V DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 9,26-31; Sl 21(22); 1Jo 3,18-24; Jo 15,1-8

POESIA

NOSSA ETERNA VIDEIRA

Cristo nossa videira eterna,
Pela força do amor,
Faz-nos seus ramos vivos.
E o Pai, o agricultor,
Poda-nos pra santidade,
Dá-nos a vivacidade,
A seiva do salvador.

Cristo tronco vivo e eterno,
Igreja ramo a frutificar,
Pelo mundo espalha os frutos,
E as sementes a germinar,
E pelo Pai tendo cuidado,
Pelo filho muito amado,
Vida nova a regar.

Nem um ramo viverá,
Sem à videira, ligado
Precisa permanecer,
E ao tronco enxertado,
Para ter vida de paz,
E a seiva, amor que refaz,
Mundo novo instaurado.

Nos unindo como irmãos,
Em Cristo permanecendo,
Somos ramos em evolução,
E muitos frutos oferecendo,
A esperança será constante,
Frutos doces a todo instante
E a vida nova oferecendo.

Seiva que traz o verdor,
E o existir em harmonia,
A vida com seu sentido,
Que floresce na alegria,
Dá sentido à nossa essência,
Motiva nossa existência,
Sendo à noite ou à luz do dia!

Força, fonte e beleza,
Faz os ramos em união,
O encontro à videira tão bela,
Festa que se faz de irmãos,
No encontro de paz e partilha,
Vinha que cresce e que brilha
Povo novo em comunhão.

 

HOMILIA

Cristo é nossa videira verdadeira

A liturgia deste quinto domingo do tempo Pascal nos apresenta Jesus que se denomina como a videira verdadeira. Jesus, que viveu dentro de uma realidade de plantadores de uvas, contempla o trato e o cuidado dos agricultores com cada ramo de parreira. Olhando para a Igreja, nós somos os ramos da videira e formamos a grande vinha de Deus. E se queremos produzir bons frutos devemos permanecer unidos a Ele. Jesus apresenta o Pai como o agricultor, ou seja, aquele que cuida da plantação podando os galhos e tirando os excessos de ramos secos que impedem a produção dos frutos.

Quando Jesus nos fala que é a videira verdadeira, nos vem naturalmente algumas perguntas: O que é a videira falsa? Porque o Pai é o agricultor? No tempo da promessa (Antigo Testamento) podemos verificar que Israel foi considerado como uma videira que nem sempre produziu bons frutos. Em alguns momentos produziu as uvas que nasceram amargas e inúteis (cf. Jr 2,21). Em outros momentos acumularam galhos seco e inférteis.

Faz necessário que os ramos sejam podados para que estejam limpos e com o objetivo de produzir bons frutos. Esta poda que se dar pelas atitudes de conversão e pelo novo caminhar, que retoma a vivacidade dos ramos que estão ligados ao tronco, que é o próprio Cristo.

Jesus é a videira verdadeira. A partir da sua encarnação e da ressurreição, nasce a vida nova. Ao mesmo tempo ele produz muitos ramos e frutos. Diz Jesus: “Aquele que permaneceu em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5b). Faz necessário permanecer ligado a ele para dar bons frutos. Pois dele brota a seiva, o amor que traz a vitalidade, o sabor e o sentido da nossa existência.

Não faz sentido ramos desligados da vida em Deus pela autossuficiência e pela ignorância em relação à Palavra. Quando agimos assim temos como consequência o vazio e o sentimento de abandono, como se Deus não estivesse caminhando conosco. Como se estivéssemos desligado do sentido de existir e por isso não se transmite vida e nem se irradia o seu sentido.

Nós, cristãos, somos os ramos que se ligaram a Cristo a partir do batismo e por isso precisamos permanecer unidos entre si e ao mesmo tempo ligados ao tronco. Precisamos deixar-nos ser podados pelo agricultor divino para que ele nos tire os ramos secos e improdutivos representado pelos nossos pecados.

Se nomearmos esses ramos secos (pecados) podemos dizer que estes se traduzem no nosso comodismo, na nossa indiferença, na nossa incoerência, na distância de quem amamos, nas nossas injustiças, falta de cuidado com o outro e as tantas maldades que praticamos contra nossos irmãos e irmãs.

O novo povo de Deus é a grande videira que espalha seus ramos pelo mundo através dos discípulos do Senhor. E nessa caminhada de fé e missão poderemos saborear frutos deliciosos, seja quando nos encontramos ao redor da mesa da Eucaristia e da Palavra ou quando partilhamos nossos sonhos e propósitos junto aos que amamos e também quando estamos perto das pessoas que sonham conosco, por um mundo que se parece com uma vinha de harmonia, amor e paz, como sendo os frutos doces que alegram e animam a existência humana e a criação de Deus.

A comunidade cristã, portanto, é o lugar onde nos relacionamos como ramos (irmãos) para expressar o esplendor da vida, da alegria e da beleza de nossa união. Isto acontece nos momentos de conversas, de confraternizações, nas orações e nas celebrações, onde o pão e o vinho são partilhados, onde acontece a união da vida em Cristo pelo encontro com ele e com os outros.

Quanto aos frutos, temos as obras concretas de caridade aos irmãos que se realizam nos movimentos a favor da justiça e da vida, nas campanhas de ajuda aos pobres, nos diversos projetos sociais e na conscientização política a favor do bem comum, quando os impostos são bem empregados em favor das pessoas.

Na segunda leitura desta liturgia, São João nos adverte: “não amemos só com palavras e de boca, mas com ações e de verdade!” (1Jo 3,18). A falta de amor aos irmãos corresponde a improdutividade da videira ou ao desligamento de Cristo. A lei do amor é praticada quando as nossas atitudes forem coerentes com nossos discursos, os quais, às vezes, são puramente teóricos.

Sem a presença do amor de Deus em nossas vidas, somos como galhos secos e sem vida. Quantas vezes dizemos que amamos a Cristo quando estamos dentro da Igreja, mas ao sair na rua já desprezamos um necessitado ou um doente. Em quantos momentos de euforia pregamos tão bonito e no nosso cotidiano somos incoerentes com tudo que falamos.

Por isso é importante sempre revermos nossas ações, nossos pecados, nossa miséria para que sejamos podados pela graça purificadora do perdão de Deus. E, sobretudo, nos perguntar como está a nossa harmonia de vida em nosso caminhar. Se buscarmos o contato com o ser infinito de Deus, nos tornamos mais expressão dele onde quer que estejamos e também naquilo que fazemos.

Peçamos ao Espírito Santo que a sua luz nos ilumine e nos faça iluminados, porque somos também iluminadores quando estamos unidos a Cristo. Precisamos iluminar o mundo que está em guerra e que também explora e massacra a criação de Deus, seja o homem, seja a natureza, a terra, “nossa casa comum”. Amém.

IV DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: At 4,8-12; Sl 117; 1Jo 3,1-2; Jo 10,11-18

POESIA

O PASTOR E A OVELHA

Ó Pastor supremo e bom,
Que a todas as ovelhas,
Trata com tanto carinho,
Que orienta o caminho,
Totalmente por amor,
Ó eterno bom Pastor,
Não nos deixe aqui sozinhos.

Ó Pastor supremo e verdadeiro,
Que doa a vida livremente,
Para a todos vim salvar,
Sem assim descriminar,
Nenhum dos seres humanos,
Com verdade e sem enganos.
Vem nos fortificar.

Ó Pastor supremo e amigo,
Que falas palavra eternas,
Para nos alimentar,
Para nos encorajar,
Pois tua voz queremos ouvir,
Sem medo de te seguir,
Vem sempre nos iluminar.

Somos teu rebanho vivo,
Que quer sempre te encontrar,
Queremos o teu infinito amor,
Acende-nos com tua luz e teu ardor,
Para a nossa forte felicidade,
Para a nossa viva caridade,
Tu és nosso belo e bom Pastor.

Pastor que cuida com tanto zelo,
As ovelhas cansadas e feridas,
O seu rebanho por ti tão querido,
Trata-nos como teus amigos,
E vai também a outros rebanhos,
Não consideram como estranhos,
Acolhe e carrega quem está sofrido.

Prepara-nos a mesa do amor,
Com taças e o vinho da alegria,
Para as ovelhas sempre acolher,
Pois sua vida vem a nos oferecer,
E não deixa de fora ninguém,
Seu rebanho alimenta do sumo bem,
No banquete vem a todos receber.

 

HOMILIA

O Pastor Eterno e Amoroso

A liturgia deste quarto domingo da Páscoa celebra a figura do Bom Pastor, Jesus Cristo, nosso caminho de Salvação. Somos chamados neste dia a refletirmos nossa condição de participantes do rebanho do Senhor numa experiência de escuta da voz do Bom Pastor e na participação da sua mesa, onde há o alimento que mata para sempre a nossa fome e a bebida que sacia eternamente a nossa sede.

No evangelho desta liturgia, no texto de João 10,11-18, podemos refletir três pontos importantes para a nossa vida de Cristãos: primeiro Jesus se apresenta como o Bom Pastor que é diferente dos mercenários, os quais conduzem o rebanho por interesse e por dinheiro, não se importando com as ovelhas que estão aos seus cuidados.

Jesus é o Bom Pastor porque ele dá a vida pelo seu rebanho, por isso foi até as últimas consequências: foi pregado numa cruz. Ele tem a vocação vinda de Deus Pai que o confia como verdadeiro pastor. Braços abertos para acolher o rebanho que nasce da entrega e do seu cuidado que brota da força de seu amor incalculável.

Nós, cristão que nos reunimos como rebanho do Senhor, somos convidados a ouvir a voz do nosso Pastor divino e ao mesmo tempo segui-lo. Somos também convidados a colocar no nosso coração e na nossa vida, as qualidades e as marcas da experiência de Jesus aquele que nos guia por caminhos seguros. Que gestos, atitudes e postura do Bom Pastor temos diante da vida e dos irmãos?

Na vida nossa de cada dia, temos responsabilidades e missões que se parecem com a condução de um rebanho. Portanto, somos também pastores a exemplo de Cristo, como pais e mães de família, como coordenadores de grupos da Igreja, como chefes de repartições, com políticos, no nosso trabalho, nas pastorais sociais, nas organizações, também como ouvintes, conselheiros confidenciais e muitas outras experiências que devem ser realizadas com justiça e sinceridade, sem interesses e sem descaso.

Num segundo momento Jesus nos diz: “Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir.” (Jo 10,16). É interessante que a missão de Jesus não está restrita a grupo dos seus (povo judeus), mas também a outros pastoreios que precisam também ouvir a sua voz e aos quais ele os considera. Os cristãos são convidados a acolher cada ser humano, que vem e quer se inserir no rebanho do Senhor.

Portanto, o amor de Cristo se estende a todos, por que é o desejo de Deus que haja um só rebanho e um só Pastor no amor. É vontade do Bom Pastor que todos encontrem nele a vida nova e o sentido da sua existência. Por isso o acolhimento e o cuidado do bom Pastor faz a diferença na semeadura do Evangelho.

Por fim Jesus nos ensina que a sua vida é oferecida para a salvação do mundo: Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo.” (Jo 10,18). Há uma entrega gratuita e totalmente livre de Jesus em favor da humanidade. Não poderá haver total entrega quando há imposições.

Somos então convidados a refletir sobre a nossa vida de cristãos membros do rebanho do Senhor. Até que ponto nossas ações e opções de vida são uma experiência verdadeira de entrega sem interesses fúteis e vazios? Como nos sentimos dentro deste rebanho de Cristo, o Bom Pastor? Como usamos o nosso cajado das responsabilidades diante de nossa missão de servir?

O Cajado do pastor é para a pontar e proteger o caminhar do rebanho e não para bater nas ovelhas. Os maus pastores, fogem quando veem os perigos, e, muitas vezes batem com o cajado na cabeça das suas ovelhas quando estas se perdem ou caem pelo caminho. A estes, Jesus chama de mercenários, porque eles não se importam com a sua tarefa de cuidar. (cf Jo 10,12).

O que dizer dos chefes das nações, dos estados, dos municípios, os quais são responsáveis pela condução de um povo, como representantes. Estes, muitas vezes escolhidos pelo seu próprio rebanho, com frequência causam muitos sofrimentos ao povo quando não se interessa em cuidar com carinho daquilo que lhe foi confiado. Não se interessam em fazer valer a justiça, o bem comum e a vida digna. Jesus nos ensina que o pastor deve ter amor e compromisso na sua missão de fazer valer a dignidade e a igualdade a um povo.

Portanto, busquemos rezar pedindo pelos nossos pastores aqui na terra (Papa, Bispos, padres, diáconos) para que sejam fiéis na sua missão e que o seu trabalho seja vivenciado numa entrega verdadeira e numa atitude de carinho, fé e esperança.

E a nós, ovelhas reunidas em torno das mesas da Palavra e da Eucaristia, que possamos seguir em frente ouvindo a voz do Bom Pastor e se alimentando da sua mesa a caminho da verdadeira vida e sendo responsáveis naquilo que o Bom Pastor nos confiou.

III DOMINGO DA PÁSCOA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  At 3,13-15.17-19 Sl 4; 1Jo 2,1-5a; Lc 24,35-48

POESIA

TESTEMUNHAS DA ALEGRIA

A alegria do Senhor,
Vem trazer aos caminheiros,
Os discípulos das estradas,
De Emaús são mensageiros,
Ao Deus vivo encontraram,
Juntos também partilharam,
O Pão com o Senhor, primeiro.

O Pão com Jesus primeiro,
Foi uma santa experiência,
Participar da mesa Santa,
Com Jesus em sua essência,
Porque a mesa é o partilhar,
Do pão, Cristo, a alimentar,
E o amor divina ciência.

E o amor divina ciência,
Vem trazer a alegria,
Do Evangelho semeado,
Pela noite e pelo dia,
Vai ao mundo transformando,
E o Reino vai brotando,
Mensagem que não se esvazia.

Mensagem que não se esvazia,
No coração vivo e humano,
Na história dos discípulos,
Que superam seus enganos,
Na caminhada do povo,
Que acolhe o amor e o novo,
Do Reino e dos seus planos.

Do Reino e dos seus planos,
Vem Jesus se apresentar,
No meio da comunidade,
Que vem para celebrar,
No encontro em união,
Na Palavra e comunhão,
Que se faz a partilhar.

Que se faz a partilhar,
O que os discípulos viveram,
Seus encontros mais sagrados,
Quando então se envolveram,
Jesus, paz tranquilidade,
Constrói a fraternidade,
E os discípulos acolheram

E os discípulos acolheram,
O envio do Senhor,
Para serem as testemunhas,
Com força e com ardor,
Entregaram suas vidas,
Existências consumidas,
A serviço do Amor.

 

HOMILIA

A Paz e a alegria da Ressurreição

 

O evangelho de hoje encerra-se dizendo: “Vós sereis testemunhas de tudo isso” (Lc 24,35-48). Eis o desafio dos discípulos: com dificuldades, seguir em frente ainda marcados pela saudade e por esta realidade do Ressuscitado que até então era nova.

É importante lembrar que esta leitura é continuidade de Lc 24,13-35 que narra os dois discípulos de Emaús, quando no mesmo dia da Páscoa caminhavam fugindo de Jerusalém, sem esperança, com um sentimento de que tudo tinha acabado e que não teriam mais motivos para sonharem com o reino de Deus (cf. Lc 24,21). Nisto Jesus aparece caminhando ao lado dos dois e conversa falando das escrituras e de tudo a qual se referia a ele (cf. Lc 24,27).

Quando chegaram ao povoado, Jesus fez que ia seguir em frente e os discípulos o convidam para que ele ficasse com eles. Disseram: “fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando!” (Lc 24,29). Jesus entrou para ficar, sentou e partilhou dos alimentos. Quando partia o pão e falava, o coração dos discípulos estava ardendo. Quando ele desapareceu, os discípulos voltaram imediatamente Jerusalém anunciando o que tinham experienciado junto ao Ressuscitado (cf. Lc 24,33).

Pois bem, é aqui que inicia o Evangelho desta liturgia: a volta dos discípulos para Jerusalém. A mesma Jerusalém que é lugar de missão, de coragem, de desafios, de proclamar, com ardor, a vida nova do Ressuscitado em suas vidas. E então meditemos, nesta parte: Quando nos falta a fé, há possibilidade de fuga para longe dos problemas, mas não é possível. O problemas nos acompanham aonde nós vamos.

Os Discípulos de Emaús também somos nós, que caminhamos às vezes desiludidos, fugindo da comunidade dos irmãos. Às vezes não meditando sobre as ações de Deus em nossa vida, como nossas vitórias, como nossas alegrias e as curas materiais e espirituais que ao longo do caminhar vão acontecendo.

No evangelho desta liturgia há uma segunda experiência de encontro da comunidade dos discípulos. Jesus vem e se apresenta mais uma vez para traze-lhes a paz e enviá-los em missão. Porque somente com o coração na paz seria possível anunciar a vida nova. Sem paz e na insegurança não é possível anunciar coisas positiva e que ajuda os outros. Era preciso que todos fizessem a experiência do encontro na paz, e que vivessem a alegria da partilha da mesa e do pão.

Os encontros de intimidade entre Jesus e seus discípulos ocorriam com frequência, sempre com o objetivo de amadurecer a partilha. Foram momentos fortes antes da crucificação e ressurreição. Pois é na mesa que se realiza a partilha, o companheirismo, a fraternidade e tantas outras descobertas importantes na vida das pessoas.

A mesa da família também é lugar do amor, que se dá em partilha e alegria. O mundo não pode perder o sentido do encontro da mesa, onde se dá muitas conversas de vida cotidiana, de tantas histórias da nossa existência. Lugar onde o vinho do amor deve ser brindado para fortalecer a amizade e a fé dos que são irmãos e irmãs.

Na missa, as mesas da Palavra e da Eucaristia é para nós, católicos, o lugar sagrado do encontro com o Senhor e com os irmãos. Pois quando alimentados, pela Palavra, pelo Corpo e pelo Sangue do Ressuscitado, somos fortalecidos para voltarmos para a nossa “Jerusalém” onde está nossa família, nossos amigos e nossos companheiros de caminhada profissional, irmãos da comunidade, e outros que iremos encontrando durante à semana.

Precisamos testemunhar e confirmar que Cristo está vivo como fez o apóstolo Pedro, nos Atos dos Apóstolos, o porta voz da comunidade dos seguidores do Senhor: “Vós rejeitastes o Santo e o Justo, e pedistes a libertação para um assassino. Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos e disso nós somos testemunhas” (At 3,15).

Que a cada celebração, possamos seguir firmes no amor a Cristo ressuscitado, através de atitudes concretas na nossa relação conosco e com os irmãos. E possamos cantar como o salmo 4: Sobre nós fazei brilhar o esplendor de vossa face!” Com o esplendor do Ressuscitado voltemos para anunciar a vida nova às nossas “Jerusaléns”. Amém.

II DOMINGO DA PÁSCOA – DOMINGO DA MISERICÓRDIA

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  At 2,42-47; Sl 117(118); 1Pd 1,3-9; Jo 20,19-31

POESIA

MEU SENHOR E MEU DEUS

Tomé e seus irmãos somos nós,
Quando nos isolamos
Quando também duvidamos,
E ficando tão distantes,
Numa tristeza constante,
Fechados e não acreditamos.

Tomé, assim somos nós
Quando queremos fazer comprovações,
Nas tantas situações,
E de Deus então duvidamos,
Também o desafiamos,
As feridas e ilusões.

Tomé também somos nós,
Quando ao grupo retornamos,
E aos irmãos nós encontramos,
Para ver e encontrar o Senhor,
Com acolhida e muito amor,
E assim recomeçamos.

E, sendo como Tomé,
Queremos o Senhor tocar,
Nos seu corpo vindo nos dar,
Para seguir agora, em frente,
Num caminhar vivo e crente,
Sem medo e sem duvidar.

Mesmo como Tomé,
Queremos ao Senhor ouvir,
Para podê-lo seguir,
Nossa fé nele professar,
Sempre, sempre a caminhar,
E de amor se consumir.

Como Tomé e os irmãos,
Nossas dúvidas então rompamos,
De portas abertas sigamos,
Pra sair do grupo fechado,
E anunciar o ressuscitado,
E então não desistamos.

Seja a Palavra luz forte,
Em nosso peregrinar,
Sua luz a nos clarear,
Pra vencer a escuridão,
E seguirmos de pé no chão,
Sem medo de tropeçar.

 

HOMILIA

Cristo tem misericórdia dos que duvidam

 

Neste segundo Domingo da Páscoa, ressoa a voz do Ressuscitado: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo, 20,29). O Evangelho de João apresenta-nos dois momentos para nos mostrar as primeiras experiências dos discípulos no encontro com o Ressuscitado.

No encontro da comunidade, Jesus se revela vivo e traz a Paz para os que estão com medo e mergulhados na insegurança. (Jo 20,19). Na vida comunitária também se acolhe os que estão em dúvida como Tomé (cf. Jo 20,25). Foi preciso que a comunidade dos discípulos tivesse calma e esperasse pelo processo deste discípulo, para, no momento, oportuno ele tivesse a experiência do seu encontro com o Senhor.

Então temos dois momentos, os quais se dão sempre no primeiro dia da semana (Dies domini, o dia do Senhor), o domingo, porque foi neste dia que tudo mudou na caminhada de fé dos primeiros seguidores de Jesus. Daí nasce a fé dos primeiros cristãos e que depois se espalhou por todo o mundo até chegar a nós do século XXI.

Na primeira parte (Jo 20,19-25), o evangelista nos fala: estava anoitecendo quando Jesus aparece. A vida estava obscura para aquele grupo de seguidores, havia medo, insegurança, feridas no coração dos discípulos, portas fechadas… E o ressuscitado com a força do amor e da paz, rompe as barreiras físicas se pondo no meio deles e dizendo: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19).

Era preciso que os discípulos ouvissem esta saudação para a confirmação de que o príncipe da Paz estava no meio deles, ressuscitado, vencedor, para trazer vida nova e reanimá-los para continuarem.

Depois, mostrando as marcas da crucificação, repete a saudação, confirmando sua presença de vida plena e ao mesmo tempo anuncia que eles devem continuar a missão redentora da paz, da misericórdia, da justiça e do amor. Agora não devem ir somente para às aldeias, povoados e arredores de Jerusalém, mas para os confins do mundo.

Por isso o sopro do Espírito Santo foi concedido pelo próprio ressuscitado para que anunciem e perdoem os pecados dos homens (cf. Jo 20,23) e os conduzam para uma vida transformada e dedicada também a missão do Redentor.

Na segunda parte deste Evangelho (Jo 20,26-31) fica-nos uma pergunta: Onde estava Tomé naquela primeira aparição? Por que estava distante dos irmãos? Talvez porque o seu desânimo era maior do que a esperança, e, portanto foi inundado por esta realidade, ficando isolado, fechado em si, duvidando de Deus…

Ao encontrar os seus companheiros, Tomé duvida da aparição de Cristo. Ele desafia a Jesus, pois não acredita ainda na sua ressurreição. Tomé foi honesto em suas dúvidas, era preciso viver a experiência pessoal com o Senhor para pode professar: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28).

Este discípulo ausente no primeiro momento, quer uma prova concreta como muitos de nós cristãos quando nos isolamos e ficamos fora da comunidade. Às vezes duvidamos das maravilhas de Deus e de suas obras, e nos tornamos incrédulos quando não participamos da experiência do encontro com o Senhor na comunidade reunida.

Oito dias depois, os discípulos estão reunidos e agora está também Tomé, que dessa vez vê o Senhor. Novamente Jesus deseja a Paz e convoca aquele discípulo que não acreditou antes, e diz a Tomé: “‘Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel’. Jesus disse mais: ‘Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!’” (Jo 20,27-28).

A declaração de Tomé é forte: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,28). E Cristo acolhe e tem misericórdia de Tomé que duvidou, mas que depois professou a sua fé no Deus da vida. Nós também somos acolhidos na misericórdia de Deus quando, pela nossa fraqueza e dúvida, queremos provas da sua presença no meio de nós.

Nós, os cristãos, reunidos em torno da Palavra e da Eucaristia, somos os discípulos que acreditam sem terem visto e sem ter tocado as feridas e sem contemplarem o lado de Cristo, mas que escutam a voz do Senhor na Palavra e tocam o seu corpo quando na fila de Comunhão o recebem para se nutrirem da fé na vida verdadeira e prosseguirem a caminhada de fé.

Há feridas humanas que precisamos sentirmos e tocarmos! Elas estão presentes nos crucificados deste mundo e aparecem nos que passam fome, nos desempregados, nos presos e nos que injustamente são colocados como culpados, porque denunciam a desumanidade das realidades políticas, econômicas e sociais.

Quem poderá sentir e considerar esta realidade que está além do templo? Quem romperá o grupo fechado no medo e na omissão dos que se dizem seguidores do ressuscitado? Somente os discípulos, os batizados em Cristo que acreditam e vivem a ressurreição, e, por isso lutam por uma sociedade nova e cheia de vida e de paz.

Somente os que deixam as portas se abrirem e saem em missão para anunciar a vida nova em Cristo, e que deixam Jesus inundar de paz e coragem a sua vida. Estes podem mostrar para o mundo o sentido verdadeiro da vida, da justiça e da esperança.

Quando nos fechamos em nosso egoísmo e individualismo e ficamos distantes da vida da Igreja que abre as suas portas e assim nos tornamos discípulos infecundos e incrédulos. A misericórdia do ressuscitado nos abraça e nos acolhe, fazendo-nos forte na fé e nos ajudando a tirar as dúvidas e insegurança sobre a vida nova.

Enquanto alimentarmos uma fé somente devocional e não no dedicarmos a vida de discípulos missionários, a alegria do evangelho ficará como que guardado em nossas normas frias e sem força para evangelizar o mundo. Ficamos como em templos de portas fechadas por medo, comodismo e pessimismo e com a ausência de confiança no ressuscitado.

Portanto, cada domingo também é como aquele oitavo dia, quando também professamos a nossa fé no ressuscitado. Em cada domingo, escutamos os ensinamentos dos apóstolos, louvamos, colocamos em comum a nossa oração, partilhamos o pão, fazemos nossas ofertas materiais e espirituais como as primeiras comunidades dos Atos dos Apóstolos (cf. At 2,46).

Em cada encontro, a partilha da vida, nas suas alegrias e tristezas, porque é aí que se alimenta a fé e se revigora a caminhado do dia a dia de nossa existência. E então, nos perguntamos: como está a nossa partilha em nossas comunidades? Somos capazes de sentir a necessidade verdadeira do irmão carente? Sentimos a presença do Ressuscitado em nosso meio? Com quem nos identificamos: com Tomé ou com os outros discípulos?

Peçamos o sopro do Espírito Santo e a misericórdia de Deus quando também não acreditamos na presença de Cristo em nossas vidas. Que possamos sair do nosso medo, da nossa insegurança e do nosso isolamento para anunciar a certeza da ressurreição através de nossa vida e do nosso testemunho. Atitudes que se expressam na nossa alegria, na nossa paz, na nossa fraternidade, na nossa união e por que não dizer, na nossa caridade, virtude própria dos que amam o Senhor e o seguem. Amém!

DOMINGO DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR – ANO B

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  At 10,34a.37-43; Sl 117(118); Cl 3,1-4; Jo 20,1-9

POESIA

QUEM AMA CHEGA PRIMEIRO

Pelo amor e a esperança,
Madalena vai correndo,
Cheia de uma novidade,
Que está lhe preenchendo,
Volta do túmulo vazio,
Madrugada em vento e frio,
Coração se aquecendo.

Primeira anunciadora,
De Jesus ressuscitado,
Vai dizer aos seus irmãos,
Sobre o túmulo arrebentado
Precisa se refazer,
Para pode entender,
O que Deus tem realizado.

A mensagem é semeada,
Junto aos outros irmãos,
E aos pouco se espalhando,
Por Pedro e também por João,
Cristo trouxe a vida nova,
Túmulo vazio é a prova,
Da santa Ressurreição.

Há um amor que motivou,
Ao discípulo em seu correr,
Pois o amor chega primeiro,
E não se deixa esmorecer,
Sem medo ele segue em frente,
Sem dúvida a lhe preencher.

O amor do discípulo amado,
A muitos encorajou,
Fez Pedro seguir em frente,
Mesmo que ao mestre negou,
Pois foi o amor e a fé,
Que fez Pedro ficar de Pé,
Com coragem continuou.

Compreender a vida nova,
No caminhar dia a dia,
Aceitar outra maneira,
Pra seguir a nova via,
A morte não tem mais poder,
Basta seguir e também crer,
Na Paz e na alegria.

Somos também seguidores,
De Cristo ressuscitado,
Seguimos a nova vida,
Com o nosso Deus amado,
Que se faz nosso alimento,
Na alegria e sofrimento,
Caminhando ao nosso lado.

O encontro com os irmãos,
Faz sair da madrugada,
Pra abraçar a luz completa,
E a vida iluminada,
Pois Cristo que se faz clarão,
Na Palavra e comunhão,
E a assembleia renovada.

 

HOMILIA

Animados e iluminados pela Ressurreição de Cristo

 

Irmãos e irmãs, desde a noite da vigília no sábado, também neste domingo da ressurreição, soam os cantos alegres de aleluia e de glória em toda a Igreja. Esta alegria da ressurreição do Senhor se estenderá por cinquenta dias como sendo uma festa única, um único dia.

Vivemos o dia do Senhor marcados pela alegria verdadeira da sua vitória sobre as trevas da morte. Somos banhados em Cristo, somos novas criaturas, somos homens novos, por que o Senhor no encheu da sua vida e da sua força renovadora.

Contemplamos Maria Madalena, marcada pela dor da morte de Jesus e da saudade. Ela não espera o dia chegar e quando ainda é escuro corre para o túmulo (cf. Jo 20,1). Vendo o túmulo vazio retorna e vai falar aos outros discípulos. No evangelho desta liturgia, vemos que Maria Madalena é a primeira a anunciar o grande acontecimento.

Os discípulos, como estavam ainda marcados pelos últimos acontecimentos, não conseguiram vislumbrar, a grande dádiva de Deus: Jesus tinha ressuscitado (cf. Jo 20,9). Tudo era muito novo, muitas coisas precisavam acontecer para que eles vivessem a certeza da ressurreição do Senhor.

Aquela manhã do primeiro dia da semana ficará marcada no coração dos discípulos como sendo o dia do Senhor, o dia em que nasce a fé na ressurreição, por que o discípulo amado viu e acreditou e espalhou esta certeza entre os seus amigos (cf. Jo 20,8).

A notícia se espalhará por todos os cantos, a força do ressuscitado chegará ao coração dos discípulos e consequentemente ao povo. A fé agora será amadurecida na caminhada dos seguidores de Cristo até ao ponto de testemunharem sem medo tudo o que aconteceu.

Alimentados da esperança e pela certeza, os discípulos enfrentaram o mesmo destino do Senhor. Serão perseguidos, serão caluniados e martirizados, mas encontrarão a ressurreição e a vida eterna. Se fortalecerão na comunidade reunida com a presença de Maria mãe do Senhor.

Pedro e os outros discípulos irão anunciar a verdade da ressurreição como vemos na primeira leitura de hoje: Nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles o mataram, pregando-o numa cruz. Mas Deus o ressuscitou no terceiro dia, concedendo-lhe manifestar-se não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia escolhido: a nós, que comemos e bebemos com Jesus, depois que ressuscitou dos mortos. Ele nos mandou proclamar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos vivos e dos mortos” (At 10,39-42).

Esta mensagem animou os primeiro seguidores e os fez continuarem em frente, motivo do qual chegou até nós. Por isso nos reunimos para encontrarmos com a Palavra viva para ouvirmos atentamente e também com a Eucaristia, corpo e sangue do Senhor, que nos alimenta na nossa peregrinação terrestre.

E nós, os cristãos neste dia de hoje, somos despertados para uma nova vida que se constrói a cada momento, que se renova em cada desafio vencido. A fé que temos no Senhor parte daquela madrugada de Madalena e dos outros discípulos. Somos os discípulos missionários e continuamos a levar a mensagem de esperança e de vida nova ao mundo.

Não podemos buscar o Ressuscitado nos túmulos das divisões, dos ritos vazios, do medo e da insegurança. Também não o encontraremos numa rotina de culto sem vida e muitas vezes sem convicção da fé que impulsiona e que faz fluir a motivação para correr e se chegar mais rápido aos lugares onde se faz necessário a esperança, a paz, a alegria e a vida nova. Vida nova à luz do dia e não da madrugada confusa de nossa fé.

Devemos continuar com a mesma fé dos primeiros discípulos e como disse o apóstolo Paulo: “Se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres.” (Cl 3,1-3).

Que em nessa caminhada pascal que se inicia, possamos semear esperança e alegria aos que encontrarmos. Nosso mundo precisa da alegria verdadeira do Evangelho para ser melhor e mais cheio de paz. E que a cada dia também possamos amadurecer a nossa fé no ressuscitado, dado que a fé é caminho, é experiência, é vida em comunhão e união realizada no amor que nos motiva a seguir sem medo e sem dúvida.

Sigamos em frente e meditemos neste período de 50 dias que se seguem, celebrados como sendo um, e cantemos confiante: “Este é o dia que o Senhor fez para nós: alegremo-nos e nele exultemos!” (Sl 117/118). Amém.

VIGÍLIA PASCAL DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras:  Gn 1,1-2,2; Sl 103; Ez 36,16-17a.18-28; Sl 50; Ex 15; Rm 6,3-11; Mc 16,1-7

POESIA

A PÁSCOA DE CRISTO EM NÓS

Acompanhados da Luz do vivente,
Caminhamos como amigos e irmãos,
Vencendo as trevas e iluminados,
Fortes, vencendo a escuridão,
Seguindo-o vamos em frente,
Na procissão como povo crente,
Em busca do altar da comunhão.

Pela companhia da Palavra Santa,
Vamos ouvindo o novo mandamento,
Aprendendo e caminhando com o Senhor,
Vivendo a salvação como ensinamento,
Não como algo que ficou no passado,
Que aconteceu e ficou desprezado,
Mas no hoje de nossa vida fundamento.

Banhados pela água batismal,
Renovando o compromisso que se selou,
Sigamos a mesma fé professando,
Vivendo a nossa Páscoa que chegou,
A cantar o cântico dos renascidos
Como discípulos fiéis e redimidos,
Com o Jesus que conosco ressuscitou.

Encontro da mesa e do vinho novo,
Comungamos do corpo do ressuscitado,
Que nos convida e nos oferece a alegria,
Vem trazer a paz aos desanimados,
Na fraternidade sempre a seguir,
Com coragem e sem desistir,
No mundo novo que agora é recriado.

 

HOMILIA

Cristo é a Luz da nova Criação

 

A celebração da Vigília Pascal faz memória da história da Salvação desde a Criação do mundo e do homem até a nova Criação. A nova aliança que se dá na última ceia e se concretiza na ressurreição do Senhor.

É uma liturgia repleta de rituais com uma simbologia muito profunda e que nos insere no mistério da vida nova em Cristo. Ele vem como luz da nova criação. Nele somos banhados pelo batismo para fazermos parte do novo povo de Deus como sacerdote, profeta e rei, na dignidade de filhos e filhas de Deus.

Para mergulharmos profundamente no sentido desta liturgia iremos vivenciar quatro momentos bem definidos. Primeiro adentramos na liturgia da luz, que é a celebração da Páscoa cósmica, marcando pela a passagem das trevas para luz. O círio aceso na fogueira, em frente ou ao lado da igreja, é a luz do ressuscitado que irá se espalhando por todo o espaço da assembleia, através das nossas velas, as quais nos lembra o dia de nosso batismo, o dia do nosso novo nascimento.

No segundo momento, na liturgia da palavra, revivemos pelas leituras bíblicas, a Páscoa histórica, enfatizada nos principais momentos da história da salvação. A Páscoa do povo Judeu e a páscoa da nova aliança, quando seremos um povo renovado pelo sangue do Cordeiro de Deus.

Em terceiro lugar viveremos a liturgia batismal que celebra a Páscoa da Igreja, povo de Deus nascido da Fonte do Batismo. Neste momento a Igreja batiza e o povo renova seu compromisso batismal de discípulos e discípulas de Cristo.

Por último a liturgia Eucarística que celebra a Páscoa perene e futura quando seremos julgados definitivamente por Cristo, no final dos tempos. A Páscoa de todos os dias quando vamos à Missa e mergulhamos no mistério do banquete do Cordeiro que se oferece como alimento para a festa da vida e da esperança.

Portanto, os símbolos da Luz, da água, do Pão e do Vinho, acompanham toda a nossa vida de filhos e filhas de Deus em Cristo. A cada momento de nossa vida temos esses elementos vitais e sensíveis em nossa caminhada. Em cada celebração renovamos nosso compromisso de caminhar com o Senhor esperando a sua vinda gloriosa.

No Evangelho desta liturgia, ouvimos o testemunho das mulheres, Maria Madalena e Maria mãe de Tiago, com também de Salomé que vão ao túmulo vazio. A força da vida nova rompeu a pedra que queria impedir a vida. Como grão que arrebenta a terra para nascer, Cristo cm sua força salvífica arrebentou as barreiras da escuridão e da tristeza. Como nos fala São Paulo na carta aos Romanos, Cristo ressuscitado dos mortos não morre mais; a morte já não tem pode sobre ele. (cf. 8,6).

As mulheres ainda iam ver o cadáver, o Cristo entre os mortos. Queriam ungir o corpo corruptível, mas ele já se tinha transformado para sempre em um corpo novo e cheio de vida. Nós também, muitas vezes, queremos cultuar um Cristo morto por não querer acreditar que ele nos trará vida nova. Queremos visitar os túmulos de nosso pessimismo, de nossas dúvidas e de nossa falta de esperança. No batismo somos novas criaturas e sinais de Cristo, luz do mundo.

A Páscoa não é um acontecimento do Passado, Crer em Cristo ressuscitado é portanto, acreditar nele agora e para sempre. Não podemos perder esse foco da fé. Cristo é o coração do Mundo, como disse o teólogo K. Ranner (*1904+1984). Nele está a nossa esperança de uma existência nova, redimida e transformada já aqui na nossa caminhada terrena.

Ele está em nossas lágrimas, como força, e nas dores como consolo permanente e vitorioso sobre nossos sofrimentos. Ele está em nossos fracassos e impotências como força segura que nos defende. Ele nos visita em nossas depressões, acompanhando-nos nossa solidão e nas nossas tristezas; Ele age em nossos pecados, nos oferecendo a misericórdia e o seu perdão como possibilidade de um novo significado para a nossa vida cotidiana e comunitária no caminho da santidade.

A ressurreição não é somente um só dogma, mas um contato vital e concreto com Cristo. Não podemos viver e crer na Ressurreição como uma teoria. Nós ressuscitamos na vida em comunidade, na experiência da casa entre esposo e esposa, pais e filhos. Também nas relações fraternas que realizamos, seja na dimensão família, laboral ou comunitária.

A experiência no Ressuscitado significa acreditar que ele está vivo, aqui e agora entre nós. É acreditar que ele está com a gente na comunidade reunida, na catequese, na liturgia, no Terço dos Homens, nos Terços nas casas, quando saímos em missão, quando nos encontramos para a Missa e em muitos outros momentos que vivenciamos na nossa comunidade a união e a alegria do evangelho.

Jesus tem força para ressuscitar a nossa vida, renovar a nossa esperança. Não são os bens materiais que nos dão a vida nova, mas a paixão e o amor à vida, alimentada pela mística espiritual do encontro, da partilha e da busca de harmonia com o supremo Deus que nos coloca na dignidade de filhas e filhos muito amados.

Como a mulheres, testemunhas primeiras da ressurreição, saiamos pelo mundo para pregar a vida nova em Cristo como algo concreto em nossas vidas. Não considerando um acontecimento do passado, mas do presente que se faz a cada momento do nosso existir.

Cristo ressuscita em nós todas as vezes que nos sentimos renovados pela cura de nossos rancores, ressentimentos, prepotências e profundas angústias e tribulações. Disse o Senhor: “Tende Paz em mim. No mundo tereis tribulações, mas tende coragem eu venci o mundo” (João 16,33).

Que a experiência da ressurreição do Senhor nos faça também pessoas pascais, ou seja, marcadas pela vida nova no amor do Senhor e no compromisso com a Paz e a justiça do Reino de Deus. Busquemos vencer a morte que está nas tantas realidades humanas – nas guerras, nas injustiças e nas pobrezas materiais e espirituais.

O Senhor está conosco, em todos os dias de nossas vidas até o fim dos tempos (Mt 28,20b). Sigamos com a vida e a esperança na força do ressuscitado, na busca de um mundo novo. Façamos algo pelo Reino de Deus!

DOMINGO DE RAMOS

COLETA NACIONAL DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11; Mc 11,1-10 (Procissão); Mc 14,1-15,47 (Paixão)

POESIA

CAMINHEMOS A JERUSALÉM

Caminhemos à cidade santa,
Com Jesus o Santo Peregrino,
Saudado por nossos aplausos e hinos,
Ele é o caminheiro da santa Paz,
Que caminha com total liberdade,
E que em seus seguidores livres nos faz.

Caminhemos à nossa Jerusalém,
Nos encontros de dores e alegrias,
Nas trevas da vida mesmo à luz do dia
Mas a voz de Deus sempre a escutar,
Esta palavra que traz a esperança,
Que nos leva ao culto verdadeiro celebrar.

Caminhemos com o Senhor a cada dia,
Em nossa vida e em nossa caminhada,
Deixando que em nós ele faça morada
E a sua justiça sempre seguindo,
Vivendo a verdade do evangelho,
E pelo o amor dele se consumindo.

Façamos aclamações na sinceridade
Com os ramos verdes da esperança,
Olhando seu amor que não se cansa,
Porque ele caminha carregado de coragem,
Pois o medo nele não pode existir,
Porque o amor é a sua viva mensagem.

Cristo que nos ensina a obediência,
Ao Pai do céu ele se entregou,
Pronto realizar o que pregou,
Chegar à cruz como consequência,
Ele foi livre dos reinos terrenos,
Seu silêncio venceu a prepotência

Caminhemos ao encontro da nossa união,
Que se dá no alimento da nossa alma,
E também na carne que se nutre e calma,
Buscando o caminho da serenidade,
Porque a paz nasce do encontro,
Pelo amor, braços abertos para a caridade.

 

HOMILIA

O louvor dos homens e a Paixão de Cristo

Irmãos e irmãs, a celebração do Domingo de Ramos insere-nos no clima e sentido espiritual da Semana Santa. Nesta liturgia contemplamos Cristo que caminha livre para Jerusalém onde irá viver a sua paixão e morte. Lá nos dará como presente a vida nova, pois vencerá a morte para sempre e ressuscitará para também nos dá a ressurreição.

Na caminhada de Jesus para Jerusalém também vemos a sua simplicidade e a sua entrega como rei diferente. Montará num jumentinho emprestado para nos mostrar que o seu reinado sobre o mundo é marcado pelo amor, simplicidade e pela entrega total para a nossa salvação (cf. Mc 11, 3).

Em procissão, vamos também nós, com ramos verdes, cantando Hosana ao Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor. A nossa vida também é marcada pela caminhada rumo à cidade santa, a cidade celeste, em procissão para a casa da Palavra e do Pão, a qual nos orienta, nos alimenta e nos faz crescer como irmãos e irmãs.

Nesta liturgia, já reviveremos a paixão e morte de Jesus. Na narração do evangelista Marcos, encontramos com um Jesus silencioso, que não fala nada e se entrega totalmente à cruz como consequência de sua pregação entre os homens em função de sua missão redentora. Caminhará para a sentença injusta como um cordeiro ao sacrifício. Isso nos ensina sobre a nossa missão que muitas vezes precisa de entrega e silêncio para podermos viver fielmente.

O silencio só será pecaminoso quando nos calarmos diante das injustiças e das ameaças à vida. Quando somos omissos por não promover a paz ou quando calamos por medo de anunciar a beleza da vida. Quando deixamos de promover o amor que traz a harmonia entre os homens e mulheres, na sua relação com o mundo, com o outro, consigo mesmo e com Deus.

Em nossa caminhada também encontramos as muitas cruzes e mortes, como Jesus encontrou na sua missão. Mas também encontramos a vitória, pois ressuscitamos com ele, nos levantamos e seguimos em frente. Deixamos que muitas mortes aconteçam em nossa existência para que a vida nova possa fluir e trazer um novo sentido.

Somos ainda alimentados pela fé na ressurreição e por isso caminhamos para vida eterna que é a nossa meta principal como foi dos discípulos seus. Cristo vive entre nós e nos dá o seu Espírito para vivermos no mundo, seguindo os seus passos na construção do seu Reino de amor e paz.

A celebração de domingo de Ramos nos insere na Semana Santa, nos dando o clima e o tom de todo o percurso a ser vivido nos dias seguintes. O roteiro homilético da CNBB[1] nos lembra que nesta semana viveremos cinco movimentos os quais marcam não somente este tempo, mas também toda a nossa caminhada de fé, dentro do sentido de um itinerário pascal.

O primeiro movimento é a procissão do domingo de Ramos usando a cruz à frente como sinal da paixão e da vitória de Cristo sobre a morte. Ele que nos guia no nosso caminhar de discípulos missionários seus. Como cristão, na nossa peregrinação terrestre, vivemos o louvor e o sofrimento, mas continuamos a caminhada, pois estamos com o Senhor.

O segundo movimento acontece concretamente na sexta-feira santa, quando caminhamos para beijar a cruz. Ela é o sinal da glória de Cristo, representação do amor máxima de Jesus por nós, a explicação do limite o qual Jesus chegou para nos apresentar a face misericordiosa de Deus Pai pelos homens. Quando desprezamos esta dimensão espiritual da cruz, fugimos da nossa missão e nos desanimamos. A Cruz também é sinal de misericórdia e vitória.

No terceiro movimento, podemos dizer que é o mais forte e marcante para os cristãos, pois é o nosso caminhar atrás do círio Pascal, a luz verdadeira que brilha nas trevas. A noite da morte agora já não existe mais. Cristo ressuscitado agora nos guia e nos ilumina com sua luz. Caminhamos sem medo da escuridão das dores, das angústias e das tristezas, pois agora somos vencedores marcados pela alegria, coragem e paz no mundo. Cristo está vivo!

O quarto movimento diz respeito à nossa procissão rumo à mesa cujo o alimento é o corpo do ressuscitado, o seu sangue nos mata a sede e nos sacia para continuarmos firmes, marcados pela esperança num mundo novo cheio de fraternidade e vida nova para todos.

E no quinto e último movimento, somos enviados em missão para proclamarmos que Cristo venceu a morte. Mas ele está conosco animando-nos com o seu Espírito. Lá fora da Igreja, no mundo, daremos testemunho de verdadeiros seguidores do Cristo. Seremos os continuadores de sua mensagem salvífica. Seremos presenças vivas entre os homens para mostrarmos a face do Senhor que é amor e a compaixão que deseja que todos sejamos irmãos.

Portanto, vivamos a semana das semanas, num espírito de oração, de penitência e jejum. Fiquemos atentos aos passos do Senhor na sua paixão, morte e ressurreição, pois é nesta verdade e neste acontecimento que está fundamentada a nossa fé. Amém.

[1] Roteiros homiléticos da quaresma, março e abril, ano A. 2014.

V DOMINGO DA QUARESMA

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Jr 31, 31-34; Sl 50(51); Hb 5,7-9; Jo 12,30-33

POESIA

ENCONTRAR-SE COM O SENHOR

De Cristo a lição do amor,
Da vida que é como grão,
Da paz que traz o perdão,
Da missão em grande ardor,
Na entrega verdadeira,
Felicidade não passageira,
Verdade, vida e esplendor.

Palavra, vida e ação,
A nos fazer atraídos,
E com o Reino envolvidos,
No plano da salvação,
Porque gera alegria,
Na vida de cada dia,
Amor, plena doação.

E o grão vida nova a nascer,
Cristo, pendente na cruz,
Tornou para todos a luz,
E ao mundo resplandecer,
Fez brilhar o sumo bem,
E aos discípulos também,
Disse pra não se esconder.

Encontro, vida a se entregar,
Faz novo o que era velho,
Sua voz, o evangelho,
Vida nova a propagar,
Nos caminhos do existir,
Semente a se expandir,
Pra de novo semear.

Cristo nos veio afirmar,
Santa e nova aliança,
Traz ao mundo a esperança,
Para não se apagar,
Seu amor é a lei nova,
A cruz foi a sua prova,
Do limite de amar.

Na mesa nova aliança,
Palavra que se faz pão,
Para gerar vida e união,
E passar santa herança.
Porque fomos atraídos,
Para ser um povo unido,
No amor, paz e esperança.

 

HOMILIA

Caminhando com Jesus, que é o verdadeiro grão de trigo

A liturgia deste 5º Domingo da Quaresma nos encaminha para a experiência da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Diante da solicitação dos gregos a Felipe e André, Jesus faz o discurso sobre o sentido de sua entrega. … “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto.” (Jo 12, 24).

Cristo é o grão que, caído na terra (túmulo), nos trouxe a vida nova. Ele é a palavra que vem do céu para ensinar o caminho do bem e a nova lei, que é amor da entrega por inteiro ao projeto de salvação que o Pai lhe confiou. Seu testemunho além das suas palavras, vem ensinar que a atração se dá quando o seu amor está escrito no coração do homem.

A cruz é o grande ensinamento que diz até onde vai o amor de Deus. Braços abertos para abraçar o mundo. Este mundo carente de amor e de vida nova. Agora a lei de Deus, o amor, não será mais gravada em pedra, mas no coração humano, assim como nos fala o profeta Jeremias: “Assim diz o Senhor: imprimirei minha lei em suas entranhas, e hei inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo” (31,33). O cumprimento desta profecia de Jeremias se realiza em Jesus Cristo.

Cristo não fica na cruz, pois a cruz apenas significa a passagem pela realidade da dor do mundo. Após a cruz, Jesus irá ao túmulo para salvar os que estão nas trevas do pecado e os ressuscita (renasce) como o grão de trigo para a vida nova. Vida transformada e não mais limitada pelo espaço e tempo cronológico.

A experiência litúrgica e espiritual do Tríduo Pascal (quinta, sexta e sábado) nos dá o conjunto daquilo que foi o ministério salvífico de Cristo no meio de nós. E todo este caminho de Jesus, foi realizado em obediência e sintonia com o Pai do céu. A carta aos hebreus vem nos afirmar que mesmo sendo Filho, Jesus aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu (cf. Hb 5,8).

Diante desta liturgia podemos nos perguntar: Como o grupo dos primeiros cristãos atraiu tantos seguidores a entregarem seu corpo ao martírio por causa de Cristo? O que motiva tantos missionários e missionárias a se apaixonarem pelo caminho de Cristo, mesmo que venha o sofrimento e suas dores?

São Pedro nos Atos dos apóstolos nos dará a resposta: “Por toda parte, ela andou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominado pelo mal; pois Deus estava com ele. E nós somos testemunhas de tudo o que Jesus fez na região dos judeus e em Jerusalém (At 10,38-39).

Portanto não foi a rigidez da lei dos fariseus que atraiu o povo para Deus, mas o testemunho de amor vivido por Jesus junto aos pobres, doentes e descriminados da sua sociedade. E a consumação de seu ministério que passou pela cruz e culminou naquela madrugada da ressurreição. No alto da cruz todos que contemplaram esta realidade, foram atraídos pelo seu amor e pela entrega total.

Ele deu testemunho e viveu coerentemente tudo o que falou. Ele é a Palavra feita carne que veio nos ensinar o caminho do amor rumo ao céu. Quando olhamos para cruz podemos entender o profundo sentido do amor de Cristo, pela humanidade. … “na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz (Fl 2,8). Isso atraiu o mundo para o seu amor.

O que nos atrai ou nos atraiu para Cristo? É importante nos perguntar como se dá a nossa experiência de amor a Cristo, como fomos atraídos por ele. É a partir de uma vida atraída pelo amor de Cristo que poderemos atrai também a outros. Os cristãos somente poderão atrai o outro para o Senhor quando também forem coerentes em suas vidas e quando a caridade e a solidariedade estiverem acima das normas que julgam demais o outro.

Que esta liturgia, a qual nos aproxima da festa mais importante do ano litúrgico, nos ajude a vivermos a entrega de Cristo e a vivência da lei nova do seu amor. Que a experiência na celebração da Paixão, Morte e ressurreição venha nos ajudar a vivermos de forma mais serena as realidades que fazem parte da vida. O cristão carrega as cruzes de sua existência, mas ao mesmo tempo abraça a certeza da vitória de sua vida em Cristo ressuscitado. Amém.

IV DOMINGO DA QUARESMA (LAETERE)

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

DOMINGO DA ALEGRIA (Lætare)

Leituras: 2Cr 36,14-16.19-23; Sl 136(137); Ef 2,4-10; Jo 3,14-21

POESIA

UM AMOR QUE SE DERRAMA

Por amor,
Deus nos pensou,
Para que fôssemos amados,
E agraciados,
Como um grande presente,
Basta que sejamos crentes.

Por amor,
Deus nos criou,
Para o mundo embelezar,
E o governar,
Com sua sabedoria,
Que nunca se esvazia.

Por amor,
Deus se encarnou,
Para a nossa salvação,
E para a santificação,
Conosco vem caminhar,
Ensinando-nos a amar.

Por amor,
Deus se entregou,
Um Deus apaixonado,
Por nós crucificado,
Ergamos a visão,
Para ver nossa salvação,

Por amor,
Deus nos iluminou,
Com o Espírito Santo,
O Eterno encanto,
Que, pelo mundo inteiro,
Fez-nos mensageiros.

Por amor,
Deus se fez alimento,
Na Palavra e na Eucaristia,
Que nos traz a alegria,
Do encontro verdadeiro,
Dos fieis companheiros.

 

HOMILIA

O amor gratuito de Deus por nós

A liturgia deste quarto domingo da Quaresma nos apresenta uma reflexão sobre o amor de Deus e a resposta do homem a este amor. Também a Igreja lembra que pela proximidade a que estamos da Páscoa celebramos a alegria, pois se aproxima o grande dia da vitória de Cristo, quando cantaremos, com voz forte e grande júbilo, o aleluia e o glória em honra a Jesus vencedor da morte, vitorioso para nos dá a vitória, ressuscitado para também nos ressuscitar. Este é motivo de celebrarmos o Domingo da Alegria (Lætare): se aproxima, portanto o grande dia!

O evangelho de São João nos traz o encontro de Jesus com Nicodemos. Jesus, num monólogo de grande profundidade, nos mostra o sentido e o ilimitado amor de Deus pela humanidade. Ele faz referência à serpente erguida no deserto comparando-a com a sua crucificação. No deserto, os membros de Israel não foram convidados a erguer os olhos para a serpente de bronze para contemplar este animal venenoso em si, mas para que as pessoas voltassem o olhar para o alto, onde está o Deus que cura e liberta a todos do mal (cf. Jo 3,14).

Em Jesus também somos conduzidos a olhar para ele erguido na Cruz, não para ver apenas o sofrimento cruel e humilhante, mas para perceber o limite do amor de Deus por nós. “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas, tenha a vida eterna.” (Jo 3,16). O cristão é chamado a caminhar com a cabeça erguida, olhando para o alto, mesmo em meio as cruzes de sua vida, porque Deus é o amor ilimitado. Ele quer livrar a todos do veneno do pecado que impede de encontrarmos a salvação.

“… Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3,17). Jesus veio nos mostrar o caminho do amor e não da condenação. A condenação é consequência da falta de amor. O mundo precisa do amor que tira o homem do pecado e da realidade onde há a ausência deste bem.

Deus sempre caminhará conosco mesmo quando somos infiéis ao seu projeto, como podemos ver na primeira leitura. O povo que teve seu templo destruído receberá de Deus o grande favor através do Rei Ciro, que é tocado para anunciar a reconstrução do Templo. A destruição anterior foi fruto da desobediência e da violência dos que não seguiam os mandamentos de Deus.

Muitas vezes temos uma concepção de que Deus castiga e que ele é vingativo. O que acontece é que olhamos Deus e o pensamos com nossas concepções humanas limitadas. Nossos desastres, nossas dores e nossos pecados são consequências de escolhas que fazemos em desobediência aos preceitos do Senhor. Também, muitos desastres em nossas vidas vêm do inimigo presente que nos seduz e por isso somos influenciados ou atingidos por tais pecados.

Voltando ao evangelho desta liturgia, podemos ver no texto de São João: “Quem nele crê, não é julgado; quem não crê, já está julgado, porque não creu no Nome do Filho único de Deus.” (3,18). Ou seja, para o evangelista João a salvação é hoje, é agora. Depende da minha opção a cada momento de minha existência.

Um pré-requisito é que tenhamos fé e estejamos decididos. A condenação, portanto, virá quando não houver fé no Filho de Deus. Assim podemos nos perguntar: quais são as minhas opções? O que vivo ou acredito está de acordo com os caminhos do Senhor? Qual o nível da minha fé?

Portanto, devemos carregar uma certeza: a salvação de Deus é gratuita, porém a adesão é espontânea. Nunca será tarde para nossa opção e arrependimento, mas precisamos logo nos decidir para que nossas ações de amor e de testemunho também ajudem o mundo a melhorar. Pelo batismo, somos sal e luz do mundo (cf. Mt 5,13), pois mesmo sabendo que é por “graça que somos salvos” (Ef 2,5b), precisamos comunicar ao mundo que o nosso Deus é amor misericordioso, e ele quer que sejamos misericordiosos também com os nossos irmãos.

Que o Espírito Santo de amor possa nos guiar e nos iluminar neste itinerário para a Páscoa, para que ao chegarmos à festa do Ressuscitado possamos nos alegrar verdadeiramente pela vida que venceu a morte e que é vitória também para nós. Ergamos nossa cabeça para a direção de onde está Deus, nele está a nossa da libertação e nossa salvação. É no alto da cruz que encontramos a razão da entrega de Deus por amor a toda humanidade. Amém.

III Domingo da Quaresma

CAMPANHA DA FRATERNIDADE – “FRATERNIDADE E SUPERAÇÃO DA VIOLÊNCIA”

ANO NACIONAL DO LAICATO

Leituras: Ex 20,1-17; Sl 18(19); 1Cor 1,22-25; Jo 2,13-25

POESIA

NÓS, TEMPLOS SANTOS

Somos templos do Senhor,
Moradas do divino amor,
Da verdade e sinceridade,
Sem nada de opressão,
Morada do amor e o perdão,
Templo da santa bondade.

Somos templos do Senhor,
Na vivência do temor,
Com um culto verdadeiro,
Sem a tal da falsidade,
Mas com a pura verdade,
E uma entrega por inteiro.

Somos templos do Senhor,
Vivendo o fiel ardor,
Pelos santos mandamentos,
Como setas definidas,
Para proteger a vida,
Livre de tanto tormentos.

Somos templos do Senhor,
E da verdade esplendor,
Igreja, corpo vivo e santo,
Para firmes encontrar,
O alimento do altar,
Que alivia o nosso pranto.

Somos templos do Senhor,
Com a justiça a favor,
Da verdade que liberta.
Na missão do sumo bem,
Pois, o Espírito nos mantem,
Com a paz do Redentor.

Templos da Eucaristia,
Nós, Igreja de todo o dia,
Que se nutre da união,
Festa da vida e do amor,
Que fortifica o ardor,
No encontro e comunhão.

 

 

HOMILIA

O novo mandamento e o novo culto

Neste 3º domingo da Quaresma, tempo precioso de penitência e conversão, a liturgia nos apresenta dois temas principais para a nossa reflexão espiritual: culto e mandamento.

No primeiro tema, o evangelista João apresenta Jesus como o templo vivo onde há o culto verdadeiro e que nós, os cristãos, somos membros deste mesmo templo, que é a Igreja. O segundo tema se refere aos mandamentos que Deus apresentou ao povo da antiga aliança para que todos pudessem andar de acordo com a vontade divina.

Vamos refletir inicialmente sobre os mandamentos os quais foram escritos para orientar a vida judaica não como algo de imposição, mas como o cuidado carinhoso de um Deus que ama o seu povo e quer que o viva no amor e na obediência à sua vontade.

Na primeira leitura de hoje vemos que Deus, antes de anunciar os seus mandamentos, faz uma memória da sua ação salvadora para com o povo: “Eu sou o Senhor teu Deus que te fez sair da terra, da casa da escravidão.” (Ex 20,2). Trata-se não de um deus desconhecido, mas do Deus que tem uma história na caminhada do seu povo. Os mandamentos da lei de Deus, como aprendemos em nossos primeiros contatos com a catequese, servem para nos orientar na caminhada para a vida de Deus. É para nos livrar dos perigos que nos levam ao inferno.

Os mandamentos são como os sinais de trânsitos que nos orientam sobre os limites da velocidade, o percurso por onde devemos seguir. Desobedecer a um dos sinais poderá nos levar a um desastre automobilístico e nos trazer como consequência a nossa morte e até a de outras pessoas que não teriam nada a ver com o nosso erro. Assim será também a se desobedecermos os mandamentos do Senhor: poderemos nos perder e envolver os irmãos também na nossa perdição.

Ainda sobre os mandamentos, temos de meditar que em Jesus está a plenitude da lei: o amor é a lei maior, porque primeiramente obedecemos por amor e vivendo o amor que Jesus pregou, superaremos todos os mandamentos. Amar o outro não é apenas não matar, não traí-lo, não roubá-lo, não ser falso, mas sim defender a sua vida, lutar pela justiça em seu favor e dedicar todo o nosso sentimento de fraternidade e irmandade quando for necessário.

O evangelho nos apresenta Jesus em Jerusalém quando expulsou os vendedores do templo. Olhemos um pouco o cenário da cidade santa nos dias de celebração da Páscoa: Há peregrinos das diversas cidades da Palestina, e até de fora. São pessoas que durante muito tempo juntaram dinheiro para ir prestar o culto a Deus na sua casa santa. No templo, Deus habita. Ali existem os sacerdotes que aconselham os peregrinos.

Mas naquele lugar também há os aproveitadores que ganharão muito dinheiro explorando os pobres com a venda dos carneiros e bois para o sacrifício. Também as bancas de câmbio que trocavam o dinheiro pelas moedas sagradas para serem colocadas nos cofres do templo e comprar as vítimas para o sacrifício.

É nesse contexto que Jesus, como um judeu fiel à verdadeira religião, age, pois percebe que o lugar onde Deus deve ser adorado em espírito e verdade está sendo profanado pela corrupção e exploração realizado pelas próprias lideranças da religião.

O mais importante é que fiquemos atentos às poucas palavras que Jesus falou: “Tirai tudo isto daqui; não façais da casa do meu Pai uma casa de comércio.” (Jo 2, 16). A casa de Deus não é um lugar de comércio e exploração. O ambiente do culto ao Senhor Deus que caminhou com o seu povo, é o lugar do sacrifício verdadeiro e da oração que sobe aos céus.

Quando vamos à Igreja devemos abrir o nosso coração para que a Palavra de Cristo, mandamento novo, habite o nosso coração, toque a nossa alma e nos leva a ficarmos cada vez mais perto dele, na caridade, na honestidade, na missão e na entrega da vida ao Reino de Deus.

Quando saímos da igreja podemos também refletir sobre a importância da Palavra de Deus em nossa vida. E nos perguntamos: como nos relacionamos com os bem materiais? Como encaramos o mundo que faz comércio de tudo? E corrupção, não seria uma forma pós-moderna de compararmos com os vendilhões do templo, expulsos por Jesus? Realidade essa que causa desemprego, sofrimento e morte.

A segunda frase de Jesus, a mais importante e falada diante da pergunta dos judeus: “‘que sinal nos mostras para agires assim?’ Respondeu-lhes Jesus: ‘Destruí este santuário, e em três dias eu o levantarei’.” (Jo 2,19-20). Ninguém entendeu as palavras proclamadas por Jesus, inclusive os discípulos que somente depois da ressurreição vieram a ter claro o que foi falado naquele dia por seu mestre.

Formamos a Igreja corpo de Cristo, templo vivo de Deus, onde habita o Espírito Santo. Quando nos dirigimos à Igreja de pedra devemos sempre pensar: nós somos o sentido maior do verdadeiro culto, porque nos reunimos “em Cristo, com Cristo e por Cristo”, livres das explorações e corrupções humanas. Somos templos vivos onde habita Deus. Jesus nos leva a meditarmos que os nossos corpos são sagrados, ou seja, habita o amor de Deus em nós. Habita em nós a palavra da Justiça, da honestidade e da vida plena.

Os discípulos lembraram-se, mais tarde, que a Escritura diz: “O zelo por tua casa me consumirá”.(Jo 2,17). O que dizer das inúmeras denominações religiosas no mundo de hoje, voltadas para uma profanação do nome do Senhor e do seu templo? São tantos depoimentos sobre a aquisição bens materiais e do aumento de riqueza individuais atribuídas a uma barganha com Deus. São declarações pronunciadas abertamente como se fosse uma verdade.

Os cristãos são os que seguem a Cristo em espírito e verdade. Não devem pensar como os judeus do tempo de Jesus. Eles esperavam um rei poderoso, prepotente e milagreiro e rico. Por isso a crucificação de Jesus para eles é escândalo, pois Cristo foi um derrotado. Quanto aos gregos, estes por sua vez, não acreditavam em milagres. Eles confiavam somente nos raciocínios e na sabedoria, a razão era tudo para eles (cf. 1Cor 1,23). A morte de Jesus não se enquadra dentro de nenhuma lógica humana: por isso é uma autêntica loucura[1].

Que a nossa oração e o nosso culto sejam autênticos e que a Eucaristia nos fortifique a vivermos como verdadeiro adoradores de Deus. Que sejamos testemunho de amor e de santidade no mundo como verdadeiros templos santos neste tempo quaresmal, quando devemos intensificar a prática da caridade, da oração e do jejum. Amém.

[1] ARMALLINI, Fernando. Celebrando a palavra: Ano B. São Paulo: Ave Maria.