Apresentação do Senhor, Festa

Leituras: Ml 3,1-4; Sl 23(24); Hb 2,14-18; Lc 2,22-40

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Jesus: luz dos povos e glória de Israel

Lc 2,22-40

Neste 4º domingo do Tempo Comum, celebramos a Festa da Apresentação do Senhor. O texto de Lucas (cf. 2,22-40) nos apresenta o primeiro ato cultual de Jesus no Templo de Jerusalém e já nos lembrando do evento pascal onde será imolado como o Cordeiro da nova aliança para concretizar a redenção da humanidade.

O texto ainda nos remete ao clima natalino quando são transcorridos quarenta dias e Maria precisa fazer a sua oferta da purificação. Como era costume no povo de Israel quem não tinha muitos recursos para oferecer um cordeiro, poderia oferecer dois pombinhos, um para o holocausto e outro para o sacrifício pelo pecado (cf. Lv 12,8). Maria e seu esposo José fazem a oferta dos pobres, cumprem a lei do seu povo como família obediente ao que Deus lhes pede como justos e verdadeiros israelitas.

O Evangelista apresenta ainda em cena mais duas figuras: Simeão e Ana. Simeão quer dizer “escutador”, aquele que estava sempre a escuta e atento aos sinais dos tempos. Ana significa “graça”. Na sua oração atenta e silenciosa encontrou Deus e a sua graça, por isso começa a falar a todos da esperança na libertação da cidade santa, Jerusalém.

Na noite do nascimento, o Verbo de Deus se manifesta a céu aberto aos pobres que estão no campo, que pastoreiam e cuidam dos rebanhos. E como Pastor supremo e divino, vem nos mostrar que o seu amor e a sua luz é para todos os homens. Na apresentação no Templo, o menino se revela também aos pobres anciãos, orantes e atentos aos sinais e a presença de Deus para nos ensinar que os de coração aberto também oferecem um culto verdadeiro onde a oração e a escuta acontecem. Também veio para os levitas, os sacerdotes que com certeza estavam presentes e ouviram o louvor e a profecia de Simeão e Ana e perceberam que aquele rito de apresentação teve algo diferente e marcante dos tantos ritos que aconteciam no Templo durante o ano.

A apresentação do Menino Jesus no Templo nos convida a nos alegrar com Simeão e Ana, com Maria e José. Somos chamados a contemplar e acolher a Luz de nosso Deus em Cristo Ressuscitado. Na Palavra saboreamos a força e a luz para o nosso caminho, na Eucaristia, tomamos nas mãos, na boca e no nosso coração o Senhor que nos sacia com o seu amor e misericórdia.

Movidos pela alegria do Evangelho, que é a Palavra viva presente em nosso meio e pela Eucaristia, nosso alimento perfeito e verdadeiro, caminhamos como velas acessas e resistentes contra os ventos da tristeza, da desesperança e das injustiças. Com a graça, a alegria e luz do Senhor, somos movidos por ele e seremos luz para o mundo, brilhando na vida dos irmãos e irmãs que precisam do amor de Deus para transformarem suas vidas em alegria e paz verdadeira e se tornarem também mensageiro do Reino de Deus.

Meditemos nas Palavras de Simeão, as quais ficaram na Igreja e que ressoam na oração de todas as noites (na oração das completas, Liturgia das Horas), rezada pelos ministros ordenados, religiosos, comunidades de vida e muitos outros cristãos: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram tua salvação, que preparastes diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel.” (Lc 2,29-32). Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Jesus, glória e luz das nações

 

Nos braços da mãe é apresentado,
O Menino Deus, luz das nações,
A família santa oferece o culto,
Oferta de amor em seus corações,
Justiça que vem a todos os povos,
Nos lábios de Simeão, suas orações.

José do silêncio e da escuta,
Cumprindo as leis que vem do Senhor,
Humilde, obediente e silencioso,
Marido simples e cheio de amor,
Pai adotivo do Filho de Deus,
Carpinteiro Santo e trabalhador.

Nos braços de Simeão santa Promessa,
Deus está conosco a caminhar,
Palavra exigente e sentido forte,
Profecia sobre o ungido a anunciar,
Visitação vinda de Nosso Senhor,
Verbo encarnado a se apresentar.

Aos olhos de Ana, o santo Menino,
Profetiza orante em realização,
Que percebe Deus no santo Templo,
Na sua vida longa e meditação,
Louva, porque Deus está conosco,
Justiça aos povos e libertação.

Olhemos no amor a Família Sagrada,
Para todos os povos modelo perfeito,
Sempre prontos a ouvir e a meditar,
Sobre a Palavra santa e seus preceitos,
Que se concretiza no Emanuel,
Deus que visita seu povo eleito.

Olhemos a Deus Santo e amado,
Apresentado para nós no santo altar,
Manifestados primeiro aos pobres,
Na noite e nos campos a iluminar,
Nos braços firmes dos anciãos orantes,
No silêncio do Templo a se revelar.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, guia das nações e glória de Israel, ilumine o seu caminho! ***

III Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

Leituras: Is 8,23b-9,3; Sl 26; 1Cor 1,10-13.17; Mt 4,12-23

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Ele está no meio de nós

Mt 4,12-23

 

Neste 3º Domingo do Tempo Comum, vamos ler o Evangelho de Mateus (cf. 4,12-23). A nossa caminhada com o Senhor continua e nós contemplamos a sua luz brilhando no mundo. Jesus Cristo é a presença concreta do Reino de Deus entre nós, pela sua mensagem de amor, pelos seus milagres e pela sua ação salvadora, através da sua compaixão, paixão, morte, ressurreição e glorificação.

O evangelista Mateus nos informa que Jesus foi morar em Cafarnaum, que fica às margens do mar da Galileia, no território de Zabulon e Neftali (cf. Mt 4,13). Esta região é a mesma anunciada pelo profeta Isaías ao se referir ao povo de Israel quando estava escravo e oprimido nas mãos dos assírios, por volta de 732 a.C. Por isso o profeta Isaias anuncia a esperança para aquele povo: “O povo, que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandece” (Is 9,1).

Informado o contexto no qual o Evangelista nos apresenta, podemos afirmar que a presença de Jesus na Galileia é o cumprimento daquilo que o profeta Isaías anunciou: agora chegou a salvação para o povo que andava nas trevas. Jesus é a grande luz presente no mundo, pois anuncia a conversão, cura as enfermidades e ao mesmo tempo chama colaboradores para a missão, porque ele já é a presença do Reino em nosso meio.

Neste Evangelho também constatamos o chamado de Jesus aos primeiros discípulos, Simão Pedro e André, Tiago e João. Eles estavam na pesca. Pedro e André estavam lançando as redes e Tiago e João consertavam as redes na barca. Eram trabalhadores dedicados, mas o chamado de Jesus faz com que mudem imediatamente o percurso de suas vidas e sigam agora o caminho de Jesus. Saem logo, depressa, para anunciar por toda a Galileia, porque chegou a salvação.

Faz-se necessário que todos conheçam os ensinamentos sobre o Reino. Era preciso reconhecer a força de Deus em Jesus, o Filho amado que veio visitar o seu povo. Os discípulos são os primeiros colaboradores de Cristo para que o Reino de Deus possa chegar a todo o mundo, pois a Palavra deve se espalhar pelas nações para fermentar o coração da humanidade proporcionando libertação e sentido de vida das pessoas.

O apostolo são Paulo nos ensina como sermos irmãos em Cristo: Não podemos ser elementos de divisão na comunidade, pois o poder de Deus está na comunhão e na caridade. Assim nos fala o Apóstolo: “Irmãos, eu vos exorto, pelo nome do Senhor nosso, Jesus Cristo, a que sejais todos concordes uns com os outros e não admitais divisões entre vós.” (1Cor 1,10).

Tanto nós, como os primeiros discípulos, somos chamados a mudar o nosso percurso, se for necessário, para seguir o caminho de Jesus. Somos convocados pelo batismo a formarmos a comunidade de amor que o Senhor deseja. Somos chamados a anunciar o Reino, pois ele está próximo de nós. Está na Eucaristia, na assembleia reunida, na Palavra partilhada, nas curas, nas ações comunitárias, na luta por justiça, fraternidade e paz.

Deus opera milagres em nossas vidas, principalmente quando vamos nos convertendo cada vez mais ao seu Evangelho. Converter-se é trazer em nossa vida os mesmos sentimentos de Cristo. Como diz a popular música do Padre Zezinho: Amar como Jesus amou / Sonhar como Jesus sonhou / Pensar como Jesus pensou / Viver como Jesus viveu / Sentir o que Jesus sentia / Sorrir como Jesus sorria”. Isso é conversão!

Em Cristo somos livres e, ao mesmo tempo, somos chamados a libertar os outros como membros da comunidade viva de Cristo, a Igreja. O mar, no sentido bíblico, simboliza os perigos e as trevas. Os discípulos saíram desta escuridão para seguir a Luz do Senhor e, seguindo esta Luz, vão vencendo os perigos que podem levá-los aos tormentos presentes no mundo. Assim somos nós, os cristãos no mundo hoje, discípulos e missionários em meio aos desafios e trevas, mas confiantes na Luz de Cristo que nos ilumina, nos da força e aponta o caminho que juntamente com os irmãos em Cristo devemos seguir.

Que o Senhor nos abençoe e nos conduza na missão evangelizadora que ele nos confiou. Que nossa missão seja concretizada no nosso testemunho e na nossa vida na experiência de discípulos missionários. Que antes de pregarmos aos outros, possamos ter a convicção de que “Deus é nossa Luz e Salvação e que ele protege a nossa vida” (cf. Sl 26). Por fim, possamos ouvir o apóstolo Paulo na sua carta aos Coríntios: não somos de grupo A ou B, mas somos membros do povo do Senhor (cf. 1Cor 1,12). Amém!

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Tão perto de nós, ó Senhor

Olhemos para o altar,
Para o Cordeiro imolado,
Pedimos Deus nos venha salvar,
Nos livrando do pecado.

Ouvindo o que ele nos diz,
Nutrindo nosso coração,
Pedimos que nos faça feliz,
A vivermos como irmãos.

Entrando em sua morada,
E com os irmãos encontrando,
Queremos a paz anunciada,
E no amor comungando.

Nosso Cordeiro amado,
Entregou-se em humildade,
E ao seu banquete integrados,
Vivemos a fraternidade.

Seu alimento é vida,
E a nós se ofertou
Fonte de eterna acolhida,
Pois a morte derrotou.

E a nós, os batizados,
No Espírito abrasador,
Sejamos também enviados,
Do santo e vivo amor.

E pelo o mundo em missão,
Levemos sempre a verdade,
O Evangelho em ação,
Salve toda a humanidade.

E no Batismo ardente,
Luz do Espírito que irradia,
Preencha-nos a alma e a mente,
De pura e repleta alegria.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, presença concreta do Reino de Deus entre nós, ilumine o seu caminho! ***

II Domingo do Tempo Comum, Ano A, São Mateus

Leituras: Is 49,3.5-6; Sl 39(40); 1Cor 1,1-3; Jo 1,29-34

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Batizados em Cristo

Jo 1,29-34

 

Após a solenidade da Epifania e a festa do Batismo do Senhor nós entramos no tempo comum, período que contemplamos a ação do Verbo de Deus na história dos homens. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29), porque veio mergulhar em nossa realidade humana, santificou as águas e trouxe o batismo no Espírito Santo para resgatar a nossa imagem, a fim de que se assemelhe à d’Ele.

O Evangelho deste II Domingo Tempo Comum está em Jo 1,29-34, o qual nos apresenta João Batista apontando Jesus e confirmando o que ele já tinha anunciado nas suas pregações pelo deserto. João Batista também faz uma memória do acontecimento do Batismo de Jesus e a sua experiência de ter visto o Espírito Santo descer e permanecer (cf. Jo 1,33), como ouvimos na liturgia do domingo passado, na festa do Batismo do Senhor.

O profeta Isaías nos fala do Servo de Israel, que será luz das nações e que trará a salvação até os confins da terra (cf Is 49,3-6). Para nós, cristãos, Jesus é este servo, o Cordeiro que agora se entrega para salvar todos do pecado original. Ele traz a redenção e a paz para o mundo.

São Paulo, na carta aos Coríntios, dirige uma mensagem aos que encontraram em Cristo o fundamento da santidade. Os que estão em Cristo são chamados a viver os mesmos sentimentos dele (cf.1Cor 1,2-4). Por isso os batizados têm a missão de serem santos dentro das diversas realidades do mundo.

Como fermento que transforma a massa e que a faz crescer, assim são os batizados no Espírito Santo, os quais fazem crescer a força do Evangelho no mundo. Viver a santidade com os pés firmes no chão da vida e iluminando os outros para também trilharem o mesmo caminho. Por isso, devemos ouvir Deus, que sempre nos chama. Esta é a missão dos cristãos, esta é a “missão de todos nós”[1].

Não podemos viver uma espiritualidade mergulhada no isolamento e no intimismo, alheios às realidades concretas da vida as quais estamos inseridos. Onde quer que estejamos, somos chamados a dar testemunho do que vivemos. E dar testemunho sempre no meio das realidades onde estão ausentes os valores do Evangelho.

No seguimento a Cristo, somos chamados a tirar o pecado do mundo, porque ser seguidor é anunciar a justiça, é construir a fraternidade, vencer os males que afetam a realidade humana. Todas as vezes que nos reunimos para rezar, para planejar as ações de amor e de caridade estamos contribuindo para que a miséria que está no mundo seja diminuída.

Quando nos alimentamos do Corpo e do Sangue do Senhor, apresentados no altar de ação de graças e da doação do amor, somos nutridos para vivermos com perseverança e força a missão que o Senhor nos confiou. Não podemos esquecer que a apresentação do Cordeiro na Mesa da Eucaristia nos motiva a olhar para João Batista e fazermos o mesmo que ele fez: apontar para Cristo e apresenta-lo aos que ainda não o encontraram.

Olhemos para o Cordeiro que agora nos oferece um banquete fraterno e santo para nossa salvação e perguntemo-nos: somos capazes de reconhecer os nossos pecados os quais Cristo quer nos tirar? Quais são os pecados do mundo os quais estamos envolvidos? Que pecados queremos que Cristo tire do mundo, com a nossa colaboração?

São muitos os pecados os quais praticamos e que, de certa forma, podemos nomear nos dias de hoje: as injustiças sociais, a corrupção, as guerras, a opressão e a falta de acolhimento aos refugiados, as ambições, o egoísmo, o individualismo e, sobretudo, a omissão dos cristãos quando é preciso levantar a voz e defender a vida e a justiça.

Mas não esqueçamos dos tantos discípulos do Senhor (padres, bispos, diáconos, religiosos, leigos e outros) que se dedicam ao Reino com empenho através das missões nas dioceses, paróquias, nas diversas comunidades, e os missionários além fronteiras, os que se envolvem em favor da justiça, da paz e do amor. Os que semeiam com tanta fidelidade, entusiasmo e coragem a alegria do Evangelho.

Peçamos ao Espírito Divino que ilumine as nossas ações e os nossos corações para vencermos o medo e o comodismo e que nos venha a coragem de tomarmos consciência de nossos erros, os quais trazem consequências para a humanidade se distanciar da vida verdadeira. Que o Banquete do Cordeiro alimente a nossa vontade de vivermos fielmente o nosso batismo no Espírito de Deus em virtude de fazermos a experiência dos discípulos missionários neste mundo marcado por tantas controvérsias.

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[1] Trecho da letra da música “Missão de todos nós”, de Zé Vicente. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gWj-XoDuuGc>. Acesso em: 18 jan. 2020.

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Ele é o nosso Cordeiro

Olhemos para o altar,
Para o Cordeiro imolado,
Pedimos Deus nos venha salvar,
Nos livrando do pecado.

Ouvindo o que ele nos diz,
Nutrindo nosso coração,
Pedimos que nos faça feliz,
A vivermos como irmãos.

Entrando em sua morada,
E com os irmãos encontrando,
Queremos a paz anunciada,
E no amor comungando.

Nosso Cordeiro amado,
Entregou-se em humildade,
E ao seu banquete integrados,
Vivemos a fraternidade.

Seu alimento é vida,
E a nós se ofertou
Fonte de eterna acolhida,
Pois a morte derrotou.

E a nós, os batizados,
No Espírito abrasador,
Sejamos também enviados,
Do santo e vivo amor.

E pelo o mundo em missão,
Levemos sempre a verdade,
O Evangelho em ação,
Salve toda a humanidade.

E no Batismo ardente,
Luz do Espírito que irradia,
Preencha-nos a alma e a mente,
De pura e repleta alegria.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, ilumine o seu caminho! ***

Batismo do Senhor, Festa

Leituras: Is 42,1-4.6-7; Sl 28-29; At 10,34-38; Mt 3,13-17

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Deus Pai nos apresenta o seu Filho amado

Mt 3,13-17

Celebramos neste Domingo a Festa do Batismo do Senhor, a qual ainda se vive dentro do ciclo do Natal (que inclui dois momentos: tempo Advento e Tempo do Natal). A partir da próxima segunda-feira, já entraremos na primeira parte do Tempo Comum, que se estenderá até a terça-feira, antes do início da Quaresma. O Tempo Comum, o Advento e a Quaresma, na liturgia do domingo, são marcados por um ciclo de leituras contínuas, quando prevalece um dos Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos ou Lucas). No Ano A caminhamos com o Evangelho segundo Mateus, no Ano B meditamos os textos de Marcos e no Ano C temos as narrações do evangelista Lucas. A cada três ano este ciclo se reinicia. Há algumas exceções em cada ano, quando se usa o Evangelho de João, isto ocorre de forma mais acentuada no ano B (Marcos)

Portanto, no primeiro Domingo do Advento do ano passado reiniciamos o ciclo, e então, estamos no ano A, meditando o evangelho de Mateus. “Cada texto do Evangelho proclamado neste Tempo, na liturgia dominical, com exceção das festas e solenidades, nos coloca no seguimento de Jesus Cristo, desde o chamamento dos discípulos até os ensinamentos a respeito dos fins dos tempos”[1].

Nesta festa do Batismo do Senhor nós temos o texto de Mt (cf. 3,13-17), que nos narra o Pai eterno, após o batismo de João Batista no Jordão, nos apresentando o seu Filho ao mundo: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado” (Mt 3,17). E nós, cristãos de hoje, caminhamos alegres porque Jesus mergulhou nas águas para tornar-se solidário a todos que estavam afogados no pecado.

João Batista, aquele que preparou os caminhos do Senhor para que a humanidade conhecesse o Filho muito amado, se assusta com a presença de Jesus para ser batizado por ele: “Eu preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim?” (Mt 3,14). A presença do Filho de Deus, solidário aos pecadores também se expressa para se cumprir a justiça de Deus, pois a justiça se explica na vontade do Pai em apresentar o seu Filho para recuperar a imagem perdida quando no início nossos pais perderam esta marca da semelhança à imagem divina.

Neste texto de Mateus podemos ainda refletir sobre outras realidades espirituais e marcantes na manifestação do Batismo do Senhor. “Então o céu se abriu e Jesus viu o Espírito de Deus, descendo como pomba e vindo pousar sobre ele.” (Mt 3,16). Neste versículo podemos contemplar o Céu que se abre para se unir a Terra, já não há mais distância entre Deus e o homem, pois o Filho, Deus encarnado, está presente, caminhando junto a todos para anunciar, para curar, para nos dignificar como filhos amados também e chamar os homens à redenção.

Ainda percebemos também uma presença explícita da Trindade nesta teofania (manifestação divina), podemos ver o Pai que fala, o Espírito que, numa forma de pomba, desce sobre o próprio Jesus, o Filho muito amado. É presença da comunidade divina na terra, mostrando para a humanidade que Deus ama a todos querendo o retorno à vida eterna, retorno ao Céu.

Sempre iremos nos perguntar por que Jesus, sendo santo, sendo Deus, foi receber o Batismo de João? São Máximo de Turin (380-423)[2] num de seus sermões respondeu: “Cristo foi batizado, não para ser santificado pelas águas, mas para santificá-las e para purificar as torrentes com o contato de seu corpo. A consagração de Cristo é, sobretudo, a consagração da água. Assim, quando o Salvador é lavado, todas as águas ficam puras para o nosso batismo; a fonte é purificada para que a graça batismal seja concedida aos povos que virão depois. Cristo nos precede no batismo para que os povos cristãos sigam confiantemente o seu exemplo.”

A profecia de Isaías se cumpre no Batismo de Jesus. Cristo é “o centro da aliança do povo, luz das nações, para abrires os olhos dos cegos, tirar os cativos da prisão, livrar do cárcere os que vivem nas trevas” (Is 42,6-7).

O Batismo de Jesus deve nos reportar ao nosso batismo, pois é neste sacramento que resgatamos a imagem da beleza divina após a criação e alimentamos a esperança certa do caminho de volta ao reino eterno. É importante lembrarmos que a presença do Reino já inicia-se no aqui e no agora, quando todos nos tornamos fraternos, lutamos pela justiça e somos solidários na nossa caminhada de fé, e como sal e luz do mundo, promovemos a paz, o valor e o sentido da vida e proclamamos a alegria do Evangelho.

Peçamos a força do Espírito Santo para que tenhamos perseverança na vivência do nosso testemunho de batizados e que assumamos a missão de anunciar com firmeza e unção como Pedro nos falou nos Atos do Apóstolos: “Ele andou por toda a parte, fazendo o bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio; porque Deus estava com ele” (At 10,38b). Deus está conosco, na nossa vida de família, nosso ministério à Igreja, nas nossas comunidades, grupos da pastorais sociais, na luta pela justiça e no cuidado com a criação de Deus. Ele nos conduz em cada momento e em cada situação que encontramos nos cominhos desta vida. Amém.

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[1] Diretório da Liturgia, ano A, CNBB, 2013.

[2] Liturgia das Horas, ofício das leituras, sexta-feira após a Epifania.

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***

⇒ POESIA ⇐

O Filho amado

O Pai nos apresenta o Filho,
Aquele que se uniu à humanidade
Que se tornou um de nós em fraternidade,
Numa presença santa e de alegria,
Humilde, cheia de paz e harmonia,
Justiça divina e solidariedade.

O Pai nos dá o Filho,
Para se tornar nosso alimento,
Deus amigo em todos os nossos momentos,
Para cativar-nos ao seu amor,
Nas águas do Jordão, o santificador,
Livra-nos do pecado e seus tormentos.

O Pai nos envia o Filho,
Para ser o divino missionário,
Visitando-nos e a nós sendo solidário,
Promovendo a vida e seu sentido,
Contempla nosso caminho percorrido,
E do seu reino nos faz operários.

O Pai nos mostra o Espírito,
Para nos santificar e nos iluminar,
Conduzindo por onde a gente caminhar,
Numa inspiração do divino Amor,
Fortaleza, sabedoria, purificador,
Fazendo-nos povo novo a anunciar.

O Filho, é o eterno amado,
Deus, humano belo e perfeito,
O Cordeiro, o Servo, o Eleito.
E o Pai é a fonte do eterno amor,
Fiel à aliança, nos dá o Salvador,
Sua misericórdia, é nosso direito.

E nós filhos, por Deus, amados,
Ele que veio a nos encontrar.
Para na sua fonte nos batizar.
Purificando-nos do pecado primeiro,
Tratando-nos como amigos e herdeiros,
E nos convida para com ele morar.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, ilumine o seu caminho! ***

Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, Solenidade

 

Leituras: 2Sm 5,1-3; Sl 121(122); Cl 1,12-20; Lc 23,35-43

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Rei, reino e trono diferente dos “reinos” deste mundo

Lc 23,35-43

 

Chegamos ao último domingo deste ano litúrgico, ano C. E neste encerramento celebramos Cristo, Rei do Universo. A festa de Cristo Rei foi instituída como celebração litúrgica pelo Papa Pio XI em 1925. Inicialmente era celebrada no último domingo de outubro, o qual era próximo do dia de Todos os Santos, “a fim de que se proclamasse abertamente a glória daquele que triunfa em todos os santos eleitos”. Com a reforma do Concílio Vaticano II, esta festa foi transferida para o último domingo do Tempo Comum, concedendo um significado mais amplo, sublinhando a dimensão escatológica do reino em sua consumação final[1].

Olhando todo este percurso queremos também olhar para o Senhor e para nós no intuito de fazermos uma retrospectiva de tantos passos dados. A cada Eucaristia celebrada, aliada à dimensão da Palavra, nos fortalecemos de nossos desânimos e cansaços da vida. Por isso, essa ação precisa ser constante. Mas essa rotina é, como prometido por Jesus, suave e leve.

O Evangelho desta liturgia nos apresenta Jesus, o nosso Rei, num trono diferente, a cruz, de pernas e braços presos ao madeiro, porém a boca e o coração estão livres para anunciar e oferecer o seu Reino de amor e salvação aos que acolherem ou suplicarem.

Contemplamos ainda a sua coroa de espinhos e os ladrões ao seu lado. Um deles quis e soube fazer sua súplica, ele pediu que aquele Rei não se esquecesse dele no Paraíso e por isso conseguiu um lugar no Reino Celestial, pois a resposta de Jesus nos assegura esta afirmação: “Em verdade eu te digo: ainda hoje estarás comigo no Paraíso” (Lc 23,43)

A promessa que os profetas anunciaram sobre o Reino de justiça, de amor e de paz se cumpre plenamente em Jesus. Ele é da descendência de Davi, aquele rei que foi ungido em Israel para apascentar, conduzir, zelar e cuidar do povo, como rebanho que é do Senhor e não propriedade do rei terreno (cf. 2Sm 5,1-3).

Jesus é rei diferente, ele é o Bom Pastor, pois não somente conduz, mas se possível e necessário carrega as ovelhas nos seus braços, para que retornem ao rebanho. Sua autoridade é o serviço aos que estão perdidos, e carregados de fardos pesados, de cruzes que a vida terrena vai apresentando durante a caminhada. A comida para as suas ovelhas é seu próprio corpo doado gratuitamente, a bebida é seu próprio sangue derramado para purificar, para matar a sede de amor e fortalecer seus membros, os bem-aventurados que desejam inserir-se na multidão dos santos na glória celeste.

São Paulo, na segunda leitura, nos leva a contemplar a figura do nosso Rei o qual devemos sempre reconhecer como o verdadeiro: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois por causa dele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, as visíveis e invisíveis, tronos e dominações, soberanias e poderes” (Cl 1,15-16).

Muitas vezes queremos incutir em nossas ações e posturas o anúncio distorcido sobre o poder de Deus e seu reino. Esquecemos que quando pedimos “venha a nós o vosso reino”, estamos suplicando a presença de uma realidade divina em nossas vidas. A presença de Cristo em nosso meio é a presença da imagem do Pai Nosso, que nos congrega como irmãos, para formamos um Reino diferente do reino que o mundo dos homens concebe.

Portanto, a mensagem que a liturgia nos apresenta hoje é que possamos pensar naquilo que é a vontade e plano do reino de Deus. Enquanto existirem as tantas injustiças e dominações das pessoas sobre elas próprias, podemos dizer que está ausente e, ao mesmo tempo, há a necessidade do Reino de Deus. Quando há partilha, doação, fraternidade e a caridade entre as pessoas e para as pessoas, haverá um sinal concreto de que o reino de Deus está acontecendo já neste mundo.

Que a Eucaristia nos alimente na busca da construção do Reino de Jesus sobre o mundo e que a Palavra nos oriente na realização de nosso ministério como discípulos missionários na busca de contribuir e concretizar a Igreja como ambiente de expressão do reinado santo de Deus. Encerremos esta reflexão rezando alguns versículos do salmo responsorial desta liturgia: “Quanta alegria e quando ouvi que me disseram: vamos à casa do Senhor… A sede da justiça lá está e o trono de Davi.” Amém.

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[1] Cf. Roteiros Homiléticos do Tempo Comum – Ano B – São Marcos. Brasília, Edições CNBB, 2012.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Um Rei que nos quer no seu trono

 

Olho para ti Senhor,
Entregando-se na Cruz em liberdade,
Sendo em nossas dores solidariedade,
E vejo o teu amor se derramar por nós,
Querendo que ao seu trono cheguemos,
E por isso com medo não fiquemos,
Por que caminhamos perto de Vós.

Olho para ti Senhor,
Reconhecendo tua justiça e teu perdão,
Ansiando teu presente, à salvação,
Como aquele ladrão suplicando ao teu lado,
Levaste à Glória aquele que se compadeceu,
Porque tuas palavras no coração ele acolheu,
E por isso foi participar do teu santo reinado.

Olho para Ti, Senhor,
Caminhamos tanto, mas precisamos aprender,
Que o teu Reino ainda está a estabelecer,
Porque nos desviamos do teu caminho,
E assim precisamos muito pedir-te perdão,
E reconhecer que teu amor é imensidão,
E que não nos salvamos nunca sozinhos.

Olho para Ti, Senhor,
Neste trono, braços abertos para todas as nações,
Quer reinar fortemente em nossos corações,
E vejo o teu trono, acima do nosso olhar,
Quer nos conduzir ao “hoje” do teu paraíso,
Apenas o nosso querer e pedido é preciso,
Para nos conduzir a teu santo lugar.

Olho para Ti, Senhor,
Vejo o poder que vem do teu infinito amor,
O teu corpo que é alimento salvador,
Peço-te que nos ensine o teu jeito de reinar,
Tua palavra nos ensina por onde prosseguir,
Teu reinado é somente amar e servir,
E nada mais que se possa acrescentar.

Olho para Ti, Senhor,
E penso quando nos encontrar em fraternidade,
Quando o nosso apostolado se faz na caridade,
E assim vejo que teu Reino em nosso meio já está,
E a paz é em definitivo anunciada,
Nossa vida em comunhão concretizada,
Tendo em nós a certeza que tu nos salvará.

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*** Que a Palavra e a Luz de Cristo, Rei do Universo, ilumine o seu caminho ***

 

 

XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Ml 3,19-20a; Sl 97(98); 2Ts 3,7-12; Lc 21,5-19

 

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⇒ HOMILIA ⇐

Nossa fé e esperança se sustentam na Palavra de Deus e na Eucaristia

Lc 21,5-19

 

A caminhada litúrgica do Ano C está chegando ao seu término e nós, os cristãos, continuamos a caminhada, aguardando o novo ano, orientados pela Palavra de Deus e alimentandos pela Eucaristia, que nos sustenta na fé e na esperança. O 33º domingo do tempo comum nos apresenta, na liturgia da Palavra, Jesus orientando-nos e tornando-nos discípulos conscientes sobre as consequências da missão. Muitas são as realidades e acontecimentos que vão surgindo no mundo, muitas são as ameaças aos que creem e muitas são as vidas oferecidas para que o Reino de Deus seja anunciado.

Não devemos imaginar a missão e a experiência cristã como algo tranquilo e acomodado, vivenciada na zona de conforto das nossas vidas. O Senhor nos alertou sobre o que aconteceria aos que seguissem o seu caminho, porém podemos ter certeza que Ele também não nos decepciona quando nos promete a vida nova e eterna na sua glória.

Jesus se dirige aos que o acompanham, seus discípulos, e diz: “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” (Lc 21,9). Jesus se refere ao templo material, que é perecível, fala sobre os sinais, os combates e os falsos mensageiros que aparecerão para pregar outras doutrinas.

Os que seguem o Senhor e anunciam a sua Palavra serão agraciados com sua proteção e, portanto, não deverão temer o julgamento porque Ele o fará com justiça como nos fala o salmista: “O Senhor virá julgar a terra inteira; com justiça julgará. Logo seu julgamento será temido pelos que não a abraçam.” (Sl 97/98)

Muitos se deixam enganar, exatamente, porque ouvem mais o que falam de Jesus, do que fala o próprio Jesus ou, ainda, não estão conscientes do caminho que o Senhor da vida verdadeira nos apresenta. Por isso é importante escutar a Palavra e ruminá-la constantemente. Faz-se necessário, ainda, ao cristão exercitar a paciência e perseverança, dimensões esquecidas nos tempos pós-modernos, porém de suma importância para se construir um alicerce mais consistente e firme da fé, da esperança e da caridade (cf. Lc 21,19).

Quando nos engajamos no seguimento de Jesus, que é Mestre, Senhor e Deus, devemos seguir firmemente sem temer as perseguições e as provações, internas e externas. Às vezes situações muitos simples e até naturais da vida nos afetam facilmente porque não temos bem claro o caminho que fazemos e não desenvolvemos a confiança verdadeira em Deus, que é um Pai atento às necessidades de seus filhos e dará o que é bom aos que pedirem (cf. Mt 7,11) e dará também o Espírito Santo (cf. Lc 11,13). Por isso devemos nos alimentar sempre da Palavra e da Eucaristia, pois são a presença e a força de Cristo ressuscitado em nós.

Como discípulos e missionários de Cristo precisamos confiar e nos entregarmos ao seu caminho. Devemos ser caminheiros incansáveis, corajosos sem medo de enfrentar os combates que se apresentam a nossa frente. Como falou Jesus: “E eles matarão alguns de vós. Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,16b.18-19). Confiar nesta promessa de Jesus nos fará fortes discípulos, fortes missionários e autênticos profetas. Se anunciarmos as verdades do Evangelho, de uma forma ou de outra, virão as perseguições e provações, mas devemos ter a certeza de que ser cristão é também muito bom e gratificante, porque estamos a serviço do Senhor que nos apresenta e nos assegura a vida verdadeira na sua glória.

Caminhemos firmes e fortes como verdadeiros discípulos, sem ociosidade, sem comodismos, porque São Paulo nos alerta sobre esta questão na 2ª leitura: “Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada.” (2Ts 3,11). Os discípulos e missionários estão sempre a serviço do Reino, também trabalhando para a manutenção do seu sustento e de sua família. O apóstolo quer aqui ressaltar a dignidade do trabalho humano que é necessário para a vida.

Que neste penúltimo domingo do ano litúrgico possamos fazer uma avaliação da nossa caminhada com o Senhor, relacionado ao nosso discipulado, exercido na comunidade em que estamos inseridos, à nossa experiência na Palavra, que nos orientou e nos orienta, à participação na Eucaristia, que nos fortalece na busca da santidade e no nosso convívio com os irmãos e as irmãs. Podemos ainda avaliar o nosso anúncio: será que fomos anunciadores do Reino no nosso trabalho, no convívio social e nos nossos contatos gratuitos com as pessoas nas diversas dimensões sociais em que estamos inseridos? Rezemos sobre estes questionamentos e vejamos aonde chegamos. Amém.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Vivos e fortes em Cristo

 

Somos fortes e vencedores,
Quando alimentados pela certeza,
De que em Cristo temos a fortaleza,
Para continuar sem medo de desistir,
Mantendo a fé no caminho a seguir,
Como fiéis de Cristo ao redor da mesa.

Acreditar na vida como um presente,
É nosso destino, é a eternidade,
Continuamos vivendo a gratuidade,
Que depende de nós para chegar,
Basta uma qualidade de fé cultivar,
E abraçar o espírito de fraternidade.

É preciso o alimento forte receber,
Para não desmoronar em frente ao tentador,
Pois com o Ressuscitado não há temor,
Porque ele, a vida nova veio nos dar,
E o seu reino eterno, nos presentear,
Para todos os que querem o seu amor.

Somos fortes também na comunidade,
Quando unidos vivemos a unidade,
Ouvindo a Palavra na fraternidade,
Como o povo de Deus a se encontrar,
Para neste encontro junto comungar,
E vivermos o sonho da eternidade.

Que ao redor da mesa do Senhor,
Possamos proclamar com convicção,
Quando do corpo que era pão,
Anunciar que a morte foi vencida,
E que acreditamos na nova vida,
Que recebemos por graça e doação.

Animando os nossos corações,
E confirmando a nossa boa ação,
Ficando cada vez mais em oração,
Para que a Palavra seja anunciada,
E que seja sempre confirmada
Que a Vida de Cristo, em nós, é redenção.

 

*** Que a Palavra e a Luz do nosso Mestre e Senhor ilumine o seu caminho ***

 

 

XXX DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Eclo 35,15b-17.20-22a; Sl 34(33); 2Tm 4,6-8.16-18; Lc 18,9-14

(1) O Deus de Jacó e de Moisés jamais despreza a prece do pobre. (cf. Eclo 35,17). Imagem: extrato de “A criação de Adão” (1508-1515), por Michelangelo. (2) “O fariseu e o publicano” (1886-1894), por J. Tissot.

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

O modelo de oração

Lc 18,9-14

 

A liturgia deste 30º Domingo do Tempo Comum retoma o tema da oração e nos apresenta duas posturas diante de Deus com relação à prática do homem orante. No domingo passado, o Senhor nos falou da necessidade de rezar sempre sem nunca desistir (cf. Lc 18,1). Na liturgia de hoje ele nos apresenta dois modelos de oração para nos ensinar que o centro da oração não somos nós mesmos, mas, da parte de Deus, a gratuidade e a misericórdia e, da nossa parte, a humildade.

Neste sentido, mesmo cumprindo todos os mandamentos, jejuando duas vezes por semana, participando diariamente da missa, rezando o Terço e as novenas todos os dias, fazendo momentos de adoração e louvor, não podemos nos colocar na posição e no direito de julgar o outro, dizendo: não somos como os outros homens… (cf. Lc 18,11).

Jesus não está pedindo que deixemos nossas práticas espirituais e nem está elogiando os que não vivem a vida cristã e por isso levam uma vida incoerente com os critérios de honestidade e moralidade. Ele quer nos mostrar que o centro da oração deve ser sempre Deus, com sua misericórdia e não as culpas do outro e, ao mesmo tempo, o nosso autoelogio.

Deus nos ensina sobre a nossa oração humilde, como nos fala o Eclesiástico: A prece do humilde atravessa as nuvens: enquanto não chegar não terá repouso; e não descansará até que o Altíssimo intervenha e faça justiça aos justos e execute o julgamento” (Eclo 35,21-22).

Devemos refletir que, mesmo quando somos fiéis aos nossos compromissos cristãos e às nossas práticas orantes, continuamos pecadores e necessitados da misericórdia de Deus. Será que muitas vezes nos comportamos como aquele fariseu citado no evangelho desta liturgia? Considerando-nos os mais responsáveis, os mais corretos, honestos e cumpridores das leis da Igreja e dizemos que não somos como os aqueles outros…

Ter uma vida correta moralmente e religiosamente é nosso deve, pois somos chamados pelo batismo a ser sal e luz do mundo. O mundo precisa da nossa presença com uma vida reta, que tem sentido e que pode ajudar os outros a caminharem em direção à vivência da Palavra, no cultivo da justiça, do amor e da paz.

A postura do fariseu nos lembra o início das nossas celebrações, quando somos convidados a fazer um exame de consciência para dignamente ouvirmos a Palavra e nos alimentarmos do corpo e sangue do Senhor. Neste constante olhar sobre nós, numa postura e espírito de humildade, vamos crescendo na experiência do amor misericordioso de Deus. Nesta vida de humildade, de não julgamento dos outros, de escuta do Senhor e de confiança, está a nossa verdadeira oração.

Será nossa felicidade e nossa graça chegarmos ao final da nossa caminhada terrestre e dizermos como são Paulo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos que esperam com amor a sua manifestação gloriosa.” (2Tm 4,7-8).

Peçamos a luz do Espírito Santo, para que ilumine nossas ações na vida cotidiana e nos momentos em que celebramos a sua Palavra e comungamos de seu corpo, para não sermos incoerentes com o que falamos diante do Senhor. Que sejamos revestidos da confiança em Deus e da nossa humildade de filhos dEle e, nEle, irmãos de todos os homens. Aos que se encontram numa vida fora do caminho do Senhor, rezemos para que possam também voltar-se para Ele e recomeçar com uma vida nova, pela fé no amor e na divina misericórdia.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Dignos da mesa do Senhor

 

Deixemos que o Senhor
Ensine-nos a rezar,
Com sua Santa Palavra,
Que ensina e que encanta,
Que anima a nossa vida,
Nas chegadas e partidas,
Com sua força sem cessar.

Deixemos que o Senhor
Abra o nosso coração,
Com a força do seu amor,
Com o seu forte fervor,
Fazendo-nos perseverar,
Nossa vida a iluminar,
Em profunda oração.

Façamos com o Senhor
Nossa forte oração,
Sem medo, sem desanimar,
Sempre e sempre a caminhar,
Na vida missionária,
Na vida também solidária,
Com e para os irmãos.

Fiquemos com o Senhor
A cada passo realizando,
Numa presença constante,
Caminheiro e caminhante,
Amigos em sinceridade,
Diálogo de lealdade,
Sempre, sempre retomando.

Sejamos com o Senhor,
Discípulos perseverantes,
Caminhando na esperança,
Em oração de confiança,
Nos braços do Deus amado,
Entregues e em nada reservados,
Totalmente confiantes.

 

*** Que a Palavra e a Luz do Mestre (Rabí) ilumine o seu caminho ***

 

 

XXIX DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Ex 17,8-13; Sl 120(121); 2Tm 3,14-4,2; Lc 18,1-8

 

“O juiz iníquo e a viúva inoportuna” (1908), por Eugène Burnand

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Oração perseverante

Lc 18,1-8

 

O evangelista Lucas (cf. 18,1-8) inicia o seu texto, neste 29º domingo do tempo comum, com mais uma parábola. Jesus “contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir” (Lc 18,1).

O sucesso na experiência de oração será exatamente quando houver a perseverança e a percepção da necessidade de sempre rezar. A oração, portanto, é este encontro com o Mistério Santo e Infinito, o nosso Deus Verdadeiro que está sempre pronto a nos encontrar e nos escutar.

Quando buscamos aprofundamento nos mestres espirituais, percebemos que rezar está muito além das petições, dos louvores, das fórmulas e dos textos decorados. A oração, portanto, é o diálogo livre com Deus, numa atitude de filhos, numa postura interior de total confiança e entrega aos braços divinos. Claro que quando rezamos a oração da Ave Maria e a oração do Pai Nosso não somente falamos palavras, mas buscamos, no nosso coração, orante o fundamento e o sentido maior destas orações para nós cristãos.

A parábola do juiz iníquo e da viúva inoportuna nos ensina também que se deve orar suplicando a Deus sem cessar, porque ele escuta o clamor dos seus filhos os quais confiam no seu amor, pois ele fará justiça à todos que lhes suplicam dia e noite.

No livro Êxodo (cf. 17, 12-13), temos a experiência de Moisés na sua luta contra o inimigo, pois, para vencer, precisou ser forte e até mesmo necessitou do apoio do povo que o ajuda a manter seus braços erguidos para continuar vencendo os amalecitas. Muitas vezes, nós também precisamos contar com a ajuda e as orações dos outros para nos mantermos firmes e obtermos a vitória. Portanto, temos um modelo de oração no sentido bíblico, para nos mostrar que é a fé no Deus verdadeiro, a perseverança e a força, também nossa, é que nos mantém vencendo o mal.

Diante destas reflexões podemos nos perguntar: Como está a minha experiência de oração pessoal e comunitária? Qual a qualidade dos meus momentos de encontro com Deus? A nossa oração também suplica a justiça de Deus em favor dos irmãos que sofrem descriminação, desprezo, desemprego e muitos outros sofrimentos?

Como cristãos, discípulos do Senhor, devemos sempre nos perguntar se a nossa vida está marcada por uma atitude de oração pessoal e comunitária, tendo como base a Eucaristia, a meditação da palavra do Senhor e a comunhão com os irmãos.

Devemos viver os momentos litúrgicos e eclesiais, como combustível que fortalece a nossa caminhada diária, na nossa vida familiar, no nosso trabalho, nas interações sociais, na vida de comunidade e na nossa missão de ser sal e luz, em vista de mundo mais fraterno e justo para os filhos e filhas de Deus.

Que neste mês das missões possamos refletir que sem a oração verdadeira o discípulo não terá sucesso na evangelização, pois a oração fortalece o missionário e, ao mesmo tempo, o coloca consciente de sua caminhada em meio a tantos desafios a serem superados.

 

***

⇒ POESIA ⇐

Necessitamos da oração

 

Deixemos que o Senhor
Ensine-nos a rezar,
Com sua Santa Palavra,
Que ensina e que encanta,
Que anima a nossa vida,
Nas chegadas e partidas,
Com sua força sem cessar.

Deixemos que o Senhor
Abra o nosso coração,
Com a força do seu amor,
Com o seu forte fervor,
Fazendo-nos perseverar,
Nossa vida a iluminar,
Em profunda oração.

Façamos com o Senhor
Nossa forte oração,
Sem medo, sem desanimar,
Sempre e sempre a caminhar,
Na vida missionária,
Na vida também solidária,
Com e para os irmãos.

Fiquemos com o Senhor
A cada passo realizando,
Numa presença constante,
Caminheiro e caminhante,
Amigos em sinceridade,
Diálogo de lealdade,
Sempre, sempre retomando.

Sejamos com o Senhor,
Discípulos perseverantes,
Caminhando na esperança,
Em oração de confiança,
Nos braços do Deus amado,
Entregues e em nada reservados,
Totalmente confiantes.

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus, Senhor e Deus, ilumine o nosso caminho ***

 

 

XXVIII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: 2Rs 5,14-17; Sl 98(97); 2Tm 2,8-13; Lc 17,11-19

 

“Jesus com o leproso que voltou para dar graça”, por W. B. Hole (1846-1917)

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Deus nos chama para ajudarmos na construção do seu Reino

Lc 17,11-19

 

Iniciemos a reflexão da liturgia deste 28º Domingo do Tempo Comum com uma pergunta que nos ajudará na meditação do evangelho de Lucas (17,11-19): Até que ponto somos capazes de agradecer a Deus pelas tantas graças (curas) que ele realiza em nós e por nós?

A fé e a gratidão são duas chaves, entre outras, da liturgia que celebramos neste 2º domingo do mês missionário. O Evangelho nos fala dos dez leprosos que foram curados por Jesus e que depois somente um vem aos seus pés bendizê-lo pela cura. Este, por sua vez, era um samaritano. Os samaritanos eram inimigos dos judeus.

Podemos nos perguntar, por que o evangelista Lucas, nos seus textos, nos apresenta figuras fora da cultura judaica. A resposta é simples: o evangelista quer nos comunicar que a salvação é para todos os homens, basta que estes reconheçam e acolham, pela fé, o poder e ação salvadora de Deus em suas vidas. Isto aconteceu com aquele samaritano, que, recebendo a cura, volta para o Senhor e numa atitude de fé prostra-se aos seus pés e agradece não somente pela restauração física, mas também pela cura total do homem, que é a salvação.

No 2º livro de Reis, podemos comprovar uma atitude muito parecida com a do samaritano. Naamã o sírio, aconselhado pelo profeta Eliseu, foi mergulhar no Jordão sete vezes. Ele volta curado. Mas não somente para agradecer, senão também para reconhecer que há um só Deus que atende ao pedido dos seus filhos: “Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra, senão o que há em Israel!” (2Rs 5,15b).

A atitude de voltar sempre para agradecer a Deus pelo seu imenso amor deve ser própria dos cristãos. Talvez não tenhamos noção do quanto Deus age em nosso favor, o quanto ele nos livrou dos perigos, o quanto ele nos alimenta na nossa caminhada e como é grande a sua misericórdia por nós. Para isso, basta que queiramos receber suas graças e o perdão que vem ao nosso encontro com imenso abraço de Pai.

Gratidão é o que precisamos exercitar no nosso cotidiano: gratidão pela vida de cada dia, por cada nascer do sol, a cada manhã, pelo encontro com os irmãos em cada momento de nossa vida, por nossos familiares, pelos nossos amigos, pela comunidade que nos faz fraternos, pelo nosso trabalho, pela coragem de enfrentarmos as adversidades da nossa existência e pelo imenso amor de nosso Deus que nos faz irmãos e seus filhos.

Portanto, gratidão é o gesto de querer voltar a Deus, sempre para a ação de graças (missa), para a escuta da sua Palavra que nos orienta no nosso caminhar, para (confissão) que nos cura e nos coloca no nosso processo de conversão e para a mesa (eucaristia) que nos alimenta no dia-a-dia, rumo à eternidade.

Neste sentido podemos lembrar a segunda leitura quando São Paulo nos diz: “Se com ele ficamos firmes, com ele reinaremos. Se nós o negamos, também ele nos negará. Se lhe somos infiéis, ele permanece fiel, pois não pode negar-se a si mesmo.” (2Tm, 2,12-13).

Neste mês missionário voltemo-nos para o Senhor que caminha conosco e quer nos curar das enfermidades materiais e espirituais. Ele quer que façamos parte do seu rebanho, quer a nossa colaboração na construção do seu Reino, “porque ele fez conhecer a salvação e às nações revelou sua justiça” (Sl 98/97), pois seu amor e seu reino são para todos os homens. Ele nos chama para este projeto universal e santo a cada momento.

 

***

⇒ POESIA ⇐

A fé e a gratidão do discípulo

A fé nos dá o retorno
Para o abraço do Senhor,
Quando muito agraciados,
Por seu imenso amor,
Pois a cura será completa,
Quando a vida for repleta,
Das graças do Salvador.

Um retorno agradecido,
Pela cura operada,
Quando as tantas feridas
Já estiverem fechadas,
E então levantaremos,
E firmes prosseguiremos,
Com a vida agraciada.

Nossa salvação completa,
É nossa cura total,
A alma purificada,
E o corpo sem o mal,
Uma vida santificada,
Pra seguir a caminhada,
Ao reino celestial

Para seguir o Senhor,
Devemos agradecer,
Pelas suas santas bênçãos,
Que estão a acontecer,
Pois não temos nem noção,
Das graças que nos virão,
Para nos fortalecer.

É bom sempre retornar,
Com gesto de gratidão,
Pelo pão na mesa santa,
E a vida em comunhão,
Viver a gratuidade,
Construir a unidade,
Em Deus e com os irmãos.

A fé é a grande chave,
Que nos faz sempre voltar,
Para ouvir a Palavra santa.
E o pecado confessar,
E também a perceber,
Tantas curas acontecer,
Nesse nosso caminhar.

Obrigado, ó Senhor,
Por seu corpo em alimento,
Pelos imensos milagres,
Sua Palavra, o sustento.
Pois sua santa caridade,
Sua Paz, sua bondade,
Cura nossos ferimentos.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus, Senhor e Deus, ilumine o nosso caminho ***

 

 

XXVII DOMINGO DO TEMPO COMUM, ANO C – SÃO LUCAS

 

Leituras: Hab 1,2-3;2,2-4; Sl 94(95); 2Tm 1,6-8.13-14; Lc 17,5-10

 

“A exortação aos apóstolos” (1886-1894), por J. Tissot

 

Ouça o áudio preparado para esta liturgia (pode demorar alguns segundos)

 

⇒ HOMILIA ⇐

Aumentando a fé na caminhada

Lc 17,5-10

 

O Evangelho deste 27º domingo do tempo comum inicia exatamente com uma forte súplica dos apóstolos a Jesus: “Aumenta a nossa fé!” (Lc 17,5).

Os apóstolos caminham com Jesus para Jerusalém e, depois de terem ouvido sobre a misericórdia, a pobreza e a riqueza, sentem o desafio e as possíveis barreiras a serem enfrentadas no apostolado.

E Jesus, vendo aquela fé “infantil”* dos apóstolos, vinda da tradição do antigo povo de Israel, responde: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar’, e ela vos obedeceria.” (Lc 17,6).

Na caminhada com o Mestre, os apóstolos necessitavam de aumentar fé, pois a experiência de segui-lo em missão exigia um compromisso maduro e mais concreto, baseada numa resposta consciente de cada seguidor, a cada dia, a cada desafio, a cada crise. Caminhar com Jesus não era mais como seguir a tradição dos mestres da lei, que muitas vezes impunha normas e preceitos sem adesão das pessoas.

Para seguir o mestre exigia-se novas atitudes de vivência religiosa, e desta vez concreta e encarnada na vida, no contato com os doentes, com os pobres e com os marginalizados, também no embate com as lideranças políticas e religiosas daquela época. Isso exigia que a fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, precisaria crescer, ter força de transformação, de movimento e de mudanças consistentes na vida de cada apóstolo.

Estas palavras de Jesus nos leva a refletir que talvez precisamos suplicar uma fé que seja mais sólida e que tenha a força das palavras do evangelho, maior do que a fé infantil absorvida, mas necessária, nos primeiros anos de catequese. E então podemos pedir: Senhor, aumenta a nossa fé, qualifica a nossa fé, torna a nossa experiência com o Senhor cada vez mais autêntica, como aquela que transformou a vida dos primeiros seguidores do Caminho, mesmo que ela seja tão pequena quanto um grão de mostarda.

E Jesus nos ensina sobre a nossa posição de servos: “quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’.” (Lc 17,10). Neste sentido, é o crescimento de nossa fé como discípulos do Senhor que nos faz nos reconhecermos como servos inúteis ou simples servos.

Crescer na fé é uma graça que vem de Deus. Servir ao Senhor não nos dar o direito aos merecimentos, às honrarias, mas de bem-aventurança por fazermos um caminho de discipulado para como o Senhor e nos convertermos e ganharmos o Céu. Vivemos num mundo que estimula os méritos. Ser discípulos é se colocar na contramão desta concepção de merecimentos humanos. Ser um simples servo é ser discípulo em gratuidade e agradecimento por caminhar com Jesus e colaborar com o seu Reino e no anúncio de sua Boa-Nova.

Na primeira leitura podemos constatar um diálogo entre o profeta Habacuc e Deus, que poderá nos ajudar nesta compreensão da experiência da fé. O profeta se queixa de tantos sofrimentos a sua frente, pois ele já não compreende porque tantos problemas a sua vista e aparentemente sem soluções. E Deus lhes responderá no final: “Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé.” (Hab 2,4). O justo viverá pela sua fé, este é o segredo.

Na segunda leitura, São Paulo, na carta a Timóteo, nos exorta a vivermos sem medo ou timidez nesta estrada do Senhor: “Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e sobriedade.” (2Tm 1,7). O discípulo do Senhor não pode caminhar na insegurança, nem no medo. Ele deve carregar no coração a esperança, e como servo inútil buscar viver a sua fé numa dinâmica de crescimento do mandato recebido.

E no início do mês missionário e do Santo Rosário, peçamos ao Senhor que aumente o nossa fé e o nosso entusiasmo na missão. Também o nosso compromisso na evangelização, caminhando com Ele na construção do seu Reino. Mesmo reconhecendo que a nossa fé seja tão pequena quanto um grão de mostarda, supliquemos ao Senhor que qualifique a nossa confiança, pois somos servos inúteis e necessitamos sempre da Graça de Deus e, ao mesmo tempo, incapazes de corresponder plenamente ao que o Senhor nos favorece, porque seu amor além de ser incalculável é gratuito. Amém.

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* A expressão “infantil” nos remete à uma vivência de adoração a Deus anteriormente a encarnação do Filho. Essa noção pode ser lida em Pagola (O caminho aberto por Jesus: Lucas. Petrópolis: Vozes, 2012, pp. 279-285).

 

 

***

⇒ POESIA ⇐

Os caminhos da fé

Em missão vão os discípulos,
Junto ao Senhor que tanto os ama,
Suplicam a fé em quantidade,
Para que não se apague o fervor da chama,
Que se acendeu quando Ele os chamou,
E continua acessa por onde Ele caminhou,
Mas que por um momento já não inflama.

Ao perceberem os desafios do caminhar,
Pedem a fé para perseverar,
A confiança na rocha firme que é o Senhor,
Para na missão com pés firmes continuar,
Sem medo, sem desconfiança,
Mas na obediência e na esperança,
Que com o Senhor não irão desandar.

Hoje somos nós os seguidores,
Que pedem o dom da esperança e da alegria,
Com o peito marcado pelo fervor
Nas noites escuras e, mas também ao dia,
Buscando ouvir a palavra como alimentação,
Querendo viver sem desolação,
E seguindo a Luz que sempre alumia.

O Senhor nos chama a sempre caminhar,
E nos dá o seu corpo que nos fortalece,
Nos chama a viver na comunhão,
Acolher seu amor que nos enternece,
E o Santo Espírito sempre acolher,
Que a nossa vida quer aquecer,
Numa firme busca que se oferece.

E nesta vida de peregrinação,
Como servos inúteis vamos andando,
Aos passos lentos procurando entender,
Tudo que o Senhor vai nos ensinando,
Como na fé a gente vai crescendo,
Mesmo que no momento não entendendo,
Porque a vida santa se faz caminhando.

 

 

*** Que a Palavra e a Luz de Jesus, Senhor e Deus, ilumine o nosso caminho ***