sl 23(24); 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12a

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Bem-aventurados são os que procuram o Senhor

Mt 5,1-12a

 

Celebramos neste domingo a solenidade de Todos os Santos. O Evangelho de Mateus (cf. 5,1-12), nos apresenta Jesus que, vendo as multidões, sobe à montanha e senta para proclamar as bem-aventuranças aos seus discípulos. É bom lembrarmos que a montanha na realidade do Antigo Testamento e dos judeus é o lugar da manifestação de Deus. Na montanha, Deus fala com Moisés e lhe entrega o decálogo, ou seja, a Lei para que o povo siga e busque prosseguir na caminhada com o Senhor, rumo à libertação.

As bem-aventuranças nos ensina que, primeiramente, a santidade nos pede que sejamos discípulos de Cristo, na simplicidade, na humildade, com o pé no chão da vida e, sobretudo, no olhar atento às diversas situações do mundo, sejam elas econômicas, políticas, sociais ou religiosas. Sendo discípulo de olho no mundo, faz-se necessário a nossa mansidão, a nossa fome de amor, a nossa sede de justiça e a nossa preocupação com a paz entre as nações.

Podemos nos perguntar: o que tem a ver comigo os conflitos no oriente médio? A violência nas cidades e no campo? A intolerância religiosa nos diversos recantos do mundo? Ser santo é estar atento a tudo isso.

Jesus ainda apresenta uma última bem-aventurança e desta vez mais exigente do que simplesmente estar atento às realidades humanas do mundo: serão bem-aventurados (felizes) os que forem perseguidos por causa da justiça, também serão bem-aventurados os que forem injuriados e caluniados por causa de Jesus (cf. Mt 5,10-12). A busca pela justiça e a experiência das consequências desta busca nos fará santos e nos levará aos Céus.

Finalmente não podemos esquecer que a vivência da santidade deve ser testemunhada no aqui-agora. Devemos ser mansos, justos, puros de coração, promotores da paz no grupo onde participamos, no nosso ciclo de trabalho, nas relações sociais e no nosso lar. Pois é na família, no meio dos filhos, irmãos, cônjuges, amigos, que precisa-se de santos e santas. No meio dos ministros ordenados e religiosos, na missão cristã de cada dia, precisa-se de santos e santos.

Santos e santas, pessoas que sejam sal, luz e fermento na massa, para aumentar cada vez mais a multidão dos bem-aventurados. Santos e santas que leiam e vivam a Palavra, que rezem e que sejam livres nos caminhos do Senhor e que façam o bem a todos em vista de um Reino de Amor e Paz.

Portanto, é sendo santos que podemos nos “juntar a multidão imensa de gente de todas as nações, tribos povos e línguas, incontáveis” (Ap 7,9), como nos fala são João na primeira leitura. Esta busca de santidade deve ser sempre no Senhor, como discípulos missionários. Assim podemos citar também o final da segunda leitura: “Todo o que espera nele purifica-se a si mesmo, como também ele é puro” (1Jo,3,3). E concluímos com o refrão do salmo desta liturgia: “É assim a geração dos que procuram o Senhor” (Sl 23/24). Sejamos, no meio do mundo, esta geração que procura o Senhor e que semeia o Evangelho para a santidade e salvação de todos. Amém.

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Quem é santo…

 

Para buscar e viver a santidade
Deve-se trilhar nos caminhos do Senhor,
Estar atento a Bíblia Sagrada,
Ser manso, justo e ter muito amor.
Deve-se viver as bem-aventuranças
Que Jesus nos deu como herança,
Que é centro do seu plano salvador.

A santidade não é coisa qualquer
Que a gente possa imaginar,
É caminhar no chão concreto da vida,
Não ter medo do que se possa encontrar,
Pois ser santo tem suas consequências,
Muitas vezes precisa-se paciência,
Para no caminho não desanimar.

No início da história dos cristãos,
Ser santo implicava muita ousadia,
Muitas vezes implicava ser devorado pelas feras,
Ou ser colocado em grelha com brasas que ardia,
Mas o santo em sua enorme dor,
Ainda carregava o senso de humor,
Quando o fogo em chama lhe consumia.

O ser santo é sempre destinado
Para toda pessoa que quiser,
Mas para isso é preciso requisito,
Pois, não se santifica de um jeito qualquer,
Pra isso é preciso ter vocação,
Não viver na fantasia e na ilusão,
Mas é possível para homem quanto para a mulher.

Tem que ter um coração de amor,
Ter muita paz e muita alegria,
Mesmo diante das tantas misérias,
Fazer da noite às vezes o dia,
Ser bondoso e de muita caridade,
Promover a paz e a unidade,
Onde há muitas vezes má sintonia.

Às vezes é também ser ignorado,
Não ser reconhecido ainda em vida,
Pois ser santo exige além do presente,
Vivendo o amor e uma paz refletida,
Carregar um coração aberto às ações divinas,
Acreditar noutra vida que não termina,
E em Jesus apostar o caminho e a lida.

Muitos viveram radicalmente a castidade,
Entregaram sua vida totalmente,
Sem de nada ter nem um apego,
Carregavam no corpo e em sua mente
Um coração entregue somente ao Senhor,
Vivendo o trabalho na oração e no amor,
Vivendo no serviço às pessoas carentes.

Temos também que reconhecer
Que santos não são somente os do altar,
Temos tantos santos que não os conhecemos,
Por isso é preciso acreditar,
Que santo são todos os bem-aventurados,
Que viveram ou vivem o amor ao Bem-Amado,
Na esperança no céu e com Jesus morar.

*** Que a Palavra e a Luz do nosso Mestre e Senhor ilumine o seu caminho ***

 

 

XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Eclo 35,15b-17.20-22a; Sl 34(33); 2Tm 4,6-8.16-18; Lc 18,9-14

(1) O Deus de Jacó e de Moisés jamais despreza a prece do pobre. (cf. Eclo 35,17). Imagem: extrato de “A criação de Adão” (1508-1515), por Michelangelo. (2) “O fariseu e o publicano” (1886-1894), por J. Tissot.

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

O modelo de oração

Lc 18,9-14

 

A liturgia deste 30º Domingo do Tempo Comum retoma o tema da oração e nos apresenta duas posturas diante de Deus com relação à prática do homem orante. No domingo passado, o Senhor nos falou da necessidade de rezar sempre sem nunca desistir (cf. Lc 18,1). Na liturgia de hoje ele nos apresenta dois modelos de oração para nos ensinar que o centro da oração não somos nós mesmos, mas, da parte de Deus, a gratuidade e a misericórdia e, da nossa parte, a humildade.

Neste sentido, mesmo cumprindo todos os mandamentos, jejuando duas vezes por semana, participando diariamente da missa, rezando o Terço e as novenas todos os dias, fazendo momentos de adoração e louvor, não podemos nos colocar na posição e no direito de julgar o outro, dizendo: não somos como os outros homens… (cf. Lc 18,11).

Jesus não está pedindo que deixemos nossas práticas espirituais e nem está elogiando os que não vivem a vida cristã e por isso levam uma vida incoerente com os critérios de honestidade e moralidade. Ele quer nos mostrar que o centro da oração deve ser sempre Deus, com sua misericórdia e não as culpas do outro e, ao mesmo tempo, o nosso autoelogio.

Deus nos ensina sobre a nossa oração humilde, como nos fala o Eclesiástico: A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha e faça justiça aos justos e execute o julgamento” (Eclo 35,21-22).

Devemos refletir que, mesmo quando somos fiéis aos nossos compromissos cristãos e às nossas práticas orantes, continuamos pecadores e necessitados da misericórdia de Deus. Será que muitas vezes nos comportamos como aquele fariseu citado no evangelho desta liturgia? Considerando-nos os mais responsáveis, os mais corretos, honestos e cumpridores das leis da Igreja e dizemos que não somos como os aqueles outros…

Ter uma vida correta moralmente e religiosamente é nosso deve, pois somos chamados pelo batismo a ser sal e luz do mundo. O mundo precisa da nossa presença com uma vida reta, que tem sentido e que pode ajudar os outros a caminharem em direção à vivência da Palavra, no cultivo da justiça, do amor e da paz.

A postura do fariseu nos lembra o início das nossas celebrações, quando somos convidados a fazer um exame de consciência para dignamente ouvirmos a Palavra e nos alimentarmos do corpo e sangue do Senhor. Neste constante olhar sobre nós, numa postura e espírito de humildade, vamos crescendo na experiência do amor misericordioso de Deus. Nesta vida de humildade, de não julgamento dos outros, de escuta do Senhor e de confiança, está a nossa verdadeira oração.

Será nossa felicidade e nossa graça chegarmos ao final da nossa caminhada terrestre e dizermos como são Paulo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa.” (2Tm 4,7-8).

Peçamos a luz do Espírito Santo, para que ilumine nossas ações na vida cotidiana e nos momentos em que celebramos a sua Palavra e comungamos de seu corpo, para não sermos incoerentes com o que falamos diante do Senhor. Que sejamos revestidos da confiança em Deus e da nossa humildade de filhos dEle e, nEle, irmãos de todos os homens. Aos que se encontram numa vida fora do caminho do Senhor, rezemos para que possam também voltar-se para Ele e recomeçar com uma vida nova, pela fé no amor e na divina misericórdia.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Dignos da mesa do Senhor

 

Deixemos que o Senhor
Ensine-nos a rezar,
Com sua Santa Palavra,
Que ensina e que encanta,
Que anima a nossa vida,
Nas chegadas e partidas,
Com sua força sem cessar.

Deixemos que o Senhor
Abra o nosso coração,
Com a força do seu amor,
Com o seu forte fervor,
Fazendo-nos perseverar,
Nossa vida a iluminar,
Em profunda oração.

Façamos com o Senhor
Nossa forte oração,
Sem medo, sem desanimar,
Sempre e sempre a caminhar,
Na vida missionária,
Na vida também solidária,
Com e para os irmãos.

Fiquemos com o Senhor
A cada passo realizando,
Numa presença constante,
Caminheiro e caminhante,
Amigos em sinceridade,
Diálogo de lealdade,
Sempre, sempre retomando.

Sejamos com o Senhor,
Discípulos perseverantes,
Caminhando na esperança,
Em oração de confiança,
Nos braços do Deus amado,
Entregues e em nada reservados,
Totalmente confiantes.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Mestre (Rabí) ilumine o seu caminho ***

 

 

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Dn 7,13-14; Sl 92(93); Ap 1,5-8; Jo 18,33b-37

 

POESIA

ESTE REI NÃO É DESTE MUNDO

 

Este Rei é Divino,
Ele vem das alturas,
Desceu com ternura,
Para nos libertar.
Ele é mensageiro,
Para os caminheiros,
Vem anunciar.

É um Rei diferente,
De natureza humana,
A nós se irmana,
Pra poder chegar.
Seu reino é amor,
Faz-se servidor,
É assim, seu reinar.

Não vem com soldados,
Vive a mansidão,
Não tem opressão,
Só vem para amar.
Chama à conversão,
Envia em missão,
Pra outros chamar.

Ele não tem fama,
Tem simplicidade
Sem publicidade,
Sem triunfalismo.
Seu reino é semente,
Na vida da gente,
Sem popularismo.

Ele é nosso mestre,
Sempre a ensinar,
A quem quer escutar,
Com perseverança.
Quer sempre acolher,
A quem quer lhe ver,
Pois ele é esperança.

Reinai ó Senhor,
Em nossa existência,
Dai-nos a clemencia,
Tua salvação.
Pois se a ti seguimos,
Contigo partimos
Para a redenção.

 

HOMILIA

Ele é o Alfa e Ômega, o começo e fim…

O Evangelho de João nos traz o encontro de dois Reis. Um é o Rei Herodes que tem um exército, é rico, age pela frieza, pelo poder perverso, pelo autoritarismo e o popularismo. O segundo rei, Jesus, é pobre, o homem manso, cheio de misericórdia, sem armas e sem soldados. Seu Reino não é deste mundo, pois vem do alto e está acima dos poderes terrenos.

A realeza de Jesus está marcada pela caridade e acolhimentos aos que sofrem e querem a salvação eterna. Também estão presentes neste reino a verdade, a justiça, o serviço e o amor incondicional pela fidelidade à missão que Deus Pai confiou a Ele.

Por não ser deste mundo, este Rei não se afasta das realidades humanas e das situações de injustiças e domínios perversos contra os homens e mulheres. Ele se importa e sente as dores das situações de opressão, de politicagens, sofrimentos interiores e exteriores dos humanos; os que seguem este Rei são inseridos nele para viver a missão de propagar a realeza divina no meio da humanidade.

A primeira leitura, do livro de Daniel, se refere ao Rei e ao seu Reino: “Foram-lhe dados poder, honra e realeza, e todos os povos, nações e línguas o servem; seu poder é eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá” (Dn 7,14).

Os reinos da terra e dos homens, portanto são finitos e se dissolvem ao mesmo tempo em que são marcados pela imposição e pela ordem cega. Quanto à segunda leitura, tirada do Apocalipse, nos fala sobre o Rei divino: “Jesus Cristo é a testemunha fiel, o primeiro a ressuscitar dentre os mortos, o soberano dos reis da terra” (Ap 1,5). O poder de Cristo está além da dimensão humana, pois é marcado pela fidelidade, vence a morte, traz a ressurreição e resgata os errantes pela misericórdia.

Agora vem a reflexão: como vejo Cristo e seu reinado na minha vida e na vida da Igreja? É importante lembrar que a nossa postura e nossa ação como cristãos no mundo e no apostolado, depende de como estamos concebendo Cristo através de nossas opiniões particulares. Para uns, ser cristão é ser soldado a serviço de ordens irrevogáveis, sem poder dizer não. Para outros é obedecer a um rei intolerante, que está a toda hora castigando àqueles que não cumprem suas determinações.

É importante que vejamos a relação de Jesus com seus discípulos e sua postura diante daqueles que o busca. Primeiramente ele não tem exércitos para mandar, mas discípulos que o seguem por amor e adesão livre. Depois ele não impõe ordens e nem obriga ninguém a segui-lo, ensina-os com amor, coloca os critérios, os riscos consequentes dos que o acompanham e depois os chama para serem discípulos e não soldados.

O reinado de Jesus é marcado pela alegria e gratidão, pois no seu nascimento os anjos cantam de alegria diante dos pastores da noite de Belém. “Cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são purificados e surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa-Nova” (Lc 7,22). Todas estas ações milagrosas de Jesus são posteriormente marcadas pela alegria dos que foram curados. Muitos destes tornaram-se discípulos para sempre. E o coroamento da alegria mais completa é a sua própria ressurreição, na mais linda e alegre das manhãs dos discípulos e das mulheres que seguiam o Senhor.

Portanto, fazer parte deste Reino é viver a alegria, a fraternidade, a justiça, o sonho de um mundo de paz e o pé na estrada para a vida definitiva. É buscar a santidade, vivendo na escuta da Palavra e se alimentando do corpo do Senhor, sendo também corpo, membros em comunhão, rezando e cantando como o salmo 92: “Verdadeiros são os vossos testemunhos, refulge a santidade em vossa casa, pelos séculos, dos séculos, Senhor!”.

 

CELEBRAÇÃO DA PAIXÃO DO SENHOR

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 52,13-53,12; Sl 30 (Refrão: Lc 23,46); Hb 4,14-16;5,7-9; Jo 18,1-19,42

POESIA

A ÁRVORE DA VIDA NOVA

Ó Cruz libertadora,
Que Cristo a subiu por amor,
Para nos trazer a vida,
Mesmo aos tormentos e na dor,
Sinal da entrega total,
Matando a morte afinal,
Pra ser o nosso Salvador.

Cordeiro que se entregou,
Ao sacrifício livremente,
No silêncio e na firmeza,
Em favor de sua gente,
Fez de si santa comida,
Como também a bebida,
Que se dá agora e sempre.

Essa cruz também se estende,
Aos irmãos, aos sofredores,
Que também carregam o fardo,
Expressos em suas dores,
Os sem voz e oprimidos,
Aos tristes e deprimidos,
Que vivem os seus temores.

No silêncio da Cruz de Cristo,
Se une aos abandonados,
Às famílias em desalento,
Aos tantos desempregados,
Aos reféns dos tantos conflitos,
Aos peregrinos aflitos,
E aos irmãos refugiados.

Que a Cruz de nosso Senhor,
A sua santa Paixão,
Faça-nos a Igreja viva,
Fundada na Comunhão,
E que o seu Corpo Santo,
Faça-nos enxugar o pranto,
E nos dê consolação.

 

HOMILIA

A Páscoa de Cristo na Cruz

Em silêncio e de joelhos, iniciamos a celebração da Paixão do Senhor, a sua segunda Páscoa, dentro do mistério da redenção. Todo o momento desta liturgia é realizado na mais absoluta reverência e clima de meditação da palavra, da contemplação da Cruz. Da cruz a qual Jesus subiu e a tornou o trono do seu reinado para a nossa salvação. Cristo, nosso Cordeiro Pascal, foi imolado por entrega total e livremente.

No Jardim das Oliveiras, Jesus foi entregue aos inimigos para viver a sua Paixão e morte e nos resgatar para a vida nova. O Jardim é simbólico. Lá o homem (Adão) desobedeceu a Deus e quis ser igual a Ele. No Jardim Jesus foi obediente ao Pai pela nossa Salvação. A maioria de seus discípulos fugiram, pois esperavam um rei poderoso segundo as expectativas humanas. Pilatos se acovardou por medo da popularidade de Jesus. Por medo de perder seu poder diante do Império Romano.

O Reino de Cristo não é deste mundo, mas do alto e do Pai. Esse reino não tem critérios humanos, não tem interesses de poderes terrenos e de ambições de poder e opressão contra os pobres, os sem vez e sem voz. Jesus sim, esteve a todo tempo ao lado dos necessitados de saúde, de acolhimento, de perdão e de libertação. Tudo isso levou Jesus a ser condenado pelos poderes do mundo.

Ontem, no lava-pés, Jesus nos deu o exemplo do mandamento do amor e do serviço e nos pediu que fizéssemos o mesmo. Hoje recebemos o testemunho da entrega total, do esvaziamento pelo sofrimento limítrofe humanamente falando. “Embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens” (Fl 2,6-7). É com a natureza humana e santa que Cristo se entrega pela nossa salvação.

Nós somos chamados a viver a paixão de Cristo nos tornando solidários aos que sofrem vivendo a compaixão pela dor do outro e tentando amenizá-la. Somos convidados a valorizarmos a vida, a cada dia. Quantas vezes reclamamos por pouca coisa e queremos desistir de seguir em frente. Cristo no chama a caminharmos com ele em meio as glórias e carregando a cruz.

O Senhor se compadeceu de nossos pecados e sofrimentos. Ele é misericordioso quando erramos e quer que retornemos a dignidade de filhos e filhas. Quer que voltemos a sua casa, onde há o pão da Palavra e da Eucaristia e onde há a bebida que mata a nossa sede de paz e harmonia para sempre.

O salmo de hoje nos convida a refletirmos sobre a confiança no Senhor: “Pai em tuas mãos eu entrego o meu espírito”. O servo justo coloca toda a confiança em Deus que lhe dá força e não o abandona. Às vezes temos o sentimento de abandono, achamos que Deus nos abananou e não nos escuta. Mas Cristo nos ensina que devemos perseverar mesmo no sofrimento, mesmo quando somos caluniados em busca da nossa redenção.

Nós hoje estamos com Jesus vivendo a sua Páscoa na Cruz. Como Maria e o discípulo amado (João), estamos também aos pés da Cruz para dizermos que somos uma comunidade onde se abraça o sofrimento, não com masoquismo, mas sim com coragem e ao mesmo tempo, carregados de esperança e amor na vida nova que brota do coração de Cristo.

Reconhecemos que muitas vezes queremos desistir da Cruz, queremos mais glória, mais festas, mais apegos humanos, comodidades, e por isso temos medo do compromisso e das consequências do abraço à Cruz.

Nesta celebração vamos unir nossas preces em favor das realidades humanas, temporais e espirituais. Depois iremos acolher a Cruz como símbolo da vitória de Cristo. Em procissão reconheceremos que somos a Igreja que nasce do lado de Cristo no alto da Cruz. Pelas águas do Batismo somos unidos aos discípulos do Senhor.

Pela Eucaristia nos unimos como Igreja corpo que se torna comunhão mística que busca a redenção. Depois, em silêncio também sairemos para meditarmos em nossas casas, sobre a Paixão do Senhor. O Sábado deverá ser vivido no silêncio até o início da Vigília Pascal. Que o Senhor nos abençoe e nos dê a perseverança de vivermos santamente este Tríduo Pascal. Amém.