Leituras: 1Sm 26, 2.7-9.12-13.22-23; Sl 102; 1Cor 15,45-49; Lc 6,27-38
⇒ POESIA ⇐
O AMOR ALÉM DO HUMANO
Amor aos inimigos, diz o Senhor,
Fazendo-nos amar na profundidade,
Indo além do dar e do receber,
Que é próprio da nossa humanidade.
Como fugir do convencional?
Como agir contrário ao mal?
E sair da vingança para a humildade?
Muitos humanos estimulam fortemente,
A revanche no lugar do perdão,
O olho por olho como sendo a lei,
Sufocando a reconciliação,
E, então, se esconde a verdade,
Não se vê o que é lealdade,
E emerge a forte contradição.
Fazer o bem aos enraivecidos,
Buscar vencer o ressentimento,
Provoca o bem, e, cura a pessoa,
Alivia os traumas e os sofrimentos,
Estimula a paz e a serenidade,
Faz caminharmos para a liberdade,
Cura a alma e seus ferimentos.
Bendizer os que nos praguejam,
Semear o bem e se desarmar,
Deixar que nosso coração,
Pulse livre sem se inchar,
Para que a vida seja alegria,
Seja inspiração pra poesia,
E, a estrada firme pra se caminhar.
E a oração aos caluniadores,
Que muitos vem a questionar,
Para alguns, quase impossível,
Mas ninguém pode desanimar,
Porque a oração é força vital,
Para os que creem é essencial,
Alimenta a alma e faz caminhar.
⇒ HOMILIA ⇐
O amor no alto nível cristão
Lc 6,27-38
A liturgia deste domingo vem nos trazer o tema do amor no mais alto nível, o qual brota da boca de Jesus. Trata-se do amor desprendido de recompensas ou de aprovação. O Evangelho de Lucas nos apresenta quatro pedidos de Jesus: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam e rezai por aqueles que vos caluniam” (Lc 6, 27-28). São conselhos que nos fazem pensar em nossas atitudes interiores e na prática de nossas posições no dia a dia de nossas vidas, no convívio com os outros.
Como seguir estes conselhos máximos de Jesus? As palavras dele nos inquietam, nos provocam e nos fazem pensar no desafio próprio do ser cristão na sua forma mais autêntica. Querendo ou não, o cristianismo é uma posição na contramão de muitas posturas e concepções, as quais podemos verificar nas nossas funções profissionais, nas escolhas políticas, no modo de vida de muita gente e, infelizmente, também presentes no cotidiano dos grupos humanos e das comunidades cristãs.
Às vezes esquecemo-nos destas palavras de Jesus e, portanto, agimos de forma muito incoerente com o Evangelho. Em diversos momentos podemos até afirmar que o pedido de Jesus é impossível de se viver. Esquecemos que as nossas curas interiores e a nossa conversão acontecem quando arrancamos os ressentimentos, quando nos desprendemos dos julgamentos e nos desfazemos dos desejos vingativos no nosso coração.
Entre tantos pedidos, Jesus ainda diz: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também a eles” (Lc 6,31). Quantas vezes desconhecemos este conselho e fazemos o contrário. Jesus nos motiva a vivermos atitudes novas em vista de um mundo novo. Numa sociedade de tantos incentivos a vinganças, discursos políticos incoerentes com o evangelho, somos chamados a nos despertar e nos iluminar para enxergamos as misturas de joio e de trigo presentes entre nós cristãos e também nos que se dizem cristãos e moralmente corretos.
Importante lembrar o texto da primeira leitura, quando Davi tendo a oportunidade de matar seu inimigo político, Saul, decide que esta não seria a sua atitude coerente com um pretendente a chefe de uma nação… Davi era o candidato ao trono, mas evitou sujar as mãos com o sangue da rivalidade e da sede de poder. Diz ele: “quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor e ficar impune” (1Sm 26,9). Os políticos do nosso país poderiam aprender muito com a atitude de Davi. Quantas vezes se mata o outro ou tenta-se armadilhas para se tomar o poder.
Assim foi a história humana ao longo da sua existência: posições do bem, fundamentadas no amor e conseguintemente fomentando a vida, e, posições do mal, onde está presente a morte por causa das disputas e vinganças as quais desaguam nas guerras e destruições da vida.
O que Jesus nos ensina no Evangelho, Davi já colocou em prática a milhares de anos antes. Mas em Cristo tudo é pleno e em vista do Reino de Deus. Não podemos também esquecer os tantos cristãos que vivem a favor da justiça, da caridade e da paz. O testemunho das pessoas que pregam o amor e encarnam em sua vida a atitudes e posições que a Palavra hoje nos pede, são expressões do evangelho no mundo.
Portanto, a liturgia de hoje nos motiva a olharmos para Jesus e acolhermos suas palavras carregadas das expressões que nos impulsionam a vivermos o seu amor e a sua misericórdia. Palavras, as quais brotam do seu coração divino. E assim, cada cristão é chamado ter as marcas do amor e da misericórdia de Deus.
Cristo é o novo Adão que veio nos visitar com sua humanidade e divindade, e, por isso, nos ensina aquilo que devemos fazer para transformar o mundo e ao mesmo tempo construirmos o seu Reino, que já acontece neste mundo quando se coloca em prática o amor aos inimigos, quando se vive a prática do bem, a benção aos que nos praguejam e a oração em favor dos caluniadores. Com a graça e a força de Deus é possível vivermos estas máximas de Jesus. Amém!