I DOMINGO DA QUARESMA – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Dt 26,4-10; Sl 90(91); Rm 10,8-13; Lc 4,1-13

 

⇒ POESIA ⇐

O DESERTO DA VIDA

 

No deserto desta vida,
Muitas coisas enfrentamos,
Tentações de todo tipo,
Que às vezes duvidamos,
Mas Jesus está com agente,
Caminhando firmemente,
É nele que acreditamos.

Muitas vezes ao caminhar,
O deserto fica quente,
Vem a sede e vem a fome,
Que vai castigando a gente,
Então vem a esperança,
O Senhor é a bonança,
Pois na vida está presente.

Temos tantas tentações,
No nosso mundo atual,
Consumir pra mais da conta,
Cultivando o capital,
Somos tentados a comprar,
E ainda adorar,
O ídolo material.

Não podemos esquecer,
Que a vida do cristão,
Deve ser simplicidade,
Vivendo a contemplação,
Com Jesus sem desistir,
O caminho a prosseguir,
Pra viver a conversão.

A caminhada é longa,
No deserto da existência,
Mas nós vamos aprendendo,
A viver com paciência,
Com jejum e oração,
Caridade em ação,
Santa e viva penitência.

Viver o tempo quaresmal,
Para o cristão é importante,
Faz muito a gente crescer,
E seguir perseverante,
A palavra é fundamento,
Oração como alimento,
Testemunho a todo instante.

 

⇒ HOMILIA ⇐

As tentações de Jesus e as tentações do cristão

Lc 4,1-13

 

Iniciamos a nossa caminhada quaresmal, e neste primeiro domingo da quaresma vamos refletir sobre a quaresma de Jesus, apresentada pelo evangelho de Lucas (4,1-13).

No deserto, Jesus vence as três tentações cada uma em um cenário diferente: No deserto quando chega a fome há uma tentação de transformar as pedras em pães (cf. 4,3). Em um segundo momento diante dos reinos do mundo, o diabo promete todas as riquezas para que Jesus as adore (cf. 4,7). Por fim, o tentador coloca Jesus no ponto mais alto e sugere que ele se atire para baixo (cf. 4,8).

Jesus, diante destas tentações contra a sua natureza humana, se faz fiel ao Plano do Pai e por isso tem sempre uma resposta firme perante o tentador, pois é conduzido pelo Espírito.

Na fome ele fala do alimento imperecível que é a sua sintonia com o Pai, ou seja, a oração constante. Pois não é somente o pão material que alimenta o homem. Diante da tentação do poder, Jesus é fiel ao projeto do Reino, pois somente ao Deus verdadeiro se deve adorar e servir (cf. 4,8). Diante da tentação da segurança oferecida pelo demônio, Jesus não se coloca no perigo, pois pela obediência à missão e na observação das Escrituras não se deve tentar a Deus somente para provar que ele é poderoso.

Nós, os cristãos, estamos neste deserto da nossa existência terrena, onde acontecem muitas tentações. Quando nos falta o pão, somos tentados a buscá-lo de forma fácil e nos desesperamos. Não podemos esquecer-nos da tentação do consumismo e do materialismo desnecessário, pois quanto mais leves e despreendidos estivermos das coisas, mais confortamos o nosso coração com as coisas do alto e o Senhor nos dirá: Não só de pão vive o homem, há um alimento que não perece, a sua Palavra, seu corpo e sangue que nos fortalece e nos traz a felicidade e a realização verdadeira.

A segunda tentação apresentada por Lucas: “se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu” (4,7), no faz refletir sobre os nossos ídolos que vamos criando, quando nos falta a fé no Deus verdadeiro. O povo no deserto também passou pela tentação de fabricar um bezerro de ouro para adorá-lo como um novo deus para eles. Podemos nos perguntar: que ídolos costumamos construir nas nossas tentações, quando não entendemos ou não esperamos o projeto de vida que Deus tem para nós? Diante disto Jesus nos dirá: “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás” (Lc 4,8).

A terceira tentação nos leva a refletir sobre nossas ações para manipular Deus a favor de nosso individualismo, quando buscamos os milagres apenas materiais, tais como a prosperidade baseada no acúmulo de bens e no conforto. São posturas interesseiras onde apostamos na ação de um Deus mágico, triunfalista e espetacular, que se mostra poderoso numa visão mais humana do que divina. Jesus nos diz: “Não tentarás o Senhor teu Deus” (Lc 4,12).

Quantas coisas boas o Senhor nos dá no deserto de nossa existência, quantas lutas, desafios, provações ele nos ajuda a vencer, as quais nos ensinam muito mais do que sucessos mirabolantes baseados apenas em interesses terrenos e exteriores.

A fé cristã é exatamente a consciência de que em cada momento da nossa vida estamos caminhando para a eternidade, pois o Senhor está conosco nos fortalecendo pelos desertos de nossa da vida, nos dando a vitória rumo à libertação e à salvação…

Peçamos ao Espírito Santo a perseverança de caminharmos sempre com Cristo, pois ele venceu as tentações, e nos ensinou a vencê-las, sinalizando a vitória sobre a morte, e nós, com ele também, venceremos as tentações no nosso deserto existencial e com ele ressuscitaremos.

 

Que a Palavra e a Luz do Bom Pastor ilumine o seu caminho.

 

VIII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Eclo 27,5-8; Sl 91(92); 1Cor 15, 54-58; Lc 6,39-45

 

⇒ POESIA ⇐

A SABEDORIA QUE VEM DO ALTO

 

Ações sábias alegram o coração de Deus,
Pois do Senhor brota o sumo bem,
Que alimenta a santidade do homem,
Que lhe faz coerente também,
Porque o coração cheio de amor,
Traz para a vida a força e o ardor,
Que aos bons e justos convém.

E os olhos limpos das tantas traves,
Fará o sábio para o mundo iluminar,
Porque a sabedoria vem da luz de Deus,
Que ao seu coração vem a orientar,
Para seguir em frente como caminheiro,
Pela longa estrada caminhará inteiro,
Firme e iluminado e sem tropeçar…

Quem for discípulo como seu mestre,
Carregará o amor como fundamento,
No ministério do seu dia a dia,
Será da paz em qualquer momento,
Nascerão bons frutos da sua missão,
No seu caminhar terá compaixão,
Seu testemunho será ensinamento.

Cristãos iluminados pelo Senhor,
Curados das traves e das cegueiras,
Fazendo-os também a outros se guiarem,
E se livrarem das trilhas traiçoeiras,
Que às vezes tentam os atropelar,
Porque a vida é este trilhar,
Existência que se faz em nós verdadeira.

A comunhão nos traz a lucidez,
Pois o olhar do outro pode nos orientar,
E assim o encontro nos conduz a cura,
Em vista de a nossa vida transformar,
Porque a boa mensagem é fruto do seguidor,
Sentido e fortaleza que vem do Senhor,
Pela Boa-Notícia a nos alegrar.

 

⇒ HOMILIA ⇐

Autêntico exame de consciência

Lc 6,39-45

 

A liturgia da palavra deste domingo nos apresenta Jesus se dirigindo aos discípulos para orientá-los quanto às atitudes diante de si e diante dos outros. Era importante que os seus seguidores imprimissem em sua alma uma nova forma de relação com as pessoas e também entre eles próprios. Jesus pergunta: “Pode um cego guiar outro cego?” (Lc 6,39) Como, em vista da missão, o discípulo poderia “guiar” as pessoas em busca do Reino se não percebesse também suas próprias cegueiras e empecilhos? Se não fizesse este exame de consciência voltado para si, que novidade de vida poderia transmitir ao mundo?

Mais adiante, Jesus fala: “Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Lc 6,42). Os discípulos, chamados a serem também luz do mundo (cf. Mt 5,14), necessitavam tirar de sua vida aquilo que os impediam de enxergar o mundo e as pessoas com os olhos de Deus. Como iluminar a vida das pessoas sem primeiro deixar-se iluminar? Poderiam ser guias cegos e assim levar os outros ao buraco da ilusão e da falta de sentido.

Jesus também lembra da árvore que deve ser reconhecida pelos seus frutos (cf. Lc 6,43), ou seja, os seus discípulos precisavam meditar sobre os resultados da sua missão. O fruto do seguidor deveria ser a paz, a justiça, a fraternidade, o perdão, o cuidado aos pobres e necessitados da providência e do amor de Deus. E somente preenchendo o coração com esses valores e atitudes que brotam do evangelho, poderiam falar e agir em favor do bem e do Reino de Deus, pois a boca fala do que o coração está cheio (cf. Lc 6, 45).

O que Jesus orientou aos discípulos, também é destinado a todos os cristãos de hoje. As palavras do Mestre de Nazaré são palavras de sabedoria que devem brotar do coração humano iluminado pela sua Palavra Santa. Sabedoria que o livro do Eclesiástico nos faz refletir, quando diz: “Como o forno prova os vasos do oleiro, assim o homem é provado em sua conversa…. assim a palavra mostra o coração do homem.” (27,6-7). Deus vai iluminando o homem em busca da sabedoria que transforma a sua vida e dos que o rodeiam.

Relendo a Palavra e refletindo os ensinamentos de Jesus e meditando sobre eles, o que poderemos trazer para a nossa vida? Onde nos toca e o que nos motiva a fazer? Que sabedoria podemos cultivar?

Quantas perguntas, e, quantas respostas podemos dar. Jesus nos ensina que não podemos ajudar o outro se não enxergamos primeiro as nossas falhas, ou seja, as traves que nos impedem de nos olhar e nos sentir tal como somos. Quanto tempo perdemos julgando os outros. Ou mais grave ainda, olhando para os outros com hipocrisia e nos fazendo de bons e justos.

Esta liturgia nos estimula a fazermos um exame de consciência muito profundo: Primeiro pensar sobre os obstáculos que nos cegam e nos fazem cheios de egoísmos, de ganâncias, individualismos, apegos às próprias ideias e hostilidade ao diferente. Tudo isso e mais outras atitudes são grandes empecilhos (traves) que barram a ação da Palavra de Deus em nós.

Livres das traves e abertos à sabedoria que vem de Deus os cristãos podem iluminar o mundo e oferecer uma proposta de transformação onde haverá vida nova e um mundo de paz e fraternidade. As guerras acabarão quando as sementes do Evangelho fecundarem novas relações e interações humanas. Quando o julgamento preconceituoso e as cegueiras forem retiradas dos olhos da maldade e a prepotência dos corações humanos.

Somente diante da sabedoria divina e do silêncio em que o ser humano poderá se colocar para se perceber, ele terá possibilidade de ser luz e assim conseguirá enxergar o caminho da vida. Enxergando o seu caminho poderá guiar outros seres humanos. Jesus nos pede que busquemos nos curar de nossas cegueiras para depois poder ajudar os outros.

Somente a humildade que nos leva ao reconhecimento de nossa condição humana poderá nos fazer novos. O cultivo da sabedoria que vem de Deus nos fará produzir bons frutos em qualquer fase de nossa vida. O salmo 91 nos exortará: “O justo crescerá como a palmeira… mesmo no tempo da velhice dará frutos, cheios de seiva e de folhas verdejantes…”.

Que sejamos bons discípulos, como o mestre (Lc 6,40), não acima dele, mas, como ele. Iluminados pelo Senhor e motivados pela sua Palavra que nos fortalece e nos liberta, poderemos dar glória por tantos cristãos, Sal e Luz do mundo, que semeiam o Evangelho em todos os cantos do nosso planeta, em vista de um mundo transformado, cheio de esperança e alegria.

VII DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: 1Sm 26, 2.7-9.12-13.22-23; Sl 102; 1Cor 15,45-49; Lc 6,27-38

 

⇒ POESIA ⇐

O AMOR ALÉM DO HUMANO

 

Amor aos inimigos, diz o Senhor,
Fazendo-nos amar na profundidade,
Indo além do dar e do receber,
Que é próprio da nossa humanidade.
Como fugir do convencional?
Como agir contrário ao mal?
E sair da vingança para a humildade?

Muitos humanos estimulam fortemente,
A revanche no lugar do perdão,
O olho por olho como sendo a lei,
Sufocando a reconciliação,
E, então, se esconde a verdade,
Não se vê o que é lealdade,
E emerge a forte contradição.

Fazer o bem aos enraivecidos,
Buscar vencer o ressentimento,
Provoca o bem, e, cura a pessoa,
Alivia os traumas e os sofrimentos,
Estimula a paz e a serenidade,
Faz caminharmos para a liberdade,
Cura a alma e seus ferimentos.

Bendizer os que nos praguejam,
Semear o bem e se desarmar,
Deixar que nosso coração,
Pulse livre sem se inchar,
Para que a vida seja alegria,
Seja inspiração pra poesia,
E, a estrada firme pra se caminhar.

E a oração aos caluniadores,
Que muitos vem a questionar,
Para alguns, quase impossível,
Mas ninguém pode desanimar,
Porque a oração é força vital,
Para os que creem é essencial,
Alimenta a alma e faz caminhar.

 

⇒ HOMILIA ⇐

O amor no alto nível cristão

Lc 6,27-38

 

A liturgia deste domingo vem nos trazer o tema do amor no mais alto nível, o qual brota da boca de Jesus. Trata-se do amor desprendido de recompensas ou de aprovação. O Evangelho de Lucas nos apresenta quatro pedidos de Jesus: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam e rezai por aqueles que vos caluniam” (Lc 6, 27-28). São conselhos que nos fazem pensar em nossas atitudes interiores e na prática de nossas posições no dia a dia de nossas vidas, no convívio com os outros.

Como seguir estes conselhos máximos de Jesus? As palavras dele nos inquietam, nos provocam e nos fazem pensar no desafio próprio do ser cristão na sua forma mais autêntica. Querendo ou não, o cristianismo é uma posição na contramão de muitas posturas e concepções, as quais podemos verificar nas nossas funções profissionais, nas escolhas políticas, no modo de vida de muita gente e, infelizmente, também presentes no cotidiano dos grupos humanos e das comunidades cristãs.

Às vezes esquecemo-nos destas palavras de Jesus e, portanto, agimos de forma muito incoerente com o Evangelho. Em diversos momentos podemos até afirmar que o pedido de Jesus é impossível de se viver. Esquecemos que as nossas curas interiores e a nossa conversão acontecem quando arrancamos os ressentimentos, quando nos desprendemos dos julgamentos e nos desfazemos dos desejos vingativos no nosso coração.

Entre tantos pedidos, Jesus ainda diz: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também a eles” (Lc 6,31). Quantas vezes desconhecemos este conselho e fazemos o contrário. Jesus nos motiva a vivermos atitudes novas em vista de um mundo novo. Numa sociedade de tantos incentivos a vinganças, discursos políticos incoerentes com o evangelho, somos chamados a nos despertar e nos iluminar para enxergamos as misturas de joio e de trigo presentes entre nós cristãos e também nos que se dizem cristãos e moralmente corretos.

Importante lembrar o texto da primeira leitura, quando Davi tendo a oportunidade de matar seu inimigo político, Saul, decide que esta não seria a sua atitude coerente com um pretendente a chefe de uma nação… Davi era o candidato ao trono, mas evitou sujar as mãos com o sangue da rivalidade e da sede de poder. Diz ele: “quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor e ficar impune” (1Sm 26,9). Os políticos do nosso país poderiam aprender muito com a atitude de Davi. Quantas vezes se mata o outro ou tenta-se armadilhas para se tomar o poder.

Assim foi a história humana ao longo da sua existência: posições do bem, fundamentadas no amor e conseguintemente fomentando a vida, e, posições do mal, onde está presente a morte por causa das disputas e vinganças as quais desaguam nas guerras e destruições da vida.

O que Jesus nos ensina no Evangelho, Davi já colocou em prática a milhares de anos antes. Mas em Cristo tudo é pleno e em vista do Reino de Deus. Não podemos também esquecer os tantos cristãos que vivem a favor da justiça, da caridade e da paz. O testemunho das pessoas que pregam o amor e encarnam em sua vida a atitudes e posições que a Palavra hoje nos pede, são expressões do evangelho no mundo.

Portanto, a liturgia de hoje nos motiva a olharmos para Jesus e acolhermos suas palavras carregadas das expressões que nos impulsionam a vivermos o seu amor e a sua misericórdia. Palavras, as quais brotam do seu coração divino. E assim, cada cristão é chamado ter as marcas do amor e da misericórdia de Deus.

Cristo é o novo Adão que veio nos visitar com sua humanidade e divindade, e, por isso, nos ensina aquilo que devemos fazer para transformar o mundo e ao mesmo tempo construirmos o seu Reino, que já acontece neste mundo quando se coloca em prática o amor aos inimigos, quando se vive a prática do bem, a benção aos que nos praguejam e a oração em favor dos caluniadores. Com a graça e a força de Deus é possível vivermos estas máximas de Jesus. Amém!

VI DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Jr 17,5-8; Sl 1; 1Cor 12.16-20,1-11; Lc 6,17.20-26

 

⇒ POESIA ⇐

MERGULHO NO MAIS PROFUNDO DA VIDA

 

Como a raiz da árvore próxima ao rio,
Buscando a energia e a força vital,
Assim é o homem que busca ao Senhor,
Vivendo sua essência original,
Com os pés no chão da vida, firmando,
Com segurança ele vai caminhando,
Sendo mensageiro, e, para o mundo um sinal.

Seguir o caminho da vida aventurada,
Na busca do verdadeiro sentido,
Nos propósitos das bem-aventuranças,
Com o caminho iluminado e fortalecido,
Sem se render a uma posição superficial,
Mas mergulhando na Palavra que é sinal,
E no abraço de um Deus amor e Pai querido!

O Senhor nos alerta a viver a felicidade,
Que se constrói pela nossa conversão,
Que se constrói na coerência e bondade,
Porque ele nos ensina a compaixão,
Nos motiva a vivermos no sumo bem,
Abraçados pela sua misericórdia também,
Porque ele nos oferece a redenção.

A Palavra do Senhor é também alimento,
Para os peregrinos da paz e da alegria,
Para os que promovem a justiça e a vida,
Na realidade da criação, a cada dia,
Porque Deus nos criou para a felicidade,
Para comunhão, o encontro e a fraternidade,
Como Pai amoroso nos fortalece e nos sacia!

 

⇒ HOMILIA ⇐

A felicidade que não se acaba

Lc 6,17.20-26

 

A liturgia deste Domingo nos apresenta Jesus descendo do monte e pregando as bem-aventuranças para as multidões e, especialmente, para os discípulos. A palavra de Jesus se dirige aos pobres, aos que passam fome, os que choram e aos que são odiados (cf. Lc 6,20-22). Esta realidade era percebida por Jesus no seu contato com o povo e na sua realidade conflituosa com os chefes políticos e religiosos da sua época.

A pregação de Jesus denuncia a realidade de pobreza, de fome, de angústia e de hostilidade em que o povo era vítima. Ele traz um alento e ajuda às pessoas a fim de que acreditem que as realidades de sofrimento humanas e terrenos podem passar. Outra realidade surgirá após esta vida. Jesus ao contemplar a realidade de seu povo traz a esperança e a segurança de que Deus está com os que sofrem e que ele quer construir um mundo de justiça, de paz e de alegria já neste mundo.

Os que buscam experiência da confiança no Senhor e que lutam por um mundo melhor são como a árvore plantada junto às águas, que estendem as raízes em busca de umidade (cf. Jr 17,8). Por essa razão, as pessoas que buscam o Senhor encontram força quando são atingidos pelo sofrimento, provindo da pobreza, da opressão e das calúnias que poderiam vir como consequência do discipulado.

A Palavra do Senhor será sempre o alimento que fortalece e a seta que orienta o cristão a seguir em frente. E, portanto, quem coloca sua existência numa busca do sentido mais profundo entenderá o significado das bem-aventuranças pregadas por Jesus. Os discípulos que acolheram o seu chamado entenderam que era preciso viver a experiência de desprendimento (pobreza) e, neste sentido, seriam também os bem-aventurados, os que encontraram em Deus o significado pleno de suas existências.

Num segundo momento a Palavra de Jesus também é dirigida a outro grupo: “Aí de vós ricos, porque já tende vossa consolação… Ai de vós que agora rides, porque tereis luto e lágrimas!” (Lc 6,24.25). Jesus alerta e provoca os que usam as suas riquezas com arrogância, aqueles que zombam dos que sofrem. Os “ais” de Jesus podem estimular a conversão dos avarentos, desumanos e zombadores. Sua voz pode ressoar como um apelo a uma mudança de vida em direção ao amor, à fraternidade e, sobretudo, a caridade.

Os cristãos podem se perguntar se no dia a dia de suas vidas não reproduzem as atitudes e posições desumanas e incoerentes ao evangelho. A cada encontro com o Senhor através de sua Palavra somos convidados a refletir sobre o sentido das bem-aventuranças.

Cabe nos perguntar sobre a provocação que as palavras de Jesus produzem no coração daqueles que se colocaram numa posição de opressão, de injustiça e firmam sua confiança unicamente nas obras e ações humanas, na adoração aos bens materiais, realidade que não possibilitam estabilidade à manutenção da essência do homem.

Precisamos entender que as bem-aventuranças não são uma apologia ao sofrimento, mas uma forma de dizer que a vontade de Deus seja presente e que o ser humano encontre a verdadeira felicidade. As bem-aventuranças nos apontam para a vida eterna, onde tudo é permanente passará e a vida será plena em Deus.

Portanto podemos nos perguntar: como está nossa vida de seguidor e servidor de Cristo?            Como procedemos e agimos no nosso dia a dia? Em quem depositamos nossa confiança? Para responder estas questões é importante vivermos em profundidade a experiência da fé no Ressuscitado e na nossa ressurreição, pois Cristo é o fundamento que nos faz seguir vivendo como peregrinos neste mundo em busca de uma vida de aventurança plena.

São Paulo escreve na sua carta aos coríntios: “… na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morrem. Nossa fé cristã deve se fundamentar na verdade destas palavras do apóstolo” (1Cor 15,20). Somente com esta confiança e esta certeza na ressurreição, podemos prosseguir com segurança nossa vida de discípulos e colocarmos nossos dons e testemunho a serviço do Reino de Deus, o qual já se inicia aqui pela nossa vivência fraterna, digna e coerente com o Evangelho. Amém!

V DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 6,1-2a.3-8; Sl 137(138); 1Cor 15,1-11; Lc 5,1-11

 

⇒ POESIA ⇐

AVANCEMOS PARA A MESSE

Avancemos para os campos,
Para as cidades, vilas e favelas,
Anunciemos nelas,
O dom do amor,
Também do fervor,
Sempre a proclamar,
E acreditar,
No que diz o Senhor.

Avancemos com a barca de Jesus,
Em busca das multidões,
Em mutirões,
Para viver a pesca,
Pois ainda resta,
A nossa obediência,
Na paciência,
E na vida honesta.

Avancemos com os discípulos,
Que firmes seguiram,
E se uniram,
A caminhar,
Vivendo a pregar,
As vezes a cair,
Mas sem desistir,
Sempre a levantar.

Avancemos para os mundos humanos,
Em suas existências,
Com suas essências,
Se fazendo união,
Na vida de irmãos,
Nas tantas partilhas,
Que para o mundo brilham,
Pela comunhão!

 

⇒ HOMILIA ⇐

Eis-me aqui, envia-me!

Lc 5,1-11

 

A liturgia que celebramos neste Domingo é toda voltada para a dimensão vocacional, pois, presenta o chamado dos primeiros discípulos de Jesus. Até então, nas liturgias anteriores, vimo que Jesus agiu e falou sozinho e dentro da sinagoga, dentro do templo. A partir de agora ele está em movimento, sairá do espaço religioso. Formará o seu grupo para presenciar o Reino, pois agora, cercado de seguidores fará a experiência da missão no mundo.

Podemos imaginar o cenário deste texto: uma manhã à beira do mar; uma multidão que cerca Jesus; pescadores desanimados pelo insucesso no seu trabalho, barcos vazios… tentaram a noite toda e não tiveram êxito na pesca.

O texto de Lucas terá três momentos que poderão ser observados para a nossa reflexão: (i) a pregação de Jesus à multidão; (ii) a pesca milagrosa; e (iii) o chamado aos quatro primeiros discípulos – Pedro e André; Tiago e João.

Depois dos ensinamentos às multidões, Jesus ordena a Pedro e aos seus companheiros que avancem para águas mais profundas e lancem as redes (cf. Lc 5,4), pois estavam na margem. Esta ordem arrancou Pedro da acomodação e do desânimo, que somente pela obediência ao Senhor atende ao pedido.

O resultado da ação dos futuros discípulos é o grande milagre da abundância de peixes que quase rompe as redes. Em seguida vem a confissão de Pedro: “Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!” (Lc 5,8). Este reconhecimento de que Jesus é o Senhor já sinaliza para a sua ressurreição quando vencerá a morte e trará a todos a prova de que ele é o Deus verdadeiro e quer que todos ressuscitem.

O terceiro momento é o chamado dos discípulos para serem pescadores de pessoas, para se lançarem no mundo com Jesus e viverem a missão de anunciar que o reino de Deus está próximo. O texto diz: “eles levaram os barcas para a margem, deixaram tudo, e seguiram a Jesus.” (Lc 5,11).

A barca é um símbolo que representa a Igreja onde Jesus opera o milagre da abundância, onde ele sacia todos da fome. Fome que deixa as pessoas desanimadas e sem motivação para continuar a jornada da vida.

Para os que seguem de forma mais radical o Senhor, faz-se necessário ser obediente para ir além das práticas religiosas e se lançar no mundo para testemunhar que a salvação está a nossa porta. Também é importante que no dia-a-dia da missão cristã, quando faltar a coragem e o ânimo para continuar, precisamos nos voltar para o Senhor e confiar na sua Palavra. Ela nos encoraja a continuar e a sermos sal e luz do mundo, onde quer que estejamos. Ele também nos aponta o caminho a seguir.

É importante para os missionários o reconhecimento de que somos pecadores e precisamos confessar a nossa fé no Senhor que nos chama; também é importante a vontade de ser melhor a cada dia, pois é isto que nos faz crescer. Precisamos discernir quando é necessário deixar aquilo que para nós “é tudo” e seguir em frente, mesmo continuando a nossa profissão, colocando os nossos bens e nossas capacidades (dons) a serviço do Reino.

Peçamos ao Espírito Santo o dom fortaleza para sermos melhores cristãos e digamos, como São Paulo, que somos o que somos pela graça de Deus (cf. 1Cor 15,10) e completemos com as palavras do profeta “aqui estou! Envia-me!” (cf. Is 6,8).

IV DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

Leituras: Jr 1,4-5.17-19; Sl 70(71); 1Cor 12,31;13-1-13; Lc 4,21-30

 

⇒ POESIA ⇐

MARCADOS PELO AMOR

Somente no AMOR,
Somos capazes de caminhar,
Seguir firmemente e sem desanimar,
Caminhar com o coração livre e dizer:
Que a caridade não se deixa vencer,
Pois o nosso julgamento final será pelo amor.
Quando em nós houve o agir acolhedor,
E a esperança nunca a desaparecer!

Somente com o AMOR,
Exalamos o perfume da vida verdadeira,
Vindo da flor que sai da videira,
Vida que segue até eternamente,
Se estendendo com calma e fraternalmente,
Fundamentada na Palavra sempre Viva,
Encarnada e com a unção ativa
Que se cumpre no hoje no povo crente.

Somente no AMOR,
Semeamos também nos gestos de profecia,
Da verdade não aceitada que se anuncia,
Porque a Palavra está na boca dos profetas,
Que falam, agem, motivam e despertam,
Denunciam as mentiras e a injustiças,
Os poderes, opressões e cobiças,
E por isso caminha também em alerta!

Somente no AMOR,
Somos capazes de entender,
Que desde o ventre e ao nascer,
Fomos por Deus, chamados e amados,
A serviço do Reino a ser implantado,
Que se dar na vida e na comunhão,
Na comunidade viva dos irmãos,
No encontro que nos faz congregados.

 

⇒ HOMILIA ⇐

A caridade como chave para o Reino de Deus

Lc 4,21-30

 

O Evangelho deste Domingo é a continuidade da liturgia dominical anterior. O texto do evangelista Lucas inicia exatamente onde terminou no Domingo passado: “Então começou a dizer-lhes: ‘Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura’.” (Lc 4,21). Diante da afirmação de Jesus dois grupos tiveram reações diferentes: os que davam testemunho a seu respeito, admirados com as palavras cheias de encanto que saíam da sua boca (cf Lc 4,22). E os que ficaram furiosos, que expulsaram da cidade e queria lançá-lo no precipício (cf. Lc 4,28-29).

Este texto nos traz duas reflexões importantes para a evangelização da Igreja nas diversas realidades humanas e culturais. Podemos recordar que diante das palavras de Jesus um grupo ficou admirado e até dava testemunho de Jesus, pois o reconhecia como um conterrâneo seu: “Não é este o filho de José?” (Lc 4,22). Porém outra turma ficou furiosa, pois quando Jesus faz memória da Primeira Aliança lembrando a ação de Deus em favor da viúva em Sarepta e do leproso Naamã que eram de outros povos, justificando que a ação de Deus não está restrita a um grupo de privilegiados, estes os expulsaram e queria assassiná-lo, lançando-o no precipício.

Pois bem, para os cristãos que estão na caminhada evangelizadora levando a Palavra como discípulos missionários, faz-se necessário estar atentos a estas duas realidades do mundo: na pregação sempre haverá os que escutam e ficam até admirados, depois dão testemunhos como seguidores do Senhor. Por outro lado, há os que não aceitam e até matam os profetas da verdade tentando calá-los.

Na primeira leitura lemos sobre o profeta Jeremias: “antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei. Eu te constituí profeta para as nações.” (Jr 1,5). Aqui vale frisar a experiência da profecia. Os cristãos são chamados a viverem pela vida e pregarem a experiência de ser, às vezes hostilizado, ignorados ou perseguidos como Jesus.

Meu irmão, minha irmã, você já se sentiu perseguido porque falou verdade, porque denunciou alguma injustiça ou porque se colocou a favor da vida?

E há ainda outra dimensão própria dos cristãos e que Lucas faz questão de frisar nos seus textos: a universalização da Palavra. Ou seja, inicialmente, todos são destinatários da salvação, dentro da sua liberdade e possibilidade de aceitar ou não.

Quando se fala das nações é exatamente neste sentido da Palavra dirigida a todos os povos e não somente a Israel. Percebemos então que já havia uma mensagem da Palavra de Deus através dos profetas que fomentava a universalização da libertação esperada pelos hebreus, porém dirigida a todas as nações.

Por fim, é importante meditarmos sobre a carta de São Paulo aos coríntios: “atualmente permanecem estas três coisas: fé, esperança, caridade. Mas a maior delas é a caridade.” (1Cor 13,13). Neste versículo temos a compreensão da base da vivência cristã, seja na evangelização ou nas ações sociais. Tudo o que fazemos deve ser fundamentado no amor com sentido caritas, pois sem este fundamento nossa pregação fica vazia e nossa ação será apenas uma filantropia fria e sem compromisso com o outro.

Peçamos as luzes do Espírito Santo para que ilumine nosso coração e nossa mente para entendermos o sentido principal do nosso ser cristão. Fiquemos com a máxima de São João da Cruz: “Pois ao entardecer do meu mortal viver serei julgado pelo amor.” Amém

III DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Ne 8,2-4a.5-6.8-10; Sl 18(19); 1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4; 4,14-21

 

⇒ POESIA ⇐

O ESPÍRITO DO SENHOR ESTÁ SOBRE NÓS

O Espírito do Senhor está sobre nós
Para que ilumine o nosso caminhar,
Para que purifique o nosso olhar,
Para que no corpo do Senhor,
Encarnemos o seu Amor,
E não venhamos a desanimar.

O Espírito do Senhor está sobre nós
Para fazermos o Reino acontecer,
No “hoje” desde o amanhecer,
Como naquele dia da Ressurreição,
Certeza da nossa redenção,
Infinita nossa vida há de ser.

O Espírito do Senhor está sobre nós
No seguimento de discípulos missionários,
Na vida dos pobres sendo solidários,
Para sermos sal e luz do mundo,
Vivendo com amor profundo,
Trabalhando como dignos operários.

O Espírito do Senhor está sobre nós,
Na escuta da Palavra e na oração,
Como membros em fraterna comunhão,
Vivendo em Cristo o amor perfeito.
Pra ser feliz não há outro jeito,
Somente buscando a santificação.

 

⇒ HOMILIA ⇐

Jesus é o cumprimento das Escrituras

Lc 1,1-4; 4,14-21

 

A liturgia deste Domingo, no que se refere ao Evangelho, nos apresenta dois trechos distintos de Lucas, ambos carregados de uma profunda mensagem. Na primeira parte (1,1-4) trata-se da introdução onde podemos observar as quatro etapas da formação dos evangelhos: (i) os acontecimentos sobre Jesus (cf. 1,1); (ii) a pregação dos apóstolos e discípulos de Jesus, os quais Lucas chama de testemunhas oculares e ministros da palavra (cf. 1,2); (iii) vários escritos menores também transmitidos pelos primeiros cristãos (cf. 1,2); (iv) o próprio escrito do Evangelho como lemos atualmente, quando o evangelista fala que decidiu escrever de modo ordenado (cf. 1,3).

Toda a introdução é dirigida a um certo Teófilo, que os estudos bíblicos e teológicos traduzem como “amigo de Deus”, ou seja, aqueles que estão abertos ao chamado do Senhor e querem seguir a sua Palavra e o seu caminho.

A segunda parte nos mostra Jesus indo à sinagoga como de costume. Na liturgia das sinagogas, celebradas aos sábados, eram proclamadas duas leituras: uma do Pentateuco, seguida do comentário de um especialista; e a outra tirada dos profetas, que poderia ser comentada por qualquer pessoa que tivesse a permissão do presidente da assembleia.

Parece que para muitos naquele sábado era uma celebração comum como as outras, mas não foi. Após a leitura feita por Jesus, algo era diferente: todos estavam de olhos fixos nele (cf. Lc 4,20). Jesus tem a permissão e faz uma homilia, afirmando que aquela palavra do Profeta Isaías (cf. 61,1-2) se cumpriu naquele momento. Mesmo que o povo esperasse por alguém para trazer a libertação de Israel anunciada pelos profetas foi difícil aceitar a afirmação de Jesus.

Jesus anuncia o programa da sua missão: a Boa-Nova (Boa-Notícia) direcionada aos pobres (devedores, cativos, doentes, oprimidos) que esperavam da parte de Deus tal benevolência. O olhar voltado para os pobres está mais presente em Lucas do que nos demais evangelistas, embora seja esse o projeto do Reino apresentado por Jesus. Ele é a própria Palavra encarnada, nele está encarnado o sonho do povo de Deus prefigurado na primeira leitura (livro de Neemias), quando Esdras celebra com o povo a Palavra de Deus para nutrir a esperança e para a renovação da Aliança com o Senhor. O texto de Neemias nos apresenta uma lista de orientações litúrgicas e, sobretudo, mostra-nos como deve ser o verdadeiro culto a Deus.

Ao declarar: “hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura.” (Lc 4,21) Jesus nos apresenta o cumprimento da chegada do Reino, o “hoje” determina que chegou a hora de vivermos plenamente a Palavra como regra principal, pois a libertação anunciada por Jesus é a própria redenção do homem, a salvação para todos. O vazio que torna as pessoas escravas das drogas, do álcool, da prostituição do corpo e das ideias relativistas é a maior pobreza. Além disso, o comodismo e a incoerência dos cristãos também trará consequências como a pobreza material, moral e as injustiças para os pequeninos de Deus.

Portanto, Jesus indica o que é necessário que façamos como seguidores dele e, sobretudo, como membros do seu corpo. É o que fala São Paulo na primeira carta aos Coríntios: “Vós, todos juntos, sois o corpo de Cristo e individualmente, sois membros desse corpo.” (1Cor 12,27). Ser membro do corpo de Cristo é sentir a dor dos outros membros, é também valorizar cada pessoa com dignidade independente do que seja, do que faça e do que tenha.

Para finalizar esta reflexão, podemos nos perguntar: qual o meu programa de vida cristã? Como batizado, será que tenho os olhos fixos em Cristo, para melhor viver o testemunho autêntico de um discípulo missionário do Senhor?

Peçamos ao Espírito Santo que nos conduza na nossa missão de seguidores de Cristo, sempre se sentindo como membro do Corpo de Cristo. Amém!

II Domingo do Tempo Comum – Ano C, São Lucas

 

 

Leituras: Is 62,1-5; Sl 95(96); 1Cor 12,4-11; Jo 2,1-11

 

⇒ POESIA ⇐

FESTA DO VINHO NOVO

Convidamos o Senhor
Para a festa nova da nossa vida,
Para matar a sede que nos torna tristes,
Para transformar a estrada percorrida,
Superando a barreiras que existem,
E que torna nossa história sofrida.

Convidamos a nossa Santa Mãe,
Que percebe nossas dificuldades,
Quando não temos o suficiente,
Para prosseguir o encontro com a verdade.
Pois nem sempre há clareza existente,
Para seguir o caminho da unidade.

Convidamos ainda os primeiros seguidores,
Que pela fé aderiram o Senhor,
Para sempre foram anunciadores,
Mesmo diante das barreiras e da dor,
Viveram a santidade como grandes pregadores,
Entregaram a vida com radical amor.

Que sejamos servos obedientes,
Quando o Senhor algo nos pedir,
Possamos exercer a liturgia da vida,
Vivendo a santidade agora e aqui,
Que nossa missão nunca seja esquecida,
E que o vinho novo possa sempre existir.

Que a mesa santa traga-nos a fraternidade,
E os gestos falem mais do que pronunciamentos,
Trazendo os sinais da transformação,
E a alegria viva como fermento,
A justiça e a paz via de comunhão,
E o amor na vida: sentido e sustento.

 

⇒ HOMILIA ⇐

Fazei tudo o que o Senhor vos disser

 

Estamos na primeira parte do Tempo Comum que totaliza cinco semanas até o início da Quaresma. A liturgia da Palavra nos apresenta o evangelista João com o conhecido texto das Bodas de Caná.

Na cultura judaica as festas de casamento duravam em média uma semana e o vinho era a bebida principal a qual não poderia faltar. Mas naquela festa, a qual estavam Jesus, Maria, os discípulos e muitos outros convidados, faltou o vinho. Maria, na sua sensibilidade e percepção da situação, quer livrar os noivos de tão grande constrangimento, ela tem consciência e a certeza que Jesus poderia resolver o problema, por isso o chama, pedindo que encontre uma saída e depois fala para os servos da festa que obedeçam ao que o Senhor disser (cf. Jo 2,5).

E Jesus opera o seu primeiro milagre, que o evangelista João chama de primeiro sinal, pois a água transformada em vinho é sinal de vida nova ao mesmo tempo em que já aponta para a sua ressurreição e a certeza da nossa salvação por meio dele.

O vinho novo também se relaciona com a Eucaristia quando é transformado no corpo e sangue do Senhor, o sangue da Nova Aliança que nos conduz à nossa redenção.

Podemos refletir mais alguns pontos desta passagem do evangelista João: a presença de Maria neste episódio nos leva a meditar que ela é a intercessora diante das nossas necessidades, ela é primeira discípula de Cristo e também quem primeiro nos pede para obedecer à palavra de Deus: “Fazei tudo o que o Senhor vos disser” (Jo 2,5). Depois, o sinal de Jesus realizado numa festa de casamento nos aponta para a primeira leitura, em que o profeta diz que “já não te chamarão ‘Abandonada’, nem chamarão à tua terra ‘Desolação’. Antes, será chamada ‘Meu prazer está nela’, e tua terra, ‘Desposada’. Com efeito, o Senhor terá prazer em ti e se desposará com tua terra.” (Is 62,4). Na caminhada do povo de Israel, Deus é o esposo fiel mesmo diante das infidelidades de seu povo. No Novo Testamento Jesus é o esposo fiel da Igreja que doa seu corpo e seu sangue para que esta seja alimentada e torne-se presença do Reino no mundo.

Outro ponto interessante é que este primeiro sinal de Jesus fez os discípulos crerem nele, significando que a partir daí eles fizeram a adesão verdadeira e seguiram alimentados pela fé no Senhor que os chamou.

O encontro com o Senhor e a vivência da fé nele, deve nos levar para a experiência do discipulado missionário onde devemos testemunhar o próprio Cristo e ser sinal de amor no mundo de tantas controvérsias. O amor de Deus por nós é constante e eterno, ele é o esposo fiel mesmo que haja infidelidade ao longo do caminho que percorremos, ele que não deixa acabar o vinho da alegria na festa da nossa vida.

Não podemos esquecer que o matrimônio é o grande sinal do Reino no mundo, expresso na unidade, na fidelidade, no respeito, no diálogo e sobretudo no amor do casal. A família que vive tais virtudes são sinais da presença de Deus e ao mesmo tempo como em Caná, onde o Senhor faz o milagre do vinho novo símbolo da constante alegria da vida e do amor abundante no mundo.

Há uma presença sensível e auxiliadora na vida dos cristãos, que é a intercessão de Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa. Ela percebe quando falta algo em nossa vida e pede ao Senhor que opere o milagre da restauração e da saciedade. A nós cabe a atitude dos servos da festa: que sejamos obedientes, ou seja, devemos assiduamente ler e meditar a Palavra de Deus que nos converte, nos chama e depois pela fé nos tornamos discípulos missionários de Cristo, como Maria.

Peçamos as bençãos de Deus para uma caminhada marcada pela felicidade em Deus e que Maria interceda sempre por nós quando nos faltar aquilo que mais nos torna firmes na caminhada: a alegria de sermos filhos e filhas de Deus. E que lembrando a Carta de São Paulo aos Coríntios (cf. 12,4-11), possamos ser sinais de serviço ao Reino com os diversos dons que Deus nos concede, sobre a luz do mesmo Espírito, que nos ilumina, nos fortalece e nos capacita em nossa missão para sermos sinais do amor e da alegria no mundo. Amém!

BATISMO DO SENHOR – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 42,1-4.6-7; Sl 29(28); At 10,34-38; Lc 3,15-16,21-22

 

⇒ POESIA ⇐

BATIZADOS PARA O REINO

Como um mergulho na vida de Cristo,
Sem sabermos o tamanho desta realidade,
Somos chamados a amar de verdade,
Num caminhar de discípulos amados,
Pela alegria imensamente inundados,
E na convicção da nossa santidade.

Filhos do mesmo Pai misericordioso,
Nossa fonte da eterna Criação,
A Ele também nossa adoração,
Como irmãos na mesma caminhada,
Num olhar de vida contemplada,
Alegres pela vida em missão.

Guiados pelo Espírito de amor,
Ao receber a sua santa unção,
Que nos alegra pela sua inspiração,
Que conduz na nossa longa estrada,
E nos fortalece nas nossas jornadas,
Ajudando-nos na nossa santificação.

Batizados para formar comunhão,
Para sermos sinal para a humanidade,
Sendo ação na fé e na caridade,
Seremos do Reino, continuadores,
Discípulos de Cristo, evangelizadores,
Nas mais diversas realidades.

Trindade Santa, Deus de amor,
Fazei conosco comunhão,
Fortalece-nos na oração,
Para do Batismo não desanimar,
Mas cada vez mais fortificar,
Nossa gratuita filiação.

 

⇒ HOMILIA ⇐

O Batismo do Senhor e o nosso batismo

 

Festejamos o Batismo do Senhor e logo depois desta liturgia dominical já iniciamos, no dia seguinte, segunda-feira, o Tempo Comum, num período de cinco semanas, as quais nos separam da Quaresma.

Lucas nos apresenta nesta leitura, o testemunho de João Batista e o Batismo de Jesus. Conta o evangelho que havia uma expectativa por parte do povo referente a João Batista. João faz a distinção entre o seu batismo e o de Jesus. “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com o fogo.” (Lc 3,16). O mesmo Espírito que falou pelos profetas, também marca o início da missão de Jesus e faz nascer em pentecostes a Igreja e sua missão.

É dentro da realidade do batismo de João Batista que entra em cena Jesus para ser batizado. Fiquemos atentos para os detalhes do acontecimento do batismo de Jesus: Achava-se em oração, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corporal, como pomba. “E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho; eu, hoje, te gerei!’.” (Lc 3,22).

A oração de Jesus é o sinal do seu contato com o Pai e a pomba nos lembra a Arca de Noé depois do dilúvio voltando com um ramo de oliveira trazendo a mensagem da possibilidade de nova vida na terra (cf. Gn 8,11-12). A voz do Pai unge o Filho para o início de sua missão entre os homens. Nesta narração também identificamos a presença da Trindade no mundo, que é manifestada para nos mostrar que se inicia caminhada de Jesus à sua paixão, morte e ressurreição, dirigindo-se até pentecostes.

Jesus é o servo anunciado por Isaías: “Eis o meu servo que eu sustento, o meu eleito, em quem tenho prazer. Pus sobre ele o meu Espírito, ele trará o direito às nações.” (Is 42,1). Esta missão está bem detalhada nos Atos dos apóstolos: “ele passou fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo diabo, porque Deus estava com ele.” (At 10,38).

A Festa do Batismo do Senhor nos faz refletir sobre a vivência do nosso batismo na caminhada cristã como seguidores de Jesus. É a Trindade Santa que uma vez marcando a nossa vida na entrada para o novo povo de Deus, estará sempre na nossa missão de cristãos inseridos na morte e ressurreição do Senhor.

É conduzido pelo Espírito Santo que continuamos firmes na nossa vida familiar e na evangelização, é assim que somos inspirados nas nossas pregações, encontros de catequese, reuniões de família e, sobretudo vivendo o Culto Eucarístico e da Palavra que é centro da nossa vida de batizados, como Igreja peregrina em busca do céu.

Também, é nos sentindo na condição de filhos de Deus que nos alegramos como irmãos e irmãs numa mesma família amada e querida pelo mesmo Pai de amor e de misericórdia. E é sendo discípulo e missionário de Jesus que construímos juntos o Reino, que é de justiça, de solidariedade, de paz, de amor, de alegria e de comunhão num mundo que segue na contramão das realidades do evangelho.

Marcados por esta certeza da presença da Trindade na nossa vida batismal, podemos cantar alegres, o refrão pascal: “Banhados em Cristo, / somos uma nova criatura. / As coisas antigas já se passaram, / somos nascidos de novo”.

 

SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – ANO C, SÃO LUCAS

 

Leituras: Is 60,1-6; Sl 72(71); Ef 3,2-3a.5-6; Mt 2,1-12

 

POESIA

CAMINHAR EM BUSCA DO MENINO

Seguindo a estrela de Belém,
Marcados pelo desejo de encontrar o Senhor
Vão os caminheiros do oriente,
Com o coração ardente,
Prontos para adorar,
E também para ofertar,
Os seus ricos e simbólicos presentes.

O encontro com o Deus menino,
Muda a direção dos curiosos caminheiros,
Seguem um caminho transformado,
As trilhas são de homens renovados,
Que vão levar a divina alegria,
Que pra eles antes não existia,
E agora é um sonho precioso realizado.

Também nós devemos seguir este caminho,
Via que nos leva até o Deus encarnado,
Para sermos discípulos com dons a oferecer,
Adorando o Senhor para na fé crescer,
Num caminho de evangelização,
Marcado pelo amor e a oração,
Convictos de um constante converter.

Não façamos como o rei tirano e solitário,
Que somente quis saber onde nasceu o Salvador,
Não se dispôs trilhar o caminho e até a ele chegar,
Pois teve medo de perder o seu lugar,
Mas o reinado do Senhor é diferente,
É de amor e para todos, como presente,
Para os que querem o encontrar.

Carreguemos o sentido da salvação universal,
Onde todos têm direito aos dons divinos.
Pois, todo homem é chamado à conversão,
De qualquer canto do mundo ou nação,
Basta abrir o coração a grande novidade,
Por que Deus veio morar na humanidade,
Para nos presentear com a salvação.

 

HOMILIA

Os magos do oriente são atraídos pela luz do Senhor

 

A Solenidade da Epifania[1] do Senhor nos traz o texto de Mateus, o qual nos conta o nascimento de Jesus em Belém. O Evangelista nos situa dentro do reinado de Herodes, o qual se sente ameaçado por tal acontecimento e procura encontrar o menino (cf. Mt 2,3).

Os especialistas nas escrituras (mestres da lei) localizam o texto do profeta Miquéias (5,1-4), que cita o nascimento do Messias em Belém. Em cena aparecem também os magos do oriente, que estão curiosos. Eles não têm as escrituras para decifrarem sobre o nascimento do Jesus, mas querem chegar até ele (cf. Mt 2,2). Herodes quer usar os magos para chegar até o menino, mas não consegue. No entanto, os magos são avisados em sonho para voltarem dessa grande jornada de busca e visita ao Messias por outro caminho (cf. Mt 2,12), para que Herodes não tenha a localização do Presépio.

A nossa reflexão mais importante deve se voltar para o significado da visita, das ofertas e da volta dos magos por outro caminho. Em primeiro lugar, a interpretação teológica nos ensina que os magos representam os gentios em sua diversidade racial, buscando e acolhendo a salvação universal que Deus através de seu Filho, Jesus Cristo, o Enviado.

Ir ao encontro do Menino significa a busca dos que querem encontrar-se com Deus. O texto de Mateus nos ensina que a Salvação em Cristo é para todos os homens, como nos fala São Paulo na segunda leitura: “os gentios são co-herdeiros, membros do mesmo Corpo e coparticipantes da Promessa em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.” (Ef 3,6).

Um segundo ensinamento sobre a visita dos magos são as ofertas feitas por eles: ouro que é símbolo da realeza de Cristo; incenso, a sua divindade; e mirra, a sua unção no túmulo, no corpo (natureza humana) e a incorruptibilidade do seu corpo que culmina na Ressurreição. Antes mesmo das ofertas, os magos se ajoelham diante do Menino e o adoram (cf. Mt 2,12).

Num terceiro momento podemos lembrar que os visitantes retornaram para sua terra seguindo outro caminho, significando que o encontro com o menino Jesus transforma a vida daqueles que vivem a experiência que o Filho de Deus proporciona, tal como posteriormente aconteceu com a adúltera, com Zaqueu, com a Samaritana, com Bartimeu, com a hemorroíssa. Isso para ficar em apenas alguns relatos dos Evangelhos. Mas teremos inúmeros outros casos de Jesus e daqueles que caminharam em discipulado com ele nos três anos de ministério na Terra Santa. E essa experiência tem sido passada ao longo dos vinte séculos após a passagem do Galileu.

Portanto, a liturgia da Epifania do Senhor deve nos levar a meditar sobre a constante necessidade que temos de encontrar Jesus e renovar nossa caminhada, abrir novos caminhos e avançar na vida de discípulos amados por ele. A nossa vida deve ser de louvor marcada pela alegria que o encontro pode nos proporcionar. Podemos ainda nos perguntar: o que temos para oferecer a Deus? Que dons podemos colocar a serviço do Reino?

A dimensão universal da salvação, proposta em Mateus, pode nos direcionar para o aspecto ecumênico nas nossas ações cristãs em nossos relacionamentos com os irmãos de outras Igrejas e no nosso trabalho social voltado para serviço aos pobres.

Juntemos a nossa prece às das crianças do mundo inteiro, para que percorramos um ano novo cheio de muitas transformações na vida dos que querem encontrar o Senhor, dos que querem fazer uma caminhada marcada pelo crescimento espiritual, daqueles que querem juntamente conosco conhecer e seguir Jesus. Por fim, rezemos com o salmista: “As nações de toda terra hão de adorar-vos, ó Senhor” (Sl 72/71). Amém.

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[1] Do Grego, manifestação.