III Domingo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Ex 17,3-7; Sl 94(95); Rm 5,1-2.5-8; Jo 4,5-42

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Busquemos a fonte Viva e Eterna

Jo 4,5-42

 

Neste 3º Domingo da Quaresma, a liturgia nos apresenta o texto do Evangelho de João (4,5-42), que narra o encontro de Jesus com uma samaritana. Em plena luz do dia, marcado pelo sol escaldante da Galileia, Jesus senta-se junto à fonte de Jacó (cf. Jo 4,6). Cansado fisicamente da caminhada de peregrino, vai ao poço e aí acontece um encontro com uma mulher samaritana, sem nome, que, com certeza, sempre ia para aquele poço buscar água.

Aquela mulher viverá uma experiência de encontro, nunca esperado, pois aquele meio dia não foi comum como os outros. Algo mudou a sua vida completamente. Ela era de um grupo de pessoas descriminadas pelos judeus e, por isso, nunca esperaria um encontro com um mestre de Israel, um profeta, tão próximo, que lhe ouvisse e até ousasse pedir-lhe água para beber.

Para os discípulos também foi uma surpresa, porque, ao chegarem junto a Jesus, não entendem aquela conversa (cf. Jo 4,27). A aproximação de Jesus e o seu diálogo com aquela mulher nos mostra a ação de um Deus que vem ao encontro do humano para oferecer a sua vida. Ele é a fonte de água viva e infinita, que sacia a sede de todos os que o buscam e o encontram.

A presença de Jesus junto à samaritana mudou o jeito dela enxergar a sua existência, o seu caminhar, seus conceitos, suas concepções culturais e religiosas. De conceber a presença de Deus na sua vida, de buscar os anseios mais profundos da sua alma, pois, agora Deus se coloca no mesmo nível do ser humano, para poder se comunicar com ela e oferecer-lhe o sentido verdadeiro da vida.

Alimentada e motivada pela experiência de diálogo junto ao Mestre, convencida da chegada do Messias ao mundo, a samaritana tornar-se missionária e vai anunciar à sua cidade as maravilhas deste encontro com Jesus. (cf. Jo 4,28-29).

A ação de Jesus em oferecer a verdadeira água, a fonte da vida, para os samaritanos, nos lembra o povo no deserto, quando falta a água, reclama da sede, e, diante de Moisés, murmura chegando a duvidar de Deus (cf. Ex 17,7). E da rocha firme Deus faz brotar a água para saciar a sede do seu povo (cf. Ex 17,6). Moisés é o intercessor, que o escuta e dirige a Deus a sua súplica a favor do povo para solucionar os diversos problemas que vão surgindo na caminhada pelo deserto.

Também a samaritana foi esta ponte, esta intercessora, esta missionária, entre o seu grupo e Jesus. Foi por causa do seu anúncio sobre o Senhor, que muitos correram ao encontro da fonte (Jesus), mudaram de vida e buscaram matar a sede de amor e superar os tantos vazios e discriminações sofridas por parte dos judeus, os quais se destacam aqui, os doutores da lei e os fariseus.

Jesus é a nossa fonte de água viva e eterna, na caminhada do deserto de nossa existência, quando muitas vezes nos sentimos cansados, com sede e com pouca força para continuar nossa peregrinação terrestre. Nele encontramos a esperança e a salvação e com ele anunciamos o Reino de Deus.

Pela água somos inseridos no novo povo de Deus, através do Batismo, por ela somos purificados do pecado original e nela somos mergulhados, para nascermos de novo, nos tornarmos irmãos, filhos do mesmo Pai Divino, missionários do seu amor, e caminheiros neste mundo em vista da eternidade. O Senhor é a fonte verdadeira que sacia a nossa sede, nos dando forças, nos acolhendo e nos saciando com o seu amor e sua misericórdia, quando nos vem o cansaço a e nossa aridez.

Os cristãos são chamados a deixar resplandecer, em suas atitudes, o rosto amável de Cristo junto aos irmãos necessitados. Àqueles que precisam não somente de pão material mas também são carentes da água viva que dá sentido e força ao existir de todos que peregrinam neste mundo.

Supliquemos ao Espírito Santo que a sua luz e o seu amor se derrame sobre nós, para que sejamos discípulos missionários de Jesus Cristo e que perseveremos no nosso caminhar com ele e, dos nossos corações, possa brotar a oração verdadeira, como reza o salmo 94(95): “Vinde, exultemos de alegria no Senhor, aclamemos o Rochedo que nos salva! Ao seu encontro caminhemos com louvores, e com cantos de alegria o celebremos!” Amém!

 

***

⇒ POESIA ⇐

Dai-me desta água viva

 

Senhor é bom ficarmos aqui,
Na comodidade do teu amor,
No transfigurar da tua beleza,
No encontro da tua mesa,
Num encontro em que não há dor,
Presença divina em tua fortaleza.

Senhor é bom ficarmos aqui,
Como corpo e membros amados,
Como amigos de caminhada,
Presentes à mesa sempre preparada,
Para nos fazer saciados,
Para continuar a jornada.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Mas é preciso continuar,
O caminho do discipulado,
Nos passos do teu chamado,
Para o teu Reino anunciar,
Nos sentindo sempre auxiliados.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Porém, tu nos chamas a levantar,
E com coragem te seguir,
Para aos outros se unir,
E Reino em comunhão anunciar,
Perseverantes, sem desistir.

Senhor, queremos seguir em frente,
Sairmos do nosso intimismo
Da montanha do medo descer,
Para contigo aprender.
Deixando a redoma do comodismo,
E fazermos a missão florescer.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho! ***

 

II Domingo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Gn 12,1-4; Sl 32(33); 2Tm 1,8b-10; Mt 17,1-9

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Da transfiguração à missão

Mt 17,1-9

 

O 2º Domingo da Quaresma nos traz o texto de Mateus (cf. 17,1-9), o qual nos apresenta transfiguração de Jesus. Nesta liturgia, portanto, somos convidados a subir à montanha com Pedro, Tiago e João e contemplarmos o rosto transfigurado de Jesus que, como o sol, ilumina todo homem, com seu amor e nos faz santos como o Pai do Céu é santo.

Diante da transfiguração de Jesus, Pedro foi tentado a se acomodar e ficar somente na glória e não se envolver com a missão após a descida do monte (cf. Mt 17,4). Neste sentido, Deus Pai intervém apresentando o Filho e pedindo que o escutem (cf. Mt 17,5). É preciso viver o discipulado orientado pela Palavra de Jesus.

Há, ainda, a presença de Moisés e Elias na cena apresentada por Mateus. Eles representam a Lei e os profetas para nos afirmar que em Jesus a Lei é cumprida plenamente porque ele é o novo Moisés, aquele que conduz o novo povo de Deus. Em Jesus também está a profecia, o anúncio da justiça e da fraternidade, o Dom da vida plena, porque a Palavra de Deus – Jesus – agora se encarnou no meio dos homens e fala conosco como irmão.

Os discípulos se deliciam com a experiência mística da transfiguração e querem ficar lá, com tendas armadas para cada um. Isso confirma a vontade humana de ficarmos sempre num ambiente de conforto. O Papa São Leão Magno (395-461) nos fala que a principal finalidade da transfiguração foi afastar dos discípulos o escândalo da cruz, para que a humilhação da Paixão, voluntariamente suportada, não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de Cristo[1].

Apesar de que todos nós precisamos ficar um pouco usufruindo o bem-estar com a família, com os amigos, precisamos parar um pouco para nos abastecer no aconchego da nossa casa, saborear espiritualmente da maravilhosa e edificante força e encontro com a Eucaristia. Sempre precisamos louvar e buscar a alegria que preenche o nosso coração. Às vezes somos tentados a querer uma vida sem desafios, sem dor e sem problemas, mas não é possível neste mundo. Somos caminheiros da vida em meio aos obstáculos, sofrimentos que vem ao nosso encontro através das enfermidades físicas e mentais, dos lutos, das lutas, dos desesperos e decepções. Mas o Senhor que se transfigura na Palavra, na Eucaristia, nos encontros com os irmãos e irmãs, desce do Monte (Altar) para caminhar conosco pelas estradas da nossa vida!

Precisamos nos levantar e, como o Senhor pediu aos seus discípulos, seguir em frente. Faz-se necessário descer do monte da transfiguração, para que, iluminados e fortalecidos pela luz do Senhor, continuemos caminhando, prosseguindo com Cristo e anunciar o Reino de Deus com o nosso testemunho, nossa perseverança, na esperança, para que o mundo não nos desfigure com tantos barulhos, luzes artificiais, filmes, propagandas e outros recursos que podem nos impedir de guardar tesouros no céu (cf. Mt 6,20).

Muitas vezes, faz-se necessário sairmos do nosso lugar de mesmice, cômodo, da nossa segurança material e bem-estar pessoal, como fez Abrão, que deixa sua terra e se abre a uma nova experiência de vida, uma vida transfigurada, de acordo com o que Deus o chamou e, ao mesmo tempo, o enviou (cf. Gn 12,4).

A Quaresma é este tempo de rezarmos, silenciarmos, fazermos penitência e aperfeiçoar cada vez mais na nossa vivência cristã através da oração, da penitência, da caridade e do sacramento da confissão. Resumindo: praticando jejum, oração e esmola.

No Brasil, e em outros países, temos a Campanha da Fraternidade, como mais um elemento de vivência do tempo quaresmal, que é parte do grande ciclo pascal. Por isso, nos encontros semanais (Via-Sacra, encontros em família, rodas de conversa, nas celebrações, formações) somos convidados a uma atitude de contemplação sobre as realidades sociais como campos de nosso envolvimento e vivência concreta da nossa fé, no que se refere aos diversos problemas e carências da vida humana.

Deixemos que o Espírito Santo venha nos guiar com sua luz e nos faça obedientes ao que Deus Pai nos pede: Escutar o Filho. Que em nossas subidas e descidas às montanhas de nossa existência possamos estar acompanhados de Cristo e de sua Palavra. E a nossa oração seja sempre voltada ao seguimento fiel de Cristo que nos chama a realizarmos nossa missão a favor de seu Reino de amor e paz.

——–

[1] Dos sermões de São Leão Magno, Liturgia da Hora II, 2º Domingo da Quaresma.

 

***

⇒ POESIA ⇐

É bom ficarmos aqui

 

Senhor é bom ficarmos aqui,
Na comodidade do teu amor,
No transfigurar da tua beleza,
No encontro da tua mesa,
Num encontro em que não há dor,
Presença divina em tua fortaleza.

Senhor é bom ficarmos aqui,
Como corpo e membros amados,
Como amigos de caminhada,
Presentes à mesa sempre preparada,
Para nos fazer saciados,
Para continuar a jornada.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Mas é preciso continuar,
O caminho do discipulado,
Nos passos do teu chamado,
Para o teu Reino anunciar,
Nos sentindo sempre auxiliados.

Senhor é bom ficarmos aqui…
Porém, tu nos chamas a levantar,
E com coragem te seguir,
Para aos outros se unir,
E Reino em comunhão anunciar,
Perseverantes, sem desistir.

Senhor, queremos seguir em frente,
Sairmos do nosso intimismo
Da montanha do medo descer,
Para contigo aprender.
Deixando a redoma do comodismo,
E fazermos a missão florescer.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho! ***

 

I Domingo da Quaresma, Ano A, São Mateus

 

Leituras: Gn 2,7-9;3,1-7; Sl 50(51); Rm 5,12-19; Mt 4,1-11

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Cristo nos ensina a vencermos as tentações

Mt 4,1-11

 

A liturgia deste 1º domingo da quaresma nos apresenta, através do Evangelista Mateus (cf. 4,1-11), Jesus, após o batismo, sendo conduzido pelo Espírito ao deserto para enfrentar as tentações do diabo. Diz Santo Agostinho (*354+430), bispo de Hipona (moderna Annaba, na Argélia): O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar-se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação”[1].

Na tentação dos nossos primeiros pais[2], Adão e Eva, percebemos a fraqueza e a desobediência. Diante dos resultados desta atitude, o casal se percebe na nudez de sua realidade humana. A nudez da qual narra o Gênesis é exatamente a descoberta de que não podemos nada sem Deus e que não podemos ser como Ele, pois somos suas criaturas e já carregamos algo muito precioso: a sua imagem e semelhança.

Meditando na liturgia da palavra deste 1º domingo da quaresma, aprendamos o que o Senhor nos ensina sobre as tentações que ele viveu antes de se entregar ao seu ministério pela Galiléia.

A primeira tentação acontece no deserto após os quarenta dias de jejum, quando Jesus sente fome. “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” (Mt 4,30). Jesus nos ensina a vencermos esta tentação do ter. Esta tentação, a qual nos leva a pensarmos que tudo se refere ao dado material e aos nossos próprios desejos e interesses. De vez em quando, caímos na motivação diabólica de resolvermos as situações do mundo a partir de nossa autossuficiência. Esquecemos que não é somente dos bens materiais de consumo, do acúmulo e de nossos interesses individualistas, que vivemos, mas da Palavra de Deus que nos orienta por um caminho de fraternidade e de partilha, vivida no amor ao nosso Deus e aos nossos irmãos (cf. Mt 4,4).

A segunda tentação ocorre no templo: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui para baixo” (Mt 4,6). Jesus é tentado a se apresentar glorioso e inclinar-se ao triunfalismo. A nossa vivência religiosa na Igreja não deve ser motivada por prestígio e por fama. Somos, às vezes, tentados a vivermos uma religião de refúgio, segurança individualista, fama e também de status social. Faz-se necessário vivermos um cristianismo em virtude da justiça e do bem a favor dos outros. O Senhor nos ensina: Não tentarás o Senhor teu Deus!” (Mt 4,7). Não podemos provocar Deus a fazer a nossa vontade em favor dos nossos interesses individualistas e do nosso prestígio, para sermos vistos pelo mundo em nossa ostentação.

Na última tentação, Jesus é levado a uma alta montanha onde se visualiza todos os reinos poderosos do mundo. Diz o diabo: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar.” (Mt 4,9). Os reinos de satanás são governados pelo poder opressor, pelas maldades, discriminação, mortes, mentiras, falsidade e corrupções.

Jesus nos ensina que não podemos nos dobrar às motivações diabólicas do poder que mata, que divide as pessoas, que as exclui e que promovem as guerras. A tentação do lucro e do domínio por parte de poucos sobre muitos, crucifica os pobres e vulneráveis com práticas criminosas.

Precisamos entender que o poder de Jesus está no amor, na compaixão, no cuidado com os pobres, na sua palavra que chama o ser humano à mudança de vida e o envia a semear o Evangelho. Também na entrega à cruz, para a libertação e salvação do mundo. Porque é o amor, a escuta, a adoração, o culto ao Deus verdadeiro, que dignifica de verdade a vida das pessoas e traz a verdadeira paz, a Paz de Cristo, o shalom que Jesus saudou os discípulos, logo na tarde da Ressurreição, onde eles se encontravam trancados com medo dos judeus, proporcionando-lhes a Paz interior a todos os que estavam amedrontados (cf. Jo 20,19-23).

A razão de nossa vida é Cristo, o novo Adão, Aquele que no deserto, lugar onde Israel foi tentado, venceu o diabo e nos ensinou também a vencê-lo. Deu-nos a vida verdadeira e nos renovou em seu amor. Quis ser alimento para nós, o seu povo novo, com seu corpo e sua Palavra, dando-nos força e luz em nosso peregrinar terrestre.

Peçamos perdão pelas vezes que nos deixamos vencer pelas tentações, às quais passaram por Jesus e que ainda hoje invadem a nossa vida material e espiritual. Que a luz do Espírito nos ilumine e nos encha de força para vencermos as tantas tentações que encontramos a cada dia. Que o nosso jejum, a nossa oração e a nossa esmola nos transformem em pessoas cada vez mais parecidas com Cristo, nas atitudes e nas palavras. Amém.

——–

[1] Dos comentários sobre os salmos, de Santo Agostinho, bispo. Liturgia das Horas, 1º Domingo da Quaresma.

[2] O nome Adão (em hebraico ´adamah, pois procede da terra), se torna ´ish (que quer dizer homem, mortal). E da palavra ´ish surge ´isshá (que quer dizer mulher), pois é carne da mesma carne, isto é, procede do homem, sendo da mesma substância (cf. nota de rodapé de Gn 2,23, da Bíblia do Peregrino, editora Paulus, 2018).

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Vencer as tentações com Cristo

 

Contigo, Senhor,
Sou vencedor,
Contra o tentador,
Que me faz escravo
Das suas falsidades,
Atrocidades,
Contrárias ao amor.

Em ti, Senhor,
Sou firme e forte,
Venço também a morte,
Que me traz as trevas,
Deixando-me perdido,
Como se fosse vencido,
Longe da tua sorte.

Por ti, Senhor,
Vou me entregando,
Sempre caminhando,
Rumo à vitória,
Meta dos teus seguidores,
Dos evangelizadores,
E o reino anunciando.

Para ti, Senhor,
Toda gratidão,
Nada é em vão,
Vamos sempre vencendo,
Vencemos o pecado,
O mal derrotado,
Em ti, novo Adão.

Contigo, Senhor,
Na fraternidade,
Seguindo sendo caridade,
Pelo mundo a fora,
Vivendo a oração,
Sendo comunhão,
Via da santidade.

.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o novo Adão que nos trouxe o dom gratuito e superabundante da justiça, ilumine o seu caminho! ***

 

SOLENIDADE DE PENTECOSTES, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 2,1-11; Sl 103; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23

 

“Pentecostes” (1412-1416), por Irmãos Limbourg

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Manifestação pública do Espírito Santo

Jo 20,19-23

 

Celebramos neste domingo a descida do Espírito sobre a Igreja nascente, agora não somente sobre os apóstolos, mas também sobre as nações e culturas, as quais compreendem a mensagem do amor e da fé, pelo Espírito, em sua própria língua.

O que era antes uma experiência do grupo dos apóstolos, agora se expande pelo mundo com o sopro e o fogo do Espírito Santo. O que estava preso a um grupo, homens e mulheres que conviveram com Jesus na terra, agora é manifestado para aqueles que abraçaram a fé por milagres, pelas pregações e pelo testemunho corajoso dos discípulos do Senhor.

Pentecostes é o ápice do Tempo Pascal, por que inicia o tempo da Igreja, tempo este que já na Ascensão do Senhor estava se iniciando, pois o mesmo Senhor que sobe aos Céus está presente no meio de nós, na total doação de seu Corpo e Sangue, pela sua Palavra e pelos os dons oferecidos aos que se tornam também o Corpo de Cristo no mundo.

O Evangelho de João nos faz memória da Ressurreição quando os discípulos ainda estão profundamente marcados pelo medo, fechados em si e de portas fechadas (cf. Jo 20,19). A alegria renasce quando o Senhor traz a Paz para o grupo, que ao mesmo tempo os envia para a missão, com o objetivo de anunciar ao mundo o Reino de Deus.

A partir desta experiência, de encontro com Cristo ressuscitado, todos os que ali estavam reunidos ganham força e coragem para caminhar, pregando a experiência da Ressurreição.

Na primeira leitura (cf. At 2,1-11), temos a narração de Pentecostes, quando todos os discípulos estavam reunidos e então o Espírito Santo se manifesta, um fenômeno diferente, inédito para a Humanidade.

“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava” (At 2,4). Aquilo que o Jesus anunciou, antes e depois da Ressurreição, agora se concretiza, pois a manifestação do Espírito Santo é para que os seus discípulos anunciem ao mundo a Boa-Nova do Reino nas diversas culturas, línguas, realidades e recantos do mundo.

Por isso que o Espírito Santo não tem limites, ele sopra onde quer (cf. Jo 3,8), vai aonde quer, como quer e oferece sua Luz e Força a quem ele quiser, desde que os convocados na sua liberdade queiram receber a sua presença.

Também podemos dizer que é exatamente a sua ilimitada manifestação, com suas diversas formas atemporais, que age além das nossas expectativas humanas e barreiras geográficas. Foi esta verdade anunciada e constatada na Igreja em toda a Tradição cristã, que conseguiu chegar a nós em pleno século XXI. Foi a experiência de abertura para a missão dos primeiros cristãos, que carregados da fé corajosa, conscientes e às vezes também com marcas humanas de fraquezas, fez a messe do Senhor crescer e dar frutos, se espalhando pelos imensos espaços do mundo até nossos dias.

Há outra dimensão da ação do Espírito Santo, apresentada na 2ª leitura, que merece a nossa reflexão: “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos.” (1Cor 12,4-6).

São Paulo nos fala da manifestação do Espírito Santo em cada um de nós. São os dons oferecidos aos que se deixam conduzir pela ação de Deus e do seu Espírito. Os cristãos, como membros de um mesmo corpo, recebem dons para colocarem a serviço do bem comum. É isto que faz a beleza e a ilimitada ação na Igreja no mundo, pois somos membros que agem com diferentes serviços para que a Obra de Deus esteja presente em toda humanidade.

Quantos dons podemos oferecer a Deus? Desde o simples acolher na porta do templo, do cantar, preparar o Altar, pregar para o povo, coordenar um grupo, animar comunidades e grupos, visitar as famílias. Enfim, a Messe é grande, como afirmou o Senhor (cf. Mt 9,37).

E para fora dos espaços da Igreja, quantas capacidades podem ser oferecidas para levar Deus e sua Palavra, no cuidado quando estamos a evangelizar, por exemplo. Também a arte de compor uma música, de cantar, de fazer um poema, dar aulas e palestras, escrever uma matéria, defender a vida nos espaços políticos e sociais, escolas e meios culturais.

Tudo isso são dons do mesmo Espírito, o qual estava no início da Criação (cf. Gn 1,2), que falou pelos profetas, que anunciou a Maria a encarnação do verbo, que esteve presente no Batismo de Jesus, que o conduziu ao deserto e também durante sua missão.

O mesmo Espírito animou os apóstolos após a Ressurreição, que desceu em Pentecostes e que impulsionou a Igreja na propagação do Evangelho no decorrer dos séculos. E em quantas realidades primordiais podemos certificar a presença do Espírito Santo, tais como nos sacramentos, no chamado vocacional, na missão, nos nossos trabalhos pastorais etc.

Agradeçamos a Deus pelos tantos dons do Espírito Santo, oferecidos à Igreja para o serviço do Reino. E quanto a nós devemos sempre nos manter na convicção de que tudo aquilo que vivemos e fazemos para o bem maior, é pela força do Espírito Santo, que é Deus, a alma da Igreja, Senhor que dá a vida, que renova a face da terra (cf. Sl 103) e que nos santifica na vida de seguidores e seguidoras do Senhor Ressuscitado.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Ele é o mesmo em todo tempo

 

Presente desde o início,
Está o santificador,
Nas águas da Criação,
Presença viva de amor,
Que conduziu os profetas,
Nas suas lutas e alertas,
Junto ao povo sofredor.

Presente está em Maria,
Na sua Anunciação,
Quando fala para ela,
Do plano da salvação,
Presente também em José,
Que fez o caminho a pé,
Nos tempos de perseguição.

Presente também em Jesus,
No Batismo e no deserto,
Na caminhada do povo,
Dizendo o caminho certo.
Nos encontros de alegria,
Na vida de cada dia,
Um Deus sempre muito perto.

Presente na Ressurreição,
Como sopro de alegria,
Vencendo o medo e o desânimo,
Que nos discípulos estaria.
Fazendo um caminho novo,
Junto a multidão do povo,
Igreja que já nascia.

Presente em Pentecostes,
Ao mundo manifestado,
Para as diversas culturas,
Para o mundo anunciado,
Dom de amor incomparável,
Imenso e insondável,
Deus de amor ilimitado.

Presente em nós, cristãos,
Com força e santa alegria,
Com inumeráveis dons,
Que no caminho nos guia,
Que nos tira da tristeza,
Que nos dá a fortaleza,
Na vida de cada dia.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

DOMINGO DA ASCENSÃO DO SENHOR, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 1,1-11; Sl 47(46); Ef 1,17-23; Lc 24,46-53

“A Ascensão” (1886-1894), por J. Tissot


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⇒ HOMILIA ⇐

Vibremos de alegria, na Ressurreição do Senhor

Lc 24,46-53

 

A liturgia deste domingo nos convida a celebrarmos com grande alegria, o “culminar do mistério Pascal”[1], a Ascensão do Senhor como garantia da nossa santidade nele e como certeza de chegarmos também juntos na dimensão celestial, para vivermos eternamente a contemplação de nosso Deus.

Se a ressurreição é a certeza de que em Cristo todos somos chamados à família das pessoas novas, revestidos de plenitude de vida, a Ascensão é a garantia de que contemplaremos a Deus na glória celeste e seremos revestidos de santidade e da beleza divina. A beleza divina pertence àqueles que livremente decidiram seguir o Senhor na escuta da sua Palavra e na vivência da caridade durante a caminhada terrena (cf. Mt 25,34-36).

Podemos lembrar o evangelho de São João quando diz que o “verbo de Deus se fez carne e veio habitar entre nós” (Jo 1,14). Ele desceu do céu para nos mostrar que a santidade e a salvação pertencem a todos que o buscarem, pois não há barreiras de culturas e povos. O Céu é o lugar dos que querem viver o seu amor e que glorificam o seu nome, e todos que seguem este chamado devem dar testemunho desta Boa-Nova no mundo sendo fermento, sal e luz entre os povos.

Nesta liturgia contemplaremos dois textos de São Lucas: primeiro, o que narra a memória do percurso de Jesus na sua missão redentora no mundo (cf. 24,46), e seguindo ainda o mesmo trecho, lemos o pedido de Jesus para que os seus discípulos sejam testemunhas de tudo o que o Senhor fez, pois o Espírito Santo os guiará e assim o Senhor os abençoa e depois se eleva ao céu (cf. 24,48-52). O segundo texto de São Lucas é Atos dos apóstolos, o qual repete com mais detalhes a Ascensão do Senhor e que, de certa forma, complementa a narração sobre experiência da ressurreição de Jesus e a sua subida ao Céu como prova de que Ele nos elevará também ao Reino celestial.

E o que podemos aprender destas narrações? A subida de Jesus ao Céu, não é uma ausência, mas a garantia de que nós estaremos com Ele, um dia, porque o Espírito Santo nos ensinará e nos conduzirá a esta realidade.

A Ascensão do Senhor também significa que Ele está acima de todas as pretensões humanas, por que o seu Reino já começa entre nós, pois somos o seu corpo, templos do Espírito Santo, chamados a celebrar um culto novo como novas criaturas e, desta maneira, vivendo a dimensão das realidades de Deus, para morar também com o Ele.

Podemos citar a segundo leitura, na carta aos Efésios, quando nos fala daquilo que o Senhor nos possibilitará para vivermos a santidade na realidade terrena, mas tendo como meta o Céu: “Que Ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder Ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente” (Ef 1,18-19).

Podemos, portanto, meditar sobre a presença do Senhor que sobe ao Céu, mas que ao mesmo tempo é presença viva na sua Igreja terrena, quando, por exemplo, celebramos a Eucaristia, sua presença real no meio de nós, pois no culto à sua Palavra e ao seu corpo antecipamos as realidades celestes, ou seja, vivemos já o céu na terra.

Neste sentido não podemos ficar somente olhando para cima como os apóstolos (cf. At 1,10), mas caminharmos em missão para preparar o Reino do Senhor em nosso meio, vivendo o seu mandamento maior que é o amor e ao mesmo tempo cumprido o seu mandato missionário, por que somos seus servidores responsáveis de levar a sua Palavra ao mundo com a nossa vida, sendo testemunhas vivas da ressurreição.

Encerremos, esta reflexão meditando com o responsório desta liturgia, (Sl 46): “Porque Deus é o grande Rei de toda a terra, ao som da harpa acompanhai os seus louvores! Deus reina sobre todas as nações, está sentado no seu trono glorioso”. Amém.

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[1] CABALLERO, Basílio. A Palavra de cada domingo: Ano C. Apelação [Portugal]: Paulus, 2000. Pág. 116-119.

 

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

A caminho do Céu

 

A Caminho do Céu estamos,
Quando o amor vivemos,
Quando o Senhor escutamos,
E seu alimento queremos,
Como discípulos em missão,
Em escuta e em oração,
E ao Senhor nos dobraremos.

A caminho do Céu estamos,
Quando vivemos a comunhão,
E juntos o amor celebramos,
Numa festa de irmãos,
Sendo Paz e alegria,
Na noite e também no dia,
Festejando a união.

A caminho do Céu estamos,
Quando a Palavra é encarnada,
Nas trilhas que caminhamos.
E a vida seja celebrada,
Em clima de serenidade,
Num chão de fraternidade,
Com a fé bem confirmada.

A caminho do Céu estamos,
Quando o nosso bem amado,
Esteja sempre onde estamos,
E nosso ser sempre inflamado,
Das coisas da redenção,
Sendo luz na escuridão,
E os passos por ele guiados.

A caminho do Céu estamos,
Quando nós, corpo do Senhor,
Sinais de vida sejamos,
Semeando sempre o amor,
Sendo o Reino já aqui,
E possamos imprimir,
A face de Nosso Senhor.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

VI DOMINGO DA PÁSCOA, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 15,1-2.22-29; Sl 66(67); Ap 21,10-14.22-23; Jo 14,23-29

“Jesus se despede dos discípulos”, por Duccio (*1308+1311)


Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Tempo Pascal: um grande Domingo

Jo 14,23-29

 

O Nosso caminhar dentro do tempo Pascal chega ao 6º domingo e assim nos aproximamos do Pentecostes, momento litúrgico em que a Igreja celebra a descida do Espírito Santo sobre todos os que estavam reunidos no “Cenáculo de Amor”, a Igreja que acabara de nascer. Estavam ali os primeiros discípulos e missionários da Igreja de Cristo.

A liturgia deste domingo, portanto, nos conduz a uma reflexão que retoma o tema do evangelho passado: o amor é a base da vivência cristã, é o mandamento maior que leva os homens a construírem uma vida de comunhão, paz e justiça. E este amor não é abstrato, ele está voltado para a Palavra do Senhor que nos conduz ao Pai (cf. Jo 14,23).

É a escuta e a obediência desta Palavra entre os discípulos que faz a comunhão. Já os desafios da missão da Igreja, quando esta foi se expandindo pelo mundo, são enfrentados graças ao Espírito Santo prometido pelo Senhor, como descrito pelo evangelista: “ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito” (Jo 14,26b).

Para melhor compreender o versículo citado acima, podemos rever a primeira leitura. Na passagem, poderemos observar a discussão entre os que anunciavam o Senhor. Surge, então, a questão dos ritos de inserção vindos da lei judaica (no caso, a circuncisão) e se deveria ser observada por aqueles que queriam fazer parte do grupo dos apóstolos de Jesus, os primeiros cristãos.

Naquele momento surge a necessidade da abertura para uma lei que possa ir além do templo e das tábuas escritas. Aqui podemos retomar o Evangelho que cita o amor (acolhimento) como o critério principal para receber os novos convertidos no grupo dos apóstolos.

Também percebemos a ação do Espírito Santo quando são enviados de Jerusalém, missionários para levarem a mensagem da decisão dos apóstolos: “Por isso, estamos enviando Judas e Silas, que pessoalmente vos transmitirão a mesma mensagem. Porque decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis: abster-se de carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, das carnes de animais sufocados e das uniões ilegítimas.” (At 15,27-29).

Todas estas situações acima citadas são realidades que aconteceram e acontecem entre os cristãos, pois a Igreja terrestre necessitou e necessita da conversão e da purificação constante como afirmou o Papa Emérito Bento XVI: “A Igreja é a esposa de Cristo, o qual a torna santa e bela com a sua graça. Contudo esta esposa, formada por seres humanos, está sempre necessitada de purificação. E uma das culpas mais graves que deturpam o rosto da Igreja é contra a sua unidade visível, sobretudo as divisões históricas que separaram os cristãos e que ainda não foram totalmente superadas”[1]. Esta purificação vem do Espírito Santo prometido por Jesus, pois é na caminhada dos primeiros anunciadores marcados pelas perseguições, opiniões diversas, discursões doutrinais que a ação do Deus Trindade está presente.

Não podemos imaginar uma Igreja que nasceu por que os colaboradores de Jesus já eram todos santos, somente o próprio Cristo era o Deus homem, o Santo e o vencedor da morte. Para se viver a santidade todos os apóstolos passaram pela purificação como homens terrenos, porque acolheram a força da ressurreição e seguiram firmes na fé guiados pelo Paráclito. A crença nas promessas de Jesus foi fundamental para que chegasse até nós o Evangelho e a mensagem da Boa-Nova.

Agora podemos nos maravilhar daquilo que o Senhor falou aos seus discípulos no seu discurso preparatório de despedida antes de subir ao céu: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo. Não se perturbe nem se intimide o vosso coração” (Jo 14,27).

Seguir o Senhor ressuscitado é ser guiado pela paz que nos conforta e nos deixa o coração livre para enfrentar os desafios da vida cotidiana e da missão evangelizadora.

Podemos ainda meditar com o livro do Apocalipse, quando João nos fala do novo templo que é próprio o Senhor, o Cordeiro Santo: “Não vi templo na cidade, pois o seu Templo é o próprio Senhor, o Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro.” (21,22). Esta deve ser a nossa compreensão de culto, pois viver a adoração ao Senhor na nova aliança agora não é mais estar preso ao espaço físico, à lei mosaica, porque se faz necessário viver o amor no mundo e saber que o Senhor está em todo lugar e inclusive em nós, em nosso coração, como templos vivos para a sua habitação e nossa santificação. Amém.

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[1] Bento XVI, homilia dominical na Praça de São Pedro, 20 de janeiro de 2013. Disponível em: <http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/angelus/2013/documents/hf_ben-xvi_ang_20130120.html>. Acesso em: 21 maio 2019.

 

 

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

O amor é a nova lei

 

Amar, regra primeira,
E a obediência virá
Amor ilimitado,
E a lei se cumprirá
Ouvir atento a palavra,
E o Paráclito a guiar.

Acolher nosso Senhor
Para a paz receber,
Seguir a nova lei,
Para o outro acolher,
Não descriminar,
Seguir sem esmorecer.

Encontrar com os irmãos,
Pra viver comunhão,
Acolhendo aos que chegam,
Que a nós se juntarão,
Como fermentos vivos,
Novo Reino em ação.

Seguir sempre em missão,
Com o Espírito de Amor,
Como Templos, vivos e santos,
Novo culto ao Senhor.
Num caminhar de paz,
E coração em ardor.

Esta é a nova lei,
Que o mundo irá seguir,
O amor, a principal base,
E a Palavra a ouvir,
E um culto sempre novo,
Pra se construir.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

V DOMINGO DA PÁSCOA, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 12,21b-27; Sl 144(145); Ap 21,1-5a; Jo 13,31-33a.34-35

“Cristo lavando os pés dos discípulos” (1305), por Giotto (*1267+1337)


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⇒ HOMILIA ⇐

Um novo céu e uma nova terra, no amor do Senhor

Jo 13,31-33a.34-35

 

O evangelho do 5º domingo da Páscoa é um texto que não traz uma narrativa pascal, mas nos apresenta a base para vivermos o sentido daquilo que é o fundamento da vida nova em Cristo: o amor. Padre Raniero Cantalamessa[1] nos lembra que o evangelho e a segunda leitura nos apresentam a repetição de uma palavra em comum: o adjetivo “novo”. “Eu vos dou um novo mandamento” (Jo 13,34a) e no Apocalipse teremos: “Vi um novo céu e uma nova terra; Vi a cidade santa, a nova Jerusalém; Eis que faço novas todas as coisas” (21,1-2.5).

A Boa-Nova da ressurreição traz um sentido novo para vida dos que já seguiam o Senhor, e também para todos que foram envolvidos neste acontecimento. Portanto, a grande novidade é o amor que Jesus vive intensa e profundamente, doando-se por amor por toda a humanidade, não apenas pelos que o seguem, mas por todas as nações. Eis a grande novidade: Este amor é que alimentará todos os missionários e missionárias que darão continuidade a obra do Senhor.

Podemos então nos perguntar: O que faz uma comunidade cristã ser sempre nova em sua experiência de encontro com o Senhor e os com irmãos? O que faz uma família ser sempre sinal de alegria e testemunho de Deus no seu ambiente interno e externo? O que nos chama atenção num grupo de jovem que faz a diferença dentro de uma paróquia, nas suas atividades pastorais e na convivência interna? A resposta será obvia: é o amor, o novo mandamento pregado por Jesus. É amor vivido entre os irmãos e irmãs, que faz a novidade na experiência cristã.

Quantas vezes tantas comunidades morreram por já não existir mais o encanto do amor entre os irmãos, substituído pela frieza que apaga a chama da motivação? Quantas famílias são destruídas por causa da ausência do amor que não foi acolhido e vivido no lar? Quantos grupos de segmentos cristãos, jovens, crianças e adultos que param de se encontrar porque existem fortes divergências que não se resolvem por falta do amor fraterno?

Faz-se necessário lembrarmos que existem muitas comunidades, famílias e grupos que são sinais do amor que renova e que anima a Igreja, que motiva e faz ser Reino de Deus, já “aqui-agora”. Novas criaturas que inflamam o coração das pessoas e que são o fermento do amor verdadeiro para o mundo com suas atitudes e práticas evangélicas.

Rezemos por todos nós para que estejamos atentos ao motivo primeiro do nosso seguimento ao Senhor: o amor entre os irmãos. Amor que é diaconia (serviço) e missionariedade na vida da Igreja e no mundo. Rezemos também pelo Santo Padre, o Papa Francisco, pelos bispos, sacerdotes, diáconos, leigos, pais de família e todas as lideranças que estão na caminhada da Igreja, para que encontrem sempre o motivo de sua fé e sigam firmes com o Senhor na proclamação da sua Boa-Nova que nos diz: Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” (Jo 13,34-35).

[1] É o pregador da Casa Pontifícia. Cf. CANTALAMESSA, Raniero. O Verbo se fez carne: reflexões sobre a Palavra de Deus – Anos A, B, C. São Paulo: Ave Maria, 2012.

 

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

O novo é o amor

 

Desde que nós existimos,
Lá no início da criação,
Estava lá o amor,
Sendo de tudo a razão,
Para sermos semelhantes,
Naquele tempo e neste instante,
Para nos fazer doação.

Tanto tempo e nada velho,
Pois o amor não envelhece,
É eterno no existir,
Não se enruga, nem desfalece,
Está no início e em nosso tempo,
Ele é tudo, é alimento,
Se germina e refloresce.

Está em nossos encontros,
De partilha e comunhão,
Faz-nos criaturas novas,
No trabalho e na oração,
É o novo mandamento,
De Jesus, é o Testamento,
Pra vivermos como irmãos.

Novo é a vida nova em Cristo,
Doação da vida plena,
Pois o AMOR é infinito,
Que acolhe e não condena,
Aceita nossa liberdade,
Na escolha da verdade,
A caridade ele ordena.

Seguindo por este caminho,
Sempre, sempre renovados,
Ao lado do bem supremo,
Que é o Senhor ressuscitado,
No novo céu vamos chegar,
E o amor nos julgará
E novo sempre nós seremos.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Evangelho, do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

IV DOMINGO DA PÁSCOA, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 13,14.53-52; Sl 99; Ap 7,9.14b-17; Jo 10,27-30

“O Bom Pastor”, 1886–1894. Por J. Tissot (1836–1902)


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⇒ HOMILIA ⇐

O verdadeiro pastor é aquele que dá a vida pelas suas ovelhas

Jo 10,27-30

 

Neste 4º domingo da Páscoa, contemplemos o Cristo, o Bom Pastor, que além de conduzir as ovelhas pelo caminho do amor, doa a sua vida por elas. Este é o grande sentido e o diferencial da missão do verbo encarnado no mundo: conduzir todos para o caminho do amor e da comunhão com o Pai, reunindo a grande multidão dos que o seguiram e seguem com firmeza e coragem.

Meditemos, brevemente, o evangelho e as leituras desta liturgia. Olhemos para Cristo, como o Bom Pastor, que tem uma voz (cf. Jo 10,27), que doa a sua vida, não uma vida temporal, mas a vida eterna, ele está em comunhão com o Pai (cf. Jo 10,30).

Olhemos para nós, as ovelhas, que querem ouvir a voz do Pastor, querem segui-lo e viver para sempre com ele… “Porque ele é o nosso Deus, nosso pastor, e nós somos o seu povo e seu rebanho, as ovelhas que conduz com sua mão” (salmo 95). No Senhor somos unidos para sempre, como rebanho que quis seguir a voz do Pastor eteno, eterno por que na segunda leitura podemos meditar sobre esta certeza, que, de acordo com o Apocalipse, João contempla uma multidão diante do trono do Cordeiro. Trata-se de uma multidão que reuniu gente de todas as nações, tribos, povos e línguas e que era incontável (cf. Ap 7,9).

O interessante é que ao mesmo tempo em que somos ovelhas do Senhor, somos também chamados por ele para caminhar como seu rebanho e em comunhão fraterna, numa realidade de irmãos que se ajudam na motivação da fé e na busca da santidade.

Em Atos dos Apóstolos (cf. 13,45) temos o testemunho missionário de São Paulo e São Barnabé. Eles anunciam a Palavra de Deus aos judeus. E as consequências da ação missionária dos dois já sabemos: perseguição, realidade própria de todos aqueles que anunciam a Palavra libertadora de Jesus. Sobre isso São João, no Apocalipse, também dá testemunho da sua visão: “Então um dos anciãos me disse: ‘Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro. Por isso, estão diante do trono de Deus e lhe prestam culto, dia e noite, no seu templo’.” (Ap 7,14b-15).

Podemos lembrar de tantos santos e santas que viveram a experiência do encontro com o Bom Pastor e que em vida terrena já pronunciavam a certeza de fazer parte da incontável multidão na Igreja celestial. Viveram fiéis até o derramamento de sangue (São Sebastião – *256+286), viveram na pobreza (São Francisco de Assis – *1181+1226 – e Santa Tereza de Calcutá – *1910*1997), na profundidade da meditação espiritual deixando tantos escritos que chegaram até nossos dias como riqueza da espiritualidade cristã (Santa Tereza D’Ávila – *1515+1582 – e São João da Cruz – *1542+1591), além dos inúmeros anônimos que testemunharam e testemunham a fé na simplicidade, na doação de vida, na missão e na vivência das virtudes próprias de ovelhas que escutam a voz do Senhor e estão ligadas a ele.

Lembremos que o Senhor chamou, preparou e enviou discípulos para cuidar do seu rebanho e estes vocacionados o representam na caminhada da Igreja. O Papa, os bispos, os padres, os diáconos, os catequistas, os evangelizadores e tantos cristãos coerentes na fé que vivem no mundo do trabalho, nos mostram, pelo seu testemunho, a face do Bom Pastor que cuida das suas ovelhas. Porém não esqueçamos que o Rebanho é do Senhor, não sendo, portanto, propriedade particular de ninguém, por que ao mesmo tempo em que somos lideranças (pastores) somos também ovelhas do mesmo rebanho.

Rezemos por todos aqueles que estão na caminhada evangelizadora proclamando o Reino de Deus com a sua vida nas diversas realidades do mundo, para que sejam perseverantes na sua vocação e fermento de amor entre os irmãos, numa postura e consciência de que são discípulos do Ressuscitado, mas que são ao mesmo tempo parte integral do Rebanho que é conduzido pelo Bom Pastor.

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

Supremo Pastor dos pastores

Voz que conduz a multidão
Que orienta e purifica,
Que plenifica.
Que leva à eternidade,
Sendo caridade,
Cajado que dignifica.

Pastor que conhece o rebanho,
Protegendo-o no caminhar,
Não deixando desgarrar.
Mão protetora,
Vida salvadora,
Que se deixa amar.

Cordeiro supremo da vida nova,
Que acolhe a incontável multidão,
Que se une em comunhão,
Às diversas realidades das nações,
Mártires das tribulações,
Alvejados para a santificação.

E nós ovelhas seguidoras,
A sua voz escutamos,
A ele nos ligamos.
E como rebanho nos unimos,
Vida eterna garantimos,
E chegar ao trono, almejamos.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor, o Ressuscitado, ilumine o seu caminho ***

 

III DOMINGO DA PÁSCOA, ANO  C – SÃO LUCAS

 

Leituras: At 5,27b-32.40b-41; Sl 117; Ap 5,11-14; Jo 21,1-19

“Alimenta meus cordeiros”, 1886–1894, J. Tissot (1836–1902)


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⇒ HOMILIA ⇐

A força do testemunho no Ressuscitado

Jo 21,1-19

 

Na liturgia do terceiro domingo da Páscoa contemplamos com alegria a beleza do testemunho dos apóstolos. Em destaque Pedro e João, que proclamam a verdade na Ressurreição, preenchidos de coragem e alegria. Através da experiência da fé na ressurreição os discípulos são transformados em corajosos missionários da vida nova, indo por todos os lugares para viverem como pescadores de pessoas, para construir o Reino de amor e redenção do mundo.

O interessante é que a terceira aparição de Jesus é realizada dentro do contexto profissional dos apóstolos, na vida cotidiana, no trabalho, não mais a portas fechadas, mas ao “ar livre”, porque a Ressurreição não tem barreiras e nem obstáculos e a presença do Senhor também não está presa ao templo ou ao culto antigo, agora o templo de adoração é o corpo glorificado.

Este texto nos traz várias chaves de reflexão para a experiência comunitária, às lideranças e para a missão evangelizadora da Igreja. Estas ações acima citadas nos levam a refletir que é o ressuscitado que conduz a comunidade cristã para que se lance ao mundo. A pesca foi um fracasso até a aparição de Jesus. Com Jesus acontece o milagre da abundância. Somente com Jesus a nossa evangelização tem êxito e faz crescer a multidão dos seguidores do Senhor.

O chamado de Jesus para cuidar do rebanho deve ser alimentado primeiramente pela vivência do amor. “Jesus perguntou a Simão Pedro: ‘Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?’ Pedro respondeu: ‘Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo’. Jesus disse: ‘Apascenta os meus cordeiros’.” (Jo 21,14).

Por três vezes Pedro é interrogado pelo Senhor, pois antes tinha negado que conhecia Jesus também por três vezes (cf. Lc 22,56-60). Mas isso não foi impedimento para seguir em frente, agora está disposto e reabilitado pela força da ressurreição e conversão mais profunda, para tomar conta do rebanho, para representar a comunidade dos seguidores do Senhor.

Lembremo-nos de que é o Senhor que conduz a Igreja (a barca) e que também Pedro não seguirá sozinho, pois a pesca foi realizada também pelos outros apóstolos, quando disseram: nós também vamos pescar (cf. Jo 21,3).

Com esta experiência Pedro caminhará e encontrará perseguições, calúnias. Seguirá para o martírio com uma convicção tão forte que se sentirá alegre e satisfeito porque agora encontrou a razão da sua fé, como podemos confirmar nos Atos dos Apóstolos: os apóstolos saíram do Conselho, muito contentes, por terem sido considerados dignos de injúrias, por causa do nome de Jesus (cf. 5,41).

Olhemos agora para João, o discípulo amado, aquele que esteve no sepulcro vazio e esperou Pedro chegar para conferir o acontecimento. Ele está também presente na pesca milagrosa e é quem reconhece primeiramente a Jesus ressuscitado e comunica a Pedro (cf. Jo 21,7). João é a face da Igreja contemplativa, orante, ministério do amor, que reclina a cabeça sobre o coração de Cristo (cf. Jo 13,23), que está ao pé da cruz e que acolhe Maria como sua mãe (cf. Jo 19,26-27), mas que é obediente ao representante do colégio dos apóstolos.

As nossas comunidades paroquiais, grupos e pastorais devem se fixar nestas duas faces da Igreja: uma face que trabalha que age, que administra (Pedro), e ao mesmo tempo uma face que reza, que contempla e se alimenta da comunhão, numa realidade de partilha e de missão (João).

Diante de tantos olhares bíblicos, nós cristãos do século XXI, somos testemunhas primeiramente da Ressurreição do Senhor, que é autor da vida, que a defende e a proclama como infinita. Também devemos viver a caridade, a comunhão e a obediência quando respondemos ao Senhor que chama e nos manda lançar as redes para a pesca.

Peçamos ao Senhor as virtudes teologais (fé, esperança e caridade), para que cuidemos de nosso caminho de discipulado e também sejamos agraciados por ajudar a outras pessoas a alimentarem a sua fé em Jesus Cristo. E agradecemos pelo nosso Papa que segue na barca de Pedro, vivendo os desafios da evangelização no mundo, mas na simplicidade e na obediência ao Senhor que o chamou para cuidar do seu rebanho.

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

Pela fé, na coragem e na alegria

Lá vão os discípulos, seguidores do amor,
Em meio a calúnias e injúrias,
É o grande cominho que inicia,
Seguem sem medo,
Confiantes e na alegria.

Vão remando mar adentro,
Para o grande milagre,
Para a pesca do amor,
Que não afunda com a tempestade.
Por que o barco é do Senhor.

E em meio à mesa da partilha,
Onde o Pão os sacia,
Confirmam a missão,
Anunciando vida nova,
Construindo comunhão.

Seguem em comunidade,
Como “pedras vivas”,
Para o reino edificar,
A caminho do martírio,
Firmes vão, sem desanimar.

E nós missionários de agora,
Seguiremos também no amor,
Vivendo como os primeiros,
Caminhando sobre tempestades,
Mar adentro, sem desespero.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***

 

DOMINGO DA MISERICÓRDIA, ANO  C – SÃO LUCAS

Leituras: At 5,12-16; Sl 117(118); Ap 1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Ressurreição: vida nova de Cristo que cresce pelo mundo

Jo 20,19-31

Acabamos de vivenciar a semana chamada de oitava da páscoa, na qual a liturgia da Palavra foi marcada profundamente por tantos testemunhos, através de milagres, medos por parte dos apóstolos, choro das mulheres. Estes foram pessoas que viveram primeiramente a experiência da ressurreição do Senhor e proclamaram para o mundo tantas maravilhas.

O evangelista João nos conta que era noite, primeiro dia da semana, as portas fechadas por medo dos Judeus (cf. Jo 20,19), ou seja, os que acompanharam Jesus de perto, estavam ainda nas trevas, marcados pelo medo e pelo desespero.

Era dia do Senhor, o dia da ressurreição, e Jesus aparece numa realidade gloriosa, vivo, trazendo a sua Paz, alegrando os discípulos, apresentando o seu sopro de vida nova, para enviar-lhes em missão e transmitirem a autoridade do perdão dos pecados. Por que ele veio para salvar a todos dos pecados do mundo, mostrando a face de um Deus eterno em amor e misericórdia.

Outro ponto importante do evangelho é a descrença de Tomé. Inicialmente, Tomé não estava na comunidade quando Jesus aparece a primeira vez e por isso se mostra incrédulo, como um cientista que quer provas palpáveis para acreditar na verdade da ressurreição.

Após um período de oito dias, novamente no primeiro dia da semana (domingo), o senhor vem ao encontro da comunidade e está lá Tomé para viver a experiência da fé na vida nova.

Tomé é convidado a tocar as chagas de Jesus para ver e crer, assim como muitos de nós que para acreditarmos na ação salvadora do Senhor, precisamos de provas, de situações concretas para poder aumentar o nosso amor ao Senhor.

Disse Jesus a Tomé: “Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20,29). Nós, cristãos da atualidade, somos felizes quando vivenciamos a nossa fé na ressurreição de Jesus e quando vivemos também vida nova em nossa caminhada e ao mesmo tempo somos transmissores desta verdade.

O que somos capazes de proclamar para os outros sobre o Ressuscitado? O que nos motiva a vivermos uma experiência de convicção da nossa fé? O tempo pascal é propício para reavaliarmos a nossa experiência de discípulos e discípulas do Senhor e levarmos a frente esta verdade.

Tenhamos a certeza de que foi a convicção dos que seguiram Jesus ou ouviram a pregação sobre ressuscitado, que fez chegar até nós, no nosso tempo, a mensagem maravilhosa de que o Senhor ressuscitou e nós podemos ressuscitar com ele.

Precisamos meditar por que Tomé duvidou exatamente quando estava fora da comunidade dos discípulos e por que Jesus não apareceu somente a ele após a aparição aos outros? Onde estava Tomé, porque estava ausente?

E foi exatamente após a caminhada de uma semana que Jesus se apresentou mais uma vez e agora se encontra Tomé que é convidado pelo Senhor da vida a tocar nas suas chagas. Como Tomé, as vezes precisamos de mais tempo para absorvermos uma realidade nova em nossa existência.

O evangelista João faz questão de nos lembrar das marcas da crucificação e da presença de Tomé no grupo. Talvez por duas razões: primeiro para provar que era Jesus mesmo que estava ali com eles, com as feridas, pois fora crucificado e também para dizer que a fé dos apóstolos foi alimentada na experiência da comunidade reunida.

Portanto, amigos e amigas, é na partilha da mesma realidade e no encontro com os irmãos e irmãs que alimentamos a nossa fé na ressurreição do Senhor e somos motivados a prosseguir um caminho novo. Peçamos ao Senhor da vida que possamos professar com convicção a frase de Tomé: Meu Senhor e meu Deus. Muitas vezes somos como aquele apóstolo, não temos a fé suficiente para acreditar na presença de Deus em nossa vida. Ele que nos alimenta com sua Palavra e com seu corpo nos fortalecendo na caminhada de filhos e filhas de Deus.

 

***

 

⇒ POESIA ⇐

“Ele está no meio de nós”

Ele está em nosso meio,
No encontro e na alegria,
Na reza de cada dia,
Na partilha do pão,
Fazendo-nos comunhão,
Viva e Santa Eucaristia.

Ele está na caminhada,
Dos caminheiros queridos,
Que mesmo com os pés feridos,
Das estradas compridas,
As vezes trazendo fadiga,
Mas se sentem agradecidos.

Ele está em nossa vida,
Às vezes a portas fechadas,
Com a paz anunciada,
Para nos tranquilizar,
E fazer-nos caminhar,
Numa vida renovada.

Ele está em nosso ser,
Para a fé nos retomar,
E o medo espantar,
Pra nos dar a segurança,
E refazer-nos a esperança,
Para o caminho trilhar.

Enfim, ele está aqui e agora,
Quando faço poesia,
Nos passos de cada dia,
Presente em todo momento,
Sendo Deus fonte e alimento,
Que nunca se esvazia.

*** Que a Palavra e a Luz do Ressuscitado ilumine o seu caminho ***